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AA SEGURIDADE SOCIAL

BRASILEIRA: caminhos
percorridos e a desbravar

AUTORA:

Deriscléia Rodrigues Ramos


Mestranda em Serviço Social/UFRN
E-mail: derisrr@bol.com.br

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INTERFACE
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INTERFACE

INTERFACE - Natal/RN - v.1 - n.1 - jan/jun 2004


RESUMO

Analisa os aspectos da Seguridade Social enquanto política social, na


sociedade capitalista, destacando as características principais em sua
trajetória no Brasil. Descreve de forma sucinta a seguridade social
brasileira desde seu surgimento até o período da ditadura militar, com
o objetivo de trazer alguns elementos necessários à compreensão do
contexto da seguridade social na atualidade. Aprofunda a análise após
a década de 80, sob a égide do neoliberalismo, considerando ainda os
obstáculos postos pelo modo de produção capitalista atual, inserido e
influenciado pela globalização. Por último, destaca os avanços e
retrocessos das políticas sociais, especificamente da seguridade social
nas décadas citadas anteriormente, objetivando visualizar as
perspectivas delineadas às políticas de Seguridade Social na década
de 90 em virtude do amparo constitucional de 1988.

PAL AVRAS-CHAVE: 27
Seguridade Social. Trabalho. Neoliberalismo. INTERFACE

A SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA: CAMINHOS PERCORRIDOS E A DESBRAVAR


Deriscléia Rodrigues Ramos
A maioria das produções brasileiras remete a discussão acerca da
Seguridade Social, enquanto política social, apenas à previdência social,
desconsiderando as políticas de saúde e assistência social como partes
integrantes e relacionadas. Buscamos aqui, em contraposição, tratarmos
a temática em sua totalidade, relacionando-a com a categoria trabalho
por permear as discussões acerca das políticas sociais. Após a
Constituição Federal de 1988, estas três políticas passam a constituir o
tripé da seguridade social, representando o divisor de águas para as
políticas sociais brasileiras. Porém, apesar deste avanço, é nesse período
que se tem a ampliação da inf luência neoliberal através da
implementação de medidas econômicas que limitaram a
implementação das políticas sociais nas últimas décadas no Brasil.
Este artigo pretende analisar os aspectos da Seguridade Social
enquanto política social, na sociedade capitalista, destacando as
características principais em sua trajetória no Brasil. Descreve de forma
sucinta a seguridade social brasileira desde seu surgimento até o período
da ditadura militar, com o objetivo de trazer alguns elementos necessários
à compreensão do contexto da seguridade social na atualidade. Aprofunda
a análise após a década de 80, sob a égide do neoliberalismo, considerando
ainda os obstáculos postos pelo modo de produção capitalista atual,
inserido e influenciado pela globalização. Por último, destaca os avanços
e retrocessos das políticas sociais, especificamente da seguridade social
nas décadas citadas anteriormente, para visualizar as perspectivas
delineadas na atualidade às políticas de seguridade social face às mudanças
acarretadas em decorrência do neoliberalismo.

A TRAJETÓRIA DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL ATÉ A


DÉCADA DE 70

A seguridade social constitui uma política pública de proteção


social situada em um contexto de crise da sociedade capitalista. Para
discutirmos a seguridade social torna-se necessário, a princípio,
28 definir e contextualizar as políticas sociais, para posteriormente
INTERFACE identificarmos os determinantes da correlação de forças existentes
no âmbito da temática.
As políticas sociais, em um enfoque atual, são parte do processo
estatal de alocação e distribuição de recursos extraídos dos diversos
segmentos sociais em proporção distinta através da tributação. O
destino de tais recursos constitui-se em dilema político e econômico,
onde ocorre a divisão entre os objetivos de acumulação e expansão,
de um lado, e as necessidades básicas de existência do cidadão e a
busca da equidade de outro (ABRANCHES, 1994). Dessa forma, a
seguridade social pode ser definida como sendo política social.
Desde 1920, no Brasil, podem ser identificadas medidas com
características de seguridade social. Em 1923, A Lei Eloy Chaves criou

