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DIREITO PUBLICO

DA IMPORTÂNCIA E DA NECESSIDADE DA
"TEORIA GERAL DO ESTADO" NOS
CURRíCULOS JURíDICOS

A. MACHADO PAUPERIO
(Da Universidade do Brasil)

Cresce, cada dia que passa, a importância do Direi-


to Público.
Como sabemos, os primórdios do século XX marca-
ram, por assim dizer, a mais forte ruptura com a economia
liberal do século anterior, que foi violenta e definitiva-
mente sacudida. A essa altura o legislador passou a in-
tervir de maneira decisiva no domínio econômico, subs-
tituindo o contrato livre, como manifestação da vontade
das partes, pelo contrato impôsto, publicizado, fruto das
novas necessidades sociais e reclamado pelas condições
desiguais dos econômicamente fracos. Ao mesmo tempo,
limitou o legislador o uso da propriedade, condicionando-o
ao bem-estar social e assinalando-lhe, assim, função mar-
cantemente comunitária.
Dessa forma, em lugar do tipo clássico de contrato,
teórico e livremente estabelecido pela manifestação da
vontade das partes, erigiu-se a figura, hoje comum, do con-
trato impôsto ou forçado, a que alude RENÉ MOREL. (1)
De outro lado, paralelamente, deixou a propriedade
de ser o direito subjetivo do indivíduo, como o consignava
ainda o Código de Napoleão, para passar a ter função

'"
IN'
(1) V. Le Droit Privé Français au MiIlieu du XXe. Siecle, vol. 11,
pág. 117.

tlev. Dir. PúbJ. t Cifncia Política - Rio de Janeiro - Vol. VI, n9 I .- i'Miro/abril t\l63
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marcante mente social, ou melhor, para passar a existir


em função dos interêsses maiores da própria comunidade.
Nessa conjuntura, o Estado tinha, como é óbvio, que
fortalecer-se e engrandecer-se. Passava, assim, o Direito
Público a ter manifesta e incontestável preeminência sô-
bre o velho Direito Privado. Era o fenômeno da publi-
cização do Direito, reconhecida e focalizada por um sem-
-número de juristas eminentes, que se impunha, fazendo
crescer, por dilatação de sua área, os próprios quadros dos
chamados princípios de ordem pública.
Tal fenômeno foi sumamente geral e está longe ainda
de apresentar qualquer tendência de declínio, por falta,
evidentemente, de condições sociais que dispensem a in-
tervenção estatal.
Por isso, em nossa "Teoria Geral do Estado" acen-
tuamos não sem razão:
"Pelas necessidades crescentes da complexa socieda-
de atual, vai entrando cada dia no domínio do direito
público maior número de relações jurídicas, antes do âm-
bito do direito privado.
Cresce, por isso mesmo, em todos os países, o inte-
rêsse pelos estudos dêsse ramo do Direito, cuja bibliografia
se multiplicou, em poucos anos, de modo considerável.
E nem se diga, como o quis E. BOUTMY, que tais es-
tudos não devam ser feitos nas Faculdades de Direito.
Sem êles, estaria, sem dúvida, incompleto o universo tio
jurista.
BOUTMY, fundador e diretor em França da "Escola
de Ciências Políticas" e autor do artigo Das relações e dos
limites dos estudos jurídicos e dos estudos políticos, enten-
dia, de fato, que, dentro de sua organização tradicional,
não estavam as Faculdades de Direito em condições de
ensinar Economia Política e Direito Público em seu ver-
dadeiro espírito.
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Fazendo, talvez, suas, as críticas de H. DE BALZAC


