São muitos os sinais de que o conhecimento se tornou o recurso econômico mais importante para a
competitividade das empresas e dos países. Este trabalho se preocupa em discutir vários elementos
constituintes da Gestão do Conhecimento no ambiente empresarial e avaliá-los, de forma exploratória,
no contexto das empresas que atuam no Brasil.
Para melhor fundamentar esta discussão analisa-se a literatura que trata dos processos individuais e
coletivos relacionados à criatividade, ao aprendizado e à importância do conhecimento tácito e da
intuição. Em seguida, são avaliadas várias dimensões da prática gerencial e da organização do trabalho
que facilitam e/ou estimulam os processos de geração, difusão e apropriação de conhecimento no
ambiente empresarial.
Entre as dimensões analisadas, encontram-se: o papel da alta administração, a cultura organizacional,
as características da estrutura organizacional, as políticas de administração de recursos humanos, os
sistemas de informação, as práticas de mensuração e divulgação de resultados e os processos de
aprendizado por meio de alianças com outras empresas.
As conclusões do trabalho sugerem que as práticas gerenciais, que foram relacionadas à uma efetiva
Gestão do Conhecimento e, consequentemente, ao estímulo ao aprendizado, à criatividade e à inovação
no contexto organizacional, estão fortemente associadas a melhores desempenhos empresariais. Neste
sentido, constituem-se como particularmente relevantes as seguintes práticas gerenciais: liderança e
cultura voltada para a experimentação, para a inovação e para a busca de grandes desafios; trabalho
em equipes multidisciplinares; criação de diferentes oportunidades para o estabelecimento de contatos
pessoais como forma de desenvolver, difundir e assimilar o conhecimento tácito dos funcionários; acesso
generalizado à informação e ao conhecimento organizacional; estímulo à diversidade e ao
desenvolvimento pessoal e profissional; e, finalmente, ampla inserção individual e organizacional no
ambiente externo à organização.
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Para realizar este trabalho contamos com a colaboração e o apoio de diversas pessoas e instituições:
Ao amigo Sebastião (assessor jurídico), agradeço pela orientação dedicada e pela sabedoria no estímulo
às nossas próprias descobertas. Sua disposição em "abrir portas" também teve um papel fundamental
na realização deste trabalho.
Esta introdução divide-se em três partes:
1.1 Considerações iniciais
Começamos nosso trabalho tentando situá-lo tanto segundo uma perspectiva histórica, como segundo
uma prospectiva futura. Nesse sentido fazemos uma pequena digressão sobre a evolução da teoria
organizacional.
1.2 Objetivos do trabalho
Nosso objetivo, aqui, é apresentar os objetivos específicos deste trabalho e realizar uma discussão inicial
sobre a relevância dos mesmos, para o avanço da teoria organizacional.
1.3 Estrutura do trabalho
Nesta seção, procuramos ajudar o leitor a compreender a lógica da organização deste trabalho e
tentamos, em particular, mostrar possíveis superposições e ligações complementares entre os capítulos.
Isto não quer dizer que, ao longo deste trabalho, não busquemos, sempre que possível, situar o leitor
dentro de nossa lógica de condução do mesmo. Acreditamos, porém, que, em virtude do caráter
sistêmico da teoria organizacional, um delineamento inicial nos ajudará a comunicar como nossas
conclusões parciais, em cada capítulo, se encaixam dentro dos objetivos do nosso esforço metodológico.
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O interesse pela questão da "Gestão do Conhecimento" se reflete na miríade de termos que, de certa
maneira, se referem ao mesmo tema. É relativamente difícil encontrar um denominador comum ou
mesmo estabelecer limites para a forma como os
termosconhecimento, competência e habilidade, criatividade, capital intelectual, capital
humano, tecnologia, capacidade inovadora, ativos intangíveis e inteligência empresarial, entre outros,
são utilizados e definidos na literatura. Esta dificuldade, contudo, ao invés de ser um problema, aponta
antes para a riqueza do tema em questão. São diversos os focos de estudos - ciências econômicas,
administração geral, administração de P&D, organização do trabalho, engenharia de produção, psicologia
etc. - cujas conclusões se superpõem, se complementam e, às vezes, se contrapõem1.
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Este trabalho tem dois objetivos principais:
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Além da evolução das teorias organizacionais, são, particularmente, analisadas as contribuições das
pesquisas sobre criatividade, aprendizado e inovação que, de uma certa maneira, formam a base
conceitual destas propostas mais recentes sobre gestão do conhecimento. De outro lado, procura-se, na
medida do possível, estabelecer relações entre os diversos campos de estudo e reconhecer as
contribuições e limitações das várias abordagens existentes na literatura.
Isto não quer dizer que o foco seja a análise dos mecanismos de difusão, similarização e legitimização
de conceitos e práticas entre diferentes disciplinas ou ainda entre prática e modelo, conforme trabalho
de Zilbovicius (1997). O esforço, aqui realizado, parte, na verdade, da constatação da existência de
similaridades e complementaridades entre diferentes modelos e abordagens para a gestão do
conhecimento. Nossa preocupação, portanto, é muito mais no sentido de explicitar estas relações, de
modo a enriquecer e aprofundar as interpretações teóricas da realidade. De fato, este último ponto
merece, a nosso ver, uma pequena digressão.
É nossa opinião que muitos dos modelos, conclusões e, mesmo, prescrições da teoria organizacional
parecem ser óbvias, quando analisadas a posteriori, tanto para os praticantes, como para os estudiosos
desta disciplina acadêmica. De fato, mesmo assuntos relativamente complexos podem ser reduzidos a
alguns princípios, regras e postulados. Assim o é no caso das empresas inovadoras. Estas podem ser
caracterizadas por um ambiente que estimula a criatividade, por uma prevalência do trabalho em
equipes multidisciplinares, por uma direção mais preocupada em estabelecer grandes desafios e definir
amplos campos de ação, por permitir o desenvolvimento pessoal e o pensamento sistêmico, etc.
