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Brasília, Setembro, 2010


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 hisando compreender o conceito de opinião pública , chego logo deste


ensaio(?) ao conceito de homem -comum. Uso este termo na sua mais profunda
intenção cunhada, num momento de indignação extremada, pelo psicanalista que
trabalhou com Freud, Wilhelm Reich ; ou seja, o homem-comum pode ser lido aqui
como o homem de consciência moldada pelas instituições , que delas incorpora um
caráter , para Reich, uma doença. Será dado como premissa que o homem de
consciência reificada, como compreende Theodor W. Adorno no específico capítulo de
seu livro Dialética do Esclarecimento, capítulo intitulado Indústria Cultural: O
Esclarecimento como mistificação das massas, é este mesmo homem-comum ou Zé
Ninguém de que trata Reich. O psicanalista expõe severas críticas à esse sujeito da
sociedade que, pretendendo -se defensor dos bons costumes, ou da família como
constituida pelo ³certificado de casamento´ , é entretanto incapaz de se auto -analisar,
preferindo incessante mente criticar os novos valores ou idéias, ao invez de reformular
sua própria moral. hárias passagens de ambos autores levar am-me à essa
aproximação, e é com a exposição delas que tentarei justificar -me.

Essas instituições serão trabalhadas pela perspectiva de Adorno, em suas


compreensão do que seja a indústria cultural . O sistema capitalista é para ele e
Horkheimer o enformador de uma cultura moral específica, que defini -se pela
acumulação de riquezas aos bolso dos grandes industriais, e o mecanismo de
interiorização dos valores culturais foi por eles compreendido por meio da indústria
cultural, que enfim, regulamen ta o que deve ou não ser desejado, e assim consumido.
No consumo defini-se, portanto, os interesses, e sendo esses equivalentes ao dos
grandes capitalistas, todo o sistema social é controlado pelo viéz de manipulação do
interesse das massas.

As massas, assim condicionadas, acabaram por desenvolver o que Reich


chama de peste emocional . De fato, ele nos diz Xoje, como cientista e psiquiatra, sei
ver que és doente e perigoso na tua doença. Aprendi a reconhecer o fato de que é a
tua doença emocional que te destrói minuto a minuto, e não qualquer poder exterior.
á muito já que terias suprimido os tiranos se estivesses vivo e são no teu íntimo.´
(REICH, p. 31). Esse ensejo tentará perceber que o homem -comum é fruto de uma
doença histórica, a peste emocional, e que na nova era da indústria cultural tornou -se
o padrão mental da sociedade, devido a interesses econômicos e políticos maiores
que violentamente tornaram-no esclarecido.
Esse conceito, peste emocional, que não poderá ser abordado aqu i em toda
sua completude, parecia entrentanto crucial para entender a conduta moral específica
desencadeada pelo homem -comum, esse Zé Ninguém condicionado , que tanto se
disfarça a ponto de se auto-mutilar; o homem bastardo das instituições que o
abandonaram depois de o terem extorquido; que maltrata e difama
incondicionalmente, b astando para isso uma divergência qualquer perante seus
próprios pontos de vistas. Esqu ece-se, evidentemente , que tais pontos de vista nada
mais são exceto sua própria doença, fabricada por esta indústria de forma tão precisa
e sufocante que macula -se sob a forma de patriotismo e consumismo.

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Existe um fato aparentemente incontestável: A opinião pública ³ nada mais é


que o total de todas as opiniões de todos os homens e mulheres ditos comuns .´
(REICH, p.101). Essa, que aparece como uma evidente proposição , alude à este tipo
de ser humano específico, tachado como comum, ou que é dizer o mesmo, ³médio´,
pois a opinião pública não apresenta vínculos com a verdade dessa ou daquela
afirmação ou conduta, mas retrata apenas u ma não tão virtuosa característica: o bom -
senso da classe média. A opinião pública, dessa forma, diz respeito a e sse homem-
comum, que como veremos melhor é incapaz de possuir uma opinião verdadeiramente
sua. É o homem de caráter duvidoso. Na Dialética do Esclarecimento de Adorno e
Horkheimer, este tipo aparece como a consciência reificada, ou a personalidade
abstrata, o homem da ³sociedade alienada de si mesma´ (ADORNO, p. 100) ; e em
Reich é lido como o Zé Ninguém , aquele que fala somente por ser dotado desta
técnica, não por ter algo a dizer , um homem doente emocionalmente falando . O Livro
de Reich, Escuta, Zé Ninguém!, retrata um esteriótipo desse cidad ão, o dito homem
pequeno que

