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revista semestral de pesquisa, ensino e extensão do CAp-UFRJ

nº 2 - Ano 2
distribuição gratuita - não pode ser vendido

Aula de teatro
é ou não é teatro?

Caiu o ministério!
o Brasil do século XIX em cena

Inspetor ou assistente? Entrevista


Um profissional em busca de uma identidade com Sérvula Paixão,
ex-diretora do CAp-UFRJ

TDAH: Iniciação Científica Jr.


atenção nesta sigla
no CAp-UFRJ

Alunos e licenciando constroem um O que significa


termômetro eletrônico ângulo?
5 Entrevista
Sérvula de Souza Paixão
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Maira da Costa 11 Artes Cênicas
...... Fazer Teatro e fazer aula de Teatro
EDITOR por Celéia Machado
Beto Pimentel
......
Universidade Federal do Rio de Janeiro
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
Maria de Fátima Galvão 15 Matemática
...... Olhando por Outro Ângulo – a
Reitor
Aloísio Teixeira
PRODUÇÃO GRÁFICA produção de significados para a noção de
Raphael Borges
Vice-reitora Jandê Saavedra Farias ângulo
Sylvia da Silveira de Mello Vargas Estêvão Sarcinelli por Daniella Assemany
......

19
FOTOGRAFIA
Pró-reitor de Graduação
José Roberto Meyer Fernandes Silmar Marques NICJr.
......
REVISÃO
O Núcleo de Iniciação Científica Jr. do
Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
José Luiz Fontes Monteiro Teresa Andrade CAp-UFRJ
...... por Vicente de Paulo Batista, Ana Paula Penna,
Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento APOIO Elisa Caris, Fernanda Guinemer e
Carlos Antonio Levi da Conceição Malu Rocha, Fábio Garcez, Sandra Rodrigo Gonçalves
Bragatto e Rísia Coelho (DALPE)
Pró-reitor de Pessoal
Luiz Afonso Henriques Mariz
Márcia Carnaval e Patrícia Perez
(Assessoria de Comunicação da 23 Construindo Pontes
Reitoria da UFRJ) Caiu o Ministério!
Pró-reitor de Extensão ...... por Alessandra Carvalho, Mariana Oliveira e
Laura Tavares Ribeiro Soares IMPRESSÃO Vitor Acselrad
Gráfica da UFRJ
Centro de Filosofia e Ciências Humanas TIRAGEM
3.000 exemplares 29 Na Prática
Decano ILUSTRAÇÃO DE CAPA Termometria através do computador
Marcelo Macedo Corrêa e Castro
Jandê Saavedra Farias por Bernardo Medina
......
Colégio de Aplicação CONSULTORES TÉCNICOS
Diretora Geral Maria Lucia Pupo (Artes Cênicas)
35 Opinião
Celina Maria de Souza Costa Victor Giraldo (Matemática) Assistente ou Inspetor?
Marly Motta (História)
por Esmeraldino Sardinha
Vice-Diretora Deise Vianna (Física)
Miriam Abduche Kaiuca Márcia Serra (Prática de Ensino)

Diretores Adjuntos de Ensino


39 Sem Fronteiras
Angela Alves da Fonseca
O Transtorno do Déficit de Atenção e
Marcelo da Silva Bueno Hiperatividade
Mario Jacinto Ferraro Junior por Monica Lavoyer
Rowilson Aparecido da Silva

Diretores Adjuntos de Licenciatura, Pesquisa e Extensão 43 Resenha


Fábio Garcez de Carvalho Identidades Fragmentadas
Maria Luiza Mesquita da Rocha por André Ricardo Nunes, Flávia Gonçalves e
Priscila Corrêa.

44 Notas
Aconteceu no 2º semestre
Caro Leitor

entrevista
O primeiro número de PERSPECTIVA teve uma excelente acolhida. Em nome de toda a equipe agradeço todas
as manifestações de apoio e votos de continuidade que recebemos desde o lançamento da revista. E pelo visto a
torcida funcionou, pois aí está o número 2 de PERSPECTIVA bem em suas mãos.
Sérvula Paixão
E com novidades! Agora a revista tem quatro páginas a mais. Recebemos um bom número de contribuições de
artigos e optamos por ampliar nosso espaço. Além disso, a revista agora está acessível pela internet na página
www.cap.ufrj.br/perspectiva.html.

Temos ainda o orgulho de apresentar a nova seção Na Prática, que mostrará trabalhos desenvolvidos por
licenciandos no quadro de suas Práticas de Ensino. A seção é inaugurada por Bernardo Medina, licenciando de
Física, que ao longo de 2005 fez seu estágio no CAp-UFRJ. No final daquele ano, sob a co-orientação do professor
Carlos Eduardo Aguiar, do Instituto de Física da UFRJ, ele desenvolveu um projeto de construção e operação de
termômetros eletrônicos com as turmas da segunda série do Ensino Médio, contextualizando-o no programa do
quarto bimestre. Em 2006 deu continuidade ao projeto na escola, aperfeiçoando-o, como parte de sua monografia Diretora do CAp-UFRJ de
de conclusão de curso. É um excelente exemplo das possibilidades que a Prática de Ensino no CAp-UFRJ pode julho de 1983 a dezembro de
oferecer. 1985, a professora Sérvula de
Souza Paixão protagonizou
Num dos artigos principais, a professora Celéia Machado, do setor curricular de Artes Cênicas, discute a relação
entre a metodologia de ensino de Artes Cênicas e as características do fazer teatro em si. Noutro, a professora as mudanças estruturais que
Daniela Assemany, do setor curricular de Matemática, traz uma parte interessante de sua pesquisa com a deram à escola a sua “cara”
construção do significado do conceito de ângulo pelos alunos. No terceiro, o pessoal do Núcleo de Iniciação
atual. Aposentada pela
Científica Júnior do CAp-UFRJ conta um pouco da história do projeto na escola e os resultados alcançados em dez
anos de funcionamento. Faculdade de Educação da
UFRJ, Sérvula divide hoje seu
A Construindo Pontes mostra novamente uma iniciativa envolvendo a interação entre palco e sala de aula, desta vez tempo entre o Rio de Janeiro
uma tabelinha entre a professora Mariana Oliveira, do setor curricular de Artes Cênicas, e a professora Alessandra
e Quissamã, pequena cidade
Carvalho e o licenciando Vitor Acselrad, do setor curricular de História. Os três realizaram um divertido passeio
pela sociedade e cultura do Brasil do final do século XIX com a montagem da peça “Caiu o Ministério!”. Vale a pena no norte do estado, onde tem
conferir. uma papelaria em sociedade
Sérvula por
com uma prima. PERSPECTIVA Chico Caruso
A seção Opinião traz um ensaio do inspetor de alunos Esmeraldino Sardinha sobre o papel deste profissional na
escola, um tema tão interessante quanto pouco visitado em nossas reflexões pedagógicas. alcançou-a lá para fazer a
seguinte entrevista.
A psicóloga e psicopedagoga Monica Lavoyer contribui com a seção Sem Fronteiras antecipando-se a uma polêmica
que muitos acreditam nos alcançará em breve: o diagnóstico excessivo de alunos com Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH), um distúrbio comportamental de difícil diagnóstico. O que pode fazer a escola
e o professor nesses casos?

Finalmente, tivemos o prazer de entrevistar a professora Sérvula de Souza Paixão, ex-diretora do CAp-UFRJ e,
em boa parte, responsável por instituir várias das iniciativas que são hoje uma marca registrada da escola. Confira
na entrevista que começa na página ao lado um pouco da história da escola e de uma de suas mais interessantes
personagens.

Espero que goste deste número 2. Quem sabe a gente não publica um artigo seu no próximo número? Escreva!
Veja também o seu trabalho em PERSPECTIVA.

Beto Pimentel
editor
perspectiva@cap.ufrj.br

março de 2007 perspectiva capiana nº2



entrevista

entrevista

PERSPECTIVA: Como era o processo de escolha do PERSPECTIVA: Por quê? E isso para qualquer série. Leitura e interpretação, o resto
diretor da escola na época em que a Sra. foi diretora? era problema do professor do CAp fazer o aluno aprender. Fui aos poucos me
Sérvula: Ah, por um monte de coisas. Em primeiro lugar, A seleção para a primeira série primária, por exemplo, foi
Sérvula: O diretor era indicado pelo Departamento de havia o desafio. Era um grande desafio. As coisas da incrível, incluiu uma série de jogos e atividades lúdicas situando e em função
Didática da Faculdade de Educação. O cargo costumava escola estavam meio confusas. Até a FORJA, o jornal dos para deixar os garotos à vontade, embora o interesse fosse
de minhas posições


ser ocupado por um professor do departamento. alunos, estava parada. Junto com a equipe, comecei a botar avaliar a capacidade de leitura e interpretação. Brincavam,
pilha para as coisas acontecerem na escola. Soube que passavam até pelo pessoal de Educação Física. Foi louco e como educadora


depois de um tempo um aluno virou-se para a Manuela muito trabalhoso, mas foi legal.
(professora de História) e perguntou: “Professora, qual tomava as decisões
Ter sido diretora do é a dessa diretora, hein?”. Quando eu cheguei na escola
os inspetores viviam correndo atrás de alunos para não
PERSPECTIVA: Essas modificações foram planejadas
como parte de um programa para a escola, ou...?
CAp-UFRJ foi uma picharem as paredes da escola. Inventei então o mural
de pichação, uma parede ali perto da entrada da escola, Sérvula: Nada! As coisas iam aparecendo e eu via o
das experiências onde era permitido pichar. No começo as pichações eram sentimento dos professores a respeito e decidia. Fui aos PERSPECTIVA: Por que a Sra. deixou a direção do
muito agressivas. De vez em quando eu mandava caiar a poucos me situando e em função de minhas posições CAp-UFRJ?
mais ricas e


parede e aí a garotada pichava tudo de novo. Aos poucos como educadora tomava as decisões. Quando havia
as pichações foram ficando mais leves. Havia também é impasses a gente chamava todo mundo numa sala e Sérvula: Era época de mudança de mandatos e atendi a
gratificantes de claro a experiência pedagógica, que era fantástica. E pode resolvia. Uma outra modificação foi ter conseguido barrar meus pares candidatando-me à direção da Faculdade de
minha carreira ser piegas lembrar isso, mas foi uma emoção muito grande
uma vez em que, no meu aniversário, a escola inteira se
as transferências de alunos ex officio, que depois o CFCH
reverteu. Hoje nem sei como está isso.
Educação e implantando a eleição para escolha da direção
do Colégio.
reuniu, os alunos todos no pátio, na rampa, e me fizeram
uma homenagem. Foi importante o trabalho de equipe
que realizamos no CAp, e, particularmente, a contribuição
PERSPECTIVA: E a Sra. era professora do Departamento da minha vice-diretora, a professora Hebe Goldfeld, do
de Didática? departamento de Didática.

Sérvula: Não, eu era do Departamento de Administração PERSPECTIVA: Como funcionava a escola na época
Escolar, que atualmente é o Departamento de em que a Sra. assumiu a direção?
Administração da Educação.
Sérvula: Funcionava em um turno, de 7 h às 12 h, abrigando
PERSPECTIVA: Como a Sra. acabou sendo indicada 3 graus de ensino (os 1º e 2º graus da época, mais o 3º
para diretora do CAp-UFRJ? grau com as licenciaturas), pois compartilhava-se o prédio

Foto: acervo Sérvula Paixão


(de propriedade da Prefeitura) com a Prefeitura, à tarde
Sérvula: Foi uma indicação do reitor, o professor Adolfo (escola primária), e com o Estado, à noite (supletivo).
Pollilo. Não sei como se chegou à escolha de meu nome.
Havia na época um vínculo não-formal entre muitos PERSPECTIVA: Quais inovações a Sra. introduziu na
professores e o colégio. Eu entrei na universidade na época escola como diretora?
da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). A estrutura
da universidade mudou justo na época em que eu me Sérvula: Na época a escola atendia apenas a filhos de
formava, em 1968. Eu fui da primeira turma que saiu da professores e funcionários da universidade. Instituímos
Faculdade de Educação. A partir daí o CAp ficou ligado um sistema em que 50% das vagas eram reservadas para
ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), mas os filhos de professores e funcionários, mas os outros 50%
as vinculações informais continuaram e mesmo quem eram abertos para a comunidade. Hoje é tranqüilo falar em
não era do Departamento de Didática tinha muitas vezes sorteio, essas coisas, mas na época uma mudança como
ligação com o colégio. essa gerou muita chiadeira. Eu argumentava que mesmo
assim os filhos dos funcionários da universidade ainda
PERSPECTIVA: Profissionalmente, como a Sra. tinham um privilégio muito grande, porque a disputa pelas
considera a experiência de ter sido diretora do CAp- vagas deles era muito menor do que nos outros 50%.
UFRJ?
PERSPECTIVA: E o ingresso era por concurso?
Sérvula: Ter sido diretora do CAp-UFRJ foi uma das
experiências mais ricas e gratificantes de minha carreira. Sérvula: Sim, mas os concursos buscavam avaliar no
fundo se o aluno era capaz de ler um texto e interpretá-lo.

Sérvula como diretora da


 março de 2007 perspectiva capiana nº2
Faculdade de Educação março de 2007 perspectiva capiana nº2

entrevista

entrevista

PERSPECTIVA: O que a Sra. considera o seu maior PERSPECTIVA: A relação da escola com a Faculdade de uma certa experiência. Isso foi muito interessante porque
legado ao CAp-UFRJ? Educação, a Prática de Ensino e os cursos de licenciatura acabei conhecendo instituições de Ensino Superior no
é muito diversificada e departamentalizada, com cada um Acre, no Mato Grosso, no Alagoas, no Maranhão, em
Sérvula: A eleição de seus diretores e o desenvolvimento dos setores curriculares estabelecendo regras e práticas Santa Catarina... Conheci boa parte do Brasil trabalhando
do conceito de Colégio de Aplicação como parte do distintas em função de sua história e de relações pessoais com isso. Depois que me aposentei, a partir de 1995, A qualificação dos
processo de formação de professores pela UFRJ, e não entre os professores de um e outro lado. Isso sempre foi passei a trabalhar prestando consultoria para o SENAI.
como apenas mais um bom colégio. A excelência seria assim? Ah, depois que saí do CAp, da Faculdade de Educação e professores e os
conseqüência da sua função educadora.
Sérvula: Cada área de conhecimento tem problemas
da Subreitoria também consegui concluir meu doutorado,
que havia interrompido para assumir a direção do
projetos de pesquisa
terão de estar


PERSPECTIVA: A Sra. acompanha o que acontece na epistemológicos próprios de desenvolvimento e produção, colégio.
escola até hoje? logo a prática metodológica precisará ser função direta
da metodologia de produção da teoria, senão a didática PERSPECTIVA: Em que a Sra. se doutorou? ligados à função
Sérvula: Gostaria, mas não tem acontecido. será um vazio de normas e regras. Por esse motivo
acho que a relação será mesmo por setor curricular, mas Sérvula: Em filosofia das ciências humanas, no IFCS. educadora do colégio
PERSPECTIVA: Algumas características da escola não de forma independente, influenciada apenas por Meu tema de tese de fato era na área de Teoria do
mudaram nesses últimos anos, como a forma de ingresso relações interpessoais, embora elas sempre ocorram. É Conhecimento. Não me interessavam as linhas de
e o perfil do corpo docente, agora com um expressivo imprescindível que o processo seja parte de um projeto pesquisa da pós-graduação da Faculdade de Educação.
número de professores com pós-graduação, por um lado, pedagógico mais amplo que considere tanto o licenciando Minha área era currículo, e o interesse específico
envolvidos com projetos de pesquisa, e de professores como o aluno do colégio, que não é uma cobaia. em conteúdo do currículo, mas não dá pra ser
substitutos. A Sra. acha que modificações como essa especialista em tudo. Achei que era a opção
demandariam mudanças estruturais na maneira da escola PERSPECTIVA: O que a Sra. fez depois que deixou a que me dava uma melhor visão para trabalhar
funcionar? direção do CAp-UFRJ? na minha área. A pesquisa na área de
currículo, na época, era muito mais
Sérvula: Essas modificações certamente demandariam Sérvula: Fui diretora da Faculdade de Educação. Depois, teórica, de um modo geral, do que
mudanças estruturais em relação ao colégio de minha quando terminou o mandato, tinha havido uma nova prática. Então em vez de trabalhar
época, mas atualmente não sei como está funcionando. eleição para reitor e eu recebi o convite para ir para assim eu fui me envolvendo com
A qualificação dos professores e os projetos de pesquisa a Subreitoria de Desenvolvimento (hoje PR-5), onde projetos de pesquisa-ação dentro
terão de estar ligados à função educadora do colégio a que fui Superintendente de Desenvolvimento e Extensão, da UFRJ. Além disso, enquanto
já me referi. Os professores substitutos constituem outro trabalhando junto ao sub-reitor. Além disso continuei a trabalhava na administração
problema. Precisam estar engajados no projeto pedagógico trabalhar como consultora em avaliação de currículo para eu não tinha tempo para fazer
do colégio e não serem apenas “tapa-buracos”. o Ensino Superior fora da UFRJ, área em que eu tinha pesquisa teórica.