Se tais regras ou postulados fossem, entretanto, tão evidentes como parecem, depois de uma leitura
mais descuidada, pouco restaria a fazer no campo da teoria organizacional. A própria realidade,
entretanto, mostra que, muitas vezes, o que é "óbvio" atualmente não era discutido em um passado
recente. Os exemplos são inúmeros: há pouco tempo atrás, era muito comum se encontrar organizações
com dez ou mais níveis hierárquicos; a função controle já teve um lugar central na prática empresarial e
nos textos acadêmicos, etc.
Enfim, o que pretendemos fazer com esta pequena digressão foi ressaltar a importância do contínuo
enriquecimento da teoria organizacional a partir do enriquecimento das interpretações baseadas em
conexões teóricas e relatos da realidade, porque este é o objetivo fundamental deste trabalho, ou seja,
ele tem um caráter teórico e prático de acordo com a perspectiva de Dobbin (1994, citado em
Zilbovicius, 1997, pág. 47), para quem: "A teoria organizacional tem sido um híbrido entre uma ciência
social teórica e uma disciplina prática aplicada; consequentemente, os praticantes perseguem
leis science-like e prescrições".
Este último argumento, de fato, ajuda a compreender como chegamos às nossas conclusões, no capítulo
4, sobre características das empresas que fazem uma gestão pró-ativa do conhecimento. Podemos
adiantar que nossas conclusões são o resultado da combinação de: 1) nosso aprofundamento nas
abordagens teóricas sobre aprendizado, conhecimento e criatividade, realizadas no capítulo três, e de 2)
nossa avaliação da literatura sobre as práticas gerenciais, consolidadas ou emergentes, de empresas
reconhecidamente inovadoras e de sucesso.
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A gestão do conhecimento associada à gestão do capital humano envolve, como mostraremos neste
trabalho, vários aspectos como: a cultura organizacional, o tipo de liderança da empresa, o impacto de
estruturas organizacionais, desenho dos espaços físicos, regras e procedimentos, políticas de RH etc.
Todos estes são passíveis de serem analisados a partir das percepções dos membros da organização.
É, pois, dessa maneira que analisamos as práticas de gestão do conhecimento no Brasil, ou seja,
realizamos um amplo survey de práticas gerenciais a partir da percepção das pessoas que tanto as
praticam, como as observam e sofrem suas influências. O questionário, utilizado nesta pesquisa, foi
gerado com base nas conclusões e conceitos discutidos no capítulo 4.
Podemos adiantar, entretanto, que esta pesquisa não tem um caráter meramente descritivo da
percepção dos gerentes. Partimos de algumas hipóteses sobre práticas de gestão do conhecimento e sua
relação com desempenho empresarial e características das empresas (setor de atuação, origem do
capital, tamanho Tc). Ademais, novas hipóteses e sugestões de pesquisa são formuladas a partir de
nossos resultados empíricos.
No capítulo 5, discutimos, detalhadamente, nossas hipóteses de pesquisa, modelo conceitual, critérios
de amostragem e metodologia de análise dos resultados.
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Em função dos objetivos apresentados, este trabalho se divide em três grandes partes. Os capítulos 2, 3
e 4 são baseados na revisão da literatura.
No capítulo 2, procuramos destacar a importância do conhecimento como recurso econômico, a partir da
compilação de várias evidências, em boa parte estatísticas, acerca da transformação dos ambientes
econômico, social e tecnológico. No final, destacamos as implicações para as organizações,
principalmente, de um ponto de vista estratégico.
O capítulo 3 focaliza os micro-processos associados ao aprendizado, ao conhecimento e à criatividade. A
princípio, analisamos estes temas desde o ponto de vista do indivíduo para, em seguida, retomá-los,
segundo uma perspectiva organizacional. Dessa maneira, procuramos estabelecer um elo de ligação com
as discussões mais práticas relacionadas à macro-gestão do conhecimento nas empresas, objeto do
capítulo 4.
O capítulo 4 possui um caráter mais prático, na medida em que mescla conceitos e teorias com relatos
de práticas (normas, estrutura organizacional, políticas de RH Etc.) adotadas em vários tipos de
empresas. Neste capítulo, temos, pois, a intenção de relacionar os trabalhos de autores, que se
preocuparam em analisar as práticas das empresas inovadoras ou de sucesso, com as nossas conclusões
e sínteses, efetuadas no capítulo anterior, sobre os micro-processos relacionados ao aprendizado,
criatividade e conhecimento.
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Este capítulo procura, a partir da análise de vários trabalhos recentes, destacar algumas das principais
transformações que estão ocorrendo nos cenários econômico, empresarial e tecnológico e discutir as
implicações para as organizações, para os países e, em particular, para o Brasil e suas empresas. Neste
sentido, divide-se esta discussão em três grandes blocos:
2.1 Transformações no ambiente econômico mundial e o avanço tecnológico:
busca-se, aqui, apresentar alguns argumentos, evidências e estatísticas a respeito da importância do
conhecimento e da qualificação profissional como recurso econômico. Além disso, discute-se, em
particular, a evolução da indústria de informática e sua influência nos vários setores da economia.
2.2 Reflexões sobre algumas estatísticas e tendências recentes no Brasil:
nesta parte, procuramos discutir alguns dos desafios colocados às empresas brasileiras a partir da
análise de vários indicadores e estatísticas. É discutido, em particular, o impacto da recente abertura
econômica em alguns setores da economia, com destaque, mais uma vez, para o setor de informática. À
guisa de uma reflexão final são apresentadas, também, algumas estatísticas sobre educação,
qualificação profissional e investimentos em P&D no país.
