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Resumo: Este artigo visa estabelecer um diálogo entre a tese defendida pelo sociólogo
Renato Ortiz sobre o processo de mundialização da cultura, e a teoria da cidadania
cosmopolita em voga na atualidade, para buscar compreender de que forma a inserção
do Homem contemporâneo em um coletivo maior que sua etnia – isto é, o mundo -,
pode afetar a percepção de sua cultura local. Nesse sentido, temos por objetivo neste
trabalho apontar de que forma podemos propor um conceito de cidadania que articule
duas dimensões aparentemente antagônicas de um pensamento que veicule o pensar
global e agir local de uma Antropologia da Política.
Abstract: This article aims at to establish a dialogue enters the thesis defended for
sociologist Renato Ortiz on the process of mundialization of the culture, and the theory
of the cosmopolitan citizenship en vogue in the present time, to search to understand of
that it forms the insertion of the contemporary Human being in a collective greater that
its ethny - that is, the world -, can affect the perception of its local culture. In this
direction, we have for objective in this work to point of that it forms we can consider a
citizenship concept that apparently articulates two antagonistic dimensions of a thought
that propagates global thinking and to act local of an Anthropology of the Politics.
1 - Introdução:
participativas, forte, são oferecidos aos dirigentes e aos demais leitores que consomem
tais escritos, nas mais diferentes formas e volumes. “Deglutidas” e “digeridas” elas
tendem a ser propagadas conforme a interpretação dos intelectuais de suas respectivas
classes sociais e culturas específicas – se é que, na atualidade devido à segmentação do
mercado e dos níveis de consumo, não se deveria substituir o termo classes sociais por
segmentos sociais (ORTIZ, 1994b).
Dessa forma, uma destas “mercadorias” oferecidas que mais nos prende a
atenção, é justamente àquela que propõem uma interessante articulação entre uma
cultura local e uma cultura global. Mas é claro que, como todo instrumento político,
devemos analisar este produto para ver se ele é compatível com o mecanismo sócio-
político da comunidade em que vivemos, isto é, se ele é compatível com a nossa cultura
local.
Neste sentido, convido o leitor, a deglutir e digerir, esta breve reflexão sobre o
modo pelo qual podemos pensar a inserção política de nossos agentes sociais em um
contexto político mais amplo, de franca mundialização (ORTIZ, 1994b) das culturas e
das identidades, a partir das lógicas desenvolvidas por dois autores. Um deles é o
sociólogo brasileiro Renato Ortiz que em uma obra de razoável importância para o
pensamento sócio-político nacional demonstrou de que forma se desenvolve o processo
de mundialização das culturas e identidades através dos mercados; ao passo que a
filósofa espanhola Adela Cortina apresenta-nos uma possibilidade de inserir-nos em um
contexto mais amplo de participação política, através de uma cidadania cosmopolita
(CORTINA, 2005).
procurar dentro do campo das políticas sociais, ferramentas teóricas que possam vir a
ser utilizadas de forma heurística na busca desta convivência um pouco mais
harmoniosa no campo social.
Dessa forma, uma ferramenta que poderia ser considerada como ideal no plano
da busca por esta situação de mediação política, é uma política cidadã de inclusão social
das múltiplas culturas existentes nas sociedades atuais, com uma especificidade em
particular: que articule o local, isto é, a cultura tradicional, ao global, a estas múltiplas
culturas produzidas em massa ao longo do globo, e que se encontram em pleno processo
de movimento através dos meios de comunicação que fizeram com que as mesmas
ganhassem certo ar de culturas universais (ORTIZ, 1994b, p.47). Um destes modelos de
articulação entre o local e o global, constitui ser aquele apresentado por filósofos
políticos, como Adela Cortina e Will Kymlicka, conhecido pelo nome de cidadania
cosmopolita, que buscaremos compreender a seguir, de que forma esta teoria, pode ser
pensada no contexto multiculturalista atual, apontado por Renato Ortiz.
Nesse sentido, uma saída proposta por Adela Cortina, seria a viabilidade de se
desenvolver um mecanismo político que fosse comum a todas as culturas que têm de
conviver em um espaço geográfico comum a partir da vivência de experiências políticas
comuns, têm limites impostos (KYMLICKA, 1996, p.129). O intento de se viver um
sentimento de cidadania que seja sentido e vivenciado por todos os membros de uma
coletividade torna-se problemático. Isto porque a tendência pessimista e – bastante -
conservadora de termos de vivenciar, atualmente, uma realidade onde:
Como se pode perceber ao longo desta breve reflexão, o grande problema que
se apontou fora a tensão existente, no contexto atual de mundialização do capital e das
culturas, entre o individualismo-utilitarista, e a proposição de uma ética de mínimos e
de máximos, que busca uma melhor convivência entre os coletivos multiculturalistas
atuais.
