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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE LETRAS

FORMAÇÕES DISCURSIVAS E IDEOLÓGICAS NA MÚSICA DE CHICO BUARQUE NOS


TEMPOS DA DITADURA

Cálice: Silenciamento e efeitos de sentido

MARIA JOSÉ OLIVEIRA DOS SANTOS

Artigo Científico apresentado à Faculdade de Letras da


UFG como requisito de avaliação da disciplina Texto e
Discurso

Orientação: Profª Drª Eliane Márquez da Fonseca


Fernandes

Goiânia-2010/2
FORMAÇÕES DISCURSIVAS E IDEOLÓGICAS NA MÚSICA DE CHICO BUARQUE NOS
TEMPOS DA DITADURA
CÁLICE: SILENCIAMENTO E EFEITOS DE SENTIDO

Maria José Oliveira dos SANTOS


Universidade Federal de Goiás-GO
mjos_ueg@hotmail.com
Poderíamos definir língua como sendo a linguagem verbal utilizada por um grupo de indivíduos.
Mas, vai muito além disso. Para Saussure, “a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros
e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade. Possui
homogeneidade e, por isto, é objeto de estudo da linguística”. Diferente da fala, ato individual e sujeita a
fatores externos, muitos destes valores não são externos e, por isso, não são passíveis de análise. Saussure
separou dicotomias da língua: língua x fala; sincronia x diacronia; sintagma e paradigma; e significante x
significado. O fato é que a possibilidade humana de se comunicar, de interagir no mundo das ideias só é
possível com a aquisição desta ferramenta abstrata que é a língua.
A unidade formal superior da língua é o texto, que é formado por outros textos e significa por
meio da interpretação. Não existe texto puro, tudo o que se diz está ligado ao que já ouvimos ou lemos,
assim como na nossa fala existem vozes de outros , e isso acontece na maioria das vezes sem que
percebamos, é inconsciente. Os textos que escrevemos são frutos dos que já lemos, têm influência deles,
pois nossa ideologia é formada a partir das ideias que já vimos e vemos.
Para Bakthin, o enunciado manifesta-se no texto, é uma imediata realidade. O enunciado é da
ordem do sentido; o do texto, do domínio da manifestação. É no texto que vemos que a linguagem não é
transparente, precisa ser interpretada. E essa interpretação vai depender do conhecimento de quem a faz.
Esse teórico russo enxergava a linguagem como um constante processo de interação mediado
pelo diálogo- e não apenas um sistema autônomo. Para ele, conhecemos nossa língua materna e todos os
aspectos que a abrangem graças aos enunciados concretos que ouvimos. Sendo assim, o sujeito se vale do
conhecimento de enunciados que ele já ouviu anteriormente para formular suas falas e redigir seus textos.
Por isso, não há texto puro, exceto o do mítico Adão. Além disso, o falante dá forma ao seu enunciado
conforme o contexto social, histórico, cultural e ideológico. É o que ele chamou de dialogismo, ou seja, a
relação de um texto com outros textos.

“A relação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer
discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso
de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa. Apenas o Adão mítico que chegou
com a primeira palavra num mundo virgem, ainda não desacreditado, somente este Adão podia realmente evitar por
completo esta mútua orientação dialógica do discurso alheio para o objeto. Para o discurso humano, concreto e
histórico, isso não é possível: só em certa medida e convencionalmente é que pode dela se afastar.” Bakhtin
(1988:88), In Introdução ao Pensamento de Bakhtin- José Luiz Fiorin

