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Muito Além
dos Videogames

Crônicas dos meus amigos

Luiz Miguel de Souza Gianeli


Primeira Edição
Piumhi/MG
Setembro de 2019

Diamantes Eternos

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___________________________________________________
Copyright © Luiz Miguel de Souza Gianeli

Revisão
Luiz Miguel de Souza Gianeli

Diagramação
Luiz Miguel de Souza Gianeli e Beto César

Capa
Beto César

www.diamanteseternos.blogspot.com.br/
Primeira edição – Setembro 2019

Impressão e publicação:
DIAMANTES ETERNOS
e-mail para contato: prmiguelgianeli@hotmail.com

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS - 7
APRESENTAÇÃO - 10
VIDEOGAMES: UM SONHO POSSÍVEL
Alex Mamed Jordão - 12
VIRANDO A NOITE NA JOGATINA
Flávio Antônio de Assis Leite - 18
UMA SACOLA, UM PRESENTE, MINHA FAMÍLIA
Juan Carlos Souza - 21
VIDA LONGA AO SISTEMA MESTRE!
Beto César - 30
O VIDEOGAME É O QUE VOCÊ É
Maurício Muthi - 34
MEGA DRIVE POR MÚSICA
Luiz Miguel Gianeli - 47
A BUSCA PELO DESCONHECIDO
David Rayel - 52
UM EMULADOR MUITO ESPECIAL
Lucas Klein - 55
UM MASTER SYSTEM E MEU QUERIDO PAI
Abinael Medeiros - 60
RABISCANDO SONHOS: MINHA PRIMEIRA REVISTA DE
VIDEOGAME
Ítalo Chianca - 65
SUPER MARIO RPG: A LENDA DA MINHA VIDA
Alexsandro Magalhães - 75
AS REVISTAS DE GAMES DOS ANOS 90
Alan Ricardo de Oliveira - 82

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MASTER SYSTEM: JANELA DOS SONHOS E O SAUDOSO


MORTAL KOMBAT
Fernandes Diego - 88
EM BUSCA DO FLIPERAMA PERDIDO
Sammis Reachers - 92
AMIZADES E BOM MOMENTOS
Max Demian Brito Borges - 95
O BOM DO VIDEOGAME
André Luiz Silva Negrão - 100
MEU TIO, OS GAMES E A NINTENDO
Nathan Rocha - 103
DE VOLTA AOS CONSOLES
Abrahão Lopes - 107
OS SHAKE BROTHERS
Ítalo Chianca - 114
CINEMA OU FLIPERAMA
Rodrigo Reche - 119
CAVALEIROS DO ZODÍACO: Sétimo Sentido na Base do Durex
Cleber Marques - 123
A PRIMEIRA LOCADORA DE ATARI 2600
Marcus Garrett - 129
VIDEOGAMES: UM CASO DE FAMÍLIA
Edson Godoy - 132
EU, UM QUARTO E OS VIDEOGAMES
Giuliano Gianeli - 137
O MEGA DRIVE NA VIDA DO GAMER CRISTÃO
Cleiton Munhoz - 142
A MAGIA DO NATAL
Luiz Miguel Gianeli - 145
CONCLUSÃO - 148

5
7

Dedico estes livros a todos os retrogamers do Brasil e,


especialmente, à minha querida e preciosa família:
Débora, minha linda e amada esposa, e aos nossos filhos
Agnes, Annelise e Luigi. É com eles que compartilho as
lembranças do passado e desfruto as alegrias do
presente. Vocês são tudo para mim. Amo vocês!!!

6
AGRADECIMENTOS
Apoiadores do Financiamento Coletivo

A publicação da versão impressa deste livro tornou-


se realidade graças ao apoio e participação das pessoas
listadas abaixo que, prontamente, apoiaram o projeto.
Agradeço, de coração, a confiança. Que Deus abençoe
muito a cada um de vocês!

1. Juan Carlos Souza


2. David Rayel – Exposição Meu Primeiro Videogame
3. Abrahão Lopes
4. Paulo Sérgio de Santana Silva
5. Jefferson Vieira
6. Maurício Pereira da Silva
7. Max Demian Brito Borges
8. Flávio Antônio de Assis Leite
9. Antiquário Master
10. Hernani Moskwen
11. Claudio Oniki
12. Abinael Medeiros
13. Bruno Zambelli
14. Gustavo Salomão Prado
15. Rodrigo Reche
16. André Luiz Silva Negrão
17. Alex Mamed Jordão
18. WarpZone
19. Alan Ricardo de Oliveira – Revista OldBits

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

20. Eduardo Maciel Ribeiro


21. Uriel Agria Corbacho
22. Cicero Alberto Bernardo
23. Helder Ribeiro
24. André Germano de Souza
25. Jolersion Endrigo Manoel dos Anjos Amaral
26. Alexsandro Magalhães
27. Vinícius Leão
28. Sammis Reachers
29. Marcelo Brinker
30. Wagner Salles
31. Eduardo Jordão de Freitas
32. Marcus Vinicius Garrett Chiado
33. João Moisés Bertolini Rosa
34. Josevaldo Luiz Carneiro
35. Lu Silveira
36. Jorge Viveiros
37. Laercio Barroso Lopes Mataruco
38. Leonardo Ramos Rocha
39. Paulo Roberto San anna Cardoso
40. Nilton Soares Miranda
41. Giuliano Gianeli
42. Roberto Resident Junior
43. Rafael Alexandre Tamanink
44. Maria de Fatima de Souza
45. Video Game Data Base – VGDB
46. Elma Sales Morais
47. Beto César

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

APRESENTAÇÃO

Tudo começou após a publicação do livro “Muito


Além dos Videogames – Memórias de um jogador” no
final de 2018, pois, logo após o envio dos primeiros
exemplares, amigos e leitores começaram a entrar em
contato compartilhando suas próprias memórias ligadas
aos videogames. Era notório como a leitura de minhas
crônicas fazia com que conhecidos e desconhecidos
voltassem à suas infâncias e resgatassem memórias
profundas, algumas adormecidas, que incluíam um
videogame ou outro.
Relatos engraçados, inspiradores, emocionantes,
marcantes e repletos de profundos laços de amizade, de
família, de amor e de fé entrelaçavam-se com os
videogames na vida destas pessoas queridas.
Pensando nisso, tive a ideia de incluir alguns destes
relatos numa possível nova edição de “Muito Além dos
Videogames” ou preparar um PDF para distribuir
gratuitamente. A segunda tomou forma; fui reunindo os
relatos, pedindo para outros amigos e selecionando alguns
espalhados pela internet, e o projeto cresceu. Recebeu o
título de “Friend’s Game Stories”, mas, por sugestão de
minha esposa Débora, decidi mudar e mantive o nome da
obra que o inspirou, acrescentando o subtítulo: Crônicas
dos meus amigos.
No meio disso, percebi o destaque que o saudoso
Master System recebia, sendo citado em muitas das
histórias e, aproveitando a “onda” sobre o console que,

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

agora em 2019, completou trinta anos do seu lançamento


no Brasil, pensei na possiblidade de fazer uma capa no
estilo dos cartuchos da Tectoy. Comentei sobre isso na
comunidade Master System no Facebook e vários amigos
ajudaram, dando dicas e sugestões e, por fim, o designer
Beto César da Intento Criativo, um entusiasta do 8Bits da
SEGA, ofereceu-se para produzir a capa baseado num
rascunho meu. Os primeiros esboços animaram, ainda
mais, a galera retrogamer, que começou a pedir e sugerir
uma versão impressa da obra.
Foi assim que veio o financiamento coletivo no
Catarse e os resultados foram animadores. Muita gente
participou e apoiou, por isso, você tem, neste momento, o
livro em mãos, bem como o PDF, que mantivemos
disponível gratuitamente para quem quiser.
Vários amigos retrogamers participaram, outros
ficaram de enviar suas histórias, mas, infelizmente, não
conseguiram, por um motivo ou outro, mas creio que, com
as 26 crônicas aqui reunidas, temos uma boa dose de
nostalgia e diversão.
Foi uma experiência muito legal preparar esta
coletânea, ler, reler e imaginar cada história, fazer novos
amigos e me aproximar de outros. Tenho certeza que, ao
ler estas crônicas, você se identificará e desejará registrar
suas memorias também. Será uma aventura maravilhosa,
uma verdadeira celebração retrogamer!
* Lembrando que todos os participantes foram
voluntários.
Então, que comecem os jogos. Boa leitura!

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

VIDEOGAMES – UM SONHO POSSÍVEL


Alex Mamed Jordão

Natais, páscoa e dia das crianças. Essas eram datas


muito esperadas, mas, nem sempre era possível ganhar o
presente com o qual sonhávamos.
Na época, eu morava na Penha, zona leste de São
Paulo. Casa de aluguel, família de seis pessoas, dois
cachorros e um gato. Toda nossa renda vinha do trabalho
do meu pai, que era vendedor de bilhetes na rua. Nós
entediamos que nossos pais faziam o máximo deles, mas
na época, era muito difícil dar presentes para quatro
crianças.
Uma vez aconteceu algo que me marcou muito; eu
estava indo mal na escola, com notas baixas e
possivelmente não passaria para o próximo ano, mas meu
pai me convenceu que se eu me esforçasse, eu poderia
finalmente escolher meu presente de natal. E assim
aconteceu, em parte... Esforcei-me muito mais para
conseguir concluir aquele ano na escola, então, tive a
chance de escolher o meu prêmio, que para mim, foi fácil,
pois já tinha em mente o que eu queria. Um TCR
(autorama da época). Mas, meu pai me perguntou: – Você
quer apenas um TCR ou um brinquedinho e mais roupas?
Na hora eu pensei: “Passei de ano na escola, estudei
muito. Eu posso até andar pelado o ano todo, mas eu
prefiro meu TCR!”

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Isso foi só meu pensamento no momento, mas


acabei entendo a situação, e cedendo a vontade dos meus
pais.
Em 1982, meu irmão Alexandre viajou para o
Paraguai com a finalidade de comprar itens pessoais e a
família toda ficou na espera de roupas, calcados e relógios
como presentes. Mas surpreendentemente, o que mais
chamou a atenção foi um brinquedo eletrônico (assim, era
chamado na época), o ATARI. O ATARI 2600, era um
modelo americano com frente de madeira, dois joysticks e
continha nele, um jogo, Asteroids. Era um charme! Ele
funcionava em preto e branco, devido ao seu sistema de
cores ser diferente do usado aqui no Brasil. Porém, mesmo
sem cores, este videogame mudou minha vida.
Quando ligamos o Atari, foi algo surreal podíamos
controlar uma nave, dar tiros, voar, resumindo; podíamos
finalmente interagir com a TV. Algo revolucionário para a
época. Foram muitos momentos de diversão em família, já
que passávamos por um dos momentos mais tristes e
difíceis de nossas vidas. Meus pais acabavam de se
divorciar. E família, que é a coisa mais valiosa, estava
muita abalada. Então, com a chegada de algo que nos
divertia, isso foi se apagando. Uma casa que por muito
tempo estava em choro, se transformava em sorrisos,
alegrias, união e muitas novas amizades, ao menos
quando o videogame estava ligado.
Com um “super” videogame em casa, fiz muitas
amizades com as crianças da rua. A partir daquele
momento, o menino pobre, tímido e de pais separados, era
o “Rei da Rua”.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

O tempo foi passando, jogos de Atari podiam ser


locados em várias locadoras, haviam muitas, e eram bem
frequentadas. Você via um mural colorido com vários
temas onde escolhia primeiro o estilo do jogo e, depois, o
jogo em si. Ação, nave, aventura corrida, estratégia entre
outros, tinha para todos os gostos. Os jogos vinham em
uma caixa preta com espuma no seu interior para proteger
o cartucho.
O Atari foi por muito tempo considerado o meu
“melhor amigo” e, com certeza, de muitas outras crianças.
Os anos foram passando e o Atari do meu irmão era quase
meu, mas ainda não tinha ganhado meu primeiro
videogame. Meu pai já não morava mais em nossa cidade,
aliás, nem nós. Agora eu, minhas irmãs e minha mãe,
morávamos em Caçapava/SP. Meu irmão Alexandre
continuou em São Paulo, mas o Atari ficou com a gente,
(para nossa sorte).
Um dia meu pai foi me buscar para passear e
perguntou: – Filho, se o pai ganhasse na loteria o que você
queria? Deixando bem claro, meu pai não ganhou na
loteria, mesmo vendendo bilhetes e tendo lotérica por
muitos anos ok?! (rs) Mas, voltando para a história, sem
pensar muito, minha resposta foi: - Quero um Master
System!
Então chegou o grande dia, quando iria receber o
tão sonhado presente, meu primeiro videogame.
O Master System foi o videogame que senti o
prazer de jogar em cores pela primeira vez, com melodia e
jogos divertidos. Ele veio completo, com pistola e óculos
3D. Foram anos jogando vários tipos de jogos e trocando

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

fitas com amigos. Uma vez, até aconteceu algo


interessante; os jogos de Master System eram muito caros
na época e eu sempre jogava os mesmos jogos com meu
primo Evaldo, que era bem mais velho e até casado, mas
era o meu parceiro de jogatina e também de trapalhadas.
E, em uma dessas, ele me falou: - Vamos comprar um
jogo! E eu, mais que depressa, aceitei. Fomos até na loja
Cem, no centro de Caçapava e lá vimos vários jogos e
escolhemos o Out Run. Chegamos em casa e já fomos
direto jogar este clássico de corrida dos anos 80. Passando
algumas horas, minha mãe e a esposa do Evaldo,
chegaram em casa. A esposa do meu primo o chamou
para ir ao mercado. Nossa diversão acabou ali. Pois o
grande e famoso jogo Out Run, foi adquirido com o
dinheiro destinado às compras da família dele... Brigas,
gritos e correria já não eram em pixels na tela da TV, e sim
reais, bem ali na minha frente. No fim, minha mãe, mesmo
com dificuldade financeira, cedeu o dinheiro para meus
primos fazerem suas compras. E eu acabei levando um
grande e justo sermão e quase apanhei, mas pelo menos
fiquei com o jogo (Eba!).
Os anos foram passando, fui ganhado outros
consoles, como Mega Drive e Super Nintendo. Os quais
foram sensacionais. Pude conhecer a guerra dos consoles,
ver títulos exclusivos, jogos incríveis para eles e me
divertir em ambos. Foram horas para zerar Sonic e muitos
campeonatos de Street Fighter 2 em minha casa. Tantas
jogatinas e tanta gente em nosso lar que, uma vez, minha
mãe, sem querer, me deu uma ideia: - Filho, por que você
não abre uma casa de jogos e cobra desses garotos?

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Hoje, tenho certeza que ela falou isso da boca para


fora, mas para ouvidos de empreendedor, uma simples
ideia vira um grande negócio.
Com meus 18 anos chegando, a vontade de
empreender e fazer algo com os videogames era grande.
Aliás, quando fazemos algo que amamos, tudo fica mais
fácil. Sendo assim, logo as famosas jogatinas eram em
outro lugar chamado “Galpão Games”.
Realmente era um galpão que minha mãe tinha na
chácara. Ah, agora já morávamos em Cedral-SP (eita povo
que muda...). Neste galpão tinha sela de cavalo, balaio,
enfim, coisas de sitio. E, com nada de grana, tive que me
virar sozinho. Consegui lixar, envernizar e fazer um
balcão e suportes para duas TVs com madeiras e tijolos.
Ficou bem rustico, mas funcional. Eram duas TVs, um
Super Nintendo e um Mega Drive. Meus videogames e
jogos pessoais, a partir daquele momento, seriam locados.
E deu muito certo; em três meses já contava com seis TVs
e seis videogames para a diversão e entretenimento dos
clientes da Galpão Games.
Depois de três anos, meu pai me convidou para
trabalhar com ele. E assim foram encerradas as atividades
da Galpão Games, mas Deus sempre tem planos bem
maiores que os nossos.
Com o fim da locadora, tinha que fazer algo com
aqueles itens que traziam tanta história e diversão.
Portanto, fui trocando meu pequeno “acervo”, por
consoles de videogames. Ali começava uma coleção com
quinze consoles e sessenta jogos, que hoje resulta em mais

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

de doze mil itens que compõem minha coleção. Mas como


cheguei até tudo isso, vou deixar para um próximo livro.

“Quanto pensamos que nosso sonho não é possível, Deus


nos mostra que impossível é uma palavra pequena demais
para quem sonha grande e acredita Nele. Devemos confiar
que tudo tem um proposito e acontece no tempo de Deus.
Acredite Nele, confie em você e lute pelos seus sonhos!”

Alex Mamed Jordão – Empresário no ramo de combustíveis e


avicultor. Cristão, membro da Igreja Batista de São José do Rio Preto
– SP. Nascido em São Paulo capital, mas morou em Caçapava/SP,
Salvador/BA e Cedral/SP. Atualmente reside em São José do Rio
Preto/SP. Estudou 1 ano de direito pela UNIP. Apaixonado por games
desde os anos 80, detém, por sete anos seguidos, o título de maior
colecionador de videogames do Brasil pelo Rank Brasil, é youtuber,
palestrante e integrante da série “Colecionadores” do canal History.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

VIRANDO A NOITE NA JOGATINA


Flávio Antônio de Assis Leite

Nos anos 90, todo garoto que era fã de game


frequentava uma locadora. Seja para alugar jogos que não
tinha ou para jogar por minuto nos consoles disponíveis
para a jogatina. Além disso, não raro, todos sonhávamos
em ter nossa própria locadora.
Comigo não era diferente. Frequentava a BIG
Games e viajava nas páginas de classificados das revistas
da época, sonhando e projetando montar a minha própria
loja. Eu era amigo dos sobrinhos do proprietário, então
vivia por lá, jogando, batendo papo e me divertindo.
Numa dessas idas, conheci o Mega Drive, foi
indescritível. A fila para jogar era enorme. Todos
querendo conhecer aquele novo videogame. Nesse dia,
escolhi jogar Alex Kidd. Gostei, mas nem tanto.
Numa certa sexta-feira, eu fui a locadora, que
estava lotada. Fiquei por ali, jogando um pouco e
conversando com o pessoal, como sempre. Já tinha
reservado o jogo de Master System que levaria para a
jogatina de fim de semana. Os sobrinhos do dono e outro
grande amigo em comum nosso também estavam por lá.
Quando a locadora já estava perto do horário de fechar,
percebi um movimento diferente. Os meninos levariam o
Mega Drive para casa, que ficava num prédio ao lado.
Para o meu azar, não tinha sido convidado. Mas fiquei ali,
espreitando, na esperança que o convite aparecesse. E ele
veio, meio forçado, diga-se de passagem, mas veio.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Ao fechar a loja, juntou-se o Mega Drive, controles


e alguns jogos, e fomos todos para a casa deles. Isso era
por volta de umas 20h. Chegando lá, liguei para a minha
mãe e avisei que jogaria mais um pouco por lá. Minha
mãe sabia quem eles eram e conhecia também a mãe deles
e, como aquela época não existia a violência que tem hoje,
não se preocupou, já que ela era tranquila com relação a
isso.
Começamos então a jogar os diversos jogos que
foram levados: Castle of Illusion, Super Mônaco GP, entre
outros. Resolvemos então, fazer um campeonato de Joe
Montana, um jogo de futebol americano para quem não
sabe.
A diversão era tanta que nem vi a hora passar.
Quando percebi, eram 4 horas da manhã. Pensei, agora já
era, espero amanhecer e vou para casa. Ali mesmo, na
sala, pouco tempo depois, todos adormecemos.
Quando acordei era por volta de 10 da manhã.
Despedi-me, agradeci e, informado pela matriarca, parti
direto pra casa, com pressa. Minha mãe tinha ligado as 6
preocupada comigo.
Cheguei em casa numa mistura de sentimentos de
felicidade pela jogatina de Mega Drive e o medo do que
estaria por vir. Meu receio estava certo, minha mãe
esperava com a surra preparada. Não antes de aplicar
aquele sermão que ela não era de se preocupar, mas avisei
que iria embora em breve e não apareci, que ela esperou
até amanhecer para ligar para não perturbar os donos da
casa e que eu jamais deveria fazer aquilo de novo. Depois,

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

quase arrancou meu couro. Mas ainda assim, estava feliz.


Ainda bem que não sobrou castigo sem jogar videogame.
A lição foi aprendida. Jamais voltei a repetir isso
novamente. Ligava e pedia autorização para ficar jogando
até amanhecer o dia. Assim, nunca mais tive problemas
com isso, apesar de que, naquela noite, nem foi
intencional, foi a empolgação mesmo. Mas limites existem
para serem respeitados. O castigo veio à cavalo, mas até
que valeu a pena!

Flávio Antônio – Engenheiro civil, apaixonado por games e que se


aventura a escrever textos sobre games para WarpZone e na sua
página do Facebook; Antiquário Master.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

UMA SACOLA, UM PRESENTE, MINHA


FAMÍLIA
Juan Carlos Souza

No ano de 1994, havia uma sacola, um presente,


que marcou minha família.
Morávamos em Osasco - SP e, no bairro, tinha uma
praça onde eu me reunia com os amigos para jogar futebol
e soltar pipa. Minha infância – do quanto me recordo dela
– me trás memórias afetivas boas, nas quais posso refletir
sobre um tempo bom, repleto de novas descobertas. No
colégio, o intervalo era para bater figurinhas e tazos e,
quem tinha um Game Boy, tornava-se o centro das
atenções.
Meus pais sempre batalharam para me dar o
melhor, como era filho único, tinha uma atenção maior, e
tudo que pedia, eles, após pensarem um pouco, me
davam.
Um amigo chamado Carlos, mais conhecido como
"Carlinhos", fazia parte da turma da praça e, um dia,
chegou em nós e perguntou quem queria ir na casa dele
jogar videogame, achamos estranho, pois, até aquele
momento, ninguém havia feito um pedido desse entre
nós. Porém, obviamente, aceitamos. Chegando lá a sala
estava pronta, com várias cadeiras e, a mãe dele, que era
amiga da minha, estava em casa para fazer algo para a
galera da praça comer. Quando peguei aquele controle
cinza, sentei e comecei a jogar, na hora tive a certeza de
qual seria meu próximo pedido de aniversário.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Todos os dias depois daquele, a casa do Carlinhos


era o centro das atenções. Depois do dever de casa e do
tradicional encontro na praça, nos reuníamos para jogar
videogame e o jogo que mais jogávamos era Mortal
Kombat, e a disputa era acirrada entre nós, pois, aquele
que se destacava mais, não passava o controle.
Chegando perto do meu aniversário meu pai
chegou pra mim e me perguntou o que eu queria, lógico
que pedi um Super Nintendo igual o do Carlinhos. Meu
pai disse que ia pensar e, certo dia, saiu bem cedo de casa,
dizendo que ia resolver algumas coisas; achei estranho
porque ele sempre dava um jeito de me levar junto, porém
disse que seria rápido.
Meus pais não tinham o costume de fazer festa de
aniversário pra mim, comemorávamos somente entre nós
e alguns amigos que eu chamava para irem lá para casa.
Nesse dia, quando meu pai chegou, estava com uma
sacola enorme em mãos, sentou-se na sala junto comigo e
entregou-me a sacola dizendo que aquilo era meu
presente de aniversário. Quando abri a sacola era um
videogame, mas não igual o do Carlinhos, mas sim um
outro, totalmente desconhecido para mim. O nome na
caixa dizia Sega CDX e na parte de baixo tinha o mascote
da marca, Sonic. Fiquei meio frustrado por não ser o
mesmo videogame do meu amigo, porém agradeci meu
pai e logo pedi para ele me ajudar a ligar. Quando ligamos
o aparelho começamos a jogar e a nos divertir junto com
minha mãe e minha prima; foi uma tarde muito boa.
Meu pai sempre foi meu companheiro e eu o dele, e
isso em tudo. Como fui filho único até aos 14 anos,

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

tínhamos, e temos até hoje, uma proximidade boa. Ele era


o primeiro amigo a jogar junto comigo e toda a sexta, ele
me pegava na porta da escola e íamos juntos à locadora
perto de casa alugar filmes e desenhos e, aos domingos,
íamos à igreja. Não tenho vergonha alguma em dizer que
meu pai sempre foi pastor e a música, sua paixão.
Tínhamos o costume de escutar vinil juntos e eu era o
guardião do aparelho, limpava e polia os discos e também
o ajudava na igreja.
Meu pai sempre me ensinou sobre o valor das
coisas que me dava, e não o preço, também me ensinou a
cuidar delas e isso eu carrego para a vida. Hoje, se sou um
cristão, músico e gamer, foi por que tive uma referencia de
pai e amigo, um homem íntegro, dedicado a família e
apaixonado por Deus. Encho meus olhos de lágrimas ao
escrever isso aqui, pois sei o quanto ele lutou para me
sustentar e, logo depois, meus dois irmãos. Rogério Cesar
Souza, amo você e agradeço a Deus por ter me colocado
na sua vida!
Depois do videogame, nosso "role", de pai e filho,
na locadora, já não era mais só para alugar filmes e
desenhos, mas para encontrar os jogos, especialmente, os
lançamentos. Como o Sega CD, na época, era um
videogame novo, não tinha muitos lançamentos
disponíveis, então, as prateleiras de Super Nintendo, é
que ficavam cheias de jogos. O CDX já vinha com 3 Jogos:
Sonic CD, Sega Classics (Arcade Collection) e Ecco the
Dolphin, jogos que passei um bom tempo jogando, porém,
queria descobrir novos jogos e, quando tinha algo novo na
locadora, eu pegava.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Agora, com meu console, tinha uma nova “casa do


videogame” no bairro da praça, e era a minha. Nela,
alguns amigos iam jogar comigo e se divertir, porém,
aquela felicidade durou pouco. Certo dia, minha mãe
limpava a casa e eu jogava com meus amigos, a vassoura
dela entrou em um canto onde estava o videogame e, por
descuido, o pior aconteceu, o Sega CDX conheceu o chão
e, no exato momento, desligou. Fiquei olhando para meus
amigos enquanto minha mãe tentava ligar o videogame,
porém ele não ligou... Ali, acabou-se a brincadeira para
todos nós.
Logo que meu pai chegou em casa, minha mãe
contou o fato e, juntos, tentaram, de alguma forma, ligar o
videogame, mas não ligou. A solução mais concreta foi
leva-lo na assistência. Alguns dias depois de o videogame
parar na assistência, o laudo chegou: “Sem conserto por
falta de peça”. Como era um videogame novo, não havia
peças para reposição. Então, meu pai, que sempre foi
muito bom na relação com as pessoas, entrou em contato
com a Tectoy informando o ocorrido e, dias depois, saiu
sozinho novamente e voltou trazendo outra sacola. Ao
chegar, me explicou que não teria mais o CDX, mas que a
Tectoy tinha mandado outro aparelho no lugar, um Sega
Saturno.
Logo depois desse fato, tivemos que nos mudar
para o Rio Grande Sul, foi um choque para mim, porém,
diante deste novo desafio, eu também tinha um novo
videogame, uma mochila e, logo, novos amigos.
As locadoras do Sul tinham mais variedades de
filmes, desenhos e jogos e, um jogo na prateleira, chamou

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

minha atenção, Gex. Não hesitei em alugar e jogar, por


que era algo extremante novo. Não consegui manter
contato com a galera da praça onde morava, porém tive
uma nova oportunidade para desenvolver amizades, das
quais, algumas, eu carrego até hoje, mesmo morando no
Paraná.
Como meu mais novo amigo Luiz Miguel Gianeli
diz, na página 89 de seu livro “Muito Além dos
Videogames”, a Bíblia afirma que tudo tem seu tempo
determinado, e meu tempo em São Paulo tinha terminado,
para um novo tempo começar no Rio Grande do Sul. Isso
me faz refletir, hoje, como pude aproveitar a vida com
novos amigos e novas jogatinas no Saturno, o qual ficou
comigo até os 16 anos, quando tive o privilégio de doá-lo
para um garota de 10 anos de idade que não tinha
videogame. Sinto saudades dele e também do Sega CDX,
porém sei que foi por uma boa causa.
Depois do Saturno tive a oportunidade de viver um
tempo bom com meus amigos na febre das “Lan Houses”
e, tudo que economizei não indo nas locadoras da época
do Super Nintendo ou Sega CDX, foi muito bem investido
nessa nova etapa. Aliás, tenho um amigo muito especial,
com o qual mantenho certo contato até hoje, Rafael
Marmitt, o “miúdo”, que era fiel aos “rolês” de sábado no
shopping. Tinha outros amigos que faziam parte do
grupo, porém o Rafael, além de passar mais tempo
comigo nas Lan Houses, era vizinho de rua, então
tínhamos uma afinidade maior.
O jogo que mais me marcou nessa época foi o Need
for Speed Underground 2, passávamos horas na Lan

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

House tunando os carros para fazer racha com os demais


jogadores e, quando cansávamos disso, partíamos para o
Medal of Honor Pacífic Assault e fechávamos um time
para as competições. Lembro até que formamos um time
para competir durante a semana, porém, era mais para
diversão do que algo profissional.
Os anos foram passando, sai da casa dos meus pais
para morar em outra cidade, comecei a trabalhar e, em
2007, tive a oportunidade de comprar um Xbox 360, que,
logo depois, passei para frente. O mais interessante do
Xbox 360 na minha vida foi que ele saiu e logo voltou
como presente de casamento. Quando resolvemos nos
casar, Alessandra Marchiori e eu, ela já sabia que eu era
um grande entusiasta por videogames e resolveu me dar
novamente um Xbox 360 de presente e passamos um bom
tempo jogando juntos. Minha esposa sempre foi fã de
games e isso facilitou as coisas no casamento... Kkkk
O ano de 2014 marcou minha vida, com a mudança
de governo a economia no vermelho, fui, como muitos
brasileiros, demitido da minha função na empresa que
trabalhava. Isso foi extremamente ruim na época, porém
trouxe-me um objetivo. A cidade onde eu morava nesse
período e, na qual resido até hoje, sempre foi um lugar
onde os games não tinham uma repercussão tão grande,
especialmente em comparação com as grandes cidades.
Então, tomei a iniciativa de fazer um evento de troca de
jogos e jogatinas, achando que somente poderia reunir os
meus amigos – que não eram muitos. Anunciada a data,
comecei a lançar a ideia para amigos que eram
empresários, vendo se poderiam ser apoiadores do

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

evento, não tive resistência e a coisa começou a fluir.