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as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPS), que eram organizadas
por empresas e financiadas pelos empregados, empregadores e, por
vezes, pela União. Todavia, é a partir de 1988, com a Constituição
Federal (CF), que a Seguridade Social, como citado anteriormente,
constitui-se pelo tripé das políticas sociais de saúde, assistência social
e previdência Social, tendo por base a garantia dos direitos
fundamentais aos indivíduos.
Este conceito de Seguridade Social tem como parâmetro o Modelo
clássico de William Henry Beveridge que, em 1942, estabeleceu o divisor
entre seguro e os avanços sociais, determinando a universalização dos
direitos sociais destinados a todos os cidadãos, incondicionalmente ou
submetidos a condicionantes, mas garantindo o mínimo a todos
(BOSHETTI, 2003). Entretanto, o esquema de Seguridade Social vigente
no Brasil ainda é considerado ‘restrito e acanhado’, se comparado com
o esquema beveridgeano. Enquanto o esquema beveridgeano incluiu,
ao lado de um programa unificado e amplo de Seguro Social, a saúde, a
assistência, a reabilitação, a pensão às crianças, o treinamento
profissional e a sustentação ao emprego, o esquema brasileiro restringe-
se à saúde, à previdência e à assistência Social. (PEREIRA, 1998).
Em contraposição ao esquema de Beveridge e situado na noção de
contrato está a ótica bismarquiana1 . Essa ótica de Seguridade Social
garante a cobertura de direitos sociais, principalmente aos
trabalhadores. Trata-se, portanto, de politicas que, ao conferir especial
relevância ao mercado de trabalho e à renda obtida pelo trabalhador,
mediante a sua inserção neste mercado, deixa de fora significativas
parcelas da população sem condições de trabalhar e, por isso,
desmonetarizadas e sem capacidade contributiva.
No Brasil, muitos princípios bismarquianos foram mantidos e nem
todos os beveridgeanos foram incorporados. Na Previdência Social
há predominância do modelo bismarquiano, pois o acesso é
condicionado a uma contribuição direta anterior por parte dos
trabalhadores. Os princípios do modelo beveridgeano orientam o atual
sistema público de saúde (com exceção do auxilio-doença, tido como 29
seguro-saúde e regido pelas regras da previdência) e de assistência INTERFACE
social. Todavia, não há efetiva implementação da universalidade no
acesso aos direitos sociais na Assistência Social devido às rígidas
restrições impostas pelos critérios de seletividade, somando-se a não
inclusão dos trabalhadores no mercado de trabalho.
Dessa forma, fica claro que o conceito de Seguridade Social não se
restringe ao conceito de Previdência Social, pois enquanto este é por
excelência contratual, aquele extrapola esta esfera. A Seguridade Social
engloba formas de proteção que não pressupõem o engajamento do
beneficiário ao mercado de trabalho. Qualquer cidadão, pelo fato de
ser cidadão, tendo necessidade de ser protegido por este sistema, faz
jus aos benefícios.

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Saindo das influências clássicas e avançando na trajetória da
seguridade no Brasil, percebe-se que até o final da década de 60, na
interpretação de Mota (1995), evidencia-se a necessidade de os governos
militares oferecerem uma imagem social do Estado que lhes conferisse
legitimidade. Para tanto, funcionalizaram a política social, subordinando
aquelas mudanças ao projeto de modernização conservadora por eles
implementado. Durante o regime ditatorial, instaurado em 1964, o
Estado põe em prática uma política que preservava e fortalecia as
relações de dependência com os países hegemônicos e
concomitantemente tentava quebrar a resistencia organizada da
sociedade, obtendo o consenso passivo e legitimador do regime. Nesse
período, prevalecem na esfera da produção as características da
influência Keynesiana e fordista, onde as negociações entre empresas
e sindicatos eram intermediadas pela esfera estatal.
As exigências do processo de acumulação capitalista e, em
contrapartida a necessidade de suprimir os movimentos das classes
subalternas fazem com que o Estado promova mudanças no âmbito das
políticas sociais. A singularidade desse processo residiu no modo como
o regime militar procurou atender às necessidades provenientes dos
impactos da expansão do assalariamento na previdência social e na
assistência médica, às demandas sociais das classes reprimidas pelo
regime e à sua própria necessidade de legitimação política (MOTA, 1995).
Assim, na década de 70 ocorre uma relativa ampliação no modelo
de Seguridade Social brasileira, como é o caso do FUNRURAL, da renda
vitalícia para os idosos, do aumento do teto do beneficio mínimo, além
da abertura da previdência social para os trabalhadores autônomos e
empregados domésticos e da ampliação da assistência médico social.
Entretanto, paralelamente à expansão das políticas sociais, ocorre a
privatização de alguns serviços de saúde, educação e moradia.
As características citadas anteriormente vigoram até o final da década
de 70, período intitulado de milagre brasileiro. Nesse período ocorre a
instalação de grandes empresas multinacionais, onde a ampliação dos
30 serviços foi feita com grande participação do setor privado.
INTERFACE O inicio da década de 80 é marcado pelos sinais do colapso do
milagre e ressurgimento da organização da classe trabalhadora contra
o regime vigente que nesse período esteve neutralizada devido aos
instrumentos repressivos e à estratégia política de cooptação das
frações mais organizadas dos trabalhadores (FLEURY, 1994). Ocorre
ainda a chamada ‘crise fiscal’, que, na concepção governamental, é
decorrente dos gastos resultantes da expansão das políticas sociais. O
Estado passa a afirmar serem incompatíveis a sua arrecadação com os
gastos sociais oriundos das políticas sociais, justificando o repasse
parcial da responsabilidade financeira à sociedade civil e a
implementação das reformas. Este é o alicerce da elaboração da
Constituição Federal de 1988.

