ARQUITETÔNICO E HISTÓRICO
RESUMO
Para este artigo, tomou-se como referência o eixo temático (2) deste seminário – Arquitetura
e documentação: a pesquisa na área da história da Arquitetura e do Urbanismo, o edifício
como documento. O mesmo tem por objetivo discutir sobre o valor arquitetônico do
memorial do Jenipapo e sua relação direta com a valorização da história que ele representa
para o país e para os moradores da região no qual ele está inserido. Esse trabalho justifica-
se pela clara necessidade de preservar o patrimônio material, no caso a própria edificação e
sua importância como expressão de obra moderna no estado, e imaterial, que é seu
significado como monumento que tem por função recordar fatos marcantes para a história
do país e do local onde se encontra o memorial. A metodologia segue os métodos do grupo
de extensão Amigos do Patrimônio, que se trata da Modernidade no Estado do Piauí
desenvolvendo pesquisas na área de preservação e levantando informações sobre os
arquitetos e suas obras com o objetivo de divulgar para a sociedade a importância das
mesmas. Os dados produzidos são baseados na coleta de informações em arquivos
públicos e privados, entrevistas, visitas às obras, análises fotográficas e redesenho do
projeto para melhor compreensão. O grupo foi idealizado pela professora Alcilia Afonso
Neste sentido, o Memorial Heróis do Jenipapo é uma edificação que propõe recordar um
acontecimento expressivo no processo de luta pela independência do país e é uma
importante expressão de obra moderna no estado do Piauí. Por tais motivos que o mesmo
foi escolhido como objeto de estudo, porém, apesar de ser um exemplo da identidade
cultural local, muitos piauienses ainda não foram ao local do monumento ou tampouco
conhecem a historia por trás dessa edificação.
Este se localiza a 12 km da cidade de Campo Maior, no Piauí e foi projetado por Raul Cirne,
arquiteto mineiro graduado na Universidade Federal de Minas Gerais, que durante a década
de 70 teve contato com o então governador Alberto Silva. Ele deixou no Estado sua marca
com duas importantes obras de caráter brutalista: o Estádio de futebol Albertão, em
Teresina, e o referido Memorial. Este foi inaugurado em 1974, durante esse período o Brasil
havia passado pela intolerante e dominadora ditadura militar e, economicamente,
atravessava o período conhecido de milagre econômico, caracterizado pela rápida e
significativa ascensão da economia brasileira em um relativo breve período.
Neste cenário, a arquitetura foi também, de certa forma, beneficiada visto que muitas
edificações de grandes proporções foram construídas devido a financiamentos
internacionais. O conjunto de obras desse período, no estado do Piauí durante o governo de
Alberto Tavares silva, era predominantemente caracterizado por uma linguagem brutalista,
inclusive o Memorial do jenipapo.
Campo Maior, com uma população estimada em 45.971 e ocupa uma área de 1.675,713
km², encontra-se localizada no estado do Piauí, e este por sua vez, se situa no meio-norte
do país, região de transição entre a Amazônia e o sertão semi-árido do Nordeste (IBGE,
2015).
A cidade foi criada por meio de uma Carta Régia em 19 de Junho de 1761 e um ano depois,
instalada com o mesmo nome sendo na data de 18 de Dezembro de 1889 elevada a
categoria de cidade. Nesse lapso temporal, de vila à cidade, mesmo sendo uma
transformação lenta e gradual, a cidade se desenvolveu (GADELHA, 2012).
De início, faz-se necessário dois recortes históricos para a construção deste artigo. O
primeiro a ser feito é acerca da Batalha do Jenipapo, evento histórico que nomeia o
monumento em estudo, em seguida, o segundo recorte que refere-se a situação política e
econômica do Estado do Piauí na época da construção da obra.