³não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê -la;


que procura mascarar a sua própria tacanhez e estreiteza de
vistas com ilusões de força e grandeza alheias. Que se orgulha
dos seus grandes generais mas não de si próprio. Que admira
as idéias que não teve mas nunca as que teve.´ (REICH, p. 23)

É o homem qualquer que não se sente devidamente capaz. Sequer apercebe -


se de seu poder enquanto um ser vivo pulsante, de sua capacidade de tomada de
decisões sérias, e quando imbuido de comprometer-se com o valor que a opinião
pública possui, estremece e chora, como quando assiste à uma cena de seus filmes
de entretenimento. No fim, não quer ser detentor da opinião pública, é pesada de
mais. Sabe que da opini ão pública advém responsabilidades enormes, os rumos de
seu país, talvez? É um patriota, mas recoberto de medo, busca esperanças em algo
pronto, justamente, portanto, naquilo que a sociedade já filiou-se antes de si, na
ciência ou nos jornais, pede que chamem-no ³homo normalis´.

³Na tua degenerescência, Zé Ninguém, ousas considerá -


lo como ³anormal´ o homem simplesmente reto, pois que o
comparas contigo, o protótipo da ³normalidade´, o ³ homo
normalis´. Ao medi-lo com a tua medida estreita não lhe
encontras as dimensões da tua normalidade. ´ (REICH, p. 33)

Sequer sabe dar valor aos homens que buscam compreender esse seu es tado
doente de ser, os homens retos, comprometido com a verdade e a natureza de sua
doença e da vida. O homem a que chamas ³genial´, mas se e somente se muitos
outros Zés Ninguéns também o chamam. Reich nos diz que esse traço moral é
portanto uma doença que se reflete em massa, uma peste, uma peste emocional . E
quando, no livro, refere -se ao assunto, é com desgosto que vê um homem incapaz até
mesmo de reconhecer os que buscam tratá -lo, os que diferentemente de seus lí deres,
intenta apenas diagnosticá -lo, pois vê no homem-comum uma doença de caráter a
prejudicar toda a sociedade.

³Nem sequer entendes que existem homens e mulheres


incapazes de suprimir -te ou explorar-te e que genuinamente
desejam que sejas livre, real o verdadeiramente livre. Nem. te
agradam, porque são de outra natureza. ´ (REICH, p. 32)

Seu comportamento foi assim condicionado para que não seja um home livre .
Ele é só um homem-comum, por ser um homem de opiniões comuns. O homem que
renuncia seu poder metafísico de expressar uma opinião própria e que tenha sentido -
necessariamente fruto de reflexões prévias para as quais não tem tempo em seu
serviço de burocrata público -, que possa engajar mudanças, e não conservadorismo.
Entrega as decisões às mãos de ³homens-superiores´, seus políticos, colunistas ou
locutores de programas favoritos que admira sem nem saber porque. Se indagassem-
o sobre qualquer assunto, poderia facilmente responder sem pensar: ³Sou da mesma
opinião de todos´ -, e não cansaria de se repetir, alternando o tipo de seus argumentos
com exemplos ora quotidianos, ora econômicos, achando estranho, e como tudo que
diverge de seu umbigo, demasiado absurdo, o questionador também não ser da
mesma opinião de todos.

Uma conduta moral específica deriva deste homem-comum. Seu


comportamento, ou caráter, seguindo os moldes de sua opinião, torna-se idêntico ao
de todos que vivem conforme si. Esta padronização é reflexo d e suas consciências
reificadas que, como tais, objetificam as relações sociais. A identidade de suas
opiniões é, portanto, a identidade da opinião que lhes é forçadamente destacada das
outras, ou como diria Marx, ³O pensamento da classe dominante é o pensamento
dominante´. Na era da indústria cultural, todo Z é Ninguém é um empregado . Seja no
trabalho ou nas idéias.