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CARACTERÍSTICAS DA SEGURIDADE SOCIAL NAS DÉCADAS DE
80 E 90

No Brasil, no final da década de 80, a Constituição Federal de 1988


configurou o cenário no qual as políticas sociais obtiveram ascensão
devido à ampliação da cobertura dada aos direitos sociais. A
Seguridade Social passa a ser estabelecida como um conjunto
integrado de ações destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde,
à previdência e à assistência social, como indica o Capítulo II, Artigos
194 a 204 da CF. Incentivados pela pressão dos movimentos sociais,
que tiveram destaque na década de 80 com a abertura democrática,
o Estatuto da criança e do adolescente, a Lei Orgânica da Assistência
social e outras modificações como o SUS2 passaram a possuir amparo
legal.
Apesar do avanço na legitimidade das políticas sociais com a CF
de 1988, a década do 90 não se constitui em ambiente favorecedor à
ampliação dos direitos sociais. As transformações nos padrões de
acumulação capitalista, ocasionadas pelas inovações tecnológicas, a
globalização e as crises do sistema financeiro, são responsáveis pela
ocorrência de um turbilhão de modificações no mercado de trabalho
e na vida dos indivíduos. Essas transformações possuem dimensões
mundiais, pois alteram “relações, processos e estruturas sociais,
econômicas, políticas e culturais, ainda que de modo desigual e
contraditório” (IANNI, 1992, p. 39). Como conseqüência da citada
globalização, destacam-se a precarização nas relações de trabalho,
aumento do desemprego estrutural, exigência de maior qualificação
profissional e o crescimento do mercado informal.
A égide do neoliberalismo traz mudanças em varias áreas, onde o
Estado reduz a sua participação e prima pela ‘liberdade econômica’.
As medidas de cunho político, econômico e social impostas pelas
reformas, são justificadas pela “crise do Estado”. Com o Estado em
crise, os gastos sociais devem ser limitados e os investimentos voltados
para outras áreas. As reformas possuem influência de organismos 31
internacionais (FMI3 , BIRD), que direcionam as ações no Brasil e em INTERFACE
outros paises dependentes economicamente. Por trás dessas medidas
está a imposição de uma nova divisão internacional do trabalho que
exige mudanças nas responsabilidades estatais e da sociedade civil
no âmbito dos direitos sociais.
Dentre essas mudanças, podemos citar os cortes nos gastos sociais,
retração do Estado e aumento da responsabilidade civil. Acrescenta-
se ainda, o não compromisso formal por parte do Estado com o pleno
emprego, caracterizando a contraposição aos princípios
constitucionais e aprofundamento das desigualdades sociais. As
mudanças citadas irão refletir diretamente na implementação das
políticas sociais, especificamente na seguridade social.