“ A prática metodológica precisará ser


função da metodologia de produção
Sérvula pelo
caricaturista


Cássio Loredano
da teoria, senão a didática será um
vazio de normas e regras

 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2

artes cênicas
entrevista
PERSPECTIVA: A Sra. possui uma papelaria em
Quissamã, em sociedade com uma prima. Isso parece
interessante. Como isso aconteceu? Fazer Teatro e
fazer Aula
Sérvula: A papelaria em Quissamã é parte de meu projeto
de aposentadoria. Quissamã, porque é terra de origem da
família, para onde eu ia em minhas férias escolares, por
muitos anos. E papelaria porque é uma área de que eu

de Teatro
e minha prima e sócia, que é arquiteta, gostamos muito.
Sobre Quissamã tem uma coisa engraçada: parece que há
uma surpreendente ligação entre o lugar e o CAp. Além
de mim, ligados a Quissamã o colégio teve o professor
Domingos, de Matemática, que ali nasceu e hoje vive, e
o professor João Rua, de Geografia, que desenvolveu um
projeto com seus alunos da UERJ e recebeu o título de Celeia Machado
Cidadão Quissamaense, da Câmara Municipal, por sua
contribuição ao desenvolvimento local.
Ilustrações por
PERSPECTIVA: Quem sabe não abrimos uma filial do Beto Pimentel
CAp-UFRJ aí em Quissamã?

Sérvula: Quem sabe?

PERSPECTIVA: A Sra. seria candidata à diretora, nesse


caso?

Sérvula: Não! Eu já estou aposentada! (risos)

Sérvula de Souza Paixão é


M uitas das discussões no campo do ensino da Arte
procuram refletir sobre a natureza do processo de ensino-
Foto: acervo Sérvula Paixão

ex-diretora do CAp-UFRJ e da aprendizagem artístico. A questão que se coloca é se ou quando


Faculdade de Educação da UFRJ. a experiência estética na sala de aula pode ser qualificada como
Atualmente é co-proprietária de fenômeno artístico. Mais especificamente, em uma aula de Teatro,
uma papelaria em Quissamã. os exercícios de improvisação dos alunos podem ser qualificados
como ato teatral? Por quê?

10 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
11
artes cênicas
artes cênicas
Nas últimas décadas, tem se apresentado uma nova abor- da Perspectiva e professor aposentado da Escola de Co- representar com uma bola imaginária. Embora todos este- dor. Sobre o terceiro elo desta tríade essencial, o público,
dagem para o ensino artístico a qual procura delimitar um municações e Artes da USP, apresentados principalmente jam na sala de aula, os alunos devem escolher movimentos refere-se à presença de outro, pois é somente quando al-
corpo de conteúdos próprio para a disciplina. A finalidade no seu livro Da Cena em Cena. que os façam movimentar-se como se eles estivessem em guém assiste que a ação teatral se completa e se instaura
é que seja reconhecida, no elenco das matérias escolares, um campo com uma bola real. Naquele momento, os inte- como tal.
como campo de conhecimento de contribuição única e di- A condição primeira para um gesto ou uma situação estar grantes da aula assumem que a sala possa ser uma quadra
ferenciada para a formação do indivíduo e, portanto com assinalada pela substantividade teatral é a intenção de ser de futebol ou basquete ou o jogo que seja. Destacada a necessidade da presença destas três condições
uma prática pedagógica específica. Nesta perspectiva, a Teatro. Guinsburg estabelece que a marca fundamental do para se estabelecer um evento teatral: o texto, a assunção
Arte apresenta-se como disciplina autônoma, com um fim fenômeno teatral é a intencionalidade. O ato teatral não Mesmo nas atividades corporais, o aluno deliberadamente da máscara e a presença do público, é preciso encontrá-las
em si mesmo e não instrumento ou ferramenta de outras é aleatório nem é um mero fazer. Esclarece que, apesar assume gestos e movimentos que não são do seu cotidiano no processo de ensino de Teatro.
disciplinas. Recusa-se a ser mero coadjuvante no ensino de muitas circunstâncias na vida terem qualidades teatrais, e compõe um outro espaço e uma outra forma de estar
de quaisquer outros conhecimentos ou suporte no desen- como uma briga, uma gafe ou um tropeção, não se carac- no mundo. Isto pode acontecer em uma dinâmica sim- O texto
volvimento de habilidades alheias ao seu próprio processo terizam como Teatro, pois estão desprovidas de um pro- ples como movimentar-se pela sala, utilizando diferentes
de ensino, tais como desenvolver a sociabilidade e a co- jeto de suspender o fluxo da “vida civil” e produzir um partes do corpo e níveis espaciais ou em exercícios mais O sentido de texto aqui empregado é ampliado para todo
ordenação motora ou ainda auxiliar na alfabetização e na parecer ser. Neste caso, o termo teatral atribui ao gesto complexos como em duplas, um tocar delicadamente com elemento, passível de leitura, com um desígnio e uma or-
compreensão de conteúdos de língua portuguesa, história, uma natureza adjetiva e não substantiva. a ponta do dedo indicador o outro de olhos fechados. dem referida. Então podem ser considerados “texto” ma-
inglês, ciências e assim por diante. teriais textuais, a palavra, o gesto, a música, a intenção da
Em uma aula regular de Teatro há exercícios de improvi- Porém, Guinsburg enfatiza que não basta a intencionali- fala, os códigos etc.
Este movimento é visível em diferentes propostas de sação, jogos teatrais, jogos dramáticos ou trabalhos que dade. O evento teatral é o encontro de alguém que assu-
Arte-Educação, em diversas partes do mundo. No Brasil, envolvem o uso do corpo, como consciência corporal me um papel e comunica algo e outro que aceita e assiste. Em cada uma das dinâmicas evocadas em uma aula de
por exemplo, os PCNs relativos ao Ensino Médio esta- ou movimento expressivo. Em todas estas situações, está Aponta a existência do texto, do ator e do público como Teatro há um sem número de signos e códigos onde é
belecem três conjuntos de competências e habilidades a explícita a intenção de estabelecer, temporariamente, um os elementos fundamentais para constituir o ato teatral. possível conceber-se um texto. O desenrolar de uma situ-
serem desenvolvidas no ensino de Arte: a representação espaço em que não seja a “vida real”, onde seja possível Para o autor, estes elementos constituem um sistema aber- ação, uma forma de andar, a expressão que se procura, a
e comunicação, que correspondem ao fazer artístico; a in- produzir uma outra realidade e assumir outras personali- to, sujeito a diversos enfoques e combinações. A respeito flexão de voz, um determinado gesto ou movimento são
vestigação e compreensão, referentes à apreciação de Arte, dades. do texto, reconhece como material textual todo um con- elementos que compõem formas de textualização, que
que por sua vez, estão ligadas à análise estética e crítica de junto de elementos, aos quais é atribuído um significado e, muitas vezes falam também e principalmente sobre a his-
Arte e, ainda, a contextualização sociocultural, equivalente Por exemplo, em atividade conhecida de Viola Spolin, portanto, passíveis de leitura, e não só o que costumamos tória pessoal do aluno, seus valores e sua cultura.
à compreensão da história da Arte. pesquisadora norte-americana que investigou e sistemati- denominar de texto dramático. Quanto à figura do ator,
zou um método de criação teatral baseado em exercícios compreende a investidura de uma pessoa em atuante por Quando a atividade na aula de Teatro oferece a oportuni-
O que se pode observar é que o ensino de Arte, nesse improvisacionais denominado Jogos Teatrais, em que o meio de uma relação consentida entre um que assume a dade de alguém compor algo para os seus pares, outorga-
ponto de vista, pretende reunir à função formativa do en- grupo de alunos recebe o nome de um jogo que terão de concreção de um papel e alguém que o acolhe, o especta- lhe também um papel de falar de e sobre aquele grupo. De
sino artístico um caráter epistemológico. Além do objeti- alguma maneira, o seu modo de vida e o do seu grupo se
vo de promover uma experiência expressiva e propiciar expressa nas mínimas escolhas das formas artísticas. Os
noções básicas da linguagem, vem reivindicando para si a temas que escolhe dar relevância, o que acentua de comici-
atribuição de investigar a natureza do fenômeno artístico- dade, a composição do gestual dos personagens, tudo isto
estético, como ele acontece e se produz, sistematizando manifesta sua opinião sobre o seu meio e sobre as pessoas
suas relações. Portanto, embutida neste debate, encontra- que lá estão inseridas.
se uma investigação sobre o ato artístico. Paira uma ques-
tão sobre quais as condições que tornam um fenômeno
A assunção da máscara
qualquer, seja som, linha, movimento, ação ou palavra, em
evento artístico.
O ato de assumir a máscara pode se dar na ação de incor-
porar a existência de um que é diferente de si ou no sim-
Não se trata de questionar se o aluno é ou não um ar-
ples estabelecimento da ação de interpretar, instituindo a
tista ou determinar o valor artístico da criação na sala de
divisória entre aqueles que atuam e aqueles que assistem.
aula. Não se pretende discutir sobre a existência ou não de
um fazer artístico próprio do artista e de um fazer artís-
Este processo está evidenciado no trabalho de compo-
tico-pedagógico ou os elementos que os aproximam e os
sição dos personagens. Pode ser também compreendido
distinguem.
em todos os jogos e exercícios do percurso criativo em
que esteja imanente a ação de dotar de corporeidade a um
Este artigo pretende sobretudo refletir sobre a existência
outro por meio do seu próprio corpo. Mesmo que esteja
do fato teatral na sala de aula. Fazer um levantamento so-
implícito na atividade ser quem se é, como nas improvisa-
bre as condições básicas da teatralidade, e procurá-las nas
ções corporais, há uma procura de outra forma de apre-
dinâmicas com os alunos para assinalar que potencialmen-
sentar-se, de construir algo de si diferente do cotidiano
te a “aula de teatro é Teatro”. Esta reflexão será conduzida
para alguém, ou seja, um espectador.
a partir dos conceitos elaborados por J. Guinsburg, editor

12 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
13
artes cênicas

matemática
Olhando por
A presença do público
O espectador é o outro que aceita compartilhar deste Intencionalidade, texto, personagem e público: estas são
mundo em suspensão criado pelo ator e assume a conven- as condições fundamentais para o surgimento do Teatro,

outro Ângulo
ção da linha imaginária que institui os atuantes e os obser- apontadas por Guinsburg. Estas condições foram apre-
vadores. Neste relacionamento, a rede de sentimentos e sentadas e cotejadas com os procedimentos mais comuns
reações que se estabelece no momento do encontro é que das aulas de Teatro na escola. Parece então admissível
atribui o caráter único de cada apresentação. É comum afirmar que no espaço escolar faz-se Teatro, tanto na sua
ouvir dos próprios artistas que a encenação só se completa forma mais evidente, o espetáculo, como nos exercícios e
na presença do público. atividades pertinentes ao seu ensino.

A Produção De Significados
Na sala de aula, o público é formado pelos alunos que se Desta forma, cabe ao professor de Teatro oferecer uma
revezam em atuantes e assistentes. Alternam-se entre as prática na linguagem que articule, discuta e, sobretudo,
funções dos que atuam e dos que observam. Em ambas, que permita ao aluno descobrir estes princípios imanentes
trafegam nas mesmas miríades de relações que percorrem da natureza teatral no próprio exercício da criação, pois

Para A Noção De Ângulo


o ator e seu público: admiração, descrédito, interesse, sur- um dos pressupostos do ensino de Arte é que, embora
presa, curiosidade etc. nem todos necessariamente se constituam artistas, qual-
quer indivíduo pode produzir Arte.
Além disso, na sala de aula há um momento de contri-
buições na criação de cada um, na forma de críticas e su-
gestões, ou nas discussões sobre a distância entre o que
Daniella Assemany
se tinha intenção de comunicar e o que de fato foi com-
preendido. Desta forma, além de companheiros de uma
viagem sígnica, isto é, de uma experiência tecida em uma
linguagem com poder de atribuir sentido que transcende a
Celeia Machado é professora de
linguagem verbal, os alunos de uma mesma turma podem

E
Artes Cênicas do CAp-UFRJ desde
vir a ser também participantes e testemunhas do movi- 1995. Atualmente cursa o doutora-
mento intenso e singular que caracteriza o processo de do em Artes na UNICAMP.
criação de cada um.
m seu livro “O Ensino da Geometria” (1964),
Gustave Choquet inicia o capítulo intitulado “Os
Ângulos” com uma digressão sobre as dificuldades que
cercam a noção de ângulo. Estas dificuldades derivam
Sugestões para leitura: em parte de uma terminologia mal especificada, em parte
de uma mistura confusa de várias noções e, finalmente,
das reais dificuldades matemáticas deste conceito. Estas
BIASOLI, Carmen L. A. A Formação do Professor questões são muito intrigantes, mas não tanto quanto
de Arte: do Ensaio...À Encenação. Campinas: o fato de um matemático do século XX observar
Papirus, 1999. dificuldades no aprendizado da noção de ângulo.
Conceito fundamental para a Matemática a partir da 5ª
ê
GUINSBURG, J. Da Cena em Cena. São Paulo: série do Ensino Fundamental, a noção de ângulo aparece r Ja
nd
po
Perspectiva, 2001. explícita ou implicitamente no programa da disciplina até aç
ão
str
o fim do Ensino Médio. Se o conceito é tão importante e Ilu

há tantas questões envolvidas com sua significação, cabe


SANTOS, Vera Lúcia B. dos. Brincadeira e perguntar quais são os significados produzidos na origem
Conhecimento: do Faz-de-conta à Representação da construção da noção de ângulo. Aqui apresentamos
Teatral. Porto Alegre: Mediação, 2002. algumas possibilidades, e o quão variada pode ser essa
construção, a partir de uma pesquisa com professores
SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. São de Matemática e estudantes em que foram propostas
Paulo: Perspectiva, 1982. abordagens de livros didáticos e considerados os
significados produzidos pelos sujeitos, tomando-se como
base o Modelo Teórico dos Campos Semânticos.