³A possibilidade de tornar -se sujeito econômico, um


empresário, um proprietário, está completamente liquidada (...)
Todos tornaram-se empregados e, na civilização dos
empregados, desapareceu a dignidade (aliás duvidosa) do pai´
(ADORNO, 127)

Podem ser empregados de empresas grandes ou pequenas. Este caráter


evidencia-nos um traço do Zé Ninguém, esse pai, a saber, que é fruto de uma luta de
classes historicamente constituida, de tantas teias que torna-se difícil ver à primeira
vista a que da sustentação geral: a servidão condicionada! É esse o mal do Zé
Ninguém.

³Aquilo que acontece a todos por obra e graça de poucos


realiza-se sempre como a subjugação dos indivíduos por muitos:
a opressão da sociedade tem sempre o caráter da opressão por
uma coletividade ´ (ADORNO, p. 35)

Todos os outros Zés Ninguéns causam-lhe medo, o oprimem. Tanta mídia nos
jornais também. A sociedade, em geral, como essa ³ unidade de coletividade e
dominação ´1, exerce seu poder fuzilador de coerção social, incorporado desde os
primórdios por meio da linguagem, que ³conferia ao que era dito, isto é, às relações de
dominação, aquela universalidade que el a tinha assumido como veículo de uma
sociedade civil.´ 2 É a diária fiscalização dos gestos e opiniões , de cima para baixo e de
baixo para cima, dentro da sala de aula ou no escritório. Em casa. Esses homens,
alguns possuem uma família. É claro que com ³certificado de casamento!´. Se não a





possuem, mantém relações com uma ou outra Maria Ninguém qualquer com quem se
entretêem às vezes, pois sua moral é tão variante quanto sua opinião. Reich chama a
atenção à esse traço permanente do Zé Ninguém, com a frase igualmente grafada à
seguir: ³A INCONSISTÊNCIA DO TEU COMPORTAMENTO.´ (REICH, p. 34). Alguns
tem ações, outros empresas próprias. hivem todos em função de um fim: a inveja
alheia. Suas rotinas lhes trazem frutos: mercadorias. Como Zé Ninguém bem
condicionado, a compra de tais mercadorias, aparentando-lhe favorecerimento na
busca por sobrevivência, a tópica da autoconservação inerente ao conceito de
esclarecimento, exerce-se de forma tão coercitiva que deixar de trabalhar torna -se
indício de vagabundagem ulteriormente para si. Interioriza a vigilância. A única
consequência capaz de perceber, o que por isso mesmo tornou -a tão admirável e
enfeitiçada, é a consequência do ³ reconhecimento por parte dos outros Zés
Ninguéns´.

³nunca te inquietaste com a possibilidade do que pensas


estar errado, mas sim com o que iria pensar o teu vizinho ou
com o preço possível da tua honestidade. Foram estas as
únicas questões que pus este a ti próprio.´ (REICH, p. 34 )

Entretanto, esse homem de conciência abstrata , que diz ³quem sou eu para ter
opinião própria´, jamais compreenderia que as mercadorias só aparentam-lhe
favoráveis na busca por sobrevivê ncia na medida em que ele foi eficazmente
produzido (condicionado) para enchergá -las assim, de forma que a multiplicidade de
consequências outras, que não o reconhecimento por parte de homens também
devidamente condicionados, permanece obscura para sua compreensão limitada, tão
castigada pelas milhares de violentas pancadas que teve de receber para tornar -se tão
adaptado... ou esforçado. Sua adaptação, ou reificação, faz parte de um processo
histórico de violência contra o indivíduo , onde a abstração do eu corresponde à
abstração dos objetos por ele experienciados , na vitrine. A ausência de sentido
inerente, condição de entendimento dos ³fatos que desfilam velozmente diante de
seus olhos´ (ADORNO, p. 105) nos cinemas, é já pré -determinada pelo esquematismo
kantiano dos catálogos e classificações da indústria cultural, que eliminam assim
qualquer diferença entre universal e particular, ³sujeito e objeto tornam -se ambos
nulos´ (ADORNO, p. 38). É o esquematismo de Kant assim adaptado o primeiro
serviço prestado pela indústria cultural. Evita qualquer necessidade de esforço de seus
consumidores no ato de compra, pois tudo já está devidamente hieraquizado, a
³multiplicidade empírica´ devidamente categorizada de forma válida universal e
objetiva.
Mas o Zé Ninguém jamais compreenderia. Faz o oposto, isso sim. Reclama o
direito a seus bens como decorrentes do esforço empenhado por si. No suor em sua
camisa exibe seu caráter, um trabalhador! Acostumar-se ao ritmo de trabalho foi em
suma seu primeiro deslize. A média de oito horas por dia, durante seis dias por
semana, como dá-se no Brasil, foi tão bem acatada pois h á no Zé Ninguém uma
ambição cientificamente trabalhada . Produziu-se consumidores, aos moldes da
Industria Cultural - pessoas insatistisfazivies. Os produtos que buscam, que sempre
apresenta-se sob a forma de mercadorias da indústria cultural , possuem aqui papel
fundamental. Sem uma indústria, no sentido fabril e técnico do termo, não haveria
padrão quanto à opinião, e esta não seria portanto pública. É a formação de uma
cultura de pontos de vista, uma cultura dócil, o que está em jogo. Aceitação é o
condicionamento buscado. A conduta moral específica do homem comum é sempre
conformada. Entretanto,

