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Gazeta do Povo, Curitiba (PR), p. 2, 27 ago.

2002

A década de 1930

Adriano Nervo Codato

possível compreender o processo político a partir de dois pontos de vista distintos mas

É complementares. Ou se enfatizam a natureza e o sentido geral das transformações


estruturais que, ao longo do tempo, modificam “a economia”, “a política” e “a
sociedade” (ponto de vista macro-histórico); ou se enfatizam as pequenas evoluções da
conjuntura política que, através de um processo rico e complexo de conflitos e acomodações
entre os atores políticos e sociais (alianças políticas, disputas eleitorais, golpes, “revoluções”
etc.), promovem alterações importantes no perfil da elite política. Um momento privilegiado
para surpreender essas conversões são, sem dúvida, os momentos eleitorais. Ainda que a
crônica de cada eleição não revele muito, vistas em perspectiva histórica as votações têm se
tornado um indício significativo dos movimentos de conservação ou mudança na vida política
nacional. As eleições da República Velha (1889-1930) são, sem dúvida, exemplos eloqüentes do
primeiro movimento.
Nunca é demais insistir, o Paraná não foi uma exceção na cena política nacional. Depois
de oito anos seguidos à frente do executivo do Estado (1920-1924; e 1924-1928), o presidente
Caetano Munhoz da Rocha foi sucedido, nas eleições de 1928, por Afonso Alves de Camargo.
Afonso Camargo não era um nome novo na política paranaense. Havia sido vice-presidente do
Estado entre 1912 e 1916 (na presidência de Carlos Cavalcanti) e presidente entre 1916 e 1920,
tendo como vice o próprio Munhoz da Rocha (então nomeado secretário das pastas mais
importantes do governo). Essa alternância de apenas dois chefes políticos no governo local,
completado por um baixíssimo baixo grau de renovação parlamentar (um deputado poderia
permanecer por cinco ou seis legislaturas na Assembléia Legislativa), não evidenciava um
estrito domínio “familiar”, mas antes o reduzido espaço social em que se movia a elite política
da época. Era exatamente esse o padrão da política nacional. Se o regime oligárquico não
dispensava as consultas eleitorais periódicas, também não abria mão da vitória antecipada das
imbatíveis máquinas políticas estaduais — os Partidos Republicanos —, nem que para isso
tivesse de impor candidatos únicos ou fraudar as eleições. Era por essa via que se garantia,
aliás, o predomínio dos interesses do comércio exportador: do café em São Paulo, do açúcar
no Nordeste, da erva-mate no Paraná.
A incapacidade do sistema oligárquico em incorporar as novas camadas médias urbanas
à vida política e atender as exigências reformistas da burocracia militar, aliado à impossibilidade
de admitir a sobrevivência (política e econômica) dos estados mais fracos ou periféricos em
oposição ao governo federal, só foi superada pela Revolução de 1930.
Os “tenentes” (em associação com os setores dissidentes das oligarquias) assumiram a
direção do processo revolucionário. No Paraná, destituído o governo de Afonso Camargo, o
general Mario Tourinho, irmão do líder do movimento no estado (o major Plínio Tourinho),
foi indicado por Getulio Vargas Interventor Federal (1930-1931), sendo substituído pouco
tempo depois, em razão de uma série de conflitos, pelo Governador Interino João Perneta
(1931-1932), um político tradicional da República Velha. Esses dois “governos de transição”
foram, logo no início de 1932, sucedidos pelo governo do Interventor federal Manoel Ribas,
que não possuía ligações políticas nem com os “tenentes”, nem com a velha oligarquia

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Gazeta do Povo, Curitiba (PR), p. 2, 27 ago. 2002

paranaense. Homem de confiança de Vargas, a indicação de um “estrangeiro” à política local


antecipava a atitude mediadora que Getulio viria a adotar diante das complicadas situações
estaduais.
No ano seguinte, em 3 de maio de 1933, como resultado da Revolução
Constitucionalista de 1932 em São Paulo, foram realizadas eleições diretas para a Assembléia
Nacional Constituinte. O Paraná elegeu quatro representantes, três deles do Partido Social
Democrático, do Interventor Manoel Ribas, e Plinio Tourinho, pelo Partido Liberal.
Promulgada a nova Carta, em 14 de outubro de 1934 ocorreram eleições diretas para
deputados constituintes estaduais. Das 30 cadeiras em disputa, o Partido Social Democrático
(governista) ocupou a maioria: vinte; o Partido Social Nacionalista, liderado pelos
“revolucionários” de 1930, general Mario Tourinho e coronel Joaquim Pereira de Macedo,
ocupou cinco cadeiras; e a União Republicana, do oligarca Caetano Munhoz da Rocha,
herdeira do Partido Republicano Paranaense, ocupou as outras cinco cadeiras do legislativo
estadual. Estava dado o quadro em que se deveria mover a política paranaense e a política
nacional em toda a década de 1930: os militares de um lado, os oligarcas, de outro, e no meio
os situacionistas que se alinhavam com Getulio e/ou com o Interventor.
A Assembléia Constituinte estadual instalou-se em 7 de janeiro de 1935. Em 8 de janeiro
elegeu, indiretamente, Manoel Ribas governador com os 20 votos do PSD e não sem antes
frustrar um golpe parlamentar (além de Antonio Machado Lima e Flavio Guimarães,
senadores). Mas esse regime constitucional não durou muito. Em 10 de novembro de 1937 o
golpe do Estado Novo dissolveu a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, a Assembléias
Legislativas dos estados e as Câmaras Municipais, adiando as eleições para um futuro
indeterminado. Manoel Ribas, novamente transformado em Interventor, permaneceu no poder
até 1945. As eleições estaduais só voltariam em 1947.

Professor de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Editor da Revista de


Sociologia e Política (www.revistasociologiaepolitica.org.br), Coordenador do Núcleo de
Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da UFPR.

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