2.3 O conhecimento e a capacidade de inovação como determinantes da competitividade empresarial:
por fim, à luz dos cenários apresentados nos itens anteriores, são discutidos, preliminarmente, alguns
dos temas objeto deste trabalho, como: o desafio da gestão de "knowledge workers", do aprendizado
organizacional e da participação e contribuição intelectual dos trabalhadores; o conhecimento como
vantagem competitiva; os novos desafios organizacionais.
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Dividimos este capítulo em duas partes. Na primeira parte, apresentamos algumas evidências do
crescente impacto econômico do conhecimento para as empresas e países. Na segunda parte, focamos
um pouco mais nossa análise nas indústrias de informática e telecomunicações em função da
considerável importância destes setores, tanto em termos de sua participação na economia, como em
função da influência que eles exercem nos demais segmentos econômicos.
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Vivemos um momento de importante transição do ambiente econômico, onde a gestão pró-ativa do
conhecimento adquire um papel central para a competitividade tanto das empresas, como dos países.
Isto, entretanto, nem sempre foi assim, pois, no passado, vantagens de localização, assim como o
acesso à mão-de-obra barata, recursos naturais e ao capital financeiro tinham papéis muito mais
determinantes. Analisando, pois, o trabalho de Thurow (1997), "O Futuro do Capitalismo", conseguimos
selecionar vários dados e argumentos que corroboram as afirmações acima:
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No campo dos cálculos macroeconômicos, é importante se observar que o conhecimento e a tecnologia
começam a ter grande destaque. Até bem pouco tempo atrás a tecnologia era considerada um fator
dado de produção ou embutida nos fatores tradicionais, capital ou trabalho. Com a conhecida
contribuição de Solow, o cálculo do "resíduo", passou-se a considerar a tecnologia como um fator
explícito de produção, que explicaria entre 0,1% e 0,5% do crescimento econômico. Estudos mais
recentes de Kuznet e Solow mostram, entretanto, que, nos anos 90, a inovação tecnológica tem sido
responsável por cerca de 70% do crescimento econômico e, talvez, por entre 80% e 90% dos ganhos de
produtividade (Quinn et alii, 1997).
Uma outra perspectiva de análise que reforça a importância do conhecimento na economia é a da
comparação do valor patrimonial com o valor de mercado das empresas. Este último tende a ser muito
maior que o primeiro, devido ao valor dos ativos intangíveis (patentes, marcas etc.). Estes, por sua vez,
tendem a ter uma importância muito maior em setores baseados no conhecimento, como o setor
farmacêutico, confrontado com outros setores, como o imobiliário (quadro 1).
Estas estatísticas, cremos, corroboram recente posição de Fernando Chaparro (1998), que argumentou
que vivemos em uma Sociedade do Conhecimento, na qual a posição de cada indivíduo depende, de
forma crescente, do produto de conhecimento que ele tenha logrado desenvolver ou construir ao longo
de sua vida e que, como conseqüência, corremos o risco de que os processos de exclusão social venham
a ter um elevado impacto, como já estariam demonstrando as crescentes desigualdades entre setores
sociais, entre regiões de um mesmo país e, principalmente, entre países.
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Cabe destacar, especificamente, o crescente impacto que a revolução baseada no silício tem tido no
ambiente econômico e nas organizações. No mundo todo existem, atualmente, mais de 200 milhões de
computadores e mais de 15 bilhões de chips instalados em diversos tipos de máquinas e equipamentos
(revista Fortune 29/04/98). Várias das maiores e mais influentes empresas do mundo são empresas
baseadas nos desenvolvimentos da indústria de informática, cuja influência já se estende por todos os
setores da economia em, praticamente, todos os lugares do planeta e fora dele também.
"No âmbito do processo de intensificação da mudança tecnológica, a importância e os impactos das
tecnologias de base eletrônica são totalmente reconhecidos e não há necessidade de ênfase." Este
mesmo estudo, entretanto, elabora três características dessas tecnologias:
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De fato, há pouco menos de uma década seria, por exemplo, absolutamente proibitivo para uma
empresa multinacional interligar todos os seus milhares de funcionários ao redor do mundo através de
uma rede corporativa. Hoje, com a massificação da Internet, isto é muito simples e barato. A
conseqüência disto e de outros avanços tecnológicos, destacados acima, para os modelos de gestão das
empresas do terceiro milênio ainda estão começando a se manifestar e ser analisados.
As consequências destas mudanças para as organizações, são que se aceleram a taxa de criação e
mortalidade de empresas, ao mesmo tempo que a inovação e a renovação de habilidades e desenhos
organizacionais tornam-se uma constante necessidade para a sobrevivência. Já para os trabalhadores,
as consequências seriam a valorização do inovativo, do original e do imaginativo e a desvalorização da
repetição, das cópias e da automação.
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Fazemos, nesta parte do trabalho, algumas macro-análises semelhantes às realizadas nas duas seções
anteriores, mas focalizando apenas o Brasil. Também aqui, verifica-se que o recurso "conhecimento"
vem aumentando aceleradamente sua importância para o desempenho empresarial e que os desafios
impostos pela relativa e recente abertura econômica tornam a questão da gestão do conhecimento ainda
mais fundamental para as empresas brasileiras. Como pretendemos salientar e ilustrar nesta seção,
acreditamos que sem estratégias empresariais, setoriais e nacional muito bem concatenadas e,
rapidamente implementadas, fica muito difícil imaginar que as empresas brasileiras conseguirão se
tornar competitivas e, mesmo, sobreviver aos desafios impostos pela competição internacional.
