TEORIA E PRÁTICA
autor
ARTUR GUILHERME CARVALHO DA MOTTA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e luciana varga
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
isbn: 978-85-5548-471-1
Administração/gestão: conceitos 55
Utilização racional 55
Os recursos 56
Objetivos determinados 57
De modo eficiente e eficaz 58
Prezados(as) alunos(as),
Este livro quer ajudar você a construir seus conhecimentos na área de Gestão
Escolar e, para isso, traz informações importantes. Algumas delas, você vai re-
visitar, pois já tratou em outras disciplinas ao longo do curso de Pedagogia ou
Licenciatura. Outras, são específicas do campo de conhecimentos da Gestão e,
provavelmente, será seu primeiro contato com elas. Não importa: independente-
mente de você ter como propósito a sala de aula, a pedagogia empresarial ou hos-
pitalar, a ONG ou a produção de material educativo, você encontrará importantes
informações no estudo dessa disciplina.
O texto está organizado de modo que você possa ir e vir, consultando-o na
ordem que for melhor para sua aprendizagem. Sob a orientação dos professores da
disciplina, servirá de base às aulas, sejam elas presenciais ou a distância.
Este material foi pensado segundo uma lógica que
• Parte das necessidades que a sociedade percebe e apresenta às escolas
como desafios;
• Identifica as condições segundo as quais as escolas podem responder a es-
ses desafios;
• Mergulha nos conceitos de administração e de gestão, buscando compreen-
der suas transformações ao longo do tempo;
• Define elementos fundamentais para o funcionamento e para a gestão da
escola, com destaque para o projeto político-pedagógico;
• Explicita e detalha as tarefas dos gestores e os instrumentos disponíveis para
o cumprimento dessas tarefas;
• Apresenta as bases legais, desde o nível federal até a própria escola, assim
como os principais elementos das políticas públicas ligados à gestão escolar.
7
Para favorecer o entendimento do modo como o livro foi planejado e escrito,
apresentamos a seguir, antes do início dos capítulos, o seu Mapa Conceitual.
Ele era mulato, pobre, doente, não morava com sua mãe, estudou pouco e aos solavan-
cos, sofria de gagueira e epilepsia. Se excluíssemos a tartamudez e os surtos epiléticos,
esse perfil poderia ser atribuído a um dos 28,6 milhões de crianças e jovens com idade
entre 0 e 17 anos que vivem em lares com renda per capita de até meio salário mínimo
(R$ 272,50) – ou 45,6% do total nessa faixa etária, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Mas ele era Machado de Assis, reconhecido como um
dos maiores autores da literatura brasileira, e que se tornou quem foi à custa de seu
gênio e das relações que fez.
Revista Educação, agosto de 2011
Neste capítulo, vamos apresentar algumas ideias iniciais que servirão de base
aos nossos estudos de Gestão Escolar.
Você vai perceber que alguns conteúdos, conceitos e autores citados já são do
seu conhecimento, pois você os estudou em disciplinas anteriores do curso. O que
vamos fazer aqui é reunir esse conhecimento que trazemos, em algumas sínteses
que vão tratar da realidade social que desafia a educação e a escola. Ao mesmo
tempo, vamos buscar conhecer as possíveis respostas que a educação e a escola
podem oferecer a esses desafios.
Trata-se de uma fundamentação importante porque a gestão não é um traba-
lho que lida, apenas, com teorias e abstrações, mas constitui-se, principalmente,
de ações concretas sobre uma realidade específica. Daí, a necessidade de conhecer
a realidade na qual vivemos e na qual atuamos, por meio da educação e da escola.
capítulo 1 • 10
Brasil Global
Drogas (*) 31%
5%
Crimes (*) 18%
5%
Corrupção (*) 15%
15%
Pobreza: diferença entre ricos e pobres ($) 7%
12%
HIV/AIDS e outros problemas de saúde (#) 5%
2%
Desemprego ($) 4%
12%
Guerras e conflitos (*) 3%
4%
Problemas econômicas ($) 3%
14%
Questões ambientais (*) 2%
5%
Questões educacionais (#) 2%
3%
Terrorismo (*) 1%
6%
Direitos humanos (#) 1%
2%
Globalização/ comércio mundial mais justo (#) 1%
2%
Radicalismo religioso (*) 0%
1%
Refugiados e asilo refugiados (*) 0%
1%
Outros/NR 6%
10%
• Os modelos políticos
99 marcados pela corrupção;
99 incapazes de enfrentar e vencer antigos problemas sociais, como o desem-
prego, as guerras, a criminalidade e outros conflitos;
99 desafiados por novos problemas, como o terrorismo e os refugiados, excluí-
dos de seus países pela pobreza e pela violência.
capítulo 1 • 11
• Os modelos culturais nos quais ganham espaço
9 o fundamentalismo religioso, com seus desdobramentos em ações terroris-
tas que atingem a coletividade;
9 ideologias de individualismo com influências preconceituosas e intoleran-
tes sobre o estilo de vida de pessoas e grupos.
2 FREITAS, Eduardo de. "Subdesenvolvimento e os problemas sociais"; Brasil Escola. Disponível em: <http://
brasilescola.uol.com.br/geografia/subdesenvolvimento-os-problemas-sociais.htm>. Acesso em: 16 jul. 2016
capítulo 1 • 12
1. A resposta que pode ser oferecida pela educação e pela escola
Historicamente, a escola tem sido responsável por duas grandes funções: a ins-
trução e a formação. Enquanto se instrui, o indivíduo vive e convive na instituição
escolar, absorvendo e construindo valores que vão configurar sua dimensão moral.
A humanidade acumula saberes
ao longo do tempo
3 KLEIN, Ana Maria; PÁTARO, Cristina Satiê de Oliveira. A escola frente às novas demandas sociais: educação
comunitária e formação para a cidadania. Disponível em: <http://www4.pucsp.br/revistacordis/downloads/
numero1/artigos/1_escola_novas_demandas.pdf>.
capítulo 1 • 13
Como podemos perceber, a escola tem buscado se articular aos valores e às ne-
cessidades de cada época. Vamos retomar e aprofundar este assunto mais adiante.
Mas podemos afirmar que, neste momento da história das sociedades, a escola é
desafiada a lidar com uma realidade na qual
• A formação e a instrução estão distribuídas por todas as partes;
• A escola deixou de ser a única fonte de transmissão do saber;
• Somos submetidos a transformações aceleradas em que as tecnologias da
informação e da comunicação são mediadoras das nossas relações interpessoais e
do acesso ao conhecimento.
capítulo 1 • 14
Porém, o que se tem presenciado em todo o mundo é uma ressignificação
do papel da escola, reconhecendo que esse papel ultrapassa em muito a simples
transmissão de conteúdos.
Essa ressignificação exige que a escola
• Reconheça a importância de trabalhar com conteúdos que foram e são im-
portantes para a sociedade;
• Ao mesmo tempo, identifique e selecione os conteúdos que têm efetivo
valor para o indivíduo e a sociedade de hoje e do futuro;
• Utilize métodos que permitam superar a transmissão de conhecimentos e
caminhe, cada vez mais, para a seleção e construção de conhecimentos pelos alu-
nos, individualmente ou em grupos, mediados pelos educadores;
• Reconheça que as relações estabelecidas em todas as etapas e momentos do
trabalho escolar contribuem para que o aluno forme a sua subjetividade, seu modo
de ser cidadão e de agir no mundo;
• Tome consciência de que toda essa aprendizagem será transposta para fora
da escola, hoje e no futuro, podendo favorecer (ou não) o estabelecimento de no-
vas e melhores condições de vida para o indivíduo e a sociedade.
capítulo 1 • 15
Como tem sido esse tipo
de resposta nas escolas
brasileiras? Podemos falar de
"escolas brasileiras" de uma
maneira geral? Ou existiriam
diferentes escolas brasileiras?
© WIKIMEDIA.ORG
capítulo 1 • 16
Informações Descrição da realidade
Indicadores
Valores
Fazer propostas
Optamos por apresentar indicadores que tenham uma relação direta com o
trabalho de Gestão Escolar. Como esta vai tratar diretamente com os alunos, com
suas famílias e com os professores, lançaremos nosso olhar sobre esses atores esco-
lares por meio de três grandes questões:
• Cadê o aluno que estava aqui?
• Que família é essa? Que aluno é esse?
• Quem educa e quem se educa nessa escola?
capítulo 1 • 17
Cadê o aluno que estava aqui?
A evasão escolar é um dos sinais de que a resposta oferecida pela escola não
está atendendo às questões colocadas pelos alunos que evadem e pelas famílias que
permitem que isso ocorra.
Numa entrevista que concedeu em 20104 , Fabio Ribas afirma que para en-
tendermos porque o aluno abandona a escola, é preciso compreender a grande
mudança ocorrida na educação brasileira nos últimos 50 anos:
• Aumentou a quantidade de alunos da escola pública;
• Os sistemas escolares não se reorganizaram para receber essa clientela que,
antes, estava fora da escola;
• A grande maioria dessas crianças vinha de famílias de baixa renda, com
baixa escolaridade;
• Essas famílias tinham muitas dificuldades para a própria subsistência e para
acompanhar a vida escolar dos filhos.
Por isso hoje é tão importante uma composição da política educacional com outras polí-
ticas setoriais – assistência, saúde, geração de renda etc. – para aumentar a chance de
permanência na escola das crianças mais vulneráveis. É preciso também que a escola
reestruture seu jeito de atuar e de interagir com os alunos, com as famílias e também
com os demais serviços públicos, para atender melhor essa população.
Fabio Ribas, 2010
capítulo 1 • 18
futuras por causa de uma necessidade presente que determina a própria sobrevi-
vência dele e de sua família.
Os números são preocupantes, como nos mostra o PAPE6 – Programa de
Acolhimento, Permanência e Êxito, do governo federal. Com dados do Censo de
2014, percebe-se que houve uma diminuição do número de crianças e adolescen-
tes fora da escola, como se vê no quadro a seguir:
Evolução do percentual de crianças que NÃO frequentam escola por faixa etária - Brasil 2001/2014
50,0 45,0
43,3
40,9
38,5 37,2
40,0
32,4
29,9
30,0 27,2
25,2
22,6 21,8
18,6 17,3
20,0
18,6 18,5 17,6 18,1 18,3 17,8 17,9
15,9 16,8 15,8 15,7 15,7
10,0 14,8
4,7 4,2 3,9 3,9 3,4 3,1 3,0 2,5 2,4 1,8 1,8 1,6 1,5
0,0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
4 e 5 anos 6 e 14 anos 15 e 17 anos
Mas há, ainda, bastante visível aos olhos da sociedade, um dado muito alar-
mante: são 1.663.549 estudantes que “sumiram” entre 2014 e 2015 das matrículas
das escolas brasileiras.
Poderíamos pensar que esse número retrata, apenas jovens que saíram da es-
cola porque precisavam trabalhar. Mas não é o que nos mostra a distribuição das
faixas de idade e dos níveis de ensino:
Faixa Etária
4 a 5 anos 192.961
6 a 10 anos 478.578
11 a 14 anos 362.920
15 a 17 anos 629.090
capítulo 1 • 19
Etapas de Ensino
590.497
540.318
424.575
108.235
capítulo 1 • 20
Que família é essa? Que aluno é esse?
O que a tabela nos mostra é que a pouca instrução dos pais (identificada pelos
seus anos de estudo) vai se refletir nas matrículas dos filhos.
Para tratar da relação entre a pobreza e os resultados que os alunos obtêm na es-
cola, vamos nos basear na reportagem publicada no jornal O Globo de 6/11/20157,
na qual o jornalista Antonio Góes apresenta vários dados a respeito do tema. É
interessante notar que a reportagem começa referindo-se aos Estados Unidos, o
que mostra que essa discussão não é apenas nossa.
Ao longo do texto, são apresentadas diferentes posições a respeito do tema, e
fica claro que ninguém nega a relação entre a pobreza e os resultados os alunos. A
diferença, porém, está na ênfase dada ao papel da escola.
O autor conclui a reportagem mostrando que a questão não permite respos-
tas simples. É necessário reconhecermos que a escola sofre limitações por conta
de fatores externos, ao mesmo tempo que evitamos o conformismo, a apatia e o
imobilismo, que acabam por reforçar um ciclo vicioso que prejudica os alunos, a
escola, a comunidade e toda a sociedade.
É nessa perspectiva que vamos analisar os indicadores que tratam da relação
entre os índices socioeconômicos e os resultados escolares.
Estudos realizados pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em
parceria com o Centro de Estudos da Cultura Contemporânea (Cedec) e finan-
ciado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) do
Ministério da Educação mostram que o principal fator de influência sobre o
7 Disponível em: <http://blogs.oglobo.globo.com/antonio-gois/post/pobreza-dos-alunos-justifica-maus-
resultados-na-escola.html>. Acesso em: 19 jul.2016.
capítulo 1 • 21
desempenho escolar dos alunos do Ensino Fundamental é a pobreza . Na média
das redes estaduais, a pobreza8 determinou 44% do desempenho escolar, chegan-
do a 58% nas redes municipais.
Foram considerados resultados das provas de Português e Matemática do
SAEB, além de outros fatores importantes como evasão, repetência e adequação
idade-série.
O contexto cultural dos alunos de baixa renda ajuda a explicar seu desempe-
nho escolar.
Uma criança que não tem acesso a jornais e livros em sua casa, que tem poucas opor-
tunidades de usufruir atividades culturais e cujos pais não concluíram o Ensino Funda-
mental terá necessariamente um desempenho escolar inferior ao de outras crianças
que vivem em um contexto social mais favorável.
Christina Andrews, responsável pela pesquisa da UNIFESP
capítulo 1 • 22
Quem educa e quem se educa nessa escola?
Fenômeno semelhante ocorreu com o corpo docente. Os professores hoje têm um per-
fil muito diverso daqueles que atuavam na escola pública há 30, 40 ou 50 anos atrás.
Os docentes foram e estão sendo progressivamente recrutados em camadas sociais
diferentes daquelas que forneciam profissionais para o magistério em outros tempos.
Fabio Ribas, 2010
capítulo 1 • 23
LEGISLAÇÃO O QUE DIZ
CONSTITUIÇÃO Valorização dos profissionais da educação escolar, ga-
rantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
FEDERAL, ARTIGO 206, so exclusivamente por concurso público de provas e
ITEM V E títulos, aos das redes públicas.
LDB – TÍTULO VI
CONSTITUIÇÃO Piso salarial profissional nacional para os profissionais
da educação escolar pública, nos termos de lei federal.
FEDERAL, ARTIGO 206,
ITEM VI E
LDB TÍTULO VI
Regulamenta o piso salarial profissional nacional para
LEI NO 1.1738, DE os profissionais do magistério público da Educação
16/7/2008 Básica
capítulo 1 • 24
Percentual de docentes com curso superior no ensino
fundamental, rede pública e privada 2000 - 2012
75,5 78,0 79,5 73,0 73,9
72,6 73,4 73,0 72,6 72,5
66,2 69,1
62,5 64,5
71,6 71,9 73,1 74,3 75,9 78,4 80,1
70,7
64,0
54,6 56,9
47,7 50,2
45,9
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Privado Publico
50%
Dois alunos Aluno com professor de baixo
com o mesmo desempenho
aproveitamento
37%
0%
8 anos 11 anos
Idade
É importante, porém, destacar que essa relação entre a boa formação docente
e os resultados dos alunos não é tão simples quanto parece e precisa ser anali-
sada com bastante espírito crítico. Em momento oportuno de nossos estudos,
vamos aprofundar este tema. Por ora, porém, é importante lembrar que nossas
capítulo 1 • 25
análises ficam mais completas sempre que utilizamos os diversos indicadores de
modo conjunto.
Assim, não podemos associar diretamente os resultados dos alunos à formação
do professor. Se assim fosse, todos os alunos de professores bem formados teriam
bons resultados. E não é isso que não ocorre na prática, pois outros fatores devem
ser levados em conta. Desde a origem socioeconômica e cultural dos alunos, pas-
sando pelas condições da escola em que estuda, pelas suas próprias características
individuais, pelo seu esforço e tantos outros fatores, além da formação docente.
Por fim, é importante lembrar que a escola é um espaço de formação, não
apenas para o aluno, mas para o próprio professor. Nesse sentido foi colocada a
pergunta do título.
As experiências vivenciadas pelo professor vão formando seu perfil docente,
ao longo do tempo. Aquilo que ele aprende enquanto ensina vai se agregando ao
seu saber docente. Tudo que compartilha com os alunos e outros profissionais da
escola retorna, de algum modo, à sua própria formação.
capítulo 1 • 26
• Um conjunto de características que possam ser compreendidas por todos os
envolvidos na vivência educativa;
• A identificação das práticas que essas características permitem transformar
em realidade;
• A reprodução dessas práticas em outras escolas, considerando a realidade na
qual elas estão inseridas.
CARACTERÍSTICAS DAS
ANO PAÍS PESQUISADOR(ES) ESCOLAS EFICAZES
Autonomia da escola, liderança
organizacional, articulação curri-
cular, otimização do tempo, esta-
1992 Portugal António Nóvoa bilidade profissional, formação do
pessoal, participação dos pais, re-
conhecimento público e apoio das
autoridades.
capítulo 1 • 27
CARACTERÍSTICAS DAS
ANO PAÍS PESQUISADOR(ES) ESCOLAS EFICAZES
Missão comum (valores e crenças
compartilhados, objetivos claros e
liderança capaz de produzir apren-
dizagem); ambiente favorável à
aprendizagem (entorno físico, pre-
paração e responsabilização do
próprio aluno, mecanismos de re-
conhecimento e incentivo, condu-
tas positivas de todos e participa-
2005 Brasil Duk
ção ativa e apoiadora dos pais e da
comunidade) e ênfase na aprendi-
zagem (enfoque de construção do
pensamento, desenvolvimento dos
professores, supervisão de condu-
ta e apoio à aprendizagem, manu-
tenção de expectativas elevadas
no que se refere aos resultados de
toda e qualquer natureza).
capítulo 1 • 28
A forma como as características se manifestam responde à identidade de cada escola
e resulta dos modos como estas se apropriam de sua história, das normas institucionais
e do que delas se espera, formando uma cultura própria de responsabilidade cujo foco
é a aprendizagem dos alunos.
Visão compartilhada
sobre as metas da escola
Aprendizagem como
foco central da escola
Normas de
Senso elevado
convivência Expectativas Otimização do
de responsabilidade
claras, aceitas e positivas tempo escolar
profissional
incorporadas
Relações
eficácia interpessoais
escolar positivas Escola
Rígidas Flexíveis Formação Trabalho
Comunicadas Negociadas Continuada em equipe
Pais Alunos
Visão articulada das características recorrentes de práticas encontradas no ensino médio dos diferentes Estados investigados
capítulo 1 • 29
Por fim, é importante destacar o papel das equipes de gestão no resultado da
pesquisa e da eficácia escolar em geral: são elas que exercem a liderança que cria e
organiza um ambiente agradável e propício à aprendizagem.