14 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
15
matemática
matemática
O Referencial Teórico numa seção opcional para o professor, pois os autores podem ser coincidentes. Que figura é formada nos ângulos da 6ª série. Para ela, o vértice é o elemento principal na
escolheram falar em áreas de figuras e julgaram conveniente nulos e rasos? Além disso, em dado momento não existem descoberta do ângulo, pois sem ele não se formam os
O Modelo Teórico dos Campos Semânticos (MTCS) estuda “conceituar quadrado e retângulo”. A primeira abordagem ângulos maiores do que 180º, mas posteriormente, quando lados do ângulo.
os modos de produzir justificações e significados para explícita dos ângulos está destacada a seguir: trabalha-se com medição, este fato é ignorado e passam
textos matemáticos. Para compreender o que é conhecimento a “existir” os ângulos de medida maior do que 180º. A Baseados nas crenças-afirmações das alunas, destacamos
neste trabalho, é preciso ter a noção de significado, que, Considere três pontos não-colineares, isto é, que não passagem de uma noção dada na 5ª série sofre uma quebra os objetos: ponto, reta, semi-reta, vértice e abertura.
para o MTCS, é tudo aquilo que o sujeito efetivamente diz pertencem a uma mesma reta, A, O e B. de continuidade ao ser aplicada nas séries seguintes.
sobre um objeto numa tarefa proposta. Assim, produzir COLEÇÃO B (formada por quatro livros dos mesmos
significados é produzir ações enunciativas (fala, gestos, Ângulo geométrico AÔB é a figura formada pelas Com o objetivo de explicitar os significados produzidos a autores – 3º e 4º ciclos - E.F.): nesta coleção os autores
etc.) no interior de uma atividade (tarefa). A produção semi-retas OA e OB: partir da leitura do texto desta coleção, apresentaremos a preferiram constituir a noção de ângulo ano após ano, da 5ª
A
de significados é aquilo que realmente é expresso acerca produção de significados para dois grupos: à 8ª série do Ensino Fundamental. No livro de 5ª série, na
de um determinado objeto, e não o que poderia ter sido seção Formas Geométricas, há uma parte denominada Giros,
dito. O I) Professores (de Matemática): Cantos e Ângulos. Nela, são analisadas quatro fotografias
do rosto de uma pessoa, que representam as posições
A noção de conhecimento é constituída a partir de crenças- Professor X: “Ângulo é, na maioria das vezes, a menor “frente, lado direito, costas e lado esquerdo”. Com isso, é
B
afirmações para uma situação dada, seguidas de justificações figura formada por duas semi-retas de mesma origem e observado que a pessoa fotografada girou ¼ de volta para
fornecidas pelo sujeito acerca dos significados produzidos, Na figura: não colineares.” posar para a foto seguinte.
• ponto O é o vértice do ângulo;
ou seja, é um par (crença-afirmação, justificação). Isso
• as semi-retas OA e OB são os lados do ângulo. Professor Y: “Quando se traçam duas semi-retas não
significa que, para um sujeito produzir conhecimento, é Para entender bem esses giros de ¼ de volta, veja
necessário que ele constitua um texto sobre o assunto em Fig. 1: 5ª série — Noção de Ângulo — Coleção A, p.154 coincidentes sobre um plano, ele ficará dividido em duas uma régua girar ¼ de volta:
questão e o justifique, legitimando assim sua produção regiões angulares, havendo sempre uma região menor do
textual e, conseqüentemente, os significados produzidos. A partir desta leitura, tivemos dúvidas para garantir que a outra.”
Não basta escolher um tipo de argumento, é necessário qual era a figura formada pelas semi-retas em questão,
e, conseqüentemente, qual era o ângulo efetivamente Professor Z: “Ângulo é a região delimitada por duas semi-
que comande suas escolhas a partir da compreensão dos retas, não coincidentes, de mesma origem .”
pressupostos e das justificações dos mesmos. Assim, apontado. Por exemplo, ângulo é a figura que possui a
se justificado, o enunciado se torna legítimo naquela marcação daquela “curvinha” ou a que não possui? Notamos que as enunciações para a Coleção A caracterizam
situação. os seguintes objetos: semi-retas, figura, superfície e região, O giro da régua corresponde a um ângulo.
Com base na abordagem dada até então, é apresentado que representam a produção de significados para o grupo
Logo, é posto que não existe conhecimento nos livros por ao leitor um transferidor como um objeto para “medir de professores. Fig. 2: 5ª série — Noção de Ângulo — Coleção B, p.27
serem objetos constituídos na produção de significados, ângulos”. Com esses conceitos, já são apresentadas as
porque há somente enunciados, ou seja, é necessário que classificações reto, agudo e obtuso, o que proporciona o II) Alunos: A representação anterior foi denominada de Giro. Logo a
haja uma enunciação efetiva, isto é, uma leitura seguida estudo dos ângulos internos de um polígono. seguir, a representação geométrica para ângulo aparece:
de justificação, para que os enunciados participem Ana (8ª série): “Eu entendi o conceito do ângulo do livro
da produção do conhecimento. Nos livros existe um No livro da 6ª série, os autores se posicionam: “Na 5ª como duas semi-retas no mesmo plano que se encontram um lado do ângulo
enunciado do conhecimento do autor. série, estudamos medida de ângulo. Agora, na 6ª série, e formam o ângulo”.
esse estudo vai ser retomado e aprofundado.”. A partir A vértice
A Pesquisa daí, vem o título: O conceito de ângulo, e são mostrados Renata (8ª série): “Esse texto caracteriza o ângulo como o outro lado do ângulo
desenhos de relógios, onde as horas são variadas, alterando tamanho da abertura”.
A pesquisa apresentada neste artigo é parte de um estudo a abertura dos ponteiros. É assim que desenhamos e damos nome aos ângulos.
Na afirmação de Ana, notamos que as semi-retas podem
apresentado em 2003, na dissertação de Mestrado: “Uma “ (...) Esta abertura caracteriza o ângulo. se encontrar em qualquer ponto, sendo possível trabalhar
Análise da Produção de Significados para a Noção de Para medir um ângulo, combina-se que a volta toda
Vamos conceituar ângulo geometricamente. Quando com ângulos opostos pelo vértice. Já Renata produz tem 360° (trezentos e sessenta graus).
Ângulo”. Nos anos de 2001 e 2002, foram aplicados a duas semi-retas (não coincidentes) têm a mesma origem, uma nova enunciação com a medição e abertura inter-
dois grupos distintos – três estudantes dos Ensinos Médio elas separam o plano que as contém em duas regiões. Fig. 3: 5ª série — Noção de Ângulo — Coleção B, p.29
Cada uma dessas duas regiões, juntamente com as semi-
relacionadas. Podemos afirmar que, apesar de serem da
e Fundamental e três professores de Matemática – dois retas, formam uma região angular. Em geral consideramos mesma série, produziram significados diferentes para o
textos retirados de livros didáticos de Matemática, que apenas a menor delas. ” (6ª série - Noção de Ângulo mesmo enunciado. As duas representações foram diferentes e denominadas
introduziam o conceito de ângulo, para a identificação – Coleção A – p. 138 )
Marianna (5ª série): “O vértice é como se descobre o como Giro e Geométrica, entretanto a rotação (giro) apre-
dos significados da noção em questão. A pesquisa se deu
ângulo, os pontos OA e OB. O primeiro significa o vértice sentada na primeira representação não é igualmente ge-
através da proposição de duas situações para identificação A ordem e os tópicos escolhidos pelos autores a seguir são:
O indo em direção ao A e o segundo é o vértice O indo ométrica?
dos significados. ângulos raso (180°) e nulo (0°) – sem mostrar a sua origem
–, medida de um ângulo utilizando dois transferidores (de em direção ao B.”
A partir daí, os autores citam ângulos rasos e retos, su-
COLEÇÃO A (formada por quatro livros do mesmo 180º e 360º), classificação e soma das medidas. Mas pode-
Na afirmação de Marianna, percebemos que ela fez gerem exercícios e, dentre eles, exercícios de medição a
autor – 3º e 4º ciclos - E.F.): nesta coleção, a noção de se questionar a partir de que pressupostos trabalhou-se
crenças-afirmações acerca da figura 1, mas não levou em partir de uma figura dada, utilizando a idéia de ¼ de volta.
ângulo começa a ser construída a partir da 5ª série, mas com os ângulos nulo e raso, visto que as semi-retas não
consideração o trecho final do texto referente ao livro Sustentam esses possíveis significados para trabalhar com

16 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
17
iniciação científica Jr.
matemática

O Núcleo de
retas paralelas e perpendiculares e ângulo interno de um Renata novamente produz significado relacionado à medi-
polígono. da do ângulo. Observamos que novamente as duas alunas
da mesma série produziram significados diferentes para o
No livro referente à 6ª série, na seção Formas geométricas/ mesmo enunciado.
ângulos, os autores relembram as noções apresentadas na

Iniciação Científica Jr.


série anterior a partir do movimento dos ponteiros de um Marianna (5ª série): “Que uma volta completa tem 360°
relógio, acrescentando o transferidor ao estudo. Aqui ain- e que ¼ dessa volta tem 360 ÷ 4 = 90º que é um ângulo
da não aparecem ângulos maiores do que 360º, mas nota- reto.”
mos a preocupação dos autores em conceituar geometri- Na afirmação de Marianna, percebemos que ela apresen-
camente ângulo, a partir de um diálogo: tou crenças-afirmações acerca do primeiro enunciado,

do CAp-UFRJ
desconsiderando a figura do ângulo no segundo. Quanto
— O ângulo A é maior que o B.
— Mas B parece maior, tem lados mais compridos. ao que efetivamente ela disse, consideramos que os signi-
— Na medida do ângulo, só interessa quanto um lado gira para ficados foram exclusivamente para os ângulos de medidas
cair sobre o outro. O comprimento do lado não importa. 90° e 360°.
— Dizemos que lados são semi-retas.
(6ª série - Noção de Ângulo – Coleção B – p.66)
Baseados nas crenças-afirmações das alunas, identificamos
os seguintes elementos: giro, volta e semi-reta.
Mas o que o comprimento de um lado significa para a me-
dida de um ângulo? Esses lados são ditos semi-retas; mas
o que pode ser medido não são segmentos de reta?
Professores de Alunos
Matemática
A produção de significados observada nesse caso foi:
Vicente de Paulo Batista

Foto: Acervo NICJr.


Coleção A Semi-retas, figura, Semi-retas, retas,
I) Professores (de Matemática): superfície e região ponto, abertura e
vértice
Ana Paula Penna da Silva
Professor X: “Ângulo está relacionado com a visão, com Coleção B Quinas, visão, Semi-retas, giro e Elisa Araujo Penna Caris
lado, movimento, volta
quinas e cantos; é um ponto de vista que pode ser repre-
sentado por um desenho, pode ser medido e alterado a rotação e desenho
Fernanda Guinemer de Oliveira
qualquer momento, desde que se queira.” Rodrigo de Oliveira Gonçalves
Professor Y: “Há ângulo que mede ¼ de volta. Ângulo é
o caminho de uma semi-reta até chegar sobre a outra. O Observações Finais
lado de um ângulo não tem tamanho definido. Só pode-
mos desenhar um ângulo assim: . Uma volta tem Não temos a pretensão de responder às dúvidas proce-
sempre 360° .” dentes deste trabalho ainda nessa pesquisa, muito menos
de defender o que é impossível: uma pesquisa com todos
Professor Z: “Um ângulo é obtido através da rotação de os significados produzidos para a noção de ângulo. Cabe
um lado sobre o outro.” ao professor de Matemática auxiliar seus alunos para uma
produção de diversos significados ao lidar com uma mesma
Em relação aos objetos descritos na produção de signifi- idéia, e estar atento às ações enunciativas para que tenha
cados para a Coleção B, destacamos: quinas, visão, lado, condições de criar um ambiente de aprendizado. Nesse
Bernardo, 15 anos, aluno da 1ª série do Ensino Médio do CAp-UFRJ, cumpre a
rotação, movimento e desenho. sentido, aumenta-se a chance de soluções para a diversida- mesma rotina de seus colegas: aulas, provas, cursos extracurriculares. Às segundas,
de de situações – problema na escola e no dia-a-dia. a rotina diária assume características diferentes. Ao sair da escola ele segue para
II) Alunos: o Núcleo Pró-acesso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Lá,
orientado por um grupo de pesquisadoras, participa do desenvolvimento de projetos
Ana (8ª série): “Duas semi-retas com um ponto em co- de adaptação de casas populares para deficientes físicos. Enquanto isso, sua colega
mum podem ser giradas para qualquer posição e formam Laís, 16 anos, da 2ª série, às terças segue para o Laboratório de Farmacologia Neuro-
um ângulo.” cardiovascular na Fiocruz. Também inserida em um grupo de pesquisa, ela mede a
taxa de glicose em rins de coelhos para verificar se aqueles que fazem exercícios são
Renata (8ª série): “O que importa na figura é o quanto
tem de tamanho um giro do ângulo”. Daniella Assemany é professora de mais propensos a desenvolver diabetes do que os sedentários. Ao final de um ano
Matemática do CAp-UFRJ. Graduou- de pesquisa, ambos os alunos apresentaram os seus trabalhos para colegas e outros
se pela UERJ e é mestre em Educação
Ana nos passa a idéia de giro de semi-retas, independente
Matemática pela Universidade Santa Úrsula
pesquisadores em eventos de iniciação científica. Bernardo e Laís são dois dos 60
do sentido e da posição em que parar, produzindo signi- alunos integrados ao Núcleo de Iniciação Científica Júnior do CAp-UFRJ em 2006.
ficados para ângulos de medidas que variam de 0° a 360°.

18 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
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iniciação científica Jr.
iniciação científica Jr.
Pequeno histórico Jornada Jr. do CAp-
UFRJ/2006: prof. José
O CAp-UFRJ incorpora seus alunos do Ensino Médio a Luiz Fontes Monteiro, pró-
diversas instituições de pesquisa e de divulgação científica reitor de Pós-graduação e
Total de alunos por instituição 1990-2006 Pesquisa da UFRJ, visita
desde 1990, quando ingressou no Programa de Vocação
Científica da Fiocruz (Provoc-Fiocruz), que oferece estágios painel do aluno João Felipe
nos Centros de Pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz Pontes Faria. Trabalho
Fiocruz 7 75
apresentado na XIII
(Fiocruz). No final dos anos 90, este convênio possibilitou
International Conference
também que os alunos participassem de estágios no Centro UFRJ 105 409
of Young Scientists
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e na Pontifícia
(Alemanha, 2006) e no
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
CBPF 6 19 2o Encuentro Educativo-
Iniciação Cultural de Paises
O programa no CAp-UFRJ avançou em outra frente Avançado Asociados e Invitados de
PUC-Rio 5 16
em 1993, com a criação do projeto O Jovem e a Ciência no Mercosul (Argentina, 2006)
Futuro, desenvolvido em parceria com a Federação de 0 50 100 350 400 450
Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) e a Fiocruz.
Anualmente, cerca de 20 alunos do CAp-UFRJ se juntam
a alunos de escolas conveniadas ao Provoc-Fiocruz e
participam das reuniões da FeSBE, assistindo a uma
programação especialmente destinada a eles. Além de se Em 2001, o crescente número de alunos interessados em Foto: Acervo NICJr.
integrarem às atividades gerais do encontro, apresentam participar do programa e a necessidade do aumento do Objetivos
em uma sessão especial os trabalhos produzidos em seus número de vagas oferecidas exigiam uma nova estrutura.
estágios. Ao longo desses 14 anos, 233 alunos do CAp- A coordenação do programa propôs então a criação do As atividades do Núcleo buscam contribuir para que
UFRJ participaram do encontro. Núcleo de Iniciação Científica Júnior do CAp-UFRJ, o aluno aprofunde os conhecimentos adquiridos na
objetivando a divulgação e ampliação das atividades de Educação Básica e esteja preparado para prosseguir em
Ampliação de grande importância ocorreu em 1995 com iniciação científica júnior, assim como a obtenção de seus estudos, inserindo-se na pesquisa acadêmica. Na entanto, a prioridade é dada aos concorrentes que ainda
a criação do Programa de Iniciação Científica Júnior, no qual recursos. Atualmente, mesmo com a crescente ampliação, Iniciação Científica Júnior o aluno tem a oportunidade não participaram do programa.
os alunos do CAp-UFRJ foram integrados a grupos de todos os alunos em estágio recebem bolsa-alimentação de desenvolver atividades que consideramos importantes Alguns critérios e requisitos norteiam a seleção de alunos
pesquisa da própria Universidade. Esse programa foi financiada pela PR-2/UFRJ, que também oferece bolsas para o processo de escolha profissional e que incentivam para os estágios de Iniciação Científica Júnior do CAp-
criado em conjunto com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação de aperfeiçoamento a quatro professores que compõem a o interesse pela pesquisa. Ao estagiarem nos laboratórios UFRJ:
e Pesquisa da UFRJ (PR-2/UFRJ) e pesquisadores/ equipe do Núcleo, além do transporte aos alunos entre o sob orientação dos pesquisadores/orientadores, os alunos • estar cursando a 1ª ou a 2ª série do Ensino
orientadores de diversas unidades da instituição. colégio e o estágio. antecipam seu contato com processos de produção do Médio;
conhecimento acadêmico, refletindo sobre as relações • ter bom rendimento escolar na área de interesse
entre ciência, tecnologia e sociedade. e domínio da escrita;
O programa contribui também para a integração entre • comprometer-se a participar de eventos
a Educação Básica e a Educação Superior e Centros de de divulgação científica organizados pelas instituições

Fotos: Acervo NICJr.