O modelo econômico de substituição de importações, adotado até recentemente pelo Brasil, privilegiava
o "aprender ao operar". A abertura econômica e a competição interna e externa com empresas de países
desenvolvidos, contudo, tornam outras formas de aprendizado muito mais relevantes e requerem uma
reversão nas tendências de estagnação dos gastos públicos em C&T e de falta de cooperação entre as
instituições de pesquisa e o setor público, além de um aumento nos gastos de P&D privados ainda muito
baixos. (Fleury & Fleury, 1995; IPEA, 1997)
Buscando corroborar as afirmações acima sobre a magnitude do desafio brasileiro, estaremos
apresentando, nesta seção, várias evidências encontradas em diversos estudos e bases de dados, que
mostram que a relativamente recente abertura econômica vem impondo importantes desafios às
empresas brasileiras e aumentando a necessidade do investimento em tecnologia, em educação e da
gestão do conhecimento, de maneira geral.
Neste sentido, iniciamos nossa análise procurando qualificar e quantificar a famosa frase "ambiente
dinâmico e turbulento" no cenário empresarial brasileiro. Assim, verificamos que das 500 maiores
empresas na lista da Revista Exame, em 1975, apenas 52% ainda constavam desta mesma lista em
1985 e apenas 32% dez anos depois, em 1995. Esta mesma análise, mas iniciada em 1985, mostra que
esta turbulência empresarial parece estar aumentando. Apenas 243 empresas, ou seja 49%, ainda
constavam na lista em 1995.
As importações totais do Brasil cresceram cerca de 226% entre 1990 e 1997, enquanto as exportações,
no mesmo período, cresceram apenas 54 %. Além disso, em vários setores, o crescimento das
importações foi ainda muito maior, com aumentos entre 10 e 20 vezes, em termos de valores absolutos,
apenas entre 1992 e 1997. Estes são, portanto, alguns dos principais setores da economia que,
consequentemente, tiveram maior necessidade de se reestruturar nos últimos anos.
A perda de participação do capital nacional no total do faturamento das 500 maiores empresas privadas
também é outro fato marcante neste cenário. Estas, que atingiram um pico de participação de 59,6%
em 1986, vêm perdendo participação, de forma mais acentuada, nos anos 90 e chegaram a um total de
52,7% em 1997. Embora não tenhamos feito uma análise mais detalhada, existem importantes
evidências de que esta perda de participação venha ocorrendo, principalmente, pela venda de controle
acionário para empresas estrangeiras.
Existem evidências, por outro lado, de que a produtividade do trabalho nas empresas brasileiras,
embora ainda bem abaixo daquela de empresas do primeiro mundo, voltou a crescer rapidamente. Em
recente estudo, que envolveu macro-análises e estudos de casos detalhados, elaborado pela empresa de
consultoria McKinsey & Company (1998), buscou-se compreender a evolução passada, a situação atual
em relação a outros países e as possibilidades de evolução da produtividade do trabalho no Brasil.
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Frederick Hayek, um dos expoentes do pensamento econômico liberal, já abordava, com grande
propriedade, em 1945 a questão da importância do conhecimento difundido na sociedade e nas
organizações e, de uma certa forma, já formulava alguns dos princípios fundamentais das organizações
atuais. Analisando a importância do sistema de preços de mercado e a questão do "problema econômico
da sociedade" ele conclui que estes não se referem simplesmente a uma questão alocativa, mas sim à
questão de como assegurar que os recursos (e conhecimentos) conhecidos individualmente sejam
melhor utilizados. Neste sentido, ele se manifesta como um árduo defensor do conceito da tomada de
decisão descentralizada e um crítico feroz das visões "preconceituosas" que diziam que todo o
conhecimento relevante se resumia ao conhecimento científico e tecnológico.
Existe ainda bastante controvérsia sobre os resultados de tais iniciativas. Se avaliarmos que boa parte
delas visa, de certa forma, alavancar o potencial de contribuição intelectual dos trabalhadores, isto não
chega a ser surpreendente. Não obstante tal observação, é importante se destacar o fato desta
preocupação ter, finalmente, se tornado uma preocupação explícita e formalizada, pelo menos em
algumas grandes empresas de significativa participação no ambiente empresarial internacional.
Por outro lado, para que o conhecimento produza vantagem competitiva sustentável, as empresas
precisam gerenciá-lo de forma pró-ativa, tornando-o independente de qualquer funcionário. Isto só
acontece, de fato, no momento em que as organizações são capazes de capturá-lo através de seus
sistemas, processos, produtos, regras e cultura (Myers, 1996).
A gestão da inovação e do conhecimento assume, pois, um elevado grau de importância e relevância
para as empresas de todos os setores da economia. O conhecido estudo de Stalk & Hout
(1990), ?ompeting Against Time, mostra que a velocidade de introdução de novos produtos está
diretamente relacionada a posição de mercado, lucro e custos. Já Hope & Hope (1997), por exemplo,
destacam recente estudo de Reichheld (1996), envolvendo mais de 100 empresas intensivas em
tecnologia, que mostrou uma forte correlação entre liderança de mercado e capacidade de inovação
(quadro 8, a seguir):
A conseqüência para as empresas e países deste novo ambiente competitivo, segundo Thurow (1997), é
que quem quiser ser competitivo e, conseqüentemente, pagar altos salários, manter altas taxas de
lucratividade e elevado padrão de vida, terá que desenvolver capacidades e habilidades para participar
destas indústrias de poder "cerebral". Isto significa montar um sistema de P&D que coloque o país na
vanguarda tecnológica, ter uma estratégia educacional muito ampla e que leve em consideração que a
contribuição dos níveis mais baixos da organização, mesmo nas indústrias de ponta, é fundamental.