e de PALÉOLOGUE ao excesso de teoricismo dos estudos
jurídicos, cujo caráter de codificação leva, a seu ver, o
jurista ao espírito geométrico, no sentido de PASCAL, de-
senvolvendo as faculqades dialéticas, bateu-se denoda-
damente BOUTMY contra a inclusão do Direito Público nos
currículos jurídicos.
Escrevendo Algumas observações sôbre a Reforma
do ensino superior, em 1876, ousava BOUTMY sentenciar:
"As ciências do Estado, creio tê-lo mostrado, formam um
sistema poderoso em que figuram as matérias mais dife-
rentes, umas teóricas, outras práticas e quase técnicas.
Ora, é quase impossível que a Faculdade de Direito, a
menos que mude de natureza e de nome, introduza em
si elementos tão diversos."
E, mostrando que um curso de finanças numa Facul-
dade de Direito só se podia apresentar sob o caráter de
"legislação financeira", pugnava BOUTMY pela criação de
uma Escola de Administração autônoma, de regime uni-
versitário mas independente da direção do Estado para
melhor atender à sua finalidade específica.
O desdobramento das Faculdades tradicionais é hoje
idéia vitoriosa entre gregos e troianos. E as Faculdades
de Ciências Políticas e Econômicas são, atualmente, em
todos os países, esplêndida realidade, tal a imposição do
desenvolvimento dessas Ciências.
A exclusão, porém, do estudo das noções fundamen-
tais da Ciência Política e da Ciência Econômica, dos cur-
rículos das Faculdades de Direito, é providência que se
não pode advogar. Realizada, traria à cultura geral do
jurista enormes e insuperáveis lacunas, tal a importância
que sôbre o Direito sempre exerceu o pensamento políti-
co e o pensamento econômico.
Não foi senão por isso que as idéias de BOUTMY
jamais se concretizaram nesse terreno. Tal a fôrça insu-
perável do bom-senso.
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Se as Faculdades de Direito devem tornar-se, a um
tempo, como assinala BONNECASE, estabelecimentos de
alta filosofia, centros de educação social e clínicas jurídi-
cas, é óbvio que não poderão excluir de seus cursos o
estudo da Economia e da Política.
Apenas, isso sim, variará a fisionomia dêsses estu-
dos, para atender às finalidades de cada curso, nas diversas
faculdades em cujo currículo estiverem incluídos." (2)
Contra a manutenção da cadeira de TEORIA GERAL
DO ESTADO invocam muitos o fato de ter aparecido ela,
nos currículos brasileiros, a partir do "Estado Nôvo", com
o golpe de 1937.
De fato, até essa época, permaneceu a TEORIA GERAL
DO ESTADO, no currículo jurídico, dentro da cadeira de
Direito Público Constitucional, então estudada na 2. a série
do curso de bacharelado.
Não há dúvida de que razões de ordem política,
sobretudo, levaram o Decreto-Lei n.O 2639, de 27 de se-
tembro de 1940, a desmembrar a cadeira em duas, com
o conseqüente estudo da TEORIA GERAL DO ESTADO na 1.a
série e do Direito Constitucional na 2. a série.
Mas, quando tal inovação se fêz, atendendo a im-
perativos políticos, estava-se, mesmo sem o saber, aten-
dendo a reais necessidades didáticas, não só pela crescen-
te importância que o fenômeno "Estado" vinha ganhando,
obviamente, nos últimos tempos, como pela experiência
semelhante já realizada em centros universitários de maior
tradição e cultura que os nossos.
Como assinalamos em nossa citada obra,
"Vivemos, hoje mais do que nunca, uma época de
sofrimento, desordem, inquietação e expectativa social.
Por isso mesmo, voltam-se os homens, crescentemente,

(2) V. A. Machado Pauperio, Teoria Geral do Estadc, 3. D edição, Fo-


rense, Rio, 1958, págl. 21 8 23.

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para o Estado e para os estadistas. Não é senão por isso
que adquire singular prestígio, cada vez mais, nos dias que
correm, a Ciência do Estado.
Em virtude de no campo da TEORIA GERAL DO ESTA-
DO não imperar o puro acaso e poderem as uniformidades
nêle existentes ser objeto de um conhecimento sistemÁti-
co e racional, não se lhe pode negar o caráter de ciên-
cia." (3)
A TEORIA GERAL DO ESTADO é, como diz VILANOV A,
a Ciência do Estado. Como ciência, há de ser genera-
lizante, sendo-lhe, assim, até, supérfluo, Q aditamento ge-
ral. (4)
São componentes necessários e universais da estru-
tura estatal o elemento social e o elemento jurídico. A TEO-
RIA GERAL DO ESTADO tem, assim, pelo menos, uma dupla
feição: social e jurídica. Se o conceito de nação se liga,
por exemplo, às ciências histórico-culturais, o conceIto de
Estado é conceito por excelência emergente da teoria do
Direito Público. Como sentimos e como anota BURDEAU,
a juridicidade é a nota essencial do conceito de Estado. (5 )
Como ponto de vista sôbre o Estado, a TEORIA DO
ESTADO é uma nova síntese, fruto de elementos já leva-
dos em consideração, à guisa de conclusão, em outras jn-
vestigações científicas. Difere, portanto, de uma simples
ciência histórica do Estado, em face da tipicidade de seu
objeto. (7) Como diz HELLER, é uma ciência de estru-
turas, não uma ciência histórica. (8) JELLINEK chama-a
de ciência explicativa. Mas, como ciência, visa a estabe-

(3) V. A. Machado PaupETio, ob. cit.. pág. 27.


