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Os 4 temperamentos – como identificar, cuidar e equilibrar

Sanguíneo
Estourado, avoado, na dele, tristonho. Na maior parte do tempo, como seu filho se comporta? A antroposofia divide os
temperamentos (ou humores) humanos em 4 tipos. Conhecer esses tipos e entender qual a melhor maneira de lidar com cada
um, suas necessidades e expectativas, ajuda muito. Acho especialmente útil quando a gente tem crianças, que se expressam
pouco pelas palavras, mas muito pelas emoções. Se compreendermos que seu comportamento e seu tipo físico são uma
expressão do espírito, fica mais fácil lidar com eles e conduzí-los ao equilíbrio.
Coléricos, sanguíneos, fleumáticos e melancólicos são os tipos. O assunto já era conhecido desde a Grécia antiga, um legado
do médico Hipócrates, e Rudolf Steiner introduziu na pedagogia Waldorf, que pretende ser terapêutica ao mesmo tempo que
educa. Todos temos um pouquinho dos 4, mas há sempre um ou dois que aparecem mais. Nas crianças muito pequenas eles
não são muito definidos – vão se definindo à medida que se aproximam dos 7, 8 anos. E até então é muito comum que tendam
para o sanguíneo. Mesmo assim, muitas vezes os traços principais estão lá e se soubermos logo cedo é um presente: a infância
é o melhor momento para que sejam trabalhados e equilibrados. E também vale lembrar que ninguém é 100% uma coisa. Meu
filho que era o próprio sanguíneo adquiriu traços melancólicos mais fortes ao se aproximar dos 10 anos.
Para entender rapidinho, um dia o pediatra dele me explicou assim: imagine que há uma grande pedra no meio do caminho. Se
uma criança melancólica passar por lá vai pensar “ai, meu deus, uma pedra no meu caminho, que obstáculo, que azar”…e é
capaz que sente e chore. Se for um fleumático, para e fica horas olhando a pedra, pensando que, se ela não sair de lá, então ele
vai ter que desviar. Se for um colérico, chuta a pedra e continua pisando duro e, se for um sanguíneo, com seu andar que mal
toca o chão, nem vê a tal pedra e continua flanando pelo seu caminho. Para falar mais de cada um, vou usar uma descrição
física baseada no que tirei do livro A natureza anímica da criança, que acho a mais acertada de todas, mas no texto tem um
pouquinho de tudo o que já li e ouvi sobre o assunto. Como tem muito pra falar, vou começar com o sanguíneo e, ao longo das
próximas semanas, escrevo sobre cada um dos outros. Aí vai.
A criança sanguínea
Seu corpo e jeitinho
Cachos claros ou avermelhados, testa arredondada, olhos azuis (considera-se no texto o tipo físico germânico, por isso é bom
fazermos uma licença poética) e nariz arrebitado. Seu corpo é esbelto, flexível e proporcional, braços e pernas são ágeis e ele
gosta de andar na ponta dos pés. Salta e pula diversos degraus de uma vez só e, quando cai, chora um pouquinho mas logo
começa a rir, ainda com lágrimas nos olhos. Se perde, fica ofendido, mas logo volta a brincar. Enjoa fácil da brincadeira e
começa outra. Se interessa por muitas coisas, mas também se distrai facilmente com qualquer detalhe e logo abandona o que
estava fazendo. Ao comer, parece um passarinho. Prefere frutas e alimentos salgados e azedos. Adora um suco de limão puro e
um salzinho. É a melhor definição de “criança” que pode existir: alegre, distraído, saltitante, leve. Sua alma acompanha tudo o
que o corpo quer e por isso essa criança nunca se cansa. Talvez por essa disposição é querido por todos e muito popular na
escola pois está sempre inventando brincadeiras novas.
Tudo isso tem a ver com o processo de encarnação (que explico em um outro post, senão viraria um livro). Nesse caso, há um
predomínio do corpo astral, aquele que é portador de todo o prazer, dor, sofrimento, impulsos, paixões e sensações. É o corpo
que está ligado ao sistema nervoso e que a antroposofia vê como parte do ser humano. É um corpo que plantas e pedras não
têm, mas os animais sim. No adulto sanguíneo, essa mobilidade vêm da alma sempre vibrante, mas na criança ela se baseia
nos processos vitais que estão com toda a força: o modo como o ar entra nos pulmões ou os sucos digestivos passando pelo
sistema digestório, por exemplo. Inconscientemente, uma criança sanguínea acompanha tudo isso de um jeito mais intenso do
que os outros temperamentos. Se ela vê um brigadeiro, por exemplo, começa a salivar antes do que todo mundo. Até nisso há
uma rapidez e uma disposição enorme. Talvez por isso precisem de muitas horas de sono e às vezes de uma pausa depois do
almoço.