De fato, recente trabalho do IPEA (1997) conclui que os governos dos países mais avançados estariam
aumentando o investimento na promoção da inovação, através de políticas visando a: (i) uma rápida
identificação de oportunidades tecnológicas futuras; (ii) um aumento da velocidade na qual a informação
flui através do sistema; (iii) uma rápida difusão de novas tecnologias; (iv) um aumento na conectividade
das diferentes partes constituintes dos sistemas de C&T, para ampliar e acelerar o processo de
aprendizado.
O desafio, é bom frisar, não envolve apenas um aumento expressivo nos investimentos em P&D,
educação, treinamento ou tecnologia de informação, pois tão ou mais importante é a produtividade
destes investimentos e isto é, em boa medida, determinado pela competência gerencial (Hope & Hope,
1997) e pela capacidade de alavancar recursos escassos (Hamel & Prahalad9, 1994). De fato, em
trabalho anterior (Terra, 1992), após extensa revisão da literatura, já destacávamos a dificuldade
intrínseca em se estabelecer uma relação causal entre o volume de investimentos em P&D e
desempenho empresarial.
O trabalho do IPEA (1997), por outro lado, ao mesmo tempo que destaca que, em vários setores, os
gastos anuais em P&D das empresas líderes já são maiores que seus investimentos em capital fixo,
também alerta que a intensidade do conhecimento na produção industrial já atingiu níveis tão elevados,
que os investimentos em P&D são apenas uma parte de um conjunto de investimentos necessários para
gerar a mudança tecnológica na indústria. Em particular, as competências em engineering, baseadas,
em boa medida, em elementos do conhecimento menos padronizados e mais tácitos e associadas ao
crescimento da atividade inovativa localizada, estariam aumentando em resposta aos vários aspectos da
intensa mudança nos processos produtivos.
Finalmente, para Thurow, as empresas "mais avançadas" são aquelas que estão derrubando as paredes
funcionais e criando uma "teia impecável" entre invenção, projeto, fabricação, vendas, logística e
serviços, e permitindo que as decisões sejam tomadas nos níveis mais baixos da organização. Em função
disso, estariam mudando também as expectativas com relação à qualificação dos empregados mais
baixos da hierarquia e com relação ao papel da gerência. Espera-se que os empregados sejam muito
melhor qualificados e que a gerência, principalmente a situada no topo das organzações, seja capaz de
comunicar as estratégias da empresa, de forma que aqueles que estão nos níveis hierárquicos inferiores
possam tomar decisões alinhadas às mesmas.
Vários autores, entre os quais Tofler (1985) e Zarifian (1996), argumentam, por outro lado, que as
demandas de maior participação e cooperação forte10 não fluem do ideológico para a política, mas sim
do reconhecimento de que os sistemas atuais caracterizados por estruturas verticais rígidas, não podem
reagir eficientemente ao meio em rápida transformação. A aceleração da transformação é cada vez
maior, enquanto a complexidade e o número de variáveis técnicas, econômicas, sociais, políticas e
culturais que afetam a vida da empresa, fazem com que, para serem eficazes, as decisões devam ser
tomadas em níveis cada vez mais baixos da organização.
A despeito destas ressalvas e desafios, fica evidente, contudo, pelo exposto ao longo deste capítulo, que
a teoria organizacional e as necessidades impostas pelo ambiente têm evoluído no sentido de promover
uma crescente participação da contribuição intelectual dos trabalhadores e uma gestão pró-ativa da
criatividade, da aprendizagem e do conhecimento. Neste sentido, o quadro 9, a seguir, elaborado por
Karl Sveiby (1997), resume, a partir de modelos "ideais e opostos", algumas das mudanças que estão
ocorrendo na economia e no interior das organizações. Por outro lado, muitas das conclusões acima
sobre estruturas organizacionais, como se tentará mostrar ao longo deste trabalho, vêm sendo
desenvolvidas há várias décadas. Assim, as conclusões, recomendações e, principalmente, as
prescrições acima devem ser avaliadas e aplicadas com cuidado. Primeiro, porque, em sua grande
maioria, foram desenvolvidas nos países do primeiro mundo e, segundo, como ressaltam Fleury & Fleury
(1995), os macrocondicionantes econômicos, políticos, culturais e a própria história das organizações
condicionam a adoção de qualquer receita pronta para o desenvolvimento de uma cultura de
aprendizagem e inovação.
Quadro 9: Os princípios da Organização baseada no Conhecimento
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À medida que as empresas constroem suas "core capabilities", elas correm o risco de também estar
construindo suas "core rigidities". Isto acontece, principalmente, quando as empresas têm um sucesso
inicial, que as levam a um processo de "overshooting" e resistência à mudança. Desse modo, uma das
preocupações principais do "management" das empresas é ficar atento ao crescimento destas formas de
rigidez e buscar maneiras de contrapô-las.
Até aqui, procuramos apresentar algumas das principais abordagens sobre aprendizado organizacional,
baseadas na necessidade de mudança de comportamento e de concepção individual sobre a
"complexidade" do mundo. Outros autores, entretanto, desenvolveram trabalhos relevantes e, talvez,
mais pragmáticos que procuraram compreender o processo de aprendizado organizacional segundo
estágios contínuos, mas bem definidos, de forma análoga aos modelos de aprendizado individual.
Estas práticas gerenciais estarão sendo analisadas ao longo do próximo capítulo, pois fazem referência
aos vários pontos alí discutidos, como uso dos sistemas de informação, políticas de RH, aprendizado
através de alianças etc. Reconhecer o caráter errático e não discreto do processo de inovação, recorre a
um modelo de quatro estágios:
Geração de Idéias: o processo de inovação é sempre iniciado a partir do reconhecimento de uma
oportunidade. As organizações interessadas em estimular o processo de geração de novas idéias
deveriam trabalhar, pois, para criar condições estruturais que facilitem este processo;
Construção de Consenso: uma vez que uma idéia tenha tomado corpo, ela precisaria ser "vendida" para
a organização, isto é, nesta etapa, os inovadores ou empreendedores, precisariam de apoiadores,
patrocinadores e amigos espalhados pela empresa e principalmente nos postos mais altos de comando.