(4) V. Lourival Vilanova, O problema do objeto da Teoria Geral do
Estado, Recife, 1953, págs. 11 e 27.
(5) V. Georges Burdeau, Traité de Scienc€ Politique, t. 11, Paris, 1949,
pág. 135.
(6) V. Lourival Vilanova, oh. cit., pág. 98.
(7) V. Lourival Vilanova, ibidem, pág. 103.
(8) V. Hermann Heller, Teoria dei Estado, Fondo de Cultura Economl-
ca, México. 1942, págs. 68 a 72.

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lecer, sôbre dados já elaborados por outras ciências, uma
nova síntese, vital ao universo do jurista. Não pode, por
isso, encarar o Estado sob prismas coincidentes com o
prisma histórico, o sociológico, o jurídico ou o filosófico-
-político.
Poderíamos dizer que o objeto próprio da TEORIA
GERAL DO ESTADO é o Estado como objeto cultural. (9)
Sua generalidade existe, entretanto, num determinado âm-
bito de cultura e não representando universalidade para
todos os tempos e tôdas as culturas, o que não passaria
de utopia. ( 10) Concretamente, a TEORIA GERAL DO ES-
TADO é teoria da estrutura do Estado e dos seus tipos e
formas. ( 11) Por isso, é a Ciência do E~tado que inclui
o Direito Constitucional e não êste que inclui aquela. Na
esteira de MARCEL DE LA BIGNE DE VILLENEUVE, pode-
mos dizer que a TEORIA GERAL DO ESTADO é uma ciência
mista, aliança de política e de direito. (12)
Entretanto, de um lado, a TEORIA GERAL DO ESTADO
não se pode confundir com a political Science dos anglo-
-saxões, que não é teoria nem, por isso mesmo, geral.
De outro 18.do, não se pode confundir também a
TEORIA GERAL DO ESTADO com o Direito Público, que
deve ser considerado no âmbito das Ciências do Estado,
em sentido genérico, mas não incluído na sua TEORIA GE-
RAL. OS caminhos, pois, que partem de JELLINEK e levam
a MALBERG e KELSEN, carecem, data venia, de visão su-
perior do problema, como anota com agudeza JOÃo JosÉ
DE QUEIROZ. ( 13 )

Dentro dos contornos gerais da obra de BLUNTSCHLI,


LA BIGNE DE VILLENEUVE, GROPPALI e DABIN, entende-

( 9) V. Lourival Vilancva, ibidem, pág. 183.


(lO) V. Lourival Vilanova, ibidem, pág. 218.
(11) V. Lourival Vilanova, ibidem, pág. 208.
(12) V. MareeI de la Bigne de Villeneuve, Traité Général de l'État, t.
I, Paris, 1929, pág. 20.
(13) V. João José de Queiroz, Posição e Conteúdo da T~"Gri:l GereI dQ
Estado, Edição Revista Forense, Rio de Janeiro, 1951, caps. XIII e XIV.

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mos também com que a TEORIA
JOÃo JosÉ DE QUEIROZ
GERAL DO ESTADO recebe de outras ciências que cuidam
igualmente do Estado, como a História, a Sociologia, a
Economia, o Direito e a Política, dados que lhe permitem
construir a sua síntese superior. Tal síntese, porém, é que
lhe dá feição marcantemente autônoma no campo didá-
tico das ciências sociais e jurídicas.
Não se pode discutir, pois, a autonomia da cadeira,
que constitui, realmente, uma ciência independente e in-
confundível. Como diz JOÃo JosÉ DE QUEIROZ:
"O seu estudo deve ser autônomo e bem colocado,
como está, no curso de bacharelado em Direito. O supe-
rior conhecimento teórico do Estado é imprescindível a
uma boa formação jurídica e impossível seria consegui-lo,
proveitosamente, através do estudo do Direito Público
Constitucional." (14)
Repetindo, em grandes linhas, o que dissemos alhu-
res, é de assinalar-se que, de maneira geral, originou-se a
matéria como disciplina autônoma em meados do último
século, na Alemanha, sob a denominação de ALLGEMEINE
STAATSLEHRO, que se traduz de modo literal, por TEORIA
GERAL DO ESTADO. Em sua pátria de origem, dentro da
corrente do positivismo jurídico, encontramos GERBER,
LABAND e sobretudo GEORG JELLINEK, professor da Uni-
versidade de Heidelberg e autor de uma conhecida e opu-
lenta TEORIA GERAL DO ESTADO, já traduzida para o es-
panhol (Editorial Albatros, República Argentina, 1943).
HANS KELSEN, antigo professor das Universidades de
Viena e Colônia, encabeça a importante escola do forma-
lismo jurídico, por êle criada, e é autor, igualmente, de
uma ALLGEMEINE STAATSLEHRE, aparecida em espanhol,
em edição LABOR, em 1934. HELLER, que lidera a corren-
te decisionista com SCHMITT, é autor também de obra
idêntica, já publicada em espanhol, no México, em 1942.
Mas não pára aí a contribuição alemã. Além da obra