O que o desequilíbrio pode gerar
Uma criança hiper sanguínea corre o risco de ser volúvel, de não se fixar em nada, de se tornar um adulto leviano,
descompromissado e que não consegue levar a frente seus projetos. O tal cabeça de vento. Preste atenção se seu filho
sanguíneo ri e chora descontroladamente e seguidamente, se mal consegue olhar um livro com a mãe sem virar a página um
segundo depois, se não consegue se fixar ou demonstrar interesse por nada, se tem dificuldade para além do normal (na criança,
claro) para se concentrar em algo. E, mesmo que não faça nada disso, vai abaixo a maneira de cuidar desse temperamento para
ajudá-lo a se equilibrar. E a ideia é essa mesmo: equilibrar, nunca tentar mudar. Mesmo porque seria trabalho jogado fora.
Como cuidar dessa criança
As forças que fazem a personalidade sanguínea atuam na respiração, na circulação, nas pulsações do coração, no sistema
nervoso. Enfim, em tudo o que é móvel, tão móvel quanto essa criança. Por isso o ritmo é algo muito importante. Mas é um ritmo
rápido, como uma respiração mais ofegante. Obrigar uma criança sanguínea a concentrar-se por tempo demais é uma tortura.
Não dá pra tentar colocar nela o que ela não tem, é como esperar maçãs de uma bananeira. Ela não tem essa capacidade e
você só vai gerar sofrimento e stress. Sabendo o que ela tem e é, aí sim, saberemos com o que podemos contar.
Se você prestar muita atenção vai ver que tem alguma coisa pela qual o sanguíneo se interessa de verdade. Um objeto, uma
atividade que não passa batido, uma brincadeira. Mas tem que ser algo que justifique um interesse curto, coisas que não
merecem que se dedique muito tempo a elas. Pensando aqui com meus botões, acho que seria plantar uma plantinha, jogar um
pouco de bola ou pular corda por alguns minutos. Lição de casa, nunca!…rs. (Aliás, em casa eu divido em dois tempos quando
meu filho tem muitos deveres.) Quando você encontrar esse tesouro, esse “algo” que é interessante para ele, pode oferecer
esse objeto ou essa atividade como se fosse muito especial, mas sempre por um tempo curto. Depois tire da criança e ofereça
uma outra coisa para que mais tarde ela se interesse de novo pelo que estava fazendo e volte a querer aquele algo especial. Se
puder colocá-lo na aula de instrumentos de sopro, como uma flautinha, ótimo. Aliás, dar a ele várias e curtas tarefas é uma ótima
maneira de deixá-lo entretido. Ou seja, o melhor jeito de cuidar de um sanguíneo é deixá-lo ser…sanguíneo. Eba, até que enfim
uma coisa fácil! Mas, acima de tudo, e isso é o mais lindo na minha opinião, a criança sanguínea precisa amar verdadeiramente
alguém com quem se relaciona. E aqui vou colocar um trecho de uma palestra de Rudolf Steiner sobre esse temperamento.

“Tudo deve ser feito para que o amor desperte numa criança assim. Amor é a palavra mágica. (…) Por isso os pais e
educadores têm de considerar que não é inculcando pela força que se pode despertar na criança sanguínea um interesse
duradouro por coisas. Devemos cuidar para que esse interesse seja conquistado pelo caminho indireto da afeição por uma
personalidade. Devemos nos fazer amar por ela. Eis a tarefa que temos para com a criança sanguínea.”
Tá fácil, pensei, já que toda criança ama pai, mãe e professora. Mas acho que não pára por aí. O que ele quis dizer, em minha
humilde interpretação, é pra desenvolvermos em nós ao mesmo tempo em que educamos a criança, uma personalidade digna
do amor daquele ser, para além de sermos pais ou educadores. Aí é que está. Alguém que seja digno de admiração é um
presente para esse temperamento. Ela se ligará e se fixará nessa pessoa por lealdade natural. Broncas, explicações demais e
castigos são especialmente inúteis aqui.
Alimentação influencia
Por fim, as crianças – e pessoas – volúveis demais devem se ligar ao que é terreno, bem terreno, como as raízes (Steiner não
recomenda as batatas comuns, pelo contrário). Faça uma sopinha de beterraba, um purê de batata-doce, cenoura refogadinha e
tudo o que cresce sob a terra e dê para seu filho. E evite o açúcar, que vai deixá-lo ainda mais agitado e cabeça de vento,
principalmente antes da escola, antes da lição de casa e perto da hora de dormir. Quem sabe assim ele termina de arrumar o
quarto pelo menos uma vez na vida!