Então, no dia do evento, para minha surpresa, estava
lotado e assim começou a surgir minha empresa, a
“Coffbox Games”.
A Coffbox Games foi algo que nunca sonhei ou
projetei, foi algo que surgiu foi apenas da ideia de reunir
os amigos e acabou vingando. Hoje a Coffbox tem sido
minha paixão e trabalho. Desde 2014 , minha empresa, na
verdade, nossa empresa, pois minha esposa e família têm
sonhado comigo. Temos vivido um tempo muito precioso
e de grandes conquistas na cidade em que moro e, através
dela, pude chegar em 2017 com uma grande realização
pessoal. Aqui em Pato Branco/PR tem uma feira de
tecnologia que acontece de dois em dois anos e um amigo
chegou para mim dizendo que estaria na feira e iria trazer
alguns palestrantes de fora e, nesse quadro, queriam um
palestrante que falasse sobre videogames, e logo veio um
nome: Alex Mamed. Eu já era um grande fã do Alex e do
seu trabalho como maior colecionador de videogames do
Brasil e sabia que ele poderia trazer um ótimo conteúdo.
Sendo assim, intermediando sua vinda e conhecendo-o
melhor, conseguimos um tempo para conversar, e, em
umas de nossas conversas, algo muito bom mudou o
rumo da minha vida: O cara que admirava, e admiro até
hoje, me convidou para ser seu assessor. Meu Deus!
Naquele momento tudo passou na minha cabeça,
lembrando que de 2014 até aquele convite em uma sala
dentro da feira, nem tudo foi alegria ... Tivemos muita luta
e choro e, a coisa que mais me chamou a atenção, foi que
nunca planejei isso. Não estava no plano da minha vida

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

ou era meu objetivo, simplesmente aconteceu e isso me


causou (e causa todos os dias) uma satisfação profissional,
e posso dizer que muitas portas se abriram depois disso.
Agradeço ao Alex Mamed por confiar a mim esta missão.
Amo você meu amigo, Deus lhe abençoe!
Há algum tempo tenho pensado bastante sobre essa
área de Games em que atuo hoje, como empresário,
assessor e jogador, e em como poderia trazer a minha
experiência cristã aos amigos e pessoas que estão a minha
volta, neste ambiente. Nisso tive a oportunidade de
conhecer o Luiz Miguel e o seu livro e fui ensinado a
colocar isso em pratica. Tem sido um novo tempo em
minha vida, de crescimento cristão e novas amizades.
Agradeço também ao Luiz Miguel pela honra de estar
escrevendo aqui, Deus lhe abençoe!
Partindo para o final da minha escrita aqui e
refletindo sobre tudo que coloquei nestas linhas, sinto
saudades do que passou, bem como esperança e fé por
aquilo que está por vir. Posso dizer que tenho deixado de
lado as portas que têm se fechado e me focado naquelas
que ainda não se abriram, sempre buscando a chave.
Desde a infância fui cristão e sempre tive um
relacionamento com Cristo através de Jesus e a fé tem sido
meu combustível para correr atrás do que é certo e bom.
Sei que este trabalho do Luiz Miguel tem alcançado
muitas pessoas e minha forma de ajudar é com esta
crônica. Portanto, quero agradecer a você que leu tudo
isso que escrevi e espero que, de alguma forma, possa se
sentir motivado. Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo
privilégio e honra de conhecê-lo e servi-lo, a minha esposa

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Alessandra Marchiori que sempre sonhou, e sonha,


comigo, bem como a sua família: Jelson, Sueli, Davi,
Andressa e Gustavo, também aos meus pais Rogério e
Neuza, que são minhas referencias e, por fim, aos meus
irmãos Jean e John. Amo muito todos vocês e os amigos
que estão sempre comigo.
Por fim, deixo um versículo bíblico que está escrito em
Filipenses 4:13 – “Posso todas as coisas naquele que me
fortalece”. Abraços e fui ....

Juan Carlos Souza – Natural de Minas Gerais, mas cresceu em São


Paulo capital na década de 90. Cristão, músico e aficionado por
Games. Atualmente reside em Pato Branco/PR, onde desenvolve
eventos gamers com ajuda de sua empresa, a Coffbox Games.
Também apresenta o programa Sobrou1Vida na rede Humaitá
(Fundação Valentin Bruzon) e finaliza suas funções como assessor do
Maior Colecionador de Videogames do Brasil, Alex Mamed.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

VIDA LONGA AO SISTEMA MESTRE!


Beto César

Primeiramente, tenho que contar um pouco como


eu fui me apaixonar por videogames: Meu primeiro
contato com eles foi com um Atari 2600, na casa do meu
amigo Bruno e com jogos no PC num certo dia que, eu,
com uns nove anos de idade, fui com meus pais à
secretaria de um clube renovar carteirinha. Lá eu vi um
computador com tela verde, rodando no MS-DOS o
incrível Pac-Man! Joguei um pouquinho e gostei demais
da experiência.
Meses mais tarde, meu tio adquiriu também um
computador, já com tela VGA e placa de som SoundBlaster,
que era o kit multimídia da época. Pude então, ver outros
tantos jogos no DOS e também alguma coisa no Windows
3.0.
Na mesma época, topei ir com meu pai ao Paraguai.
Fiquei atônito com tanta coisa de videogame que vi por lá.
E me encantei com um clone de Atari, com vários jogos na
memória.
Meu pai, Gilberto, comprou um, de surpresa, e me
entregou quando chegamos em casa. Foi uma alegria só.
Fiquei com aquele videogame por muito tempo, até que
ele "torrou" quando o esqueci ligado...
Lembro-me bem das disputas acirradas nas
jogatinas com meu amigo Leandro. Depois acabei
comprando outro e, durante a "saga atariana", conheci o
Mega Drive na casa de um vizinho meu. Aproximei-me
mais ainda do Megão, jogando na casa de um amigo da

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

época, o Aparecido. O Megão tornou-se objeto de desejo,


tudo o que eu queria pra minha jogatina.
Na mesma época, minha mãe comprou um
computador 486 com incríveis 4mb de RAM e 16Gigas de
HD!!! Sem kit multimídia. Conheci outros tantos jogos
daquela época, enquanto me aprofundava em conhecer o
Mega Drive.
Meu primo, Rodrigo, ganhava seu “super” Turbo
Game CCE, para jogos do NES. Conheci um bom tanto de
títulos desse sistema da Nintendo. Contudo, não sabia
nada sobre bits e bytes. Eu era um analfabyte. Pra mim, era
tudo videogame e o que agradava ou não aos olhos. Nada
mais além disso.
Certo dia, pela minha tanta insistência com meus
pais, comecei a ver o meu primeiro Mega Drive se tornar
realidade. Só que não! Veio o Master System no lugar do
Mega. Meu primeiro Master System foi o modelo
Compact com Alex Kidd in Miracle World na memória,
presente dos meus pais. Lembro-me que na época, eu
esperava ganhar o Megão, com o Altered Beast no box.
Esperei até chegar a data, seria no natal de 1992. Não foi
tão surpresa assim, pois no período de espera, acabei
descobrindo que o Master System já havia sido comprado.
Porém, eu não tinha muita ideia do que seria o
videogame, já que a minha experiência nos games
baseava-se no Atari 2600, o meu clone em preto e branco,
alguma coisa de Mega Drive, alguns jogos de Nintendinho
e outros poucos jogos simples do DOS.
Chegado o dia de receber o presente, abri a caixa
com muito entusiasmo e já parti pra instalação. Foi meu

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

primeiro contato com um game de 8bits em cores, com


resolução mais bacaninha. Liguei o Alex Kidd e já comecei
minha saga para terminar a aventura.
Depois, cadastrei-me em algumas locadoras e fui
conhecendo a fundo o que tinha em mãos: O meu
videogame top dos top - o 8 bits da Sega!
Jogos e jogos alugados e zerados mais tarde, deparei-me
com um cartucho que quase sempre estava disponível
para alugar: Phantasy Star. Pronto! Aquele cartucho
passou a ficar mais na minha casa do que na locadora.
Meses mais tarde, pedi novamente um Mega Drive
para meus pais e, como resposta, ouvi o seguinte: - Se
quiser um Mega Drive, vá trabalhar pra comprar! Aos 11
anos, fiz isso mesmo. Trabalhei e consegui comprar um
Megão japonês usado e, depois de algumas semanas,
troquei o Master System 3 por um adaptador Power Base
juntamente com o cartucho Phantasy Star. Meu Mega
Drive ficava mais no modo Master System do que no
modo Megão.
De lá pra cá, vários anos se passaram, conheci
vários videogames. Parei de acompanhar os lançamentos
de perto na época do Playstation 1, mas o Master System
jamais perdeu seu reinado, tendo como príncipe, o Megão.
E, décadas mais tarde, jogos e jogos depois, tive a
oportunidade de trazer a minha breve história no
videogame através desse trabalho do Luiz Miguel Gianeli,
no qual participei trabalhando com carinho na capa.
Aliás, até a minha profissão de designer gráfico, eu
devo a minha ligação com os videogames, pois, pra cada
horinha de jogatina, eu tinha que digitar várias laudas de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

textos no Word para minha mãe, a saudosa e linda,


Elizabeth.
Vida longa ao sistema mestre. Vida longa ao Master
System!

Beto Cesar – Designer gráfico e técnico em informática, gamer


jurássico e apaixonado pelo Master System e o Phantasy Star.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

O VIDEOGAME É O QUE VOCÊ É


Maurício Muthi

No mundo animal, os jogos e as brincadeiras são


atividades de simulação que servem para preparar o
indivíduo para as situações que ele deverá enfrentar na
fase adulta. Para os humanos não é diferente, mas, alguns
de nós, continuam jogando e brincando, mesmo depois de
adultos.
Desde muito cedo minha vida me ensinou a brincar
sozinho, e não digo isso em tom de lamentação ou
reclamação, pelo contrário. O pedacinho da minha
história, que irei expor nas próximas linhas é apenas uma
coleção de fatos, e fatos têm sempre causas e
consequências.
Meu nome é Maurício, e minha ‘main quest’ ao
escrever essas linhas é mostrar por que eu me tornei tão
amante dos games e como isso transformou a minha vida
várias vezes, ajudando-me, de alguma forma, a me tornar
quem eu sou hoje.
Sou o filho caçula entre três irmãos. A diferença de
idade entre eles é de dois anos, e a minha diferença de
idade para eles é de seis e oito anos, respectivamente. Eles
me ensinaram muitas coisas e me proporcionaram ótimas
influências em vários aspectos da vida, como gosto
musical, estilo de filmes, preferência por esportes, valores
e outras coisas. Mas quando eu era pequeno, ficava
isolado com bastante frequência, isso na metade da
década de 80. Como era muito pequeno em relação aos
meus irmãos, não podia sair com eles, participar das

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

mesmas atividades, nem ter os mesmos amigos, porque


pré-adolescentes, normalmente, não gostam de criança
pequena, e isso é normal. Eles faziam quase tudo juntos
por terem uma idade bem próxima, tinham os mesmos
amigos, os mesmos hobbies e até brigavam de vez em
quando, mas tinham sempre o apoio um do outro. Eu
assistia isso, queria estar lá, mas ficava sempre de lado, até
das conversas de rodinha. Quando tinha festa em casa não
era diferente, eu era obrigado a ir deitar cedo, mas ficava
ouvindo a bagunça e a diversão sem poder estar lá. Por
muito tempo eu tentei lidar com a autoestima super baixa,
e eu era um ser quase insuportável, agressivo, genioso, e
deprimido. Independente se eu nasci assim ou aprendi a
ser assim, a forma como eu me sentia isolado não ajudava
em nada, muito pelo contrário.
Nessa mesma década, chegamos a ter dois consoles
da era 8 bits. Lembro-me que tivemos um Supergame da
CCE, que quebrou, e, depois de um tempo, ganhamos um
Dactar, que perdurou por vários anos. Eu gostava muito
de jogar, sempre fui fascinado por avanços tecnológicos e
jogava bastante. Mas, naquela época, aquilo era uma
brincadeira apenas, e costumávamos jogar em família,
fazendo fila para ver quem era o próximo. Jogávamos
Enduro, River Raid, Atlantis, Pac-Man, Carnival,
Megamania, Pitfall, Mr. Postman, entre vários outros
cartuchos que meu pai comprava ou que pegávamos
emprestados com os parentes e amigos. Mas com o tempo,
cada vez mais, eu ia me acostumando a ligar o console
fora do horário habitual para jogar sozinho. Na época eu

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

não tinha consciência disso, mas o efeito era de certa


forma, calmante.
Na segunda metade da década de 80, comecei a sair
na rua, andar de bike, jogar bola e fazer o que toda criança
normal faz. Conheci amigos na vizinhança, dos quais
alguns poucos são verdadeiros e grandes amigos até hoje,
e estabeleci vínculos de amizade com suas famílias
também. Mas algo, no meu curto passado, havia ficado
impregnado em mim. Fosse na rua, na casa de um amigo
ou na escola, acontecia às vezes de eu parar de me sentir
parte daquilo e parar pra ficar observando as pessoas
interagindo. Eu observava e não me sentia parte daquilo.
Achava estranho o fato de ser parte das coisas, parecia que
algo não estava certo, e essa sensação era agravada pelo
meu gênio difícil e meu jeito, naturalmente, hostil.
Eu começava a ter a percepção de que não tinha o
perfil para ser “socializado”. Até gostava, mas não
conseguia. Os anos se passaram e pouca coisa mudou,
mas eu fui crescendo e minha forma de pensar
amadureceu, e fui gostando cada vez mais de videogames.
Até que, já no início da década de 90, numa ida
cotidiana a um hipermercado de São Paulo (era o Paes
Mendonça, acho que nem existe mais...), vislumbrei uma
cena que fez sentir-me quase como se meu espírito tivesse
saído do corpo só pra ficar flutuando: Dois balcões lado a
lado, cada um com uma TV (obviamente de tubo), cada
uma delas ligada a um videogame de última geração. Era
o Super Nintendo e o Mega Drive. Atrás deles, as
prateleiras estavam lotadas de caixa dos consoles,
formando um paredão bicolor. Eu nunca tinha visto o

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Super Nintendo de perto, só na televisão, e o Mega Drive


só tinha visto uma vez na casa de um primo rico, mas eu
só pude vê-lo jogando Chakan, não me deixaram nem
encostar no game. E agora, estavam ali, os dois, rodando
Zelda e Sonic simultaneamente. As cores brilhantes, a
sensação de profundidade e a velocidade me deixaram
embasbacado. Aliás, acho surreal como um objeto de
plástico, metal, fibra e silício consegue fazer o coração de
alguém acelerar de verdade. É muito mágico esse dom
que nós, humanos, temos de imaginar algo e transformar
em um item palpável. E aí vem outro humano e imbui um
sonho naquele objeto, tornando-o realmente valioso.
Aquele momento parou no tempo pra mim. É uma cena
que eu não vou esquecer.
Durante todo o tempo em que meus pais estavam
fazendo as compras eu fiquei sonhando com essas
máquinas, imaginando controlar aqueles personagens
carismáticos e viver a história deles. Chegamos à fila do
caixa e eu nem percebi. Até que meu pai decidiu sair da
fila. Ele nos conduziu, eu e minha mãe, entre os
corredores do hipermercado, enquanto eu dividia meu
processamento cerebral entre a bela cena que acabara de
ver e o pensamento de que ele devia ter se esquecido de
comprar alguma coisa para o carro (na época era uma
Brasília cinza). De repente abriu-se novamente na minha
frente aquela cena que fez meus olhos brilharem e não
tinha ideia do motivo de ter nos levado até lá. Eu não era
um bom garoto, não achava que merecia e não esperava
ganhar um videogame novo. Mas aí meu pai manifestou
um breve interesse naqueles aparelhos, perguntando-me

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

se eu os achava legais. Respondi enfaticamente que sim,


quase com água nos olhos. Então veio a pergunta que eu
não acreditei: - “Se fosse pra você ganhar um desses, qual
escolheria?”. Os games fizeram meu coração acelerar, mas
aquela pergunta fez meu coração parar. Pior que eu não
sabia se era verdade ou se ele só estava ‘zoando’ com a
minha cara. De qualquer forma, mesmo sem acreditar que
iria ganhar, mas torcendo com todas as forças pra isso,
olhei atentamente para os dois consoles e os analisei. No
começo não foi fácil, mas depois de alguns segundos a
resposta era óbvia pra mim. Os dois jogos que estavam
rodando eram maravilhosos, mas um deles travava-se de
salvar a princesa e outro de salvar os animais; um era bem
técnico e outro consistia mais em correr e detonar aqueles
robôs maus em alta velocidade e de forma mais agressiva.
Ambos os consoles são lindos e perfeitos (penso assim até
hoje), mas só um deles era invocado o suficiente pra
combinar comigo naquele dia. Olhei para o Super
Nintendo achei ele uma máquina muito ‘chique’, algo
finíssimo e super avançado. Olhei para o Mega e lembrei
da “Super Máquina”, aquele carrão preto com a luz
vermelha do seriado dos anos 80, então meu braço
apontou pra ele sozinho, sem eu nem fazer qualquer
esforço. Meu pai viu que eu tremia ao apontar pra ele.
Então ele acabou com meu ‘sofrimento’: - “Então pega. É
seu”! Eu gostaria de descrever o que senti nesse momento,
mas não dá...
A caminho de casa, no banco de trás da Brasília,
não pude me conter e abri a embalagem, fazendo emanar
aquele cheiro delicioso de plástico novo de extrema

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

qualidade. Tinha um botão reset que eu nem sabia pra que


servia e tinha um botão deslizante de volume. A entrada
para o cartucho tinha uma portinha que abria e fechava.
Foi difícil de acreditar. Chegando em casa, meus irmãos
ficaram super felizes e montaram o game novo. Jogamos
até mais tarde nesse dia, e, por muito tempo, jogamos
juntos em família, depois somente entre irmãos (foram
muitos momentos inesquecíveis com eles), até que, um
dia, eles começaram a sair muito de casa e não se
importavam mais em jogar. Passaram-se anos e, por muito
tempo, meu único parceiro de jogatina era um grande
amigo da rua de cima, Cleyton, com o qual tenho
pouquíssimo contato hoje em dia. No entanto, creio que a
parceria que tínhamos era parecida com a que meus
irmãos mais velhos tinham entre eles, portanto considero-
o como um irmão. A gente jogava muito e ele tinha
bastante habilidade em MK3, que a gente alugava com
frequência.
Quanto menos meus irmãos jogavam, mais eu me
interessava pelo videogame. Ali era um lugar onde eu
descobria segredos e viajava por universos ricos em
detalhes que enchiam minha imaginação. Mas com acesso
tão fácil a um videogame que eu gostava tanto, ficar longe
das pessoas e da realidade estava se tornando algo cada
vez mais fácil de fazer... Mesmo assim eu ia regularmente
à rua de cima pra jogar bola e conversar com os amigos e
vizinhos ou ia à casa dos colegas de escola.
Tinha um cara da escola com quem eu tinha
bastante amizade, o Isaías. Ele era bem engraçado, e a
gente conversava muito e também íamos à casa um do

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

outro para jogarmos. Ele tinha o Super Nintendo, e essa


era a minha oportunidade de conhecer melhor os jogos
daquele videogame que eu deixei na prateleira do
mercado. Ele me mostrou grandes jogos, como Super
Mario World, Donkey Kong, Killer Instinct entre outros
jogos insuperáveis do Super Nintendo. Nessa época, nós
também costumávamos, frequentemente, ir aos fliperamas
no meio do caminho, onde eu conheci o inesquecível Top
Racer numa daquelas máquinas que a gente colocava a
ficha e escolhia entre meia dúzia de jogos de SNES pra
jogar livremente durante meia hora. Aquelas músicas da
abertura do jogo e da primeira pista ecoam na minha
mente até hoje. Também presenciei o momento impagável
do nascimento de Mortal Kombat num fliperama de bar, o
que é conteúdo para uma outra história.
Uma vez esse meu amigo me chamou para ver uma
novidade na casa dele: o Playstation. Mais uma vez eu
fiquei pasmo quando ele me mostrou o nascimento de
Resident Evil, Ridge Racer, Need for Speed e Crash
Bandicoot. Agora era só eu que ia à casa dele pra jogar. O
SNES dele e meu Mega pegaram umas férias.
Certo dia esse cara falou pra mim que queria
vender o videogame. Logicamente eu me interessei em
comprar e conversamos bastante até chegarmos a um
acordo. Ele trabalhava como empacotador num
supermercado do bairro e falou que poderia me
apresentar para a chefe dele pra me arrumar um trabalho
lá. Eu já havia feito várias coisas pra ganhar dinheiro,
desde os 9 anos, como vender coxinha na rua, ajudar meu
pai com a oficina que ele tinha montado em casa, entre

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

outras coisas, mas seria a primeira vez que eu ia trabalhar


numa empresa. Então, com 13 anos, fui ser empacotador
no mercado perto de casa, tudo porque eu queria muito
um Playstation usado. Trabalhei bastante, aprendi muito e
absorvi diversos valores éticos, corporativos e sociais. O
trabalho era a título de “bico”, totalmente informal, mas
foi uma experiência importantíssima. E o melhor era que
eu tinha conseguido juntar a grana do videogame, o qual
paguei tudo de uma só vez, com o dinheiro que consegui
juntar em dois meses e meio. Dessa vez o Mega Drive
ficou guardado por bastante tempo.
Nem é preciso dizer que eu jogava muito e que
comprava jogos sempre que podia. Meus irmãos ficaram
impressionados com o console, que foi o primeiro item,
realmente de valor, que eu comprei e trouxe para casa.
Eles chegaram até a jogar bastante, mas perto dos
momentos que passamos jogando Mega Drive, foi pouco.
Eles já eram muito ocupados, tinham seus empregos,
estudos, amigos e namoradas. Pra eles o videogame
ocupava uma parte cada vez menor de suas vidas. Pra
mim era exatamente o inverso. Depois de alguns meses,
parei de trabalhar no mercado, então eu tinha que ir à
escola e o resto do dia era praticamente livre pra jogar.
Não sei dizer quantas milhares de horas eu fiquei jogando
aquele console.
Um dia, porém, o Playstation começou a apresentar
um probleminha. Acontece que era aquele modelo antigo,
que tem as saídas RCA atrás e aquela famosa unidade
ótica que desgasta com o uso. Eu não sabia de nada, nunca
tive um videogame com funcionamento mecânico antes e,

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41
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

com o tempo, ficou impossível jogar, mesmo virando o


console de lado ou de ponta cabeça. O Mega Drive então
ressurgiu.
Era estranho voltar a jogar os games de 16 bits,
mas, ao mesmo tempo, era gostoso relembrar aquilo tudo.
Até a segunda metade da década de 90, lembro-me que
ainda chegavam uns jogos de Mega Drive que eu nunca
tinha visto, tanto nas locadoras, quanto na banquinha de
jogos usados perto de casa. O Playstation, acabei
vendendo ‘no estado’. O Mega era, de novo, meu
principal videogame. E eu ainda tinha uma válvula de
escape social.
Com o passar dos anos, comecei a enjoar de jogar
sempre as mesmas coisas e de não ter condições para
comprar um videogame de última geração. Além de
antissocial eu também desistia das coisas com facilidade e
era explosivo, então resolvi propor um desafio a mim
mesmo: De zerar os jogos mais difíceis que eu tinha, sem
truques, começando por Battletoads. Foi o início de uma
nova era em minha vida, na qual aprendi a ter paciência, a
aprender com meus erros e a não desistir. Depois de
Battletoads, comecei a criar um conceito, ao qual
chamamos hoje, de “platinar”. Quando eu só terminava o
jogo, dizia que o tinha “fechado”, mas quando fazia tudo
no jogo, ou seja, coletava tudo e concluía todas as missões,
aí eu dizia que tinha “zerado” o game. Na época eu tinha
feito isso pra enfrentar o tédio, mas não tinha noção do
quanto isso viria a ser importante nos anos seguintes.
Passaram-se vários anos desde então, e passei por
várias fases na vida, teve tempos em que eu nem parava

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

em casa, e não tinha tempo nem de pensar em jogar. Até


que, um dia, saí da cidade, deixando a família e o
videogame para trás. Foi uma decisão extrema, mas
necessária. De forma resumida, posso dizer que aquele foi
o mergulho mais profundo que eu poderia ter dado na
vida social, porque nunca tinha ficado tão vulnerável e à
mercê das outras pessoas. Foi ótimo e horrível ao mesmo
tempo.
Quando a gente se acostuma demais a fugir,
ficamos fracos e lentos e as adversidades sempre nos
alcançam. Cabe a nós estarmos preparados e não fugir.
Mas eu aprendi a não desistir, e a superar os desafios. Às
vezes me pego imaginando que algum problema pessoal é
um “boss” que tenho que enfrentar. Assim, acabei me
mudando mais umas vezes até me estabilizar onde moro
agora, numa cidadezinha do interior de SP, onde eu só
conhecia duas pessoas; meu pai e minha mãe. Foi difícil
demais e muito demorado pra fazer amigos e, sem
videogame, mais difícil ainda. Mas acabei conhecendo a
pessoa por quem me apaixonei, Erika (conhecida hoje
como Player 2).
Depois de vários meses de namoro fui descobrir
que ela tinha (adivinha) um Mega Drive! Estava com a
caixa quase intacta debaixo da cama, numa sacola. Ela
nem lembrava mais desse console, mas eu fiquei tão
empolgado de vê-lo, que a gente ligou e ela me ensinou a
jogar Garfield Caught in the Act. Foi um belo recomeço!
Não só um recomeço, mas também uma inversão do
significado que o videogame tinha em minha vida até
então. A partir daí, os games começaram a me socializar.