³o que não se diz é que o terreno no qual a técnica


consquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os
economicamente mais fortes exercem sobre a socie dade. A
racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria
dominação ´ (ADORNO, p. 100).

Há um circulo de interesses no qual situam -se os produtores e diretores gerais


do que existe no mercado mais amplamente difundido, o mercado de acesso às
massas. Os interesses econômicos, dos mais diversos ramos, tem vinculos diretos,
como nos informa Adorno, com os interesses dos indústriais do aço, petróleo,
eletrecidade e química, ramos de desenvolvimento que norteiam as atividades
econômicas fundamentais. Assim,

³a dependência em que se encontra a mais poderosa


sociedade radiofônica em face da indústria elétrica, ou a do
cinema relativamente aos bancos, ´ (ADORNO, 101)

pode ser vista em qualquer dos outros produtores da industria cultural, pois sua
influência, apesar de precisa e científica na formação da mentalidade do homem -
comum, permanece dependente dos interesses mais altos, dos pólos que circulam
mais dinheiro pela sociedade.

Esses produtos, altamente bem acabados, em conjunto com suas liquidações


diárias e financiamentos inesgotáveis para os mais caros , tornaram-se assim
encantadores aos olhos do homem -comum. Evidentemente que não só do homem de
classe média que vive a indústria cultural, pelo contrário, ela busca espalhar -se e, em
todas as casas encontram-se vesquícios seus. A variabilidade de produtos
homogêneos garante sua eficá cia. As diferenças entre os produtos , a ³hierarquia de
qualidade´, restrinje-se ao caráter fenomênico, e

³serve apenas para uma quantificação ainda mais


completa. Cada qual deve se comportar, como que
espontaneamente, em conformidade com seu level , previamente
caracterizado por certos sinais, e escolher a ceteg oria dos
produtos de massa fabricada para seu tipo.´ (ADORNO, p.102)

O homem assim adaptado ao que se-lhe oferece de bande ja, encontra na


Indústria Cultural amparo para seu vazio, sua eterna insatisfação. É ela quem, pelo
aprimoramento técnico da definição do público alvo, conceito midiático por exelência,
aumenta assim suas vendas, o que requer o respectivo desejo ao produto na
consciência individual de cada comprador. É esse desejo calculadamente planejado,
em qualquer dos ramos de entretenimento. Em síntese, calcula-se como enfeitiçar o
produto, para que determinada classe social o compre , e utilizando-se das mesmas
técnicas em maior ou menor escala, com maior ou menor grau de aperfeiçoamento
computacional, de exuberância, de planejamento de cores, de adaptação do roteiro ,
para que determinada outra clas se social possa igualmente sentir -se viva e gastar seu
dinheiro com outro produto da mesma empresa destinado ilusóriamente a seu tipo de
pessoa. O fetichismo da mercadoria passa a ser calculado pelos segundos nos
comerciais, pelos horários menos ou mais nobres da televisão. Ser capaz de satisfazer
plenamente, por quanto menos tempo lhe for favorável, fazer com que o homem -
comum saia do cinema estupefato, mas queria voltar na semana seguinte , que compre
o carro do ano, mas troque -o no seguinte. Que assista novelas, seja a das 14h, das
16h, das 19h ou das 21h e 15m. Alguma satisfará a dona de casa, outra a jovem etc.
Mas nunca é algo flamejante, nunca traz uma experiência televisiva inesquecivel e
enriquecedora, salvo o esperado último episódio. A trama toda é simplesmente é
desentediante. Essa insatisfação, encontra -se na semelhança com o real. Quanto
mais superficiais forem as inovações dentro de um ramo específico da indústria
cultural (o que se mantém até que a tecnologia atinja um grau de aperfeiçoamento
técnico que uma inovação totalmente diferente lhe traga ainda mais lucros , o caso do
cinema em três dimensões que atualmente substitui o cinema sonoro, ou do telefone
fixo para os celulares etc.), mais facilmente ela prende seus consumidores, pois torna
a recepção de seus produtos de fácil ass imilação, pela técnica da nostalgia ao
habitual, ou dito de outra forma, naturaliza -se à uma total ausência de sentido que
tornando-se supérflua torna -se desentediante, seu final último.

