Introdução
com a escola e com o meio em que se integra e contribui para que os alunos implicados na sua
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É, então, um produto que, fruto das dinâmicas criadas nas escolas, contribui para a melhoria
José Gil, no seu livro Portugal, Hoje aponta a falta de “inscrição” dos cidadãos portugueses.
Sendo um jornal numa escola um espaço de inscrição de cada um, é um bom início para que este
hábito se enraíze. Numa época em que tudo é cada vez mais efémero, a escrita é a luta contra essa
escreve a história de uma escola e, ao mesmo tempo desenvolve competências de leitura, escrita e
audiovisuais e informáticos.
Por tudo isto, a animação dos Clubes de Jornalismo é uma mais-valia que importa reforçar. A
composição destes grupos varia anualmente, o que faz com que cada início de ano lectivo seja um
recomeço do projecto. O ideal é que exista um núcleo de alunos que se mantenha pelo menos três
anos para servirem de ponte e cooperarem na integração e no trabalho dos mais novos. No presente
ano lectivo, o Clube de Jornalismo da Escola Secundária Abade de Baçal é composto por 5 alunos do
ensino secundário (3 raparigas de 10º ano e dois rapazes do 11º, do curso científico-tecnológico) e 15
do básico ( 1 rapaz e 7 raparigas de 7º ano e 7 raparigas de 8º), com idades compreendidas entre os
12 e os 16 anos). É evidente a maior adesão dos alunos do sexo feminino a estes projectos, que em
parte decore da sua maior maturidade e do facto de muitos rapazes preferirem as actividades do
Desporto Escolar, que habitualmente decorrem em simultâneo com as dos restantes clubes na
escola, dada a sobrecarga horária dos alunos e a necessidade de encontrar um horário que convenha
a todos os interessados. Constata-se, também, que são os alunos do 3º ciclo que estão mais abertos
a iniciativas extra-curriculares, mas a experiência tem comprovado que os alunos que integram o
grupo durante este período, se mantém no clube, mesmo quando ingressam no secundário e se
sentem mais pressionados com a exigência das várias disciplinas e das médias que pretendem para
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O jornal da Escola Secundária Abade de Baçal, cujo percurso pode ser lido na secção Historial
como revista, com o nome “Presença”, quando a escola era comercial e industrial. Ressurgiu no final
da década de 80 com o nome Outra Presença. Entre 2001 e 2003, viveu fortes mudanças,
impulsionadas pelo Clube de Jornalismo, então criado: mudou de rosto, de logótipo, de formato e
até hoje.
um formato electrónico.i Foi o que aconteceu em 2007 com o jornal Outra Presença, que surgiu
também em formato digital, procurando, assim, continuar a responder aos anseios da comunidade
que representa e em função da qual vive. O universo digital confere ao jornal escolar actualidade,
público jovem. O trabalho torna-se mais visível porque é mais abrangente e oportuno e a resposta a
ele é mais imediata, não só porque é publicado imediatamente após a sua conclusão, mas também
porque qualquer pessoa o pode comentar logo após a sua leitura, recorrendo às possibilidades que a
internet e o correio electrónico lhe fornecem. Tornou-se, então, possível anunciar o amanhã e
processo ensino-aprendizagem.
estes espaços podem ser transformados em sítios de escrita criativa, de testemunhos de leitura ou
fóruns de discussão. Foi esta a opção que a equipa do Outra Presença tomou: criou inicialmente um
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primeiro blogue – A Presença de Todos, http://outrapresenca.blogspot.com/, no qual são colocadas
Um ano – um projecto
Construído num ambiente de lazer, o jornal escolar resulta de um trabalho de grupo, orientado,
como na sala de aula, por professores, mas que é realizado de forma voluntária.
Cada trabalho, que pressupõe um acordo prévio entre os professores dinamizadores e os alunos que
o vão realizar, é pertinente naquele lugar e naquele momento. É, sem que o aluno esteja disso
consciente, um pequeno projecto de curta duração. Implica uma planificação prévia, mais ou menos
alargada, consoante o produto que se pretende, e há questões que o aluno tem de equacionar: O
que é que eu sei sobre isto? Que aspectos preciso de ver mais esclarecidos? Quem me pode esclarecer?