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43
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Restabeleci minha paixão por games, e decidi


colecionar. Comecei pelo Playstation 2, depois comprei o
Mega Drive da Player 2 e, atualmente, tenho uns 14
consoles diversos (planejando comprar mais um hoje
nesta data em que estou escrevendo).
Com o Xbox 360, comecei a ter uma nova
experiência, que é conhecer amigos pela rede (Xbox Live
nesse caso). Jogando Resident Evil 5 eu conheci o melhor
amigo virtual que já tive, o qual chamo de Gui.
Conhecemo-nos no âmbito virtual, mas a amizade que
tenho por ele é muito real. Ele sempre ajudou muito a
mim e à Erika em nossas missões, em vários jogos. É o
gamer mais habilidoso que eu conheço e meu mestre de
Dark Souls.
Dark Souls teve um papel muito importante na
minha vida, e me ensinou muito sobre amizade,
racionalidade, calma, companheirismo, liderança e
resiliência. Graças ao Gui, hoje, considero-me um bom
jogador de Dark Souls (platinei o Dark Souls 1, Dark Souls
2 e Dark Souls Remastered, o Dark Souls 2 SotfS estou
quase platinando).
Para mim, platinar jogos não se trata de um mérito
ou de algo que eu queira exibir para os outros. Trata-se
mais dessa lição de resiliência, de chegar até o fim, de
fazer tudo o que for possível dentro daquele jogo e
continuar com ele, ao invés de ficar pulando de jogo em
jogo toda vez que fica difícil ou complicado. Trata-se de
comprometimento. Eu aprendi a ser um cara muito mais
tolerante, respeitoso, calmo, paciente e analítico, graças
aos games e às pessoas que conheci através dele.

[ 45 ]

44
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Por causa da paixão aos games eu também criei um


grupo no Facebook: Videogame sem Frescura, onde a lei é
respeitar todos os consoles. Nesse grupo tenho a honra de
compartilhar a administração com o DMNsonic, que é um
dos meus melhores amigos, um cara que admiro e
respeito demais e que é o cara que mais entende sobre
games que eu já conheci. E, nesse grupo, acabei
conhecendo outros amigos, um deles chamado Luiz
Miguel Gianeli, que me proporcionou a honra de sua
amizade e de poder escrever aqui.
O videogame é algo neutro, você pode usa-lo para
o bem ou para o mal. Mas o bem ou o mal estão em nossa
volta e estarão dentro de nós se os deixarmos entrar,
temos potencial para ambos, então, é nossa missão nos
apegarmos ao que nos torna melhores e fazer o bem
vencer sempre. Eu ainda tenho bastante fobia social, mas
não uso o videogame como muleta para justificar minhas
dificuldades, e consigo enfrentar as adversidades que
encontro, assim como faço nos games. Precisamos ser o
melhor possível haja o que houver, pois diferente de
nossos heróis, nós só temos uma vida, e o que fica é aquilo
que ensinamos e deixamos para os outros.
Adoro jogos violentos, sangrentos, velozes, infantis,
fantasiosos, de esporte e de todos os estilos. Não sou
esportista, gladiador, ser mitológico, assassino, lutador
nem espião. Mas, hoje, sou uma pessoa melhor do que eu
já fui antes, porque eu soube dar ao videogame uma
importância positiva na minha vida, fazendo-o um
instrumento de progresso pessoal, e tive a sorte de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

conhecer boas pessoas. Espero sinceramente que também


seja assim com você.

Maurício Pereira da Silva – Também conhecido como 'Maurício


Muthi' ou 'MaPS' no universo gamer. Trabalho e estudo na área de TI,
e, sempre que possível, adquiro um videogame para me divertir nas
horas vagas e preencher essa paixão. Desde criança brincando com
motorzinhos, lampadinhas, fios e botões, fui introduzido aos games
com o fabuloso Atari, no auge do seu sucesso. Gosto muito de música
e de todos os tipos de games. Gosto ainda mais de música de games!
Por isso criei o Canal Random Game Box no Youtube, que é um canal
caseiro onde eu posso mostrar minha paixão por game music de uma
forma bem simples, mas de coração! Mas não sou especialista em
games, nem sei nomes, datas e informações técnicas. Também não
ligo para definições, mas sou muito bom em curtir um bom game,
seja o lançamento do ano ou à moda antiga, na frente da minha TV
de tubo.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

MEGA DRIVE POR MÚSICA


Luiz Miguel Gianeli

O saudoso 16 bits da SEGA é sempre


lembrado por sua qualidade sonora, normalmente
associada ao Rock ou ao Heavy Metal, tendo influenciado,
inclusive, a criação de uma banda brasileira chamada
“Mega Driver”, um modo carinhoso e “errôneo” que
alguns, até hoje, chamam o console.
Pois bem, o Mega Drive e a música têm uma
relação forte em minha vida, mas em estilos bem mais
calmos, como a música clássica e os hinos cristãos; mas
precisamos voltar ao início...
Em algum momento na metade da década de 90,
quando o querido Turbo Game CCE já não nos divertia
tanto e a galera estava, pouco a pouco, passando para os
consoles de 16 bits, meu irmão Giuliano e eu começamos a
pedir um Super Nintendo aos nossos pais. Um Mega
Drive nem passava por nossas cabeças, visto que a
maioria dos amigos próximos estavam indo para o
console da Nintendo e, acima de tudo, era lá a casa do
Super Mario — sem sombra de dúvidas, nosso
personagem favorito. Sim, o bigodudo da Nintendo era
como o mascote da família, e até meus pais gostavam dele.
Mas nossa situação financeira não era boa. Meus
pais estavam bem apertados pagando as dívidas da casa
recém-construída e sabíamos a dificuldade que era um
investimento assim de repente. Um Super Nintendo não
era nada barato naquele momento e foi aí que o Mega
Drive apareceu.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Meu pai era bem amigo do “Fera”, o dono da única


locadora de Caçapava Velha, bairro em que morávamos, a
“Games do Fera”: localizada numa simples garagem, com
quatro SNES e um Mega para a molecada jogar e alguns
cartuchos em caixas de sapatos atrás do balcão para
alugarmos (caso não estivessem em uso no momento).
Fera era um metaleiro típico; loirão, cabeludo, cheio de
tatuagens, falando em gírias e muito simpático com a
criançada que jogava e alugava por lá. Nas conversas
entre os dois, meu pai falou que estávamos querendo um
novo videogame e ele então ofereceu o Mega Drive, pois o
“coitado” só ficava parado; a galera só queria saber do
Super Nintendo com Top Gear e Street Fighter 2. Eu até
que fiquei empolgado, sendo que já havia jogado Sonic na
casa de um amigo e pensei, seriamente, na possibilidade
de trocar a Nintendo pela SEGA, afinal, ajudaria meus
pais dando a eles um gasto bem menor. Era um Mega
japonês e o valor seria bem abaixo do SNES da Nintendo.
Uma vez que ninguém jogava, o Fera queria passá-lo para
frente e investir em mais cartuchos para o console rival.
Como ele percebeu minha dúvida, permitiu que eu
levasse o Mega para casa naquele final de semana e
testasse para ver se ia querer ficar com ele. Veio com um
cartucho que eu nunca tinha visto, um jogo de Pinball com
temática jurássica, no qual enfrentávamos chefões
dinossauros. Até que gostamos! Era divertido, simpático e
bonitinho, mas não era Sonic... Anos depois descobri que
o título do game era Dino Land ou Chou Touryuu
Retsuden Dino Land em Japonês, e que havia sido lançado
em 1991.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Então, mesmo após aquele final de semana jogando


Dino Land e com a satisfação do meu pai em ter
conseguido um videogame bem mais barato, nada
adiantou, não seria dessa vez que a SEGA tomaria o lugar
da Nintendo em nosso lar. Então, apesar da cara feia do
meu pai, a preocupação em não ter jogos suficientes para
emprestar ou alugar, nos fez ir lá no Fera devolver o Mega
Drive, todos envergonhados. No entanto, ele
compreendeu e até deu risada da situação.
Alguns meses depois, meu pai chegou com um
Super Nintendo novinho em folha, na caixa, com três
cartuchos (dentre eles Super Mario World, é óbvio) e dois
controles turbo translúcidos. Foi nossa alegria e diversão
por vários anos, até a complicada e emocionante
passagem para a geração seguinte com o Nintendo 64 e o
incrível Super Mario 64.
Mas, e o Mega Drive e a música, onde ficam nesta
história?
Durante o período dos 16 e 32/64 bits, meu irmão e
eu conseguimos outros consoles nas infindáveis
negociações entre amigos e nos camelôs da cidade; dentre
eles, claro, o Mega Drive. Chegamos a ter MUITOS jogos
deste maravilhoso aparelho. Jogamos e nos divertimos
demais, tanto num Mega Drive 3 da Tectoy que trocamos
num Master System com diversos cartuchos, quanto num
Mega Drive japonês, exatamente igual ao do Fera, que
ficou comigo por um bom tempo, até que comecei a
estudar música.
Eu queria aprender a tocar teclado e piano para
ajudar com a música em minha igreja e até iniciei as aulas,

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

mas após a parte teórica, eu não tinha teclado para treinar


em casa e pouco avançava. Foi aí que um amigo da escola,
Edson, que queria muito um videogame, perguntou se eu
não queria trocar meu Mega Drive pelo teclado Casio
dele. Fiquei triste em me desfazer do Megão, mas era
necessário e a troca foi feita, para a alegria do Edson e de
seus familiares que, logo de cara, ficaram jogando Sonic,
Splatterhouse e outros jogos que acompanharam o
videogame. Eu voltei para casa todo feliz com o teclado e
minha mãe até comentou que eu estava amadurecendo
(ela sabia o quanto gostávamos de videogames...). Treinei
bastante naquele instrumento eletrônico de três oitavas,
aprendi várias músicas, toquei alguns hinos e até o levei
para o seminário, como também, anos depois, para o
campo missionário em Minas Gerais. Não me desenvolvi
na área da música, mas Débora, minha querida esposa,
usou o aparelho para treinar e, hoje, é uma pianista de
primeira, tocando com muita beleza os hinos em nossa
igreja. Há poucos anos, doamos este teclado Casio para
um adolescente amigo nosso que estava aprendendo
música e não tinha condições de adquirir um.
Quem diria que o Mega Drive e a música nos
acompanhariam tanto? Ficou para a história, marcou
nossas vidas. E o melhor: em 2017, venci um sorteio no
Facebook e ganhamos um Mega Drive Tectoy, que fora
relançado naquele ano, para a alegria dos meus filhos e
minha, é claro! Quando o carteiro chegou com o
videogame, tudo soou como música em nossos ouvidos...
Mas isso é assunto para outra história.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Luiz Miguel de Souza Gianeli – Cristão, Bacharel em Teologia,


escritor e pastor da Igreja Batista em Piumhi/MG. É gamer desde os
anos 80 e autor do livro “Muito Além dos Videogames – Memórias de
um jogador”. Casado com Débora e pai de Agnes, Annelise e Luigi,
gosta de registrar suas memórias gamers e, quando possível, jogar
algum game antigo com seus filhos.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

A BUSCA PELO DESCONHECIDO


David Rayel

Não tenho certeza, exatamente, qual foi a primeira


vez que eu joguei um videogame, mas lembro-me que, nas
férias de 1985, eu tive o primeiro contato com o que, hoje,
seria mais do que uma simples brincadeira ou
passatempo, mas uma forma de me conectar com novas
pessoas, entender melhor a tecnologia por trás deles,
trazer a tona a nostalgia e a felicidade de algo esquecido
no tempo e, principalmente, me permitir experimentar e
vivenciar novos jogos e emoções (vocês vão entender esses
motivos mais tarde) que eu certamente não teria se tivesse
me acomodado, assim como muitos outros amigos de
videogame que eu tive ao longo dos anos. Aquele Atari,
que até hoje minha tia guarda a sete chaves, e que ainda é
motivo de ciúmes por alguns da família.
Boa parte da minha infância e adolescência foi
experimentando os arcades na grande Campinas que, na
época, era uma cidade relativamente calma e nos permitia
uma grande quantidade de máquinas de fliperama e
pinball que eu só tinha, até então, a felicidade de apenas
assistir os adultos jogarem.
Nascido em uma casa com outros três irmãos e com
todas as dificuldades que uma família de classe baixa tem,
só tive o que eu pude chamar de meu videogame (um
Phantom System usado) aos 15 anos, presente da minha
mãe, doutora Rose que me mostrou, entre muitos tapas e
carinhos, que vale a pena ser uma pessoa honesta.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Uma loja de fliperama aqui, outra ali,


ocasionalmente eu via os técnicos arrumando as máquinas
e aquilo me chamava mais atenção do que os jogos em si.
Isso porque eu cresci em uma família de técnicos de
eletrônica e as máquinas de arcade e seu funcionamento
me intrigaram e chamavam a atenção. Acho que mais do
que ganhar na Mega Sena, tive a sorte grande de arrumar
emprego em um fliperama na cidade onde moro
atualmente: Mongaguá/SP. Mesmo não tendo experiência
nenhuma, o proprietário percebeu que eu gostava de estar
ali e até trabalharia de graça se ele quisesse. Não deu
outra; em pouco tempo já tinha as chaves de todas as
máquinas e um conhecimento técnico em pinballs e
arcades de dar inveja em muita gente.
Com os primeiros salários, digamos, menos
indecentes, consegui comprar meu primeiro Playstation 1,
mas só depois de muitos anos, e trabalhando por conta,
que eu realmente consegui comprar os jogos e videogames
que eu via apenas nas revistas e nas casas dos amigos.
Com isso, tive a oportunidade de juntar vários jogos e, a
cada compra, sempre desfrutar de uma experiência única
e intrigante.
Em um belo dia de verão, um amigo, que
organizava um evento, convidou-me pra levar os meus
videogames para fazer volume, digamos assim... Foi nesse
dia, em 2017, com 3 TVs, 3 videogames ligados e alguns
outros em exposição, que eu tive a oportunidade de
experimentar uma sensação diferente: Não só jogar
videogames na minha sala, mas sim levar aquela
experiência para pessoas que eu não conhecia bem, e, a

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

cada momento, ver e sentir no olhar de cada uma delas,


felicidade e pura nostalgia.
Assim nasceu a ideia de expor meus videogames e
permitir que as pessoas pudessem conhecer e jogar em
equipamentos que, até então, eu escondia no fundo escuro
de um guarda-roupa.
Os desafios técnicos de se levar mais de 200
equipamentos e videogames para as pessoas são, sem
dúvida, um obstáculo que elimina quase todos que
enxergam as exposições de videogames apenas como uma
forma de ganhar dinheiro. O que me encoraja a seguir
nesse sonho de levar os videogames em forma de
exposição para lugares cada vez mais distantes é, não só a
questão financeira, mas, principalmente, a felicidade e
nostalgia de cada visitante da exposição, além da "busca
pelo desconhecido", ou seja, itens destes aparelhos que
estão “escondidos” por aí e que quero continuar
desenterrando nas "caçadas gamers" e levando em minhas
viagens.

David Rayel – Técnico de informática, gamer nostálgico e gerente


da Exposição “Meu Primeiro Videogame”

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

UM EMULADOR MUITO ESPECIAL


Lucas Klein

Sexta-feira, 11:30 da manhã, ultima aula do dia. Eu


sabia que, nesse dia, após sair da escola e fazer as minhas
obrigações na casa dos meus pais, iria para uma locadora
de games chamada “Thunder Games” na minha cidade,
Pinhais-PR.
Normalmente minha mãe autorizava que algum
amigo meu dormisse em nossa casa nesses dias e, mesmo
que não tivesse nenhuma guloseima especial para comer,
como cachorro quente, pizza, hambúrguer, etc, era algo
especial.
Sair de tarde, chegar na locadora, e poder escolher
uma fita de SNES para jogar o final de semana inteiro.
Muitas vezes eu ficava em dúvida sobre qual cartucho
escolher, pois, normalmente, eu podia alugar apenas um
e, além disso, minha mãe não autorizava que eu jogasse
durante o resto da semana, só podia jogar de sexta a
domingo, então, tinha que escolher a minha fita com
muita sabedoria... Megaman X, Donkey Kong, Sim City,
Mickey and Donald, The Legend of Zelda - A Link to the
Past. Esses jogos, e muitos outros, passavam na minha
mente.
Se algum amigo fosse dormir na minha casa, eu
escolhia um jogo multiplayer. Lembro-me de um que
quase sempre escolhia, Jurassic Park 2: The Chaos
Continues. Era muito divertido, porque na época, quando
tinha 10 anos, era um jogo que me deixava com muito
medo.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Ainda nessa época, virou uma tradição entre os


amigos da minha igreja, de todos irem dormir em minha
casa no dia do meu aniversário (essa tradição perdurou
ate os meus 25 anos, um ano antes de eu me casar rsrsrs) e
isso ficou tão forte, que planejávamos cada detalhe com
muita precisão, e, a cereja do bolo, era o momento que
fazíamos campeonatos de videogame. Esta tradição
começou com o console “raiz”, o Super Nintendo, mais
tarde passando para os das próximas gerações, mas
sempre, voltávamos a jogar ou lembrávamo-nos dos
games daquele clássico 16bits.
Depois de algum tempo, infelizmente, vendi meu
SNES para comprar um Playstation 1. Havia vários jogos
divertidos para se jogar naquele console: Resident Evil 1,2
e 3, Medal of Honor e sua sequência; Underground, Jackie
Chan Stunt Master, Dino Crisis 1 e 2, Army Man, dentre
outros. Mas ainda assim, sempre batia no peito uma
saudade de jogar o Super Nintendo.
Depois de alguns anos, voltei a conversar com um
grande amigo meu, Lucas Silva, ou como é
carinhosamente conhecido, “feijão”. Ele e sua família
mudaram-se para a nossa igreja, e eu fiquei muito feliz
por isso, porque fazia alguns anos que não estávamos tão
próximos. Naturalmente, agora sendo amigos próximos, o
convidei para dormir na minha casa. E tornamos isso um
costume, pois gostávamos de jogar videogame juntos,
porém, ainda jogávamos somente no PS1.
Certo dia, fui mostrar para ele a fábrica do meu pai
que ficava nos fundos do quintal de casa. O terreno era
enorme, tinha a minha casa na frente, a casa do meu tio

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

(que estava abandonada na época), a fábrica do meu pai e


um bosque cheio de árvores no fundo. No escritório do
meu pai, que ficava na casa abandonada do meu tio, tinha
um computador bem antigo, um Windows 98, com 25
Gigas de HD e 512mega de memória RAM. O Feijão olhou
para aquele computador e disse que daria para jogar
Super Nintendo nele. Eu pensei, e disse: - Como assim?
Você tá zoando com a minha cara piá!! Não brinque com
uma coisa dessas...
Ele então me explicou que tinha um CD com quase
todos os jogos do console e o emulador dele. Até aquele
momento, eu não sabia que emuladores existiam, alias, eu
nem fazia ideia de que algo assim poderia existir. Então,
animado que só como eu fiquei, combinamos um dia para
ele instalar o emulador de SNES no computador do pai.
Marcamos uma sexta feira para ele dormir lá e jogarmos
tudo naquele emulador.
E novamente, numa manhã de sexta, as 11:30h,
última aula da escola, e eu pensando em quais jogos de
Super Nintendo poderíamos jogar naquela noite. Lembrei
que eu queria muito jogar Bomberman, pois aquele jogo
fez parte da minha infância, assim como vários outros. O
sinal da escola tocou e fui correndo para casa ajudar meu
pai na fábrica, para poder ficar livre o quanto antes para,
enfim, jogarmos SNES.
Eu estava muito ansioso, pensei ainda em outros
jogos que eu queria jogar, quando, por voltas das 16 horas,
sai de casa e fui comprar algumas “vinas” para fazer um
cachorro quente a fim de comermos no escritório do meu
pai. Quando era 18:00 horas, o Feijão bateu no portão de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

casa, preparamos as coisas, arrumamos os controles,


ajeitamos os colchões para dormirmos mais tarde,
sentamos na mesa do escritório, e abrimos o emulador. Vi
tantos jogos naquela lista que não consegui me decidir por
qual deveríamos começar. Lembro que o Feijão falou para
jogarmos Final Fight 3, e na hora, consenti. Viramos
aquela noite jogando vários jogos: Bomberman 1, 2, 3, 4 e
5. O Máscara, Zombies ate my Neighbors, Final Fight 2 e
3, dentre outros. A noite passou tão depressa que, de
repente, escutamos o som dos pássaros cantando, olhei no
relógio e já era 7 da manhã!!! Ficamos tão preocupados,
que fingimos dormir para minha mãe não brigar
conosco... e ainda dormimos um pouco
Jogamos muito videogame naquele escritório, de
vários consoles, PS1 e 2, Nintendo 64, Nintendo Wii, etc.
Mas nenhum console conseguiu bater o SNES e aquela
nossa noitada de jogatina frenética no emulador. Nunca
me esqueci daquela noite, que ficará guardada para
sempre na minha lembrança, relembrando os clássicos,
matando aquela nostalgia de jogar meu console favorito.
Agora, ficou outra nostalgia, aquela de poder
reunir os colegas e jogar videogames horas e horas ou a
noite inteira, sem se preocupar com obrigações ou
responsabilidades, somente jogar conversa fora, jogar um
bom jogo e se divertir.
Agradeço a Deus por ter me dado uma boa
oportunidade assim na vida, por de ter me dado grandes
amigos como o Feijão, que compartilharam e ainda me
ajudam compartilhar momentos parecidos em minha
vida.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Lucas Klein – Cristão desde os 6 anos de idade, quando confiou em


Jesus cristo como seu Salvador, membro da Igreja Batista, professor
de Educação Física, ilustrador, fã de vários jogos, como Street
Fighter, The King of Fighters, Final Fight, Zelda (toda a série),
Resident Evil, Mega Man, dentre outros. Praticante de artes marciais
como Karate e Judô e amante da cultura japonesa. Casado com
Flaviane, vive em Piraquara/PR.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