Pesquisa. parceiras e pelo próprio CAp-UFRJ;
• ter uma tarde livre para se dedicar às atividades
Processo de seleção do estágio.

A participação dos alunos no programa é facultativa e não O processo de seleção para os estágios da UFRJ ocorre
faz parte de sua grade curricular. O aluno-pesquisador, no início do ano letivo após a realização da Jornada de
ao ser integrado a estas atividades realiza, em média, 128 Iniciação Científica Júnior do CAp-UFRJ. Para as vagas
horas de estágio durante um ano letivo, ocupando uma oferecidas pela Fiocruz, CBPF e PUC-Rio o processo
tarde por semana. Em alguns casos, é possível ao aluno se inicia no Núcleo, porém a definição da seleção e o
dar prosseguimento a suas atividades por mais um ano contato com os pesquisadores/orientadores são de
— estágio “Avançado”. Isto, porém, depende do interesse responsabilidade de equipes das próprias instituições. O
e envolvimento do aluno na pesquisa, assim como cronograma de seleção para estas instituições também se
da avaliação do pesquisador/orientador. O aluno que diferencia do da UFRJ e seu encerramento se dá no final
Alunas Vanessa Ferreira Rodriguez Pereira e Laís de Almeida Relvas Brandt em atividade no realizou estágio durante a 1ª série pode também pleitear do primeiro semestre, sendo que as atividades dos alunos
Laboratório de Macrofósseis do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFRJ e no participar de um novo projeto no ano seguinte. No têm início no segundo semestre do ano letivo.
Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica do IOC-Fiocruz, respectivamente.

20 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
21
construindo pontes
iniciação científica Jr.

Eventos

Os alunos do CAp-UFRJ integrados ao Núcleo participam


de diversos eventos de divulgação de pesquisas científicas
das instituições onde fazem estágio, como a Jornada
Perspectivas

Pretendemos, nos próximos anos, ampliar o número de


alunos integrados nas atividades do Núcleo de Iniciação
Científica Júnior, assim como o de pesquisadores/
Caiu o ministério! Alessandra Carvalho
Giulio Massarani de Iniciação Científica, Artística e orientadores que oferecem vagas. Em 2006, tivemos a Mariana Oliveira
Cultural da UFRJ, o Seminário de Vocação Científica incorporação de alunos em projeto oferecido pelo Instituto
Vitor Acselrad
do CBPF, entre outros. Tivemos, inclusive, um aluno de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em articulação
apresentando trabalho em dois eventos internacionais em com a Biblioteca do Ministério da Fazenda.
2006: XIII International Conference of Young Scientists, Estamos organizando um banco de dados referente às

Foto: Andrea Pinheiro


na Alemanha e 2° Encuentro Educativo-Cultural de Paises atividades desenvolvidas nos últimos anos, que ficará
Asociados e Invitados de Mercosul, na Argentina. Nestes à disposição de pesquisadores da UFRJ e de outras
eventos os alunos apresentam trabalhos produzidos em instituições. Estas informações poderão contribuir para
seus estágios e têm oportunidade de trocar experiências estudos sobre a formação de pesquisadores no Brasil
com pesquisadores da área e colegas de outras escolas: e para a avaliação da contribuição desta iniciativa e da
A partir de 2001, passamos a realizar, anualmente, no validade de sua disseminação.
CAp-UFRJ a Jornada de Iniciação Científica Júnior,
congregando todos os trabalhos produzidos no ano
Vicente de Paulo Batista é professor de Geografia e coordena
anterior pelos alunos do Colégio participantes do
o NICJr. do CAp-UFRJ. Os professores de Biologia Ana
programa. A apresentação dos trabalhos é um estímulo à Paula Penna da Silva, Elisa Araujo Penna Caris, Rodrigo de
integração de novos alunos, tendo em vista que a jornada é Oliveira Gonçalves e a professora de História Fernanda Gui-
realizada anteriormente à abertura do processo de seleção nemer de Oliveira fazem parte da equipe técnico-pedagógica
do projeto como bolsistas de aperfeiçoamento - PR2/UFRJ.
anual. Esse evento possibilita também divulgar as pesquisas
junto aos professores, alunos e funcionários do Colégio,
contribuindo na integração entre os profissionais que Pesquisadores/orientadores e histórico do programa com
todos os seus participantes estão relacionados na página
participam direta ou indiretamente do desenvolvimento
do Núcleo (www.cap.ufrj.br/nicjr). O NICJr. recebe
das atividades que compõem o Núcleo. apoio da UFRJ, Fiocruz, FeSBE, PUC-Rio, CBPF e IPEA/
Ministério da Fazenda.

S abemos que momentos históricos importantes foram muitas vezes representados na


cena teatral e que o entendimento de processos históricos lança luz sobre aspectos fundamentais
das diferentes linguagens teatrais construídas ao longo do tempo. Como alcançar, porém,
objetivos didáticos através dessa ponte interdisciplinar? A comédia “Caiu o ministério!”, de França
Júnior, revelou-se um excelente instrumento para a interação entre Artes Cênicas e História. O
conjunto da experiência nos mostrou, no texto da peça, uma questão significativa que permeou
o trabalho em ambas as disciplinas: a formação histórica da sociabilidade brasileira, ou seja, as
Jornada UFRJ/2004: características e significados das formas de viver em sociedade.
prof. Edson
Watanabe,
coordenador do
evento, visita o
painel Imagens
Foto: Acervo NICJr.

Tridimensionais para
Química do Ensino
Médio, da aluna
Yasmin Lourenço

22 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
23
construindo pontes

construindo pontes
França Júnior (1840-90) escreveu comédias de críticas Na disciplina de História, a idéia de trabalhar em conjunto personagens na peça como um caminho para discutir os devem lidar cotidianamente com os processos históricos
de (maus) costumes políticos e domésticos no Segundo com Artes Cênicas surgiu a partir de uma convergência espaços abertos à presença e atuação femininas. Por fim, enfocados. E ‘contar’ suas histórias individuais pode
Reinado no Brasil (1840-89). “Caiu o Ministério!”, de entre questões presentes na peça e as discussões alguns trechos da peça foram reproduzidos na atividade ser um passo interessante para se chegar à História de
1882, se passa no Rio de Janeiro, especialmente na rua do desenvolvidas sobre as transformações da sociedade avaliativa escrita, tratando dos dois temas apontados acima uma sociedade; nos conflitos vividos pelas pessoas, nas
Ouvidor, onde muito se discutia sobre política e as últimas brasileira na segunda metade do século XIX. O primeiro – as relações econômicas e as transformações culturais nas pressões sociais que recebem, na posição que ocupam e
novidades modernas vindas do estrangeiro. Tudo começa passo foi indicar às turmas que a peça seria utilizada em cidades no Brasil do Segundo Reinado. de onde olham o mundo, nas escolhas que fazem, em tudo
com a queda do Gabinete ministerial e a expectativa sala de aula, para espanto geral. Acostumados à divisão isso estão, também, as questões que levam à compreensão
de quem será o novo chefe do Executivo. Dr. Brito é curricular da escola e habituados a adotar posturas O trabalho interdisciplinar desenvolvido com Artes dos processos históricos. E essa experiência nos foi
escolhido, para felicidade da esposa e da filha, Dona diferentes em cada disciplina, era difícil e incerto para os Cênicas propiciou, ainda, a oportunidade de lidar possibilitada pela presença de Mr. James, Doutor Brito,
Filomena e Beatriz, desejosas de uma boa posição social. alunos imaginar quais relações poderiam ser estabelecidas diretamente com uma questão fundamental: a narrativa da Dona Bárbara, entre outros.
Disso munidas, arranjam o casamento da moça com Mr. entre a trama da peça e as discussões da História. História. Durante as últimas décadas, a escrita da história
James, um inglês que busca privilégio para uma inusitada para o ensino básico e a maneira de narrá-la em sala de Na disciplina de Artes Cênicas, a abordagem da peça teve
proposta: um novo sistema de transporte para o Corcovado O estranhamento inicial foi sendo paulatinamente aula se basearam na noção de processo. Neste sentido, três etapas. A primeira foi constituída de breve estudo
com carros puxados por cachorros, intitulado por ele de superado quando alguns personagens da peça se tornaram o objetivo da disciplina é construir com os alunos os sobre a comédia de costumes, em que vimos seu lugar em
‘sistema cinófero’! Mas o esquema de favorecimento é os personagens da ‘história’ em sala de aula. Mr. James, processos históricos, buscando identificar e analisar seus meio aos discursos sobre fundação, formação e tradição
descoberto e, mais uma vez, cai o ministério. Dr. Brito o amalucado inglês que pretendia vender ao governo o aspectos econômicos, culturais, sociais e políticos. Sem no teatro brasileiro, de acordo com o que nos apresenta
perde o cargo e Beatriz, o casamento. Outro pretendente, tal ‘sistema cinófero’, foi nosso cicerone no debate sobre reduzir a importância dessa abordagem, é interessante a pesquisadora Beti Rabetti (conferir a referência na
porém, fará a felicidade da jovem: Filipe, um pobretão as relações estabelecidas entre a economia brasileira, a perceber que, muitas vezes, homens e mulheres de carne sugestão de leitura). As primeiras peças do gênero, escritas
que ganha na loteria e que se apaixonou ao vê-la numa Inglaterra e o sistema capitalista que se expandia pelo e osso desapareceram da narrativa construída pelos por Martins Pena a partir de 1838, coincidiram com o
confeitaria, comendo empadas: mundo. Também nos ajudou a pensar na modernização das professores em sala de aula, dando lugar a agentes sociais momento decisivo da criação de um sistema teatral, isto é,
cidades, com a necessidade de implantar novos sistemas coletivos e conceitos abstratos. de uma rede de interlocução entre autores, obras e público,
Filipe – (...) Com que graça ela segurava a apetitosa iguaria de transporte. As personagens femininas, envoltas em impulsionada por um ímpeto civilizador e de superação
entre o furabolo e o matapiolho, assim, olha.
conversas sobre vestidos, bailes e romances permeados Um dos riscos deste caminho trilhado pela narrativa do atraso da nação em relação ao modelo europeu. A
por expressões em francês e inglês, nos guiaram pelo histórica é a perda de seu frescor e de seu poder de atração. formação desse sistema permitiu tal continuidade da


universo cultural das elites da cidade do Rio de Janeiro em Muitas vezes, as aulas podem tornar-se desinteressantes tradição da comédia na história teatral brasileira que Décio
fins do século XIX, universo marcado pelas influências aos olhos dos estudantes, que não conseguem imaginar de Almeida Prado chegaria a afirmar ser ela “a nossa única
estrangeiras, pela idéia do moderno, do progresso, da como era a vida das pessoas em determinada época e lugar. tradição teatral” e até mesmo “a única planta adaptável
moda, dos eventos sociais.. Este obstáculo pode ser ultrapassado quando buscamos às condições do clima dramático brasileiro”. Embora se
A ‘aparição’ destes É importante sublinhar que a ‘aparição’ destes personagens
trazer à cena principal indivíduos, reais ou fictícios, que deva ler criticamente a naturalização do gosto nacional

personagens nas nas aulas de História era acompanhada pela preocupação


de relacionar produção artística e seu contexto histórico.
aulas de História Entre os milhares de britânicos que vieram trabalhar
ou investir no Brasil durante o século XIX, não se tem
era acompanhada notícia de um projeto tão, digamos, ‘diferente’ como
As alunas Ritchelle, Eduarda e Larissa (turma 18 B) interpretam as personagens. O
projeto do sistema cinófero de Mr. James causa estupefação nos ministros da guerra e
o de Mr. James. Todavia, a presença inglesa era grande, da justiça e no jovem dr. Monteirinho: - Santo Deus! Que cachorrada!
pela preocupação de permitindo ao autor criar um personagem como esse; e,
relacionar produção


ao público, situá-lo perfeitamente na sociedade brasileira
e compreendê-lo de imediato ao assistir à peça. O mesmo
artística e seu pode ser dito sobre as quatro personagens femininas da
peça, Dona Filomena, Dona Bárbara e suas filhas Beatriz

Foto: Vitor Acselrad


contexto histórico e Mariquinhas. Na obra teatral, seus diálogos giram em
torno de roupas, festas, pretendentes, com muita inveja
de ambas as partes. Antes de generalizar esses aspectos
para as mulheres da ‘boa sociedade’ do século XIX, foi
importante acompanhar as atividades cotidianas destas

24 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
25
construindo pontes

construindo pontes
D. Filomena e Beatriz comemoram as vantajosas propostas de casamento que a moça Após tirar duzentos contos na loteria, Felipe entra

Fotógrafo: Silmar Marques.


recebeu estando o pai, Dr. Brito, na nova condição de presidente do gabinete ministerial. esbaforido na casa de Dr. Brito e desmaia no colo
Na foto, Giuliana e Patrícia interpretam as personagens. de Mr. James. Na foto, os alunos Antônio e Noah
(turma 18 A) interpretam as personagens.
da formação acadêmica, especialmente em Direito, para a
vida política e para a conquista de status na sociedade”),
clientelismo (“favorecimento de pessoas em troca de apoio
político através do uso de recursos públicos”).

Por fim, foi aplicada a avaliação escrita com a transcrição


de trechos de “Caiu o Ministério!” e a solicitação para
que o aluno discorresse sobre o papel da comédia como
construtora de uma imagem de nação. Para tanto, ele
deveria recorrer às idéias discutidas até aquele momento
da aula, buscando fazer uma síntese das imagens de nação
construídas nos diferentes campos de conhecimento.