Os gestores ocupam uma posição central, exercendo liderança sobre os demais parti-
cipantes do processo educativo. Esse trabalho é pleno de expectativas marcadamente
positivas a respeito dos estudantes e compartilhadas com as suas respectivas famílias,
incentivando-as a manter a escola no centro de suas prioridades e do projeto de vida
dos seus filhos.
Escolas Eficazes – INEP/MEC – 2010
capítulo 1 • 30
A escola deve se transformar num lugar de convivência, nos quais as pessoas
possam trocar entre si aquilo que sabem e aquilo que são. Um lugar em que os
mais velhos eduquem os mais jovens, mas também se deixem educar por eles.
Onde os que sabem mais sobre alguma coisa reconheçam que não sabem tudo
sobre todas as coisas e possam aprender algo com quem sabe menos.
Um lugar que concretize aquilo que Drücker (1994) chamou de espaço das
trocas de saberes da comunidade. Mas também um lugar em que se comuniquem
as vivências e saberes do mundo, fazendo dos alunos e educadores sujeitos plane-
tários, capazes de agir na sua realidade local sem perder de vista que somos parte
de uma sociedade global e da espécie humana: uma cidadania que vai além da
comunidade local e imediata.
As escolas precisam de outro modelo de formação para o mundo do trabalho,
que dê conta das urgências que vimos nos parágrafos anteriores. Uma formação
que se inicia na Educação Infantil, quando as crianças começam a desenvolver,
junto às outras crianças e aos seus educadores, as habilidades tão necessárias ao
mundo em que vivemos e em que eles viverão sua vida adulta. E que vai aprofun-
dando estas e acrescentando outras, na medida em que as crianças vão crescendo
em tamanho e em sabedoria.
As escolas precisam, ainda, de uma concepção de aprendizagem que atenda às
características de um mundo em permanente transformação daquilo que é conhe-
cido. Em outras palavras, a escola precisa ser lugar de aprender a aprender, para
que possamos, todos, acompanhar a evolução dos tempos e os tempos de evolução
que estamos vivendo.
Em documento da Unesco13 , Jacques Delors sintetizou essa função da educa-
ção, para a qual a escola deve contribuir de maneira bastante decisiva, permitin-
do-nos apontar quatro aprendizagens como seu grande objetivo: aprender a ser,
aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a aprender. Essas aprendizagens
devem ser compreendidas sempre ligadas entre si: quando fazemos coisas juntos,
aprendemos a conviver e, com isso, desenvolvemos aquilo que somos e aprende-
mos como aprender sempre mais e melhor.
capítulo 1 • 31
Aprender a ser
Aprender a conviver
Aprender a aprender
Aprender a viver
capítulo 1 • 32
• Ênfase e enfoque nos aspectos individuais do gestor, desconsiderando, mui-
tas vezes, que a prática da gestão tem sido um trabalho, cada vez mais, de equipe.
Com isso, enfatiza-se um conjunto de atributos e características individuais que o
gestor deve desenvolver, em lugar de se apregoar a importância do seu papel como
parte constitutiva de uma equipe, ainda que tenha nela um papel de liderança.
Boas escolas podem ser bons lugares onde as pessoas desenvolvam sua capacidade
de resolver alguns dos principais desafios com os quais todo ser humano se depara na
vida, especialmente os que têm a ver com compartilhar de forma equilibrada o espaço,
os bens materiais e simbólicos, além das responsabilidades produtivas e éticas.
Monteiro e Motta, 2013
capítulo 1 • 33
As redes públicas têm feito investimentos nesse sentido e diversos serviços têm
sido disponibilizados16 . Seja para professores que vão se tornar gestores escolares,
seja para a atualização dos atuais gestores. O site do MEC, por exemplo, é farto
em materiais que podem auxiliar nessa formação, para quem ainda não é gestor
da rede pública, já que muitos programas desenvolvidos pelos governos têm como
público-alvo os gestores de suas redes.
As escolas particulares, por sua vez, parecem estar começando a descobrir a im-
portância da formação continuada de seus gestores. Passado um primeiro momento
em que se colocou muita ênfase na formação continuada de professores, essas escolas
começam a se preocupar com a formação de suas equipes técnicas e já existem inicia-
tivas, inclusive, de promover essa formação de modo conjunto, reunindo diferentes
escolas, por meio de entidades como os sindicatos e outras associações.
capítulo 1 • 34
99 O gestor escolar pode fazer uma enorme diferença para tornar realidade o
sonho de uma escola que contribua para uma sociedade melhor.
99 Para fazer essa diferença, é preciso que o gestor se capacite cada vez mais,
atualizando-se sempre para esse trabalho.
É importante que, como educadores, trabalhemos para que nossas escolas sejam es-
ses celeiros do novo, de sementes de novas realidades e os campos de seu preparo e
cultivo. Mas a colheita, no mais das vezes, não se dá na escola, sob as nossas vistas.
Outros vão colher, em outros tempos e lugares, aquilo que plantamos e que eventual-
mente venha a germinar. E essa é a gota dourada de generosidade que não pode faltar
a ninguém que eduque.
Monteiro e Motta, 2013
capítulo 1 • 35
capítulo 1 • 36
2
Da administração
para a gestão: mais
que uma mudança
de nome
Da administração para a gestão: mais que
uma mudança de nome
Durante muito tempo, cerca de 8.000 anos, os vários povos e sociedades vive-
ram, principalmente, da exploração do que a terra lhes dava.
Alguns eram coletores e retiravam o que a natureza oferecia em estado bruto;
outros eram agricultores, outros criavam animais, e assim por diante.
A vida, até ali, obedecia ao tempo da natureza, das estações (inverno, prima-
vera, verão, outono) que determinavam o clima.
Por volta do ano de 1500, importantes transformações começaram a ocor-
rer. Algumas delas nós já conhecemos nos nossos tempos de escola, nas aulas
de História:
• A utilização da pólvora, que permitia a alguns povos dominarem outros;
capítulo 2 • 38
• A imprensa, que permitia a multiplicação de ideias por meio de livros, mui-
to mais rápidos de serem produzidos do que aqueles escritos à mão;
• A invenção de instrumentos que permitiram as navegações que levaram os
europeus a se deslocarem até a África e as Américas;
• E muitas outras descobertas e invenções.
Porém, mais importante foi o pensamento por trás de tudo que aconteceu...
Até aquela época, o mais comum era explicar a realidade pelos mitos, pela reli-
gião, pela filosofia e pelo chamado senso comum. Todos esses modos de explicação
tiveram e têm sua importância. Mas algumas mudanças no modo de pensar foram
muito marcantes:
• Deixa-se de acreditar que o planeta Terra era o centro do universo e enten-
de-se ali que nós giramos ao redor do Sol;
• Deixa-se de acreditar que a Terra é plana como uma folha de papel e ela
passa a ser vista como um globo;
• Passa-se a acreditar que as afirmações religiosas podem ser reinterpretadas e,
até mesmo, questionadas;
• Passa-se a acreditar que o ser humano pode construir sua própria História e
seu próprio modo de explicar o mundo que o cerca.
capítulo 2 • 39
As características das sociedades se transformaram tanto que hoje, quando
olhamos para aquela época, falamos de uma passagem: passamos de uma Época
Pré-Moderna para a chamada Modernidade.
Se quisermos comparar, é como as passagens da nossa vida, em que as caracte-
rísticas vão mudando tanto que passamos da época da infância para a adolescên-
cia, por exemplo.
É claro que algumas características da infância prosseguem pela adolescência.
Do mesmo modo, algumas características pré-modernas vão permanecer ao lon-
go da Modernidade. Mas o conjunto de características nos permite falar de uma
nova época.
Alguns autores preferem utilizar os modos de produzir os bens materiais para explicar
as eras pelas quais as sociedades foram passando. Assim, utilizam as expressões Pré
-Industrial, Industrial e Pós-Industrial. Daremos preferência, aqui, a esta nomenclatura e
passaremos a usá-la daqui por diante.
capítulo 2 • 40
Passamos a falar, então, de uma sociedade pós-industrial.
Um modo simples de entender como a riqueza passa a ser produzida ao longo dessas
eras é com o seguinte exemplo:
• Riqueza produzida pela terra: um criador de gado vende um boi para a indústria, por
exemplo, por mil reais.
• Riqueza produzida pela indústria: uma fábrica transforma aquele boi em cortes de
carne, couro e diversos outros produtos e apura dez mil reais.
• Riqueza produzida pelo conhecimento e pela informação: uma empresa de informática
cria um programa de distribuição daqueles produtos industrializados e ganha, com esse
software, cinquenta mil reais.
É nesse sentido que colocamos na informação e no conhecimento os principais fatores
de produção da riqueza nos tempos em que vivemos.
No capítulo 1 já
comentamos sobre as diferentes
formas de educação ao longo dos
tempos. Agora que você sabe mais
sobre as diferentes épocas, conseguiria
associar os diferentes tipos de educação a cada
modelo de produção de riqueza? Se acha que
consegue, tente resolver o exercício proposto
no quadro a seguir.
© WIKIMEDIA.ORG
capítulo 2 • 41
Alguns autores que dividiram a história ocidental em três grandes eras indicaram mo-
delo de educação que atendia à maioria da população em cada uma dessas épocas.
Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, associando o modelo de educação
com a era correta.
(A) 1–2–3.
(B) 3–2–1.
(C) 1–3-2.
(D) 2–1–3.
(E) 2–3–1.
16
capítulo 2 • 42
Segundo alguns autores, esses exemplos ajudam a compreender duas fases pe-
las quais passou a história da administração. Preferimos enxergar nessa história,
duas linhas de pensamento, já que elas se interpenetram ao longo do tempo:
• Administração teocrática17 – na qual os responsáveis pelas organizações ou
pelos grupos se consideravam enviados dos deuses e diziam governar e administrar
em nome deles.
• Administração do senso comum – na qual os “administradores” usavam o
processo de experimentar as ações, repetindo as que davam certo e evitando as que
davam errado.
A família precisava de móveis? Não se recorria ao carpinteiro para fazê-los nem eram
comprados numa loja da Rua do Comércio. Nada disso. A própria família do camponês
derrubava a madeira, limpava-a, trabalhava-a até ter os móveis de que necessitava. Pre-
cisavam de roupa? Os membros da família tosquiavam, fiavam, teciam e costuravam
– eles mesmos.
Huberman, 1986, p. 62
17 A palavra teocracia compõe-se de dois radicais: Teo + Cracia. Teo vem da palvra theos, que significa deus.
Cracia vem de kratos, que significa poder. Teocracia, portanto, seria um poder que vem de deus.
capítulo 2 • 43
Fim do A A A
Século 19 partir dos partir dos partir dos
Início do Anos Anos Anos
Século 20 1920 1940 1980
A mesma observação que já fizemos em outros pontos do nosso texto, voltamos a fazer
aqui. A divisão entre as diferentes etapas tem apenas objetivo didático. Quando fala-
mos em ênfase, queremos chamar a atenção para aquele conjunto de preocupações
que mais chamavam a atenção dos administradores naquele momento. Com o passar
do tempo, porém, novas preocupações aparecem e as ênfases vão mudando; mas é
interessante observar que a figura no quadro conserva cada uma penetrando na fase
posterior, querendo mostrar que aqueles fatores podem continuar existindo, mas o foco
se desloca para outro aspecto do modo de atuar da organização.
capítulo 2 • 44
de executar o que foi concebido pelos primeiros: com o taylorismo implanta-se a
separação entre atividade mental e atividade manual no interior das organizações.
Podemos começar a fazer relações a que nos referimos algumas linhas atrás,
percebendo como essas tendências dialogam com a educação escolar:
• O modelo de escola que favorece a formação de trabalhadores para essa or-
ganização das empresas podia se limitar a ensinar a ler, escrever, contar e obedecer.
Por incrível que pareça, passados mais de cem anos, muitos ainda acreditam que
este é o papel social da escola.
• Ao longo do século 20 e até hoje, muitas escolas ainda trabalham desse
modo: alguns profissionais pensam o que deve ser feito (técnicos das secretarias de
educação, diretores, coordenadores, supervisores etc.) e outros (inclusive professo-
res) se limitam a executar os planos traçados pelos primeiros.
• A administração desse tipo de escola se preocupa menos com os resultados de
longo prazo e mais com as tarefas imediatas do dia a dia, sem aproveitar pedagogi-
camente as “surpresas” que a escola nos apresenta diariamente. O mais importante é
que tudo aconteça de acordo com os planos. Nesse tipo de escola, corre-se o risco de
colocar em prática aquilo que Celso Vasconcellos apresenta como “o aluno finge que
aprende e os educadores fingem que ensinam...”. Afinal, enfatiza-se tanto as tarefas
que perde-se de vista, muitas vezes, a que resultados aquelas tarefas vão levar a escola.
Para melhor compreender esse modo de produzir e administrar, assista aos vídeos a
seguir, procurando fazê-lo na ordem em que são apresentados:
1. <https://www.youtube.com/watch?v=oNKo4EE2DAo>
2. <https://www.youtube.com/watch?v=zBRJKdnWXls>
3. <https://www.youtube.com/watch?v=2DvLz0uz9iI>
A ênfase na organização
sar
Faz
Pen
er
capítulo 2 • 45
Embora conte com diversos autores, vamos destacar, neste modelo de ad-
ministração, apenas dois grandes criadores, que são Henry Fayol e Max Weber.
Eles são responsáveis, respectivamente, pela teoria clássica e pela teoria burocrática
da administração.
Na teoria clássica, ainda se conserva um tanto da ênfase nas tarefas, mas co-
meça a aparecer a preocupação com a organização formal, compreendida como
um conjunto de órgãos, cargos e tarefas, no qual se reforça a chamada pirâmide
organizacional, na qual mandam os de cima e obedecem os de baixo: as funções
administrativas eram vistas como aquelas que coordenam as funções produtivas.
A teoria clássica teve como uma de suas grandes contribuições, a definição
das funções da administração (que não vamos aprofundar neste momento porque
será tema de nossos estudos em outra unidade): planejar, organizar, comandar,
coordenar e controlar, hoje reunidas em planejar, organizar, dirigir ou executar e
controlar.
O conceito de homem econômico ainda se mantém, agora sustentado pela
busca da maior eficiência possível da organização: quanto mais a organização fa-
vorece a produção com menos recursos, maiores as possibilidades de o trabalhador
produzir e consumir.
Entre as críticas feitas a esse modelo, aparecem
• A manipulação dos trabalhadores por meio dos incentivos materiais
e salariais;
• A excessiva unidade de comando e responsabilidade;
• A empresa vista como sistema fechado, desconsiderando a realidade ao
seu redor.
capítulo 2 • 46
Weber, ao contrário, acreditava que a burocracia era o melhor meio de orga-
nizar as instituições e apresentou, em seu modelo administrativo, um conjunto de
características da burocracia, entre as quais podemos destacar:
• A lei é a base de tudo e deve se constituir como referência para as regras
e regulamentos;
• O princípio da hierarquia é fundamental, garantindo a possibilidade de que
diretorias e chefias controlem e garantam a ordem e a subordinação que fazem a
organização funcionar com eficiência;
• A competência técnica deve ser o critério decisivo para as contratações e ava-
liações de funcionários, compreendidos como peças de uma máquina que devem
• Cumprir as tarefas que deles são esperadas;
• As relações devem ser de natureza formal, já que as relações informais fogem
ao controle e à supervisão.
O modelo burocrático, porém, representa um avanço em relação ao modelo
clássico, já que compreende a organização como um sistema social (e não apenas
como uma estrutura organizacional), embora se trate de um sistema com funções
oficializadas. Alguns autores consideram, ainda, que ele favorece os indivíduos
quando estabelece previamente uma orientação que traz um tipo de alívio psico-
lógico, já que não é preciso ficar a todo momento tendo que decidir como agir
diante de cada situação.
Entre as críticas feitas a esse modelo, podemos destacar:
• A organização totalmente racional proposta por Weber é um tipo ideal,
que acaba sendo modificado pelos trabalhadores, quando se defrontam com a
realidade;
• As regras acabam sendo internalizadas pelos trabalhadores que passam a se
apegar aos regulamentos e ao formalismo;
• Gera resistência a mudanças;
• Traz o risco de criar dificuldades no relacionamento com o público externo,
especialmente com os clientes da organização.
capítulo 2 • 47
• Ainda hoje, muitas escolas se prendem ao foco na sua estrutura organiza-
cional, com rígidas estruturas hierárquicas compreendidas como o melhor meio
de atingirem seus objetivos;
• Existe uma preocupação em priorizar o respeito às relações formais, sem
valorizar as relações informais, seja entre a equipe de gestão e o restante da escola,
seja entre os próprios profissionais entre si, e ainda destes com os alunos e suas
famílias;
• A preocupação acaba se deslocando para o cumprimento de metas e prazos,
como a entrega de boletins e relatórios na data certa, muitas vezes considerando
menos o próprio conteúdo daqueles resultados;
• Quando se trata de escolas públicas (e, em muitos casos, também em escolas
privadas), a equipe de gestão acaba gastando mais tempo no preenchimento de
fichas e relatórios do que se ocupando de ações mais importantes, como as rela-
ções com a comunidade e a implantação de um projeto pedagógico significativo,
traduzido num currículo integrado e integrador.
capítulo 2 • 48
administradores questionam os conhecimentos até ali estabelecidos pelas teorias
administrativas com foco nas tarefas e nas organizações.
A partir dos anos 1930, as organizações passam a se preocupar com as pessoas,
com base em experimentos que estabeleceram os princípios da chamada “Escola
das Relações Humanas18” , para a qual os principais fatores para a melhoria do
nível de produção seriam:
• A integração social;
• O comportamento social dos trabalhadores;
• A formação de grupos informais;
• As relações interpessoais;
• A importância do cargo ocupado;
• Os aspectos emocionais dos trabalhadores.
18 A palavra “escola” não tem aqui, o sentido que normalmente lhe damos, mas sim, de um conjunto de pensadores
e ideias que se assemelham.
capítulo 2 • 49
• Os trabalhadores seriam fruto de uma concepção ingênua que não se con-
firmava na prática (como, por exemplo, a ideia de que bastaria a satisfação no
trabalho para fazer aumentar a eficiência produtiva);
• Os grupos informais nem sempre contribuíam positivamente para o alcance
dos resultados;
• A aplicação dessa teoria favoreceria a manipulação dos empregados e a de-
magogia dos empresários, fatores logo identificados e criticados pelos sindicatos.
Em reação a essas críticas, no final dos anos 1940 surge a teoria comportamen-
tal da administração, que abriu mão das normas e prescrições das teorias clássicas,
da burocracia e das relações humanas, buscando se ocupar mais a descrever e ex-
plicar os comportamentos dos trabalhadores.