Onde posso procurar informações? Quando e onde vai ocorrer o acontecimento? Como ilustro o meu
Todas estas questões implicam que ele desenvolva mecanismos de obtenção de informação
conseguem se, como verdadeiro repórter, se deslocar ao local para ver, ouvir e sentir, outras exigem
um contacto em modo de entrevista e outras pedem-lhe que em prol da autenticidade seja também
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O trabalho que é efectuado ao longo das
A produção de textos como uma curta notícia ou uma reportagem desenvolve os mecanismos de
informativos, a planificação de informação por tópicos Acresce a este o facto de o aluno necessitar
de procurar o acontecimento que deve ser noticiado – ordenar e textualizar os dados que lhe foram
certa. Uma reportagem coloca, além dos já apresentados, outros desafios. O aluno desloca-se ao
local e o seu olhar alarga-se, a sua atenção não se restringe a uma pessoa, foca-se no acontecimento
e no ambiente físico e humano que o rodeia. Toma decisões relativamente a testemunhos que
considera essencial recolher e que contribuem para que ele perceba como é que tudo está a
acontecer e por que razão. A forma como se preparou para este momento e a sua capacidade de
como: planificar, investigar e seleccionar temas a abordar; escutar com atenção para poder
retorquir, pedir esclarecimentos e relacionar; intervir de forma oportuna e num registo no mínimo
um contacto formal com o entrevistado através de uma carta, correio electrónico ou do telefone;
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redigir o texto final, sendo esta tarefa mais árdua pelo tratamento que a transposição do oral para o
escrito exige e pelo facto de o texto estar sujeito a um espaço limitado; utilizar de forma eficaz
A crónica exige uma capacidade de observação crítica que faz com que o aluno procure descobrir a
importância daquilo que à partida lhe parece insignificante e que exponha as suas ideias de forma a
cativar quem o lê, porque ele adquiriu a consciência de que neste tipo de texto o leitor não procura
informação objectiva sobre acontecimentos, quer antes sentir-se deleitado ao ler a opinião de
alguém sobre eles. Desenvolvendo a sua capacidade de atenção ao meio, o aluno vai tentar construir
de opinião.
A crítica, não especializada naturalmente, tem a vantagem de contar com o interesse que o aluno já
possui relativamente a um filme, livro, exposição de pintura ou aplicação informática. Mas qualquer
destes elementos, que já contariam com o tempo do aluno, vai agora receber uma atenção
redobrada e analisado com um olhar que aliará o deleite à reflexão. O aluno vai, assim, fruir dele,
sobre ele, que exigirá, por exemplo, que o compare com outros trabalhos do mesmo género que
conhece e que domine vocabulário específico da área em que o objecto em estudo está integrado.
Em nenhum dos trabalhos anteriores a leitura está descurada. Há, como ficou claro, um trabalho
prévio que é necessário fazer, que exige a leitura de documentos variados e, além disso, outro que
não é menos importante: a leitura de vários textos que exemplificam com qualidade o tipo de texto
que se vai trabalhar. Só depois de ter lido várias notícias, reportagens, entrevistas, crónicas é que o
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A realização de inquéritos, por exemplo, é uma actividade frequente e que implica, além dos passos
exigidos para os outros trabalhos, o tratamento estatístico de dados, que permite uma parceria
avaliação é o sucesso do projecto que eles integram na comunidade a que este pertence. Por isso o
ambiente em que se desenvolvem é o de uma oficina de escrita alargada e dinâmica que decorre ora
na escola, ora em casa ou noutro espaço que o aluno escolha para a realizar e alterna a formação em
presença com a formação à distância, possível devido ao uso das novas tecnologias e da internet.
guião de pesquisa, ponderando a informação a transmitir. Cada aluno/grupo deve depois trabalhar
que necessário. Terminado o trabalho, este é corrigido, aperfeiçoado e rescrito pelo aluno que o
produziu. Pode ser pertinente o uso de fichas de auto-correcção para o aluno aplicar antes de
entregar o trabalho ao professor, no caso de haver tempo para este processo e de o trabalho ser
Num jornal há, ainda, espaço para o texto icónico: a fotografia, o desenho, a caricatura são registos
habituais na imprensa que exigem um olhar diferente sobre a realidade e uma forma também
do homem. Analisar páginas de jornais e revistas, cartazes publicitários, cartoons, tiras de banda
desenhada são actividades que podem constar do plano de um clube de imprensa, como forma de
um anúncio publicitário. Estas actividades, aliadas a eventuais visitas a exposições de pintura e/ou
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sensibilidade artística e espírito crítico dos jovens, ao mesmo tempo que introduzem os alunos em
Do que ficou dito, se vê como o treino da escrita e da leitura são uma constante neste tipo de
projectos. E a oralidade? Que efeitos produz a produção de um jornal neste domínio de extrema
importância na sociedade contemporânea da informação e que nem sempre recebe a atenção que
devia na aula de Língua Portuguesa, em virtude do elevado número de alunos e do pouco tempo que
na produção do oral que pode ajudar o aluno a expressar-se de forma desbloqueada e autónoma em
realização de uma entrevista, por exemplo. Todas estas formas do oral são significativas para os
membros deste clube pois fogem à simulação que o espaço-aula frequentemente exige. Aqui a
entrevista é realizada, não porque é um elemento de avaliação, mas porque é uma forma de
obtenção de informação que é pertinente naquele momento, por isso o aluno mobiliza os
conhecimentos que adquiriu sobre este tipo de actividade e os assuntos que vai abordar. Este
trabalho vai ser divulgado e o aluno sente a dupla responsabilidade de o executar com o
Todas estas tarefas evidenciam que a potencialidade primeira do jornal escolar é o facto de ele partir
da realidade para a realidade, de se basear no concreto e de possuir uma meta claramente definida.