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Na implementação das políticas de seguridade social nos
deparamos com uma realidade geradora de problemas. Os direitos
sociais assegurados (saúde, assistência e previdência social), através
da CF de 1988, têm como principio a universalidade, porém, a sua
implementação é restritiva quanto ao acesso dos trabalhadores a estes
direitos. Com exceção da saúde, as outras duas (seguridade social e
assistência) possuem relação direta com o trabalho, onde, a assistência
é direcionada aos portadores de deficiência, aos idosos, às crianças e
aos adolescentes, ou seja, aos impossibilitados de trabalhar, e a
seguridade ampara aos que trabalham. O que nos remete a discutir o
trabalho enquanto meio de reprodução humana e subsistência, bem
como enquanto determinante quanto ao acesso aos direitos sociais.
Apesar de ser um direito, no Brasil, o trabalho não é assegurado a
todos, e, no entanto, caracteriza-se como sendo o elemento
condicionador do acesso à previdência e à assistência social. A
previdência beneficia aos que trabalham ou que contribuíram, e a
assistência social beneficia aos impossibilitados ou incapacitados ao
trabalho, deixando de fora os pobres economicamente ativos. Os dados
da PNAD 4 (1998), indicam que existe um elevado número de
trabalhadores ocupados que não contribuem para a previdência social,
podendo ser subdividido em três grupos: os que recebem menos de
um salário mínimo, os que possuem idade entre 10 e 16 anos e os que
estão acima de 60 anos. No Brasil, a Assistência não tem programas
para os aptos ao trabalho (primeiro grupo), os programas de
erradicação do trabalho infantil são muito tímidos, e os que estão entre
60 e 67 anos não estão acolhidos pelos benefícios sociais, ficando então
desprotegida esta enorme parcela da população (BOSCHETTI, 2003).
Percebe-se, na atualidade, o dilema e a tensão da massa trabalhadora
de possuir a força de trabalho e, no entanto, não poder empregá-la
remuneradamente devido ao aumento do desemprego e a ausência de
postos suficientes. Em contrapartida, estes trabalhadores não podem
ser acolhidos pelas políticas sociais, de forma a perceber o mínimo para
32 sua sobrevivência, tornando-se excluída do processo de produção.
INTERFACE Os trabalhadores, os inseridos no mercado de trabalho, além das
mudanças nas relações de produção, sentem ainda o impacto das
mudanças impostas pelas reformas no âmbito da previdência social. A
reforma de 1998 aumenta o tempo de contribuição para aposentadoria
proporcional, extingue as aposentadorias especiais, estabelece um teto
máximo aos benefícios de R$ 1.869,34 (julho/2003) e sua desvinculação
com o salário mínimo. Esses critérios, segundo Boschetti (2003),
focalizam ainda mais os direitos na população contribuinte.
Seus direitos sociais também são restringidos na saúde e na assistência
que também sofrem os cortes e os limites na destinação das verbas. Estas
medidas são parte do projeto neoliberal de redução de gastos sociais que
vem ocorrendo em vários países do mundo. Investido em uma manta de

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modernidade e parte da globalização, o neoliberalismo causou o
agravamento das desigualdades sociais, porém, alguns autores
consideram que obteve êxito no controle da inflação e imposição de
mecanismos de controle fiscal (BORÓN, In: SADER e GENTILI, 1995).
Na atualidade, discute-se constantemente a possível crise do Estado
devido aos gastos sociais e previdenciários. Tais gastos são vistos de forma
secundaria, ou seja, por não gerarem riqueza são postos em segundo plano
e caracterizados como sendo dispendiosos. Na verdade, a “Crise do
Estado” passa por não arrecadação de impostos dos grandes produtores
e morosidade e ineficiência na fiscalização da arrecadação tributária.
Essa possível crise do Estado impulsiona as investidas do setor
privado nas áreas econômicas e sociais. O desmantelamento de estatais
ou paraestatais, cujos rendimentos foram negativos, abriu o caminho
para que as grandes corporações se estabelecessem.
Os elementos citados anteriormente, privatização e cortes nos
gastos públicos, não podem ser considerados meios de ajustar as
contas publicas, pois existem países considerados desenvolvidos onde
o gasto público é consideravelmente superior ao brasileiro e não existe
crise no Estado. Esse fato nos leva a refletir acerca dos caminhos pelos
quais estão sendo conduzidas as políticas sociais.