Segundo Chiavenato (2003), ainda se coloca ênfase no comportamento hu-
mano, mas o contexto organizacional passa a ser levado em consideração de um
modo mais amplo, reconhecendo-se a inter-relação das pessoas com a organização
e vice-versa, com as influências de uns em relação aos outros.
Reconhece-se o sistema psíquico que permite às pessoas organizarem, cada
um a seu modo, suas percepções diante do todo, o que favoreceria a aprendizagem
e a mudança de atitudes. Esse reconhecimento faz com que se leve em conta os
conflitos entre objetivos pessoais e objetivos da instituição, cuja solução é fruto de
mudanças de comportamentos e estruturas.
Pode-se considerar, ainda, entre as características dessa teoria, a importância
que é dada aos grupos de trabalho como um meio eficiente para se alcançar os
objetivos pretendidos. Mesmo reconhecendo-se seus valores, a teoria comporta-
mental também recebe suas críticas:
• Trouxe um exagero no modo de tratar os problemas das relações na organi-
zação, psicologizando-os em demasia;
• Desprezou as diferenças individuais de personalidade, buscando a padro-
nização de comportamentos, com uma aplicação muito direta dos princípios de
pesquisa dos fenômenos naturais aos comportamentos humanos.
As principais relações que podem ser estabelecidas entre as teorias administra-
tivas com ênfase nas pessoas e a escola são:
• Em algumas situações, os gestores da escola priorizam o bem-estar e o reco-
nhecimento dos direitos individuais, tanto dos profissionais, quanto dos alunos e
pais. Isso pode trazer dificuldades de gerenciamento, na medida em que se torna
complicado conciliar tantos interesses distintos;
• Ao mesmo tempo, vive-se um clima de liberdade que favorece o desenvolvi-
mento de valores e práticas ligadas à convivência com os outros;
capítulo 2 • 50
• No trabalho da sala de aula, vive-se as mesmas dificuldades apontadas em
relação aos gestores, na busca de conciliação de interesses distintos;
• Sem desconsiderar os conteúdos conceituais, o currículo valoriza os con-
teúdos atitudinais e procedimentais, como forma de valorização das características
dos indivíduos e grupos.
A ênfase no ambiente
capítulo 2 • 51
foram assumindo contribuições de outros campos do conhecimento, em espe-
cial da Antropologia, da Sociologia do Trabalho e da Psicologia (em especial,
da Psicanálise).
A Sociologia do Trabalho, por exemplo, oferece importantes contribuições
que permitem compreender como ocorreram e ocorrem os processos de socializa-
ção no mundo do trabalho por meio de uma educação moral que contribui para
a contínua formação da personalidade e da construção da história de vida dos
profissionais, ambas compreendidas como uma construção social.
Os conhecimentos da Psicologia vêm se juntar àqueles trazidos pela Sociologia,
constituindo a Psicossociologia, que nos permite construir um referencial para
descrever a complexidade das organizações a partir de relações dialéticas19 entre
os diversos elementos e fenômenos que as constituem.
É assim que as práticas contemporâneas de gestão, especialmente no espaço
escolar, têm uma preocupação maior com as relações e contatos que mantêm o fun-
cionamento das organizações do que com as funções tradicionalmente atribuídas ao
gestor, em seu sentido estrito. Tais funções, como já dissemos, ainda permanecem,
mas agora levando em consideração os posicionamentos das pessoas nelas envolvidas.
19 Dialética era, na Grécia Antiga, a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar
uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na
discussão. Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo de pensarmos as contradições
da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente
transformação. In: KONDER, Leandro. O que é Dialética. São Paulo: Brasiliense, 2004.
capítulo 2 • 52
Por fim, a especialização em gente consiste em compreender os vínculos que consti-
tuem as redes de relacionamento, pois são estes vínculos que constituem os pontos de
apoio para a ação dos indivíduos, dos grupos e da própria instituição.
MOTTA, 2006, adaptado.
PARADIGMA é o
conhecimento que os Um modo de olhar
membros de uma
comunidade científica
compartilham...
...que se traduz uma
linguagem que promove
Um modo de falar o diálogo entre o
conhecimento científico
e a realidade.
20 Pensar os processos e executá-los não competem a pessoas nem a grupos diferentes. Constante preocupação
com resultados inclui preocupação com os processos para atingi-los. Coragem para enfrentar riscos e incerteza;
abertura ao novo. A importância de ocupação de papéis nos diferentes grupos sociais leva em conta as peculiaridades
dos alunos e profissionais. Estruturas organizacionais mais flexíveis e menos verticalizadas. Valorização dos processos
de comunicação e das relações interpessoais formais e informais. Priorização de relações com a comunidade.
Elaboração e implantação de um projeto pedagógico significativo. Currículo integrado e integrador. Valorização do
bem-estar dos diferentes membros da comunidade escolar. Clima de liberdade e participação. Busca da conciliação,
mais do que imposição ou votação. Valorização das características dos indivíduos e grupos.
capítulo 2 • 53
Trabalharemos, portanto, com a ideia de que a mudança de paradigma traz
um novo modo de olhar para as organizações e falar sobre elas, utilizando-se ele-
mentos do campo da administração ou da gestão.
A mudança de paradigma se mostra mais claramente por meio da linguagem
com que descrevemos nossas práticas. E a etimologia21 ajuda a compreender
essa mudança.
Estamos passando da “ADMINISTRAÇÃO” para a “GESTÃO”
ADMINISTRAÇÃO GESTÃO
capítulo 2 • 54
Ao longo do curso, teremos oportunidade de aprofundar essas ideias, ao mesmo tempo
que devemos tê-las sempre presentes em nossos estudos daqui por diante.
Administração/gestão: conceitos
Utilização racional
capítulo 2 • 55
são espaços onde são valorizadas, na maioria das vezes, qualidades como a per-
manência (em lugar da mudança) e a previsibilidade (em lugar da surpresa e da
valorização do novo).
Há alguns anos, Gilberto Gil compôs uma canção gravada por ele e pelos Paralamas,
chamada A Novidade.
Experimente ouvir a canção prestando atenção à letra e veja a dificuldade das pessoas
para lidar com tudo que é novo.
Outro modo de traduzir a palavra ratio, como já dissemos, seria entendendo-a como
organização: utilização racional seria a utilização organizada. Deixaremos de lado essa
tradução, considerando que ela auxilia muito pouco na análise que pretendemos em
nossos estudos. Ao mesmo tempo, acreditamos que, ao optar por um modo de organizar
a escola, estamos, no fim das contas, escolhendo uma racionalidade, conforme vimos
nos parágrafos anteriores.
Os recursos
Já afirmamos, por diversas vezes ao longo do nosso texto, que estamos consi-
derando a sociedade na qual se insere a escola, hoje, como pós-industrial, o que
significa valorizar a informação e o conhecimento.
Ora, informação e conhecimento são elementos intangíveis, isto é, não são
coisas palpáveis como a terra, a máquina e outros recursos de produção. Assim,
capítulo 2 • 56
precisamos reconhecer que o modo de existir do conhecimento é por meio das
pessoas que o produzem e “portam”. Nesse contexto de interpretação é que vamos
considerar a palavra recurso.
Segundo Chiavenato (2000:52-55), “recursos são bens ou serviços que as em-
presas possuem para realizar suas tarefas e atingir seus objetivos: são bens ou servi-
ços necessários para produzir o produto final ou o serviço prestado pela empresa.”.
Portanto, podem ser físicos ou materiais, financeiros, humanos, mercadológicos
ou administrativos.
O professor, por exemplo, não é um recurso, mas o serviço que ele presta
pode ser assim interpretado. Bem conduzida, essa objetivação do serviço prestado
permite separar da pessoa que falhou, as possíveis falhas do trabalho executado, o
que favoreceria auxiliar as pessoas de modo mais abrangente por meio do trabalho
de formação continuada.
Outro aspecto em defesa da consideração do trabalho das pessoas como o
recurso mais importante da escola vem da perspectiva trazida por Paro (2000:24-
25), que compreende a expressão recursos humanos como recursos do homem,
isto é, técnicas e conhecimentos que só o homem consegue acumular historica-
mente. Assim, a expressão recursos humanos precisa ser entendida no sentido es-
pecífico de recurso do homem evitando-se compreender o homem como recurso.
Objetivos determinados
capítulo 2 • 57
A semântica da palavra objetivo mostra que ela tem diversos níveis de abran-
gência. Segundo Chiavenato (2000:50), essa palavra pode expressar metas, fins,
missões, propósitos, padrões, linhas mestras, alvos, cotas etc.
A escola, por sua vez, trabalha com objetivos que o professor busca atingir com
seus alunos, ao final de uma aula, de uma atividade ou de uma unidade do seu pro-
grama. Esses objetivos devem estar integrados aos objetivos imediatos que os demais
professores também têm, ao mesmo tempo que contribuem para atingir os objetivos
de médio prazo que são próprios da etapa escolar cursada pelo aluno22 e da área de
conhecimento na qual se inclui aquela disciplina. A instituição, por sua vez, tem seus
objetivos de longo prazo, traduzidos e sintetizados na sua missão institucional que,
para se concretizar, necessita do alcance desses objetivos imediatos e de médio prazo.
Missão institucional
(objetivos de longo prazo)
Trabalho de cada
profissional
(objetivos de curto prazo)
capítulo 2 • 58
Em diversas histórias infantis encontramos exemplos do conceito de gestão que aca-
bamos de detalhar. Uma delas aparece no desenho Os Três Porquinhos, que você en-
contra facilmente no Youtube. Você conseguiria identificar os elementos desse conceito
de gestão naquele desenho? Conseguiria se lembrar de outras histórias e desenhos em
que ele aparece?
Gestão técnico-científica23
capítulo 2 • 59
• Ênfase na administração (sistema de normas, regras, procedimentos buro-
cráticos de controle das atividades), às vezes descuidando-se dos objetivos especí-
ficos da instituição escolar.
• Comunicação linear (de cima para baixo), baseada em normas e regras;
• Maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas.
Modelo autogestionário
capítulo 2 • 60
que precisa atender a objetivos sociais e políticos muito claros, em relação à esco-
larização da população.
capítulo 2 • 61
deles na realidade das escolas onde estagiam. Essa busca vai se mostrar infrutífera
porque, como já dissemos, esses modelos são teóricos e não existem em estado
puro. Retomamos esta observação porque ela é importantíssima. Seja para quem
vai observar a gestão de alguma instituição para fazer suas críticas no relatório de
estágio, seja para quem já está no mercado de trabalho da escola e, muitas vezes,
faz uma análise com parâmetros inadequados da instituição em que atua.
Outro ponto a ser observado refere-se ao fato de que, dificilmente encontra-
mos, na prática, o modelo autogestionário. Embora ele seja apresentado nos dife-
rentes livros de Gestão Escolar, o que se constata é a dificuldade em implantá-lo
de uma maneira mais generalizada, especialmente no modelo atual das escolas
públicas, ainda muito necessitado de certa dose de “centralização” que se opõe
frontalmente àquele modelo. Convém observar, ainda, que se trata de um modelo
de difícil aplicação, também, em grandes instituições, com muitos alunos e profis-
sionais de educação, pelas razões óbvias da dificuldade de participação direta nas
discussões e decisões.
Embora já tenhamos feito, anteriormente, a relação entre as práticas e os para-
digmas que as sustentam, cabe lembrar aqui esse aspecto. O discurso democrático
e participativo é muito tentador, mas é muito passível de manipulações de vá-
rios tipos. Muitas escolas apresentam-se sob esse modelo de gestão, mas a prática
mostra que muitas características que vimos nesse modelo não são percebidas na
realidade institucional.
Por fim, e talvez o mais importante, precisamos lembrar que a gestão da escola
vai trabalhar na perspectiva de concretizar um currículo que busca alcançar os
objetivos determinados pela instituição, seja de modo centralizado, seja de modo
participativo. Esse currículo, porém, se traduz em tendências pedagógicas que, por
sua vez, apontam para:
• Concepções de mundo, de pessoa e de escola;
• Concepção do que seja o conhecimento;
• Conteúdos a serem priorizados;
• Métodos a serem utilizados;
• Modos de conviver.
Trata-se daquelas características que você deve se lembrar das aulas de Didática,
História da Educação, Filosofia da Educação e outras.
capítulo 2 • 62
Algumas ideias a título de conclusão deste capítulo
Este foi um capítulo bastante denso de nossos estudos, mas podemos sintetizar
algumas ideias-chave que devemos levar para as próximas etapas do nosso curso.
Vimos a evolução histórica dos modelos de produção e retomamos a ideia já
apresentada no capítulo 1, segundo a qual, os modelos de escola estão bastante
ligados às exigências sociais e seus modos de produção de bens.
Ao tratar dos diferentes paradigmas nos quais iriam se sustentar as correntes
administrativas, tivemos a oportunidade de rever alguns conceitos já estudados em
outras disciplinas, especialmente ao tratar dos paradigmas cartesiano, interpreta-
tivo e crítico-social.
Estudamos os modelos administrativos e vimos que eles se aplicam não apenas
às empresas, mas a diferentes instituições, inclusive a escola. Naquele momento,
demos exemplos dessas relações.
A partir de tudo isso, conseguimos apresentar o conceito de gestão com o qual
trabalharemos. Detalhamos esse conceito, para que ele se tornasse mais claro e
palpável, permitindo apresentar os modelos de gestão.
Com base nos diferentes autores que tratam do tema, vimos que a gestão es-
colar atual não acompanha integralmente os modelos teóricos nos quais costuma
ser classificada, pois utiliza elementos dos modelos tecnicista e democrático-parti-
cipativo, variando essa utilização de acordo com a missão e os objetivos a que cada
uma se propõe.
Apresentamos as condições para a gestão democrática da escola pública e as
dificuldades para que ela se concretize, assunto este que será retomado em outros
pontos de nossos estudos sobre gestão escolar.
Embora a escola sozinha não possa corrigir os problemas sociais, quando ela é eficaz,
pode contribuir, nos limites da sua faixa de atuação, para diminuir as diferenças sociais.
GOMES, 2005:284 in: MOTTA, 2006.
capítulo 2 • 63
Para saber mais sobre os temas tratados neste capítulo
99 Funções Sociais da Educação e da Escola – capítulo 2 do livro Gestão Escolar: pers-
pectivas, desafios e função social, de Eduardo Monteiro e Artur Motta. Editora GEN,
2013.
99 Gestão e Educação – capítulo 3 do livro Gestão Escolar: perspectivas, desafios e
função social, de Eduardo Monteiro e Artur Motta. Editora GEN, 2013.
99 CHIAVENATO, Idalberto. História da Administração: Entendendo a Administração e
sua Poderosa Influência no Mundo Moderno. 1. ed., 2008.
99 LIBÂNEO, José Carlos. O sistema de organização e gestão da escola. In: LIBÂNEO,
José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 4ª ed. Goiânia: Alterna-
tiva, 2001.
capítulo 2 • 64
3
Projeto Político-
Pedagógico e
participação
democrática
Projeto Político-Pedagógico e participação
democrática
Projeto Político-Pedagógico
capítulo 3 • 66
Trata-se de um documento que aparece com diferentes nomes na LDB, às
vezes como proposta pedagógica, noutras como projeto pedagógico. Há uma una-
nimidade, porém, no sentido de que, seja qual for o nome,
• Toda escola deve ter esse documento;
• Ele deve ser conhecido por todos.
Pro Jectum
24 A palavra projeto tem sua origem no latim: projectum = algo lançado à frente. Vem do verbo projicere, formado
por pro = à frente + jacere = lançar.
capítulo 3 • 67
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III. pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (...);
V. valorização dos profissionais da educação escolar (...);
VI. gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII. garantia de padrão de qualidade.
capítulo 3 • 68
Este é o caso, por exemplo, da Resolução CNE/CEB nº 425 de 13 de julho de
2010, quando afirma, em seu Artigo 10, parágrafo 1º que o “planejamento das
ações coletivas exercidas pela escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto
à relevância de um projeto político-pedagógico concebido e assumido colegia-
damente pela comunidade educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a
pluralidade cultural.”.
A Resolução do CNE no 7/2010 também faz importantes referências ao PPP,
como se vê no Parágrafo 1º do Artigo 20: “As escolas deverão formular o projeto
político-pedagógico (...) por meio de processos participativos relacionados à ges-
tão democrática. § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a propos-
ta educativa construída pela comunidade escolar no exercício de sua autonomia,
com base nas características dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis,
tendo como referência as orientações curriculares nacionais e dos respectivos sis-
temas de ensino”.
Precisamos, portanto, conhecer melhor o que é o Projeto Político-Pedagógico,
seu processo de elaboração, suas exigências e seus desdobramentos.
O que pode e deve conter o PPP?
A princípio, não existe uma exigência na legislação nacional que defina o que
deve estar contido no Projeto Político-Pedagógico. Em alguns estados e municí-
pios, existem orientações e regulamentações, mas estas alcançam, apenas, as esco-
las públicas ou as escolas da região.
O que existe é certa unanimidade estabelecida após esses anos em que o PPP
foi sendo elaborado, revisto e praticado nas escolas.
Já no ano de 1997, menos de um ano após a promulgação da LDB, os sindi-
catos de escolas particulares se reuniram em Foz do Iguaçu e apresentaram alguns
elementos que deveriam estar presentes nos documentos de PPP:
1. Princípios filosóficos (visão de pessoa e cidadania que a escola quer formar e
do mundo que quer ver construído);
2. Princípios e diretrizes pedagógicas (para que a escola faz esse trabalho);
3. Currículo básico (o que a escola ensina);
4. Metodologia (como a escola ensina);
5. Princípios de avaliação (o que e como a escola avalia);
6. Articulação do corpo docente, técnico e pedagógico com o planejamento
pedagógico;
25 Os artigos 43 a 45 da Resolução CNE/CEB nº 4 de 13 de julho de 2010 oferecem mais detalhes sobre o
PPP e serão utilizados em partes ao longo deste capítulo. A Resolução 7/2010 do Conselho Nacional de Educação
também apresenta várias orientações sobre o PPP, especialmente nos artigos 17 a 23.
capítulo 3 • 69
7. Articulação entre os níveis e/ou modalidades e componentes curriculares: a
escola tem competência e autonomia para decidir como fazer;
8. Explicitação dos princípios que orientam os direitos e deveres de cada um.
Marco operacional
Como a escola se organiza; segmento e etapas escolares;
propostas e linhas de ação em cada um desses espaços
Marco conceitual
Apresenta a opção e os fundamentos das práticas
pedagógicas e das relações interpessoais
Visão, missão e objetivos institucionais
Que pessoa a escola pretende formar? Para construir que
tipo de sociedade? (Visão)
Que objetivos isso determina? (Objetivos Institucionais)
O que a escola pretende fazer para alcançá-los? (Missão)
Descrição da realidade
(marco situacional)
Identificação, descrição e análise da realidade social, política, econômica, cultural,
educacional e suas influências nas práticas educativas da escola
capítulo 3 • 70
O diretor da escola é o responsável pelo PPP diante da lei. Mas, na medida em
que a responsabilidade pelo Projeto Político-Pedagógico da escola é dividida com a
equipe gestora, é fundamental que essa equipe domine os instrumentos para viabi-
lizar a elaboração e implantação do projeto. Para cada uma das etapas sintetizadas
no quadro anterior, alguns conhecimentos, habilidades e competências deverão
ser mobilizados.