UM MASTER SYSTEM E MEU QUERIDO PAI


Abinael Medeiros

Tudo começou em 1988 com um Atari 2600 e um


jogo chamado Enduro. Minha idade? 6 anos.
Aquele grande aparelho com controles de botões
vermelhos, fascinou-me pelo poder de controlar um
carrinho na televisão, por vários caminhos e com
mudanças de clima. A paixão pelos games então começou.
Recordo-me dos amiguinhos de infância indo lá em
casa jogar; os vizinhos, minhas primas, meus tios, etc.
Recordo-me também de meu irmão mais velho correndo
atrás de fitas emprestadas para jogarmos. Aquilo era tão
divertido!
Anos mais tarde, eu cresci um pouco e começou a
minha vez de pegar a pequena bicicletinha e sair à caça de
cartuchos do Atari. Era o inicio dos anos 90 e conheci o
Nintendinho e seus genéricos da época como, por
exemplo, o Turbo Game. Joguei muito esses consoles nas
casas dos meus amigos de escola.
Posteriormente, conheci o Mega Drive e o Super
Nintendo numa locadora, onde pagávamos 0,50 centavos
para jogar durante 30 minutos. Lembro-me de sempre
guardar o dinheiro do lanche da escola para a tarde ir à
locadora jogar.
Frequentei muito Fliperama também, porem meus
pais não gostavam. Era um lugar que causava certa
preocupação a eles, não gostavam muito daquele
ambiente.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Sempre ao chegar em casa, lá estava o Atari. O


tempo foi passando e já não tinha mais tanto animo para
jogá-lo com toda evolução dos games na década de 90.
Entretanto, os valores de um Mega Drive ou Super
Nintendo não cabiam no bolso dos meus pais.
Mas no ano de 1995 meu pai prometeu-me um
videogame de natal. Eu falei que queria o Mega Drive por
causa do Sonic ou o Super Nintendo, apesar de nunca ter
sido muito fã do Super Mario. Mas eu amava os jogos do
16bits da Nintendo, principalmente os de carros.
Na semana do natal de 1995, dois dias antes da
data, meu pai levou-me na loja para buscarmos o
prometido, e tão esperado, videogame. Entretanto, ele já
tinha me avisado que, infelizmente, não poderia comprar
o Mega Drive ou o Super Nintendo, pois seus valores
eram altos demais. Eu teria que escolher entre outros dois
consoles: o Dynavision e o Master System III Super
Compact. Eu compreendi a situação e acabei vendo, pela
primeira vez, o Master System. A caixa me chamou a
atenção por ter o Sonic estampado nela. Lembro-me
vagamente do vendedor falando e explicando que o
Master era da mesma empresa do Mega e que os jogos
também eram parecidos. A escolha, obviamente, foi pelo
Master System.
A diversão foi garantida, na verdade, foi, até então,
o melhor presente da minha vida.
Conheci então outra locadora da cidade, onde tinha
muitos jogos do Master para alugar. Lembro-me de ter
locado todos eles, o que fazia em todos os finais de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

semana. Além disso, jogava muito o Sonic que veio na


memória do console.
Lembro-me de jogar bastante com um amigo de
infância que também ganhou um Master System no
mesmo natal, e pelo mesmo motivo do meu. Então,
sempre locávamos o jogo Copa do Mundo 94 e Super
Monaco Gp para jogarmos juntos. Nos divertíamos
demais!
Associei-me a Hot Line (um serviço da TecToy) e
recebia dicas dos jogos por telefone, assim como jornais
bimestrais que guardo até hoje. Lembro-me de sempre
perguntar ao carteiro se tinha algo para mim e aguardava
ansioso pelos jornais.
Meu pai nunca ligou muito para o videogame, mas
ele via que eu amava tudo aquilo, e sempre me assistia
jogando na pequena televisão em preto e branco, que ele
comprou de um tio que, frequentemente, viajava para o
Paraguai.
Muitos jogos eu só fui conhecer suas verdadeiras
cores depois de adulto. O motivo: Minha mãe dizia que
videogame estragava a televisão e não me deixava ligar na
TV colorida.
No dia 04 de junho de 1996, uma terça-feira de
muito frio, após jantar com minha família, fui jogar um
pouco do Sonic, pois, mesmo já tendo vencido varias
vezes (eu não tinha cartuchos de Master pois minha
cidade era pequena e nas lojas não se via para comprar) eu
gostava de tentar bater meus próprios recordes de
pontuação, de tempo das fases e descobrir os bugs do
jogo. Nesse dia, meu pai, pela primeira vez, pediu para

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

jogar comigo. Lembro-me de dar o controle a ele, explicar


o funcionamento e o que ele deveria fazer. Foram poucos
minutos, mas únicos, para eu jamais esquecer. Ele parou
de jogar e falou que iria dormir. Lembro-me de perguntar
se ele iria assistir ao jogo do Grêmio (não éramos
gremistas, mas gostávamos de assistir essa época gloriosa
do clube). Ele foi deitar, e minha mãe também. Pediram
para eu ficar esperando meu irmão chegar em casa, pois
estava na casa de um amigo. Passaram-se alguns minutos
e minha mãe levantou-se com meu pai não se sentindo
bem. Ela chamou meus avós que moravam ao lado de casa
e meu irmão que já havia chegado. Ligou para um taxi a
fim de levar, às pressas, meu pai ao hospital. Lembro-me
de não ter reação alguma naquele momento, a não ser
chorar, e ouvi-lo dizer para eu não chorar e que ficaria
bem. Fiquei sozinho em casa, angustiado e pedindo a
Deus para tudo ficar bem. Depois de alguns minutos eu
recebi a noticia do falecimento dele da boca do meu irmão.
Aquelas palavras e a noticia de sua partida zumbiram em
meus ouvidos como um trovão e anunciaram uma chuva
de lagrimas que meus olhos jamais viram. Senti-me
sugado para dentro de um abismo vazio e escuro pela sua
ausência. Meu melhor amigo tinha partido sem se
despedir, um rei bondoso, sempre envolto de amigos e
sempre pronto a me encorajar, já não estava mais ali...
Após isso, tudo mudou, a tristeza permaneceu por
anos. Fui crescendo e continuei a jogar Master System por
um bom tempo até conhecer o PS1 que jogava muito na
casa de um amigo.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Decidi virar musico após a morte de meu pai, por


volta de 1999. Lembro-me que guardei meu Master na
caixa e, por anos, ele ficou lá.
Em 2013 voltou a paixão pelos games antigos e
comecei a comprar alguns cartuchos influenciado por uma
pagina no Facebook e acabei fazendo amizades distantes.
Não sou colecionador. Hoje em dia, procuro adquirir
apenas os games que fizeram parte da minha infância e,
guardo até hoje com muito carinho meu Master System, o
ultimo presente que ganhei de meu pai, num natal tão
maravilhoso!!!

Abinael Medeiros – Catarinense de 37 anos, da pequena cidade de


Araranguá. Iniciou seus estudos musicais aos 16 anos (estudos
práticos e teóricos de contrabaixo elétrico). Em 2006 formou-se como
Técnico em Radiologia, área que atua até hoje, conciliando seus
trabalhos musicais como professor e free lancer em bandas da região
sul de Santa Catarina. Também possui formação universitária em
Artes Visuais em 2012. Reencontrou a paixão pelos games em 2013
influenciado por um grupo de Facebook, começou a adquirir games
do console que marcou sua vida: Master System. Não se considera
um colecionador, mas sim, um grande apreciador de games e
mantem sempre suas jogatinas semanais, com os jogos que
marcaram sua infância e adolescência. Abinael considera-se um
grande amante de heavy metal, games antigos, arte e saúde e relata:
“Minha paixão pelos games vem desde criança com um jogo chamado
Enduro”.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

RABISCANDO SONHOS
MINHA PRIMEIRA REVISTA DE VIDEOGAME
Ítalo Chianca

Década de 1990. Na rádio,


ouvíamos Skank, Gabriel, o Pensador, Charlie Brown
Jr, Mamonas Assassinas. Na TV, assistíamos Cavaleiros
do Zodíaco e Yu Yu Hakusho. Na rua, batíamos bola nas
peladas. Nas garagens improvisadas e em prédios
adaptados, frequentávamos as recém-criadas locadoras de
videogame. E nas bancas de jornal e durante os intervalos
da escola, líamos e debatíamos as novidades das
desejadas revistas sobre videogames.
É difícil não parar depois de ler esse parágrafo e
gastar alguns minutos relembrando das boas histórias de
cada uma dessas etapas, desses rituais que se misturavam
para dar forma a uma juventude repleta de momentos
inesquecíveis. Foi justamente nesse período que conheci
os meus melhores amigos, senti as minhas primeiras
paixões, descobri os meus hobbies favoritos e transformei,
mesmo que de forma inconsciente, os meus sonhos nos
primeiros rabiscos de uma futura realidade.
Sonhador
Foi durante a década de 1990, quando comecei a
frequentar assiduamente as locadoras de videogame da
minha cidade, que passei a me interessar cada vez mais
pelos jogos eletrônicos. Pedia para ir ao supermercado ou
à padaria para ficar com o troco das compras e até ajudava
o meu pai no trabalho para ganhar uma mesada extra.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Tudo isso para conseguir algumas moedas e gastar em


horas jogando na locadora com os meus amigos e,
principalmente, com os meus irmãos.
Com o passar dos anos, os videogames já faziam
parte da minha vida e da dos meus irmãos. Ficávamos
ansiosos pelo próximo jogo de Mega Man, imaginávamos
como seria a próxima geração de consoles e sofríamos
para tentar descobrir o caminho correto naquele Final
Fantasy japonês. Além de jogar muito, é claro.
E, para suprir toda essa necessidade por informação dos
novos gamers, as revistas especializadas em videogames
ganhavam força e traziam, com esforço e carinho
evidentes, o universo dos videogames para crianças e
jovens de todo o país.
Sucesso das bancas
Provavelmente você, que cresceu nas grandes
metrópoles brasileiras, deve ter visto — e ainda vê —
diversas publicações nas bancas de jornal e livrarias.
Naquela época, periódicos como Videogame, Super
GamePower, Ação.Games, Gamers e Nintendo.World
eram vistas aos montes e faziam a alegria dos jogadores,
trazendo notícias, análises, detonados, dicas e tudo mais.
Mas, se você, assim como eu, cresceu numa cidadezinha
do interior, deve ter encontrado muitas dificuldades para
achar uma dessas revistas por aí nas décadas de 1990 e
2000.
No meu caso, as raras revistas de videogames que
apareciam por aqui ficavam nas locadoras, já que a cidade
não possuía bancas e nem livrarias. O dono do lugar

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

costumava trazer as publicações quando viajava para


comprar jogos. Quando as revistas chegavam, a disputa
era tanta, que era preciso encarar uma tremenda fila para
conseguir ter acesso.
Infelizmente, a frequência com que essas revistas
chegavam até aqui era baixíssima. Por sorte, alguns
vendedores ambulantes de jogos passavam nas lojas aos
finais de semana e, além de cartuchos e CDs, eles sempre
andavam com uma nova revista para utilizarem como
base na hora das compras.
Eu, como frequentador assíduo das locadoras na
época, cuidei logo de fazer amizade com esses mercadores
de sonhos que, ao chegarem para oferecerem novos games
ao dono do lugar, me deixavam ler as revistas que eles
carregavam. Eu tentava ler tudo bem rápido, pois eles
ficavam pouco tempo na mesma locadora. Sem muita
prática na leitura, eu sofria um bocado, mas conseguia
absorver as informações mais importantes.
De leitor para editor
Precisando ler rápido e muitas vezes até escondido
para que outros garotos não vissem que eu estava com as
revistas, tive que encontrar uma forma de transmitir o que
eu lia para os meus irmãos, pois eles adoravam saber mais
sobre os próximos jogos e consoles. Portanto, a maneira
que eu encontrei para manter os meus irmãos atualizados
foi fazer a minha própria publicação.
Não, eu não criei uma dessas revistas conceituadas
que fizeram história no mercado editorial brasileiro.
Longe disso. A minha “revista” era feita com as folhas do

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

caderno da escola, lápis grafite, desenhos improvisados,


dicas dos amigos e muito carinho.
Tudo começou como uma forma de ajudar os meus
irmãos a entenderem melhor as histórias dos jogos,
completarem os games que jogavam e se manterem
informados sobre as novidades devido à falta de acesso às
revistas.
A “minha” revista
Na primeira edição, usei todas as folhas antes
dedicadas às atividades de Educação Física para escrever
o que eu pensava ser o enredo de Super Mario World.
Escrevi praticamente um conto de fadas, onde eu falava
de um herói humilde que trabalhava como encanador e
havia se apaixonado por uma linda princesa, mas que
precisaria provar que é digno de seu amor através de uma
jornada por reinos fantásticos contra um monstro que
sequestrou a donzela. Pode não ser exatamente a trama
que a Nintendo criou, mas era assim que eu passava a
história para os meninos.
Outra “coluna” da minha revista era a de dicas.
Sempre que eu descobria uma nova passagem secreta ou
uma forma mais fácil de passar de uma fase, eu anotava,
na locadora mesmo, para passar para os meus irmãos na
revista.
Ah, existia até uma folha para as cartas dos leitores.
Para escrevê-la, eu conversava com os colegas no intervalo
da escola para tirar as dúvidas dos meus dois leitores.
Algumas questões eram prontamente respondidas de
forma concreta, como a dúvida do mais novo que queria

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

saber se ele poderia jogar Sonic no Super Nintendo.


Outras eram respondidas com muitos rumores passados
por tios de amigos de amigos que trabalhavam na
Nintendo, como as chances de sair um Super Mario
World 3 para o Super Nintendo.
Levando a sério
Todos os textos eram feitos à mão nos intervalos
entre os desenhos na TV Manchete. Eu passava horas
pensando em pautas, criando conteúdo e pesquisando em
revistas antigas os macetes que ainda não conhecíamos.
Escrevia sobre a história dos personagens,
analisava os últimos jogos que haviam chegado à
locadora, entrevistava os melhores jogadores. A cada nova
edição, eu tentava me superar para divertir os garotos
que, aliás, ficavam ansiosos pela nova edição ao mesmo
tempo em que cobravam bastante quando eu não trazia
coisas interessantes.
Lembro de uma vez em que eles pediram por uma
correção na edição seguinte porque eu havia dito que
teríamos um Donkey Kong Country 4 para Super
Nintendo, quando, na verdade, tratava-se de Donkey
Kong 64 para o Nintendo 64. Tive que colocar retratação
na edição seguinte. Demais, não é?
A UltraGamer
Eu lidava com a produção da revista com muita
seriedade. Depois de chamá-la de “UltraGamer”
(inspirada da UltraJovem, revista de sucesso na época
editava pelo amigo Cláudio Balbino), eu usava o caderno
de desenho, que tinha folhas melhores e sem as linhas da

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

minha caderneta, para fazer ilustrações para as matérias.


Desenhava os personagens e cenários enquanto lia novas
revistas para encontrar assunto para o meu público
exigente.
Lendo assim, pode até parecer que eu produzia
uma revista impecável. Bom, para mim era. Contudo, vale
lembrar que tudo era feito com a simplicidade de uma
criança que ainda lutava para compreender a própria
língua e montar frases com algum sentido. O que valia
mesmo era a diversão que eu proporcionava aos meus
dois irmãos enquanto brincava de ser editor/redator.
Até hoje, quando jogo alguns clássicos do passado,
lembro-me das críticas que fiz na minha revista.
Em Harvest Moon, por exemplo, lembro-me de ter
criticado bastante o jogo, perguntando a mim mesmo
como as locadoras estavam cheias de fazendeiros virtuais
que faziam sempre a mesma coisa, dia após dia. Final
Fantasy VII? Foi um dos poucos que dei nota máxima,
pois o jogo parecia ser “de outro planeta”. Ah, e Super
Mario 64 recebeu um detonado que gastei quase um ano
para escrever.
Crise do mercado editorial caseiro
Foram cerca de três anos escrevendo para os meus
irmãos, dando risadas, discutindo sobre videogames,
sonhando com o futuro do mercado e, de forma
despretensiosa, alimentando uma enorme paixão pelas
publicações especializadas em jogos eletrônicos. Aos
poucos, aqueles rabiscos pararam de ser interessantes

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

para os meus irmãos, que cresciam e já podiam ler as


revistas da locadora.
As revistas, aliás, passaram a aparecer com mais
frequência do que antes e estavam repletas de imagens e
análises dos jogos do momento. Minhas outras tarefas
também contribuíram para me fazer largar aquela
brincadeira, que já havia cumprido o seu objetivo de levar
informação e diversão para a galera lá de casa.
Com o Ensino Médio, surgiram novas prioridades,
novas paixões e a UltraGamer foi ficando adormecida. A
rebeldia da adolescência sequer me fez querer guardá-las
quando nos mudamos. Com a faculdade, a imensidão de
trabalhos nem me fez lembrar de que um dia eu fiz, com
tanto carinho, uma revistinha. Porém, com a vida adulta,
uma hora chega o momento de refletir sobre a vida e
experimentar coisas novas.
E, assim, deparei-me com oportunidades
surpreendentes, seguindo por um caminho que, embora
eu não soubesse, estava sendo trilhado desde quando
rabisquei o enredo fantasioso de Super Mario World lá no
início da década de 1990.
O destino
Quis o destino, ou melhor, os deuses dos
videogames, que, saindo da minha terceira graduação em
História, eu encontrasse na academia a escrita sobre os
videogames novamente. Para o meu trabalho de
conclusão de curso, pesquisei sobre as antigas locadoras,
que na época já desapareciam da cidade. Com aquela
pequena experiência adquirida em pesquisa e redação,

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

revivi os tempos em que escrevia, a próprio punho, a


minha saudosa UltraGamer. Não deu outra: o sentimento
voltou mais intenso do que nunca.
Pesquisando, escrevendo e querendo produzir
coisas novas, fui selecionado para o portal GameBlast,
onde atuei como redator de 2014 a 2016, escrevendo no
site e, principalmente, nas revistas digitais GameBlast e
Nintendo Blast.
Essa experiência no GameBlast despertou em mim
aquele velho sentimento de criança, quando eu produzia a
minha própria revista. Escrever sobre games para pessoas
que se importam tanto, assim como eu, era uma das coisas
que eu mais gostava quando garoto. E agora eu poderia
fazer o mesmo para tantos outros gamers que eu sequer
conhecia, mas que já me consideravam de casa.
Era isso o que eu gostaria de fazer pelo resto da
minha vida, dizia um Ítalo recém-casado, quando
começou a receber os primeiros elogios na internet por
causa dos textos. Eu estava muito feliz com o trabalho
que, para quem não sabe, era voluntário no Blast. Não era
dinheiro o que eu buscava. Eu estava atrás de alegria e
diversão, algo para fazer com amor.
O sonho retornou
Praticamente todas as semanas, desde o dia 29 de
maio de 2014 — quando publiquei a minha primeira
matéria (um especial relembrando o jogo Earthworm Jim
3D) —, escrevo algo sobre videogames. Já perdi as contas
de quantas prévias, análises, retroreviews, perfis e
crônicas eu escrevi. Só sei que me diverti muito com cada

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

uma dessas matérias e espero ter informado e divertido


muita gente, assim como fiz com meus primeiros dois
leitores, anos antes de ser um redator de verdade.
Se escrever no site para milhares de pessoas já me
enchia de orgulho e satisfação, foi com a publicação do
meu primeiro texto na revista digital Nintendo Blast que
decidi que definitivamente não pararia mais de escrever.
Lembro, com muito carinho, quando fui selecionado para
escrever o Top 10 de melhores jogos do Sonic em
plataformas da Nintendo, na edição nº 57, de junho de
2014. Foi mágico.
No Blast, também consegui colaborar com a
revista Nintendo World, uma das mais antigas
publicações dedicadas aos videogames no Brasil. Foi a
realização de um sonho escrever nas páginas de uma das
revistas que mais li na vida. Eu não podia acreditar. Nesse
meio tempo, já um completo amante da redação gamer,
publiquei dois livros: Videogame Locadora (2014) e Os
videogames e eu (2015). Com esses trabalhos, eu consegui
imortalizar boa parte das minhas histórias como jogador e
tantas outras resenhas que vivi com meus amigos e, claro,
meus queridos irmãos.
A nova realidade
Com todas essas experiências, fui agraciado com
um novo e maravilhoso convite: fui convidado pela
WarpZone para contribuir com os livros e revistas
distribuídos para todo o Brasil, que começaram a ser
publicados pela empresa em 2016 em parceria com a
Editora Sampa. Logo em seguida, veio o Jogo Véio, site no

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

qual colaboro de 2016 até hoje, produzindo textos,


revistas, podcasts e mais dois livros: Papo de
Locadora (2016) e o querido Game Chronicles (2017), que
fiz em parceria com o Eidy Tasaka e mais um monte de
amigos.
Seja nos caracteres da internet ou na folha de papel,
espero continuar escrevendo com o mesmo carinho de
anos atrás com o próprio punho, ou melhor, com o
próprio teclado, sobre games para leitores apaixonados
que, assim como eu, enxergam os videogames por um
ângulo que vai além do simples ato de sentar em frente à
TV e jogar. Aqueles apaixonados que veem nos jogos uma
experiência que envolve diversão, lembranças, amizades
e, principalmente, sonhos.
Espero contar sempre com vocês aqui, Véios.
Enquanto vocês se interessarem por videogames e
revistas, estarei aqui. Escrevendo e lembrando dos jogos
que marcaram a nossa vida.
E saber que tudo começou com uma brincadeira…

Ítalo Chianca – Historiador por formação, mas gamer por paixão, é


redator do Jogo Véio, onde escreve sobre jogos clássicos., e escritor
independente, autor dos livros Videogame Locadora, Os videogames e
eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

SUPER MARIO RPG


A LENDA DA MINHA VIDA
Alexsandro Magalhães

Todo mundo tem, pelo menos, um jogo favorito e


um jogo que marcou sua vida. Eles não precisam ser,
necessariamente, o mesmo jogo. No meu caso, meu jogo
favorito é Donkey Kong Country 2. Lindos gráficos, fases
maravilhosas, ambientação “dark” e desafiante e uma
trilha sonora que me enche os olhos de lágrimas. Mas, o
jogo que marcou minha vida é Super Mario RPG: The
Legend of the Seven Stars, do SNES. E eu posso dizer pra
vocês o porquê:
Era 1999, se não me engano, férias de julho da
escola. Eu ainda tinha apenas 6 anos de idade, sendo que
tinha começado a me conectar com os games aos 5, e
estava conhecendo uma série de jogos novos. Na época o
mundo se impressionava com os sucessos do N64 e PS1,
além do PS2 que começava a dar sinais de vida, enquanto
o Super Nintendo já dava seus últimos suspiros por aqui.
Depois de tanto zerar Donkey Kong Country e Super
Mario World (os únicos que conseguia com 6 anos) eu
estava a fim de conhecer algum jogo novo e, num final de
semana de piedade do meu pai, fui alugar um na locadora
do Seu Juan, que existe até hoje! Ela era considerada a
locadora da “elite”, pois só tinha jogos originais e caros.
Cartuchos de SNES custavam 3 reais, o que, em 1999, era o
suficiente pra comprar lanche na escola quase a semana
toda.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Lá a variedade era grande, mas depois de tanto


folhear a pasta das capas, achei um que me chamou muito
a atenção: “Super Mario RPG” e, junto, uma mensagem
que dizia: - Mario está de volta em uma nova e selvagem
aventura!” (Com 6 anos eu sabia ler mal e porcamente,
então, foram uns 5 minutos pra processar essa frase...).
Na capa dizia que o jogo era apenas para maiores
de 13 anos. Mas eu não liguei muito (na capa do Killer
Instinct também dizia idade superior a 13 e eu me divertia
pra caramba!) e resolvi escolher o título que me chamou a
atenção por ter imagens de Mario como nunca havia visto
antes.
Seu Juan me advertiu dizendo que eu não saberia
jogar, pois o jogo tinha um esquema diferente dos que eu
estava acostumado (ele sabia que eu sempre locava títulos
de aventura e plataforma, com poucas variações) e, como
precisava de muita leitura (principalmente do inglês),
seria praticamente jogar dinheiro fora. Mesmo assim eu
levei.
Chegando em casa fui direto para o SNES e liguei o
bichinho. De primeira vi o símbolo da Nintendo seguido
pelo da Squaresoft, e uma incrível imagem da princesinha
do Mario World colhendo flores na frente da casa de
Mario. Lembro-me que eu pensei: “Nossa! Parece que esse
jogo é para Nintendo 64, o filmezinho tá muito perfeito!”
Até aí, só maravilhas. Como já conhecia um pouco
desta sistemática chamada “RPG” por causa das revistas
de games, fui em “New Game” e deixei lá meu nome
gravado como ALEX (era difícil meu nome inteiro caber
em qualquer jogo naquela época…) . “Uau! Um Mario

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

feito por computador que nem o Donkey Kong andando


em um cenário de Nintendo 64!” (pelo menos em minha
cabeça, era isso).
Como em todo o bom jogo do Mario, encontrei uma
tartaruga e fui pular em cima da coitada para dar cabo de
sua vida. Mas, a tela foi se fechando lentamente, seguida
de um barulhinho. Mario estava de frente pra mim
rodeado por quadrados que lembravam os botões “Y”,
“B”, “A” e “X”, do meu controle. Enquanto a besta da
tartaruga no outro lado da tela ficava lá... apenas se
mexendo como se estivesse caminhando, mas não saia do
lugar.
Minha primeira reação foi sair correndo e pular,
mas Mario não se mexia. Então sorteei entre os botões que
ali apareciam e fui no “A”, até que Mario saiu no soco
com a criatura. Foi um simples golpe, seguido de alguns
pequenos números embaixo da tartaruga. Ela explodiu e
sumiu no ar. Continuei seguindo e repetindo toda aquela
operação até encontrar o tal “dragão punk” (assim que eu
chamava o Bowser) junto da princesa, em cima dos lustres
do castelo. Demorei um pouco pra raciocinar, mas logo
percebi que precisava atacar a corrente que segurava o
vilão para derrubá-lo.
Assim que ele foi derrotado, uma espada caiu no
castelo trazendo 7 estrelas e Mario foi arremessado de
volta para sua casa, e a partir daí eu tomei ódio pelo jogo
porque não sabia mais o que fazer. Bateu-me um
desespero e resolvi ir na locadora devolver o jogo. Sem
sucesso. Até desisti de continuar jogando. Foi no último

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

dia de locação que eu resolvi dar uma chance extra ao


game.
Percebi que no fundo da tela, na frente da casa do
Mario, tinha um quadrado que parecia uma saída. E era
mesmo. Dali, fui direto para um mapa do estilo clássico de
Super Mario World. Enfim, eu peguei um pouco da
mecânica do jogo. A partir de então eu tinha um novo
jogo na minha lista de favoritos, que eu chamei por muito
tempo de “Mario de Luta”.
Com o passar do tempo consegui chegar mais
longe, mas tinha problemas com alguns quebra cabeças e
chefes, principalmente pela falta de inglês e porque eu não
tinha a menor noção de que aquilo eram lutas de RPG por
turnos. Eu apenas queria apertar botões até matar os
monstros. Até que um colega meu, Jeferson, que já tinha
jogado uma vez explicou-me como eu poderia deixar
meus personagens mais fortes e fazer golpes
cronometrados.
A partir daquele dia eu, realmente, comecei a me
encarnar no jogo. Locava quase todo o fim de semana,
chegando ao ponto de sequer ir à locadora renovar a
locação. Apenas ligava pra lá e dizia: - “Seu Juan, vou ficar
mais uns dias!”
Com o tempo comecei a entender e conhecer as
“side quests”, conhecer os personagens, baús secretos,
equipamentos e estratégias, a me embalar com as músicas
e, por fim, virar um grande fã de SMRPG.
Até que um dia cheguei na parte que tenho certeza
que todos os que jogaram o game travaram, a maldita
senha de “Sunken Ship” (o navio afundado). Foram mais

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

uns meses tentando descobrir o que fazer (ou melhor, o


que escrever), o que me deixava de cabelo em pé. Cheguei
à pegar dicionários de inglês emprestado da escola para
tentar traduzir as pistas, mas nada era suficiente.
Naquela época, muitas pessoas ainda alugavam
jogos de SNES no meu bairro. Afinal, poucos tinham
consoles mais avançados como PS1 ou PS2 em casa. E, em
certa época, tornou-se difícil pegar o Mario RPG. Alguém,
além de mim, estava alugando. E esse alguém assinava
seus “saves” como “GUIBOY” e sempre estava em algum
lugar que parecia ser muito longe, depois do navio. Este
GUIBOY passou a se tornar meu inimigo número 1 em
Super Mario RPG. Por pura inveja, já que ele conseguia ir
mais longe que eu.
Por um curioso destino da vida, eu vim a conhecer
o tal GUIBOY pouco tempo depois. Era o Guilherme que,
junto de seu irmão Gustavo, tornaram-se dois grandes
amigos. Jogamos muito SMRPG juntos, além de outros
jogos do SNES que emprestávamos um ao outro e, até
hoje, lembramo-nos destes bons momentos de rivalidade
saudável. Detalhe: Ele NUNCA me disse a senha do
navio!
Mas um dia, na aula de informática da escola, ainda
com o poderoso Linux e seu navegador Netscape,
descobrimos um site que trazia todos os segredos de
Mario RPG, incluindo a bendita senha do navio, que
anotamos no caderno na velocidade da luz! Lembro-me
muito bem da cena: Logo que saímos do colégio, Jeferson
e eu fomos direto para sua casa e, de cara, ligamos o

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

SNES. Vibramos com o uso da senha correta e nunca


gostei tanto da palavra “PEARLS”.
Depois dessa conquista, cada novo mapa, inimigo e
quebra cabeça era uma descoberta cheia de alegria, como
nas primeiras vezes que joguei e descobria o que tinha que
fazer. Mas foi necessário muito mais tempo para
conseguir chegar ao embate final. Nesse ponto, nem
mesmo o esperto GUIBOY e seu irmão sabiam o que fazer
para concluir o jogo, então, avançamos juntos por muito
tempo e fortalecendo nossa amizade.
Foi assim que, uma noite, após muito esforço, eu
consegui! No dia 12 de maio de 2004, às 00:26 da noite,
com Mario, Peach e Mallow, ambos no level 26, ainda com
equipamentos despreparados! Eu havia finalmente
terminado, pela primeira vez, Super Mario RPG!!!. Como
eu sei disso tão precisamente? Eu anotei no meu caderno
para nunca esquecer, porque foi um dos dias mais felizes
da minha vida. Cheguei a chorar com a música tocante
dos créditos finais.
Com o passar dos anos fui aprendendo novos
segredos, truques e estratégias para enfrentar os inimigos.
Enquanto eu crescia, Super Mario RPG estava comigo.
Graças a ele, fiz grandes amigos dentro e fora do meu
bairro, da minha cidade e até do meu país, formou a
minha preferência por RPGs e, depois, pelo universo
Nintendo, a ponto de querer pesquisar sobre os
personagens dos jogos que mais curtia, o gosto pelos
animes e mangás, a participação nos eventos de anime, o
gosto por teatro e dublagem, o interesse por rádio, meu
próprio programa de rádio e, por fim, o meu canal no

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

YouTube. Tudo surgiu por causa desse jogo e as portas da


curiosidade que ele abriu na minha vida.
Para minha alegria, eu consegui comprar da
locadora do Seu Juan este emblemático Super Mario RPG,
que está comigo até hoje. E sempre que olho pra sua
caixinha de locadora, lembro-me de todos os bons
momentos que vivi graças à ele.
Sabe-se lá que outros rumos minha vida teria
tomado se, aos seis anos de idade, eu não tivesse insistido
pra alugar esse jogo e não acabasse conhecendo o mundo
maravilhoso que conheço hoje. Obrigado Super Mario
RPG!