(14) v. João José de Queiroz, oh. cit., pág. 110.

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clássica de BLUNTSCHLI, traduzida para o francês, e da
obra didática de o. G. FISCHBACH, aparecida em edição es-
panhola pela primeira vez em 1926, na Colección Labor,
numerosos trabalhos específicos merecem menção, entre
os quais não podemos, sem dúvida, deixar de citar:
A11gemeines Staatsrecht, de HUGO BUSS; A11gemeine
Staatslehre, de w. ECKHARDT; Einfuhrung in die Begrifie
des Rechtes und Staates, de JOSEF ESSER; A11gemeines
Staatsrecht, de HANS HELFRITZ; Moderner Staat und
Staatsbegriff, de ERNST KERN; Staatslehre, de KIPP; A11ge-
meine Staatslehre, de KUECHENHOFF & KUECHENHOFF;
A11gemeine Staaatslehre, de RUDOLF LAUN; A11gemeine
Staatslehre, de NAWIASKY,· A11gemeine Staatslehre, de
FRITZ SANDER; GrundriSs der allgemeinen Staatslehre, de
THOMA,· A11gemeinestaatslehre, de WALDECKER,· etc. etc.
Prova, aliás, do invulgar interêsse pelos problemas do Es-
tado é a reedição do monumental Staatslexikon, agora em
oito grossos volumes, dos quais já editados seis, pela VerJag
Herder Freiburg.
Na França fazem-se, via de regra, os estudos da
TEORIA GERAL DO ESTADO dentro dos programas de Di-
reito Constitucional. O próprio LÉON DUGUIT consagra à
TEORIA GERAL DO ESTADO os dois primeiros tomos do seu
valioso Traité de Droit Constitutionnel, em cinco volumes.
Alguns autores, como CARRÉ DE MALBERG, denominam a
sua obra Théorie générale de l'État, mas nela estudam
também o Direito Constitucional positivo francês. A dou-
trina do Estado, contudo, é encontrada em maior escala
nos tratados de Droit Public et Constitutionnel, entre os
quais fôrça é salientar os de HAURIOU, ESMEIN, BERTHÉ-
LEMY etc. Por sua especial importância, consagrou-se,
nesse terreno, na bibliografia francesa, o Traité de Science
Politique, de GEORGES BURDEAU, em sete volumes, o úl-
timo dos quais aparecido em 1957. Mas já na França
aparece a nítida tendência de tlar autonomia à Teoria
Geral do Estado através da brilhante obra do Prof. MAR-
CEL DE LA BIGNE DE VILLENEUVE, autor do Traité Géné-
ral de l'État, em três volumes, o primeiro dos quais apa-
~v. Dir. Públ. • Ciência Política - Rio de Janeiro --- Vol. YI. nO 1 - j:,neiro/abriJ J9(>3
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recido em Paris em 1929. Idêntica tendência aparece na