• Descrição da realidade: na medida em que trabalha com a realidade social,
é importante mobilizar os conhecimentos de Antropologia, Sociologia, História,
Filosofia, assim como a capacidade de obter e sistematizar informações confiáveis
sobre a realidade social em sentido amplo – mundo, país, estado, município, até
chegar à comunidade onde se localiza a escola. Na análise da realidade local, é
importante contar com informações disponibilizadas pelas prefeituras, dados do
Censo do IBGE, além dos dados da própria secretaria da escola sobre os alunos
e suas famílias. Outras informações importantes podem ser obtidas por meio de
diferentes processos externos26 que avaliam a aprendizagem dos alunos e o tra-
balho da escola. Essas avaliações se dão em nível federal, com a Prova Brasil e ou-
tros indicadores, que vão gerar o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica). Mas alguns estados e municípios também têm seus sistemas de avaliação.
Embora não devam ser tratados como verdades absolutas, esses resultados preci-
sam ser considerados como elementos de descrição da realidade. Essa descrição
da realidade local pode, ainda, ser enriquecida por um trabalho de conhecimento
mais qualitativo das condições de vida das famílias e dos alunos, trabalho este que
pode ser desenvolvido como conteúdo de alguma disciplina, ou mesmo como um
projeto integrado de várias delas. Por fim, é importante lembrar que existem téc-
nicas bastante úteis que favorecem esse diagnóstico. Como não temos tempo para
conhecê-las neste trabalho, deixamos a orientação para que se busque estudá-las27 .
• Para estabelecer a Visão, a Missão e os Objetivos Institucionais, é impor-
tante esclarecer o sentido que é dado, aqui, à palavra “visão”. Diferentemente de
outras áreas do campo administrativo28 , o que está sendo chamado de “visão” é
uma descrição das características das pessoas que a escola pretende formar com seu
26 Esses processos externos serão melhor detalhados no capítulo 5, ao se tratar das relações entre educação e
políticas educacionais.
27 Na internet, vários sites oferecem estas e outras ferramentas. Juntamente com outros instrumentos úteis para
a gestão, indicamos o capítulo 9 de Monteiro e Motta. Gestão Escolar: Função Social, desafios e perspectivas. Rio
de Janeiro: LTC, 2013. p 260-286.
28 Em outras áreas da administração, chamamos de visão o futuro ideal desejado para a instituição. Exemplo: a
visão da Universidade Estácio de Sá, chamada visão 2020, é: Ser reconhecida como a melhor opção em Educação
Superior para alunos, colaboradores e acionistas. Disponível em: <http://portal.estacio.br/quem-somos/missao-e-
valores/>. Acesso em: 17 ago. 2016.
capítulo 3 • 71
trabalho e que tipo de sociedade ela espera ver construída por essas pessoas. Isso
vai exigir que a escola faça, no seu projeto, uma opção por um conjunto de Valores
que deverão nortear suas práticas e servir como critério para fazer escolhas. Diante
da Visão e com base no conjunto de Valores, a instituição define aquilo que vai
fazer: Temos então a sua Missão.
Se quiser um outro exemplo, veja o caso da própria Universidade Estácio de
Sá, através do quadro com os valores da instituição:
VALORES
GENTE EDUCANDO
• Foco no aluno - O aluno é nossa Razão de ser.
• Gente e Meritocracia - Valorizamos e reconhecemos os méritos do maior ativo que
possuímos: nossa gente.
• Inovação - Devemos criar e ousar sempre.
• Simplicidade - Devemos ser simples para sermos ágeis e austeros.
• Resultado - Perseguimos resultados extraordinários com paixão e método, agindo
sempre como "donos".
• Ética - Não toleramos desvios de conduta.
• Excelência - Perseguimos a excelência na prestação de serviço dentro e fora da sala
de aula.
• Hospitalidade - Tratamos as pessoas como gostaríamos de ser tratados.
Diante do que busca e dos valores em que acredita, define-se sua Missão:
MISSÃO
EDUCAR PARA TRANSFORMAR
Integramos academia e gestão para oferecer uma educação transformadora ao maior
número de pessoas, criando impacto positivo para a sociedade.
capítulo 3 • 72
TENDÊNCIAS PAPEL DA RELAÇÃO
CONTEÚDOS MÉTODOS APRENDIZAGEM
PEDAGÓGICAS ESCOLA PROFESSOR-ALUNO
São conhecimentos
Preparação
e valores sociais A aprendizagem é
Os conteúdos são
A escola deve É baseada na moti-
estabelecidos a par- Por meio de expe- O professor é o
Tendência Liberal adequar as vação e na estimu-
tir das experiências riências, pesquisas e auxiliador no desen-
capítulo 3
Renovada necessidades lação de problemas.
vividas pelos alunos método de solução de volvimento livre da
Progressista individuais ao O aluno aprende
Veja o exemplo no quadro síntese29 a seguir.
• 73
problema.
29 Adaptado de SANTOS, Roberto Ferreira dos. Tendências Pedagógicas: o que são e para que servem. Revista
tem sua visão de pessoa e de mundo, tem um modo de conceber o conhecimento
<http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0327.html>.
e as relações, acredita num modelo de avaliação, atribui um papel ao professor etc.
Para trabalhar o Marco Operativo, a equipe gestora vai se utilizar de conhe-
cimentos que permitam estabelecer a correta divisão dos segmentos, etapas de
escolaridade e turmas. Para esses diferentes segmentos, deverá ter clareza do que se
espera e do que se pode conseguir conforme as idades ou faixas etárias dos alunos,
assim como das habilidades e competências que os professores deverão demons-
trar. Deverá, ainda, ser capaz de orientar a discussão para estabelecer as linhas de
ação que favorecem o alcance dos objetivos. Ainda no Marco Operativo poderão
aparecer as linhas de ação para a Formação Continuada dos profissionais da escola.
Embora se fundamente nos conceitos anteriores, o fato de aparecer associada ao
Marco Operativo favorece a aproximação do aperfeiçoamento do trabalho docen-
te em sua relação direta com a prática. Essa proximidade é coerente com as linhas
de formação continuada que serão trabalhadas ao longo de nossos estudos, visan-
do à formação do professor reflexivo que desenvolve saberes docentes na relação
dialética entre aquilo que sabe e aquilo que faz: na medida em que desenvolve seu
trabalho e reflete criticamente sobre ele, o professor reconstrói o seu saber docente
num grau mais elevado de significância.
Uma boa apresentação da estrutura do PPP é feita por Vasco Moretto no vídeo disponí-
vel em: <https://www.youtube.com/watch?v=quQqZVR8v_g>.
capítulo 3 • 74
mesmo nesses casos, todos os segmentos devem estar representados. Se a escola
tem um Conselho Escolar, por exemplo, constituído por representantes de toda
a comunidade, pode ser este o espaço de sistematizar e finalizar os conteúdos
das discussões.
Embora se garantam os processos democráticos e participativos na discussão
das propostas, é importante que a redação final tenha a presença de uma equipe
de especialistas em educação, para que o PPP tenha qualidade pedagógica. Afinal,
trata-se de um projeto a ser desenvolvido numa escola.
Por fim, é importante que a equipe gestora estabeleça um plano de metas e um
cronograma de trabalho: a partir das discussões e do próprio projeto, quais são os
objetivos de curto, médio e longo prazo, isto é, o que deve ser alcançado, em que
tempo e com que resultados.
Antes de encerrar esta parte do capítulo, convém trazer alguns aspectos relati-
vos ao PPP e sua elaboração, no caso das escolas públicas.
Geralmente, as redes estaduais ou municipais elaboram uma parte do Projeto
Político-Pedagógico, traçando as suas principais linhas, buscando garantir, em to-
das as escolas, uma certa unidade de alguns pontos, como o modelo de pessoa e
sociedade que se deseja formar. Conhecemos casos em que a própria rede de ensi-
no faz, também, uma opção metodológica, buscando a coerência entre aquilo que
se pretende alcançar e o modo de educar. E por aí se chega a outros pontos de um
projeto “genérico”, dirigido a todas as escolas da rede, e que deve ser transformado
num projeto “local”, através de um trabalho em cada escola.
O que se percebe nos relatos que fazem as alunas, a respeito das práticas nas
escolas públicas, é que as equipes gestoras têm algumas dificuldades para fazer essa
parte do trabalho, capaz de dar um significado mais efetivo àquele projeto recebi-
do da secretaria de educação. Contribuem para isso, diversos fatores:
• Uma visão de alguns diretores cuja formação se mostra antiquada e supera-
da, fazendo com que não deem o devido valor ao PPP;
• Um certo “desconhecimento” da comunidade escolar, especialmente dos
professores e alunos, sobre a necessidade e a importância do PPP, já que sem isso,
a equipe de gestão também não se sente mobilizada para sua elaboração;
• Excesso de trabalhos burocráticos, que retiram tempo de várias coisas im-
portantes da escola, afetando as possibilidades da equipe de gestão, já que a elabo-
ração do PPP, mesmo que seja, apenas, para torná-lo apropriado à realidade local,
é uma atividade que exige bastante tempo.
capítulo 3 • 75
Caso nos vejamos em situações que permitam influenciar esse trabalho de
atualização do PPP nas escolas públicas, devemos ocupar esse espaço e desempe-
nhar esse papel.
Vamos tratar, agora, dos processos de atualização do Projeto Político-
Pedagógico. Esses processos devem estar previstos na edição inicial do PPP, como
uma forma de manter viva a avaliação permanente daquilo que se faz, diante do
que se deseja alcançar.
Uma revisão anual é sempre recomendada, principalmente no que se refere
às metas de curto prazo que o PPP define. As metas relativas às aprendizagens
dos alunos, seja quanto aos conteúdos formais, seja em relação aos aspectos de
convivência e cidadania devem ser objeto de atenção permanente e, se necessário,
podem exigir uma revisão do PPP, até mesmo em tempo anterior a um ano. Neste
caso, os Conselhos de Classe, por exemplo, podem discutir as situações pedagógi-
cas tendo o PPP como referência.
Outro aspecto para o qual a revisão deve estar atenta é a formação continuada
dos profissionais da escola. Essa formação deve acompanhar as necessidades iden-
tificadas no trabalho docente, frente aos resultados das avaliações pedagógicas dos
alunos. Mas deve, também, ter uma perspectiva de futuro, buscando introduzir
aspectos novos que favoreçam o trabalho docente e a aprendizagem, não apenas
em relação ao que está definido, mas também gerando novos objetivos e metas,
novos “desejos de aprendizagem” por parte de toda a escola.
E o papel da equipe gestora (especialmente do diretor), em todo o trabalho
com o Projeto Político-Pedagógico?
Em primeiro lugar, cabe à equipe gestora a mobilização de toda a comunida-
de educativa para sua participação, democratizando tanto a elaboração quanto a
implantação do PPP na realidade da escola. Como parte da democratização, cabe
à equipe manter abertos os espaços de questionamento.
É tarefa sua, também, articular os aspectos operacionais do projeto às suas ba-
ses conceituais, procurando garantir a coerência daquilo que se faz cotidianamente
com aquilo que se espera obter no médio e no longo prazo e está ali definido.
Compete, ainda, à equipe gestora, cuidar para que a escola disponha dos re-
cursos para concretizar o projeto e disponibilize esses recursos aos setores respon-
sáveis pela sua realização. No caso das escolas públicas, em que esses recursos,
muitas vezes, demoram a chegar, essa capacidade de a equipe gestora se antecipar
é fundamental para que eles estejam na escola no tempo adequado à sua utilização.
capítulo 3 • 76
Um cuidado importante que a equipe gestora deve ter refere-se à manutenção
do foco do projeto naquilo que são suas mais profundas e importantes intenções.
Isso é necessário para que outros projetos que cheguem à escola ou à comunidade
não a afastem do que lhe é mais importante. Esses projetos, trazidos por empresas,
organizações não governamentais, órgãos de governo e outros grupos, precisam
ter sua importância discutida e muito bem avaliada pela comunidade, para que
tragam efetivas contribuições ao PPP, evitando-se “modismos” e pressões de todos
os tipos (tanto de fora quanto de dentro da comunidade educativa) sobre a equipe
gestora.
Por fim, como já comentado em outras situações, garantir que os grandes fins
definidos pelo projeto para uma determinada visão de pessoa e sociedade, assim
como os processos para que isso aconteça, sejam estendidos a toda a comunidade
educativa, fazendo com que também os professores e as famílias dos alunos sejam
“formadas” na mesma perspectiva.
capítulo 3 • 77
Desdobramentos do Projeto Político-Pedagógico no regimento
escolar e no plano curricular
é uma ferramenta gerencial que auxilia a escola a realizar melhor o seu trabalho: foca-
lizar sua energia, assegurar que sua equipe trabalhe para atingir os mesmos objetivos
e avaliar e adequar sua direção em resposta a um ambiente em constante mudança.
É considerado um processo de planejamento estratégico desenvolvido pela escola para
a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
O PDE-Escola constitui um esforço disciplinado da escola para produzir decisões e
ações fundamentais que moldam e guiam o que ela é, o que faz e por que assim o faz,
com um foco no futuro.
capítulo 3 • 78
Porém, um documento que não pode faltar na escola, inclusive por exigência
legal, é o Regimento Escolar. Como conjunto de normas que regulam o funcio-
namento de uma instituição, o Regimento deve estar em perfeita sintonia com
o PPP; caso contrário, a instituição passa por uma série de desencontros, na me-
dida em que as normas começam a entrar em choque ou ser incoerentes com o
que está proposto no projeto. E aqui temos, mais uma vez, a responsabilidade
da equipe gestora e do diretor, em especial, tanto pela sua elaboração como pelo
seu cumprimento.
O Regimento Escolar deve ser muito bem elaborado, inclusive contando com
uma fundamentação bastante firme em legislação educacional. Afinal, nele estarão
colocadas as condições de funcionamento da escola e as regras que orientam as
relações entre as pessoas da comunidade escolar, além de estabelecer as relações
da instituição com a sociedade em geral, com a comunidade, com as famílias dos
alunos, com os próprios alunos e com os seus profissionais.
No caso das escolas privadas, o Regimento Escolar chega a constituir parte
do contrato de prestação de serviços que as famílias e as escolas assinam, já que
muitas condições desse contrato têm fundamentação legal no Regimento. Para
isso, ele deve ser registrado em cartório e divulgado a toda a comunidade, seja
publicando-o na página eletrônica da escola, seja enviando uma cópia às famílias
ou, simplesmente, mantendo um exemplar na secretaria para consulta dos alunos
e de suas famílias.
Em algumas redes públicas, existem modelos ou orientações para a elaboração
dos regimentos das suas escolas. As escolas privadas, por sua vez, com base na sua
autonomia e independência, têm liberdade para elaborarem seus regimentos, mas
também eles devem apresentar alguns elementos fundamentais. Até porque, no
momento de decidir questões que envolvam diferentes interesses, é importante
um referencial claro e objetivo, que ajude a tomar decisões.
Não é difícil fazer uma lista de possíveis situações em que o Regimento Escolar
é importante e necessário:
• Esclarecendo as funções e relações entre diferentes setores profissionais da
escola;
• Deixando claro o que cabe aos vários segmentos da comunidade educativa,
especialmente às famílias e aos setores da escola;
• Fundamentando decisões em um Conselho de Classe;
• Orientando questões disciplinares que envolvem os membros da comunida-
de escolar, principalmente aquelas relativas aos alunos;
capítulo 3 • 79
• Estabelecendo as condições para matrícula dos alunos;
• Em síntese, trazendo para a comunidade educativa os diversos pontos da
legislação educacional, explicando como eles se aplicam na sua realidade, à luz do
Projeto Político-Pedagógico.
O quadro a seguir, elaborado com base em diversos materiais sobre o assunto,
apresenta alguns elementos que não devem faltar num Regimento Escolar.
Projeto político-pedagógico
orienta o
Regimento escolar
capítulo 3 • 80
• Garantir, no PPP e no Regimento, as linhas gerais e específicas que articu-
lem as diferentes etapas da escolaridade básica (Infantil, Fundamental e Médio),
assim como as modalidades, quando houver (Educação de Jovens e Adultos, edu-
cação Profissional etc.). Desse modo, evitam-se “saltos” entre uma etapa e outra,
por exemplo, parecendo que o aluno “mudou de escola sem sair da escola em que
estava”;
• Evitar reduzir o Projeto Político-Pedagógico a um simples conjunto de
planos ou projetos parciais que deveriam constar do projeto curricular. Isso cos-
tuma acontecer, por exemplo, quando as escolas tratam como Projeto Político-
Pedagógico o seu plano anual de atividades;
• Garantir a transparência dos processos e, com atenção especial, que as nor-
mas e regras sejam o mais transparentes que se consiga;
• Dar acesso ao conteúdo do Projeto Político-Pedagógico e do Regimento
Escolar a todos os interessados, especialmente professores, alunos e suas famílias:
evitar o seu engavetamento;
• Usar uma linguagem clara, objetiva, concisa, lógica e coerente: evitar o “pe-
dagogês” e lembrar que, na maioria das vezes, as famílias e alunos não dominam
os termos que usamos em nosso trabalho pedagógico;
• Manter a equipe atualizada no que se refere à legislação pedagógica, para
que o PPP e o Regimento possam se manter em dia com as novas questões que vão
surgindo na sociedade e as decisões tomadas em relação a elas. Há pouco tempo
começamos, por exemplo, a ter definições na legislação de atendimento aos alunos
especiais que deixaram muitas escolas em dúvida sobre como proceder.
capítulo 3 • 81
ao modelo da gestão democrática, que estudamos anteriormente e vem sendo ci-
tado em diferentes pontos do nosso estudo, para que possamos melhor conhecer
seus recursos e meios de implementação.
O tema é tão importante que constitui a meta 19 do Plano Nacional de
Educação (PNE32) , em que se apresentam diversos fundamentos e sugestões para
essa implantação. Observe alguns aspectos e trechos do PNE:
• Instâncias e mecanismos de participação coletiva (...) exigem a definição de
conceitos como autonomia, democratização, descentralização, qualidade e propria-
mente a participação, conceitos esses que devem ser debatidos coletivamente para
aprofundar a compreensão e gerar maior legitimidade e concretude no cotidiano.