Alexsandro Gonçalves de Magalhães – Sou da zona sul da capital


gaúcha, ator, comunicador e a voz por trás do canal “Conhecendo e
Desvendando Jogos”. Um apaixonado por vídeo games, em especial
aqueles que fizeram a minha infância mais feliz. Entre os meus estilos
favoritos, estão os jogos rítmicos, RPGs, ação e plataforma. Mas as
vezes também arrisco umas partidas de Smash Bros, Street Fighter e
Mortal Kombat com os amigos e, além de games, sou fã de música
dos mais variados gêneros, adoro ir ao cinema e me divirto muito
lendo sobre o universo dos jogos, o que deu-me a inspiração para
criar meu canal.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

AS REVISTAS DE GAMES DOS ANOS 90


Alan Ricardo de Oliveira

No início da década de 90 era comum termos os


nossos videogames em casa, mas adquirir um jogo era
bem difícil, apenas em datas específicas, como natal,
aniversário e dia das crianças. Mas tinha uma coisa muito
boa pra se fazer quando não estávamos jogando, que era
ler as revistas de games.
As revistas de videogames foram fundamentais
para popularizar ainda mais os videogames, pois a
internet era um sonho distante da realidade naquele
momento.
Minha primeira revista foi a Ação Games, Ed.08.
Foi com ela que iniciei minha coleção que hoje conta com
cerca de 1800 revistas de videogames.
Encontrá-las era bem fácil. Nessa época existiam
muitas bancas nos mais diversos lugares, mas, o duro, era
ter dinheiro para comprá-las. Eu costumava juntar os
poucos trocados que conseguia com meus pais; dinheiro
do lanche da escola e até mesmo o troco do pão, que todo
mundo insiste em falar que guardava para jogar Street
Fighter 2 nos fliperamas. Claro que eu também fiz isso
algumas vezes, mas não gostava muito de jogar em
fliperamas, preferia sempre o conforto do quarto onde era
bem mais tranquilo. Como o dinheiro era escasso, eu
comprava sempre as que tinham as matérias de capa mais
chamativas, então, às vezes comprava a Ação Games,
outras a Supergame, GamePower, Videogame e até outras
que não fizeram sucesso como a Games Feras, que teve

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

apenas duas edições.


Frequentei muitos sebos na cidade em que morava.
Limeira, interior de São Paulo. Lá tinha a Banca da Moleza
e o Alfarrábio, que tinha um senhor bem mal humorado,
era só começar a folhear as revistas que ele já olhava com
cara de bravo. Mas valia a pena, pois tinha muitas revistas
e com ótimo preço por lá. Uma revista saia por bem
menos da metade do valor do que uma nova nas bancas.
No ano de 1993 estava na escola SENAI, onde fiz
um curso de Torneiro Mecânico. Com meus 14 anos de
idade, já havia passado pelo Atari, Master System, Mega
Drive e, finalmente, estava com o SNES. A Ação Games
estava quinzenalmente nas bancas e isso dificultava, ainda
mais, ter todas as edições, mas ao sair a ed. 43 decidi que
faria de tudo para conseguir comprar todas dali em diante
sem perder nenhuma e ainda conseguir comprar as
restantes que me faltavam, fato esse que consegui realizar
no início de 1994. A partir de então, qualquer dinheiro que
eu conseguia era para comprar as revistas. Meu irmão
mais velho, Marcos, já trabalhava e todo fim de semana
me dava dinheiro para alugar o jogo que eu queria, o
melhor é que ele raramente jogava, deixando o SNES só
para mim e meus amigos.
Então, só me restava juntar qualquer trocado para
comprar as revistas. Como eu ia ao SENAI de bicicleta,
todos os dias minha mãe me dava dinheiro para comer
alguma coisa e, quando eu queria alguma revista de
games a mais por conta das maravilhosas capas, eu falava
que estava muito cansado, aí minha mãe me dava, além
do dinheiro do lanche, o dinheiro do ônibus. Só que ao

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

invés de eu ir com o ônibus, eu ia e voltava a pé, dava


cerca de 40 a 50 min de caminhada, mas era o único jeito.
A banca em que mais comprei as revistas de games
ficava numa pracinha um pouco antes de chegar ao
SENAI, onde tinha uma padaria chamada Manah bem em
frente. Eu passava todos os dias por ali para ver se tinha
alguma nova edição, o ruim era quando numa segunda-
feira já tinha a revista e eu tinha que esperar até sexta para
conseguir juntar o dinheiro...
Com o passar dos meses, vendo que eu sempre
comprava as revistas, o dono da banca me deixava pegar a
revista, por exemplo, na segunda-feira, e pagar só na
sexta. Isso me dava uma alegria danada. Como o curso do
SENAI era o dia inteiro, as vezes eu almoçava em casa e
lembro-me que, numa sexta-feira de 1993, eu estava
esperando a ed. 48 da Ação Games e fui almoçar em casa.
Estava com o dinheiro na mão e decidi que iria primeiro
em casa e, ao retornar para a escola, passaria na banca
para ver se a revista havia chegado. E foi o que aconteceu,
lá estava a Ação Games de capa vermelha com Sonic na
capa. Comprei a revista e, como tinha alguns minutos
antes de entrar pra aula, sentei no banco da praça para vê-
la. Fiquei doido com os jogos como Art of Fighting de
Snes (que já tinha alugado) além de Sonic no Mega, Sega
CD e Master. Então, não resisti e voltei para casa, falei pra
minha mãe que estava com dor de cabeça e, como era raro
eu faltar, ela não se importou. Tomei um banho e corri
para o quarto para ler aquela maravilhosa revista.
Os anos foram passando e minha coleção só
aumentava. De todas as principais revistas eu consegui

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84
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

completar a coleção, com exceção da Videogame, que


somente neste ano de 2019, adquiri a última que me
faltava, a ed. 62.
Ação Games, SuperGame, GamePower, Gamers
entre outras menos conhecidas, todas possuem um valor
inimaginável para quem viveu naquela época e muitos
jogadores que hoje tem a facilidade da internet nunca
entenderão esse sentimento.
No ano de 2001 comprei a última revista de games
na banquinha em que todo dia visitava a caminho do
SENAI, foi a uma SGP com The King of Fighters 99 na
capa. Infelizmente a banca fechou e nunca mais vi o seu
dono, a padaria em frente também fechou restando
apenas lembranças quando passo em frente desta praça.
No início de 2002, estava de férias em Praia Grande,
cidade onde moro atualmente, fui a uma banca no bairro
da Guilhermina e lá comprei a fatídica ed. 171, última
edição de uma revista que, por dez anos, trouxe tantas
alegrias e informações. Lembro-me que fiquei arrasado ao
ler a notícia no editorial que seria a última edição. Uma
curiosidade é que essa banca em que comprei a última
Ação Games está lá até hoje...
Mais anos se passaram, novos consoles e revistas
vieram e se foram, mas o prazer de ir à uma banca e
comprar uma revista ainda permanece o mesmo, apesar
das poucas opções. O que preenche essa lacuna são as
muitas publicações encontradas na internet, os livros com
crônicas (como este que está lendo), outros com histórias
de consoles, livros de luxo com jogos famosos e revistas
retrôs que nos trazem aquela nostalgia de infância e

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

adolescência.
O amor por revistas de games também me motivou
a escrever, além de algumas matérias para várias revistas
retrôs como a Warpzone, a minha própria revista
chamada OldBits. Não é por lucro e nem nada, é apenas
por prazer e diversão. É como voltar no tempo para uma
época que marcou uma geração.
Sinto saudades demais dessa época e dos bons
amigos, como o Gustavo que também faz parte do time da
OldBits e o Danilo que, até hoje, tira sarro de uma derrota
de 17 a 1 em World Heroes 2 de SNES. Bons tempos...

Alan Ricardo de Oliveira – Criador e editor da revista retro Oldbits


e fã incondicional de jogos de luta. Fora dos games coleciona Turma
da Monica e Zé Carioca há mais de 23 anos e prefere mil vezes o
clone Aranha Escarlate do que o Homem-Aranha. Tem loucura por
tokusatsu como Jaspion e Jiraiya.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

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https://www.facebook.com/ceocoffeeboxgames/
https://www.instagram.com/coffboxgames/
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https://www.youtube.com/channel/UCcgFwALafPaMnIaNJWEHsZg
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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

MASTER SYSTEM – JANELA DOS SONHOS


E O SAUDOSO MORTAL KOMBAT
Fernandes Diego

Vou dar uma viajada, pois gostaria de compartilhar


com vocês um sentimento que tenho desde a infância:
Sempre enxerguei os videogames como uma espécie de
janela para um mundo de sonhos e imaginação, onde é
possível viver aventuras e tudo o mais que uma criança
sonha.
Quando era pequeno, sempre que ia na casa de
algum parente ou colega, a primeira coisa que eu
perguntava era se por ali tinha um videogame, se a
resposta fosse sim eu já imaginava que essa era um lugar
legal e que a criança que morava ali era feliz, quando a
resposta era não, me vinha um sentimento de que aquele
era um lugar vazio e sem nada de interessante.
Talvez, por isso, eu sempre costuma ficar viajando
nos cenários de fundo dos jogos, mesmo com toda a
simplicidade de um game de 8 bits e poucos pixels. Eu
ficava olhando para aqueles cenários com prédios,
florestas, montanhas, cidades e casinhas ao fundo e,
minha imaginação fértil de criança me fazia viajar e a ficar
pensando em como seria se eu pudesse ir até lá e me
perguntar: O que será que tem por lá? O que as pessoas
fazem ali? É difícil explicar a imaginação de uma criança.
Como desde a infância eu nunca parei de jogar
esses jogos antigos, acredito que, por isso, a lembrança
desse sentimento gostoso da infância sempre me vem na
cabeça quando estou jogando e me faz parar para prestar

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

atenção nos cenários de fundo dos jogos de Master


System, sendo que, alguns deles, lembro-me com maior
clareza o quanto me fizeram e fazem sentir tudo isso:
Masters of Kombat, Ayrton Senna Super Mônaco GP,
Streets of Rage, Black Belt e, em especial, Mortal Kombat,
sobre o qual tenho uma lembrança especial...
Mortal Kombat para Master System
Era mais um sábado de manhã em 1994, como
acontecia em todos os finais de semana, fui com meu
irmão em uma locadora do bairro para alugar uma fita de
Master System para devolver na segunda.
Como acontecia em praticamente todas as
locadoras de games na época, lá existiam consoles para
serem jogados por hora pagando determinada quantia. E
lá estavam eles, o Mega Drive e o Super Nintendo, a elite
de consoles na época, rodeados de moleques em volta;
jogando, rindo e gritando... Escolhemos a fita (cartucho) e,
antes de voltarmos para casa e nos deliciarmos durante
todo o final de semana com o jogo de Master que
alugamos, paramos um pouco para ver a molecada jogar.
O local estava lotado e, em volta do Mega Drive
havia muita gente, inclusive o dono da locadora. Na tela
da TV havia um jogo de luta que me deixou encantado,
com personagens digitalizados (na época eu nem sabia o
que era isso). Fiquei tão impressionado que cheguei a
falar: - "Nossa parece um filme". Havia um lutador de
Kung Fu que, na hora, já associei ao Bruce Lee, lutando
contra aquele um ninja amarelo. Tinha sangue rolando na
tela... "Meu Deus, que jogo e esse?" pensei.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Quando a molecada começou a explicar do que se


tratava de Mortal Kombat, meu irmão e eu ficamos
encantados, obviamente, já imaginávamos que esse jogo
jamais teria para o Master System. Tínhamos consciência
de que era um jogo para os consoles "melhores", tanto que,
algumas vezes, juntamos as moedinhas para ir até a
locadora e jogar meia hora por cinquenta centavos ou uma
hora por um real. E assim foi por um bom tempo.
Tínhamos ficha em praticamente todas as locadoras
da região que possuíam fita de Master para alugar e, um
dia, resolvermos alugar numa outra locadora que ficava
um pouco mais distante (para quem é da zona leste de São
Paulo é a Concel que existe até hoje). Começamos a olhar
o jogos na prateleira e lembro-me, até hoje, que meu irmão
estava do outro lado olhando não sei o que e disse: - Vai
vendo os jogos que tem aí pra alugar! Enquanto eu
procurava algum jogo, não acreditei quando vi... Era
aquele dragão, aquele nome, sim, era Mortal Kombat, na
capa de jogo pra Master System. Eu não conseguia
acreditar, a ponto de ir perguntar no balcão se aquele jogo
era mesmo para Master System, e era. Alugamos o jogo e
a ansiedade era tanta, que voltamos para casa correndo,
literalmente.
Naquela época já tínhamos noção de que o Master
era um console inferior ao Mega e, na hora, notamos isso;
menos personagens, gráficos mais simples, apenas dois
cenários, mas quem disse que isso importou? Aquilo era
Mortal Kombat, na minha casa, no meu videogame e lá
estava aquele "Bruce Lee” e aqueles ninjas coloridos. O
entusiasmo foi tanto que chamamos meu pai para ver: -

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

“pai, pai, vem ver, aquele jogo que parece um filme.


Também tem para o meu videogame!"
Alugamos muitas e muitas vezes, compramos
revistas, tentamos os fatalities e, mesmo a versão do
Master sendo inferior, jogamos muito e sem medo de ser
feliz. Depois, através de um comercial na tv, também
descobrimos que existia o MKII para o Master System,
mas aí já e outra história...

Diego Fernandes Vieira, 33 anos, paulistano, formado em


administração de empresas, apaixonado por games, em especial, o
Master System.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

EM BUSCA DO FLIPERAMA PERDIDO


Sammis Reachers

Durante minha infância e primeira adolescência,


talvez o prazer maior, dos muitos que tínhamos, mesmo
pobres, eram os games. Digo muitos prazeres, pois, na
época (e isso a juventude de hoje precisa recuperar),
dosávamos as atividades ao ar livre com as virtuais.
Dentre as diversas amizades comuns à idade, cresci
mantendo um núcleo principal de três amigos – Wilson,
Ronaldo e Wilson – amizade que dura até hoje (tenho 41
aninhos já).
Jogar nos consoles era ótimo, mas a experiência
mais gratificante era, com certeza, os fliperamas. Primeiro
porque a qualidade dos games era melhor: se em casa eu
me debatia com um Phantom System, console nacional da
Gradiente que operava o sistema Nintendo 8 Bits, ligado
numa pequena TV em preto-e-branco, nos arcades eram
placas do então poderoso, quase divino, Neo Geo, e outras
placas (e jogos) fenomenais da Sega, Capcom etc.
Meus amigos e eu nos digladiávamos para
conseguir dinheiro para jogar algumas fichas. Era algo
religioso: Não podíamos passar um dia sem “pranchar”
ou “apertar uma ficha” – as gírias locais para jogar uma
partidinha. O ritmo era de franca fraternidade: aquele que
possuía grana no dia pagava para os outros. Com pena,
mas pagava... Por vezes, catávamos ferro-velho
(reciclagem) para conseguir algum money. Certa vez,
desconhecedores das leis ambientais, fomos para a mata
cortar lenha para vender a uma padaria que mantinha um

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

forno à lenha (graças a Deus hoje os fornos são elétricos


ou a gás!).
Quantas aventuras e andanças, em nossas velhas
bicicletas ou no poder das finas canelas, em busca de
novos fliperamas que abriam aqui e ali, e novos jogos que,
de quando em quando, chegavam! Amigos, naquele
tempo o momento máximo da experiência com arcades
era jogar numa cabine para QUATRO JOGADORES. Isso
mesmo! Elas eram raras e enormes, pois apenas alguns
jogos (geralmente de beat’em up) permitiam tal “luxo”.
Como era maravilhoso chegar no maior fliperama das
redondezas, ou ir até o shopping no centro da cidade de
Niterói (RJ), em conjunto com meus três amigos, e poder
jogar Tartarugas Ninja 2, Captain Commando, X-Men ou
mesmo Cadillacs and Dinosaurs. Era um pandemônio, um
arranca-rabo, um salseiro danado!!!
Cada um tinha seus personagens certos para jogar.
E a jogatina tinha lá sua estratégia: eu era quase sempre o
melhor jogador; assim, eu e mais um cuidávamos dos
chefões, enquanto os outros cuidavam da arraia miúda, os
retardatários que enchiam a tela na parte dos chefões. Por
ser o melhor jogador, às vezes, eu jogava com o pior
personagem, para equilibrar a aventura (no Captain
Commando, era o Baby; no Cadillacs, era a mulher ou o
Jack). Eram exercícios de estratégia em conjunto,
fraternidade e empatia. A regra geral era não deixar o
companheiro ser moído na pancada!
Pois hoje há quem diga (e acredite: naquela época
também!) que os games são instrumentos de solidão, que
encerram jovens em seus quartos e corações. Não creio

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

nisso. Fiz dezenas de amigos de perto e longe em minha


juventude, apenas frequentando fliperamas ou trocando
(por empréstimos) fitas de videogame Nintendinho,
depois CDs de Playstation 1 ou mesmo Dreamcast.
A amizade com meus amigos fortaleceu-se, em
muito, devido a essa convivência gamemaníaca. O tempo
gasto com jogos era tempo em que permanecíamos juntos,
estreitando nossos laços, nos conhecendo melhor, rindo,
discutindo, sendo mais humanos.
A Bíblia diz que há amigo mais chegado que irmão.
Esses meus amigos, os Três Mosqueteiros do Jardim Nazareth
(eu era o Dartagnan) foram, e de certa maneira são, os
irmãos que não tive, e devo isso, em parte, aos games.
Nossa relação se tornou mesmo familiar, e minha casa era
cidade aberta aonde eles vinham praticamente todos os
dias: dois deles, irmãos, perderam a mãe na infância e o
pai, desequilibrado, os renegou; outro perdeu o pai
igualmente ainda na infância. Hoje, os três, mesmo
absorvidos pelas responsabilidades da vida adulta e
morando um pouco distantes uns dos outros, não
deixaram de jogar seus consoles, e todos iniciaram seus
filhos no mundo dos games, e jogam com eles, mantendo
a corrente, construindo estratégias em conjunto, se
divertindo, dando do que da vida não receberam e sendo
o que pais e filhos devem ser: amigos.

Sammis Reachers – De Niterói/RJ, é poeta, escritor, antologista e


editor. Autor de sete livros de poesia e dois de contos. Professor de
Geografia no tempo que resta. Crente em Cristo, na amizade e no
grande valor da paz. Administra, dentre outros, o blog “Poesia
Evangélica”: http://poesiaevanglica.blogspot.com

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

AMIZADES E BONS MOMENTOS


Max Demian Brito Borges

Os videogames são mágicos, nos unem de


diferentes maneiras e sempre tem um jeito de nos dar
momentos felizes e não foi diferente comigo; muitos dos
grandes momentos da minha vida foram proporcionados
por essas caixas eletrônicas.
Apesar de ter memória fraca, eu consigo me
lembrar de algumas coisas e uma das que não sai da
minha cabeça foi o período da pré-adolescência.
Eu, quando mais novo, sempre ia à casa de um
amigo onde, além de muitas brincadeiras, nós jogávamos
videogames. Foi lá que joguei Playstation pela primeira
vez, mas ele se mudou e, com isso, perdi contato, não só
com ele, mas com o mundo. Era o único amigo que eu
visitava a casa. Tudo bem… eu quase morava lá, era todo
dia, mas todo dia mesmo, eu fico até pensando hoje em
dia o quanto eu “enchi o saco” da família dele.
Neste hiato de amizades eu conheci outro amigo, o
Rodrigo, com o qual repeti o mesmo ritual: ia quase todos
os dias na casa dele e o que a gente mais fazia? Jogava
videogame. Inicialmente a amizade veio por causa dos
Cavaleiros do Zodíaco pois eu gostava muito dos bonecos
e ele tinha uns bem legais, até hoje lembro-me do Pégasus
completo que tinha, mas foi só falar de videogames que o
mundo virou. Ele tinha um Master System e um Super
Nintendo, o mesmo que eu tinha, então a gente
emprestava cartuchos um ao outro e jogava direto, até que
o tempo foi passando.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Uma coisa que era engraçada é que o tempo passou


e a gente tinha consoles diferentes, alguns iguais, mas os
principais eram diferentes e, com isso, ao invés de rolar
briga pra ver quem era o melhor, o que invariavelmente
acontecia em um momento ou outro por pura bobeira, a
gente aproveitava pra poder aprender mais, jogar mais e
por fim, se divertir mais.
Nessa época eu tinha o Saturn, comprado com o
seguro desemprego do meu irmão, do primeiro trabalho
que ele teve, e esse meu amigo, Rodrigo, o Playstation.
Apesar de eu não conseguir facilmente jogos para o meu
console, tive muita coisa, até demais se considerar o ano
(por volta de 1997 e 1998). Até cartucho de expansão de
4Mb eu tive, e pude jogar aquelas conversões
maravilhosas de árcade, como Marvel vs Street Fighter,
Street Fighter Zero 3 e, claro, os The King of Fighters,
games que eu usava pra caçoar do meu amigo dono do
PS1 por conta da qualidade menor destes games no
console dele, porém, claro, no âmbito dos RPGs é que a
coisa mudava e o game que mais chamava nossa atenção
era o Final Fantasy VIII.
Eu um “seguista” relutante e, no início, não dei o
braço a torcer, achava que Final Fantasy era um jogo
muito cheio de frescuras e que só era feito pra vender, mas
foi aí que descobri os GFs no jogo. Os GFs eram criaturas
mitológicas que podiam ser invocadas pra ajudar na
batalha. Eram personagens próprios, com energia própria
e que tinham poderes muito únicos, algo que exigia
estratégia sobre qual usar e qual era melhor deixar com
cada personagem, então, eram sessões de teste pra ver

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

qual era o mais poderoso e legal. Quando eu vi o Efreet


pela primeira vez fiquei abismado em como um jogo de
RPG poderia ser daquele jeito e, o melhor, era um jogo
super empolgante! O fato de ser um RPG não tirava a
empolgação, o sistema de jogo fazia a gente ficar atento a
todo momento. Era preciso apertar a Bolinha como loucos
pra aumentar o poder do ataque do GF, a ponto de
desenvolver técnicas de como acelerar o processo. Um
ajudava o outro nos momentos em que tinha que parar e
continuar e isso era muito legal.
Mas aí eu chego ao alvo principal dessa história que
é o meu amigo Diogo. Ele tinha sim videogame, mas
gostava mesmo é de ir nas nossas casas jogar, afinal, jogar
entre amigos sempre foi mais divertido. Ele não tinha
acesso a estes consoles como a gente teve então, para jogar
Playstation ou Saturn tinha que ir a nossa casa e ele
sempre estava por lá com suas brincadeiras muito insanas,
mas tão insanas, que, até hoje, perduram alguns bordões
que proferia, bem como a insana risada que lhe é
característica.
Diogo gostava de jogar o que a gente jogava, então
ele sempre estava na mesma onda que nós, porém era tão
bom que zerava antes da gente, donos dos consoles!!! Citei
Final Fantasy VIII porque ele mesmo zerou antes do meu
amigo Rodrigo. Ele ia a casa dele quase todo dia com um
Memory Card que comprou, mesmo não possuindo o
console, só pra poder jogar sem atrapalhar os “saves” do
dono. Cada dia ia com um objetivo certo; como elevar os
“Levels” dos personagens, ir até alguma área específica ou
pegar algum item. Internet nessa época era algo escasso e

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

raro e, apesar da gente já ter acesso a alguma quantidade


de informação, era pouca então não servia pra
procurarmos algo relacionado ao jogo, por isso,
apelávamos para as revistas e era isso que o Diogo fazia e,
por incrível que pareça, ele terminou Final Fantasy VIII
tranquilamente. Numa época em que mal sabíamos inglês
e que a deduzíamos muita coisa pelo nome, até no jogo de
cartas que tinha dentro do game ele mandava muito bem
e tentava pegar todas que existiam no jogo. Sempre que
vejo Final Fantasy lembro-me dele.
Mas não ficou restrito só nisso não, ele zerou
Resident Evil no meu Saturn! Fez no mesmo esquema,
apesar de eu não ter a expansão de memória interna,
dividíamos bem os “saves” e ninguém gravava por cima
do “save” do outro. Ele zerou numa tarde de sábado com
a Jill Valentine. Quando atirou o lança mísseis no Tyrant,
fiquei sem acreditar como um cara que não tinha o
console podia jogar tão bem e zerar o jogo. Foi graças a ele
que consegui alguns equipamentos para o meu Saturn e
alguns jogos como, Deep Fear que, por ter a jogabilidade
de Resident Evil, ele queria muito jogar, algo que fez no
meu console e chegou bem longe.
Diogo continuou a tradição de jogar na casa dos
amigos e zerar jogos quando o Rodrigo conseguiu um
Playstation 2, modelo 39001, coisa mais linda! Apesar de
uma inicial revolta com o PS2 porque foi ele que enterrou,
de vez, o Dreamcast, console da Sega, com o tempo fui
gostando do aparelho e, hoje, é um dos meus preferidos.
Como o memory card deste aparelho era bem maior,
Diogo nem se preocupou em comprar um (que era bem

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

caro na época), e jogava vários jogos e os terminava.