Na próxima semana vou falar sobre o colérico, aquele bem bravinho, que pisa firme e vai com tudo pra cima de quem o impede
de fazer o que quer!
Os Temperamentos II – A criança colérica
Conforme prometido, aqui vai o segundo temperamento: o colérico. Para descrevê-lo, começo de novo com um trecho do livro A
Natureza Anímica da Criança (uma das principais referências para esse e os outros textos sobre temperamentos, incluindo
o sanguíneo, publicado na semana passada).
Seu corpo e jeitinho

“Tânia está fora de si. Com os dois punhos, bate num menino (ela tem 10, ele tem 12). Seus cabelos desgrenhados se levantam como as penas
de uma ave de rapina. As proeminências em sua fronte bem redonda parecem se transformar em chifres. (…) Tânia pega do chão o
irmãozinho – causa inocente da luta e que o menino grande empurrara – e o arrasta atrás de si. Ela não chora, mas soluça em convulsões que
não consegue dominar e faz movimentos violentos para enxugar as lágrimas, que correm contra a sua vontade. Ao fazê-lo, caminha batendo
os pés, ainda mais fortamente do que costuma, pisando energicamente com os calcanhares. Uma das mãos ainda está cerrada em punho e a
outra segura firmemente o pulso do pequeno. (…) seu pescoço está encolhido entre os ombros, como se quisesse contrair e endurecer todo o
seu ser.”
E aí, alguma semelhança com seu pequeno tirano? rs…Pois é, essa é uma palavra que muitas vezes se aplica ao colérico, pois
ele quer fazer valer sua vontade acima de tudo. E para isso bate, morde, tiraniza os coleguinhas. Com o queixo avançado para
frente (que fica mais proeminente nos coléricos à medida que envelhecem), define o que quer e luta por isso com unhas e
dentes, literalmente. Se não quiser fazer algo que a professora manda, vai se negar até o fim com tanta determinação que pode
acabar vencendo pela firmeza de decisão e pelo cansaço alheio. Se for algo que não o empolga, esqueça.
O colérico gosta de acordar cedo e ir cuidar de suas plantinhas ou de suas coisas ou de ficar desenhando enquanto medita
sobre planos e os outros ainda dormem. Adora pontualidade, é concentrado, mas aprender não é algo fácil para essa criança.
Seus desenhos, que não costumam ser os mais geniais da classe, têm traços grossos e fortes assim como suas pegadas, que
quase abrem o chão de tão firmes. Seus olhos são brilhantes, com um olhar cheio de luz interna e muitas vezes são negros
como um carvãozinho. Tende a ter um rostinho vermelho e acessos de febre e doenças inflamatórias da infância, como a
escarlatina.
A criança colérica é cheia de vontade e presença e gosta de fazer tudo sozinha, sem ajuda de adultos. Isso acontece porque,
nela, o “eu” se colocou com uma força superior ao que faz em outros temperamentos. Essa força cria um corpo robusto e firme,
adequado para impor esse “eu” em qualquer situação. Por isso seus membros não são leves e ágeis como o do sanguíneo, que
falamos na semana passada. É uma criança atarracada e fortinha – o “eu” dominante impede o crescimento dos outros corpos
(astral, etérico e físico). Ela também tende a ser menor que a média, com o pescoço enfiado na cabeça e dá a impressão que
está sob pressão, prestes a explodir, o que realmente acontece muitas vezes, quando fica fora de si. Acessos de vontade ou de
ira são simplesmente mais fortes do que ela pode controlar. Por isso explode: ainda não aprendeu a lidar com tanta energia. No
dia seguinte pára, ouve o que os pais têm a dizer e se dispõe, verdadeiramente, a mudar. Até que de novo saia do controle. São
crianças entusiasmadas e se mobilizam por ideais. Napoleão é um exemplo de colérico famoso – e bem baixinho também.
Em um dos livros obre o assunto, li que é um temperamento cada vez mais raro. E não conheço mesmo muitas crianças
coléricas. Na classe do Antonio, meu filho, entre 21 crianças deve ter duas, no máximo. Desconfio que tenha a ver com a
incapacidade atual de as crianças encarnarem. Rudolf Steiner disse que haveria um tempo em que todas as crianças
necessitariam de ajuda para encarnar e acho que esse momento é agora. Cada vez mais você vê criança que precisa de
fonoaudiologia, reorganização neurológica, terapia, aula de judô e por aí vai como ajuda para receberem melhor o “eu” (algo que
falei bastante nesse post). O excesso de mídia, tecnologia e a falta de espaço para serem realmente crianças, correndo, pulando e
caindo, imagino, tem muito a ver com essa dificuldade de encarnar corretamente.