obra do Prof. JEAN DABIN, da Universidade de Lovaina,
autor de uma magnífica Doctrine Générale de l'État, sur-
gida em 1939.
Na Espanha, incluem-se os estudos de Teoria Geral
do Estado nos programas de Derecho Politico, onde se faz
também o estudo do direito Constitucional positivo, mere-
cendo menção especial as obras de ADOLFO POSADA, de
RUIZ DEL CASTILLO, de SÁNCHEZ AGESTA e do padre
IZAGA. A bibliografia sôbre o Estado é, porém, aí extensÍs-
sima, podendo ser citadas, à guisa de mera exemplificação,
obras como La crisis deI Estado, de MANUEL FRAGA IRI-
BARNE; La idea deI Estado em la edad moderna, de w.
NAEF; Los fundamentos deI Derecho y deI Estado, de J .
ANTONIO MARA VALL,· EI concepto deI Estado en el pen-
samiento espanol deI siglo XVI, de SÁNCHEZ AGESTA; etc.
Em Portugal igualmente vêm os autores dando especial
atenção aos problemas do Estado. sendo disso prova o
Curso de Ciência Política e Direito Constitucional, de
MARCELLO CAETANO, que dedica o seu primeiro volume
também à Teoria Geral do Estado, e a obra do professor
conimbricence CABRAL DE MONCADA, Filosofia do Direito
e do Estado.
Na Itália também os assuntos da Teoria Geral do
Estado são estudados, via de regra, pelos autores de Di-
ritto Costituzionale, entre os quais justo é citar ORLANDO,
SANTI ROMANO e BALLADORE PALLIERI, ou pelos trata-
distas de Diritto Pubblico, como PANELLETTI, ZANZUCCHI
etc. Na era do fascismo passaram tais estudos a ser fei-
tos sob a denominação de Diritto Corporativo. Há, con-
tudo, na Península, ainda, uma tendência, que se vai hoje
avolumando, para estudar Teoria do Estado como discipli-
na autônoma, merecendo citação especial, nesse particular,
a obra do Prof. ALES SANDRO GROPPALI - Dottrina del10
Stato - sempre melhorada em sucessivas edições. Na es-
teira dessa tendência não é lícito também esquecer o nome
do Prof. GIORGIO DEL VECCHlO, autor não só de Crisis del
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Derecho y crlSlS deI Estado, traduzido para o espanhol,
corno de urna magnífica Teoria do Estado, já em versão
portuguêsa, e o de EMILIO CROSA, que dedicou o primeiro
volume de seu Corso di diritto costituzionale à Teoria
generale dello Stato moderno.
Nos países de língua inglêsa, os estudos da Teoria
Geral do Estado são feitos nas obras de Political Science.
Na Inglaterra, merecem especial atenção as obras do Prof.
HAROLDO LASKI, autor de EI Estado moderno, já em espa-
nhol, e de A. D. LINDSAY, autor de The modern democratic
State, também já vertido para o castelhano, pelo Fondo
de Cultura Economica do México. Nos Estados Unidos são
dignas de menção não só as obras do Prof. WILLOUGHBY
corno as do Prof. R. M. MAC IVER, autor de The moderrl
State, já editada no Brasil em português.
Na América espanhola prevalece, via de regra, a
orientação ibérica do Derecho Politico, sendo de citar-se,
corno obras didáticas, os Princípios de Ciencia Política, de
CESAR A. QUINTERO, editados em 1952, no Paraná, e o
Derecho Político, de VEDIA ALSINA, surgido em 1955, na
A.rgentina, onde merece relêvo especial a Historia general
de las Ideas Politicas, em 13 volumes, de VEDIA Y MIERE,
o primeiro volume dos quais é, por sinal, dedicado à Teo-
ria deZ Estado. Aliás, na Argentina já se vai impondo a
autonomia óbvia dos estudos sôbre o Estado. ARTURO EN-
RIQUE SAMPAY, por exemplo, é não só autor de La crisis
deZ Estado de Derecho Liberal-burgués, editado em 1942,
como de urna substanciosa Introdución a la Teoria deI
Estado, aparecida em 1951. No México, encontramos,
nos dias que correm, editada em 1954, urna Teoria deI
Estado. da lavra de PORRUA PEREZ, que resumiu e com-
pletou a obra esboçada na Naturaleza, objeto y método
de Za Teoria General deI Estado, de GONZÁLEZ URIBE,
ex-professor de Teoria Geral do Estado na Escuela Nacio-
nal de Jurisprudencia da Universidad Autónoma de M:5-
xico, aparecida em 1950, bem corno uma Teoria deI Es-
tado, editada em 1955, de AGUSTIN BASAVE FERNANDEZ
Rcv. Dir. Públ. e Ciência Política - Rio de Janeiro - Vol. VI. nQ I - janeiro/abril 1963
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DEL VALLE, catedrático de Teoria General deI Estado na