Vimos que as imagens se aproximam ao compartilhar


elementos como a estrutura familiar patriarcal, o
patrimonialismo, a dependência de favores em uma
sociedade marcada por forte concentração de poder e
riquezas e a migração das relações familiares e afetivas
para o âmbito das relações políticas. A invasão do Estado
e da política pela família e os interesses privados resulta
em práticas de corrupção, clientelismo, nepotismo. Outros
elementos seriam o constante espelhamento em modelos
de vida estrangeiros, ou seja, a contínua comparação entre
Brasil e Europa, acarretando uma imagem de nação de
inversão, de insuficiência, de atraso perpétuo, além dos
estrangeirismos e do abuso da sofisticação verbal a que
recorria o bacharelismo eurocêntrico.

Na peça, todos buscam favores pessoais de Dr. Brito,


recém nomeado chefe do ministério. Raul e Mr. James
querem desposar sua filha, Beatriz, para alcançar seus
objetivos:
presente em tais formulações, não se pode deixar de A atividade ministrada pelo licenciando dividiu-se em
destacar a extraordinária permanência do gênero em nosso três partes. Primeiro, fez-se uma discussão sobre traços Mr. James – Oh! Yes! Para alcançar privilégia em que
país. Além disso, importa lembrar o valor da comédia de da sociabilidade brasileira, tais como o bacharelismo e o ganha dinheira mim faz tudo, tudo.
costumes para a História como registro da sociabilidade verbalismo, presentes na peça e na obra de intérpretes do Raul – Se eu pudesse alcançar também...
Mr. James – Uma privilégia?
brasileira, construindo memória e respaldando uma certa Brasil como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, Raul – Não; contento-me com um emprego.
imagem da nação. referências teóricas para a montagem da proposta de
trabalho. Revisitar suas obras no atual momento político Dona Filomena e Beatriz animam-se com a perspectiva
Foi a partir dessa idéia que planejamos a segunda etapa brasileiro parece elucidativo quanto às origens de maus do casamento com um inglês e pressionam Dr. Brito,
do trabalho com “Caiu o Ministério!” em Artes Cênicas: costumes políticos que, agora, são fortemente criticados o patriarca, a favorecê-lo no projeto dos cachorros.
em nova interação com a disciplina de História, faríamos no debate público. Defendendo-o na Câmara dos Deputados, o jovem Dr.
comparar a imagem da nação construída pela comédia

Foto: Silmar Marques


Monteirinho, recém formado em Direito na Europa
com aquela descrita por autores do campo das Ciências Na segunda etapa, houve um bate-papo com a turma para e indicado para uma pasta ministerial pelo tio, exibe
Humanas. Isso se daria através de uma aula de Artes esclarecer dúvidas, inclusive porque muitos conceitos sua ostentosa erudição, mas é vencido pelo furor da
Cênicas ministrada pelo licenciando de História Vitor acabavam de ser introduzidos, definindo maneiras oposição, engrossada pelos contrariados em seus pedidos
Acselrad. Aqui vale comentar a pertinência de integrar um sintéticas de dizer o que há muito já é conhecido dos particulares. A Câmara não deixa impune o escândalo
aluno da Licenciatura nesta experiência em um colégio alunos: patrimonialismo (“uso pessoal que se faz da coisa do favorecimento de um apadrinhado do “ministro
de aplicação, onde futuros professores podem vivenciar pública”), nepotismo (“dar empregos públicos a parentes”), patoteiro”. Cai o ministério. Raul e Mr. James rompem
novas abordagens metodológicas. verbalismo (“falar bonito e difícil”), bacharelismo (“valor seus compromissos com Beatriz, que, no entanto, é salva
pelo amor de um simpático rapaz, agora rico por ter tirado
duzentos contos na loteria:

26 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
27
na prática
construindo pontes
Filipe, ajoelhando-se aos pés de Beatriz – Minha senhora,
eu adoro-a, idolatro-a. Quando a vi pela primeira vez foi Sugestões de leitura
no Castelões, a senhora comia uma empada. Quer aceitar
a minha mão?
Beatriz – De tout mon coeur. FREYRE, Gilberto. Sobrados e mocambos: decadência
Mr. James – All right! Boa negócia. do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. Rio
de Janeiro: J. Olympio, 1968.

O desfecho da peça aponta para duas possibilidades de


ascensão social: favor ou sorte. Desenha-se, assim, uma HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de
Janeiro: J. Olympio, 1971.
imagem da nação marcada pela imensa concentração de
poder e riquezas, onde quase todos cobiçam os favores
JÚNIOR, França. Caiu o ministério! In: Teatro de
do patriarca, mas também onde as alianças familiares, ao França Júnior - Tomo II - Coleção Clássicos do Teatro
vencerem os umbrais dos negócios públicos, subordinam Brasileiro VOL. 5 - MEC -SEAC - FUNARTE - SERVIÇO
estes a seus interesses particulares. NACIONAL DE TEATRO – 1980.

No processo de abordagem da peça na disciplina de Artes PRADO, Décio de Almeida. A evolução da comédia. In:
Cênicas, essas reflexões procuraram, em última instância, História concisa do teatro brasileiro. São Paulo, Edusp,
1999, p. 115-138.
levar ao aluno a reflexão acerca do papel do teatro na
sociedade. Ora, essa atividade propicia o pensar orgânico
e crítico, numa relação entre teoria e prática dinâmica e ______________________. O teatro e o modernismo.
In: Peças, pessoas, personagens: o teatro brasileiro de
também prazerosa. E a culminância do trabalho está, é

Termometria e
Procópio Ferreira a Cacilda Becker. São Paulo: Compa-
claro, na montagem do espetáculo em nova interação nhia das Letras, 1993, p. 11-39 (ensaio originalmente
interdisciplinar, agora entre Artes Cênicas e Música, como publicado em 1972).
resultado dos trabalhos realizados com os alunos de oitava
série ao longo do ano. RABETTI, Beti (Maria de Lourdes Rabetti). Pontua-
ções sobre o lugar da comédia em meio a noções de
fundação, formação e tradição no teatro brasileiro.

Física Térmica
Para além do relacionamento entre disciplinas, a experiência In: Folhetim – Cadernos Monográficos. Rio de Janei-
procurou integrar saberes, teoria e prática, indivíduo ro: Laboratório de Estudos sobre o Cômico, UNIRIO,
e sociedade. Os diálogos estabelecidos ultrapassam Folhetim – Teatro do Pequeno Gesto, CNPq, 7 Letras,
os limites da escola e alcançam dois outros âmbitos de 2005, N. 02, p. 6-13.
fundamental importância. O primeiro é o do momento
político atual do país que privilegia a discussão acerca da

através do
ética; o outro é o da formação dos alunos que puderam
desenvolver uma visão histórica e crítica sobre seu país e Foto: Bernardo Medina
sua sociabilidade. Talvez se encontre aí uma contribuição
para que imaginemos outra nação, fundada em princípios
e práticas de ruptura com a tradição. Então, a integração

computador
experimentada terá proporcionado sínteses de sentido
transformador.

Foto: Andrea Pinheiro

Vitor Acselrad foi licenciando em História no CAp-


UFRJ em 2006 e é mestre em Ciência Política pelo
IUPERJ.
Mariana Oliveira é mestre em Teatro pela UNIRIO e
professora de Artes Cênicas no CAp-UFRJ.
Alessandra Carvalho é mestre em História Social pela
O que acontece com a temperatura interna do congelador quando o abri-
mos para retirar cubos de gelo? É verdade que uma peça de carne continua cozinhan-
do mesmo após ter sido retirada do forno? Para responder a estas e a outras questões,
Bernardo Medina

UFRJ e professora de História no CAp-UFRJ.


é possível usar o computador como um termômetro através da adaptação de um
termistor ao circuito elétrico de um joystick. O truque permite a aquisição automática
de dados de temperatura através da porta de jogos do computador. Eis o relato e a
análise da construção, calibração e utilização deste instrumento dentro da proposta de
trabalhos de grupo em Física Térmica dos alunos da segunda série do Ensino Médio
do CAp-UFRJ.

28 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
29
na prática

na prática
O projeto consiste na construção, calibração e utilização UFRGS e disponível por exemplo em http://omnis. Montagem Ao final da montagem elétrica dos cabos, conexões e
como instrumento de pesquisa de um termômetro digital if.ufrj.br/~carlos/cap/capjoystick.html) é possível fazer termistores, deve-se instalar o programa (freeware) de
– Data-MAP – tendo como base a utilização de um o computador ler e armazenar essas resistências que Cada um dos 15 fios conecta eletricamente as duas aquisição de dados, que fará a leitura da resistência elétrica
termistor (resistência elétrica sensível à temperatura) e a variam. Portanto, se substituirmos os potenciômetros que extremidades do cabo extensor e sua função específica medida pelo termistor. Embora seja possível elaborar um
porta de jogos de um computador. constituem esse joystick por termistores apropriados, os (pinagem) pode ser vista na página ao lado. programa em MS-DOS ou ainda utilizar outro tipo de
valores de resistência enviados pelo joystick e medidos ferramenta, utilizamos o AqDados 2.0 por sua simplicidade
pelo computador estarão, agora, relacionados com a Os termistores utilizados no projeto são semicondutores e disponibilidade gratuita na internet.
temperatura do termistor. Assim, uma vez calibrado o constituídos de óxidos metálicos (manganês, ferro, cobalto)
sistema, tem-se um instrumento que mede temperaturas e caracterizados por oferecer uma resistência elétrica que Calibração
a partir de resistências elétricas. cai acentuadamente com a temperatura
Para que o Data-MAP seja um termômetro de verdade
Há muitas vantagens na utilização de um termômetro é preciso transformar as leituras feitas pelo computador
conectado ao computador em relação aos termômetros (através do programa de aquisição de dados), dadas em
convencionais (clínico, de álcool, etc.), em particular unidades de resistência elétrica, na grandeza objeto de

foto: Bernardo Medina


do ponto de vista físico-experimental. Destacam-se o nosso estudo: a temperatura.
armazenamento quase instantâneo das informações em
planilhas de dados, a separação física entre a unidade Matematicamente, sabe-se que a dependência entre as
termossensível (termistor) e o mostrador (o próprio duas grandezas é altamente não-linear e difícil de ser
monitor do computador) e a possibilidade de um parametrizada com uma função simples. A figura 5 mostra
Fig. 1: Porta de jogos DB-15 (15 pinos) conhecimento detalhado sobre o funcionamento do as curvas características para os três tipos de termistores
dispositivo, uma vez que este é construído pelos próprios utilizados no projeto.
usuários. Fig. 3: Dois termistores
O princípio de funcionamento do Data-MAP é similar ao utilizados no projeto.
de um joystick. Este último, em geral, é formado por um Fazem parte dos objetivos didáticos do projeto a utilização
manche (controlador direcional, analógico) e alguns botões do computador como ferramenta científica de trabalho, A montagem do Data-MAP consiste na conexão elétrica
(controles digitais). Os botões enviam sinais elétricos a apresentação de conceitos físicos como resistência de um termistor entre um pino +5 volts e um dos pinos
para o computador cada vez que os pressionamos, de tal elétrica, condutores e semicondutores e, finalmente, a 3, 6, 11 ou 13, interpretados pelo computador como
forma que um botão pressionado significa “ligado” e um compreensão de fenômenos térmicos cuja observação só leituras de resistência variável, conforme a tabela anterior.
botão não pressionado significa “desligado”. Já o manche se torna possível pela ferramenta construída. Para realizar esta conexão, contudo, é preciso uma boa
consiste de duas resistências elétricas variáveis, chamadas soldagem para garantir uma união consistente entre as
potenciômetros; uma na direção horizontal e outra na Como a leitura de dados é feita pelo computador a partir pernas metálicas do termistor e os fios de cobre internos
direção vertical. Conforme movemos o manche em uma da porta de jogos DB-15, é preciso um cabo que faça a cada capa colorida.
determinada direção, alteramos o valor de pelo menos uma esta conexão até os sensores. Pode-se utilizar o próprio
dessas resistências, o que é interpretado pelo programa do joystick, mas é preferível um cabo extensor de joystick, Para melhorar o isolamento elétrico do sistema, é
jogo e transformado em ação na tela do computador. disponível em lojas do ramo a um custo inferior. A ponta Fig. 4: Curvas características dos termistores.
recomendável cobrir com fita isolante comum ou líquida
macho deste cabo é conectada, ao computador, enquanto (ambas encontradas em lojas de ferragens e eletrônica) os
Com o auxílio de um software apropriado (utilizamos a ponta fêmea é cortada e descartada, revelando 15 fios Na prática, vê-se que para variações de temperatura não
contatos soldados. Além disso, os demais fios coloridos
o AqDados 2.0, desenvolvido por Ives S. Araújo, da internos. muito superiores a cerca de 50ºC a relação entre resistência
não utilizados também devem ser isolados eletricamente
e temperatura pode ser modelada, com excelente
e separados.
aproximação, pela função exponencial
b/T
Nº Função R(T) = ae (1)
1 + 5 volts
2 Botão A1
8 7 6 5 4 3 2 1 e sua inversa logarítmica
3 Potenciômetro X1
4 Terra Cabo extensor
modificado para b
5 Terra T(R) = (2)
6 Potenciômetro Y1 o projeto. ln(R/a)
15 14 13 12 11 10 9
7 Botão B1
8 + 5 volts (ou sem uso) em que a temperatura T é dada em kelvins (K). A incerteza
9 + 5 volts da medida da temperatura é de cerca de ± 2ºC para os
1 2 3 4 5 6 7 8
10 Botão A2 três sensores quando de sua utilização dentro da faixa de
11 Potenciômetro X2
até 50ºC de variação. No caso particular do termistor de
12 Terra (ou porta MIDI)
13 Potenciômetro Y2 100 kΩ, pode-se estender a faixa medida para até 80ºC
9 10 11 12 13 14 15 14 Botão B2 sem grande prejuízo à confiabilidade dos dados, embora a
15 + 5 volts (ou porta MIDI) incerteza seja da ordem de ± 4ºC para temperaturas muito
Fig. 2: Pinagem
altas.