O dialogismo faz uma divisão entre a língua vista de modo simples e a língua vista como unidade
linguística. Ou seja, é o modo de funcionamento real da linguagem e, portanto, é seu princípio constitutivo.
Para ele, em nenhum enunciado há somente uma voz, diferente das unidades da língua, que são repetíveis,
descontextualizadas e completas. Não há discurso que não esteja envolto em outros discursos; todo discurso
está voltado não somente para a realidade em si, mas também para outros discursos que o circundam; o
enunciador incorpora as vozes de outros enunciados. É o que Bakthin chamou de processo de interação entre
textos e ocorre na polifonia, isto é, as várias vozes presentes no texto.
Para Bakthin, a língua não é algo solto, sempre está ligada a algo anterior, todos os dizeres estão
interligados. Para ele a interação é a coisa mais importante, pois elaboramos nosso discurso através do que nos
vem de fora e, por isso, não vivemos ( ou pelo menos não deveríamos viver) num “eu” sozinho, mas sim num
“eu” coletivo. Quem ainda joga papel no chão, por exemplo, vive num “eu” sozinho, pois já foi feito um
acordo coletivo para que não façamos mais isso. Segundo esse teórico russo, toda palavra carrega ideologia,
tudo o que dizemos carrega valores, que são construídos socialmente, mesmo que não tenhamos consciência
disso quando falamos. Diferente de Karl Marx, Bakthin vê a ideologia como sendo além da político partidária.
Ele propôs, na época, o estudo da translinguísitca, o que hoje é a Análise do Discurso, que estuda não só o que
foi dito, mas como foi dito, de que maneira foi dito e para quem foi dito.
Esse dito é o enunciado, ou seja, tudo o que se fala. Podemos dizer que é um texto do discurso.É
o conjunto de ideias que dão sentido ao discurso. A oração gramatical não serve para nada, mas quando é usada
para a comunicação, torna-se um enunciado. É voltado para a relação com o interlocutor.
Pêcheux, fundador da Análise do Discurso, diz quem língua, história e relações sociais se
convergem, não existem separadamente. Para ele a linguagem é uma expressão histórica da realidade social e é
nela que se manifestam as relações de poder existentes na sociedade. Foram os estudos dele que ofereceram
uma base teórico-metodológica para a Análise do Discurso. Para Pêcheux, o discurso está entre a língua e a
ideologia. O sujeito pensa que produz o própria discurso, mas está enganado, ele é assujeitado, é um suporte
para a produção do discurso que faz. “Um sujeito determina os sujeitos como produtores de seus discursos”
(Pêcheux, 1997, p.311). Ele (o sujeito) se esquece disso, e pensa ser o produtor de seu discurso. É o que
Pêcheux chama de esquecimento número um. O esquecimento dois é quando o sujeito pensa controlar tudo o
que diz. Ele não controla, pois o que ele diz é fruto do que já ouviu, da ideologia que carrega, dos valores que
estão impregnados nesse sujeito.
Orlandi diz que para Pêcheux discurso são os efeitos de sentido entre locutores, um objeto sócio-
histórico em que a lingüística está pressuposto. Estudiosa de Foucault, ela diz que o discurso é “a palavra em
movimento e que com o estudo dele é que se observa o homem falando”. É a significação da língua, o modo de
usar a linguagem. Dessa forma, podemos dizer que é no discurso que observamos a relação entre língua e
ideologia. Quando uma pessoa fala, vemos, através do seu discurso, os valores que estão impregnados na
mesma. E o discurso é isso, incluindo também as palavras que não são ditas. Para Orlandi “todo discurso fica
incompleto, sem início absoluto nem ponto final definitivo”. Já dizia nosso Machado de Assis, em Dom
Casmurro, que “as palavras do silêncio são muito fortes”.
Quando ouvimos um discurso só o compreendemos por causa do conhecimento prévio que temos
sobre ele, por causa do que já ouvimos e que fica na nossa memória. É o que chamamos de memória
discursiva.
Ou seja, é o que chamamos memória discursiva: o saber discursivo que torna
possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré construído, o já dito que está na
base do dizível, sustentando cada tomada da palavra
(Orlandi, p. 31)