Facultad de Derecho y Ciencias Sociales de la Universidad
de Nuevo León.
Sob a denominação específica, assim, de Teoria Ge-
ral do Estado, já aparecem numerosas obras de valor in-
contestável na bibliografia estrangeira, sendo ocioso citar-
-se o número de monografias que êsse campo de Ciência
suscitou.
No Brasil, a matéria, versada sob a própria denomi·
nação de Teoria Geral do Estado, deu margem a ampb
estudo dos problemas do Estado, através de um sem-nú-
mero de obras gerais e de monografias, estando entre a3
primeiras, por sua sistematização específica, as obras dos
professôres QUEIROZ LIMA, PEDRO CALMON, DARCY AZAM-
BUJA, JosÉ NICOLAU DOS SANTOS, SAHID MALUF, PINTO
FERREIRA, JOSÉ PEDRO GALVÃO DE SOUSA, THEMÍSTO-
CLES BRANDÃO CAVALCANTI e ADERSON DE MENEZES, ao
lado das quais não se pode deixar de acrescentar a Teoria
do Direito e do Estado, de MIGUEL REALE. Entre as se-
gundas, à guisa de mera exemplificação, seja-nos lícito
relembrar O Estado é meio e não fim, de J. c. ATALIBA
NOGUEIRA; Posição e Conteúdo da Teoria Geral do Esta-
do, de JOÃo JosÉ DE QUEIROZ,' Caracterização da Teoâa.
Geral do Estado, de ORLANDO M. CARVALHO, e O proble-
ma do objeto da Teoria Geral do Estado, de LOURIVAL
VILANOVA.

Por tôda parte, de outro lado, tem crescido a impoi-


tância das Ciências do Estado nos currículos das Faculda-
des do Direito.
Na Alem3.ilha continua-se dando grande valor ao
estudo do Direito Público. Na Universidade de Heidel-
berg, por exemplo, reservam-se quatro semestres a êsse
estudo: no 1.0 estuda-se TEORIA GERAL DO ESTADO; no
2.0, DIREITO DO ESTADO; do 3.° constam TRABALHOS PRÁ-
TICOS DE DIREITO DO ESTADO e do 7.°, TRABALHOS DE DI-
REITO PÚBLICO, com, respectivamente, 3, 4, 2 e 2 aulas
semanais. Na Universidade de Munique, onde há uma
lkv. Dir. Púb!. e Ciência Política - Rio de Janeiro - Vol. VI, nO I - janeiro/abril 196~
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flexibilidade de estudos maior e onde há três modalidades


de currículos, das treze cátedras existentes, quatro dizem
respeito ao Direito Público, havendo no currículo c aulas
de DIREITO DO ESTADO e de TRABALHOS PLÁSTICOS DE
DIREITO PÚBLICO.

Aliás. entre as disciplinas consideradas absolutamen-


te indispensáveis a uma Faculdade de Direito, entende
KARL JASPERS estar o DIREITO PÚBLICO e o DIREITO
CONSTITUCIONAL. (15)

Na França, nas duas últimas séries, as diversas Fa-


culdades do Direito mantêm cursos sôbre teorias políticas,
instituições políticas comparadas, ciências administrativas
e problemas coloniais, havendo em algumas Faculdades
curses de doutorado sôbre teoria política e história dos
ideais políticos. (16)
Na Espanha, os estudos correspondentes de Derecho
político são feitos em dois cursos, assemelhando-se, assim,
fundamentalmente, com os do currículo até agora adota-
do no Brasil. (17)
Na Inglaterra, em Cambridge, por exemplo, o ensino
do Direito Público tem apresentado progressos acentua-
dos, que acompanham a importância crescente do mesmo.
Aliás, na Inglaterra está-se começando a tentar fazer
da ciência política parte essencial e obrigatória da educa-
ção superior, qualquer que venha a ser a especialização
futura do estudante. Por isso, no University College Df
North Stafiordshire, o curso básico passou a compreender
no primeiro ano de estudos comuns a todos os estudantes

(15) V. Vandick L. da Nóbrega, Subsídios para fixar as diretrizes do


ensino jurídico no Brasil, Rio de Janeiro, 1962, e Karl ]a •.pers, Dio Idoe der
Universitat, Springer-Verlag, 1961, pág. 99, apud L. da Nóbrega, ob. cito
(16) V. William A. Robson, O ensino universitário das Ciências Sociais.
Ciências Políticas, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1958, págs.
179/180.
(17) V. La carrera de Derecho en Espana, Madrid, Edicicnes Cultura
Hispanica, 1954, pág. 14.