Nunca vou esquecer quando jogamos Silent Hill 3 e ele,
medroso que era, toda hora pulava de susto com algo que
acontecia no jogo, mas convenhamos que esse game é bem
assustador mesmo.
O tempo passou, as prioridades mudaram e
naturalmente nos distanciamos. A vida adulta com as suas
responsabilidades nos fazem tomar rumos diferentes na
vida e isso faz com que tenhamos que focar nos objetivos,
mas nunca vou esquecer aquelas tardes de jogatina e
muita zoeira na casa do Rodrigo, junto com o Diogo.
Grandes amigos!

Max Demian Brito Borges – Formado em Análise e Desenvolvimento de


Sistemas, desde 2007 usa o pseudônimo de DMNSonic para interagir com o
mundo virtual. Atualmente possui canal no YouTube e procura sempre
conhecer coisas novas do mundo dos games, mesmo que sejam antigas e
adora uma gambiarra e caixas de papelão.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

O BOM DO VIDEOGAME
André Negrão

Na época de moleque eu estava sempre ligado no


videogame.
Quando estava jogando, ótimo, estava vivendo mil
aventuras, mas quando o console era desligado minha
mente continuava sintonizada nas aventuras digitais.
No colégio a professora vivia dizendo que eu era
muito distraído e que parecia estar sempre no mundo da
lua.
- Quase isso, tia. Era no mundo do videogame.
No meu bairro, meus amigos e eu nos
aventurávamos pelos muros e grades das casas, bem ao
estilo de Super Mario World, e a cada duas ou três delas,
descíamos do muro para uma batalha simulada com um
chefe, que ninguém via, só a gente.
Já quando saía com meu irmão, a coisa complicava.
Ele vivia se perguntando por que eu tinha que estar
sempre correndo, pulando, lutando e dependurando nas
grades.: - "Por que você não pode andar igual gente?"
Ao andar de carro eu era muito mais comportado,
afinal, ficava ali, quietinho, olhando pela janela. Já no
cenário, eu ficava imaginando um personagem estilo
Ninja correndo por cima das casas e carros, pulando e
fazendo acrobacias, até uma hora que a velocidade do
carro "prendia" meu personagem imaginário lá atrás, e ele
morria... Então eu imaginava outro chegando. Algo muito
semelhante aos jogos "auto-run" para celular de hoje em
dia.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Eu achava tudo isso muito maneiro. E queria ser


maneiro também.
Mal sabia que essas peraltices estavam me
aproximando de um dos maiores ícones do
desenvolvimento de videogames. Alguém que, assim
como eu, tem uma forma diferenciada de enxergar o
mundo ao seu redor: Shigeru Miyamoto
A série Zelda foi inspirada em suas aventuras
infantis, em especial quando descobriu uma abertura de
caverna, a qual demorou dias até juntar coragem para
explora-la.
Já o Chain Chomp da série Super Mario foi
inspirado em um buldogue vizinho, que latia e se
aproximava ferozmente até o limite de sua corrente.
Mais do que apenas experiências, cada uma dessas
aventuras despertavam sensações únicas, que jamais
seriam esquecidas. Com um toque de criatividade, suas
vivências se transformaram em jogos e personagens que
emocionam os jogadores e inspiram outros profissionais.
Essa inspiração se estendeu à mim, meio que de surpresa.
Tendo conhecimento desse processo, comecei a
puxar pela memória quais atividades da minha infância
poderiam desencadear uma boa ideia de jogo. Após
algumas tentativas, fiquei frustrado em não conseguir
uma boa ideia.
- "Não há nada interessante em minha história, pois passei
a infância inteira jogando videogame."
E foi nesse momento que tive a inspiração: - "É isso.
Farei um jogo sobre jogar videogame."

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Inspirado pelo processo de Shigeru Miyamoto,


acabei tendo a ideia inicial do que se tornaria o jogo de
tabuleiro O Bom do Videogame.
Todas as minhas aventuras de criança com os
videogames, das quais você já deve ter conferido algumas
na página do Facebook “O Bom do Videogame”, se
tornaram as experiências que eu usaria como base no jogo.
Com todo o cuidado, projetei as ações para que as
sensações de alugar uma fita ou implorar por um cartucho
de presente permanecessem intactas, despertando
emoções nostálgicas a qualquer um que já correu para a
locadora no fim de semana.
Shigeru Miyamoto me ensinou o caminho quando
disse: - "Meu cérebro é alimentado pela mente das
crianças."
Quando deixei meu cérebro ser alimentado por
minha criança interior, tudo se encaixou.
Muito obrigado, mestre!

André Luiz Silva Negrão – Game Designer, formado em Sistemas


de Informação e atua como criador de conteúdo na página de
Facebook O Bom do Videogame. Nascido em 1986, viveu toda sua
infância envolto em videogames, começando cedo suas aventuras
pelos "retrogames" no início de sua vida acadêmica. Hoje, por
intermédio do jogo de tabuleiro O Bom do Videogame, que simula a
vida de uma criança no início dos anos 90 que deseja ser o melhor
jogador de videogame do bairro, pretende levar nossa infância nas
locadoras para a mesa da sala e resgatar a época em que nosso
maior sonho era ser O Bom do Videogame.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

MEU TIO, OS GAMES E A NINTENDO


Nathan Rocha

Meu primeiro contato com os videogames ocorreu


graças ao meu tio Dudu, que considero como um irmão.
Na época, quando eu tinha 7 anos, ele me apresentou ás
tecnologias do momento, não só os jogos, mas também os
computadores e celulares. Até ganhei um celular da
Nokia, o famoso tijolão, no qual joguei muito o jogo da
cobrinha e, no computador do meu tio, joguei muito
Bomberman e Aladin do SNES, além de vários jogos,
como Angry birds.
Uma das cenas mais marcantes daquela época foi
quando ele arranjou um computador novo (novo para
mim, mas provavelmente era usado) com um papel de
parede com o símbolo da Umbrella de Resident Evi. Eu
ainda não conhecia o jogo, porém aquele papel de parede,
naquele PC com gabinete amarelado, marcou, minha vida.
Depois de jogar bastante Aladdin e Bomberman
com o meu tio, ganhei meu primeiro videogame como
presente de aniversário, foi o PS2, que estava competindo
diretamente com o Gamecube e o Xbox, porém, posso
assegurar que o PS2 foi o melhor entre eles.
No mesmo ano eu confiei em Cristo com meu
Salvador. Na época existia o clube Oanse na cidade (uma
espécie de escoteiros, mas na igreja), no qual eu me diverti
muito e ouvi do presente de Deus, a vida eterna e fui
salvo, pela graça de Deus.
Naquele ano, e nos seguintes, eu joguei muitos
jogos, muitos mesmo. Lembro-me de jogar clássicos como

[ 104 ]

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Super Mario World que rodava num emulador pro PS2, a


franquia Crash e o próprio Crash Team Racing, que foi
relançado recentemente como um remake, joguei Indiana
Jones and the Staff of Kings, além de vários jogos da série
Lego e do Bob Esponja também.
Após vários anos jogando no PS2, fui fazer um
trabalho de escola na casa de um colega (eu estava no
sétimo ano). Ele tinha um Xbox 360, fiquei fascinado com
aquela máquina, passei o trabalho inteiro vendo o pai dele
jogar e não ajudei direito no trabalho (rsrsrs).
Quando cheguei em casa fui correndo contar a
minha mãe sobre o novo videogame que tinha visto (que,
na época, nem era tão novo assim) e, messes depois, no
meu aniversário, ganhei o famoso console da Microsoft.
Essa foi uma época de muitos jogos FPS; conheci a
franquia Half Life, da qual, até hoje, espero o Half Life 3,
também conheci vários outros gêneros de jogos, como o
Stealth, em Sniper Elite. Foi então que ouvi falar de um tal
de Zelda num vídeo do YouTube, fiquei muito curioso
com esse nome, descobri várias coisas sobre a franquia e
comecei a jogar Wind Waker no notebook á sofridos
15FPS, quase uma tortura, mas eu gostei tanto do jogo, a
ponto de ir até o final.
Alguns anos depois encontrei um Wii U em
promoção, e consegui ganha-lo de aniversário, graças ao
meu desempenho exemplar na escola, e joguei vários
clássicos nele, vários emuladores e várias versões em HD
de jogos da franquia Zelda, como o próprio Wind Waker e
o Twilight Princess.

[ 105 ]

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Eu tinha começado a jogar alguns jogos de DS no


celular e no Wii U e comecei a interessar-me pela
plataforma. Algum tempo depois, encontrei um DS Lite
em boas condições no Mercado Livre e com um preço
baixo, usei um dinheiro que estava juntando há algum
tempo, e comprei o portátil. Inesperadamente, quando ele
chegou, completamente solto dentro da caixa de papelão
dos correios, sem nenhuma proteção, deu-me um frio na
barriga e um mau pressentimento, e, de fato, o pior
aconteceu; a tela de toque não estava funcionando...
Porém, mesmo assim, me diverti muito com o aparelho,
jogando, principalmente, jogos de plataforma, como
Castlevania e o RPG Dragon Quest Heroes: Rocket Slime,
que jogo até hoje no 3DS (que será citado mais á frente).
Alguns meses depois encontrei, numa loja da
cidade, um 3DS em ótimas condições. Consegui vender o
DS lite e, com o dinheiro dele e mais uma ajudinha de
minha mãe, comprei o novo portátil. Era o primeiro
modelo do 3DS que saiu, a versão de 2011, que,
particularmente, considero como a versão mais bonita até
hoje.
A partir daí comecei a minha coleção de jogos e
consoles, incluindo games de 3DS, PSP, Xbox 360 e PS2.
Hoje a coleção ainda está pequena, porem, já é o suficiente
para uma jogatina ou para jogar com os amigos e, neste
ano, com muito custo e dedicação, trabalhando por 5
meses seguidos, consegui comprar o Nintendo Switch.
Atualmente não disponho de muito tempo para
jogar por estar estudando para o Enem (tive até que sair
do emprego para poder estudar mais), jogo apenas aos

[ 106 ]

105
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

sábados e domingos ou quando encontro um tempo livre,


porém, esse é o custo para se conseguir uma boa
faculdade... Gosto muito de videogames e tudo começou
com o tio Dudu e seu computador.

Nathan Ferreira Rocha – Sou estudante do terceiro ano do ensino


médio, Cristão Batista, salvo pela graça e misericórdia de Deus, e
gamer desde os 7 anos de idade. Meu primeiro videogame foi o
Playstation 2. Sou fã de jogos do tipo campanha de um jogador, não
consegui me adaptar direito aos novos jogos multiplayer online mas
consigo ariscar em jogos de luta. Sempre fui aficionado por ciência e
tecnologia, gosto de ler quanto tenho tempo livre, aprecio gêneros
musicais como musica clássica e OSTs de games e filmes.

[ 107 ]
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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

DE VOLTA AOS CONSOLES


Abrahão Lopes

Durante minha infância e adolescência tive a


oportunidade de jogar na maioria dos consoles de
videogames lançados no mercado brasileiro: Telejogo,
Odyssey, Atari, Nintendo, Master System, Super
Nintendo, Mega Drive, etc.
Apesar de ter possuído apenas alguns deles, fui
cliente assíduo das locadoras da cidade em que morava;
Ceará-Mirim/RN, e em cada cidade que eu visitava nas
viagens com minha família.
Porém, minha relação com os videogames mudou
em 1994, quando fui estudar numa escola que tinha vários
laboratórios de informática, com dezenas de máquinas em
cada um deles. Comecei a aprender sobre esses
equipamentos incríveis, muitas vezes por iniciativa
própria, estudando em livros sobre MS-DOS 6.2 e
WINDOWS 3.1, que estavam disponíveis na biblioteca da
escola.
Claro que muito cedo descobri os jogos de
computador: Prince of Persia, Jazz Jackrabbit, Doom,
Warcraft, Raptor, Simcity, Cannon Fodder, Wolfenstein
3D, Indiana Jones and the fate of Atlantis, Another World,
Lemmings, e muitos outros que eram trocados em
disquetes de 3,5 polegadas, copiados pelos colegas da
escola.
Não era permitido jogar nos computadores da
escola, mas, por sorte, meu pai trouxe para casa um

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Pentium 233 e, assim, troquei os joysticks pelo teclado e


mouse.
Buscava aprender cada vez mais sobre os
computadores e fui me distanciando dos consoles.
Aprendi sobre o hardware, comecei a escrever programas,
usar a internet, fazer páginas web, editar textos,
manipular imagens, e muitas outras coisas que eram tão
atraentes que me tomavam o tempo antes usado para
jogar.
Claro que eu não desisti dos jogos. Nos fins de
semana levava minha "cpu", o monitor, estabilizador,
teclado, mouse, cabos, extensões e tudo mais para a casa
do amigo Giuliano e, junto com vários outros conhecidos,
ligávamos os computadores em rede - umas 6 ou 8
máquinas ao todo - e passávamos da sexta à noite até o
domingo à noite jogando Quake, Starcraft, Diablo, Age of
Empires, Worms, Warcraft 2 e muitos outros games, tanto
single player quanto multiplayer.
Era muito divertido! Comprávamos baldes de
sorvete, muitos litros de refrigerante, biscoitos,
salgadinhos, pizza, sanduíches e outras comidas nada
saudáveis que todo adolescente adora.
Certo dia alguém apareceu com um Playstation por
lá, com o jogo Resident Evil. Enquanto alguns se
espremiam em frente da TV, passando o controle de mão
em mão, continuei firme nos jogos do PC, mesmo dando
uma conferida de leve nos consoles que chegavam às
locadoras ao longo dos anos: N64, Saturn, PS2, etc.
Essa minha fase do PC iniciou durante o ensino
médio, passou por todo o período da faculdade e pelos

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

primeiros anos de casamento, quando eu já havia


adquirido um notebook e ligava-o em rede com o PC
desktop para jogar com minha esposa.
Houve também a fase dos emuladores. Quando
descobri que era possível rodar os games dos antigos
consoles no PC, eu simplesmente pirei! Baixava de tudo
na internet e consegui conferir jogos maravilhosos que eu
só via nas revistas, entre eles o fantástico “EVO” do Super
Nintendo, que você começa com um peixinho no fundo do
mar e vai evoluindo através de diversas espécies de
animais até se tornar um humano.
Vi toda a biblioteca do Neo Geo, jogos de portáteis
como o Lynx, Gameboy, Game Gear, e até mesmo os
clássicos do Playstation usando os emuladores Bleem! e
VGS. Tudo isso no PC. Não sentia nenhuma falta de ter
um console. Até comprei um Gameboy Advance que
aproveitei por certo tempo, mas que acabou encostado
numa gaveta.
Porém tudo isso mudou num dia em que minha
esposa resolveu fazer uma atividade em nossa casa com
alguns jovens que eram seus alunos no seminário da igreja
que frequentamos. Uma das moças trouxe o Nintendo Wii
para jogarmos e então meus olhos brilharam como diante
de um tesouro. Foi paixão à primeira sacudida de joystick!
Enquanto os jovens estavam envolvidos em outras
atividades, fiquei ali junto ao console, olhando os jogos,
“sentido” a jogabilidade com os controles de movimento
do aparelho em minhas mãos, simulando esportes como
Tênis, Golfe e Baseball. Relembrei momentos
maravilhosos dos games de 8 e 16 bits do querido

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

encanador bigodudo, jogando o New Super Mario Bros., e


fui verdadeiramente “fisgado”.
Passei dias e mais dias pensando no Wii. Olhei
dezenas de sites em busca de uma oferta que coubesse no
meu orçamento, pois queria ter um console daqueles.
E foi em Maio de 2011, num anuncio no EBAY que
encontrei o que eu procurava: um aparelho usado, sem
caixa, mas em ótimas condições, controle perfeito e o jogo
Wii Sports incluído. Paguei 99 dólares + frete. Na época o
dólar valia cerca de R$ 1,60, então foi um ótimo negócio.
Demorou quase um mês para chegar, e ainda tive
que pagar imposto nos Correios, mas foi muito
emocionante, depois de 17 anos no PC, ter um console
novamente.
Curti o máximo que pude! Comprei mais um
controle, vários acessórios, consegui vários jogos e joguei
muito! Zelda Twilight Princess, Mario Galaxy, Wii Sports
Resort, Mario Kart, Kirby, Mario Party, Resident Evil 4,
Wii Party, Just Dance, Metroid Prime 3 dentre outros. Foi
muito bem aproveitado.
Alguns anos depois o Wii começou a perder a
força, sendo ofuscado pelos novos jogos com gráficos bem
mais realistas, tanto do XBOX 360 quanto do Playstation 3.
Era notável a diferença de qualidade nos títulos
multiplataforma que também saiam para o Wii.
Passei a pesquisar sobre o X360 e PS3 e depois de
muito estudo (e um empurrãozinho de alguns amigos)
acabei optando por adquirir XBOX 360. Novamente
aguardei uma boa oportunidade para comprar o aparelho,
mas ela demorou a aparecer. Demorou tanto que a

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Microsoft lançou outro modelo, o XBOX 360 Slim, esperei


o preço dele baixar e acabei comprando o modelo com HD
de 250GB nas lojas Americanas, numa mega promoção,
por R$ 799,00 (parcelado, claro). Quase o triplo do valor
que paguei no Wii, então teria que ser ainda mais
aproveitado. E realmente foi!
Como a grana era curta, demorei para comprar
jogos, mas me virei muito bem com as centenas de
demonstrações disponíveis na Xbox Live. Praticamente
todo jogo tinha uma "demo", bem diferente de hoje em dia
que as produtoras só mostram vídeos e fotos. Baixei umas
150 demos no HD e joguei um pouquinho de cada coisa.
Foi legal, mas não era verdadeiramente um jogo, sempre
ficava o gostinho de quero mais.
Consegui o Resident Evil 5 com um aluno da escola
onde ensino e, durante muito tempo, foi o único jogo que
eu tinha. Zerei em todas as dificuldades e peguei quase
todas as conquistas (faltaram apenas algumas multiplayer,
pois eu não era assinante da Live Gold pra poder jogar
online).
Depois comecei a comprar alguns jogos digitais no
eBay, a Microsoft passou a dar jogos grátis para os
assinantes Gold (aí eu assinei, hehehe), conheci outros
proprietários de Xbox com quem podia trocar os jogos
zerados e a coleção foi crescendo.
Mas não parei por aí. Quis também ter outras
plataformas e comecei a adquirir outros consoles,
principalmente os mais antigos, das gerações 8, 16 e 32
bits. Iniciei o projeto do Museu do Videogame de Mossoró

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

e, com ajuda de dezenas de colaboradores, cheguei a ter


quase todos os consoles lançados no Brasil.
Após alguns anos o projeto do museu acabou e me
desfiz da maioria dos consoles, mas ainda guardo com
carinho o Wii, que é frequentemente usado por meu filho
de 4 anos que adora jogar o boliche do Wii Sports; o Xbox
360, que a maior parte do tempo é usado apenas para
assistir filmes e séries no app da Netflix; e o Xbox One,
esse sim é usado diariamente pela família inteira,
alternando entre apps de vídeo e os mais de 700 jogos
disponíveis na minha biblioteca digital, sem contar com os
serviços de assinatura que aumentam ainda mais esse
número.
Eu até tentei voltar a jogar no PC, diversas vezes,
pra ser sincero. Instalei o programa da Steam, adquiri
muitos jogos nas fantásticas promoções que acontecem
periodicamente, além dos pacotes quase de graça do site
Humble Bundle, mas não me acostumo mais a usar
teclado e mouse pra jogar. E mesmo ligando o joystick do
Xbox One no PC, ainda sinto que falta alguma coisa.
Tenho o mesmo sentimento com consoles portáteis
e smartphones. Tentei o Nintendo DS, Dingoo, PSP, 3DS,
joysticks bluetooth para jogos no Android, etc., mas nada
disso me traz o mesmo prazer de estar sentado
confortavelmente no sofá, em frente a uma tela enorme,
segurando com firmeza o controle na mão, tendo precisão
nos comandos, sem me preocupar se o próximo jogo
comprado vai rodar ou não por causa da memória ram da
placa de vídeo… no console é só baixar e jogar.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Há uns 8 anos atrás, eu não imaginava que um dia


voltaria a ter um console de videogame. Estava muito
satisfeito jogando no PC. Quem diria que uma balançada
no controle do Wii mudaria tudo?!

Abrahão Lopes – Mestre em Ciência da Computação e professor do


Instituto Federal do RN. Fã de jogos eletrônicos desde os anos 80, já
desenvolveu vários projetos voltados para os games, como o Museu
do Videogame de Mossoró, e é autor do livro Memorial Locadoras
& Fliperamas.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

OS SHAKE BROTHERS
Ítalo Chianca

Sonho inesperado
Enquanto hoje em dia os crossovers são bastante
comuns, sonhar com uma junção de universos na década
de 1990 era coisa rara e inusitada. Lembro com muita
clareza do alvoroço que foi na locadora quando o senhor
Toinho falou que tinha comprado um game com os
personagens de X-Men e Street Fighter lutando uns
contra os outros.
Ninguém acreditava enquanto não via. Como assim?
Ryu contra Ciclopes? Não tem como. Todos diziam. Mas
bastava ela puxar o CD nº 42 dos jogos
de PlayStation para a galera delirar de emoção com
aquele game cheio de efeitos luminosos, poderes que
tomavam toda a tela e uma seleção completamente
inusitada de personagens.
Em pouco tempo, X-Men vs Street Fighter era o
disco mais jogado da locadora. Foi uma febre sem
precedentes, contagiando os fãs das lutas virtuais e até a
turma que não tinha muita familiaridade com o gênero,
devido a facilidade de aplicar os golpes, combos e
especiais.
Febre anual
Com o sucesso de X-Men vs Street Fighter, os jogos
de super-heróis eram a nova sensação da locadora. Até o
Super Nintendo, que já perdia espaço para os consoles de
32-bit na época, teve o interesse renovado por parte dos

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

jogadores que voltaram a atenção para o ótimo X-Men:


Mutant Apocalypse.
Entre 1998 e 1999, era difícil entrar na locadora e
não dar de cara com uma disputa frenética de X-Men vs.
Street Fighter ou Marvel Super Heroes vs. Street Fighter.
Esse último, aliás, foi o responsável por algumas das
minhas maiores derrotas nos videogames para o meu
amigo Anderson.
A mania dos crossovers, contudo, encontrou o seu
auge na locadora do Toinho na primeira metade da
década de 2000. Com gráficos lindíssimos, fases incríveis,
músicas alucinantes, uma seleção incrível de personagens
e uma jogabilidade fluida e acessível, o game conquistou o
coração dos jogadores. Entre eles, dois dos meus primos,
os famosos Shake Brothers.
Mania de tremer
As locadoras de videogame eram um reduto de
figuras inusitadas. Bastava passar alguns minutos no
templo sagrado da diversão para se deparar com
riquinhos que alugavam todos os jogos, moleques que
estavam sempre com o uniforme da escola por baixo da
camisa (os matadores de aula), os sem-grana que sempre
pediam para jogar de dois, e tantos outros.
Existiam inúmeros perfis de jogadores. Mas quando
o assunto é Marvel vs Capcom, é impossível, para mim,
não associar o jogo ao perfil de jogador que se move
conforme a ação. Assim eram os meus primos,
principalmente quando a disputa era entre super-heróis.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Os Shake Brothers moravam na zona rural de São


José do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte. Eles
vinham para a cidade aos domingos, com os pais.
Enquanto meus tios faziam as compras, eles ficavam na
locadora se divertindo. Mas bastavam apenas alguns
minutos de jogatina para eles se transformarem no centro
das atenções.
Era impossível se controlar vendo os dois jogando.
Até porque eles mesmos não se controlavam. A cada
movimento na luta, os dois reproduziam os sons e gestos
dos lutadores na tela. Gritos de dor, efeitos sonoros e
gestos iguais aos poderes eram emitidos sem parar nas
frágeis cadeiras de plástico. A loucura tomava conta do
recinto.
Terror na locadora
Em uma de suas habituais jogatinas frenéticas de
domingo, os dois, ainda mais enlouquecidos, socavam e
chutavam o ar enquanto lutavam em Marvel vs Capcom.
A locadora toda observava os movimentos. Gritos de dor
e nomes de golpes completavam a emoção.
Não tinha uma única pessoa na locadora que não
estivesse rindo descontroladamente da cena. A cada golpe
na tela da TV, um golpe correspondente era reproduzido
na vida real. Alguns desses “poderes” passavam raspando
em quem observava de perto o duelo dos dois. Doideira,
né? Mas o que antes era motivo de risada, calou a
locadora logo em seguida. Em um ato desesperado para
virar a luta, quando o combate parecia se encaminhar para
o fim, um dos irmãos desferiu um chute certeiro. Mas não

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

no personagem adversário. O chute foi em cheio na


bancada na qual o Playstation ficava.
O chute foi fatal, jogando o aparelho bem alto.
Todos na locadora acompanhavam a trajetória do PS1
voador, incrédulos, e em completo silencio. Pouco a
pouco, quase em câmera lenta, o videogame foi se
desconectando dos cabos até se chocar contra uma parede,
onde se estraçalhou.
Destruição
Quando bateu na parede, o Playstation se
desmontou inteiro, jogando peças, fios, cabos e CD para
todos os lados. O ocorrido pareceu congelar a locadora.
Ninguém se mexia. Não até começarem a tomar
consciência do ocorrido. Aos poucos, a turma olhava para
o videogame. Depois para Toinho. Novamente para o
Playstation destruído. E por fim para um Toinho
enfurecido, o qual, do balcão central, Toinho soltou sua
caderneta, olhou rapidamente para tudo que havia
acontecido naquele momento, e gritou, como um leão: -
“Vocês vão quebrar tuuuuudo, seus moleques malditos?”.
Depois do grito, a locadora se transformou num
circo de maluquices. A molecada começou a gritar sem
parar. Outros corriam em todas as direções. Se já não fosse
o suficiente, até uma briga generalizada começou, com
todos se batendo, sem motivo. O quebra-quebra foi geral.
Estava difícil para Toinho retomar o controle da
locadora, pois todos estavam se divertindo com a ocasião;
o Playstation quebrado, meus primos chorando porque
pensavam que teriam que pagar pelo videogame e a

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

garotada toda vermelha da briga. Mas Toinho foi esperto.