Contudo, buscar saídas filosóficas, éticas e morais para os problemas de ordem
política a partir de uma perspectiva teórica consiste ser algo simples. A preocupação
maior deve centrar-se em exemplos mais concretos e pontuais, buscado soluções mais
pragmáticas em níveis de políticas sociais.
É nesse sentido, que buscamos apontar aqui um fato social perspicaz para
ilustrar a nossa posição. Com o frenesi desenvolvimentista (MCPHERSON, 1991, p.47)
que a cidade de Rio Grande (RS) vem vivenciando a, aproximadamente, dois anos, em
função da implementação das plataformas petrolíferas e dos diques de construção destas
estruturas, o grosso da mão-de-obra destes setores produtivos foram selecionados nas
regiões norte, centro-oeste e nordeste do Brasil. Vários indivíduos, nesse processo de
migração interna vieram acompanhados por suas famílias, onde se percebe na
cotidianidade constantes choques em níveis de estruturas simbólicas, quer sejam nos
“nativos”, quer sejam nos “migrantes”.
Esta situação leva-nos, por fim a concluir, que não podemos analisar e buscar
resolver os problemas de ordem sócio-cultural, apenas a partir de um determinismo da
crítica à economia política, como defendeu J. S. Santos (2004). A complexidade das
relações sociais, na atualidade, propõe-se para além das práticas econômicas recaindo
sobre o comportamento dos agentes sociais que, também, não se encontram lançados em
um “movimento browniano”, como apontou Lyotard (1989, p.40-41).
Existem coletividades, e agentes sociais que ainda lutam por seus direitos, por
suas culturas e por suas identidades. Perceber que tais indivíduos aglutinam-se em torno
de culturas comuns é creditar-lhes o fato de que eles consolidam uma posição política e
que, portanto, possuem uma voz cidadã. O que se percebe, dessa forma, é que – pelo
menos dentro da realidade brasileira (ORTIZ, 1994a; FREYRE, 1995) -, sempre
convivemos com o multiculturalismo, dentro de uma perspectiva cosmopolita, onde os
regionalismos viram-se constantemente subjugados a um fim maior, que era a coesão
nacional. Fato que nos permite concluir de que há a possibilidade, não de se estabelecer
um diálogo entre as culturas mundializadas (que podem ser consideradas como uma
ampliação da nossa condição sócio-cultural brasileira) e uma cidadania cosmopolita.
Mas sim, de se ampliar o meio em que tal diálogo se manifesta através dos mecanismos
de solidariedade entre estes coletivos, articulados entre o setor civil e o Estado através
de práticas sócio-econômicas re-distributivas, como vêm acontecendo no Canadá, desde
a década de 1990 (KYMLICKA, 1996).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ADAMS, D.K. America in the 20th century: a study of United States since 1917.
London: Cambridge University Press, 1967.
ANDERSEN, G.E. As três economias políticas do Welfare State. In.: Lua Nova, n. 24,
1991.
CORTINA, A. Cidadãos do Mundo: para uma teoria da cidadania. SP: Loyola, 2005
LITA, R. & OSUNA, M.T.B. 2005. “De la marca comercial, a la marca territorial”.
Recerca, revista de pensament i anàlisi, n. 05. Castello La Plana: Ed. Jaume Vicent-
Vives I, 2005.
REVISTA Nova Escola, edição especial, n..11: Inclusão. SP: Ed. Abril. Out. 2006.
1
Trabalho apresentado como avaliação da disciplina Estado, Sociedade, Mercado e Proteção
Social, ministrado pelo Prof..Dr. Antonio Cruz. Agradeço aos professores Antonio Cruz e ao
prof.Dr. Jovino Pizzi pela revisão do presente trabalho.
2
Licenciado em História pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e
mestrando em Políticas Sociais da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
3
O conceito de cultura é aqui entendido no sentido proposto por KLUCKHOM (1963, p. 28),
donde: “Por “cultura”, antropologia entende a vida total de um povo a herança social que o
indivíduo adquire de seu grupo. Ou pode a cultura ser considerada como aquela parte do
ambiente que o próprio homem criou.” Defendemos este conceito de cultura que contempla uma
perspectiva mais abrangente do que seja esse fenômeno social, ao invés do conceito gerido por
E. P. Thompson, devido o seu enfoque ser dirigido à noção de cultura popular tradicional.
THOMPSON (1998, p.17).
4
Cf. LYOTARD, (1989, p. 40-41).
5
Além de Cortina, citamos também o documento redigido por Gustavo Busso. Vulnerabilidad
social: Nociones y implicancias de políticas para latinoamerica a inícios Del siglo XXI. In:
HTTP://eclac.org/publicaciones/xml/3/8283/GBusso.pdf, p.14-16.