³Eis aí o ideal do natural neste ramo. Ele se impõe tanto


mais imperiosamente quanto mais a técnica aper feiçoada reduz
a tensão entre a obra produzida e a vida q uotidiana.´ (ADORNO,
p. 106)

Ao fim e ao cabo, é o quotidiano o que tornou -se banal. Pouco mais foi preciso
fazer além de igualar o dia -a-dia, a totalidade das relações sociais, de certa forma
condicionado por essa indústria, aos mesmos produtos que ela oferece . A tendência
geral da Indústria Cultural é de sumir com as diferenças entre o filme em três
dimensões e o lugar real onde foi fi lmado. Impressionar como magia.

Entretanto, passar filmes em casa por meio de projetores tornou -se


relativamente simples para o bom consumidor, e o mesmo vem acontecendo com
cada um dos produtos de massa, tornando-se aparentemente totalmente pessoais. A
indústria Cultural Contemporânea está realizando -se de forma idiossincrática a cada
um de seus compradores. Seja na interface do Smartphone ou no Fiat Uno de cor
exótica, a tendência geral é a aparente personificação de cada mercadoria. Foi -se o
tempo em que o homem -comum contentou-se com a magia do cinema, ele o quer em
casa, com todas as características, para que possa assistir em paz e sozinho, sem ser
interrompido pelo joelho no encosto da cadeira, ou pela cria nça que chora
intermitentemente na obsruridão do cinema. Os traços desse Zé Ninguém vão mais
uma vez delineando -se. A reclusão e a objetificação das relações sociais é inevitável.
A internet surge como uma plataforma de entretenimento praticamente perfeita nesse
sentido. Sua linguagem, que é onde se manisfesta o total domínio dos produtos
capitalistas da indústria cultural, pois a linguagem, constituindo -se de símbolos, possui
em si a representação do produto, é a mais idiossincrática já alcansada. Ainda que a s
vinhetas tenham tenta do variar a apresentação dos produtos condicionando os
ouvintes aos horários de seus programas preferidos, obtendo assim clientes pela
publicidade intensiva, a internet está livre de compromisso com horário, podendo ser
acessada imediatamente ao sítio de preferência. E o mesmo dá -se nos canais de
televisão paga. A mídia intensiva ocorre, apenas para definir -se os sítios e canais
preferidos, que mais uma vez serão, principalmente no caso da Th por assinatura,
delimitados como num catálogo. As barras de navegação já são delimitadores de
acesso. Lembrar-me que gosto deste ou daquele sítio, mante -lo como página ome. A
linguagem assim produzida industrialmente, retrata a mais alta competência do
produtor, é a

³capacidade rara de satisfazer minunciosamente as


exigências do idioma da naturalidade em todos os setores da
indústria cultural ´, (ADORNO, p. 106).