O lado difícil dos coléricos
Assim como o imperador francês, as crianças coléricas não tendem a mostrar arrependimento, ainda que saibam que agiram
mal. Mas, como diz o trecho do livro acima, buscam fazer justiça com as próprias mãos pois têm um amor à verdade. Ficam
irritadas e explodem se não chegam onde querem. Se esse querer, no entanto, é mais pra egoísta do que pra idealista, essas
personalidades podem agir sem consideração pelo outro e serem vaidosas demais. Uma pessoa hiper colérica na juventude
corre o perigo de ter um eu moldado irascível, que não consegue ser dominado e isso com certeza vai lhe causar problemas de
relacionamento. Pior, podem se tornar obcecadas por um único objetivo, seja qual for. Para os pais e cuidadores, costumam ser
crianças cansativas pois esperneiam, chutam, dão socos e são muito teimosas.
Como cuidar de uma criança colérica
Colocar o colérico para brincar ou se sentar ao lado de uma outra criança colérica na classe é perfeito. Os dois vão se empurrar
e medir forças e, assim, amenizar seu temperamento. Para ele, é terapêutico contar histórias de coragem e ousadia, de homens
que realizaram grandes feitos e dar tarefas difíceis e que exijam todas as suas forças. A criança colérica precisa enfrentar
dificuldades que desdobrem suas forças interiores. Assim, ela não usa essas mesmas forças para “fazer bobagem” por aí. É,
não dê moleza pra esse moleque! Torne a vida dele difícil dando atividades que ofereçam resistência: peça para bater o martelo
em um prego ou carregar pedras pesadas pra construir uma fortaleza. Leve-o para brincar em espaços abertos. É o que ele
precisa na vida pois é assim que vai aprender a usar a energia que traz dentro de si. Não é na base da força física ou dos
castigos que vamos dobrar esse pequeno Napoleão, mas mostrando a ele obstáculos mais poderosos do que ele pode transpor.
Carregar objetos, serrar um pedacinho de madeira, empurrar móveis com a mamãe, levar as compras. Isso fará com que ganhe
respeito, que se dê conta que não é o super-herói que pensa ser e assim corre menos riscos de virar um tirano de verdade
quando crescer. E não precisa de lição de moral. O importante é deixá-lo perceber tudo por si mesmo, como sempre devemos
fazer com as crianças.
Frequentar aulas de um instrumento musical em que possa fazer solos é um bom desague para sua vaidade e ambição naturais.
Em relação aos adultos, não vale o mesmo do que no sanguíneo, que irá acompanhar e ser leal a uma personalidade que lhe
desperte amor. O colérico, acima de todos os outros, precisa respeitar e venerar alguém que possa mais do que ele: alguém
mais forte e que saiba fazer coisas que ela ainda não consegue. Depois de seus ataques de raiva, de preferência no dia
seguinte, após uma boa noite de sono, vale a pena conversar com ele sobre o que aconteceu com toda a calma do mundo. No
fundo no fundo, ela vai ficar agradecido pela ajuda moral. Mais do que qualquer um, é necessária muita paciência pra lidar com
esse temperamento. E auto controle também. Diante de uma criança que chuta e arranha, nossa tendência é querer fazer o
mesmo, mas o que ela precisa é de alguém que não aja sob o calor das emoções e que possa mostrar a ela que um dia ela
também poderá dominar e usar bem o cavalo bravo que existe dentro de si. Ela precisa, mais do que ninguém, da autoridade
amorosa. Ela precisa, de certa forma, ser naturalmente barrada em seu caminho de passos firmes.
Alimentação mais adequada
Coléricos adoram frutas (se puder colhê-las, então, sobem na árvore com rapidez), detestam mingaus e preferem comidas secas
e duras, que ofereçam resistência ao morder. São capazes de usar os dentes para quebrar nozes e não gostam muito de
petiscar. Cuidado com alimentos muito calóricos e energéticos. Uma tigelinha de açaí pode dar força e energia demais pra essa
criança. Chocolate pode gerar um estrago e vai ser difícil controlá-lo depois. Prefira refeições com elementos mais leves e pouco
calóricos pois energia ele já tem de sobra.