Assim, confere-se grande importância à habilidade política do empreendedor organizacional;
Realização da Idéia ou Produção da Inovação: é neste terceiro estágio que um grande número de
pessoas é envolvido para "completar" a idéia e torná-la algo concreto e tangível (pode ser um produto
físico ou intelectual).
Transferência e Difusão: finalmente o resultado da inovação precisa ser transferido para aqueles que vão
explorá-lo ou utilizá-lo no seu dia-a-dia. Um dos principais objetivos, aqui, seria o de superar o
conhecido fenômeno do "NIH - Not Invented Here"
Embora a efetividade da linearidade deste último processo já esteja, em boa medida, suplantada pelo
conceito da engenharia simultânea ou concorrente, verifica-se que, freqüentemente, a descrição dos
modelos do processo de inovação no Ocidente ainda se utilizam, em grande medida, dos conceitos de
estágios, ou seja, estão alinhados com os modelos de aprendizado organizacional apresentados no início
deste tópico.
Este modelo de Kanter reflete, ainda, de uma certa maneira, uma visão da inovação dentro do
paradigma cultural americano. De acordo com este paradigma, empreendedores heróicos precisam
arregimentar todas as forças, estratégias e táticas para sobrepujar os obstáculos impostos pela
organização burocrática. Como veremos a seguir, envolve uma descrição diametralmente oposta à do
modelo japonês.
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O trabalho de Nonaka & Takeuchi (1995), The Knowledge ?reating ?ompany, além do minucioso exame
do processo de inovação e das práticas organizacionais de empresas japonesas de destaque, conseguiu,
a nosso ver, mais do que qualquer outro, desenvolver um modelo bastante coerente, que relaciona o
processo de inovação aos conhecimentos tácitos e explícitos existentes em uma organização.
Para estes autores, o modelo ocidental reconhece como conhecimento útil, primordialmente, aquele que
pode ser formalizado, sistematizado e facilmente comunicável, ou seja, o conhecimento explícito. Já no
modelo japonês, o fato de o conhecimento ser o resultado do processamento de informações e do
aproveitamento dos insights subjetivos e das intuições de todos os funcionários, implica que o
conhecimento tácito é amplamente aceito e constitui-se no ponto de partida do processo de inovação.
Além disso criticam as teorias sobre "cultura organizacional", "learning organizations" e aquelas
baseadas em "core competences", por não apresentarem propostas ou discutirem, em profundidade,
como o conhecimento organizacional é criado no dia-a-dia das empresas, através da interação de seus
membros, e não darem a devida atenção à questão do potencial e da criatividade dos seres humanos.
De nossa parte, achamos estas críticas exageradas, principalmente, no que diz respeito às explicações
do processo de aprendizado através da interação entre as pessoas que como vimos, foram bem
desenvolvidas por vários outros autores.
As "empresas criadoras de conhecimento" seriam, pois, aquelas que criam, sistematicamente, novos
conhecimentos, disseminam-nos pela organização inteira e, rapidamente, os incorporam a novas
tecnologias e produtos. Isto, segundo o modelo destes autores, ocorreria a partir de uma espiral de
conhecimento baseada no comprometimento pessoal e em vários processos de conversão entre o
conhecimento implícito e o explícito, envolvendo desde o indivíduo até o grupo, a organização e o
ambiente. Baseados, então, na hipótese de que o conhecimento é criado a partir de vários processos de
conversão entre o conhecimento implícito e explícito, os autores postulam a existência de quatro modos
de conversão de conhecimento.
Socialização: é o processo através do qual experiências são compartilhadas e o conhecimento tácito ou
modelos mentais e habilidades técnicas são criados. Na prática da vida das empresas, ocorreria através
de atividades, como treinamento no local de trabalho, sessões informais e brainstorms, interações com
os clientes etc. Na tradição da literatura ocidental, este conceito seria próximo ao da cultura
organizacional.
Externalização: este seria o modo de conversão mais importante, porque permite a criação de novos e
explícitos conceitos.
Combinação: este seria o processo preferido no Ocidente, na medida em que se baseia na troca de
informações explícitas e no paradigma da tecnologia de informação. Envolve, pois, bastante o uso de
mídias como documentos, reuniões formais, conversas telefônicas e, também, o de redes
computadorizadas. A educação formal, da mesma maneira, se encaixaria neste tipo de conversão. É
neste ponto do processo de criação de conhecimento que surgiriam os primeiros protótipos e modelos
reais.
Internalização: este último método seria em que os membros da organização passariam a vivenciar o
resultado prático do novo "conhecimento", ou seja, desenvolveriam um conhecimento operacional.
Para que este processo ocorra, algumas condições organizacionais precisam ser satisfeitas: intenção,
autonomia, flutuação e caos criativo, redundância e variedade. Estas condições se refletiriam,
resumidamente, nas seguintes práticas gerenciais:
A alta administração desempenharia os seguintes papéis principais:
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As empresas japonesas se utilizam, por outro lado, de um intenso processo de compartilhamento de
informações baseado em equipes multidisciplinares com alto grau de autonomia e na utilização de
redundâncias (de informações, de atividades e responsabilidades) que estimulam o diálogo. Esta
autonomia das equipes, entretanto, não siginifica um papel menor para os gerentes médios no processo
de inovação.