Rev. Dir. púbJ. e Ciência Política - Rio de Janeiro - Vol. VI, n Q I - jlnciro/abil '9<3
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um semestre de estudos sociais, no qual a ciência política
ocupa lugar de relêvo. (18)
Nos Estados Unidos podemos dizer que a ciência p0-
lítica adquiriu no ensino uma importância maior do que
em todos os demais países reunidos do mundo. ( 19) Tal-
vez, por isso, se tenha na grande nação americana aprimo-
rado tanto a prática da própria democracia.
Também na Polônia se estuda a ciência política nas
Faculdades de Direito. Num curso geral sôbre a Polônia
e o mundo contemporâneo, obrigatório em tôdas as fa-
culdades, inclusive nas Escolas de Direito, onde figura
no programa do 1.0 ano, estuda-se a Teoria Geral do Di-
reito e do Estado. (20)
No próprio Egito, as Faculdades de Direito ensinam
igualmente tópicos da ciência política, abrangendo as ca-
deiras usuais não só de Economia Política como de Direito
Público.
Nas Faculdades de Direito estuda-se não só o direito
constitucional e o direito internacional público como o
direito público, a legislação do trabalho e a histôria das
instituições políticas, econômicas e jurídicas. Na famosa
Faculdade de Direito do Cairo há cursos de instituiçõe&
políticas. ( 21 )
Finalmente no México, país dos mais adiantados da
América Latina, as Faculdades de Direito incluem tam-
bém em seus programas alguns cursos de ciências políti-
cas, existindo cadeiras especiais de direito constitucional,
direito administrativo, direito internacional público e teo-
ria geral do Estado. (22 )
Dentro de tal clima c de tal tendência, não pode o
Brasil deixar de dar o lugar de relêvo que cabe ao Direito

(18) V. WiIliam A. Robson, ob. cit., págs. 32133.


(19) V. WilIiam A. Robson, ob. cit., pág. 34.
(20) V. William A. Robson, ob. cit., pág.! 39, 162 e 197.
(21) V. William A. Robson, ob. cit., págr.. 40, 163, e 198.
(22) V. Wi1Iiam A. Robson, ob. cit., pá,I., 38, 172 e 1%.

~. Dit. Públ . • Ciencia Política - Rio de Janeiro - Vol. VI, o' i - f311eintialnil 1963
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Público, que não pode, assim, de outro lado, ver seus currí-
culos reduzidos, no preciso momento em que avassala, de
maneira incontestável, o próprio campo do Direito Pri-
vado.
Aliás, como é óbvio, os problemas do Estado são hoje,
mais do que nunca, os próprios problemas do século, ao
qual já vários sociólogos e juristas cognominaram de "sé-
culo do Estado".
Dentro dessa perspectiva, não seria, portanto, crível
nem admissível que se pudesse advogar, como o têm feito,
data venia, alguns espíritos. a extinção da cadeira de TEO-
RIA GERAL DO ESTADO, reduzindo, assim, os estudos do Di-
reito Público Geral, de dcis para um ano. no curso de
bacharelado de Direito.
Se não é possível, por razões várias, aumentar o
currículo nessa parte da Ciência do Direito, tenhamos pelo
menos o bom-senso de conservar-lhe a estrutura atual, ver-
dadeiro imperativo da posição ímpar que adquiriu o Di-
reito Público no mundo ccntemporâneo.
De acôrdo com o art. 7 O da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, Lei Complementar à Constituição
da República - Lei n.o 4024, de 20 de dezembro de
1961 - coube ao Conselho Federal de Educação fixar
o currículo mínimo e a duração do curso de Direito, por
habilitar êste à obtenção de diploma capaz de assegurar
privilégios para o exercício de profissão liberal.
Incluindo entre as matérias básicas apenas o Direit0
Constitucional (com noções de Teoria Geral do Estado),
como o fêz o Conselho Federal de Educação, ao aprovar,
em 15 de setembro de 1962, o parecer n.O 215, da Co-
missão de Ensino Superior (23) não pretendeu, certamen-
te, entretanto, aquêle órgão, restringir o estudo do Direito
Público no curso de bacharelado jurídico. Restará somen-
te manter tal disciplina em dois anos, para conservar-se,

(23) V. Documenta, n.o 8, pág. 81.