• Trata-se de algo que se aprende no exercício cotidiano das escolas e, para
isso, elas dispõem de mecanismos como os grêmios estudantis, associações de pais
e mestres, criação de conselhos escola-comunidade, além da construção coletiva
dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão escolar e
regimentos escolares participativos.
capítulo 3 • 82
Quando buscamos construir processos participativos na escola, eles se tornam
visíveis por meio de
• Relações de cooperação;
• Trabalho coletivo;
• Compartilhamento do poder.
E para que isto se torne presente, é importante que a equipe gestora favoreça
• O exercício do diálogo,
• Não só o respeito, mas a valorização das diferenças;
• A liberdade de expressão;
• A convivência democrática no cotidiano;
• A construção de projetos coletivos.
capítulo 3 • 83
manente elaboração, num contexto social de interação de indivíduos e grupos,
implicando reconhecimento recíproco.
E isso se dá com a escola. A identidade dela vai sendo arquitetada no meio de
que ela faz parte, com todos os segmentos que a compõem, levando-se em conta
necessidades, crenças e valores.
Para nossa formação como gestores escolares, é interessante conhecer e discu-
tir casos concretos que mostram essa relação entre a escola e a comunidade.
Habilidades
Habilidades Habilidades
Humanas ou
Técnicas Conceituais
Relacionais
Ênfase Ênfase
Ênfase Ênfase na nas no
nas Tarefas Organização Pessoas Ambiente
capítulo 3 • 84
habilidades “relacionais”, isto é, aquelas que dizem respeito às relações com as
pessoas, com os grupos e com o ambiente no qual se insere a instituição.
Sustentando esses dois conjuntos de habilidades, apresentam-se as chamadas
habilidades conceituais: aquelas que os gestores desenvolveram ao longo de sua
formação inicial e vão aperfeiçoando durante sua vivência profissional por meio
de processos de formação continuada.
É interessante lidar com essas habilidades considerando-as o tempo todo em
relação sistêmica, isto é, buscar compreendê-las em relação entre si e com o am-
biente no qual se inserem, constituindo um todo que, no seu conjunto, possibilita
compreender que escola é aquela e com que modelo(s) de gestão ela trabalha.
A apresentação de cada uma delas em separado tem apenas caráter didático;
busca favorecer um olhar mais aproximado sobre cada uma. Mas sua exata com-
preensão só virá do olhar conjunto.
Quando, por exemplo, lançamos mão de uma habilidade técnica como “pla-
nejar”, não há como imaginá-la desvinculada de outras habilidades técnicas, como
“executar” e “avaliar”. Porém, mais ainda, não há como deixar de considerar que
as habilidades relacionais são mobilizadas o tempo todo enquanto se planeja: é
preciso coordenar esforços, mediar conflitos e aprender (formação continuada)
enquanto se planeja. E fazer tudo isso considerando os objetivos do projeto peda-
gógico é um modo de utilizar as habilidades conceituais.
Vejamos, então, essas habilidades.
Habilidades técnicas
capítulo 3 • 85
Como recurso didático, poderíamos classificar como principais habilidades
técnicas da gestão escolar as atividades de planejar, acompanhar a execução do que
foi planejado e avaliar aquilo que foi executado, para planejar, executar, avaliar
novamente, e assim, sucessivamente.
E assim
Replanejar sucessivamente
Planejar
Acompanhar
a execução
36 A palavra autoridade deriva do latim augere que significa “fazer crescer”.
capítulo 3 • 86
Outro aspecto a ser desenvolvido entre as habilidades relacionais está a de
motivar e mobilizar os profissionais. Não vamos entrar, aqui, na discussão sobre
as diferenças entre motivar e mobilizar, pois elas ultrapassam os objetivos deste
estudo. O que nos importa é reconhecer que o gestor escolar precisa desenvolver a
habilidade de fazer com que os profissionais se sintam interiormente estimulados,
impulsionados, a cumprir com o que lhes cabe. E a isso corresponde um reconhe-
cimento externo que os move a fazerem sempre mais e melhor.
Esse tipo de reconhecimento, é bom que se diga, não precisa ser, necessaria-
mente, financeiro ou material. Em muitas situações, as pessoas agem movidas por
um estímulo financeiro, mas não estão interiormente mobilizadas para aquilo que
estão fazendo. O ideal é que elas sejam motivadas pelo projeto da instituição, pelo
valor do seu trabalho e pela importância social daquilo que fazem.
Por fim, as habilidades relacionais devem incluir a compreensão do outro, isto
é, enxergar o profissional para além da pura e simples execução de tarefas que sua
função exige. A palavra compreender vem do latim (comprehensio) e significa
aprender conjuntamente. Isso não significa apenas aprender com os outros, mas
sim, apreender as coisas em seu conjunto: estamos compreendendo um fato e as
pessoas nele envolvidas quando conseguimos apreender cada parte que compõe
aquele fato, assim como o conjunto das relações entre essas partes, compreenden-
do o todo na sua globalidade.
Na escola, este é um aspecto fundamental das habilidades relacionais do ges-
tor. A todo momento, precisamos compreender os fatos, de modo a respeitar as
pessoas, mobilizando-as para fazerem o que deve ser feito e tornando-se maiores e
melhores com tudo isso. Não seria demais, até mesmo, falarmos em empatia, isto
é, a capacidade de olhar com o olhar do outro, como se nos colocássemos no lugar
dele para entendermos as coisas de um ponto de vista diferente do nosso.
Liderança / Autoridade
faz as pessoas crescerem
capítulo 3 • 87
Habilidades conceituais
Para desenvolver essa habilidade, o gestor escolar deve buscar uma sólida base
teórica. Daí, a importância de desenvolver o domínio de conteúdos básicos de
disciplinas como História, Sociologia, Antropologia e Psicologia, ao mesmo tem-
po que se aprofunda nos conhecimentos próprios do campo pedagógico, como
a Didática, o Currículo, as diferentes Metodologias de Ensino e da área gestora,
como o Planejamento, a Supervisão, a Coordenação e a Orientação Educacional.
Ao mesmo tempo, é importante buscar uma ampla cultura geral, para com-
preender o ambiente social, político, econômico e cultural no qual se envolve a
educação em geral e a sua escola, em particular.
capítulo 3 • 88
Por fim, não seria demais desenvolver a criatividade, a capacidade de inovação,
o pensamento abstrato, a capacidade de resolver problemas e analisar situações
complexas. Embora, para muitos, pareça que esses “são atributos que nascem com
as pessoas”, o que se tem aprendido ao longo da história dos profissionais bem-su-
cedidos é que muitas dessas coisas podem ser aprendidas e desenvolvidas por meio
dos meios adequados, que devem ser buscados pelos gestores em seus processos de
formação continuada.
Mais uma vez, insistimos que, ao tratar dos recursos materiais da escola, eles
devem ser considerados em sua relação com os objetivos do projeto pedagógico.
Alguns materiais que fazem sentido num determinado tipo de escola podem não
ter qualquer sentido em outra escola devido às diferenças entre seus projetos peda-
gógicos. É importante que a equipe gestora esteja atenta a isso.
Alguns aspectos, porém, precisam estar sob a atenção permanente dessa equi-
pe, pois se trata de elementos básicos que vão contribuir para o clima que se sente
ao entrar na escola. O mínimo que se pode esperar é que uma escola apresen-
te condições materiais que favoreçam aos alunos e professores a vivência de um
capítulo 3 • 89
espaço que transmita e ensine qualidade de vida. Infelizmente, em muitas reali-
dades brasileiras, o que se vê são escolas que “ensinam” o oposto disso: algumas
delas são sujas, mal conservadas, sem condições de higiene e salubridade, com
transporte que põe em risco a vida de estudantes e professores, sem falar numa me-
renda inadequada e, em muitos casos, sem as condições nutricionais que deveriam
acompanhar o desenvolvimento de crianças e jovens.
Se formos buscar as razões para isso, veremos que estão nas políticas públicas
que sustentam a distribuição de verbas e o modo de aplicá-las. Portanto, fogem,
muitas vezes, às possibilidades de solução por parte da equipe de gestão escolar.
Porém, na medida do possível, é importante buscar a otimização dos recursos dis-
poníveis, sem deixar de lutar politicamente pela sua melhor distribuição.
Uma forma de buscar orientações para o modo como a equipe de gestão pode
priorizar os aspectos materiais da escola encontra-se nas orientações das secretarias
de educação sobre as condições para uma escola funcionar. Ali, são apresentadas
as condições das salas de aula e de outros ambientes, as cores das paredes, o tipo
de piso, a luminosidade, a ventilação, o tipo de mobiliário, os cuidados com se-
gurança, higiene e salubridade, as condições de banheiros, refeitórios e pátios etc.
Outro material interessante é a reportagem “Diretor Presente em toda a
Escola37”, da revista Gestão Escolar. Ali, os diferentes links vão permitindo “pas-
sear” pelo interior da escola e observar diversos recursos espaciais e materiais para
os quais a equipe gestora deve estar atenta. Desde cuidados na portaria, passando
pelas salas de aula, biblioteca, sala de professores e refeitório, pelos pátios interno
e externo, até os corredores, espaços que, muitas vezes, são vistos como “de passa-
gem” e que, bem utilizados podem contribuir para o trabalho pedagógico.
Se quiser estudar mais sobre espaço escolar e condições físicas da escola, você encontra
vários textos sobre o tema no link: <http://gestaoescolar.org.br/espaco/espaco.shtml>.
capítulo 3 • 90
É o que se lê em autores como Frago e Escolano (1998): “A arquitetura escolar,
além de ser um programa invisível e silencioso que cumpre determinadas funções
culturais e pedagógicas, pode ser instrumentada também no plano didático (...).”.
Em síntese, do texto de Terezinha Azerêdo Rios39 podemos retirar o trecho
que sintetiza bem essa proposta, no que se refere aos gestores escolares:
O trabalho educativo não se limita à sala de aula, mas, se a configuração desse am-
biente for acolhedora, poderá contribuir para tornar mais prazeroso o trabalho que ali
se faz. Serão assim as nossas salas de aula? Pensarão os gestores nesses assuntos
ou os deixarão em segundo plano, envolvidos que estão com as chamadas "questões
pedagógicas"? Ora, o primeiro passo para se envolver com os aspectos relacionados ao
espaço físico é considerá-los pedagógicos. É aí que a dimensão ética se articula com a
estética, de modo estreito.
capítulo 3 • 91
Segundo o PNLD,
o livro didático deve veicular informação correta, precisa, adequada e atualizada, procu-
rando assegurar que os componentes curriculares e as áreas de conhecimento possam
ser trabalhados, a partir da abordagem de temas abrangentes e contemporâneos, que
contemplem diferentes dimensões da vida humana, tanto na esfera individual, quanto
global, regional e local.
Para contribuir ainda mais com o processo de escolha, o Edital41 que regu-
lamenta as condições para o livro didático aponta a necessidade de que os mate-
riais busquem
• Promover positivamente a imagem da mulher, considerando sua participa-
ção em diferentes trabalhos, profissões e espaços de poder;
• Abordar a temática de gênero, da não violência contra a mulher, visando à
construção de uma sociedade não sexista, justa e igualitária, inclusive no que diz
respeito ao combate à homofobia;
• Promover a imagem da mulher por meio do texto escrito, das ilustrações e
das atividades das coleções, reforçando sua visibilidade;
• Promover a educação e a cultura em direitos humanos, afirmando o direito
de crianças e adolescentes;
• Incentivar a ação pedagógica voltada para o respeito e a valorização da di-
versidade, dos conceitos de sustentabilidade e da cidadania ativa, apoiando práti-
cas pedagógicas democráticas e o exercício do respeito e da tolerância;
• Promover positivamente a imagem de afrodescendentes e descendentes das
etnias indígenas brasileiras, considerando sua participação em diferentes traba-
lhos, profissões e espaços de poder;
• Promover positivamente a cultura afro-brasileira e dos povos indígenas bra-
sileiros, dando visibilidade aos seus valores, tradições, organizações e saberes socio-
científicos, considerando seus direitos e sua participação em diferentes processos
históricos que marcaram a construção do Brasil, valorizando o caráter multicultu-
ral da nossa sociedade;
• Abordar a temática das relações étnico-raciais, do preconceito, da discri-
minação racial e da violência correlata, visando à construção de uma sociedade
antirracista, solidária, justa e igualitária.
41 Edital de Convocação 02/2015 – CGPLI, Diário Oficial da União de 02/02/15, seção 3, página 38.
capítulo 3 • 92
É importante destacar que a escolha do livro didático contribui para o pro-
cesso de formação continuada dos profissionais de educação, na medida em que
estimula a discussão entre eles.
A expectativa, no fim das contas, é de que
o livro didático viabilize o acesso de professores, alunos e famílias a fatos, conceitos, sa-
beres, práticas, valores e possibilidades de compreender, transformar e ampliar o modo
de ver e fazer a ciência, a sociedade e a educação.
Recursos imateriais
O tempo42
Que sentido tem, para o pleno desenvolvimento do aluno como sujeito e para sua for-
mação cidadã, uma escola que não lhe favorece enxergar e construir um futuro para si
mesmo e para o mundo que o cerca?
42 Para aprofundar o estudo sobre o tempo, especialmente no que se refere ao trabalho docente, consulte
HARGREAVES, Andy. Os Professores em Tempos de Mudança: o trabalho e a cultura dos professores na Idade Pós-
Moderna. Alfragide, PT: McGraw-Hill, 1998.
43 MOTTA, Artur Guilherme Carvalho da; CANDAU, Vera Maria Ferrão. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Protagonismo juvenil no ensino médio. 2002. Dissertação
(Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação.
capítulo 3 • 93
seus projetos (futuro). Com isso, descobre-se um sentido quando se faz a leitura
das memórias, dos fatos presentes e dos projetos futuros.
Parece clara, portanto, a importância de que o gestor esteja atento às marcas
que a experiência escolar vem estabelecendo na vida dos alunos em conjunto e
de cada um em particular, para que sejam marcas favorecedoras de um sentido
positivo para suas vidas.
Em muitas situações, o gestor nem chega a passar tantos anos na escola quanto
alguns alunos que lá estarão. Ainda assim, precisa estar atento para o significado
que a instituição tem e terá na vida de cada um.
Que tal fazer uma pesquisa e descobrir letras de música e trechos da literatura que fa-
lem da lembrança de vivências positivas e negativas nas escolas? Tente identificar que
práticas concretas provocaram e provocam esses sentimentos dos autores do tempo
em que eram alunos.
capítulo 3 • 94
obrigação, apenas, para o magistério público, segundo o Artigo 67 da LDB, este
é um aspecto que deveria ser considerado em toda e qualquer escola, como forma
de valorização dos profissionais da educação: período reservado a estudos, planeja-
mento e avaliação, incluído na carga de trabalho (inciso V) e condições adequadas
de trabalho (inciso VI).
capítulo 3 • 95
Alguns links para você aprofundar seus conhecimentos sobre a gestão do tempo
na escola:
<http://gestaoescolar.org.br/aprendizagem/valor-cada-minuto-739124.shtml?
page=1>
<http://novaescola.org.br/educacao-infantil/0-a-3-anos/como-aproveitar-bem-tem-
po-creche-planejamento-rotina-educacao-infantil-bebes-criancas-535435.shtml>
<http://novaescola.org.br/blogs/eja/2014/02/26/como-lidar-com-o-
tempo-escasso-na-eja/>
<http://novaescola.org.br/formacao/desperdicar-tempo-didatico-476489.shtml>
<http://gestaoescolar.org.br/aprendizagem/reorganizacao-turnos-otimiza-uso-sa-
las-aula-672643.shtml>
<http://novaescola.org.br/formacao/formacao-continuada/copia-tempo-perdido-dida-
tica-alfabetizacao-leitura-producao-texto-529070.shtml>
Os espaços físicos da escola também podem ser organizados pela equipe ges-
tora para que a movimentação de alunos e professores favoreça uma melhor ocu-
pação do tempo, evitando longos deslocamentos, ou mesmo aglomerações que
atrapalham a livre circulação das pessoas.
Você conseguiria pensar na realidade das escolas que conhece e dar outros exemplos
de como o tempo poderia ser melhor aproveitado? Que situações provocam perda de
tempo e como elas poderiam ser transformadas favorecendo o uso do tempo para ativi-
dades mais apropriadas às finalidades da escola?
O saber docente44 .
Aquilo que o professor traz como seus saberes docentes é um dos recursos que
a equipe gestora deve conhecer para poder bem utilizá-lo. E o uso desse recurso
está intimamente relacionado com a aplicação das habilidades relacionais, já que
os saberes docentes não são algo solto no espaço ou fixado em algum produto,
mas sim,
• Os saberes que os professores trazem consigo;
• Relacionados à sua pessoa;
• Relacionados à sua história de vida;
• Relacionados à sua trajetória profissional.
44 Diversos trabalhos têm tratado deste tema, mas destacamos como fonte de nossas observações TARDIF, M.
Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
capítulo 3 • 96
Trata-se, portanto, de algo que se constrói e reconstrói por meio do trabalho
cotidiano na escola, compartilhado com os demais profissionais, os alunos, suas
famílias e a comunidade.
Segundo Tardiff, os saberes docentes podem ser assim apresentados (apenas
para efeito didático, já que devem ser compreendidos nas relações que têm entre
si, e não cada um em separado):
• Saberes da Formação Profissional – como o próprio nome diz, são aqueles
que os professores obtêm e constroem nas instituições de formação docente;
• Saberes Disciplinares – são os saberes que pertencem aos diferentes campos
de conhecimento presentes na sociedade, apresentados na forma de “disciplinas”
com as quais os professores trabalham, direta ou indiretamente;
• Saberes Curriculares – são aqueles construídos nas instituições, quando es-
tabelecem os objetivos, métodos e conteúdos selecionados para constituírem o seu
currículo;
• Saberes Práticos ou Experienciais – constituídos na experiência do trabalho
cotidiano individual e em equipe, complementado pelos conhecimentos do am-
biente docente.
capítulo 3 • 97
Algumas ideias, a título de conclusão deste capítulo
capítulo 3 • 98
4
Organização,
tarefas e
instrumentos de
gestão na escola
Organização, tarefas e instrumentos de
gestão na escola
Nesta etapa dos nossos estudos, vamos entrar na realidade cotidiana da gestão
escolar e, para isso, buscaremos conhecer os modos de organizar esse trabalho, suas
principais tarefas e instrumentos para que elas sejam cumpridas. Isto significa tra-
tar de questões bastante concretas que poderão, inclusive, auxiliar os trabalhos de
observação nos estágios de gestão escolar, ou mesmo em pesquisas para trabalhos
de conclusão de curso sobre o tema.
Abordaremos o sistema de organização da escola e seus principais instru-
mentos de gestão. Para isso, vamos utilizar diversos conhecimentos que já foram
tratados em outras disciplinas em períodos anteriores ou estão sendo vistas em
conjunto com a nossa: Planejamento, Supervisão e Orientação Educacional,
Coordenação e Formação Continuada são exemplos de alguns desses temas que
retomaremos agora.