Ela retroage assim diretamente sob a opinião pública, ponto de vista


massificado e coletivo, maniazinha de entender de tudo e intrometer -se sem
escrúpulos sob assuntos que pouco compreendem, e é contabilizada sob d iversos
modelos de apreensão. A opinião pública é percebida nos tribunais, nas votações,
ingressos vendidos e número de acessos no Google sobre assuntos díspares, enfim
estatística. Quem é a opinião pública? A coletividade de homens adaptados e
homogêneos, servindo-se todos às mesmas bandejas, fundamentalmente, aqueles
que já serviram-se e empanturraram-se. A massificação de opiniões é o papel da
Indústria Cultural. Esse homem, sem opinião própria, incorpora para isso a linguagem
dos cinemas e das propaganda s ao seu próprio vocabulário. A violência com que
exerce tal investida é a marca da Indústria Cultural. Não há tempo para pensar, não há
detalhe perdido no filme, não há notícia que se discuta, não verdadeiramente. O que
se informa na televisão é nada mais do que o esperado. Os canais de televisão
abertos, aparentemente gratuitos, cobram nossas mentes em troca. ³Assista -me, mas
pense como nós´, é o que parece dizer a Globo , ou o SBT. E se não pensamos,
sucumbimos,

³quem não se conforma é punido com uma impotência


econômica que se prolonga na impotência espiritual do
individualista´ e assim, ³ele se contenta com a reprodução do
que é sempre o mesmo ´ (ADORNO, p.110).

Não há espaço para o novo. Talvez seja esse o traço que mais aproxima o
Brasil de uma política liberalista. Temos em nosso sistema de cultura o mesmo modelo
norte-americano da reprodução mimética do quotidiano e aquilo que se apresenta
como arte. Nem arte mais pretendem verdadeiramente ser, compreendem -se como
negócio. A cultura, em nosso p aís, tornou-se sinonimo de propaganda. A cultura
popular, os cantos e marchinhas, as músicas que se pretendem originais,
permanecem tão afastadas do pó lo econômico que sequer o fazem cócegas. O
sucateamento de nossos cinemas regionais, ou da televisão que se pretenda diferente
e interativa, com conteúdos voltados para um público não massificado, são em geral
de tão baixa quali dade, que desagradam a todos que há muito demasiado sofrem com
o estilo indústrial permanentemente apresentado, seja nos outdoors , na Veja ou nas
confortáveis salas do Cinemark. Adestraram nossos sentidos justamente por
imperarem sobre eles de forma técnica e cientifica. A harmonia encontrada, a trilha
sonora escolhida a dedo por centenas de funcinários, e tudo o mais que componha
ponto a ponto os produtos culturais da massa, desejam não apenas sua preferência,
mas sua ogeriza perante o diferente.

O caráter de entretenimento que revoga para si fundamenta -se no ócio. O


homem-comum e a mulher-comum encontram-se suficientemente distraidos d entro de
uma sala de cinema, ou em frente à uma novela Global, pois estão totalmente
integrados ao sistema trabalhista igualmente massificador.

³A diversão é o prolongamento do trabalho sob o


capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer espacapr ao
processo de trabalho mecanizado, para se pôr de novo em
condições de enfrentá -lo´ (ADORNO, p.113)

Enfrentar o trabalho, eis o fundamento da diversão. Diversão, que do latin vem


de divergir, distrair, ou seja, mudar o foco. Expressão inicialmente utilizada na guerra,
visando distrair o inimigo. O inimigo nada mais é que o próprio capital, que nos distrai
de sua condição alienadora, para que possamos com ele fazer as pazes e ceder-lhe
vida. Em estado de ócio, a idústria cultural requer muito pouco para que p ossamos rir,
ou se emocionar, pois estamos já previamente condicionados pelos seis dias de
trabalho precedentes a este domingo em famíl ia. Ademais, estamos condicionad os
pela própria forma de entretenimento, já que tantos foram os domingos precedentes,
ou os mesmos filmes alugados na Blockbuster. Aquele esforço, que foi um dia
requerido para se compreender o filme , deixa de ter importância, tal que os finais são
sempre os mesmos, e mais importa os efeitos especiais do que um belissimo trabalho
de um roteirista. Não obstante, a mesmice é tão evidente que podemos começar a
questionar seu real potencial de entretenimento.