Por fim, Nonaka & Takeuchi comparam o modelo japonês ao modelo ocidental de criação de
conhecimento. Este último se diferenciaria, principalmente, em três aspectos:
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Nossa abordagem, neste capítulo, tem os seguintes objetivos:
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Alinhamento teórico com a perspectiva individual
De maneira geral, os trabalhos apresentados neste capítulo se utilizam de vários conceitos ou analogias
advindas da perspectiva individual:
Aqueles autores, liderados por Senge, que se empenharam em caracterizar as "learning organizations",
tiveram uma grande preocupação em destacar as mudanças necessárias no comportamento humano e
na visão de mundo e da natureza humana, que estimulam e melhoram as condições de aprendizado
individual.
Os modelos "lineares" de aprendizagem buscaram formalizar o processo de aprendizagem organizacional
a partir de analogias com o processo individual. Estas abordagens são, entretanto, a nosso ver, as que
menos exploraram, de fato, as teorias relacionadas ao aprendizado individual.
O modelo japonês, descrito por Nonaka e Takeuchi, embora não qüestione o papel dos comportamentos
e posturas das pessoas, conseguiu relacionar o caráter complexo do aprendizado individual, em boa
medida, representado pelos vários modos de conversão entre conhecimento implícito e explícito
relacionados ao processo de geração de conhecimento organizacional.
Principais contribuições e síntese
Talvez seja possível afirmar que o principal mérito das teorias sobre aprendizado organizacional foi ter
colocado o processo de geração de novos conhecimentos por parte dos funcionários como ponto central
de preocupação teórica e prática nas empresas. Dessa maneira, enriqueceram interpretações sobre por
que algumas práticas gerenciais, como trabalho em equipes multifuncionais, redução de níveis
hierárquicos, estilos democráticos etc. aumentam a propensão das empresas a se tornarem inovadoras.
Além disso, achamos particularmente relevante destacar:
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A título de síntese, da mesma maneira que fizemos para a perspectiva individual (pág. 59), podemos
elencar, baseados nos conceitos apresentados neste capítulo, algumas das principais condições que
favorecem o aprendizado em grupo ou organizacional:
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O desenho organizacional que busca tornar a empresa inovadora deveria, pois, levar em considerações
todas estas condições, assim como aquelas apresentadas em nossa análise da perspectiva individual. De
fato, quando olhamos para as duas perspectivas, verificamos, como não poderia deixar de ser, muitos
pontos de contato. O quadro 11, a seguir, reflete esta "redundância":
Quadro 11: Perspectivas Individual e Organizacional sobre Aprendizado
PERSPECTIVA INDIVIDUAL (quais suas PERSPECTIVA ORGANIZACIONAL
características) (condições favoráveis para o
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A perspectiva dos trabalhadores foi avaliada através de pesquisa com gerentes de diferentes setores
industriais. Perguntou-se a eles quais as normas que eles acreditavam estar associadas à geração de
novas idéias e à sua implementação. Independente do setor industrial, os gerentes avaliaram como
importantes as seguintes normas: incentivo, tolerância e recompensa pela tomada de riscos, incentivo a
troca de informações, objetivos compartilhados e trabalho em equipe, além de elevado grau de
autonomia (o quadro 13, a seguir, contém uma lista detalhada das normas mais citadas).
Quadro 13: Normas que promovem a inovação
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4
4
1) TOMADA DE RISCOS 1) OBJETIVOS COMUNS
39 liberdade para tentar e falhar; 45 trabalho em equipe;
40 aceitação de erros; 46 desejo de compartilhar os créditos;
41 permissão para discutir idéias 47 mensagens claras;
"bobas";
48 preocupação com toda a organização;
42 desafio ao "status quo";
49 gerenciamento das interdependências;
43 não focar apenas no curto prazo;
50 flexibilidade na definição de posições,
44 expectativa que inovação é parte áreas funcionais e orçamentos.
do trabalho.
Fonte: Adaptado de O'Reilly, C. Corporations, Culture, and Commitment: Motivation and Social Control
in Organization. California Management Review, Summer 1989, pág. 15
Por fim, cada vez mais os espaços de trabalhos ou lay-out estão sendo percebidos como capazes de
influenciar a criatividade, o aprendizado organizacional e o clima para inovação nas empresas. Em
função desta percepção, várias empresas vêm transformando seus espaços físicos. Cada vez mais, os
conceitos de espaços fechados e símbolos de status relacionados à hierarquia perdem lugar para
conceitos abertos e não hierárquicos, que facilitam os contatos informais e a comunicação em todos os
sentidos.
Enquanto nas fábricas já se vêem, com mais e mais freqüência salas ou espaços para o relaxamento,
descontração ou cafezinho, em escritórios ou ambientes mais high-tech, é comum se observar espaços
absolutamente desconectados com a realidade de trabalho, como salas de ginástica, quadra de
basquete, salas de jogos e humor, salas de meditação. Os investimentos em tecnologia de informação,
por sua vez, freqüentemente superam os investimentos nos ativos imobiliários.
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Muitas das "prescrições" e conclusões da seção anterior estão, além disso, em clara sintonia com os
resultados do enorme esforço de pesquisa liderado por Collins & Porras (1994) da Universidade de
Stanford, que resultou no livro ruilt to Last. Com o intuito de compreender o imenso sucesso de
algumas das grandes empresas centenárias dos E.U.A. estes autores analisaram a evolução histórica de
36 empresas, buscando padrões e princípios fundamentais que nortearam esta evolução. As dezoito
empresas mais bem sucedidas (do ponto de vista de imagem e retorno para os acionistas) foram
chamadas de visionárias, enquanto as demais empresas foram utilizadas como um grupo de
comparação.