Os Temperamentos III – O melancólico
Mais um post sobre os temperamentos. Hoje é o melancólico, que eu escrevo com muito conhecimento de causa…rs. Aqui em
casa tem eu e meu filho, que somos melancólicos AND sanguíneos (leia sobre esses aqui). Quem aguenta tanta mudança de
humor? Só não é pior porque ele não tem TPM. Mas, voltando ao assunto, a antroposofia divide os humores humanos em 4 e
vale lembrar que todos nós temos um pouquinho de cada, mas um sempre se manifesta com mais intensidade. E às vezes tem
um segundo que também aparece com força, como é o caso dessa que vos fala. Nas crianças, como eu já disse, é um pouco
diferente pois os temperamentos realmente se definem entre os 7 e 14 anos, mas em muitos casos já dá pra perceber logo cedo
as manifestações. Vem comigo e descubra se seu filho tem a ver com essa descrição abaixo, que eu tirei do livro A Natureza
Anímica da Criança:
Corpo e jeitinho

“Para o oitavo aniversário de Ivone, a mãe convidou seus companheiros de brinquedo da mesma idade. Porém Ivone
despareceu. Retirou-se para debaixo da toalha. (…) Foge para um canto, chora muito tempo introvertidamente, fitando com o
rosto sombrio, mas com o olhar cheio de ansiedade, a brincadeira das outras crianças. Finalmente, quando se decide a brincar
também, fica feliz, olha para todas as crianças, uma após a outra, com olhos brilhantes, pedindo simpatia, e fica profundamente
triste quando elas se vão. Principalmente uma das menininhas ela beija afetuosamente, declara-a interiormente sua
‘amiga’ atribuindo-lhe em silêncio as mais belas qualidades, principalmente aquelas que lhe faltam.
Ivone gosta de procurar recantos silenciosos para meditar. (…) Ela não é covarde, embora tenha medo de gente. Seus
empreendimentos têm algo de aventuroso e brotam de um rico mundo imaginativo, um tanto estranho. Ela pensa muito. Em
seus pensamentos, ela mesma representa um papel importante: uma princesa, uma pobre órfã, um herói, uma pessoa
injustamente perseguida. Não pode ouvir falar na Gata Borralheira sem se ligar de tal modo com a personagem e a situação que
julga passar, ela mesma, por suas aventuras. Seus olhos grandes e ligeiramente úmidos olham ora sombrios, ora
excessivamente alegres, sem que as causas sejam visíveis. Seus cabelos finos e lisos sobre a testa alta e pálida transformam-
se, em sua imaginação, em cachos dourados, e então ela ergue com orgulho sua cabecinha, que é um pouco inclinada, e as
costas finas, em geral um pouco curvas.””
Bom, já deu pra perceber que a vida do melancólico se passa, em boa parte, dentro de sua mente. Gosta de brincar sozinho e
vive escondido em algum cantinho, lendo um contos de fada triste ou com uma boneca na mão. A criança melancólica sente o
peso do mundo e da realidade e facilmente se entristece ou fica mal-humorada. Por isso até seu corpinho é envergado para
frente e, quando caminha, olha pra baixo, enquanto mantém o andar firme, pausado, para carregar o peso do corpinho. Esse
temperamento aparece quando o que predomina no homem é o corpo físico, o mais denso que temos. Assim, ele impede que se
veja o mundo com leveza. Tudo é motivo para preocupação e viver é sofrido. No melancólico, corpo físico se opõe à comodidade
do corpo etérico, à mobilidade do corpo astral e à firmeza do eu.
Sensível ao extremo, a criança melancólica tem consciência demais para um ser tão pequeno e guarda para sempre os castigos
ou tapas que levou. Mais do que guardar, ela os relembra sem parar, sentindo-se uma vítima envergonhada. Em alguns
momentos, isso faz com que ela se pareça um adulto miniatura, cheia de perguntas cabeludas e reflexões. Sua melancolia a faz
sentir-se culpada das travessuras e danadices, como se fossem grandes pecados. A beleza da criança melancólica no entanto é
que, quando alguém conquista de verdade seu afeto, ela sai da concha e abre-se totalmente. Precisa confiar para entregar amor,
ainda que seja para tias ou até para a mãe. E, apesar de curtir sua melancolia, é muito grata a quem a faz rir. Mas para chegar
nessa risada solta é preciso enganá-la um pouquinho pois, se perceber que você quer fazê-la rir deliberadamente, é bem
possível que segure a gargalhada.
Como cuidar
Se o colérico é difícil pela teimosia, o melancólico é duro de educar pelo excesso de sensibilidade e pela necessidade extrema
de compreensão. Não quero dizer mimar. Pelo contrário. O melhor é que ele nem perceba toda essa atenção pois é “egoísta e
quer sentir-se no centro”. O que a criança melancólica precisa sentir é que o ambiente em que vive é caloroso, um lugar onde
pode se soltar, sentir e não ficar guardando tudo o que traz no peito. Pesado? É assim o mundo para esse temperamento. Ufa!
Bacana também é encarar suas pequenas loucuras e esquisitices como algo normal e não ser exigente demais, deixando a
criança se abrir e saber que pode confiar. Dê ao melancólico um ombro amigo e você vai ganhar esse coraçãozinho endurecido,
mesmo que só tenha 10 anos.