Em 1971 tem início o primeiro mandato de Alberto Tavares Silva, nascido em Parnaíba,
cidade ao norte do Piauí, no dia 10 de Novembro de 1918 faleceu e, Brasília no dia 28 de
Setembro de 2009. Em sua trajetória profissional, graduou-se em engenharia mecânica,
elétrica e civil. Como político, em 1948 foi eleito prefeito de Parnaíba, em 1950 ganhou as
eleições para o cargo de deputado estadual, renunciando ao cargo em virtude de uma
nomeação para diretor da Estrada de Ferro de Parnaíba, cargo que ocupou entre os anos
de 1951 e 1953 e no ano seguinte ocupa novamente a cadeira de prefeito de Parnaíba. Em
1971, como falado anteriormente, tem início seu primeiro mandato como governador que vai
até 1975 e que é o alvo específico desse recorte histórico. Durante esse período o governo
de Alberto Silva não se furtou do momento de desenvolvimento acelerado pelo qual o país
passava, denominado de “Milagre Econômico” no qual, vultuosos investimentos eram
aplicados em obras com finalidades práticas e também com a função de aparentar o
sucesso do atual governo e o desenvolvimento proporcionado, que no entanto era custeado
por enormes empréstimos estrangeiros. Foi uma época de prosperidade em diversas áreas
que, no entanto, gerou reflexos negativos na economia nacional por mais de 20 anos.Foi
nessa época em que obras como o estádio Alberto Silva, popularmente conhecido como
Albertão (1973), o Tribunal de Justiça (1972), a Companhia Energética do Piauí, conhecida
como CEPISA (1973) e mo Memorial Heróis do Jenipapo (1973) foram concebidas. Todas
elas carregadas de valor simbólico, como forma de expressão do dito “Milagre Econômico”.
A última em especial é símbolo de poder militar e alvo deste estudo (AFONSO, 2012).
Quanto ao que se define como monumento a definição usada por Françoise Choay (1925) encaixa-se
bem no artigo. Segundo o autor:
A natureza afetiva do seu propósito é essencial: não se trata de apresentar,
de dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória
viva. [...] A especificidade do monumento deve-se precisamente ao seu
modo de atuação sobre a memória. Não apenas ele a trabalha e a mobiliza
pela mediação da afetividade, de forma que lembre o passado fazendo-o
vibrar como se fosse presente. Mas esse passado invocado, convocado, de
certa forma encantado, não é um passado qualquer: ele é localizado e
selecionado para fins vitais, na medida em que pode, de forma direta,
contribuir para manter e preservar a identidade de uma comunidade étnica
ou religiosa, nacional, tribal ou familiar (p.18).
Apresentado o histórico e as definições pertinentes, está pronto o aporte teórico que se tem
necessidade para maior compreensão do artigo.
3. Análise arquitetônica
O Monumento Heróis Do Jenipapo foi projetado pelo arquiteto Raul Cirne, também autor do
Estádio Governador Alberto Tavares Silva, ambos localizados no Piauí. O memorial foi
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
solicitado pelo Exército Brasileiro em parceria com o Governo de Alberto Silva, A obra está
localizada na BR 343 a 60 km de Campo Maior, mesmo lugar onde ocorreu a Batalha de
Jenipapo em março de 1823, próximo ao cemitério dos que lutaram pela independência do
Brasil naquela localidade.
Depois de 150 anos do épico combate, mais precisamente em 1973, o grande monumento
foi erguido. A construção é de fato grandiosa em comparação com a localidade, pois, as
construções mais próximas são de pequeno porte, basicamente residências. Com
aproximadamente 50 metros de extensão e entre 25 e 45 metros de altura do seu volume
vertical, a construção impressiona pelo seu tamanho e pela sua arquitetura, claramente
inspirada no Monumento aos Pracinhas, no Rio de Janeiro, obra també de Raul Cirne. A
grandiosidade da edificação justifica-se pela função emocional de um monumento. Em
virtude do fato histórico ocorrido no local nada mais justo que o esplendor. Em seguida um
breve comentário sobre a volumetria do monumento:
Ainda quanto a sua análise, segundo Afonso (2013) o arquiteto também preocupou-se com
o conforto da obra, por isso projetou a obra idealizando uma série de soluções a fim de
gerar um microclima para superar os problemas climáticos da região. Para solucionar a
insolação o volume inferior foi recuado em relação à laje de cobertura, possibilitando a
criação de beirais, inviabilizando a entrada de sol no ambiente interno. Completando a
proteção da incidência dos raios solares, os pilares em formato trapezoidal foram projetados
para funcionar como brises. Os espelhos d’água possuem a função de colaborar com a
manutenção da umidade, ajudando na estadia agradável no local.
ART. 1
A noção de monumento histórico engloba a criação arquitetônica isolada
bem como o sitio rural ou urbano que testemunhe uma civilização particular,
uma evolução significativa ou um acontecimento histórico. Esta noção
estende-se não só às grandes criações mas também às obras modestas
que adquiriram com o tempo um significado cultural.