Apelou para o ponto fraco de todos ali. No instinto, ele
gritou: - “Vou suspender todo mundo aqui por uma semana se
não pararem”.
A voz do dono da “bagaça” acertou em cheio cada
um no meio da confusão. Rapidamente todos se
acalmaram, pararam a baderna e correram para a rua, em
um efeito que parecia ter sido provocado por bombas de
efeito moral. Até os meus primos sumiram no meio da
correria, e, inclusive, não voltaram nunca mais.
Saldo da Guerra
Com um Playstation a menos na locadora, alguns
sujeitos suspensos, Toinho irado, dois irmãos
traumatizados e os jogos da série Mavel x Capcom
barrados da jogatina, o saldo da guerra foi devastador.
Além disso, as regras na locadora do Toinho
ficaram ainda mais rígidas: Não podia fazer barulho
enquanto jogava, quem quebrasse qualquer coisa, teria
que pagar e brigas eram estritamente proibidas. O velho
endureceu. Mas nada melhor do que algumas leis para
manter o bom convívio, não é?
O que ficou na memória, contudo, foi o momento
mágico de confusão generalizada provocada por dois
irmãos incontroláveis na jogatina de Marvel x Capcom.
Bons tempos de locadoras…

Ítalo Chianca – Historiador por formação, mas gamer por paixão, é


redator do Jogo Véio, onde escreve sobre jogos clássicos, e escritor
independente, autor dos livros Videogame Locadora, Os videogames e
eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

CINEMA OU FLIPERAMA
Rodrigo Reche

Em 1991 eu estava no auge dos meus dez anos,


cursando a quinta-série do ensino fundamental. Nos
cinemas de São Paulo estava estreando o filme Corra que
a polícia vem aí 2 e ½ com o mestre Leslie Nielsen.
Uma garota da minha sala, com a ajuda dos seus
pais, convidou uma turma de amigos para irmos ao
cinema assistir ao filme.
Seu pai faria o serviço de translado. Deixaria toda a
turma no cinema no horário de início do filme e, depois,
nos buscaria ao fim da sessão. O cinema escolhido era o
antigo Cine Vitória na cidade de São Caetano do Sul.
Fiquei animado com a ideia, afinal de contas, era a
primeira vez que eu teria a chance de ir ao cinema sem os
meus pais. Sentia-me quase um adolescente.
Além da permissão para ir meu pai também me
deu dinheiro para comprar o ingresso e também algum
extra para a pipoca e refrigerante.
Chegamos ao cinema e o pai da minha amiga
desembarcou o pessoal e foi embora. Corremos para a
bilheteria a fim de comprar os ingressos, mas, para nossa
decepção, o filme não seria exibido naquele dia. Sim,
erramos o dia.
Naquela época ainda não havia telefone celular,
então, só nos restava aguardar na porta do cinema até o
horário combinado, para que alguém viesse nos buscar.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Depois de alguns minutos, e já entediado por não


ter nada o que fazer, resolvi dar uma volta e ver o que
havia nas proximidades do cinema.
Foi então que, para minha surpresa e felicidade,
descobri que havia um enorme espaço com vários Arcades
anexo ao cinema.
Era bom demais para ser verdade. Afinal de contas,
quando eu teria outra chance como aquela de passar um
bom tempo em um fliperama com meus amigos da escola?
Justamente por ser muito novo eu não podia
frequentar esses lugares sozinhos e meus pais não me
levariam em uma situação normal.
Não pensei duas vezes, chamei a galera da escola e
fomos nos divertir, afinal de contas, teríamos que esperar
cerca de duas horas e estávamos todos com dinheiro, já
que ninguém havia comprado os ingressos.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi um
Arcade da Konami com os Simpsons desenhados na
lateral e uma enorme mesa de controles para 4 jogadores.
Os Simpsons era o maior sucesso em 1991, estavam em
praticamente todos os produtos consumidos pelas
crianças, como álbuns de figurinhas, chiclete, brinquedos
etc. Sem ao menos raciocinar comprei algumas (muitas)
fichas e fui jogar.
Um dos meus amigos jogou comigo. Eu acabei
escolhendo a Marge e fiquei um pouco triste com isso,
afinal, queria o Bart, mas não sabia que a escolha
dependia de qual slot eu inseria a ficha.
O jogo era lindo, tinha uma cara de desenho
animado, e a possiblidade de jogar com mais três pessoas

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

era o máximo. Aqueles sprites grandes e coloridos eram


fantásticos. Obviamente que, por ser minha primeira
jogatina, a ficha não durou muito. Mas isso também não
foi um problema. Eu estava com os bolsos cheios.
Ficha após ficha fui avançando, com meus amigos
no jogo e agora já podendo escolher personagens
diferentes. Jogamos muito naquele dia. Não deu para
terminar o game porque num determinado momento
resolvemos experimentar as outras máquinas do lugar.
Jogamos de tudo. Foram momentos de muita risada
e diversão com o pessoal da quita-série.
No horário combinado o pai da minha amiga
chegou para nos buscar e explicamos o que tinha
acontecido. Sem entender muito bem como conseguimos
errar o dia do cinema ele nos levou para casa.
Ao chegar em casa, meu pai estava me esperando e,
ansioso, me perguntou sobre o filme. Expliquei que
havíamos errado o dia do cinema. Ele ficou aliviado por
saber que todos estavam bem, mesmo tendo que esperar
tanto tempo do lado de fora do cinema.
Foi então que me pediu o dinheiro de volta. Na
mesma hora um calafrio percorreu minha espinha.
Congelei e não respondi nada, afinal eu não tinha dinheiro
para devolver. Qual foi a parte da história que ele não
tinha entendido? Ele realmente achava que tinha sobrado
algum dinheiro? Pensei.
Ele ficou furioso. Disse-me que o dinheiro era para
o cinema e não para gastar com videogames. Que eu tinha
sido irresponsável e ele estava desapontado.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Não pude deixar de sentir um pequeno


arrependimento, mas logo passou, afinal de contas, a
diversão tinha valido a pena. Não fosse por isso vocês não
estariam, hoje, lendo essa crônica.
Até hoje, quando vou jogar The Simpsons para
Arcade, que é um dos meus jogos preferidos, lembro-me
desse dia. Bons tempos!

Rodrigo Reche – Oi, eu sou o Rodrigo! Roreche para os íntimos.


Sou completamente apaixonado por Videogames e fã inveterado dos
Engenheiros do Hawaii. Ganhei meu primeiro console, um Atari 2600,
do meu pai em 1984 quando eu ainda tinha 3 anos de idade. Foi
paixão a primeira jogada. Desde então passei por diversos consoles
de todas as gerações, mas ainda guardo um carinho especial pelos
consoles antigos e ainda hoje passo horas jogando os clássicos das
gerações passadas. Autor do livro “VIDEOGAMES: Crônicas de um
jogador” e colunista nos sites Fliperama de Boteco e Nintendo
Lovers.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

CAVALEIROS DO ZODÍACO
Sétimo Sentido na Base do Durex
Cleber Marques

Quando eu tinha 11 anos a grana era MUITO curta,


mas eu tinha a sorte de que meu pai trabalhava como
camelô e ia toda semana para o Paraguai. Isso era sorte?
Era sim, pois quaisquer 5 reais naquela época davam pra
comprar um cartucho pirata de Nintendinho no Paraguai.
Ainda me lembro de um mês em que juntei uma grana, fui
com meu pai viajar pra lá e fiz a festa!
COMPREI UM LOTE
O ano era 1994, não lembro o dia nem o mês, e em
uma das viagens que meu pai fazia toda semana fui com
ele pra poder “investir” o meu dinheiro em cartuchos de
Nintendinho. Eu já tinha uma caixa de sapatos cheia deles,
o que pode não parecer muito, mas, pra mim na época, era
o máximo. O final de semana chegou, lá fomos nós
para Foz do Iguaçu, atravessamos a Ponte da Amizade e
meu pai começou a fazer as compras dele, uma lista de
pedidos dos seus clientes e tudo o mais.
Eu só pensava nos meus jogos e, em menos de 3
horas, meu pai terminou o que precisava fazer e era a
minha vez de comprar. Sempre que entrava numa
daquelas lojas com milhares de cartuchos coloridos
empilhados eu “pirava”, e daquela vez não foi diferente,
porém eu tinha dinheiro, não era muito, mas era meu. Já
estava com a lista na cabeça do que eu queria comprar e as
que eu levei foram: World Heroes, Fatal Fury, Mortal Kombat

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

e Cavaleiros do Zodíaco. Finalmente gastei meus 20


reais que demorei tanto para juntar e estava feliz da vida.
A NOVIDADE POR UMA SEMANA
Já em casa, passei a semana toda voltando da escola
rápido que nem uma bala pra poder jogar meus cartuchos
novos. Era muita diversão, só jogos de luta, tirando o dos
Cavaleiros. A maioria deles eu terminei durante a semana
mesmo, porém o cartucho dos Cavaleiros do Zodíaco era
algo mais elaborado, pedia tempo, dedicação, e eu estava
pronto pra isso. Moleque de tudo, o que eu tinha pra fazer
depois de estudar era apenas jogar. Desafio aceito! Início
do jogo, história começando na primeira das 12 casas...
No primeiro final de semana com os jogos, meu
primo Emerson foi me visitar. Quando ele chegou não o
esperei nem entrar em casa direito e, ao abrir o portão, já
falei que eu tinha comprado o jogo dos Cavaleiros do
Zodíaco. Lembro como se fosse hoje ele me
perguntando “Cabeção, tem certeza? Pois eu acho que você
comprou um jogo chamado Dragon Ball”.
Eu sabia muito bem o que era Dragon Ball e
também que o jogo que eu tinha comprado era Cavaleiros
do Zodíaco, no entanto era tão fácil naquela época alguém
confundir os dois, tanto que meu primo estava certo em
ter ficado desconfiado, mas a dúvida acabou rápido, logo
depois que mostrei o cartucho pra ele. Preciso dizer que
ele “pirou” também?
DOIS GRANDES PROBLEMAS
Como a ida do meu primo na minha casa era pra
me buscar e ir passar as férias na casa dele, lá fomos nós,

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

mala pronta, cartuchos na mochila e tchau. Passamos


muito tempo jogando todos os cartuchos, junto com
outros dois amigos nossos que moravam próximo ao meu
primo, o Osvaldo e o Clayton. Porém, mais uma vez,
sobrou o CDZ pra terminar. A gente ia passando aos
poucos, aprendendo as manhas e entendendo o jogo.
Nossa tática era usar o cavaleiro em cada tela de
acordo com o anime pra passar as fases, por exemplo,
contra o Máscara da Morte íamos com o Shiryu na tela.
Funcionou bem a tática, porque cada personagem tinha
vantagem com o mestre da tela se escolhido conforme o
anime.
A gente tinha dois problemas com o CDZ de
Nintendinho. O primeiro não conseguimos resolver e
acabamos nos adaptamos a ele, que era o lance
dos PASSWORDS. Caramba! Que difícil era anotar
aquilo, cerca de 20/30 letras em JAPONÊS, era MUITO
FÁCIL anotar algo errado e não funcionar quando
fossemos usar.
Hoje em dia, seria simples; só tirar uma foto com o
celular, mas estávamos em 1994, e o que fizemos então foi
anotar com calma, conferir e ter certeza de que não estava
nada errado. E, para “ajudar”, as letras eram
em Hiragana, nem pra ser o Katakana que, visualmente,
seriam mais simples de anotar.
Controle do Turbo Game, a arma para o Sétimo Sentido.
O segundo problema a gente resolveu, LIKE A BOSS, que
era o fato de precisarmos de SEVEN SENCE, ou seja, a
gente precisava de “Sétimo Sentido”, que, neste jogo, nada
mais era do que o “enchedor” para nossa barra de energia.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Este Sétimo Sentido se conseguia passando por um


mestre ou matando inimigos na tela, neste último caso o
ganho de pontos era muito baixo, mas era uma
alternativa.
Falando em matar inimigos, o jogo do CDZ pra
Nintendinho tinha uma característica bem interessante,
que era a seguinte: se você ficasse parado por muito
tempo num mesmo lugar, pedras começavam a cair do
céu em cima da sua cabeça e a tirar sua energia, logo, isso
nos impossibilitava de ficar matando inimigos parado,
tínhamos que ficar movendo o personagem pra lá e pra cá.
O TRUQUE DO DUREX
Foi então que descobrimos algo legal. Na tela do
Máscara da Morte, quando ele te manda pro outro
mundo, você tem que passar uma tela inteira até voltar à
sala dele para finalmente lutar e tentar passar o mestre,
mas, um pouco antes de chegar no final desta tela no
outro mundo, havia um canto específico que ao deixar o
personagem parado, aquela pedra que caia do céu não ia
direto na sua cabeça e, sim, um pouco a sua frente e se
você apertasse o botão de soco o personagem acertava a
pedra, o que dava 1 (um) ponto de Sétimo Sentido. Bingo!
Era o que a gente precisava, foi onde deixamos o
personagem parado e colocamos um durex no botão do
controle para que, a cada pedra caída, a gente ganhasse 1
ponto. Com a engenhoca montada, mantivemos o
videogame ligado por 1 dia e meio, torcendo pra ninguém
desligar ou encostar e dar um tilt. Ficamos acompanhando
os pontos subirem, e claro que, neste meio tempo, a gente

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126
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

saía, via TV, dormia e etc. Depois desse tempo todo a


gente tinha Sétimo Sentido de sobra e garanto que isso
facilitou nossa vida dali em diante.
Gameplay de Saint Seiya Ougon Densetsu.
Continuamos tela a tela, perdemos algumas vezes,
aprendemos como passar dos mestres e, finalmente,
terminamos Os Cavaleiros do Zodíaco para Nintendinho.
Como era normal passar férias na casa dos meus primos,
eu terminei uma vez o jogo e o meu primo terminou
outra, a gente sempre revezava as jogatinas do mesmo
jogo, quase que um jogando de manhã e o outro de tarde,
era muito legal. Missão concluída!
BATEU UM ARREPENDIMENTO
Uns 3 anos depois, comecei a vender meus
cartuchos de NES e SNES porque eu queria comprar o tal
de ULTRA 64 que seria lançado pela Nintendo (conto esta
história depois) e, com isso, fui vendendo aos poucos a
minha coleção. Eu deixava os cartuchos na banca do meu
pai (lembra, ele era camelô) e ia vendendo fácil, fácil, e, no
dia em que coloquei o CDZ lá pra vender, o cartuchinho
amarelo saiu rápido.
O moleque que comprou era até conhecido, eu o via
durante o intervalo numa escola que eu estudei, mas não
era amigo meu até então. O cara pagou 15 reais e sumiu
no horizonte, levou o meu cartucho.
Telas do jogo Saint Seiya Ougon Densetsu. Eu já tinha
vendido MUITOS cartuchos ali, mas nenhum antes tinha
me dado aquele nó na garganta. Caramba, como eu me
senti mal vendendo o meu CDZ, estava quase chorando,

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127
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

me arrependi muito. Porém, por conta do destino, o cara


voltou cerca de uma hora depois dizendo que o cartucho
não tinha funcionado no videogame dele, não pensei duas
vezes, já fui logo devolvendo o dinheiro, expliquei que
podia ter algum defeito mesmo e não tinha problema a
devolução, o motivo perfeito para eu pegar o jogo de
volta. Fiz a devolução imediatamente, a sorte não bate
duas vezes e, desta vez, aproveitei que estava com ela.
Guardei o cartucho no bolso e levei de volta pra casa.
AINDA FAZ PARTE DA COLEÇÃO
Depois daquele dia, nunca mais pensei em vender o
meu cartucho do CDZ, vendi muitos outros, comprei
outros tantos, mas este não saiu mais de perto de mim.
Está velho, marcado, mas está comigo, ainda faz parte da
minha coleção. Escrevi essa matéria com o cartucho aqui
do meu lado, onde deixo os jogos que normalmente uso
no meu Turbo Game, sensação boa demais. Tenho muitas
histórias para contar sobre estes anos incríveis, que serão
publicadas, futuramente no site da WarpZone. Fique
ligado lá!
Nota do redator: O jogo do CDZ que eu falo nesta matéria é o
Saint Seiya Ougon Densetsu Kanketsu Hen lançado em 1988, o
que trata sobre os cavaleiros de Ouro. Vale lembrar que, antes
desse, foi lançado em 1987 o jogo Saint Seiya Ougon Densetsu.
Cleber Marques – Criador da WarpZone, um projeto independente
que registra a história dos videogames no Brasil dos anos 80 e 90
através de livros e revistas impressas e diversos outros canais de
mídia. Idealizador da iniciativa “Casa do Videogame” e do evento “Dia
do Videogame” é colecionador e entusiasta de revistas antigas com
mais de 3 mil exemplares catalogados.

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128
Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

A PRIMEIRA LOCADORA DE ATARI 2600


Marcus Garrett

No início de 1984 em São Paulo, num período em


que as aulas já haviam começado, papai chegou com uma
notícia super legal: - “Você sabia que abriu um negócio
desses de videogame na Lins, lá perto da casa da avó?”.
“Negócio de videogames?”, respondi. “Sim, eles
emprestam jogos acho, vamos lá ver?”, foi a resposta de
meu pai. Claro, não é? Que pergunta! Fomos a pé ao local,
pois era próximo de casa, na realidade, ficava perto da
casa da minha avó e da minha tia, mais precisamente, no
bairro Jardim da Glória.
WarGames Vídeo, este era o nome da primeira
locadora de videogames – e de filmes – que tive a chance
de ver. Funcionava em um sobrado na Avenida Lins de
Vasconcelos, número 2.340, a caminho da Vila Mariana. O
pavimento térreo continha a parte de jogos, no andar de
cima encontravam-se as fitas de vídeo, a maioria, acredito,
já no padrão VHS. No auge de meus quase 11 anos de
idade, a locadora parecia ser imensa, gigantesca. Do lado
esquerdo, se bem me lembro, havia uma espécie de
fichário preso à parede no qual dezenas de "fichinhas"
coloridas pairavam imóveis até que fossem escolhidas por
alguém. Acredito que as fichas eram divididas em temas
(ação, corrida, esportes etc.) e traziam o nome e uma breve
descrição de cada cartucho de Atari à disposição em dado
momento – se determinado título não constasse nas fichas,
o cartucho estava alugado. Pode-se dizer que se tratava de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

um sistema simples, mas funcional. Para fins de


transporte, os jogos eram acondicionados em pequenas
caixas plásticas cujo cheiro era bem característico, ainda
sou capaz de senti-lo com minha memória olfativa!
Papai e eu fomos à WarGames por bastante tempo.
A ida à locadora era praticamente um ritual de todas as
sextas-feiras após o colégio. A perua escolar me deixava
em casa, almoçávamos e íamos para lá, mas, às vezes,
íamos antes do almoço. Lembro-me de ter alugado
diversos cartuchos; eis alguns dos que guardo na
memória: Atlantis, Bank Heist, Flash Gordon, Superman,
Spider-Man, Moonsweeper e Decathlon. Saliento que
descobri estes jogos com as locações, eles eram novidade
naquele momento, inéditos! As segundas, eu ia à escola e
papai à locadora para efetuar a devolução. Curiosidade: a
seção de filmes em VHS, no segundo andar, vivia repleta
de pôsteres de filmes. Eu sempre admirava um do
primeiro Mad Max, cobicei-o bastante, só faltava a
coragem ou a cara de pau de pedi-lo ao dono.
Aquela locadora constituiu-se num lugar em que
várias “primeiras vezes” aconteceram comigo, outro caso
tem a ver com um cartucho do videogame que eu mais
desejei na infância, um aparelho inatingível por uma série
de motivos, mas mais especificamente devido ao alto
preço: o ColecoVision. Certa vez, acredito que por
motivos de decoração, vi lá o cartucho do jogo Zaxxon
sobre uma prateleira, fato que aguçou ainda mais o meu
desejo. O Coleco, como o chamávamos, assombrava
devido à qualidade gráfica e sonora em comparação com a
concorrência e sua grande maioria de lançamentos era de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

conversões domésticas de títulos favoritos do fliperama.


Eu via e revia as telas dos jogos (as screenshots), lia e relia
as respectivas análises feitas pela revista Micro & Video,
nutrindo sempre a esperança de ter um...
Foi uma época especial, na qual, muitos amigos do
Macedo Vieira iam jogar em casa: Rodrigo Gondo,
Thomas Lee, Luis João S. Silva, Emerson Inada, Helton
Goshima, Robert Takanami... As brincadeiras favoritas
eram jogar bola no quintal, Playmobil e, claro, o Atari!

*- Excerto retirado do livro “Jogos Eletrônicos & Eu: Crônicas


de um Passado Presente”.

Marcus Vinicius Garrett Chiado – O paulistano Marcus Garrett é


formado em Rádio e TV pela UMESP (Metodista) de São Bernardo do
Campo e especialista em Biblioteconomia pela FIJ do Rio de Janeiro. É
coeditor da revista “Jogos 80” e autor de livros sobre a chegada dos
videogames no Brasil. Em parceria com a produtora ZeroQuatroMidia,
realizou o documentári “1983: O Ano dos Videogames no Brasil”. É
também colaborador frequente de revistas, sites e jornais, tais como
a OLD!Gamer, o Kapoow!, a WarpZone e a Espectro, para os quais
escreve artigos, ensaios e reviews.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

VIDEOGAMES: UM CASO DE FAMÍLIA


Edson Godoy

Década de 80. Aquela que economicamente ganhou


o apelido de “década perdida”, é para mim, e para tantas
outras crianças e adolescentes que cresceram nesse
período, uma década de ouro, quando os videogames
começaram a chegar com tudo por aqui.
Era um tempo em que videogame, em especial aqui
no Brasil, era tratado como um brinquedo caro, daqueles
que você precisa juntar o presente de aniversário e de
natal em um só para poder ganhar. Mas o engraçado disso
tudo é que, apesar dessa característica “infantil”,
dificilmente os adultos passavam batido por aquele
aparelho que transformava nossas televisões em algo tão
mágico. Na minha casa não foi diferente.
Tudo começou na primeira metade da década.
Difícil precisar o ano, pois o tempo e os cabelos brancos
acabam “nublando” um pouco as lembranças. Mas a
sensação está viva aqui dentro, como se estivesse
acontecendo agora: após um forte trabalho de
convencimento (que envolveu meses alugando o ouvido
dos meus pais) dos meus irmãos mais velhos Enock e
Liana, finalmente, meu pai (que também se chama Enock)
foi convencido a trazer para casa um Odyssey, o
videogame que a Philips lançava em nosso país. Eu ainda
era muito pequeno, tinha entre 3 e 5 anos, então nem sabia
ao certo o que significava aquele objeto de desejo dos
meus irmãos.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Mas bastou o videogame chegar para que a mágica


daquele aparelho incrível inundasse nossas mentes. Tudo
feito para deixar a todos alucinados, desde a caixa até o
console com um teclado embutido que dava uma super
“cara” de computador do futuro; inclusive os controles,
feitos de plástico de excelente qualidade. Após uma
breve instalação em nossa TV Telefunken, todos estavam
hipnotizados. Todos? Sim! Ninguém escapava daquela
magia. Pai, mãe e filhos, todos maravilhados com o que
aquele aparelho conseguia produzir. E eu, um gurizinho
que ainda chupava chupeta, encarava, sem medo, aquele
desafiante novo mundo. Uma amiga da minha irmã
sempre diz que não esquece a visão que tinha toda vez
que ia a nossa casa: eu, com a chupeta na boca,
desafiando-a para uma partida. E ela dizia que era muito
difícil ganhar de mim no game. Gurizinho casca grossa
(risos).
Com o videogame em mãos, agora os objetos de
desejo passaram a ser os cartuchos, que chamávamos, sem
nenhuma cerimônia, de fitas. Na época, um dos
programas tradicionais da família, aos sábados, era ir ao
centro da cidade pela manhã dar um passeio pelas lojas, e,
ao final, passávamos sempre em um bar que vendia belos
frangos assados e, em frente a ele, num carro que fazia um
caldo de cana que, só de lembrar, me enche a boca d’água.
E, naquela mesma parte da rua, estava a principal loja de
eletrônicos da cidade; a Roberto Som. Enquanto nossos
pais cuidavam de comprar o almoço, ficávamos
namorando a vitrine de jogos da loja, escolhendo qual

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

seria o próximo que pediríamos de presente (o


aniversariante da vez tinha prioridade na escolha).
Mas, sem dúvida, o momento mais emblemático
para todos nós foi quando meu pai também se apaixonou
pelo Odyssey. Não sabemos exatamente como essa
“história de amor” começou, mas sabemos o jogo que a
protagonizou: Tartarugas. Trata-se de um game de
aventura em labirinto, semelhante ao Pac-Man, mas que,
ao invés de comer as bolinhas de energia, você precisa
salvar os filhotes de tartaruga que estão perdidos em um
prédio, enquanto foge de malvados besouros que querem
a todo custo lhe pegar. Meu pai gostou tanto do jogo que
já tinha virado uma tradição em nossa casa que, após o
final da novela, ele se sentava na frente da TV e passava,
aproximadamente, uma hora se aventurando no game.
Era o momento relax dele, apesar de rolar alguns
momentos stress, quando, nas palavras dele, “a tartaruga
roubava ele” porque não obedecia ao comando dado no
controle (risos). Nem preciso dizer que esse jogo acabou
sendo um dos favoritos da família inteira. Afinal, não há
maior modelo em nossas vidas que nosso pai.
Mas há outro modelo que quero falar neste texto;
meu irmão Enock, o mais velho na casa. Se eu me
espelhava em meu pai, com ele não era diferente. Ele era
quem mais puxava a casa quando o assunto era
videogame, quem sempre sabia primeiro das novidades e
quem primeiro pedia essas coisas novas ao papai. Foi
assim com o Odyssey e também com o Atari 2600. Do
mundo dos videogames ele foi levado ao mundo dos
microcomputadores. E, sob o pretexto de ajudá-lo nos

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

cursos de computação que fazia, ganhou de presente de


nossos pais um MSX. Vale um adendo: o pretexto depois
se tornou válido. Meu irmão fez carreira na computação,
com a qual trabalha até hoje.
É claro que também me apaixonei pelo MSX.
Afinal, era praticamente um videogame. Bastava espetar
os cartuchos nele e jogar. E meu irmão era muito “gente
boa” ao me emprestar o MSX para jogar. Lembro até dele
ter programado seu próprio jogo, uma espécie de duelo no
velho oeste. Lembro-me também que para rodar este
game era necessário usar um tocador de fita cassete e
esperar o longo carregamento ruidoso com o qual
estávamos acostumados na época. Além dos games, eu
espelhava meu irmão em coisas como filmes e músicas. O
maior exemplo, que, aliás, ele se gaba até hoje, é Star
Wars, saga que me apresentou e eu abracei prontamente
(risos).
Depois de alguns anos o MSX ficou de lado e veio o
PC 386. Nossa, que máquina era aquela? E os jogos?
Espetaculares! No começo, ele fez jogo duro para me
deixar jogar, mas, aos poucos, amoleci seu coração (risos).
Um dos jogos que mais me marcou nessa época foi
apresentado por meu irmão: Street Rod, um jogo de
corrida de carros no maior estilão “Grease – nos tempos
da brilhantina”. Aliás, pensando bem, era impossível eu
não ser influenciado por meu irmão, já que eu jogava nos
PCs apenas os jogos que ele tinha, afinal, eu não tinha
como conseguir os meus jogos. Eram outros tempos.
Internet para os mortais não passava nem em sonho pelas
nossas mentes.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Mas então meu irmão foi fazer faculdade fora e


minha irmã, como uma boa adolescente, já estava focada
nas festinhas. Restou para mim a responsabilidade de
manter o legado dos videogames em casa. E acho que
consegui superar qualquer expectativa que poderia existir
nesse sentido, transformando o que, nos anos 80 era só um
“brinquedo caro”, em algo que hoje, além de uma
máquina de alegrias, é um objeto de estudo e nostalgia.
Hoje, o pai de família sou eu e, vendo meu neném,
com pouco menos de um ano, zanzar pela casa e ver as
prateleiras cheias de jogos da Game Room com um olhar
contagiante de curiosidade,fico a pensar em toda a
história que passei com os jogos eletrônicos e como ele vai
encarar a jornada dele nesse mundo mágico. Espero que
eu consiga inspirá-lo da mesma forma que meu pai e meu
irmão fizeram comigo.