Seja qual for o temperamento do seu filho, o melhor é nunca tentar corrigí-lo, mas evitar que se desequilibre ao extremo. Um
adulto excessivamente melancólico tenderia à depressão, no mínimo, e até à loucura, que seria seu maior perigo, diz Rudolf
Steiner no texto O Mistério dos Temperamentos. Assim, se soubermos como tirar esse melancólico de sua concha e ajudá-lo a
suportar o peso do mundo, teremos uma criança mais saudável e um adulto mais equilibrado. E a melhor coisa para tirá-lo dessa
concha pesada por alguns momentos é alguém que possa ser companheiro em sua dor.Uma pessoa vivida, que já passou por
muitas coisas e provas duras vai ser uma ótima companheira para esse tipo de criança. Quando eu conto ao meu filho alguma
tristeza que sofri na infância, um cachorrinho que morreu atropelado, sinto que ele se ilumina pois percebe que não é o único a
sofrer e assim pode se abrir, relaxar. De alma pra alma, diz Steiner. É disso que seu pequeno melancólico precisa. Vale também
contar, para crianças maiores de 9 anos, biografias de pessoas que tiveram uma vida difícil e até trágica (nunca de horrores,
mas de um certo sofrimento). Para os menores, um conto de fada cheio de revezes e dificuldades sentimentais ajuda muito.
Assim como o colérico precisa de obstáculos para equilibrar sua força, o melancólico precisa de tristezas para equilibrar
sua…tristeza. O melhor é que esse sofrimento interno se desvie para uma dificuldade que está do lado de fora. Ajudar alguém,
curar um passarinho que caiu do ninho, cuidar do cachorro que quebrou a pata, recolher agasalhos pra quem não tem e entregá-
los em um dia frio, cuidar do irmãozinho doente ou ajudar a mamãe que está com dor de cabeça e não consegue terminar de
arrumar a casa. Enfim, olhar para o sofrimento do mundo e contribuir para diminuir esse sofrimento faz bem ao melancólico pois
ele pode dar um rumo ao que traz dentro dele. E, se ele roer as unhas ou chupar a ponta dos cabelos, saiba que isso é uma
manifestação do seu temperamento: é importante não dar broncas a ponto de fazer com que ele sinta mais vergonha do que já
tem, naturalmente.
Faz bem para essa criança expressar todo o seu sentimento em um instrumento como o piano ou o violino. Ter aulas de música,
principalmente entre 8 e 11 anos, é uma boa maneira de equilibrar essa tristezinha que carrega. Ela precisa muito mais disso do
que praticar esportes.
Alimentação e cuidados físicos
O corpo da criança melancólica pede mais cuidados do que o de outras crianças. Ela precisa de calor – não apenas espiritual –
sem exageros. Um banho quente antes de dormir, um escalda-pés à noitinha, uma bolsa de água quente na panturrilha ao ir pra
cama a ajudam a dormir melhor (já que ela costuma demorar pra pegar no sono pois fica imersa em pensamentos). Banho de
mangueira só em dias de muito calor.
Para que seu corpo não sofra ainda mais, o melhor é oferecer pratos bem variados, mas nunca pesados (como para todas as
crianças). Raízes não fazem muito bem a ela: o melancólico precisa da força do Sol para viver melhor, por isso frutas maduras e
que cresçam bem longe do chão são o melhor alimento. Além disso, saladas, verduras e carne branca em pequena quantidade
(essa última só depois dos 3 anos, de preferência). De todos os temperamentos, é o que mais gosta de um docinho – e até
precisa disso pois açúcar estimula. Mas um pepino em conserva vai bem pois o gosto ácido também atrai. Como essa criança
tende a ter dores no estômago, prisão de ventre e problemas no intestino, é bom fazer uma dieta com muitas fibras.
Os Temperamentos IV – O Fleumático
E chegamos, finalmente, ao fleumático, o quarto e último post sobre os temperamentos. Para quem não leu os anteriores
(sanguíneo, melancólico e colérico), eles são definidos, segundo a antroposofia, de acordo com que corpo que prevalece em cada
pessoa. Nesse caso, é o corpo etérico, o responsável pela nossa vitalidade, pelos processos de crescimento e que se expressa
pelo sistema glandular. Mais uma vez, vamos lembrar que é entre 7 e 14 anos que se intensifica e se define o temperamento de
alguém, mas muitas vezes ele vai se mostrando mais claramente à medida que a criança se aproxima do final do primeiro
setênio. E tem gente em que dá pra ver logo no jardim de infância.
