Introdução
O conseqüente aumento de aeronaves, ciclos e vôos em escala mundial faz com que
proporcionalmente ocorra o mesmo efeito crescente nas atividades de manutenção desses
aviões (da tarefa mais simples até alterando configurações), seja internamente nas companhias
aéreas, seja em empresas independentes. Nos dois casos é necessário seguir uma série de
regulamentações e procedimentos, das agencias aeronáuticas e dos fabricantes das aeronaves,
respectivamente.
Esses regulamentos e procedimentos fazem com que as empresas cumpram uma série
de requisitos para exercer a função de manutenção das aeronaves próprias ou de clientes. De
acordo com a “Standardization Directive” 15, da USAF (1995), “requisito é qualquer
condição, característica, ou capacidade que deve ser alcançada, e que seja essencial para que
determinado item desempenhe sua missão, no ambiente no qual ele será empregado”.
Da Costa (2007), no Brasil, o Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica -
RBHA 145 - é o documento que estabelece requisitos necessários à emissão de Certificados
de Homologação de Empresas de Manutenção (CHE) de aeronaves, células, motores, hélices,
rotores, equipamentos e partes dos referidos conjuntos.
Estabelecem ainda regras gerais de funcionamento para os detentores de tais
certificados, definindo padrões, classes, tipos de serviço e limitações para a emissão de cada
CHE. Fora do contexto nacional as empresas do setor aeronáutico utilizam, nos EUA, o FAR
145 e, na Europa, o JAR 145. As prescrições estabelecidas pelo RBHA 145 revelam a
importância do gerenciamento das organizações de manutenção.
No entanto, aparentemente no Brasil não se atribui importância ao desenvolvimento de
uma cultura organizacional voltada para a segurança. Este tipo de abordagem organizacional
tem mais chance de afetar de modo substancial os fatores humanos, aumentando assim a
segurança. Contudo, o que se observa nos dias de hoje nas organizações ligadas à aviação é
uma cultura de contenção de despesas e gastos com o intuito de aumentar ou recuperar de
suas margens de lucro (Fedel et al, 2006).
A Manutenção é subdividida em etapas, como manutenção preventiva, modificações,
reparos ou inspeções. As empresas do ramo são classificadas em padrões e classes. Seus
certificados de homologação são limitados ainda à manutenção, modificações e reparos em
um (ou mais de um) particular modelo de aeronave, motor, hélice, rotor, equipamento,
acessório ou instrumento de um particular fabricante, ou de um (ou mais de um) particular
tipo de serviço especializado de manutenção.
Para que isto seja determinado, a empresa deve possuir dados suficientes sobre cada
modelo referente ao equipamento no qual pretende efetuar a manutenção. Para que a
manutenção ocorra com segurança, deve prover também locais adequados, de modo que o
trabalho sendo executado seja protegido dos elementos atmosféricos, poeira e calor e os
executantes estejam protegidos de condições físicas e ambientais.
Como é possível observar, o documento oficial para certificação de empresa de
manutenção aeronáutica procura classificar a empresa candidata ao certificado e estabelece
regras gerais de funcionamento, porém não cita a necessidade de um sistema de gestão que
atenda às especificidades do setor (Machado et al, 2009).
Segundo Moroni & Hansen (2003), a busca por um sistema de manutenção que busque
maximizar a eficiência operacional das empresas aéreas tem sido a tônica de diversas
empresas prestadoras de serviços de manutenção. Empresas deste setor, identificadas como
MROs (Maintenance Repair and Overhaul designa empresas prestadoras de serviços de
manutenção aeronáutica), em geral tem sua origem em fabricantes de aeronaves e
componentes através de serviços de pós-venda, empresas criadas especificamente para esta
atividade ou empresas aéreas que passaram a utilizar seus parques de manutenção para
prestação deste tipo de serviço à outras empresas aéreas.
2. Empresas MRO
3. Manutenção Aeronáutica
4. Serviços de Manutenção
Basicamente, uma MRO possui processos definidos segundo os tipos de serviços que
ela está capacitada a executar. Estes serviços podem ser de hangar, oficinas (componentes
isolados), pista (atendimento em aeroportos) ou de engenharia e modificações (HESSBURG,
2001).
Os serviços prestados por uma MRO estão relacionados com os processos que ela está
capacitada a executar. Cada rotina de manutenção deve ser devidamente homologada e
possuir as devidas certificações junto às autoridades aeronáuticas para que possa ser
executada. (Moroni & Hansen, 2003).
Estes serviços são prestados por diversas empresas no mercado mundial, através de
fabricantes por serviços de pós-venda, MROs independentes, ou empresas aéreas através de
seus parques de manutenção, segundo Flint (2002). Os tópicos a seguir descrevem alguns
serviços que podem ser executados por uma MRO.