30 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
31
na prática

na prática
A calibração do Data-MAP pode ser feita pela escolha de Re-interpretando os dados em termos de temperatura, é A figura abaixo traduz esse comportamento em termos da carne aqueça mais lentamente. Portanto, ao se retirar a
duas temperaturas conhecidas: digamos T1 e T2. Medindo- nítido o resfriamento da água por mais de um minuto, numa da temperatura. carne do forno, o miolo encontra-se a uma temperatura
se R(T1) e R(T2) para estas temperaturas, obtém-se os variação total de cerca de 2ºC em relação à temperatura inferior à da camada mais externa da peça. Por isso os
parâmetros a e b pela solução de um sistema algébrico inicial a cada vez que um comprimido efervescente é bons cozinheiros colocam a carne para “descansar” antes
simples de duas equações e duas variáveis. adicionado. de servi-la. A camada mais externa tende a perder seu
calor não só para o ar, mas também para o próprio miolo
Vale ressaltar, contudo, que estes dois parâmetros são Outro experimento interessante é verificar, que está mais frio. Assim, o interior da carne continua
particularmente característicos de cada montagem simultaneamente, a velocidade de aquecimento e a cozinhando mesmo após ter saído do forno.
experimental realizada, o que inclui não somente o posterior velocidade de resfriamento de um metal em dois
termistor, mas especialmente os contatos elétricos feitos, pontos diferentes, a distâncias distintas de uma fonte de Muitos outros experimentos em Física Térmica foram
o computador utilizado (e o estabilizador de voltagem, calor inicial. Utilizando uma vela, aquecemos por alguns realizados e constam do projeto final de Instrumentação
se existente) e até mesmo a tensão da rede elétrica minutos uma barra de aço inoxidável, de 30 mm de largura para o Ensino (monografia) do autor. Alguns deles são: o
doméstica. Assim, conhecidos a e b, utiliza-se a equação e cerca de 3 mm de espessura. Um dos termistores é estudo do superresfriamento (uma substância permanece
(2) para converter (através de uma planilha eletrônica de posicionado a 3,0 cm da vela (ao longo da barra) e o outro no estado líquido a uma temperatura inferior ao seu
dados) cada leitura de resistência elétrica em um valor de a 6,0 cm, conforme a figura abaixo. ponto de solidificação); uma comparação entre condução
temperatura, em qualquer escala que se desejar. Para obter e convecção num experimento com um tubo metálico;
T na escala Celsius, basta subtrair 273,15 da leitura em 6,0 cm um estudo da sensibilidade térmica da pele humana; uma

0,3 cm
kelvins. análise e comparação do resfriamento do café (uma porção
3,0 cm Fig. 8: Resfriamento da barra metálica
numa xícara e outra dentro de uma garrafa térmica); uma
barra imediatamente após apagar a vela.
Alguns experimentos análise do funcionamento do congelador e da geladeira,
entre outros.
Uma vez montado e calibrado o termômetro, ele pode ser
usado para observar uma série de fenômenos térmicos. S2 S1 Nota-se que o sensor S1, mais próximo da vela, atinge Implementação do Projeto no CAp
Mostra-se particularmente interessante para observar a uma temperatura bem mais alta que o sensor S2 durante
variação da temperatura ao longo do tempo num processo o aquecimento. Entretanto, ao retirarmos a fonte de calor Como o objetivo último e principal deste projeto é de
vela
qualquer. e deixarmos o objeto à temperatura ambiente, ainda servir como ferramenta didática ao professor do Ensino
monitorado, percebe-se que o sensor S2, inicialmente Médio, implementamos um piloto do mesmo por duas
Por exemplo, quando se adiciona um comprimido mais distante da vela, continua a aquecer por mais de um vezes nas turmas da segunda série do próprio CAp-UFRJ;
efervescente de vitamina C em água percebe-se uma Fig. 6: Esquema de aquecimento da barra metálica. minuto até iniciar, de fato, seu resfriamento. originalmente em outubro de 2005 e, mais recentemente,
redução na temperatura da mistura. O que ocorre é um em agosto de 2006. Deste modo, identificamos as falhas
processo endotérmico, que retira energia térmica da água. O que se vê é similar ao que acontece quando se aquece e méritos do projeto em funcionamento real, permitindo-
Deste modo, se pudermos monitorar a temperatura da O resultado mais interessante, contudo, é quanto ao uma peça de carne num forno doméstico. Como o calor nos aprimorá-lo antes de sua publicação final como
água durante este período de tempo, deve ser possível resfriamento de cada um destes pontos da barra, logo penetra de fora para dentro, é natural que a parte interna Projeto de Instrumentação para o Ensino.
medir seu resfriamento devido ao processo endotérmico. após a retirada da vela.
A figura 6 mostra o que acontece quando adicionam-se
três sucessivos comprimidos efervescentes em cerca de Grupo utilizando um
100 ml de água, com intervalos de alguns minutos entre multímetro no processo de
eles. montagem do termômetro.

foto: Bernardo Medina

Fig. 7: Software de aquisição de dados mostrando a


variação da resistência elétrica do termistor durante
o resfriamento natural da barra imediatamente após
apagar a vela.
Fig. 5: Resfriamento endotérmico da água.

32 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
33
opinião
na prática

Assistente
Neste projeto piloto, conduzido sob orientação dos Conclusões
professores Beto Pimentel (CAp-UFRJ) e Carlos Eduardo
Aguiar (Instituto de Física da UFRJ), foi proposto às O projeto explora a riqueza didática de todas as etapas do
três turmas da segunda série a construção, calibração e processo: compreensão dos conceitos iniciais envolvidos
utilização (em projeto de pesquisa) de termômetros Data- (termistores, porta de jogos, resistência elétrica, etc.),

ou Inspetor?
MAP, como trabalho bimestral de grupo e, portanto, parte a montagem e calibração dos Data-MAP’s pelos alunos
da avaliação bimestral. (envolvendo o manuseio da funções exponencial e
logarítmica, numa interface casada com o programa de
Em 2005, o desempenho dos estudantes como um todo Matemática), e ainda a realização de experimentos em
foi surpreendente, em particular, no que diz respeito à Física Térmica, alguns clássicos e outros originais.
postura diante do novo e das dificuldades encontradas.

um profissional em
Entre elas, destacam-se as de ordem teórica, devido aos Assim sendo, rompem-se algumas barreiras do
conceitos inéditos de física e de matemática envolvidos, e desinteresse pela Ciência, em grande parte fruto da
as de ordem prática, em função da montagem envolvendo descontextualização do ensino. Outros problemas, como a
soldas, dos problemas de acesso a computadores e da falta atual matematização excessiva da Física no Ensino Médio

busca de uma
de termistores apropriados no comércio. e a falta de laboratórios científicos apropriados nas escolas
também podem ser minimizados nesta atividade, pela

A
Ao final do processo, o aprendizado dos alunos quanto realização de experimentos com o Data-MAP. Além disso,
aos conceitos envolvidos podia ser notado através dos o projeto amplifica o contato do aluno com a Física e com

identidade
trabalhos desenvolvidos por eles e também pelo relato de a experimentação, levando-as para além da sala de aula,
professores de outras disciplinas. Esses outros professores uma vez que as atividades são propostas para casa.
eram também testemunhas da euforia dos alunos diante o longo da história da
de um feito grandioso e inicialmente inacreditável para educação brasileira, a figura do
eles próprios: ter construído na escola uma ferramenta
Bernardo Medina realizou a Prática de Ensino em
Inspetor ou Assistente de Alunos foi Esmeraldino
experimental funcional a partir do zero, pelas próprias definida de maneiras muito distintas.
mãos e ter conseguido, de fato, aprender Física e se divertir Física no CAp-UFRJ ao longo de 2005. Defendeu
sua monografia de conclusão de curso, tema deste
Hoje novamente se discute a questão Sardinha
ao mesmo tempo durante esse processo. artigo, no segundo semestre de 2006. do papel deste profissional nas
escolas, com a sugestão de passar
Ilustrações por
Em 2006, já com a bagagem do ano anterior, o projeto a chamar-se Auxiliar Educacional. Beto Pimentel
foi reimplementado, desta vez com início antecipado Independentemente do nome que
para o terceiro bimestre e com auxílio dos licenciandos Bibliografia e Leituras Complementares se dá ao cargo, o que é importante
de Física e da equipe do Núcleo de Atividades em Física mesmo é o que o faz ser um bom
MEDINA, Bernardo, PIMENTEL, Beto e AGUIAR, Carlos
(NAF), composto por alguns alunos e licenciandos de E., Data-MAP: Termometria através do computador, profissional: a dedicação ao trabalho
Física do Ensino Médio do CAp-UFRJ e coordenado pelo Projeto de Instrumentação para o Ensino, Instituto de e, acima de tudo, o respeito ao
professor Beto Pimentel. A antecipação visou a ampliar o Física da UFRJ, 2006. próximo. É isso que o fará ser
tempo para desenvolvimento do projeto, que concluímos respeitado.
SILVA, Lucia F. e VEIT, Eliane A., O microcomputador
como escasso no ano anterior. No terceiro bimestre, como instrumento de medida no laboratório didático
então, os alunos deveriam montar o termômetro, calibrá- de Física, Textos de apoio ao Professor de Física, v.16
lo e ainda realizar um experimento piloto padrão, de n.2, 2005.
resultado conhecido, proposto a todos os grupos. No
HAAG, Rafael, OLIVEIRA, Leonardo M. e VEIT, Eliane
último bimestre, a tarefa foi propor um experimento A., Coleta automática e interpretação de dados em
próprio, de resultado não necessariamente conhecido, e um laboratório didático de termologia, Textos de
realizá-lo com o mesmo termômetro digital. Mais uma apoio ao Professor de Física, v.16 n.2, 2005.
vez, os resultados mostraram a capacidade da proposta
AGUIAR, Carlos. E., LAUDARES, Francisco, Aquisição
para motivar criativamente o estudo de tópicos em Física de dados usando Logo e a porta de jogos do PC, Rev.
Térmica e gerar bons projetos e resultados experimentais. Bras. Ens. Física, v.23, n.4, 2001.

34 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
35
opinião
opinião
Desde Benjamin Constant, que protagonizou a reforma de chato ou “quadrado” (termo muito usado na época), há uma proposta de profissionalização técnica de nível • Identificar o papel da escola na construção da sociedade
de 1890, os educadores e os governantes brasileiros, pois isto automaticamente aconteceria. Também deveria médio para atuar na área da educação. A justificativa é a contemporânea;
quando podem, reestruturam o sistema de ensino no país. evitar atuar como o “educador muito bonzinho”, que é de que esta formação servirá não só para a aquisição das • Assumir uma concepção de escola inclusiva, a partir do
Em particular quero tratar de algumas novidades que nocivo ao desenvolvimento da personalidade da criança competências necessárias para o bom desenvolvimento estudo inicial e permanente da história, da vida social
acompanharam as mudanças introduzidas na educação ou do adolescente. das atividades educacionais, área que requer competentes pública, da legislação e do financiamento da educação
brasileira a partir da lei 5.692, de agosto de 1971, quando e compromissados profissionais, como também será um escolar;
a estrutura do ensino foi novamente modificada. Essas A lei 5.692 instituiu a obrigatoriedade da presença do instrumento importante para a construção da identidade • Identificar as diversas funções educativas presentes na
transformações também se referiram ao papel do Serviço de Orientação Educacional e Vocacional em todos social desses funcionários e para sua valorização escola;
Inspetor de Alunos. Não era mais defensável a velha os estabelecimentos de ensino. Um dos contatos mais profissional. Estarão compreendidas aí atividades de nível • Reconhecer e constituir identidade profissional educativa
idéia do inspetor confundido com fiscal de disciplina. Já freqüentes que aquele órgão deveria ter era com o Inspetor técnico, de planejamento, execução, controle e avaliação de em sua ação nas escolas e em órgãos dos sistemas de
naquela época pensava-se no Inspetor como uma pessoa de Alunos, pois, não raro, os alunos deixavam transparecer funções de apoio pedagógico e administrativo nas escolas ensino;
dinâmica e de grande importância dentro da escola, onde sua problemática individual nas conversas de corredor. O públicas e privadas de Educação Básica e Superior, nas • Cooperar na elaboração, execução e avaliação da proposta
a normalidade e a convivência pacífica muito dependia Inspetor deveria estar preparado para prestar os primeiros respectivas modalidades. Tradicionalmente, são funções pedagógica da instituição de ensino;
desta figura. socorros em caso de acidente, ter noções de psicologia educativas que se desenvolvem de forma complementar • Formular e executar estratégias e ações no âmbito das
da infância e adolescência, de prevenção de acidentes e à ação docente. Esses Serviços de Apoio Escolar serão diversas funções educativas não docentes, em articulação
As responsabilidades que competiam a este profissional de relações humanas, tendo assim destaque merecido na realizados em espaços como a secretaria escolar, a com as práticas docentes, conferindo-lhes maior qualidade
foram determinadas, ao lado de algumas apreciações estrutura escolar. Ele deixou de ser um mero agente de coordenação, o serviço de manutenção de infra-estrutura, educativa;
objetivas sobre os novos rumos da educação brasileira, fiscalização para se transformar num colaborador efetivo cantinas, recreios, portarias, laboratórios, oficinas, • Dialogar e interagir com os outros segmentos da escola
ao longo da década de 70, a partir da lei de atualização da tarefa de administração da escola. instalações esportivas, jardins, hortas e outros ambientes no âmbito dos conselhos escolares e de outros órgãos de
e expansão do ensino de 1º e 2º graus, hoje entendido requeridos pelas diversas modalidades de ensino. gestão democrática da educação;
como Educação Básica, compreendendo os Ensinos Hoje, encaminhada para homologação, há uma Proposta de • Coletar, organizar e analisar dados referentes à secretaria
Fundamental e Médio. Diretrizes Curriculares Nacionais para a área profissional De acordo com os pareceres da referida proposta, as escolar, à alimentação escolar, à operação de multimeios
de Serviços de Apoio Escolar. No corpo do relatório competências profissionais gerais do técnico da área são didáticos e à manutenção da infra-estrutura material e
Naquela época, os governantes preocuparam-se com a as seguintes: ambiental;
criação de um quadro secundário de técnicos que pudesse • Redigir projetos, relatórios e outros documentos
suprir as necessidades que adviriam com o tempo em pertinentes à vida escolar, inclusive em formatos legais, para
todas as áreas, inclusive na educação. as diversas funções de apoio pedagógico e administrativo.

Assim, foi analisada a necessidade de mudança da A incorporação do profissional de serviço de apoio escolar,
denominação do Inspetor de Alunos para Auxiliar de em uma das áreas da Educação Profissional Técnica de
Educação, ou outra mais adequada. Não seria mudada Nível Médio vem sendo tratada desde 1999. Os princípios
apenas a denominação, mas também suas atribuições, gerais para a política de formação do técnico em educação
deixando-se de lado o fiscal severo e ranzinza para dar são os seguintes:
lugar ao profissional consciente do seu papel de educador.
Este, sem deixar de observar as regras básicas para sua ação a) A educação como direito de todos e dever do Estado,
diária, colaboraria principalmente com a administração incluindo a formação básica do cidadão e sua qualificação
superior para tornar a Escola um ambiente educativo e para o trabalho, pela habilitação profissional;
agradável. Deveria assim usar sua capacidade para auxiliar b) Igualdade de condições de acesso às escolas e
o aluno na sua integração na escola e na sociedade, permanência nelas com sucesso para todos cidadãos;
contribuindo para sua formação integral e para a prática c) Liberdade de aprender e ensinar, com uso das novas
da cidadania participativa e crítica. tecnologias da informação e comunicação;
d) Gestão democrática do ensino público com qualidade e
Com esta responsabilidade efetiva, o profissional em responsabilidade social;
questão procuraria observar toda a movimentação e) Vinculação do processo educativo com as práticas
dos alunos, verificando suas faltas e falhas e atuando sociais e o mundo do trabalho;
prontamente no sentido de orientá-los ou até mesmo f) Ruptura com as formas elitistas, seletivas e de privilégio
repreendê-los. Caberia a ele também zelar pelas instalações da educação escolar até hoje vigentes;
do estabelecimento e observar a entrada e a saída dos g) Combate aos privilégios e reafirmação da inclusão
alunos. Deveria estar atento aos alunos que freqüentemente social de todos os sujeitos constituintes no e do processo
chegam atrasados ou saem cedo, não temendo ser chamado educativo;
h) Articulação, nas escolas da educação básica, entre os
espaços da docência, na perspectiva da construção do
saber sistematizado num ambiente educativo e prazeroso.