AVANÇOS E RETROCESSOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS

A promulgação da Constituição Federal de 1988 pode ser


considerada um grande avanço na legitimidade das políticas sociais,
tendo em vista a sua ampliação e diretrizes normativas. Apesar disso,
apenas a legislação não garante a sua implementação. No Brasil os
direitos sociais não são percebidos através de pactos entre o Estado e a
sociedade civil. Constituem-se em condicionamentos motivados pelas
situações determinadas ou pelas possibilidades. Assim, de acordo com
essa lógica, para que haja a implementação de determinadas políticas, o
Estado precisa dispor de recursos e ter disponibilidade para que se
efetive. Por isso, a perpetuação da ideologia do favor, da benemerência 33
em detrimento do direito. INTERFACE
No âmbito da seguridade social é mais notório o retrocesso em
detrimento do avanço. A área de abrangência das políticas sociais tem
sido limitada, com ênfase à seletividade no acesso aos benefícios,
focalização das políticas e diminuição dos recursos e investimentos.
Na previdência social são registradas perdas à classe trabalhadora. O
crescimento do numero de trabalhadores do mercado informal é um viés
deste problema. Essa parcela não tem sido abrangida pela previdência,
tornando-se destituída de garantias futuras. O sistema previdenciário não
se modificou para acompanhar essas mudanças. A exclusão de
trabalhadores dos direitos sociais e o caráter privatizado de alguns
sistemas previdenciários contradizem o seu caráter universalizante.

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Na saúde, a crescente privatização tende a segregar parcelas
populacionais mais abastadas em detrimento dos que se vêem obrigados
a utilizar um sistema de saúde precário e sucateado.
Na assistência social, as políticas sociais impõem um corte de
pobreza que restringe à indigência, tornando a sua ação focalista e
seletiva. “Muitos pobres que dela precisam ficam em total desamparo
por não possuírem as credenciais de miséria para dela fazer jus”
(PEREIRA, 1998, p. 68). Decorre disso, a prática do governo de colocar
a responsabilidade das ações sociais na sociedade civil, buscando
parcerias com voluntários e Organizaçoes Não Governamentais (ONGs).
A seguridade social, a saúde e a previdência social, apesar de
diferentes em seus direcionamentos e natureza, são políticas sociais
que visam o acesso dos indivíduos ao mínimo para sobrevivência ou
melhoria nas condições de vida. Têm em comum o trabalho e o objetivo
de distribuir os recursos gerados socialmente e de abrandar as
conseqüências do modo de produção capitalista
No entanto, para que a Seguridade Social funcione de forma a atingir
os objetivos citados acima, identificamos alguns obstáculos.
Em primeiro lugar, a Constituição Federal de 1988, apesar de possuir
caráter democrático - sendo o Estado o regulador dessa proteção
formalizada e institucionalizada na ordem jurídica capitalista do Estado
de Direito e propositor da presença de mecanismos sócio-econômicos
dirigidos e planificados com a finalidade de atingir a concretização
desses direitos, na prática, podemos identificar a existência de direitos,
sem que, no entanto, estes se efetivem.
Em segundo lugar, os movimentos sociais que tiveram importante
participação no processo de efetivação Constitucional (1988), na década
de 90, prejudicados pelo enfraquecimento dos sindicatos frente à
precarização nas relações de trabalho, crescimento do setor informal e
crescimento do desemprego, não compõem força capaz de efetuar
mudanças no processo político, econômico e social da sociedade
brasileira atual.
34 Outra barreira posta à efetivação da seguridade social tendo por base
INTERFACE as características citadas anteriormente diz respeito a sua forma de
gestão. Percebe-se em sua implementação a fragmentação das políticas
que compõem a seguridade social com a permanência de ministérios
setorizados sem articulação entre si e sem a necessária definição de
uma política que integre e inter-relacione as três esferas (saúde,
previdência e assistência).
A gestão das políticas de Seguridade Social, de acordo com o
esquema de Beveridge, deve ser pública, ou seja, estatal. Na saúde e na
assistência social a constituição legal dos Conselhos, considerando os
obstáculos impostos pela modernização conservadora controlada
pelos capitais nacionais e internacionais, tem contribuído na
efetivação de práticas democráticas. O caráter descentralizado e

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participativo dos Conselhos é um grande espaço conquistado pela
sociedade e deve ser ampliado. Todavia, na sua implementação ocorre
freqüentemente uma inversão do caminho da descentralização e
participação, onde os programas, projetos e serviços têm seus recursos
liberados na esfera federal e condicionada a sua execução. Essa postura
desconsidera os avanços democráticos constitucionais, dificultando
o caminho no sentido da universalização do acesso aos direitos sociais.
Diante do quadro exposto anteriormente, são delineados alguns
elementos que norteiam o horizonte brasileiro no que tange à política
de Seguridade Social, considerando, porém, que a realidade não é
estática e, portanto, sujeita à transformações.