Seu jeito e corpinho
O chamado bem-estar ou mal-estar tem tudo a ver com o corpo etérico, ele está ligado a nossa vida interior e mantém cada
função de nosso organismo em equilíbrio. Por isso, quando o corpo etérico predomina, quando o organismo está em ordem, o
indivíduo vive um bem-estar interior e não quer sair de dentro de si. É uma pessoa ensimesmada, sabe? É como se fosse tão
bom ficar lá dentro que a vontade de fazer algo do lado de fora é menor do que em outros.
Vamos, como sempre, à descrição de Caroline von Heidebrand no livro A Natureza Anímica da Criança:

“Joãozinho está encarrapachado em sua carteira e olha apaticamente para a frente. Não obstante, não é de todo inativo,
embora se desinteresse por completo das explicações do professor sobre os mistérios da tabuada. Está sonhando com o
sanduíche que sua mãe, como ele não deixou de observar, cobriu com uma boa camada de manteiga e queijo, e com a bela
maçã vermelha que ela lhe pôs na lancheira. João fixa durante um instante o professor com seu olhar sonolento e vê que este
lhe vira as costas para escrever algo na louza. Então abre com seus dedos gordos o papel do sanduíche.
(…)Em casa, João leva uma vida pacata. Sua educação não teve problema algum. Horas a fio, ficava tranquilo no carrinho,
segurando na boca a chupeta (imprescindível para a paz de sua alma) e abandonado ao seu torpor, quando não acompanhava
com o olhar os movimentos lentos de suas mãozinhas gordas, que durante muito tempo eram seu único ‘brinquedo’. Só a visão
da comida conseguia tirá-lo da apatia. (…) Não adoece frequentemente e, para alegria sua de sua mamãe, ele digere os
sanduíches mais pesados, as omeletes mais gordurosas, o pudim mais denso. Aprendeu a andar bastante tarde.”
É, o fleumático é mais lento que a média. Sua fantasia não é das mais fortes, demora para andar, tem preguiça de engatinhar e
prefere ficar na mamadeira até mais tarde do que as outras crianças. O que for mais fácil! Ele levou um bom tempo para
aprender a falar e, até hoje, pronuncia as palavras devagar. E de vez em quando senta-se ao sol (ele ama calor, inclusive calor
humano) com as perninhas dobradas, curtindo o calor e cantarolando – ele tem sua própria musicalidade.
Uma das melhores coisas desse temperamento, pelo menos pra mim, é seu senso de ordem. Ele é aquele coleguinha do seu
filho (ou o seu próprio, com sorte), que arruma a roupinha na cadeira antes de dormir e gosta que todos os seus brinquedos
estejam no lugar. Se vai dormir na casa de alguém e não encontra seu travesseirinho, pode dar um piti daqueles. Nessa hora,
ele vira um perfeito colérico. Tudo porque saiu do seu ritmo e da sua ordem, tão necessários para seu bem-estar. Suas refeições
têm que ser servidas todos os dias na mesma hora (e ele nem precisa do relógio para isso). Dorme fácil e profundamente e sabe
a hora de ir pra cama. Por isso mesmo, nele você pode confiar. Ele sabe a hora de dar comida ao cachorro e, uma vez que
assimilou um hábito, vai repetí-lo pontualmente. Decora facilmente histórias e cantigas e canta direitinho, sem errar. Mas bem
devagarzinho.
O fleumático é, normalmente, mais gordinho, mais cheio, mais inchadinho. Segundo Steiner, é nessa “abundância” que as forças
formativas, aquelas que nos mantêm vivos, atuam. É como se a troca entre dentro e fora estivesse em déficit (pra fora, claro).
Seu andar é arrastado, desleixado, seu rosto tem pouca expressão, o olhar um pouco apagado. Talvez por isso não tem muitos
amigos. É possível que as crianças, principalmente as sanguíneas, tenham pouca paciência para sua fleuma.
Paciência, aliás, é uma qualidade importante para lidar com esse pequeno. Não o mesmo tipo de paciência que se precisa ter
com um colérico, mas aquela tranquilidade de quem sabe esperar. Um bom professor para o fleumático precisa saber esperar
seu tempo, que é diferente dos outros. Mas, calma, ele chega lá. Ele gosta de praticar e, se tiver espaço para isso, não será mau
aluno. As funções vegetativas em seu corpo funcionam perfeitamente e por conta disso tem uma boa memória e dons musicais e
de pintura. Talvez seja um pouco mais difícil quando chegar ao ensino médio, em que se exija respostas mais intelectuais e o
raciocínio tem que ser mais rápido. Se muito entregue ao seu temperamento, o fleumático vai ser aquele cara meio bobão. Mas
os pais e professores podem fazer muita coisa para que se evite esse desequilíbrio. E não é difícil.