Edson Godoy – Apaixonado por videogames desde o início da


década de 80, começou a colecionar em 1998 quando abriu uma loja
de games. Como forma de dar uma razão maior a coleção, criou em
2014 o Video Game Data Base – VGDB, o museu virtual brasileiro
dos videogames, que já é o maior banco de dados nacional sobre
videogames: https://www.vgdb.com.br/

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

EU, UM QUARTO E OS VIDEOGAMES


Giuliano Gianeli

Quantas vezes você já ouviu alguém falar que os


videogames são coisas inúteis, ou como perdemos tempo
jogando neles ou, até mesmo, como minha Avó Conceição
dizia: - Videogames é coisa de criança. Afirmações
infelizes de quem nunca teve uma experiência verdadeira
com os games. Muitos não tiveram a oportunidade de
jogar um jogo quando criança ou nunca deram uma
oportunidade para se divertirem com os games!!
Quando meu irmão me perguntou se queria
escrever uma história para seu novo livro, uma historia
que marcou minha vida, uma situação especial, algo
envolvendo os games, foi ai que parei para pensar e,
nesses pensamentos, me veio um questionamento: por que
gosto tanto dos games? Ou, o que os games significam
para mim? Pensei nas razões pelas quais já perdi tantas
horas da minha vida pra terminar um game, como foi o
caso de Wild Arms do PS1, que, aliás, numa época em que
nem entendia muito de inglês, mas jogava por pura
diversão, pela belíssima trilha sonora e pelos gráficos
simples, mas belos! Mas isso não vem ao caso agora!
Os videogames têm um significado especial em
minha vida e vocês já entenderão as razões. Para isso farei
um resumo de algumas historias que marcaram minha
vida: Aprendi a jogar com meu Irmão Luiz Miguel, que
era quem ganhava os videogames. Eu ficava ali, meio que
sendo um ator coadjuvante, mas aproveitando toda a

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

história; jogava o que ele jogava, não tinha muita escolha,


mas aproveitava os games junto com ele, Lembro-me de
suas aventuras com nosso primo André Gianeli, com
quem ele passava bastante tempo jogando e “brigando”
também, e os videogames sempre ali, especialmente o
NES, ou Turbo Game para ser mais exato, fazendo parte
da história.
O tempo foi passando e já estávamos morando em
Caçapava Velha, um bairro de Caçapava, cidade do
interior de São Paulo e local onde passei maior parte da
vida e das experiências com os games. Eu era criança e já
gostava bastante dos games, jogava muito Turbo Game,
que era a versão brasileira do Nintendinho, e também
joguei bastante Master System, Mega Drive e SNES,
sempre ao lado de meu irmão, o qual, uma vez, me fez,
meio que “obrigado”, trocar nosso Turbo Game por um
Master System de um conhecido do bairro, que, aliás,
aceitou trocar, e isso foi muito bom, pois o Master system
tinha o jogo do Sonic na memória e passamos horas
jogando o game do ouriço azul. E os torneios de Winning
Wleven 4 do Playstation 1? O melhor jogo de futebol de
todos os tempos. Ah! Que saudades desses torneios que
fazíamos aqui em casa; chamávamos todos nossos amigos
do bairro e era uma diversão sem fim; risadas, “tapas” e
provocações. O quarto sempre lotado de gente, todos se
divertindo pra valer, e alguns aproveitando o momento ao
máximo, pois não tinham consoles em casa.
Lembro-me também das minhas aventuras para
conseguir um jogo novo de Playstation 1, pois era criança
e meus pais não tinham condições de comprar um jogo

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

novo sempre que eu quisesse, então, eu tinha que


improvisar; como meu console era desbloqueado, eu
sempre recorria as famosas barraquinhas da feira – um
paraíso pra quem tinha consoles desbloqueados – sempre
que terminava um jogo ou mesmo se enjoasse; já ia
correndo e pedia um trocado para minha mãe, podia ser
cinco ou dois reais, qualquer valor, não importava, pegava
o ônibus e ia sozinho à feira, lá tinha uma barraquinha, a
mais famosa de Caçapava, que tinha tudo em jogos, e eu
sempre conseguia trocar um CD voltando cinco ou dois
reais, e retornava ansioso para casa, doido para testar os
jogos, que, na maioria das vezes, eram versões japonesas,
os meus preferidos. Não entendia nada de japonês, mas,
na época, não me preocupava em entender, valia a pena
somente pela diversão.
Certo dia Deus resolveu chamar meu irmão para se
preparar para o campo missionário, e para tal, ele
precisaria ir embora para Curitiba para estudar, ou seja,
meu irmão, meu companheiro dos games, iria embora. E
agora? Pensei eu. Ao mesmo tempo em que isso seria
bom, pois teria um pouco mais de espaço ou liberdade,
bateu aquela tristeza, pois sabia que nunca mais teria
aqueles momentos jogando junto com ele; brincando e nos
divertindo. Era uma mescla de sentimentos, mas Deus
sabe de tudo não é!? E foi aí que ele seguiu seu caminho;
foi embora....
Agora tinha um quarto somente para mim, poderia
jogar o que quisesse, jogos de terror como Resident Evil, e
todo o Playstation 1 a minha disposição, somente para
mim, mas, foi a partir desse momento que os videogames

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

marcaram mais a minha vida. Sempre gostei, mas a partir


dai que eles realmente me impactaram.
A vida gosta de nos pregar peças, e ela me pregou
uma; aconteceu o que menos imaginei ou queria; o
divórcio dos meus pais! E foi ai que os videogames, de
uma certa forma, me ajudaram a superar toda essa
situação e a passar por mais esse “fase” sozinho. No meu
quarto, eu me transportava para dentro dos games, como
uma forma de não pensar muito nos problemas, mas Deus
sempre nos dando forças, digo isso por minha mãe
também, que, apesar dos choros (que eu escutava apesar
dela estar trancada em seu quarto), Deus sempre a
sustentou e me sustentou também! O
Os videogames tiveram um papel muito
importante em minha vida, pra mim não são apenas
“coisa de criança”, vai muito além dos videogames; eles
me ajudaram de certa forma e estiveram presentes em
todos os momentos mais importantes da minha vida.
Lembro-me das vezes que jogava com minha namorada, e
agora esposa, Débora e, hoje, pai de dois meninos lindos;
Isaque e Bernardo, sempre tenho momentos especiais
jogando com eles, momentos em que podemos estar
juntos e nos divertindo com os games. Além disso, apesar
de todos as novidades dos consoles atuais, meus filhos
preferem os clássicos como Super Mario e Sonic, os
melhores!
Mas lembre-se, na vida há coisas mais importantes
que os videogames, como a Família, a esposa, os filhos, e,
principalmente, sua vida com Deus e seu destino eterno;

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

Aprecie os games sim, não os menospreze, dê uma chance


a eles!!!
“Porque Deus amou o mundo de uma tal forma que deu seu
único filho para que todo aquele que nele crer, não morra, mas
tenha a vida eterna. João 3:16”

Giuliano de Souza Gianeli – 32 anos, de Caçapava interior de São


Paulo. Pai de duas crianças apaixonadas por games; Isaque e
Bernardo, casado com Débora Gianeli, que está aprendendo a gostar
dos videogames. Apaixonado por games desde criança,
principalmente da época do PS1, que mais lhe marcaram. Junto dos
seus filhos, mantém no Youtube, o canal “PAPAI & GAMES”.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

O MEGA DRIVE NA VIDA DO GAMER


CRISTÃO
Cleiton Munhoz

Meu primeiro emprego foi como catador de


papelão. É algo que muitas pessoas têm preconceito, mas
é um emprego digno. Como coletor, geralmente
encontramos muita coisa que as pessoas jogam fora. Um
belo dia, num saco de lixo, eu encontro um Mega Drive 2
com dois controles, fonte, todos os cabos e três cartuchos:
Batman, Vectorman e Sonic 2. Levei para casa, pois
mesmo que ele não funcionasse poderia ser desmontado
para vendermos os componentes como sucata. E qual foi
minha surpresa quando vi que o videogame funcionava
perfeitamente? Pois bem, fiquei com aquele console que
alguém jogou fora e joguei por um bom período.
O tempo passou e consegui emprego num
supermercado, abandonando a reciclagem, mas ainda
mantinha e jogava o Mega Drive. Um dia, chegando do
serviço, fui jogar, mas não encontrei o Mega. Então,
perguntei para minha avó, com quem eu morava, onde
estava meu videogame. A resposta dela: — Seu tio levou
pro seu primo. Ele é criança e você não, ele que precisa
jogar! E foi assim que perdi meu console...
Mas Deus, que na época eu ainda não conhecia,
nunca desampara Seus filhos, nem mesmo os que Nele,
ainda, não acreditam.
Anos depois, já casado, eu escrevia para um blog
chamado Museum dos Games e um amigo, o Celso Affini,
da Comunidade Mega Drive, montou um evento de

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

games antigos em Jundiaí. Fui para lá de trem, pensando


em filmar o evento e fazer uma matéria para o blog. A
gravação não rolou, pois me esqueci de carregar a bateria
da câmera, mas, mesmo assim, participei do evento. Uma
das atrações que ocorreria ali seria o sorteio de dois
consoles clássicos; um Mega Drive 2 e um Super
Nintendo. O sorteio era aberto à todos os que
participavam do evento, mas, como eu nunca havia
ganhado nada nessas coisas, dei meu nome só por dar. No
dia seguinte, eu vi meu Orkut pipocando de notificações
das pessoas dando-me os parabéns. Sem entender,
questionei o motivo, e uma pessoa me perguntou se eu
havia assistido o sorteio no fim do evento. Fui ver a
gravação da live e descobri: eu havia ganho o Mega Drive!
E, pra completar, era igualzinho o que meu tio havia
levado embora!
Eu ainda não sabia, mas aquilo era Deus agindo em
minha vida. Assim como havia acontecido com Jó, eu
havia sido restituído do que me havia sido tirado!
“...e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes
possuía.” Jó 42:10
Anos depois, já convertido, abandonei o antigo Nick
que utilizava e passei a usar o que mantenho hoje: Gamer
Cristão. E foi com esse Nick que contei essa história lá no
site da Comunidade Mega Drive. Infelizmente muitos
leram apenas o título do artigo: “O Mega Drive na vida do
Gamer Cristão” e, por verem a palavra “Cristão” ali,
julgaram se tratar de pregação religiosa e criticaram o
artigo, mesmo eu colocando apenas uma linha falando de
Deus nele. Agora, porém, compartilho esta história com

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

vocês e, com toda a gratidão, agradeço a Deus por tudo o


que fez por mim.

Cleiton Carlos Munhoz – Nascido em 1980 na cidade de São


Caetano do Sul – SP, Ex-professor de matemática e física, ex-ateu,
ex-blogueiro, atualmente atuando como comerciário, escritor e
youtuber. Seu principal trabalho atualmente é o livro “As Ovelhas
Perdidas”, um conto de ficção científica com temática cristã, no qual
é apresentado um futuro distópico visto pelos olhos de um astronauta
japonês jogado 300 anos no futuro depois de um evento
desconhecido. Além de escrever, o autor mantém, há cerca de três
anos, um canal no Youtube chamado “Gamer Cristão”, onde
concilia a moderna linguagem dos videogames com a doutrina cristã,
usando os jogos como ferramenta para levar a Palavra de Deus aos
jovens.

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

A MAGIA DO NATAL
Luiz Miguel Gianeli

Videogame e Natal formam, na maioria dos casos,


uma combinação quase perfeita. São inúmeras, e
nostálgicas, as histórias de consoles recebidos de presente
nesta época mágica do ano, ou de momentos de muita
jogatina aproveitando o feriado e as reuniões de família.
Não me lembro de ter ganhando algum videogame
dos meus pais na época de Natal, mas jogávamos muito
neste período especial, com os colegas do bairro e da
igreja que vinham até a nossa casa e, principalmente, com
os primos que passavam as férias conosco. Contudo, ano
passado, ao visitarmos amigos queridos em Curitiba/PR,
ouvimos uma história bem legal, que passo a contar-lhes
daqui em diante.
Um senhor de idade, dono da casa em que pastor
Jefferson e Dona Épi (os amigos que visitávamos),
estavam morando, contou-nos, enquanto mostrávamos e
falávamos sobre o livro “Muito Além dos Videogames”
que, muitos anos atrás, comprou um videogame para dar
aos seus aos seus filhos como presente de Natal.
Adquirido algumas semanas antes da festa e, bem
embrulhado, o imponente aparelho foi colocado em cima
do guarda-roupa, com a expressa ordem de não ser
“tocado” até a manhã de Natal, o que as crianças
prontamente obedeceram.
As semanas passaram, os pais saíam para trabalhar
e, dia após dia, ao voltarem, conferiam se a caixa estava no
lugar ou se os filhos aprontaram alguma. Mas nada, tudo

[ 146 ]

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

estava exatamente como havia sido deixado, bem


embrulhado, em cima do guarda-roupa. Era assustadora a
obediência dos filhos.
Enfim, chegou a tão esperada manhã de Natal e o
dia de abrir os presentes. A caixa do videogame –
provavelmente um Super Nintendo – foi aberta e a
criançada saiu feliz para instalar o videogame na TV e
jogar, praticamente, aquele dia inteiro, o que continuou
como rotina ao longo dos anos.
Até aí tudo bem, tantas histórias parecidas
aconteceram pelo Brasil afora. Entretanto, anos depois,
com todos os filhos já crescidos e casados, num novo
Natal com a família reunida, uma revelação veio a tona:
aquele videogame de Natal já havia sido aberto!
Sim, os filhos confessaram a artimanha. Quando os
pais saíam para trabalhar, eles, com todo o cuidado,
pegavam a caixa em cima do guarda roupa, abriam sem
danificar as fitas ou o papel, ligavam na TV e jogavam até
momentos antes dos pais voltarem, quando tiravam todos
os cabos, guardavam na caixa do modo que estava e
selavam novamente o embrulho, colocando no exato local
de onde tiraram. Assim faziam todos os dias que
antecederam o Natal, torcendo para que os pais não
encostassem na caixa e sentissem que algo estava “meio”
quente por ali.
Anos depois, tal revelação foi motivo de risos por
parte de toda a família, bem como de muita saudade deste
tempo simples e especial, mostrando o quanto alguns
irmãos sedentos por um videogame são capazes de fazer,
verdadeiras “mágicas” para se divertir. Contudo, temos

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

certeza que, se tal travessura tivesse sido descoberta na


época, não era seria apenas o videogame que estaria
quente dentro da caixa, mas o traseiro desses irmãos tão
sapecas.
É, o natal é mágico e quando envolve videogames e
crianças, mais ainda...
Luiz Miguel Gianeli

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Muito Além dos Videogames: Crônicas dos meus amigos

CONCLUSÃO

Chegando ao final desta coletânea de histórias


relacionadas aos videogames não tem como negar que
estes aparelhos marcaram a vida de cada autor. Eles
fizeram parte de nossa vida! Foi muito bom conhecer estas
histórias, imaginá-las e compará-las com as minhas
próprias experiências, bem como conhecer melhor os
amigos e o que os videogames representaram para eles.
Outros amigos foram convidados; parentes,
amigos, colegas, conhecidos e personalidades retrogamers
nacionais, mas, infelizmente, nem todos puderam
participar. Alguns por desinteresse pelo projeto, outros
por projetos diferentes que envolvem suas próprias
crônicas e, alguns, por esquecimento ou pela dificuldade
de conciliar a correria e rotina do dia a dia para parar e
escrever suas lembranças. Espero que, num futuro
próximo, talvez após a leitura deste livro, coloquem no
papel suas memórias e compartilhem-nas conosco.
Qualquer um que leu até aqui pode perceber o
poder que estas maravilhas da tecnologia exerceram, e
ainda exercem, sobre aqueles que tiveram a oportunidade
de, um modo ou de outro, jogar videogame durante a
infância e adolescência. Tal dose grandiosa de nostalgia
pode não fazer sentido para quem não gosta de
videogames, não viveu tais experiências na infância ou
não se importa com este tipo de entretenimento, contudo,
não podemos negar o impacto que eles causaram na vida
destes que, voluntária e, prontamente, compartilharam
suas experiências conosco.

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Dentre tudo, porém, destaco quatro fatores que


“saltaram” destas páginas: A família, a amizade, a solidão e
os sonhos. Quase todos os cronistas associaram os
videogames com as lembranças especiais envolvendo seus
pais, irmãos, primos e amigos – estes últimos em especial
– mostrando o quanto os videogames servem para
aproximar a família e deixar marcas pelo resto da vida.
Que saudade de jogar por horas com meu irmão, de estar
ao lado de minha mãe comentando sobre a coragem do
Mario em enfrentar tantos perigos para salvar a princesa e
de como os jogos eram coloridos e bonitos, de ouvir
minha vó falando que o “joguinho estava estragando a
tv”, de, mesmo que por poucas vezes, ver meu pai
jogando conosco e tentando fazer parte de nossa vida, de
ver a casa cheia de primos e amigos despreocupados,
divertindo-se e compartilhando o controle ao redor da tv e
de infinitas guloseimas, das tentativas – quase sempre
frustradas – de me aproximar da menina que eu amava,
hoje minha esposa, por meio dos videogames, bem como
da separação deles com a chegada da vida adulta, do
seminário e das responsabilidades.
Na realidade atual, como adultos responsáveis e
ocupados, tentamos reprisar estes momentos com nossas
esposas e filhos, juntos, brincando, sorrindo, bagunçando
e descobrindo novos mundos em aventuras mágicas ou
corridas malucas e engraçadas. Nesta terra, nada é tão
bom quanto a família, nada. E estar com ela é bom demais!
Os videogames fizeram e fazem parte disso.
Já os adolescentes e jovens de hoje vivem outra
realidade, estão conectados, mas distantes, unidos pelos

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jogos online que representam, na medida do possível, o


mais perto de jogar junto que o mundo atual oferece,
devido a criminalidade e o excesso de informação e
tecnologia. Ali, isolados em “seu mundo”, eles estão
juntos de seus amigos, jogando o mesmo game, buscando
o mesmo objetivo, compartilhando os mesmos gostos.
Esta é uma das razões que os jogos online fazem tanto
sucesso na atualidade. A amizade e o companheirismo
estão implícitos neles, apenas mudou-se a forma de jogar.
Precisamos entender isto para nos aproximar destes
jovens e compreender seus gostos. A chamada geração
“Free Fire” repete, na realidade deles, os encontros e
jogatinas entre amigos que, no passado, eram pessoais e
bem mais frequentes. Quando falamos de amizade,
reconhecemos que o precisamos de amigos, Deus nos
criou assim e os videogames transmitem tal realidade.
Mas não existe amigo melhor do que Jesus.
Além disso, percebemos que os videogames servem
muito como um “escape”, uma forma de consolo em
tempos difíceis ou de solidão. Jogar era como entrar num
mundo mágico, como o “guarda-roupa” de C.S. Lewis que
leva a fantástica terra de Nárnia, no qual muitos entravam
para se alegrar, vencer desafios, superar obstáculos,
mostrar que eram bons em algo ou, simplesmente, para se
divertir, se desligar da realidade e esquecer dos
problemas. Direta ou indiretamente os games tiveram, e
ainda têm, tal capacidade, por isso, precisamos dosar,
para não viciarmos e fugirmos da realidade da vida, e nos
isolarmos, contudo, alguns momentos para descansar a

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mente, relaxar e sonhar são fundamentais e os


videogames fazem isso muito bem!
Por fim, vejo que as simples brincadeiras de
infância com aos games tornaram-se motes e inspirações
para que muitos realizassem seus sonhos e se tornassem
as pessoas e profissionais que são hoje. Como aquela “luz”
que brilha, iluminando o caminho e dando coragem para
enfrentar os desafios e superar os obstáculos. É incrível o
poder deles neste sentido. Parabéns a todos aqueles que
lutaram para alcançar seus objetivos!
Agradeço, mais uma vez, a todos que
participaram, que enviaram suas crônicas, que, de uma
forma ou de outra, apoiaram no lançamento, bem como a
todos que leem até aqui. Espero que tenham gostado. Não
há dúvidas de que as lembranças relacionadas aos games
são especiais, marcantes e nos aproximam.
Termino dizendo a todos que existe um Pai que nos
ama e está próximo, que é Deus; Nele somos parte de uma
família, temos amor, consolo, carinho, força e alegria.
Temos um amigo, o melhor de todos, que é Seu Filho
Jesus, o qual deu a vida por nós e está ao nosso lado hoje e
sempre, basta crer Nele. Que na solidão e no sofrimento,
mesmo que os videogames, ou qualquer outro
entretenimento, não seja suficiente para trazer consolo e
alívio, Jesus é, Ele pode consolar você, aliviar seu fardo,
dar-lhe a força para aguentar e superar as dificuldades,
bem como garantir o perdão dos pecados e a salvação
eterna. Ele se importa com a sua dor, Ele se importa com
você! Amigos, existe uma vida e um futuro melhor, basta
confiar em Jesus como seu Senhor e Salvador. Pense nisso!

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“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a


própria vida em favor dos seus amigos.” João 15.13
“Se, com tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
serás salvo.” Romanos 10.9
Este, muito provavelmente, é meu último livro
sobre videogames e a experiência de compartilhar estas
crônicas com vocês foi muito especial, fiz vários amigos e
dei muitas risadas. Agora, chegando ao fim desta jornada,
desejo tudo de bom para cada leitor e para todos os
amigos retrogamers do Brasil e do mundo.
Portanto, cultive boas amizades e aproveite, ao
máximo o tempo juntos pois, um dia, jogarão juntos pela
última vez e nem perceberão isso. Valorize sua família e
passe o maior tempo que puder com eles, desfrute da
companhia de seus pais, avós, irmãos e primos, mesmo
que não entendam nada de videogames, eles se vão, e só
ficarão as lembranças... Em momentos de solidão e
tristeza, jogue seus games favoritos e reflita sobre a vida,
divirta-se com eles, relaxe e depois levante-se para
continuar, para estudar, trabalhar, formar uma família,
enfim, avançar e superar os desafios e, por fim, seja
corajoso, coloque em prática suas ideias, viva seus sonho,
salve a princesa, lute por seus objetivos e seja o herói de
alguém. Isso é fantástico! Mais uma vez afirmo, com
convicção, que nossas histórias com os consoles clássicos
vão “muito além dos videogames!” Estou certo? Deus
abençoe a todos!
Luiz Miguel de Souza Gianeli - Editor

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SOBRE O AUTOR

Luiz Miguel de Souza Gianeli

Gamer desde os anos 80 e


autor do livro “Muito Além
dos Videogames – Memórias
de um jogador”, é casado
com Débora e pai de Agnes,
Annelise e Luigi. Gosta de
registrar suas memórias
gamers e, quando possível,
jogar algum game antigo com
seus filhos ou Mario Kart com
sua esposa.

Bacharel em Teologia pelo Seminário Batista Regular do


Sul (SBRS), com convalidação pela Faculdade Evangélica
do Piauí (FAEPI), tem três livros publicados na área de
Teologia e é pastor da Igreja Batista em Piumhi/MG.

Também escreve o Blog Diamantes Eternos sobre


cristianismo, literatura e cultura:
http://diamanteseternos.blogspot.com/

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Obrigado por ler até aqui!

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