Daremos especial atenção à Tecnologia, já que a tendência de trabalho nesta
área é reconhecer a necessidade de uma gestão da tecnologia na escola, e não ape-
nas a inclusão de recursos tecnológicos.
A organização da escola
capítulo 4 • 100
Diferentes autores45 escrevem sobre os modelos de organização da escola.
Utilizaremos neste trabalho as contribuições de Libâneo46 , que reforça a história
dos escritos sobre Administração e Gestão Escolar, já explicitados na Apresentação
deste livro.
Ao tratar da relação entre as concepções de gestão e os modelos de organização
da escola, permite-nos apresentar a seguinte tabela:
Enguita (1999) também nos apresenta uma síntese que mostra a relação entre
os modos de ver a escola e os elementos valorizados diferentemente no seu modelo
de organização:
45 Victor Henrique PARO, Heloisa LÜCK, Naura FERREIRA, António NÓVOA, Ruy CANÁRIO, José Carlos
LIBÂNEO, entre outros.
46 LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. São Paulo, Heccus: 2013.
capítulo 4 • 101
ESCOLA VISTA COMO
Atitude esperada Passiva Reativa Proativa
dos componentes (manutenção) (reposição) (renovação)
capítulo 4 • 102
Gestão
Escolar
Conselho Equipe
Escolar Pedagógica
Aluno
Corpo
Funcionários
Docente
Conselho de Escola
Direção
Pedagógica/Administrativa
Pais e Comunidade
Associação de
Pais e Mestres
capítulo 4 • 103
Direção
Associação de Conselho
Pais e Mestres Escolar
Serviço de Pessoal
Secretaria Professores
Orientação Auxiliar
Alunos
Setor Setor
Administrativo Pedagógico
Atividade-fim
da escola:
a educação
Setor de Relações Outros
Comunitárias Setores
capítulo 4 • 104
• Os serviços auxiliares, como a zeladoria e manutenção (responsáveis pela
limpeza e pequenos consertos) a vigilância ou inspetoria (a nomenclatura varia
entre os estados brasileiros, mas trata-se da equipe que acompanha e orienta os
alunos sobre as normas e procedimentos nos diferentes espaços da escola, com
exceção da sala de aula), a portaria, a telefonia, a cozinha e o refeitório etc.;
• Os serviços de apoio pedagógico, como a biblioteca ou a sala de leitura, os
laboratórios, as salas de multimeios etc.
capítulo 4 • 105
• Associações de Pais e Mestres ou, em alguns casos, Associações de Pais sepa-
radas das Associações Docentes;
• Grêmio Estudantil;
• Conselho Escolar ou Conselho Escola-Comunidade.
Planejamento
capítulo 4 • 106
Em outras palavras, para bem planejar os passos a serem dados, é fundamen-
tal saber que objetivos estamos buscando alcançar. Isso vale para qualquer insti-
tuição, especialmente para a escola: onde queremos chegar com nosso trabalho
pedagógico?
• Que pessoa queremos formar, com que valores, com que capacidades?
• Para atuar, transformar ou construir que tipo de sociedade?
• Para agir de que modo sobre o mundo, seja pela profissão ou pelas diversas
formas de trabalho que se apresentem?
Esses grandes objetivos costumam ser apresentados no Projeto Político-
Pedagógico (PPP) da escola, como estudamos no capítulo anterior. Mas eles se
concretizam no cotidiano da escola, por meio dos conteúdos trabalhados, das me-
todologias utilizadas e das relações de convivência.
Ao mesmo tempo, é preciso saber em que ponto do caminho ainda estamos,
isto é, um conhecimento da realidade, um diagnóstico o mais exato possível. Saber
o que os alunos já aprenderam e o que ainda não conseguiram alcançar é um
ponto de partida importante para o professor planejar seu trabalho. Ao mesmo
tempo, saber o que os professores já conseguem e no que precisam se aperfeiçoar é
fundamental para a equipe gestora planejar, por exemplo, a formação continuada.
Sabendo onde estamos e onde queremos chegar, podemos, então, definir os
caminhos para isso. Podemos estabelecer os passos concretos a serem dados: que
conteúdos construir, que metodologias usar para isso etc.
Todas as etapas do trabalho escolar, portanto, devem ser planejadas com muita
atenção, pois contribuem direta e decisivamente para a realização da Missão con-
tida no PPP. E a gestão escolar conta com boas ferramentas para isso, que são os
diversos processos de planejamento e os planos que deles resultam.
Dependendo da instituição, podemos encontrar diversos tipos de plano, mas
dois deles, intimamente relacionados entre si, destacam-se no trabalho escolar: o
Plano Curricular (ou Plano de Curso) e o Plano de Aula.
O Plano Curricular recebe diversos nomes, por isso é importante compreen-
der do que se trata: estamos chamando por esse nome o documento que contém:
capítulo 4 • 107
• A caracterização dos destinatários principais do trabalho desenvolvido pela
escola: os alunos, em suas diferentes idades e etapas da escolarização;
• O conjunto dos conteúdos a serem trabalhados;
• As metodologias e os modos de avaliar o trabalho pedagógico;
• As correntes pedagógicas que justificam e fundamentam tudo isso.
O Plano de Aula ou Plano de Trabalho Docente sistematiza e organiza o traba-
lho a ser executado na sala de aula. Pode ser diário, semanal, quinzenal, de acordo
com as necessidades e orientações de cada instituição. Mas deve partir do Plano
Curricular (para realizar o que está previsto nele) e deve conter:
• Objetivos, que traduzem a intencionalidade do trabalho docente: o que o
professor busca atingir com aquele trabalho que está sendo planejado;
• Conteúdos gerais, em seu sentido amplo (conhecimentos, conceitos ou
práticas), normalmente associados aos objetivos gerais da disciplina ou área
trabalhada;
• Conteúdos específicos, geralmente associados aos objetivos específicos a se-
rem atingidos em determinada(s) aula(s);
• Justificativa, que liga os conteúdos específicos aos conteúdos gerais, estes ao
Plano Curricular e ao Projeto Político-Pedagógico;
• Metodologia e recursos didáticos: princípios e recursos para atingir o que
está posto nos objetivos;
• Critérios de avaliação: devem definir o que se espera que o aluno aprenda,
como isso vai ser verificado e como poderão ser recuperadas as aprendizagens que
os alunos não alcançarem;
• Referências: além do livro didático, em que autores e fontes o professor
apoia aquele trabalho que vai desenvolver.
Para rever conteúdos e/ou aprofundar seu conhecimento sobre Planejamento, seguem
alguns links com entrevistas e textos sobre o assunto:
<http://gestaoescolar.org.br/formacao/propositos-formativos-planejamento-docente-
monica-matie-fujikawa-772893.shtml?page=1>
<http://novaescola.org.br/formacao/planejar-objetivos-427809.shtml
http://novaescola.org.br/formacao/planejamento-flexivel-427866.shtml>
<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/otp/docs_pdf/
proj_polit_pedag.pdf>
capítulo 4 • 108
Vamos recordar aquilo que aprendemos sobre planejamento em períodos anteriores?
Para isso, visite o site: <https://novaescola.org.br/busca?q=plano+de+aula>, escolha
um tema e um assunto.
Observe o plano proposto e tente identificar os elementos principais de um bom plane-
jamento: qual é a realidade atual dos alunos, o que queremos construir com eles e como
vamos fazer isso.
Identifique, também, os objetivos mais amplos e gerais que a atividade busca atingir.
Para finalizar, compartilhe e discuta com os colegas.
Responsabilidade
pela mediação
das relações
na escola
Em cada uma das elipses temos um conjunto de ações que estarão sob a res-
ponsabilidade de um profissional ou de uma equipe. Vamos falar sobre cada uma
dessas responsabilidades, procurando indicar os nomes pelos quais são conhecidos
esses profissionais, mas isso varia entre as diferentes regiões do Brasil e entre a rede
pública e a privada.
As áreas marcadas por A, B, C e D representam as situações em que essas res-
ponsabilidades se cruzam:
capítulo 4 • 109
Na área A, estariam as situações do cotidiano escolar em que os profissionais
de todas as áreas devem contribuir com seus conhecimentos. Um exemplo desse
tipo de situação ocorreu no Rio de Janeiro, em 2016, diante das Olimpíadas.
Para que estas pudessem transcorrer com menos problemas de movimentação e
transportes, as escolas tiveram que adequar seus calendários. Assim, o cotidiano
foi alterado por um calendário que deslocou o recesso escolar de julho para agosto;
o currículo e os planos de trabalho tiveram que ser adequados a esse calendário e
tudo isso teve que ser conciliado com os horários de alunos, professores e famílias,
já que muitos pais continuaram trabalhando sem que a escola pudesse receber seus
filhos e alunos.
Outro exemplo que pode ser apresentado é o de um grande projeto, como
uma Feira de Conhecimentos, que vai exigir o mesmo tipo de ação conjunta,
especialmente se for aberta aos pais e à comunidade. Será preciso observar todos
os aspectos práticos relativos à movimentação, uso de recursos, etc. Ao mesmo
tempo, a atividade deve trazer algum tipo de aprendizagem, além de estabelecer
ou fortalecer as relações entre alunos, professores, pais, etc.
Poderíamos citar, ainda, a situação em que a escola recebe uma proposta para
desenvolver um projeto. Muitas vezes, a proposta vem de uma ONG ou da pró-
pria Secretaria de Educação, e envolve aspectos ligados à aprendizagem, à convi-
vência e mexe com a organização da escola. Será necessário, portanto, tratar em
conjunto da referida proposta.
Na área B, estariam as questões do cotidiano escolar que devem se integrar
com questões da área pedagógica. Por exemplo, um projeto a ser desenvolvido por
uma turma vai interferir nos espaços e horários de outras turmas da escola: isso
precisará ser equacionado pelos profissionais responsáveis pelas duas áreas ou, se
for um mesmo profissional cuidando das duas, este deverá se preocupar em con-
ciliar esses dois aspectos.
Na área C, estariam as questões que passam pela mediação das relações na co-
munidade escolar e pelo seu cotidiano. Por exemplo, para que uma atividade possa
acontecer envolvendo toda a escola, as turmas devem sair mais cedo no dia ante-
rior: as famílias, alunos e profissionais da escola precisam, não apenas, ser avisados,
como a suspensão das aulas precisa fazer sentido diante da atividade em questão.
Na área D, a mesma ideia, agora envolvendo o trabalho especificamente pe-
dagógico e as mediações das relações. Por exemplo: se a equipe de professores,
juntamente com a equipe de gestão, resolve promover alterações no currículo ou
no sistema de avaliação, isso vai exigir uma integração das duas áreas.
Vejamos, então, aquilo que caracteriza o específico de cada uma dessas áreas.
capítulo 4 • 110
Responsabilidade pelo funcionamento cotidiano da escola
capítulo 4 • 111
o mesmo profissional as executa conjuntamente. Ainda assim, é importante deixar
claro que, nesta área de responsabilidades do gestor ou da equipe de gestão, busca-se
realizar aquilo que José Ernesto Bologna47 chama de “trabalhar como cenógrafo”:
Assim como o cenógrafo prepara o palco para os artistas fazerem seu show, o gestor
escolar deve preparar o palco que é a escola, para o espetáculo que é o processo de
aprendizagem, tendo como protagonistas os educadores e alunos.
capítulo 4 • 112
É importante ter especial atenção para evitar confundir o trabalho de orien-
tação com a atuação do psicólogo escolar, já que este tem uma função mais tera-
pêutica na relação com os alunos e profissionais da escola. O orientador ocupa-se
mais dos aspectos pedagógicos dessas relações e, conforme a situação, auxilia no
encaminhamento aos serviços terapêuticos, dos casos que exigem esse tipo de in-
tervenção: psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, etc.
Uma síntese do papel desses profissionais é apresentada por Miriam Paura48 ,
quando afirma:
Embora seja um alerta que se repete ao longo deste capítulo, também aqui
precisamos nos referir à questão da nomenclatura com que se apresentam os pro-
fissionais que assumem essa responsabilidade. De um modo geral, os nomes que
costumam se referir a eles são supervisor pedagógico, professor orientador, orien-
tador pedagógico e outros. Porém, o que se verifica com mais frequência é a ado-
ção cada vez maior do nome de coordenador pedagógico.
capítulo 4 • 113
• Formar os professores, no aprofundamento em sua área específica e em co-
nhecimentos da área pedagógica, de modo que realize sua prática em consonância
com os objetivos da escola e esses conhecimentos;
• Transformar a realidade, por meio de um processo reflexivo que questiona
as ações e suas possibilidades de mudança, e do papel/compromisso de cada pro-
fissional com a melhoria da educação escolar.
capítulo 4 • 114
Esse acompanhamento permite que a escola cumpra com sua obrigação legal51
de prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento, enquanto
auxilia o professor na realização desse trabalho em sala de aula, ao estabelecer es-
tratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. Ao mesmo tempo,
é possível identificar situações que configuram alunos em situação especial, seja
em termos de deficiência, seja em termos de superdotação ou altas habilidades, aos
quais devem ser oferecidas condições adequadas de atendimento52 ;
• Assessorar os demais profissionais que constituem a equipe de gestão esco-
lar, oferecendo e compartilhando com eles as contribuições do seu campo especí-
fico de conhecimento. Deste modo, facilitam-se as tomadas de decisão de modo
mais coletivo, ao mesmo tempo que os diferentes profissionais enriquecem-se mu-
tuamente com os conhecimentos uns dos outros;
• Manter contato com as famílias dos alunos, tanto para informá-las acerca
dos processos e resultados, quanto para ouvir suas demandas e receber as infor-
mações que trazem sobre seus filhos, de modo a manter a equipe de educadores o
mais próximo possível da efetiva realidade dos estudantes. Ao mesmo tempo, par-
ticipar, de modo direto ou indireto, das instâncias de discussão sobre a vida esco-
lar, tais como o Conselho Escolar, o Conselho Escola-Comunidade, ou qualquer
outro nome que tenham os coletivos de discussão em que se fazem representar
todos os segmentos da comunidade educativa.
Por fim, é importante trazer a observação que faz o relatório da pesquisa com
que abrimos este item, acerca deste profissional e de sua atuação na escola:
(...) não se pode falar de escola, genericamente, mas de cada escola em particular, dado
que cada uma tem características pedagógico-sociais irredutíveis (Azanha, 2003). E
há necessidade, para superação das dificuldades cotidianas da escola, de um trabalho
coletivo, o qual exige, por sua vez, a presença e atuação de um articulador dos processos
educativos que ali se dão. Esse articulador precisa agir nos espaços–tempos diferencia-
dos, seja para o desenvolvimento de propostas curriculares, seja para o atendimento a
professores, alunos e pais, nas variadas combinações que cada escola comporta.
Avaliação de desempenho
capítulo 4 • 115
entre suas funções profissionais, existem dificuldades para lidar com a avaliação do
seu próprio trabalho, quando lidamos com professores.
Não é raro encontrar situações de conflito provocadas quando os gestores
fazem essa avaliação, especialmente em relação ao trabalho dos professores. Na
escola pública a situação se agrava ainda mais, pois alguns professores se apoiam
na estabilidade oferecida pela área pública e se recusam às mudanças que uma
avaliação de desempenho pode sugerir.
Por isso, é importante lembrar-se do que estudamos no capítulo em que vimos
o conceito de gestão. Ao falar de recursos, dissemos que o professor não é um
recurso, mas o trabalho que ele desenvolve é um recurso. Isso permite tornar obje-
tiva a avaliação de desempenho, já que não é a pessoa que está sendo avaliada, mas
o seu trabalho na escola. Ainda que esse trabalho passe pelas relações interpessoais,
é importante que estas sejam avaliadas em relação ao que a escola propõe em seu
PPP, no seu regimento e demais documentos.
Superados os conflitos e enfrentando-se este desafio, percebe-se a avaliação
de desempenho como importante aliada, não apenas porque aponta os aspectos
em que cada um deve melhorar, mas também porque indica em que pontos deve
incidir a formação continuada, que estudaremos logo a seguir.
A avaliação de desempenho do trabalho docente é uma tendência global. Em
muitos países ela vem se desenrolando, permitindo, entre outras coisas, construir
a identidade profissional a partir das características que definem uma profissão: a
formação inicial, as regulamentações e a avaliação das práticas.
Alguns obstáculos impedem ou atrapalham um bom trabalho de avaliação do
trabalho docente:
• Podem parecer mecanismos de controle do trabalho, mais do que um ins-
trumento para favorecer o crescimento profissional e a melhoria do trabalho;
• O avaliador, muitas vezes, é um agente externo que não tem legitimidade
diante do quadro de profissionais que deve avaliar;
• Os discursos políticos sobre o assunto se chocam, muitas vezes, com a rea-
lidade vivida pelos professores no cotidiano das escolas;
• Os critérios usados para avaliar o trabalho docente são, muitas vezes, con-
traditórios com os critérios usados no momento da sua contratação;
• Não são levados em conta os aspectos da realidade concreta vivida pelos
professores na escola, isto é, suas condições reais de trabalho;
capítulo 4 • 116
• São considerados, apenas, aspectos cognitivos por meio de testes padroniza-
dos aplicados a todos os alunos de modo generalizado.
capítulo 4 • 117
f ) Utilidade: os resultados da avaliação devem favorecer a melhoria das condi-
ções de trabalho, dos resultados dos alunos e do desenvolvimento profissional dos
professores;
g) Participação: buscar envolver todos os interessados no processo, evitando si-
tuações de constrangimento, como, por exemplo, aquelas em que os alunos ava-
liam os professores sem as devidas e necessárias orientações para isso;
h) Ética: atenção ao tratamento respeitoso e justo para com os avaliados, evitando
que a avaliação de desempenho se transforme em experiência de constrangimento;
i) Oportunidades: trabalhar para que a avaliação docente seja percebida como
oportunidade, e não como ameaça.
No quadro adiante54 , podemos perceber como é feita a avaliação do desem-
penho docente nas redes públicas de alguns países.
Por fim, não podemos deixar de frisar dois aspectos fundamentais da avaliação
do desempenho docente. O primeiro refere-se a um direito que tem todo profis-
sional, de ser avaliado, considerando todos os elementos colocados anteriormente.
54 Extraído de CAMARGO, PAULO DE. De Olho no Professor. Artigo da Revista Educação, disponível em: <http://
www.revistaeducacao.com.br/de-olho-no-professor/>. Acesso em: 15 set. 2016.
capítulo 4 • 118
Em seguida, receber a devolutiva do processo de avaliação do seu trabalho. Os pro-
fessores não ficam fora desse direito. Ao contrário, a permanente necessidade de
atualização e aperfeiçoamento do seu trabalho exige o cumprimento desse direito.
Além disso, é um direito que diminui os riscos de injustiças e deterioração das
relações, sempre prejudiciais nos ambientes de trabalho, especialmente na escola.