36 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
37
sem fronteiras
opinião

“ O Transtorno do
Fiz uma pequena enquete na escola recentemente, e
diante da pergunta: “O que representa para você este
É no processo de profissional?” alguns alunos foram categóricos em
responder: “Não deveria haver Assistente... os alunos
interação com os

Déficit de Atenção
deveriam ter liberdade de escolher [se assistem ou não as
aulas, por exemplo], como na Faculdade...”. Além disso, é
alunos, a cada troca tachado de “X-9” (delator) e chato. Mas, na sua maioria, os
de idéias, que se dá o alunos acreditam que esses profissionais são necessários de
uma maneira ou de outra, não sendo capazes, no entanto,
reconhecimento do papel de dar uma definição clara.

e Hiperatividade

deste profissional para Para alguns funcionários, colegas de trabalho, este
profissional muitas vezes representa meramente um
cada um deles. carimbador de cadernetas, zelador do patrimônio da
escola, um elo de ligação do aluno com todas as instâncias
administrativas da escola, um mantenedor da disciplina e
um auxiliar dos professores.
Será que não há diferença na percepção dos atos deste Monica Lavoyer
profissional com relação ao nome que se dá a ele? Talvez o Acredito que, pelo menos no CAp-UFRJ, estes
Ilustrações por
termo Inspetor de Alunos cause mais impacto, trazendo à profissionais têm as qualidades necessárias tanto para uma
mente uma figura de autoridade, disciplinadora, enquanto boa convivência na comunidade da escola quanto para Beto Pimentel
o termo Assistente de Alunos remete ao estabelecimento atuar na construção de cidadãos com responsabilidade e
de normas de convivência, e parece estar pronto para conscientes dos direitos e deveres do aluno como definidos
ajudar o aluno em termos de conscientização das práticas pelas normas de convivência estabelecidas por todos.
da cidadania. As representações deste profissional dentro
do ambiente escolar são, portanto, muitas. É no processo Talvez ainda fosse possível uma outra nomenclatura que
de interação com os alunos, a cada troca de idéias, que se atendesse a uma significação mais ampla para o papel
dá o reconhecimento do papel deste profissional para cada deste profissional: Auxiliar Educacional. Seja como for, o
um deles. nome é importante, mas o que o faz ser respeitado como
um bom profissional é mesmo a sua dedicação ao trabalho
O problema com ambas as terminologias é o seguinte: o e acima de tudo o respeito ao próximo.
primeiro lembra o policial militar, chato e repressor, para

A
quem o mundo é só regras; o segundo, um assistencialista,
que infantiliza as crianças e adolescentes, sem delegar a Esmeraldino Pio Sardinha cursa
responsabilidade que todos temos na construção do Pedagogia na Faculdade de Educação
sujeito como uma pessoa crítica, parte da sociedade, com da UFRJ e é um profissional no
CAp-UFRJ como prestador de serviço
cada minuto, quatro crianças re-
direitos e deveres. cebem prescrição de Ritalina nos EUA. Esta foi
na qualidade de Assistente (ou seria
Inspetor?) de Aluno. a alarmante notícia da Associação de Psicologia
Americana, de junho de 2001, alertando, através
da revista Monitor on Psychology, que mais de 2
milhões de prescrições eram feitas a cada ano. Até
mesmo os defensores do modelo biológico da ques-
tão, como a Academia Norte-Americana de Psiquiatria
Infantil e de Adolescentes, reconheceram a necessidade
de maior rigor nos diagnósticos do Transtorno do Défi-
cit da Atenção e Hiperatividade – TDAH, recomendando
aos especialistas que não se baseassem somente em in-
ventários de sintomas ou em queixas de pais e professores.
O tema TDAH é polêmico em diversas esferas, e se você
é uma dessas pessoas que está tentando entender algo neste
campo, não fique consternado, porque muitos profissionais da
área também estão confusos.

38 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
39
sem fronteiras

sem fronteiras
Para entender um pouco mais sobre o TDAH variação estatística de casos de uma cultura para outra. O perigo de se rotular as crianças que crescem acreditando E você, professor?
QI é usado como exclusor diagnóstico para aqueles que que têm algo de errado em seu cérebro; e apontam para
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da apresentem deficiência mental ou habilidades intelectuais a nefasta conseqüência que a prescrição medicamentosa O baixo desempenho acadêmico é a principal preocupação
Organização Mundial de Saúde (OMS), declara que há uma muito elevadas, embora no Brasil os profissionais tendam traz à família, que é a de interromper a busca de fatores que os pais têm com seus filhos diagnosticados com
incerteza contínua sobre a subdivisão mais satisfatória dos mais a inferi-lo do que a medi-lo. Basicamente, o que predisponentes na dinâmica familiar e nas escolas que o TDAH, e isto é normalmente o que os faz serem
transtornos hipercinéticos., que inclui o TDAH. existe para o diagnóstico é uma série de comportamentos exercem um rígido controle comportamental de seus medicados. A criança com predominância de falta de
infantis agrupados e classificados como inadequados, alunos. atenção tipicamente vai mal nos estudos e a criança com
O diagnóstico e tratamento são complicados tanto pela sempre relacionados aos colegas de classe, à freqüência e predominância de hiperatividade vai mal nos estudos e
dificuldade em determinar níveis de intensidade, como, à situação, muito embora o estudo da situação nunca seja Pesquisas reveladoras sobre o TDAH realizadas por ainda agita a sala de aula.
por exemplo, o que seria “algazarra excessiva”, quanto por levantado nos manuais diagnósticos, como este da OMS. psicólogos revelam que a redução da hiperatividade,
aspectos diferenciais devido a comorbidades. aumento do rendimento escolar e melhoria na organização Os efeitos psicológicos e sociológicos de classificar
A literatura específica aponta para dois grandes eixos psíquica são obtidos através do tratamento psicoterápico, comportamentos como sendo um distúrbio, como no
Para a CID-10, a atenção comprometida é manifestada explicativos do fenômeno designado pela psiquiatria como sem o uso de medicamentos ou de dieta especial. Os caso do TDAH, criam um rótulo que marca o estudante
por interromper tarefas prematuramente e por deixar TDAH: um construído sob o primado das neurociências resultados são considerados como forte evidência da e interfere no modo como ele passa a se perceber e a ser
atividades inacabadas. As crianças mudam freqüentemente (Neuroquímica, Neuropsicologia, Neuroanatomia) e outro origem psicodinâmica da síndrome hiperativa em crianças percebido pelos outros. Para o professor, ele mais distorce
de uma atividade para outra, parecendo perder o interesse construído através das contribuições da Psicologia em neurologicamente normais. Concluindo: este grupo do que colabora na elaboração de um relacionamento


em uma tarefa porque se distraem com outras (embora sua vertente dedicada à clínica. Os dois eixos explicativos defende a psicoterapia como tratamento do TDAH. professor-aluno positivo e justo.
estudos de laboratório geralmente não mostrem um grau são conflitantes quanto ao que causa o fenômeno e ao
incomum de distratibilidade sensorial ou perceptiva). seu tratamento, mas concordam em apenas um aspecto:
Esses déficits na persistência e na atenção devem ser a necessidade da psicoterapia para a boa resolução da Classificar O doutor em Psicologia David Stein lidera um programa
de mudança comportamental nos EUA para jovens
diagnosticados apenas se forem excessivos para a idade e hiperatividade e da falta de atenção.
QI da criança. comportamentos como diagnosticados com TDAH como uma alternativa ao
arriscado uso de psicoestimulantes. Ele incentiva pais e
A CID-10 continua, na página 257, a tratar da outra
O eixo biológico assume que os problemas psicológicos
decorrem das desordens do cérebro ou do sistema um distúrbio interfere professores a não rotularem as crianças e oferece dicas
valiosas quanto à atitude diante da educação de valores
condição necessária ao TDAH, a hiperatividade.
Esta implica inquietação excessiva, em especial em
nervoso. Neste modelo, o TDAH é percebido como uma
doença de origem endógena e cujos sintomas precisam
no modo como o aluno e da leitura. Uma criança que realmente adore aprender
nunca receberá o diagnóstico de TDAH, diz Stein. Se pais
passa a se perceber e


situações que requeiram calma relativa, e pode envolver, ser controlados por psicoestimulantes, como a Ritalina. A
e professores não estimularem o amor da criança pela
dependendo da situação, atitudes como correr, pular ou psicoterapia é fortemente recomendada como tratamento
levantar do lugar quando é esperado que a criança fique auxiliar neste modelo. a ser percebido pelos aprendizagem, ela nunca levará a escola seriamente e não
estará motivada a se sair bem nela. Aprender requer muita
sentada, loquacidade e algazarra excessiva ou inquietação.
O padrão para julgamento deve ser que a hiperatividade O eixo psicológico enfoca o papel causal dos fatores outros energia, atenção, ávido interesse, escrita e escuta ativa, boa
capacidade de memorização e profunda concentração.
é excessiva no contexto do que é esperado na situação psicológicos no desenvolvimento da psicopatologia.
e por comparação com outras crianças da mesma idade Procura-se identificar experiências de vida, traumas,
Para incrementar estas e outras habilidades necessárias à
e QI. A percepcão do que é excessivo ou inadequado é conflitos, estilos parentais, entre outros aspectos que levam
aprendizagem, o aluno precisa estar motivado e existem
uma dificuldade e, provavelmente, responde pela enorme o sujeito aos distúrbios psicológicos. Seja pesquisando as
muitas técnicas e estratégias para melhorar estas habilidades:
ações passadas, os relacionamentos e os conflitos entre
As técnicas foram desenvolvidas para alunos do Ensino
eles, seja examinando as condições do ambiente que
Fundamental, mas podem ser usadas para os alunos do
mantêm os problemas emocionais atuantes, os defensores
Ensino Médio. Cada professor precisará adaptá-las de
deste modelo afirmam que, no caso do TDAH, ocorre
acordo com as necessidades de seus alunos.
um alarmante excesso diagnóstico. Alertam ainda para o


1. Estratégias Metacognitivas: ajudam o aluno a
desenvolver sua auto-consciência sobre como aprendem e
o que aprendem.

O padrão para a) RAP, sigla em inglês para read, ask, paraphrase, ou,
traduzindo: leia o parágrafo; pergunte a si mesmo qual é a
julgamento idéia principal e detalhes de suporte (pelo menos dois) e diga,
com as próprias palavras, quais são as idéias principais;
deve ser que a b) Externar o pensamento: basicamente, envolve deixar
claro o processo de pensamento usado quando se está lendo
hiperatividade


algo – interagir com o texto, parando para prever o que virá,
é excessiva no fazer perguntas sobre o autor, descrever o que é visualizado,
fazer conexões, entender o significado do vocabulário, etc.
contexto

40 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
41
sem fronteiras

resenha
2. Estratégias de Organização: ajudam o aluno com 3. Estratégias de Leitura: ajudam o aluno que, devido
sua dificuldade de organização, consciência do tempo e
gerenciamento do tempo.
à dificuldade de manter a atenção na atividade e a persistir
na tarefa, demonstra ter problemas com a lembrança e a
compreensão do material lido:
O Discurso e
a) Encorajar todo tipo de organização com o material
escolar, como o uso de divisórias bem delimitadas para
as diferentes matérias, local apropriado para guardar os
a) Pré-leitura: correlacionar o tema do que será lido com a
experiência dos alunos. Pode-se perguntar “O que nós já
a Diferença
trabalhos escolares, lápis apontados, pastas e mochilas para sabemos sobre…?”; estabelecer o propósito daquilo que
André Ricardo Viana Nunes
carregar o material para a escola, lugar certo para alocar a os alunos vão ler; usar material de apoio ao assunto como Professor de Filosofia do CAp-UFRJ e mestrando em Filosofia pela UFRJ
mochila, tanto em casa quanto na escola, carteira certa, e mapas, musica, fotos, vídeo; trabalhar o vocabulário que
limite da quantidade de material sobre a carteira; possa trazer dificuldades na compreensão do texto; Flávia de Barros Gonçalves Dias de Souza
Psicóloga e estudante de Pedagogia da UFRJ
b) Criar sinais visuais e/ou verbais quando quiser que os b) Durante a leitura: ajudar o aluno a colocar a idéia principal
alunos parem o que estão fazendo para lhe dar atenção e em suas próprias palavras. Alguns alunos gostam muito Priscila Monteiro Corrêa
assim realizar a transição de uma atividade para outra; de gravar cada idéia principal e ouvir depois; esclarecer Estudante de Letras da UFRJ
c) Providenciar guias de estudo para ajudar a organizar o significado da estrutura do livro/texto (palavras em
Resenha do livro “Identidades Fragmentadas: a construção
o pensamento sobre os tópicos que serão estudados na negrito, em itálico, cabeçalhos, resumos, etc.); ensinar
discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula”, de
semana; como reconhecer os fatos chave das idéias redundantes Luiz Paulo da Moita Lopes, ed. Mercado de Letras, 2002
d) Comunicar claramente aos alunos para que anotem nas ou irrelevantes; encorajar o diálogo com o texto – “Onde

O
agendas ou calendários o dia em que devem entregar o acontece a história?” “Qual é o problema?” “ O que o
trabalho pedido. Monitorar inicialmente para verificar se personagem vai fazer agora?” “Por que ele disse isto?”;
anotaram nos dias e horários adequados; criar o colega permitir que o aluno ouça a própria voz (sem interferir livro é indicado às pessoas que têm interesse em por promover a dessexualização dos conteúdos, entendido
questões referentes a gênero, mais. especificamente nas áreas pelo autor como o esvaziamento do conteúdo sexual, ou
de estudo para que os alunos ajudem uns aos outros. Os com os demais) ao ler em sala de aula coordenando assim
de Lingüística Aplicada e Educação. Nele o autor, professor seja, as disciplinas são dadas de forma neutra, as questões
colegas devem trocar telefones para ligar para o outro o estímulo auditivo com o visual na compreensão da do programa de pós-graduação em Lingüística Aplicada da humanas não aparecem.
em caso de ausência e pegar os deveres e a matéria dada mensagem; UFRJ, busca confirmar a hipótese de que nossa identidade
no dia. Eles devem checar um com o outro as anotações c) Pós-leitura: usar a informação para completar lacunas só pode ser concebida através de uma construção discursiva Moita Lopes critica a perspectiva essencialista de identidade
das atividades. Escolha um colega organizado e tolerante ou responder um breve questionário; debater mais mediada pela interação social. Para tal, realizou sua pesquisa promovida pelo discurso oficial, que pretende homogeneizar
para o aluno mais agitado e um organizado e que goste de profundamente um ou outro tópico da leitura, relacionar em uma escola pública da cidade do Rio de Janeiro, onde as diferenças no indivíduo. e em seu lugar propõe a construção
ajudar para aquele com falta de atenção; com outras atividades de escrita como uma redação ou foram escolhidas as aulas de leitura em língua portuguesa na da identidade em bases socioconstrucionistas, que levam em
e) Ensinar aos alunos a ver as horas em relógios analógicos. mesmo aplicar o conhecimento do que foi lido. sala de aula de uma turma de 5a série. consideração tais diferenças.
Ensine-os a lidar melhor com calendários e horários,
Seu objetivo era o de avaliar como as histórias lidas e Eliminando a figura do diferente, a construção da identidade
estabeleça a rotina da aula ou do dia escolar para a turma
comentadas em sala de aula, tanto na aula de leitura quanto em é tratada de modo a captar aquilo que constitui a essência
e refira-se a ela ao longo da aula ou do dia; encorage os outra disciplina, poderiam funcionar como um instrumento do indivíduo, daí o nome de concepção essencialista. Para o
alunos e seus pais a planejarem horários para o dever de de mediação na construção das identidades sociais. autor, se quisermos diminuir os efeitos das práticas discursivas
casa e estudo a cada semana; ajude o aluno a perceber excludentes, será preciso incluir no debate os discursos que
quanto tempo é necessário para reler o que foi dado em É importante para o autor a oposição entre as perspectivas promovem as diferenças. Porém, ao criticar a escola por
sala de aula; monitore o progresso dos alunos e lhes dê o essencialista e socioconstrucionista de elaboração do conceito não promover o discurso da minoria, o autor já determina a
máximo de feedback possível. Não se esqueça de elogiar o de identidade . A primeira defende, em termos de identidade identidade dessa minoria. Ao fazer essa determinação, fica
esforço e o sucesso dos alunos. sexual, que a escola e a sociedade têm expectativas definidas patente o modo de produção de poder do discurso oficial
em relação ao papel do menino e da menina. Já para a visão sobre o diferente, pois ele já nomeia quem são aqueles que
socioconstrucionista, a identidade é concebida como uma precisam afirmar sua diferença.
construção discursiva.
Para saber mais: O autor defende que a escola cumpra seu papel democratizante,
Como o início da adolescência é uma fase na qual a e sugere que o professor situe os alunos na prática social,
sexualidade aflora em função da ação hormonal, Moita Lopes trabalhando com textos que focalizam diversos temas sociais.
Lavoyer, M. O Transtorno do Déficit de Atenção
traça uma diferença entre as concepções de sexualidade — Privilegia a escola como espaço de transformação das práticas
e Hiperatividade e a Atribuição de Causalidade. heterossexual e homoerótica —, e gênero — masculino e discursivas de exclusão, ao mesmo tempo em que reconhece
Dissertação. Programa de Pós-Graduação em feminino. O problema para o autor é que a sexualidade vista que esta não é o único lugar de construção de identidade.
Psicologia Social da UERJ, 2001. numa perspectiva essencialista impossibilita a autopercepção É exatamente por conceber identidades sociais como algo
dos sujeitos como agentes de transformação do mundo por mutável que podemos constituir novos significados nas
meio do discurso. diversas práticas sociais nas quais atuamos.
Stein, D. B. Unraveling the ADD/ADHD fiasco:
Psicóloga formada pela UFF, Monica Lavoyer
successful parenting without drugs. Kansas: é psicopedagoga, psicóloga clínica e mestre em Na turma pesquisada foi possível verificar como a atitude A conclusão a que o autor chega, então, é a de que sem a
Andrews MacMeel Publishing, 2001. Psicologia Social pela UERJ. É pós-graduada em dos alunos frente a um colega com tendências homossexuais abertura desses espaços discursivos na escola e na sociedade
Psicologia Cultural pela Universidade da Califórnia pôde construir negativamente sua identidade. Os alunos de um modo geral não será possível alcançar um dos
(Santa Cruz, EUA) e em Psicologia Cognitiva pela
dissecam seu jeito de andar e de falar e a professora se exime maiores objetivos da educação: a formação de indivíduos
OMS, CID-10. Ed. Artes Médicas. 1993. Universidade de Stanford (Palo Alto, EUA).
(e-mail: mlavoyer@hotmail.com) de apresentar um discurso diferente do da maioria. Com esta críticos e a conseqüente desnaturalização das tendências
atitude, ela reproduz a perspectiva do discurso oficial que, homogeneizantes.
apesar da proposta de inclusão dos temas transversais, acaba