ART. 2
A conservação e o restauro dos monumentos constituem uma disciplina que
apela à colaboração de todas as ciências e de todas as técnicas que
possam contribuir para o estudo e salvaguarda do patrimônio monumental
(CARTA DE VENEZA, 1964).
Sabe-se que ao visitar locais como O Memorial Heróis Do Jenipapo ao percorrer seus
corredores e ao visitar o museu lá existente faz-se uma viagem no tempo, e torna-se mais
próximo da cultura e da história daquele povo, o qual seus ancestrais lutaram bravamente
pelo ideal de independência do país. A imagem a seguir representa uma das placas
presentes no Monumento, que demonstra a homenagem feita para estas pessoas, citando-
as pelo nome, para que a historia feita por eles não se perca pelo tempo.
Não obstante, as pessoas prezem pela transcendência de seus valores culturais e de suas
história através de gerações, poucas ainda trabalham na conservação dos mesmos. Um fato
que demonstra essa carência de cuidado aconteceu no ano de 2008, quando um incêndio
de proporções consideráveis, que começou no cemitério dos Heróis do Jenipapo (tombado
em 1938) provavelmente devido a uma vela, colocaram em risco as estruturas e o acervo
cultural presente no local. Além disso, percebe-se a falta de um número adequado de
segurança especializada, visto que muitos objetos do museu que deveriam ser
salvaguardados foram desaparecendo com o tempo. Só o fato de está exposto a tais
incidentes já merece um olhar mais cauteloso dos responsáveis quanto à segurança do
local, pois se percebe que apenas o tombamento não é o bastante para garantir sua
permanência através do tempo.
Desse modo, a preservação do patrimônio, seja ele material, representado pela arquitetura,
ou imaterial, no que diz respeito à cultura daquele povo, é tão essencial quanto sua própria
existência. Portanto, cabe não só ao poder publico, mas também a cada cidadão, a
responsabilidade da preservação e da garantia de que a história desse povo continue por
muitas gerações.
Essa é a real contribuição do Memorial Herois do Jenipapo, objeto desta pesquisa. Pois é
sabido que ao ser exposto ao conhecimento das próprias raízes históricas as pessoas
tendem a adquirir um sentimento de pertencimento aquele local. Isso contribui
significativamente para a preservação da referida edificação, e tendem a tomar as devidas
providencias em casos de descuido de seu patrimônio.
Por isso que foi fundamental a descrição histórica da Batalha do Jenipapo. Esta, por muito
tempo, passou despercebida na historia do país. Mas em 1973, como já citado
anteriormente, a mesma foi merecidamente homenageada, durante o governo de Alberto
Silva (1971-1975), com a construção do Memorial. Além dessa função, ela foi usada
também como meio de propaganda, publicidade para o regime militar que comandava o país
na época, reforçando a ideia de desenvolvimento, modernidade e sucesso das ações do
estado, revelando também a estreita relação das obras de arquitetura com a simbologia e o
governo.
Tais obras foram predominantemente no estilo brutalista, que tem como principal
característica o uso dos próprios materiais como componentes do design, com suas
estruturas aparentes. O arquiteto, Raul Cirne, preocupou-se com o clima quente da região,
elaborando uma serie de adaptações estruturais para amenizar essa característica marcante
do local.
Apesar de se tratar de um local projetado para atender confortavelmente seus visitantes que
procuram por conhecimento e que, provavelmente, interessam-se por história ou
arqueologia, o local, sobretudo o museu lá presente, não possui um número adequado de
pessoas especializadas no cuidado e na segurança das peças expostas.
Portanto, por ser um local de grande valor histórico, devido a importante participação no
processo de independência do país, e arquitetônico, pelo caráter de memorial que o mesmo
possui, deve-se dá uma maior atenção aos aspectos no que diz respeito à segurança da
integridade desse local. Tal responsabilidade não é apenas do Estado, mas de toda a
Referências
AFONSO, Alcília. Arquitetura Milagrosa: A Adoção do Brutalismo como Linguagem do
'Milagre Econômico' Na Arquitetura Piauiense. 1969- 1974. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO
BRASIL, 10. , 2013, Curitiba. Artigo… Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, p.3-7.
Enredos patrimoniais em Campo Maior (PI). Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo,
Vol. 47, N. 3, p. 232-248, set/dez 2011.