4.1. Manutenção de Célula (Casco)
Este tipo de serviço é normalmente realizado em hangares e compreende manutenção
estrutural, em áreas de fuselagem, superfícies de comando, compartimentos e áreas afins.
Normalmente este tipo de serviço está associado à revisão de componentes e sistemas, e
obedecem um plano de manutenção definido pelo fabricante da aeronave. Uma vez removidos
da aeronave, estes devem ser encaminhados às oficinas para que possam ser verificados e
reparados se necessário.
5. Gerenciamento da Manutenção
O modelo definido pela Eurespace (2003) destaca os fatores técnicos de gestão como
pilares essenciais dos marcos reguladores. Basicamente, as funções essenciais da gestão
devem ser observadas.
- Planejamento: Corresponde à atividade de antecipação, ou seja, permite que se possa
desenvolver uma estratégia para as atividades de manutenção. Cabe a quem realiza o
planejamento identificar quais as competências técnicas e recursos disponíveis.
- Preparação: A atividade de preparação pressupõe a elaboração de instruções escritas
para o desenvolvimento das atividades de manutenção. A responsabilidade pela elaboração
dessas instruções é da empresa de manutenção.
Várias funções estão associadas a essas instruções.
- Operação: Diz respeito à execução da manutenção, que deve ser executada conforme
os manuais dos fabricantes e também de acordo com as instruções específicas expedidas pela
empresa de manutenção. O detalhamento dessas atividades foi descrito na seção anterior.
- Controle: Refere-se ao processo de supervisão e acompanhamento das atividades de
manutenção, de forma a garantir a rastreabilidade do sistema. O resultado do processo de
manutenção pode ser observado pela expedição de um documento de aprovação de retorno ao
serviço, o qual garante os níveis de aeronavegabilidade requeridos para um determinado
equipamento.
- Rastreabilidade: Faz parte do processo de planejamento, execução e controle. As
instruções específicas estabelecidas pelas empresas para o processo de manutenção dão
suporte à rastreabilidade e dependem diretamente das atividades de acompanhamento e
controle. Seu propósito básico é permitir responder às seguintes questões:
Quem fez o quê? E, o que está sendo feito?
Figura 1: Modelo de processo de manutenção proposto pela Eurespace.
6. Planejamento de Materiais
Esse valor define o máximo range em custo para aquisição e manutenção dos materiais
em estoque referente a um check a ser realizado no período. No caso de aumento no número
de checks realizados dentro de um mesmo período, a quantidade de materiais aumentará
proporcionalmente.
A distribuição desse custo médio irá definir quanto proporcionalmente de acordo com
o valor de cada material planejado no check serão comprados e mantidos em estoque. Será
estabelecida a regra de acordo com a seguinte matriz, que relaciona o custo do material com o
período de ressuprimento:
8. Considerações Finais
Mesmo com a proposta de parametrização do sistema de informação do gerenciamento
do processo de planejamento de materiais, é importante o relacionamento das empresas MRO
e as companhias aéreas, promovendo um fluxo de informações constantes e antecipadas
quanto às tarefas necessárias e previsão de parada da aeronave.
Apesar das incertezas quanto à necessidade de materiais disponíveis no estoque, a
parametrização dos dados e principalmente, a manutenção da qualidade das informações
cadastrados no sistema, podem minimizar os riscos do cumprimento dos prazos estabelecidos
para o processo de manutenção. Outras variáveis, como por exemplo, as atividades não
previstas em determinada parada, aumentam as possibilidades de atrasos nas datas de término
contratadas.
Além disso, a análise do histórico das informações ocorridas em paradas já realizadas
contribui para o mais assertivo planejamento de materiais, tanto para o estoque, quanto ao
período de ressuprimento. Aplicações estatísticas facilitam na definição desses materiais,
devido à similaridade das atividades quanto aos tipos de manutenção, podendo alterar de
acordo com a necessidade.
Como proposta trabalhos futuros, a aplicação de um método de auxilio a decisão pode
facilitar na escolha de quais serão os materiais a comprar e ter em estoque de acordo com os
critérios estabelecidos. Um método bastante usado nesse processo de decisão é o AHP
(Analythic Hierarchy Process), desenvolvido por Saaty e disseminado na área acadêmica e
profissional. É importante salientar que há outros métodos disponíveis na literatura, que
poderão ser utilizados como comparativo dos dados resultantes.
Por fim, o assunto “planejamento de materiais” em atividades com demandas
esporádicas, seja na quantidade requerida, seja no intervalo a ser utilizado, seja no período de
ressuprimento, requer estudos aprofundados e continuados principalmente quanto a analise
dos critérios empregados na definição dos materiais disponíveis em estoque.
Referências