42 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
43
notas

notas
Aconteceu no
Semana de Arte, Ciência e Cultura 2006. Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

A comunidade capiana vivenciou um momento de in- Com a presença do Magnífico Reitor Aloísio Teixeira na
tensa troca cultural durante a realização da Semana de sessão do Conselho Pedagógico extraordinário, ocorrido
Arte, Ciência e Cultura nos dias 09, 10 e 11 de outubro. no mês de setembro, os representantes dos Setores Cur-
Foram apresentados 80 trabalhos incluindo painéis, riculares e membros da direção do Colégio de Aplicação

2º semestre
mesas-redondas, palestras, oficinas, música, cinema e discutiram o Plano de Desenvolvimento Institucional. A
teatro. Os trabalhos apresentados foram orientados reunião teve grande significado por tratar da inserção do
por professores do CAp a partir de atividades realizadas CAp-UFRJ na estrutura universitária e da contribuição
em sala de aula ou elaborados por alunos do Colégio, que o Colégio pode ter na elaboração e execução de uma
que tiveram a oportunidade de demonstrar as suas ha- política de formação de professores.
bilidades e competências em diversas áreas de conhe-
cimento.
Os licenciandos também estiveram presentes na SACC Participação Fesbe
inseridos em projetos pedagógicos dos Setores Curricu-
lares que são desenvolvidos no CAp, além de apresen-
O mês de agosto é temporada de Fesbe. Nossos alunos,
tarem projetos próprios em diferentes áreas de ensino.
acompanhados, por um representante da Direção Adjun-
Neste sentido, a SACC se constitui em uma oportuni-
América Latina: identidades, culturas e utopias. ta de Ensino, o Professor Marcelo Bueno, e da Direção
dade para o licenciando diversificar e enriquecer o seu
O evento contou com a participação dos professores Adjunta de Licenciatura, Pesquisa e Extensão, Professor
estágio.
Marcelo Bueno, que compôs o belíssimo mapa político Fábio Garcez, e o eterno fesbiano Vicente Batista estive-
da América Latina, a professora Malu, que fez a leitura A Comissão organizadora da Semana de Arte, Ciência ram presentes em mais um Congresso da Fesbe (Federa-
de poemas de Pablo Neruda para os nossos alunos e o e Cultura (COSACC) ainda deverá organizar uma pu- ção de Sociedades de Biologia Experimental), ocorrido
professor Moacyr Barreto, que fez uma análise do samba blicação contendo os resumos de todos os trabalhos em Águas de Lindóia, São Paulo. A Fesbe foi mais uma
da Escola de Samba Vila Isabel, vencedora do carnaval de apresentados durante o evento e os certificados de par- vez um evento de capital importância para os nossos alu-
2007 com o enredo Soy loco por ti América. ticipação do evento. nos desenvolverem a autonomia intelectual e construírem
Convidamos todos os professores e alunos para iniciar o saudável hábito da troca de conhecimentos. Os alunos
a discussão sobre o formato da Semana de Arte, Ciência viveram intensamente o conhecimento científico durante
e Cultura de 2007. A cada ano o evento vai apresentan- os quatro dias de estadia na charmosa e agradável cidade
do novidades e demandas variadas dos docentes. das águas.

Bolsas de Iniciação Artística e Cultural (IAC)

O programa de bolsas IAC tem o objetivo de despertar as


Os ventos gelados dos Andes chegaram ao Colégio vocações nas áreas artístico-culturais e incentivar novos ta-
de Aplicação durante a Semana de Arte, Ciência e Cultu- lentos potenciais entre estudantes de graduação, mediante
ra. Ao organizar o evento América latina: identidades, sua particpação em projeto artístico-cultural, inclusive os
culturas e utopias, o Núcleo Audiovisual para o Ensino de caráter interdisciplinar e interdepartamental.
de História (NAEH) trouxe para a discussão e reflexão a
Em 2006 o CAp recebeu 24 bolsistas oriundos de diver-
História da América Latina. O evento foi composto de
sos cursos da UFRJ (Educação Artística, Teatro, Música,
sessões de filmes, palestras, poesias e uma exposição sobre
Desenho Industrial, etc.), exercendo suas atividades nos
a história do continente.
seguintes projetos da escola: “Canto, Logo Existo”; “Revista
O Setor Curricular de História ainda promoveu a en- Perspectiva Capiana”; “Metodologia e Ensino de Artes Plásticas
trega de um prêmio para o ganhador do concurso para a – Cerâmica”; “Meios de Comunicação Audiovisuais: Novas Tec-
criação de um logo representativo do evento. O concurso nologias e Educação”; “Fazendo Gênero”; “Brincar”; “Laboratório
envolveu os alunos da sexta série do ensino fundamental de Licenciatura”; e “Contexto Ação”.
uma vez que as turmas estavam trabalhando o tema em
Para o ano de 2007 todas as bolsas do CAp-UFRJ foram
sala de aula durante o segundo semestre. O felizardo teve
renovadas. Além disso, novas bolsas foram concedidas
a oportunidade de incluir em sua biblioteca o livro: Por
para dois projetos que serão implementados: Formação
ti América, uma síntese da exposição latino–americana,
de Acervo Audiovisual de História e Mídia no Ensino de
ocorrida no CCBB no ano passado.
Língua Estrangeira.

44 março de 2007 perspectiva capiana nº2 março de 2007 perspectiva capiana nº2
45
notas
COMO PUBLICAR EM perspectiva capiana
perspectiva capiana é uma revista de divulgação que ilustrações e pequena apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo
publica prioritariamente resultados de projetos de ensino, de pesquisa de 11.000 caracteres com espaço (~1.800 palavras).
Ciranda e de extensão feitos no Colégio de Aplicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ), em todas as disciplinas, Opinião: considerações pessoais sobre temas relacionados à
para um público amplo e heterogêneo. Os leitores da revista são, educação ou com o ensino na escola. É importante que os fatos e
As séries iniciais do Ensino Básico encerraram as ativi- em geral, professores de ensino fundamental e médio da instituição; argumentos sejam descritos com objetividade, permitindo ao leitor
dades da Semana de Arte, Ciência e Cultura com uma professores de outras escolas; licenciandos e alunos de graduação; contrastar e evoluir sua própria opinião sobre o assunto. Os textos
professores universitários; pessoas que se interessam por educação devem conter abertura (resumo), título, nome e breve apresentação
apresentação de músicas dirigida pelas professoras Kássia
e pelas disciplinas escolares, mas não dominam necessariamente do(s) autor(es). Tamanho máximo de 11.000 caracteres com espaço
Medeiros e Cláudia Helena Alvarenga. Ao final, alunos, conceitos básicos de todas as áreas. Os textos da revista exigem, (~1.800 palavras).
inspetores, licenciandos e professores participaram de portanto, clareza e simplicidade.
uma roda de cirandas na quadra da escola. Sem Fronteiras: textos encomendados pelos editores a autores de
Os textos submetidos à publicação como artigos devem conter a fora do CAp-UFRJ para enriquecer as reflexões em curso na escola.
contribuição original do(s) autor(es) para o tema tratado e devem Devem conter título, abertura (resumo) e nome, foto e pequena
ser inéditos – não podem ter sido publicados anteriormente em outro apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo de 11.000 caracteres
veículo de divulgação para o público em geral (mas podem ter sido com espaço (~1.800 palavras).
veiculados em revistas especializadas, por exemplo). Sempre que
possível, os resultados de pesquisa ou do projeto do(s) autor(es) Memória: textos sobre aspectos pouco difundidos da história do CAp
devem ser expostos no texto. ou da educação. Devem ser pouco técnicos, destacando o contexto da
Visita ao Pão-de-Açúcar época e as personagens envolvidas. Devem conter abertura (resumo),
nome e breve apresentação do(s) autor(es), título e ilustrações.
No mês de outubro as turmas da primeira série do Ensi- AVALIAÇÃO Tamanho ideal: 7.500 caracteres com espaço (~1.200 palavras).
no Fundamental visitaram o Pão-de-Açúcar, acompanha- Consultores técnicos indicados pelos setores curriculares são Resenhas: apresentação crítica de um livro ou outro produto cultural
das das professoras Ana Letícia, Cláudia e Fernanda, e os consultados quando da submissão de um texto e orientam a equipe de interesse. Não deve descrever a obra em detalhes, mas apontar
inspetores da série, Cláudia e Júlio. O passeio foi muito editorial da revista quanto ao que sugerir aos autores para corrigir sua relevância no contexto do ensino. Os textos devem conter os
entusiasmante para as crianças, algumas das quais iam ao ou adequar o texto do ponto de vista técnico, quanto à qualidade do dados da obra analisada (título, autor, custo, etc.), bem como o nome
trabalho, à linguagem adotada e à conveniência de sua publicação. e ocupação do(s) autor(es). Tamanho ideal: 3.800 caracteres com
Pão-de-Açúcar pela primeira vez. Os textos aprovados são selecionados para publicação de acordo espaço (~600 palavras).
com a avaliação dos editores, levando em conta a programação
Depois do passeio, as professoras desenvolveram ativida- editorial e as especificidades de cada edição da revista. Os textos Notas: eventos de interesse ocorridos ao longo dos seis meses
enviados pelos autores são ainda concomitantemente editados pela prévios à edição da revista. Devem ser sintéticas e informativas (~90
des em que as turmas construíram coletivamente histórias
redação para adequá-los à linha editorial da revista e devolvidos palavras).
sobre o passeio. Os alunos pensaram juntos em como co- aos autores para aprovação. Em caso de não-aprovação, os editores
Computador - Primeiros Socorros
meçar o texto, ouviram sugestões, somaram idéias e cria- buscarão atender às solicitações dos autores, dentro do razoável do
ram um texto da turma narrando a visita. Os textos de ponto de vista editorial. A revista não publicará nenhum texto não OUTRAS INFORMAÇÕES
No início de fevereiro, o Laboratório de Informática aprovado por seus autores em sua forma final. Títulos, subtítulos e
ambas as turmas estão disponíveis em (http://www.cap.
(LIG-CAp) ofereceu um curso de treinamento básico a chamadas de capa ficam a critério dos editores, embora as sugestões As opções de formatação adotadas pela revista para a edição dos
ufrj.br/perspectiva.html). Posteriormente cada aluno re- do(s) autor(es) sejam levadas em consideração. textos e outros detalhes (p. ex., envio de imagens), podem ser
funcionários e professores, visando agilizar e tornar mais
gistrou o texto em seu próprio caderno e o ilustrou a seu obtidas pelo e-mail: perspectiva@cap.ufrj.br.
eficiente a solução de pequenos problemas no dia-a-dia
modo, retratando um momento deste dia especial.
do CAp-UFRJ, no que se refere ao uso dos computadores. SEÇÕES DA REVISTA Os autores cedem automaticamente os direitos autorais de seus
Para quem não pôde aproveitar o curso, é provável que textos para sua publicação na edição correspondente da revista e
Em setembro as turmas da primeira série já haviam visi- Os textos em perspectiva capiana estão divididos em seções. em eventuais coletâneas posteriores. Após a publicação, sugere-se
surjam outras oportunidades.
tado o Jardim Botânico com a professora Carmem, tendo Para favorecer a edição, pede-se que os autores avaliem previamente que quando veiculados em outros meios o(s) autor(es) cite(m) a
dado um abraço coletivo na grande sumaúma do parque, e indiquem a qual seção o seu texto melhor se adequa: publicação em perspectiva capiana como fonte primária:
‘Este artigo foi publicado originalmente em perspectiva
entre outras atividades. Entrevista: (a cargo da redação) relato de perguntas e respostas em capiana (v. n, n° n, p. n)’.
bate-papo com figuras de destaque sobre temas relevantes para a
escola, para o ensino de disciplinas ou para a educação em geral. Todos os autores de artigos e da seção Construindo Pontes recebem
8 edições da revista em que foram publicados seus artigos para
Artigos por setor curricular: Devem apresentar trabalhos dentro do distribuição própria. Autores de outras seções recebem 5 edições.
quadro da disciplina do(s) autor(es), e devem conter título, nome(s)
do(s) autor(es) e pequena apresentação pessoal, abertura (resumo),
setor curricular (Geografia, Música, SOE, etc.), sugestões para leitura ENVIO DE TEXTOS
e ilustrações/fotos devidamente legendadas e com créditos. Não
devem exceder 15.000 caracteres com espaço (aproximadamente Todos os textos e anexos devem ser enviados por e-mail para
2.400 palavras). a redação (perspectiva@cap.ufrj.br) dentro dos prazos de
fechamento das edições (até 31/5 para as edições ímpares; até 31/10
Construindo Pontes: artigos publicados por dois ou mais autores para as edições pares).
de diferentes setores curriculares, com temática interdisciplinar.
Seguem a formatação dos artigos. Textos recebidos após a data de fechamento ou fora do formato
requerido para publicação possivelmente só serão considerados para
Na Prática: textos destacando os trabalhos realizados no quadro publicação na edição seguinte.
das Práticas de Ensino. Devem conter abertura (resumo), título,

46 março de 2007 perspectiva capiana nº2


Colégio de Aplicação Universidade Federal do
CAp-UFRJ Rio de Janeiro – UFRJ

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