PERSPECTIVAS À SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA

Nos deparamos atualmente com a banalização da pobreza. No Brasil,


é disseminada a ideologia da dificuldade de solução para o problema,
como ressalta Sposati (1995), esquecendo que a pobreza é fruto de um
sistema que reproduz as desigualdades sociais e amplia a concentração
das riquezas, e é nesse sistema capitalista que é engendrada a exclusão
social.
Para discutirmos a questão da seguridade social não é possível
esquecer a questão dos gastos e do financiamento das políticas sociais.
É necessário que a sociedade participe da gestão dos investimentos nas
áreas sociais. Porém, não se constitui tarefa fácil. A própria legislação
sobre a aplicação dos recursos destinados a esta área dificulta o controle,
o acesso aos direitos e a efetivação das políticas sociais.
O Estado neoliberal se exclui gradativamente da responsabilidade
perante as categorias menos favorecidas, estimulando a participação
da sociedade civil revestida de ações filantrópicas, de benemerência ou
de “parcerias”. A tendência é que cresçam estas ações.
A análise focaliza as décadas de 80 e 90. Porém, é na década atual
que surgem elementos que poderão sinalizar perspectivas de mudanças
sociais. Encontra-se no poder uma “nova” governabilidade, e tendo em 35
vista sua composição histórica, se coloca o questionamento acerca dos INTERFACE
possíveis avanços nas conquistas sociais.
Um dos avanços impetrados atualmente no que tange à seguridade
social diz respeito ao Estatuto do Idoso (Lei Nº 10.741) aprovado em
outubro de 2003, que, sobretudo, introduz penas severas para quem
desrespeitar ou abandonar cidadãos da terceira idade.
Como exemplo de política social podemos citar o programa ‘Fome
Zero’, implantado em março de 2003, visando diminuir
significativamente o problema brasileiro da fome. Para a sua solução,
visa implementar ações em diversas áreas como saúde, habitação,
emprego, previdência, segurança, educação e outras, impondo o limite
per capita de um dólar para inserção e restringe o seu centro de ação às

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regiões críticas do país. Dessa forma, este programa, com seu formato
atual, reforça o caráter seletivo e focalista das ações assistenciais que
restringem à indigência o seu âmbito de ação, sem modificar o cerne
do problema das desigualdades sociais gerados pelo modo de produção
capitalista.
A reforma da previdência aprovada em 2003 traz mudanças aos
direitos conquistados pelos trabalhadores. Entre as mudanças referidas
podemos citar o aumento da idade mínima necessária para
aposentadoria do homem de 55 para 60 anos e da mulher de 50 para 55
anos, e o retorno da contribuição previdenciária aos aposentados.
Entretanto, como foi exposto, vivemos em um país onde os
organismos internacionais determinam as medidas políticas sociais e
econômicas de forma a favorecerem seus interesses e manterem o Brasil
e o restante dos países periféricos à margem da economia mundial. Diante
destes fatos somos levados mais a questionamentos que esclarecimentos
acerca das mudanças futuras, ou pelo menos sobre o que é aguardado
pelos brasileiros destituídos de trabalho e de direitos sociais.

R EFERÊNCIAS

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Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994.
36
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Consulta on-line
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<www.jusnavegandi.com.br> Acesso em 20/06/04

NOTAS

1
Noção de Seguridade Social baseada no seguro, inaugurada em 1883 pelo
Chanceler Otto Von Bismarck (PEREIRA, 1998).
2
Sistema Único de Saúde – destacando-se a ênfase à descentralização,
participação e controle social
3
O FMI não altera os princípios da seguridade social estabelecidos pela
Constituição de 1988, mas propõe a separação das fontes de custeio,
desvinculado a previdência, da saúde e da assistência, procedimento que amplia
as oportunidades para o setor privado lucrativo, na esfera da saúde e da
previdência. (MOTA, 1995: 201).
4
Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar -IBGE

TRAMITAÇÃO

Recebido em: 31/05/04


Aceito em: 22/06/2004

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