Rev. Dir. Públ. e Ciência Polltica - Rio de Janeiro - Vol. VI, nO I - janeiro/abril 1963
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no caso, a mesma base de estudos atual, indispensável de


todo para a boa formação do jurista.
Ê o que não podem deixar de resolver as várias Fa-
culdades de Direito do país, se não quiserem aceitar, como
convém, a manutenção autônoma da cadeira de TEORIA
GERAL DO ESTADO, dentro da forma prescrita pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que lhes reco-
nhece o fundamental direito de complementar as discipli-
nas básicas estabelecidas pelo Conselho Federal.
Quem pratica o trabalho docente da disciplina há
muitos anos, como nós, sabe que é impossível, em um ano,
ministrar na cadeira de Direito Constitucional, as noções
gerais de TEORIA DO ESTADO e, ao mesmo tempo, as da
evolução constitucional do país, além do comentário de
cada um dos principais dispositivos da Constituição vigen-
te. No assunto. ficaria sempre uma parte sacrificada à ou-
tra, com reais prejuízos para a formação do jurista.
Dessa forma, impõe-s p , pelo menos, a manutenção do
estudo do Direito Público Geral em dois anos, fazendo-se,
como até aqui, na 1.a série o estudo da TEORIA GERAL DO
ESTADO e na 2.a o do Direito Constitucional propriamen-
te dito.
Sem dúvida, há que fazer-se o estudo da parte de
TEORIA GERAL DO ESTADO, na 1.a série, de maneira pro-
pedêutica e geral, sem entrar nos altos lineamentos filosó-
ficos e jurídicos que os problemas do Estado enfocam
e para os quais não está ainda preparado o aluno que se
inicia no curso jurídico.
Nessa ordem de idéias, bastante judiciosa é a suges-
tão oferecida pelo eminente professor VANDICK LONDRES
DA NÓBREGA, catedrático de Direito Romano da Facul-
dade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, de re-
legar o estudo propriamente dito da TEORIA GERAL DO
ESTADO para a última série do curso de bacharelado, que
seria de especialização.

(24) V. Vandick L. da Nóbrega, ob. cit.

Rev. Dir. Públ. e Ciência PoHtica - Rio de Janeiro - Vol. VI, nO 1 - janeiro/abril 196,
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A especialização na quinta série do curso de bacha-
relado, sugerida pelo Prof. v ANDICK LONDRES DA NÓBRE-
GA, é idéia que também se não pode desprezar. Figuraria
então, nesse caso, a TEORIA GERAL DO ESTADO, no currí-
culo complementar de Direito, ora obrigatoriamente, ora
em caráter de opção. Para os alunos que fizessem, naque-
la série, a especialização de Direito Administrativo, a TEO-
RIA GERAL DO ESTADO seria, obviamente, disciplina obri-
gatória.
Nesse caso, a TEORIA GERAL DO ESTADO seria minis-
trada dentro de uma sistematização mais vasta e comple-
xa, com o seu natural complemento de ordem filosófica,
que a iniciação cultural dos estudantes já, a essa altura,
permitiria.
De qualquer modo, porém, é preciso não esquecer
que, como anotaram ABGAR RENAULT e ANÍSIO TEIXEIRA,
em sua declaração de voto às normas sôbre currículo apro-
vadas em 13-9-1962 pelo Conselho Federal de Educação,
o currículo mínimo é um currículo necessário, mas não é
um currículo suficiente.
De acôrdo com o inciso IV daquelas normas,

"O currículo de cada curso abrangerá, além do


mínimo referido nos itens anteriores, uma parte com-
plementar, fixada pelo estabelecimento, conforme as
suas possibilidades. para atender a peculiaridades re-
gionais, a diferenças individuais dos alunos e à ex-
pansão e atualização dos conhecimentos." (25 )

Ora, a expansão e atualização dos conhecimentos, :1


que alude o Conselho Federal de Educação, está a exigir,
como matéria complementár, a manutenção da cadeira de
TEORIA GERAL DO ESTADO, em boa hora criada pelo Go-
vêmo brasileiro, embora, não importa, ao ritmo de um
golpe de Estado.
(25) V. EBSA, documentário do ensino, n. o 175, outubro de 1962, pãgs.
23/24.

tlev. Oi,. Púb\ . • Ciência Política - Rio d. Jao.iro - Vol. VI, nO 1 - jar",iro/abri\ J9I'~

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