O segundo aspecto serve para introduzir o próximo tópico de nossos estudos:
quando bem conduzido, o processo de avaliação do trabalho docente apresenta
resultados fundamentais para a implantação de um bom projeto de formação con-
tinuada, como veremos a seguir.
Formação continuada
Dimensão expressivo-comunicativa
• É importante que possamos propor aos professores uma reflexão sobre aqui-
lo que todos nós expressamos e comunicamos dentro da escola. Por exemplo:
capítulo 4 • 119
– meu corpo e meus hábitos traduzem uma ideia de saúde? Minhas roupas e
hábitos de consumo são adequados à realidade na qual atuo? Que valores se difun-
dem por meio do meu modo de estar no mundo?
– meus comentários nos corredores, na sala de professores, nos momentos
formais e informais expressam um modo de contar o mundo. Minha linguagem
reforça esse modo de contar o mundo. Que mundo estamos contando na nos-
sa escola?
– os conteúdos com os quais trabalho ajudam meus alunos e demais profes-
sores a se questionarem, perguntarem sobre o que vão percebendo e descobrindo?
Meu modo de lidar com os conteúdos faz com que nos encantemos com as desco-
bertas do trabalho escolar cotidiano?
Dimensão técnico-pedagógica
• Neste aspecto, a formação continuada vai permitir nosso questionamento
sobre as técnicas e métodos utilizados no nosso fazer cotidiano. Esse fazer ocor-
re em espaços e tempos compartilhados com outros profissionais, alunos e pais,
constituindo o contexto de cada escola:
– que metodologias estamos utilizando? Elas são adequadas à faixa etária, ao
meio social dos alunos? São o melhor meio de construir o conhecimento com eles?
– como fazemos para entender que a metodologia é mais do que a prática e
deve incluir uma base teórica que a sustente?
capítulo 4 • 120
– os materiais que utilizamos são adequados e pertinentes ao Projeto Político-
Pedagógico da escola?
Dimensão sociocultural
• Pelo fato de se tratar de uma ação que ocorre inserida no contexto de uma
determinada escola, é importante que os processos de formação continuada discu-
tam esse contexto e considerem:
– que posicionamento sociopolítico nosso trabalho vem expressando?
– temos clareza de que não existe neutralidade e que a escola deve assumir uma
visão de pessoa e de sociedade que busca construir através do trabalho pedagógico?
– que identidades pessoais estamos construindo em nós mesmos e auxiliando
que nossos alunos construam em suas vidas?
– que identidade profissional se apresenta à comunidade escolar através do
nosso trabalho?
– compreendemos e traduzimos em nosso trabalho nossas histórias de vida e
nosso pertencimento a uma categoria profissional?
Dimensão da subjetividade
• Muitas vezes deixa-se de levar em conta o fato de que o professor é um su-
jeito e, como tal, deve realizar-se, como toda pessoa, por meio de sua ação sobre
o mundo e de suas relações com as pessoas: o ser humano se realiza enquanto
ama e trabalha. Assim, a formação continuada deve favorecer essa construção,
perguntando
– a escola e, em especial, a equipe gestora, tem favorecido a realização pessoal
dos professores? Tem sido zelosa e cuidadosa para com eles?
– ao mesmo tempo, os professores têm clareza dessa dimensão do seu traba-
lho? Buscam realizar-se por meio da sua profissão e das relações que constroem
na escola?
– o que tem sido feito para ajudar que todos construam uma narrativa de
vida que lhe dê sentido? Que memória constroem os professores que passam pela
escola? Que projetos lhes são possibilitados?
Não é difícil perceber que a proposta que trazemos é de uma formação con-
tinuada de dimensões bem mais amplas do que, simplesmente, ensinar técnicas e
conteúdos. Tudo isso é importante, mas não basta.
capítulo 4 • 121
Na verdade, aprende-se o tempo todo na escola. A tal ponto que alguns ges-
tores usam a expressão formação permanente, em lugar de formação continuada.
Para que ela assim ocorra, é importante que a equipe gestora se abra a novas pos-
sibilidades, novos conteúdos e novos formatos.
Muitas vezes, assistir a um filme ou a uma peça de teatro e discuti-la, com-
partilhar com os outros nossos sentimentos diante de uma obra de arte pode ser
uma grande oportunidade formativa. Trocar e-mails com colegas de outras escolas,
estados e países, intervir na realidade de outras escolas, em formato de intercâmbio
profissional, também tem efeitos estimulantes e provocativos que costumam dar
bons resultados.
Expressivo-
Especialidade
comunicativa
Subjetividade
Técnico-
Sociocultural
Pedagógica
capítulo 4 • 122
• Retomar as etapas do processo que se revelem necessárias após essa avaliação.
Gestão da tecnologia
Vamos finalizar este capítulo tratando do tema da tecnologia. Não é por acaso
que ele vem separado: nosso objetivo é que ele tenha todo o destaque necessário,
diante da importância que a tecnologia tomou na educação em geral e nas escolas.
A palavra tecnologia constitui-se de dois radicais e poderia ser entendida, a
partir da sua etimologia como a aplicação do conhecimento às atividades humanas:
Tecnologia
capítulo 4 • 123
Precisamos, portanto, falar de duas questões:
• A primeira é a tecnologia na gestão: que recursos tecnológicos podem ser
utilizados para favorecer o trabalho da gestão escolar;
• A segunda é a gestão da tecnologia, isto é, não dedicar atenção somente aos
recursos tecnológicos, mas sim, ter um projeto de uso da tecnologia na escola.
Tecnologia na gestão
Este é um dos aspectos mais simples da relação entre tecnologia e escola: que
recursos tecnológicos estão disponíveis para a melhoria dos processos de gestão?
Durante muito tempo, foram usados arquivos/armários, fichas de papel, má-
quinas de escrever e outros recursos de registro que servem como exemplo de
tudo que foi sendo substituído no trabalho dos bastidores da escola. Hoje, raras
são as escolas que ainda mantêm esses recursos como única fonte de registro de
seus dados.
No caso dos recursos de informática, percebemos que são oferecidas as mais
diversas ferramentas que auxiliam a gestão escolar: desde sofisticados (e caros)
sistemas para lançamento de notas, registro de ocorrências com os alunos, mo-
vimentação de matrículas, passando por questões trabalhistas e contábeis, até a
manutenção de sites e recursos de comunicação da instituição.
Ao mesmo tempo, existe a disponibilidade de sistemas mais simples (em al-
guns casos, até, gratuitos) que podem atender muito bem aquelas escolas de me-
nor tamanho e, portanto, menos alunos e menores exigências quanto aos seus
sistemas de registro e controle.
O mais importante, a esse respeito, é que a equipe gestora procure e utilize os
recursos tecnológicos mais adequados e acessíveis à sua realidade. Para isso deve:
• Identificar as reais necessidades da escola quanto ao uso de recursos: de que
recursos ela necessitaria e para quê?
• Ter uma noção exata das possibilidades de a escola obter esses recursos:
a escola tem disponibilidade financeira ou verbas disponíveis (no caso de esco-
las públicas)?
capítulo 4 • 124
• Mapear a capacidade de utilização dos equipamentos por parte dos pro-
fissionais da escola: as pessoas e grupos saberão utilizar os equipamentos a serem
comprados? Se não sabem, é possível pensar num processo de capacitação?
Gestão da tecnologia
Neste caso, a situação é um pouco mais complexa: trata-se de fazer uma ges-
tão da tecnologia, isto é, utilizar os recursos tecnológicos para alcançar objetivos
determinados de modo eficiente e eficaz. Portanto, mais do que tratar os recursos
como acessórios ao trabalho cotidiano da escola, busca-se integrar esses recursos
ao Projeto Político-Pedagógico, já que neste encontram-se os “objetivos determi-
nados” pela comunidade escolar, e nele, também, devem estar descritos os critérios
de qualidade que determinam o que são eficiência e eficácia naquela realidade.
Embora a sociedade valorize enormemente o acesso aos computadores e à
internet, pesquisas nacionais e internacionais demonstram que a melhoria do de-
sempenho escolar não depende, apenas, da simples presença de computadores
na escola.
Aliás, por mais contraditório que possa parecer, se a tecnologia entra na escola
sem conexão com seu projeto pedagógico, ela pode ampliar a distância entre os
que têm e os que não têm o conhecimento: mais se instituem e mais se separam os
incluídos e os excluídos da sociedade do conhecimento e da informação.
O que se precisa é de uma leitura crítica da presença da tecnologia da escola.
Essa crítica deve ter como referencial o seu Projeto Político-Pedagógico. É assim
que a entrada dos recursos tecnológicos na escola, em aliança com o seu Projeto
Político-Pedagógico pode oferecer os ganhos de qualidade necessários ao desenvol-
vimento dos alunos e do trabalho dos professores.
A equipe gestora da escola precisa ter claro que é preciso superar os modismos
de se introduzir uma parafernália de aparelhos tecnológicos sem que se saiba o que
fazer com eles. Para isso, é importante encontrar aquilo que Moran (1998) chama
de “encontrar o ponto de equilíbrio entre o deslumbramento e a resistência”, dian-
te de tantas e tão interessantes tecnologias de informação e comunicação.
capítulo 4 • 125
De modo especial, chamam nossa atenção os resultados de pesquisas que re-
velam o quanto de resistência os professores apresentam para enfrentarem e se
apropriarem dos recursos tecnológicos nas práticas do seu trabalho cotidiano.
Entra aqui, de modo especial, a importância de uma gestão escolar que favorece
aos professores:
• Por um lado, o olhar crítico sobre o uso das tecnologias;
• Por outro lado, a formação continuada que lhes permite assumir o prota-
gonismo nesse uso;
• Mediados pela consciência do seu papel social inovador e transformador.
Esse trabalho que cabe às equipes gestoras supõe, em primeiro lugar, iden-
tificar até onde vão as carências da sua escola, no que se refere às tecnologias. E
aqui, não adianta acreditar que não há carências: elas existirão sempre, já que as
inovações tecnológicas andam a passos muito mais rápidos que a velocidade com
que as incorporamos ao trabalho escolar. O que importa, portanto, é identificar
essas carências.
Em seguida, vem a necessidade de estabelecer um programa de como suprir
essas carências. Tal programa deverá trazer metas claras e alcançáveis, de modo a
envolver toda a comunidade escolar.
Por fim, é necessário acompanhar e apoiar o trabalho de toda a comunidade
escolar no que se refere ao uso das tecnologias, especialmente no que se refere
ao professor.
capítulo 4 • 126
• Publicações do MEC com apresentação de experiências desenvolvidas em escolas
públicas, usando diferentes tecnologias:
– Guia de Tecnologias Educacionais 2009: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/
guia_tecnologias_atual.pdf>.
– Guia de Tecnologias Educacionais 2011-2012: <http://portal.mec.gov.br/in-
dex.php?option=com_docman&view=download&alias=9909-guias-tecnologias-
2011-12&category_slug=fevereiro-2012-pdf&Itemid=30192>
– Guia de Tecnologias Educacionais 2013:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downloa-
d&alias=14545-guia-tecnologias-20130923-pdf&category_slug=novembro-
2013-pdf&Itemid=30192>
• Gestão Inovadora da Escola com Tecnologias. José Moran. Disponível em: <http://
www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/tecnologias_eduacacao/gestao.pdf>.
Neste capítulo, entramos um pouco mais nos estudos de gestão escolar, apro-
ximando-nos do chamado “chão da escola”, isto é, suas vivências e convivências
cotidianas. Tomamos contato com informações que, não apenas, servem para
apoiar nossos conhecimentos sobre o tema, mas também podem nos auxiliar em
nossas observações como estagiários ou pesquisadores da área.
Vimos, então, aqueles que podem ser considerados os principais instrumentos
para a gestão escolar:
• O planejamento, com a importância de determinarmos a realidade na
qual estamos, em que sentido desejamos transformá-la e os meios para fazer essa
transformação;
• A supervisão e/ou a coordenação das atividades escolares, especialmente dos
professores, permitindo identificar os modos e os meios de aperfeiçoar o trabalho
dos professores e o processo de aprendizagem dos alunos;
• A orientação que permite a mediação de conflitos e a otimização das rela-
ções entre pessoas e grupos na organização escolar e na comunidade educativa;
• A formação continuada, atividade central da equipe gestora: diante das con-
tínuas mudanças promovidas pela sociedade do conhecimento e da informação,
os educadores precisam continuamente rever seu papel social, suas atribuições e
buscar o melhor modo de responder aos desafios;
capítulo 4 • 127
• Para encaminhar um processo efetivo de formação continuada, apontamos
a importância de uma avaliação de desempenho que, mais do que apontar para a
meritocracia, indique claramente as reais necessidades formativas dos profissionais;
• Trabalhamos, ainda, com a ideia de que todo o processo da gestão deve ser
apoiado e legitimado por amplos processos participativos favorecidos por organi-
zações e instâncias de participação que envolvam toda a comunidade escolar.
Liderança
<http://gestaoescolar.org.br/formacao/responsabilidades-diretor-755886.shtml>
<http://gestaoescolar.org.br/formacao/toda-forca-lider-448526.shtml>
Formação
<http://novaescola.org.br/pdf/coordenacao-formacao.pdf>
<http://gestaoescolar.org.br/formacao/10-conteudos-indispensaveis-formacao-coor-
denador-pedagogico-629894.shtml>
<http://www.revistaeducacao.com.br/de-olho-no-professor/>
<http://www.revistaeducacao.com.br/especialista-afirma-que-universidades-brasilei-
ras-nao-estao-realmente-formando-professores/>
capítulo 4 • 128
Descrição de funções
<http://novaescola.org.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/coordenador-pe-
dagogico-profissional-busca-identidade-632174.shtml>
<http://gestaoescolar.org.br/blogs/coordenadoras/>
<http://gestaoescolar.org.br/formacao/desvios-funcao-coordenador-pe-
dagogico-634934.shtml>
<http://novaescola.org.br/formacao/orientador-educacional-424364.shtml>
<http://gestaoescolar.org.br/formacao/papel-orientador-educacional-758703.shtml>
<http://novaescola.org.br/formacao/mediador-escola-427372.shtml>
capítulo 4 • 129
capítulo 4 • 130
5
Bases legais para a
gestão escolar
Bases legais para a gestão escolar
Este é o último capítulo deste livro, e o assunto que nele será abordado foi
deixado para o final apenas por razões práticas. Ele contém as bases legais para a
gestão escolar, isto é, as principais orientações que os gestores escolares devem con-
siderar no seu trabalho cotidiano. Durante o curso de Gestão Escolar, ele pode ser
utilizado para consultas paralelas ao trabalho dos demais capítulos. Ou, ainda, ser
trabalhado como uma unidade, dependendo do enfoque adotado pelo professor
da disciplina.
Para melhor compreender como funciona a legislação brasileira que atinge
mais diretamente a escola e o trabalho da equipe gestora, é importante conhecer o
modo pelo qual o Brasil se organiza como país, e a história que nos trouxe até esse
modelo de organização: diferente de outros países mais “unitários”, somos uma
república federativa, isto é, os estados e municípios gozam de uma autonomia
diferente daquela organização mais centralizada que outros países assumem.
Aproveitaremos para conhecer os mecanismos de funcionamento da legislação:
• Quem escreve as leis no nível federal, nos estados e nos municípios;
• Quais são os instrumentos para fazer com que as leis cheguem até a popu-
lação e até a gestão escolar, de modo especial.
capítulo 5 • 132
Como o país se organiza e que caminhos nos trouxeram a esse
modelo
capítulo 5 • 133
poderes entre o governo federal, os estados e municípios começam a ganhar força
e tomar forma.
Importantes instrumentos de participação foram garantidos na Constituição
de 1988, o que favoreceu a população a tomar decisões por meio de representantes
que ela escolhe por eleições diretas em todos os níveis. Além disso, foram criados
importantes instrumentos de participação direta da população, como o referendo,
o plebiscito e a iniciativa popular55 .
Este breve relato mostra o quanto é cíclico, em nossa história, o processo de
centralização e descentralização entre o nível federal de governo e os estados e
municípios. Mas o que se percebe é a importância e a necessidade de aproximar,
cada vez mais, a população do nível de decisão e participação.
As pessoas vivem seu dia a dia em seus bairros e em suas cidades, que se situam
nos municípios. Este é, portanto, o nível de governo mais próximo das pessoas,
que lidam mais de perto com vereadores e prefeitos do que com deputados esta-
duais ou federais, governadores e senadores. É, portanto, nesse nível de governo,
que o atendimento das necessidades se torna mais claro e, por isso mesmo, mais
urgente. É no nível do bairro e do município que a participação da população se
torna mais clara e mais viável. E essa participação passa por exigir, desde sanea-
mento básico e calçamento de ruas, até a qualidade da escola que atende às crian-
ças e jovens da comunidade.
Essa possibilidade de atendimento, porém, esbarra numa divisão de recursos
entre o nível federal, estadual e municipal, que ainda conserva grande parte deles
no nível central, diminuindo a autonomia administrativa e financeira e aumen-
tando as possibilidades de manipulação política por parte do governo federal. Um
exemplo que confirma essa afirmação é o recolhimento de impostos. Segundo
dados dos anos de 2008 e 2009, o governo federal arrecadou cerca de 70% dos
impostos, os governos estaduais, em torno de 26% e os municípios, apenas cerca
de 4%.
55 No referendo, uma lei é apresentada e a população vota se concorda ou não com ela. Foi o que ocorreu, em
2005, com o Estatuto do Desarmamento, por exemplo. No plebiscito, a população vota antes da lei ser aprovada. Foi
o que ocorreu, por exemplo, em 2011, quando a população do estado do Pará rejeitou a proposta de dividir o estado
em três estados menores. A iniciativa popular é uma ação por meio da qual uma parcela da população, atendendo
a determinadas regras, elabora e apresenta à Câmara dos Deputados, um projeto de lei para ser discutido e votado.
Foi o caso, há pouco tempo, da chamada Lei da Ficha Limpa.
capítulo 5 • 134
O que a educação tem a ver com isso?
Embora pareça que este é um assunto que não nos diz respeito, basta come-
çarmos a tratar da gestão escolar e nos deparamos com uma série de questões cuja
origem remonta a essa divisão de responsabilidades, buscada a partir da descen-
tralização estabelecida na Constituição de 1988. Gestores escolares precisam estar
atentos para as mudanças nas leis que decorrem de todo esse processo.
Um exemplo que todos vivemos, recentemente, foi trazido pelo Estatuto da
Pessoa com Deficiência, promulgado em julho de 2015. Todas as escolas, públicas
e privadas, tiveram que se voltar para o estudo e a discussão do que essa lei trazia
como consequência para o seu cotidiano. E isso é assunto de gestão.