Isto não quer dizer que os autores tenham concluído que o sucesso empresarial esteja calcado em
ideologias semelhantes. Para eles as ideologias teriam, na verdade, um papel fundamental de guia para
a ação e de inspiração para as pessoas dentro da organização, e o que distinguiria as empresas
"visionárias" seria o fato de que, nestas, as ações de sustentação e difusão dos valores, que sustentam a
ideologia, podem ser mais fortemente observadas do que em outras empresas. Algumas das várias
maneiras como isto ocorre são as seguintes:
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Como tais conceitos de ideologia e cultura fortes poderiam, então, sustentar um ambiente propício à
criatividade e à inovação? Segundo os autores da pesquisa, paralelamente a uma cultura forte, estas
empresas, com papel destacado para a alta administração, se caracterizam por se colocar sempre em
frente a grandes, e freqüentemente arriscados projetos ou metas (ex: GE, "ser sempre o 1o ou o 2o
colocado em todos os mercados onde atua"; Motorola, "qualidade 6 sigma") e por terem o conceito de
inovação contínua institucionalizado em seus valores, hábitos e "modo de vida". Nestas empresas, isto
significa não apenas inovar em processos e produtos, mas investir, permanentemente, no
aprimoramento em um sentido muito amplo, que inclui: investimento no desenvolvimento pessoal e
profissional dos funcionários; incentivo à experimentação; e abertura para novas idéias e tecnologias31.
Kanter (1996) oferece uma outra explicação: "Success breeds success". Ou seja, na medida em que as
empresas conseguem criar um alto grau de identificação dos funcionários com a empresa, expresso em
um sentimento de orgulho, isto estimula a inovação, pois aumenta a confiança dos funcionários e sua
proprensão a assumir riscos, além de criar um ambiente mais cooperativo. Daí a importância de a alta
administração conferir prêmios e reconhecimentos públicos a ações inovadoras, pois manda uma
mensagem não apenas para aqueles que os recebem, mas para toda a empresa.
No que se refere, especificamente, à importância do estabelecimento de um ambiente onde exista
grande nível de confiança entre empresas e funcionários, achamos interessante retomar, mais uma vez,
as discussões sobre learning organizations. Sem um elevado patamar de confiança entre empresas e
empregados, não se pode esperar que as pessoas compartilhem seus modelos mentais, experiências e
informações (Argyris, 1977 e Senge, 1990, entre outros) e sejam abertas e autênticas (McGill & Slocum
, 1993; Steiner, 1995, entre outros) - fatores fundamentais para a realização de aprendizados
complexos, que questionam e modificam a realidade.
As empresas, em ambientes muito dinâmicos, deveriam buscar pessoas - inclusive para a alta
administração - que não aceitam o "status" e que são diferentes do tipo de pessoas no poder, ou seja,
têm outros valores, formação educacional, experiências, enfim, outro managerial frame. A alta gerência,
em particular, deveria assumir uma atitude de curiosidade e humildade.
As empresas com melhores resultados econômicos e também as mais inovadoras seriam, então, aquelas
com estilo progressivo - ao contrário de tradicional - e com estratégia bem focada - ao contrário de
dispersa. Dessa maneira, o papel da alta administração das empresas não inovadoras seria,
principalmente, o de modificar as variáveis acima que definem o estilo organizacional e a orientação
estratégica no sentido de trazê-las para uma posição progressiva e focada.
Por fim, uma abordagem mais contingencial vem ganhando espaço na literatura, principalmente, quando
o foco é a gestão de projetos de inovação em pequenos grupos. Segundo a abordagem contingencial,
diferentes fases do processo de inovação requerem diferentes estilos de liderança, ou seja, o estilo de
liderança, para se gerar idéias relevantes é diferente do estilo adequado para a discussão,
implementação ou rotinização da idéia escolhida. O quadro 13, a seguir, torna este conceito mais claro
ao descrever o comportamento gerencial associado a cada estilo de liderança por fase do processo de
inovação.
Quadro 13: Modelo contingencial de liderança em grupos para apoiar o processo de inovação
Fonte: traduzido de King & Anderson (1995): Innovation and Change in Organizations, Routledge,
London.
Logicamente, a alta administração não tem seu papel de liderança restrito aos aspectos culturais e
estratégicos discutidos nestas duas últimas seções. As questões-chave e as diretrizes centrais dos
próximos tópicos também são, normalmente, associadas, embora de forma menos "pessoal", ao
posicionamento da alta administração.
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Este trabalho tinha como objetivos iniciais a elaboração de um mapa cognitivo das várias abordagens
relacionadas ao tema Gestão do Conhecimento e a análise destas práticas de gestão no universo das
empresas brasileiras. Ambos os objetivos, acreditamos, eram bastante desafiadores: o primeiro, em
função da amplitude da literatura relacionada ao tema e da conseqüente dificuldade em se estabelecer
limites, inter-relacionamentos e fronteiras entre as várias disciplinas e abordagens; o segundo, por
buscar analisar, por meio de métodos quantitativos e de ampla amostragem, vários aspectos "soft" da
gestão do conhecimento, que têm sido tratados pela literatura quase que exclusivamente por meio de
estudos de casos.
Uma vez realizado este esforço, chegamos a conclusão que o tema Gestão do Conhecimento tem bases
sólidas em várias abordagens distintas e complementares. É nossa convicção, ademais, que o recente
foco da literatura nos processos geradores de conhecimento (de valor) representa, de fato, um avanço
na teoria organizacional, visto que conseguiu evidenciar, com maior ênfase, como diversas práticas
gerenciais e de organização do trabalho estão associadas a processos individuais e coletivos de criação,
aprendizado e inovação . O tratamento mais analítico, entretanto, de suas principais questões continua a
representar importantes desafios.
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