³O prazer acaba por se congelar no aborrecimento,


porquanto, para continuar a ser um prazer, não deve mais exigir
esforço e, por isso, tem de se mover rigorosamente nos trilhos
gastos das associações habituais ´ (ADORNO, p. 113)

A indústria cultural, que visa portanto ser enfadiça, desentediante, exerce esse
poder por meio da mecanicidade de apresentação de seus trailers, por meio duma
mutilação dos impulsos sexuais, transformando -os todos em pornografia. A mais bela
moça apresentada nesta seção de domingo , a mesma do filme retrasado, agora veste
um biquine brasileiro, enquanto outrora desfilava num D&G apresentado no último
desfile de moda internacional. É no desejo de ver mercadorias que o cinema se
mantém. O óculos de sol do galã que conquista a mocinha, sua casa de vidro e seus
dois carros na garagem, é isso que desperta o impulso para se amontoar em filas. Os
Best Sellers nada mais representam senão um desejo sexual por ver mercadorias que
dizem conquistar uma noite com um vampiro ou com a bela moça. O Zé Ninguém vai
assim se delineando, um homem de opiniões comuns, moldado pelas mídias e
indústrias privadas ou seja, por interesses dos ditos ³homens -superiores´. Os valores
que defende, utilizando -se de brados eufóricos se necessário, entretanto nada mais
são além do reflexo permanentemente retroativo de sua própria mentalidade,
condicionada tecnicamente por modelos de e ntretenimento de massa. Sua doença se
agrava à medida em que não mais consegue olhar críticamente para nenhuma dessas
instâncias. Situando-se portanto perante o mundo de forma identica à artificialmente
apresentada, acaba padecendo de ³ peste emocinal, o nú cleo da difamação, da intriga,
da inquisição abusiva´ (REICH, 98). Esta doença, como Reich a identifica, seria
portanto de todo homem -comum. É que o Zé Ninguém recebe de braços abertos a
indústria cultural como conduta a ser seguida, e faz dos interesses d os produtores
seus próprios interesses, levando assim uma vida mesquinha e ilusória.

A retomada de consciência por parte do Zé Ninguém é constantemente


defendida por Reich, que entende, entretanto, que tal cura só poderia se concretizar
quando o indivíduo apercebe-se a situação em sua completude. A doença de que
padece, é produto de homens ainda mais mesquinhos que si, pois vindos da mesma
situação de miséria de vida em que permanece o Zé Ninguém, aproveitaram -se
apenas desse conhecimento, para assim do minar imperiosamente. Reich assim diz:

³A única coisa capaz de conquistar -te será o teu sentido


da pureza, a tua aspiração à verdadeira vida ± e quanto a isso,
não tenho a menor dúvida. Uma vez superada a tua
mediocridade e mesquinhez, começarás a pensar ± de início,
sem dúvida, errática, ridícula e erroneamente, mas pensarás
com seriedade.´ (REIC, p. 98)

O livro Análise do Caráter , também de Reich, traz a idéia de que sem o


rompimento de couraças que nos revestem energéticamente, o caráter pessoal
permanece inalterado. Portanto, é na movimentação da bioenergia, ou orgone, que um
homem-comum passa a ser um homem livre.


)     

Dialética do Esclarecimento , Theodor W. Adorno e Horkheimer - 1969

Escuta, Zé Ninguém!, Wilhelm Reich ± ed. Martins fontes, 1982



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c   *

A sociedade vive, em torno de uma Socorro é o grito, que se escuta no


idéia / De que o progresso vale, os silêncio / Desalento de um povo , em
centavos de sua miséria que a virtude é o bom -senso

Sustentados pela mídia, vivendo de Nesse mundo o felizardo , é quem


esperança / A indústria cultural, se morar em Nova-York / mas se não
alimenta de crianças nascestes lá, tem que contar com a
própria sorte
Embasada em preceitos, torpes e
inadimisciveis / É a nova educação, Propaganda é badulaque, para o
desse tempo em que tu vives comprador da massa / Que se encanta
ao ver as tiller-gilrs, dançando o
Enfeitiçando os cinemas, e toda a mesmo passo
televisão / Transformaram o conceito,
do ócio em diversão Todos sabem não há negócio , mais
rentável que enganar / segredo
Distraindo o seu foco, daquilo que lhe capitalista, fazer comprar sem pensar
apraz / Dizendo que existe arte, naquilo
que vende mais +  .

Mais ai eu te pergunto: e os Os recursos tão escassos, mas não


intelectuais?! / Querem ver as suas tem que preocupar / nós já fomos pro
obras best-seller mundiais espaço, agora é colonizar

+,-. A burguesia fede , Fede a ...Marte +/-.


hipocresia / A burguesia fede , como
cazuza dizia +/-.

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