Além disso, as leis que são estabelecidas em nível nacional, muitas vezes enca-
minham aos governos estaduais e municipais o seu detalhamento, já que é preciso
respeitar as peculiaridades locais para que ela faça o devido efeito. O Artigo 206 da
Constituição, por exemplo, estabelece que um dos princípios do ensino público
é a “gestão democrática, na forma da lei”. Isso significa que não é a Constituição
Federal nem a LDB que vão definir o modo como ocorrerá a gestão democrática,
mas sim, os estados e municípios, por meio dos seus Conselhos de Educação e
outros órgãos de governo.
Detalhes como a distribuição das horas, as matrizes curriculares, as regras de
convivência e outros são decididos localmente, de modo a atender de modo mais
concreto às necessidades da comunidade em que se insere a escola.
Para melhor compreendermos como esse processo de legislação chega até a
escola, apresentamos o esquema a seguir, que será detalhado pouco a pouco nes-
te capítulo.
Para começar, é importante saber quais são as atribuições de cada nível de
governo em relação à educação. É o que nos apresenta o quadro56 a seguir.
56 Extraído de Monteiro e Motta. Gestão Escolar: perspectivas, desafios e função social. Rio de Janeiro: LTC,
2013. p. 208.
capítulo 5 • 135
Estão responsáveis pelo ensino de nível médio, incluindo a for-
mação para o magistério, a educação profissional de nível médio
em suas diferentes modalidades curriculares (subsequente, conco-
mitante e integrado) e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). De-
ESTADOS pendendo de acordos locais, especialmente em função de compar-
tilhamento das dependências físicas escolares, os estados também
podem abranger a gestão do Ensino Fundamental, especialmente
do segundo segmento (do 5º ao 9º Anos).
capítulo 5 • 136
(Conselho Estadual de Educação – CEE) e municipal57 (Conselho Municipal de
Educação – CME).
• A Resolução, em nosso caso, costuma acompanhar algum Parecer que
precise ter um peso maior em termos de sua aplicação prática. Assim como a
Deliberação, sua característica é estabelecer as normas para que uma deci-
são funcione.
• As Portarias são ainda mais específicas e costumam se referir a normas ad-
ministrativas ou comunicações muito particulares, como as nomeações.
O quadro adiante mostra o “caminho” pelo qual as leis chegam até a escola e
como elas se concretizam nos documentos escolares. Ele mostra que, no nível da
escola, o Projeto Político-Pedagógico e o regimento escolar, ainda que sejam elabo-
rados respeitando a autonomia da escola (expressa no Artigo 12 da LDB), não po-
dem fugir ao que se encontra estabelecido pela legislação, em seus diversos níveis.
De modo especial, o esquema traduz a ideia de que é nas ações cotidianas dos
fazeres escolares que a Constituição Federal, em seus princípios, direitos e deveres,
se torna algo concreto para cada cidadão, por meio da educação.
57 Existem casos em que o município não tem Conselho Municipal de Educação. Nestas situações, costumam
valer para os municípios as orientações do Conselho Estadual de Educação.
capítulo 5 • 137
Constituição federal de 1988
na escola se traduzem no
capítulo 5 • 138
da Criança e do Adolescente (ECA58) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência. A
escolha desses dois documentos tem a ver com suas implicações diretas no cotidia-
no da escola e, em alguns casos, porque há uma responsabilização legal do diretor
escolar no cumprimento de suas diretrizes. Podendo, até mesmo, resultar num
procedimento judicial contra o diretor.
CONSEQUÊNCIA PARA A
ARTIGO TEXTO GESTÃO
Cuidar para que a convivência
Considera criança a pessoa até 12 dos diferentes grupos no am-
anos de idade incompletos e adoles- biente escolar respeite essas
2º cente aquela entre 12 anos e 18 anos categorias, já que a aplicação da
incompletos. legislação é diferente para cada
uma delas.
58 Para uma apresentação mais detalhada das relações entre o Estatuto da Criança e do Adolescente com a
educação e a escola, leia as páginas 210 a 213 de Monteiro e Motta. Gestão Escolar: perspectivas, desafios e função
social. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
capítulo 5 • 139
CONSEQUÊNCIA PARA A
ARTIGO TEXTO GESTÃO
A criança e o adolescente têm o direi-
to de ser educados e cuidados sem o
uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante, como formas de
correção, disciplina, educação ou qual-
É importante uma orientação
quer outro pretexto, (...) por qualquer
segura e firme aos profissionais
pessoa encarregada de cuidar deles,
da escola para que evitem ex-
18A tratá-los, educá-los ou protegê-los.
pressões e atitudes que possam
Parágrafo único. Para os fins desta
configurar humilhação, ameaça
Lei, considera-se:
ou ridicularização.
(...) II. tratamento cruel ou degradante:
conduta ou forma cruel de tratamento
em relação à criança ou ao adoles-
cente que humilhe, ameace grave-
mente ou ridicularize.
capítulo 5 • 140
CONSEQUÊNCIA PARA A
ARTIGO TEXTO GESTÃO
Art. 56. Os dirigentes de estabele-
cimentos de Ensino Fundamental
comunicarão ao Conselho Tutelar os
casos de:
É importante conhecer os mem-
I. maus-tratos envolvendo seus alu- bros do Conselho Tutelar da re-
56 nos; gião e saber deles os melhores
II. reiteração de faltas injustificadas procedimentos para atender às
necessidades contidas no ECA.
e de evasão escolar, esgotados os re-
cursos escolares;
III. elevados níveis de repetência.
capítulo 5 • 141
O Estatuto da Criança e do Adolescente deve, além de respeitado, ser trabalhado cur-
ricularmente, para que os alunos, principais interessados em seu conteúdo, comecem
desde logo a tomar parte ativa em seu processo de formação para a cidadania.
Também nos processos de formação continuada dos profissionais da escola, a equipe
gestora deve incluir elementos do ECA para conhecimento e reposicionamento dos
educadores em seu trabalho e em suas relações com os alunos e famílias.
capítulo 5 • 142
• Planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento
educacional especializado, de organização de recursos e serviços de acessibilidade
e de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva;
• Adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos aspec-
tos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se em conta o ta-
lento, a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com deficiência;
• Adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação
inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendi-
mento educacional especializado;
• Participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas diversas
instâncias de atuação da comunidade escolar;
• Oferta de profissionais de apoio escolar; (...)
Faça uma breve pesquisa em escolas da sua região e verifique quais desses pontos do
Estatuto da Pessoa com Deficiência estão sendo atendidos. Verifique junto à equipe
gestora quais são as condições para atender ao que é possível e quais as dificuldades
que levam a não atender a outros aspectos do que ali é exigido.
Ainda que não sejam muito divulgados, é importante que a equipe gestora
procure informar-se a respeito de outras leis que têm implicação direta nas escolas.
Uma delas é a chamada Lei dos Grêmios, desconhecida por muitos educado-
res e que confirma o direito à organização e representação estudantil contida em
outras leis e estatutos. Trata-se da Lei 7.398, de 1985, e seu texto é muito simples
e direto:
capítulo 5 • 143
Outras leis e exigências legais são próprias das escolas privadas e devem ser
do conhecimento dos gestores que nelas atuam. De um modo geral, podem-se
obter boas informações sobre elas em publicações próprias, disponibilizadas pe-
los sindicatos patronais e associações de escolas privadas. Na maioria das páginas
eletrônicas dos diferentes sindicatos patronais pelo país afora, encontram-se boas
orientações a respeito. O órgão que representa as escolas privadas de todo o Brasil
é a CONFENEM; em sua página eletrônica encontram-se diversas orientações às
escolas privadas, sendo que no link: <http://www.confenen.org/jurdico> estão as
orientações sobre legislação.
Por fim, é importante esclarecer a importância de que os gestores busquem to-
dos os esclarecimentos possíveis a respeito daquilo que é ou não obrigatório à sua
escola e que se encontra sob sua responsabilidade. Um exemplo disso foi vivido
na época em que foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
Muitos educadores entenderam aquele documento como algo obrigatório de ado-
ção por parte das escolas.
Segundo o capítulo de apresentação dos PCNs, eles têm como função orien-
tar, socializar discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho dos educadores, es-
pecialmente aqueles que se encontram mais isolados e mais distantes da produção
pedagógica atual.
O que tem caráter obrigatório são as Diretrizes Curriculares, normas obriga-
tórias para a Educação Básica, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação e que
orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. Veja o
quadro59 :
59 Extraído de Monteiro e Motta. Gestão Escolar: perspectivas, desafios e função social. Rio de Janeiro: LTC,
2013. Pp 215.
capítulo 5 • 144
SOBRE DIRETRIZES CURRICULARES PARÂMETROS CURICULARES
capítulo 5 • 145
Indicadores, políticas públicas e programas importantes para a
gestão escolar
60 Entre outras informações importantes, encontram-se as descrições do que sejam o SAEB, o IDEB, a Prova
Brasil e a Provinha Brasil. Cada um desses itens tem sua própria página, cujos conteúdos são interessante material
de estudo, mas que não caberiam nesta disciplina.
capítulo 5 • 146
Os dados do Censo Escolar são úteis, por fim, para o cálculo do IDEB, indica-
dor que influencia as metas do Plano Nacional da Educação (PNE), do Ministério
da Educação.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE é responsável
pela execução de políticas educacionais do Ministério da Educação, prestando
assistência técnica e financeira e executando ações que contribuam para uma edu-
cação de qualidade a todos, especialmente para a Educação Básica da rede públi-
ca. Para isso, estabeleceu parceria com os 26 estados, os 5.565 municípios e do
Distrito Federal.
Como os programas abrangidos pelo FNDE são muitos, vamos conhecê-los
por meio de um exercício de pesquisa que você deve realizar visitando as pági-
nas do MEC nos links: <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?i-
d=18842:infraestrutura> e <http://www.fnde.gov.br/>. Nesta última, clique em
“Programas”, na aba superior do site e clique em cada um dos programas que vão
aparecer, para buscar as informações que você deve usar para preencher o quadro
a seguir. Se preferir, pode usar outras fontes de pesquisa.
Brasil
Carinhoso
Caminho da Escola
PNATE
Programa Nacional de Apoio ao Trans-
porte Escolar
PDDE
Programa Dinheiro Direto na Escola
capítulo 5 • 147
PROGRAMA DESCRIÇÃO APÓS VISITA AO SITE
PNAE
Programa Nacional de Alimentação
Escolar
PNBE
Programa Nacional Biblioteca na Escola
PNLD
Programa Nacional do Livro Didático
Pró-Infância
Programa Nacional de Reestruturação e
Aquisição de Equipamentos para a Rede
Escolar Pública de Educação Infantil
Pró-Info
Programa Nacional de Tecnologia
Educacional
Você se lembra que começamos este capítulo com uma discussão sobre a descentrali-
zação das ações entre o governo federal, estadual e municipal? Que tal voltar a discutir
esse tema com base na tabela que você acabou de preencher? Isso pode dar uma boa
discussão entre você, seus colegas de turma e seus professores.
Não poderíamos encerrar este capítulo sem trazer a discussão sobre um tema
importantíssimo que é o Plano Nacional de Educação.
Na Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/1996), o Plano Nacional de Educação
(PNE) aparecia no capítulo das disposições transitórias. Segundo o site JusBrasil,
disposições transitórias, também chamadas de normas de transição, são aquelas
apresentadas no próprio texto da lei, para disciplinar, durante certo tempo, a tran-
sição do sistema antigo para o futuro. Assim, encontramos no texto da LDB:
capítulo 5 • 148
Em 2009, a Emenda Constitucional nº 59 passou o Plano Nacional de
Educação dessa condição de “norma transitória” para uma exigência da própria
Constituição com periodicidade de dez em dez anos. Ao mesmo tempo, o PNE
tornou-se o referencial que articula a organização dos sistemas estaduais e muni-
cipais de educação, além de estruturar o Sistema Nacional de Educação, prevendo
um percentual de recursos financeiros do PIB (Produto Interno Bruto) para o
seu financiamento.
Para se manter informado sobre o PNE, o portal do MEC disponibiliza todas
as informações pelo link: <http://pne.mec.gov.br/>. Um exemplo das importantes
informações ali apresentadas é o mapa61 com a situação dos planos de educação
em todos os municípios brasileiros:
RR AP
AM MA
PA CE
RN
PI PB
PE
AC TO AL
RO SE
Legenda: MT BA
0 Sem informação DF
GO
0 Sem comissão coordenadora
Instituída
MG
0 Com comissão Coordenadora MS ES
Instituída
0 Com Diagnóstico concluído SP RJ
1 Com Documento-Base e elaborado
PR
0 Com Consulta Pública realizada
0 Com Projeto de Lei elaborado SC
1 Com Projeto de Lei enviado ao
Legislativo RS
0 Com Lei aprovada
25 Com Lei sancionada
capítulo 5 • 149
município, clique no estado e, ao abrir a janela, digite o nome do município. Caso
ele tenha texto do Plano de Educação, este será baixado no seu computador.
Quanto às metas estabelecidas no PNE, é importante conhecê-las, ainda que
não estejamos diretamente envolvidas com as políticas públicas de mais largo al-
cance, como parece ser o caso de algumas delas. Na verdade, as metas se concreti-
zam nas ações cotidianas desenvolvidas em cada escola. E isso é responsabilidade
da equipe gestora.
Um exemplo está na meta 5, que estabelece: Alfabetizar todas as crianças, no
máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental. Ora, esta é uma
meta que se realiza no trabalho cotidiano de cada educador ou educadora, em cada
escola, quando proporciona um ensino de qualidade que possibilita essa alfabeti-
zação. E isso ocorre sob olhar responsável da equipe gestora.
Vejamos, então, um quadro-síntese com algumas metas62 do PNE:
META META
Meta 1 Meta 9
Universalizar, até 2016, a Educação In- Elevar a taxa de alfabetização da popula-
fantil na pré-escola para as crianças de ção com 15 (quinze) anos ou mais para
4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e 93,5% (noventa e três inteiros e cinco
ampliar a oferta de Educação Infantil em décimos por cento) até 2015 e, até o
creches, de forma a atender, no mínimo, final da vigência deste PNE, erradicar o
50% (cinquenta por cento) das crianças analfabetismo absoluto e reduzir em 50%
de até 3 (três) anos até o final da vigência (cinquenta por cento) a taxa de analfabe-
deste PNE. tismo funcional.
Meta 2 Meta 10
Universalizar o Ensino Fundamental de 9 Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco
(nove) anos para toda a população de 6 por cento) das matrículas de educação de
(seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que jovens e adultos, no Ensino Fundamental
pelo menos 95% (noventa e cinco por e Médio, na forma integrada à educação
cento) dos alunos concluam essa etapa profissional.
na idade recomendada, até o último ano
de vigência deste PNE.
62 Optamos por excluir as metas específicas da Educação Superior, já que nosso curso refere-se à Gestão Escolar
da Educação Básica.
capítulo 5 • 150
META META
Meta 3 Meta 15
Universalizar, até 2016, o atendimen- Garantir, em regime de colaboração en-
to escolar para toda a população de 15 tre a União, os Estados, o Distrito Federal
(quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar, e os Municípios, no prazo de 1 (um) ano
até o final do período de vigência deste de vigência deste PNE, política nacional
PNE, a taxa líquida de matrículas no en- de formação dos profissionais da educa-
sino médio para 85% (oitenta e cinco por ção de que tratam os incisos I, II e III do
cento). caput do art. 61 da Lei no 9.394, de 20
de dezembro de 1996, assegurando que
todos os professores e as professoras da
Educação Básica possuam formação es-
pecífica de nível superior, obtida em curso
de licenciatura na área de conhecimento
em que atuam.
Meta 4 Meta 16
Universalizar, para a população de 4 Formar, em nível de pós-graduação, 50%
(quatro) a 17 (dezessete) anos com defi- (cinquenta por cento) dos professores da
ciência, transtornos globais do desenvol- Educação Básica, até o último ano de vi-
vimento e altas habilidades ou superdo- gência deste PNE, e garantir a todos(as)
tação, o acesso à Educação Básica e ao os(as) profissionais da Educação Básica
atendimento educacional especializado, formação continuada em sua área de
preferencialmente na rede regular de en- atuação, considerando as necessidades,
sino, com a garantia de sistema educa- demandas e contextualizações dos siste-
cional inclusivo, de salas de recursos mul- mas de ensino.
tifuncionais, classes, escolas ou serviços
especializados, públicos ou conveniados.
Meta 5 Meta 17
Alfabetizar todas as crianças, no máximo, Valorizar os(as) profissionais do magisté-
até o final do 3º (terceiro) ano do Ensino rio das redes públicas de Educação Bási-
Fundamental. ca, de forma a equiparar seu rendimento
médio ao dos(as) demais profissionais
com escolaridade equivalente, até o final
do sexto ano de vigência deste PNE.
capítulo 5 • 151
META META
Meta 6 Meta 18
Oferecer educação em tempo integral Assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a
em, no mínimo, 50% (cinquenta por cen- existência de planos de carreira para
to) das escolas públicas, de forma a aten- os(as) profissionais da Educação Básica
der, pelo menos, 25% (vinte e cinco por e Superior pública de todos os sistemas
cento) dos(as) alunos(as) da Educação de ensino e, para o plano de carreira
Básica. dos(as) profissionais da Educação Bási-
ca pública, tomar como referência o piso
salarial nacional profissional, definido em
lei federal, nos termos do inciso VIII do art.
206 da Constituição Federal.
Meta 7 Meta 19
Fomentar a qualidade da Educação Bá- Assegurar condições, no prazo de
sica em todas as etapas e modalida- 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão
des, com melhoria do fluxo escolar e da democrática da educação, associada a
aprendizagem, de modo a atingir as se- critérios técnicos de mérito e desempe-
guintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nho e à consulta pública à comunidade
nos anos iniciais do Ensino Fundamental; escolar, no âmbito das escolas públicas,
5,5 nos anos finais do Ensino Fundamen- prevendo recursos e apoio técnico da
tal; 5,2 no Ensino Médio União para tanto.
Meta 8 Meta 20
Elevar a escolaridade média da popula- Ampliar o investimento público em edu-
ção de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) cação pública de forma a atingir, no mí-
anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 nimo, o patamar de 7% (sete por cento)
(doze) anos de estudo no último ano de do Produto Interno Bruto (PIB) do País no
vigência deste plano, para as populações 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e,
do campo, da região de menor escolari- no mínimo, o equivalente a 10% (dez por
dade no país e dos 25% (vinte e cinco cento) do PIB ao final do decênio.
por cento) mais pobres, e igualar a esco-
laridade média entre negros e não negros
declarados à Fundação Instituto Brasilei-
ro de Geografia e Estatística – IBGE.
capítulo 5 • 152
Algumas ideias a título de conclusão deste capítulo
capítulo 5 • 153
É este, também, o convite e o desafio que deixamos a você, ao encerrarmos este
trabalho: que nossos estudos tenham servido para lhe abrir novas portas e janelas
por meio das quais você enxergue e caminhe rumo a um futuro feliz e realizado!
Boa caminhada!
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