Como cuidar dele
O temperamento fleumático pode enfrentar preconceitos e alguns pais não gostam quando seus filhos são definidos como tal.
Bobagem. Sua lentidão não é necessariamente um problema. O melancólico, que muitas vezes é um prodígio na escola, pode
ser egoísta, depressivo e inibido. Tão ruim, portanto, quanto a inércia e a gula do fleumático. Nada de preconceitos com esse
comilão e meio preguiçoso! É só o jeitinho dele…rs.
Se o fleumático for compreendido e “bem-educado” em casa e na escola, será paciente, persistente, ordeiro e fiel. E, pela
própria falta de ânimo, vai passar numa boa pelas tempestades da vida. Para essa boa educação, o ideal é não deixá-lo se
entregar totalmente a esse bem-estar interno. Não o deixar dormir demasiadamente, dar uma duchinha fria ao final do banho
morno e evitar que ele passe horas comendo à mesa. Seu café da manhã, antes da escola, deve ser leve. Caso contrário, ele
vai se “concentrar” na sua deliciosa digestão em vez de prestar atenção nas aulas. Em vez das comidas pesadas que ele adora,
dê frutas, verduras e saladas. Alimentos integrais em vez de farinha branca também farão bem. É uma boa fazer de tudo para
evitar que essa criança acumule a gordura que seu temperamento tanto deseja. “Mantendo-a relativamente magra já teremos
feito muito para o seu desenvolvimento espiritual e psíquico”, diz Caroline no livro.
Brincar sozinha o tempo todo, algo que uma criança fleumática faz de boa vontade, não é o melhor e vale a pena interferir para
acelerá-la com jogos animados que despertem sua vida psíquica. Ela precisa da companhia de outras crianças mais do que
qualquer outro temperamento. Como nada desperta seu interesse, ela vai acabar sendo educada pelos interesses dos outros.
Logo, quanto mais crianças, melhor. Amizade e relacionamento com o maior número de pessoas vai fazer muito bem para seu
pequeno bicho preguiça. Se ele cochilar durante a lição de casa ou no sofá depois do almoço, é bom acordá-lo com um barulho
forte ou uma batida na mesa (algo que nunca se deve fazer com o melancólico) pois isso o fará voltar a si. Mas, também, como
em todos os outros temperamentos, é essencial encontrar algumas situações em que sua fleuma se justifique, em que ele possa
ser ele mesmo sem objecões e que isso faça sentido. Ver a chuva cair (e ficar pensando que ela vai molhar em algum momento),
é um alívio e dá pra ser fleumático nessa hora sem problemas. Olhar as ondas do mar ir e vir, passar o pincel em uma tela
lentamente é coisa pra fleumático. Alguém tem que fazer, que seja ele.
Carinhos ininterruptos e afeto gratuito não são o melhor para essa criança. Ela precisa de um estímulo para “sair de si” e vencer
sua inércia. Suas emoções são mais ou menos como uma lesminha que precisa de impulso para sair do caramujo e, com algum
esforço, ganhar corpo e musculatura. Quando ela sentir esse impulso e aprender a amar, o que só ocorre houver a necessidade
de ir até alguém, por isso não devemos lhe dar carinho indiscriminadamente, mas fingir uma certa distância às vezes, será o
amor mais equilibrado e fiel que existe. Não é atirado e maluco como o sanguíneo, nem exagerado como o melancólico e muito
menos agressivo como o colérico. É aquele amor tranquilo da música do Cazuza, imagino.
Essa criança costuma ter uma veia artística logo cedo, mas que pode ir embora facilmente quando chega a consciência, lá pelos
8 ou 9 anos. Quando isso começar a acontecer, não deixe mais com que ela faça apenas rabiscos coloridos ou manchas de tinta
no papel. Para desenvolver seus talentos, vai precisar produzir conscientemente e ser conduzido, até um pouco exigido, assim
que encontrar algo que realmente lhe desperte o interesse. O fleumático, mais do que qualquer outro temperamento, precisa de
mais um tanto exigentes ou que o guiem quando chega a uma certa idade. Pacientes, mas que exijam uma certa dedicação e
não o deixem viver metade da vida dormindo.
Alimentação
Já falamos que esse temperamento é o melhor garfo de todos e tem uma grande tendência a engordar. Faz parte do
funcionamento de seu organismo. Mas não é por isso que ele pode comer pizza no café da manhã, pelo contrário. A cada vez
que ele fizer a digestão, vai ficar mais sonolento do que todos e não se concentra em mais nada. Alimentos leves, sem sair do
ritmo e de preferência que venham de plantas que não levem muito tempo para crescer, vão fazer bem ao fleumático.

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