É pela memória discursiva que entendemos, por exemplo, quando alguém fala de ditadura no
Brasil. Se falarmos sobre esse assunto com uma criança, provavelmente ela não entenderá, pois não há
historicidade para ela, esse assunto não faz parte da sua memória discursiva. É por isso que os discursos não
estão prontos e sempre são possíveis de mudanças, pois nem todos têm a mesma historicidade. Dessa forma,
quando um sujeito houve um texto ele vai interpretar de acordo com sua ideologia, seus valores. Sempre há um
dizer que apareceu anteriormente. Para Pêcheux,(1975) “não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem
ideologia”. Caímos novamente no esquecimento: o sujeito se esquece de que não é o produtor único da sua
interpretação, ele interpreta de acordo com os valores que lhe são intrínsecos, e que são construídos
socialmente, não devemos nos esquecer disso. Cada sujeito constrói sua parte subjetiva na relação com o
outro, mas algumas normas são estabelecidas nele sem que o mesmo perceba. Apesar de pensar que não, o
sujeito é manipulado, inclusive para ter a ilusão de que seu discurso é produto do que ele pensa.
À projeção das formações ideológicas na linguagem chamamos, na Análise do Discurso, de
“formações ideológicas”. É toda ideologia que vai se formando na memória do sujeito, sem que ele tenha
consciência disso. Esse sujeito sabe exatamente o que pode e o que não pode ser dito nos mais diferentes
lugares. Por que, no período da Ditadura no Brasil, Chico Buarque não falou abertamente da repressão a que
eram submetidas as pessoas que lutavam contra esse regime militar? Ele não fez isso porque sabia o que podia
dizer nas suas canções, sabia as sanções que sofreria se dissesse tudo de forma muito clara; por isso o duplo
sentido.
A ideologia do sujeito materializa-se no discurso, mas se esse sujeito sabe o que pode e o que não
pode dizer nos determinados momentos ele monitora suas palavras. É o princípio da antecipação, ou seja, a
projeção da posição social no discurso. São as relações de força estabelecidas socialmente: “Os militares
podiam fazer com Chico Buarque o que quisessem porque no momento quem mandava aqui eram eles”. E o
músico, por ter conhecimento disso, saber o que podia ser dito na música, fez-a de forma ambígua, de forma
não muito clara, usou uma “máscara” na linguagem (Charadeau).
Abaixo segue a canção “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, composta em 1973, auge da
Ditadura Militar:
Pai! Afasta de mim este cálice
Pai! Afasta de mim este cálice
Pai! Afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue... (2x)
Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim este cálice


Pai! Afasta de mim este cálice
Pai! Afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim este cálice


Pai! Afasta de mim este cálice
Pai! Afasta de mim este cálice
De vinho tinto de sangue...
BREVE HISTÓRIA DA DITADURA NO BRASIL

Podemos definir a ditadura no Brasil como o período em que os militares estiveram no poder, gover-
naram o Brasil. Foi um tempo marcado pela opressão, supressão de direitos constitucionais, censura e
perseguição política. Começou em 1964 e estendeu-se até 1985, quando tivemos as a eleição do então
Deputado Tancredo Neves para presidente da República. Porém, este ficou doente antes de tomar posse, e
seu vice, José Sarney, assumiu a presidência.
O período da ditadura foi tão apavorante que muitos a chamam de “anos de chumbo”. Os militares
comandavam o país e faziam o que queriam, aprovando, inclusive, uma nova constituição, que confirmou
e institucionalizou o regime militar e suas formas de atuação. No governo do general Costa e Silva
aconteceu o AI5 (Ato Institucional 5), o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou
mandatos, acabou com as garantias dos habeas corpus e aumentou a repressão militar e policial.

(Tanques nas ruas: primeiro dia do Golpe


Militar de 1964)

Os estudantes e músicos tiveram um papel muito importante nessa época negra do Brasil. Eles
lutaram muito, fazendo passeatas, o que mostravam sua indignação, e organizando movimentos, tendo
feito até sequestro ao então embaixador do Estados Unidos, Charles Elbrick, exigindo a libertação de
presos políticos.

(Passeata
contra a ditadura militar no Brasil)

No ano de 1973, auge do AI5, Chico Buarque, em parceria com Gilberto Gil, lança a música
Cálice, tema do nosso trabalho, que foi proibida pela própria gravadora para a qual Chico trabalhava. Com
medo de represálias, a gravadora desligou os microfones do palco e impediu Chico e Gilberto Gil de
tocarem até mesmo a melodia da música, que tem um tom triste.
A letra dessa música fala da ditadura de forma metafórica. “Cálice” pode ser o Santo Gral, de
Cristo, ou “cale-se”, condenando a falta de liberdade que o AI5 estabelecia. Trata-se de palavras
homônimas que dão dois efeitos de sentido à música. Porém, sabemos qual é o efeito de sentido que o
Chico queria causar quando compôs “Cálice”.

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