O aluno desenvolve um trabalho sobre um acontecimento real, visível ou com efeitos visíveis, que
será publicado em determinada secção no próximo número ou, no caso das versões digitais, na
próxima actualização do jornal, num dos dias seguintes ao da sua produção, imediatismo permitido
diferentes culturas alojando no seio da equipa responsável pela sua elaboração elementos diversos.
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É além disso transversal a todas as disciplinas. Os assuntos abordados podem estar relacionados
directamente com conteúdo programáticos de diversas disciplinas, como a Matemática (as razões
averiguar o modo como os alunos trabalham e o tempo que dedicam à disciplina), a Química (uma
crónica sobre a pertinência do investimento no biodiesel; uma reportagem sobre o Dia da Ciência); a
através deste trabalho, mas do interesse que os diversos assuntos abordados pelos colegas desperta
Na fase final, a informática é rainha. Edição, revisão e correcção de texto, edição de imagem,
elaboração e análise de gráficos, paginação (que implica uma preocupação com o design gráfico da
página e, por isso, exige também a pesquisa sobre possibilidades de arranjo gráfico) são alguns dos
exemplos das infocompetências que são activadas e que o aluno vai desenvolver, ao utilizar os
programas que lhe permitem efectuar estas acções. A existência do jornal electrónico ergue um
novo desafio e mobiliza novos saberes: os que permitem a criação e gestão de páginas na internet.
gradualmente mais activo, familiarizando-se com esta actividade, cada vez mais importante na
sociedade em que vive. O ambiente virtual permite-lhe um envolvimento maior pelo facto de poder
Conclusão
Por tudo isto é evidente o impacto do clube de jornalismo nas aprendizagens das várias disciplinas.
Face às matérias com que, na sala de aula, contactou e que podem relacionar-se com as actividades
do clube, num determinado momento, o aluno necessita de processar a informação que recebeu na
aula sobre um determinado tema, procurar mais dados, esclarecer-se com o professor dessa área e
trabalhar os elementos que possui textualmente. Por isso é essencial diversificar os temas a abordar:
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assinalar efemérides diversas com trabalhos diferentes, debater os organismos geneticamente
comprova se se analisarem os primeiros textos que um aluno escreve e os que apresenta um ano
depois ou a maior facilidade com que expõe oralmente a sua posição face a determinado assunto,
É também importante apostar na continuidade destes projectos, pois um clube que muda
radicalmente de coordenação todos os anos, arrisca-se a pôr em causa a integridade do produto que
género: o jornal produzido renova-se sem perder identidade; os alunos que as integram de forma
seu interesse aumentado em matérias de outras disciplinas e olham de frente para os jornais que
Num projecto deste tipo, os conhecimentos individuais e do grupo permitem a realização de tarefas
que fazem com que os alunos activem os seus saberes e, por isso, o jornal escolar, sendo um
projecto multidimensional, no centro do qual está o aluno, elemento dinâmico na construção da sua
aprendizagem, capaz de actualizar competências múltiplas e de diversas áreas do saber, deve ser
uma presença forte e constante numa escola, pois enriquece aqueles que nela se constroem e,
simultaneamente, solidifica esse espaço educativo ao ser um arquivo dinâmico das suas memórias.
Bibliografia
Briggs, Mark . Journalism 2.0: How to Survive and Thrive- A digital literacy guide for the information age
( tradução de Carlos Castilho - Jornalismo 2.0 – Como sobreviver e prosperar), Centro Knight para o Jornalismo
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Castanheira, José Pedro. No reino do anonimato – estudo sobre o jornalismo online, Edições Minerva,Coimbra,
2004
Gil, José. Portugal, Hoje O medo de Existir, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2004
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Mark Briggs (Jornalismo 2.0 – Como sobreviver e prosperar, tradução de Carlos Castilho)defende que “A digitalização
do jornalismo já é uma realidade, embora o novo perfil da profissão ainda esteja em construção. Muitos dizem que
ele jamais terá uma cara definitiva, porque a comunicação tornou-se irremediavelmente fluida”
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Esta situação é ilustrada no livro O Fazer da Poesia de Ted Hughes, que tem como referência a construção de textos
literários, mas o princípio é o mesmo.