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Projeto de Análise da Conjuntura Brasileira 1

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Experiências de Educação Popular


Data de fechamento do texto: 22 de julho de 2005.
Roberto Leher

Universidade e marxismo

A retomada de colóquios sobre a obra de Marx (e do polissêmico campo


marxista) nas diversas universidades brasileiras, a vitalidade das revistas marxistas
(Crítica Marxista, Margem Esquerda, Outubro, entre outras), a edição de obras
marxistas e a reedição de seus clássicos com novas traduções e, em especial, o uso de
referências desse campo nas investigações de distintos temas, comprova que a vasta
operação ideológica empreendida por agências e fundações estrangeiras, comitês
assessores de órgãos de fomento, conselhos editoriais de Revistas, colegiados de pós-
graduações de diversos programas, apesar de ter sido bem sucedida ao erigir obstáculos
de toda ordem à circulação do pensamento marxista, não pôde calar essa vigorosa
tradição.
Indubitavelmente, a referida ofensiva provocou estragos importantes, atingindo
carreiras acadêmicas de professores brilhantes, silenciando-os momentaneamente, e
restringiu a edição de livros e artigos. Não menos importante, restringiu a noção de
problemática científica, de método e do conceito de pensamento original, como se temas
cruciais como educação, questão agrária, meio ambiente, energia, saúde, tecnologia, arte
e cultura, pudessem ser investigados como dimensões desvinculadas do capitalismo, ele
próprio considerado um dado não passível de questionamento. Nem mesmo os estudos
marxistas que ainda existiam na universidade saíram ilesos desse ataque aos fundadores
da filosofia da práxis, como Perry Anderson nos mostra em seu magnífico estudo
“Considerações sobre o marxismo ocidental”1. Como nos mostra Emir Sader em sua
análise de conjuntura deste mês (www.outrobrasil.net /A crise do PT, a Direita e a
Esquerda), também a esquerda partidária achou por bem se afastar do marxismo para se
credenciar como alternativa confiável, repetindo o percurso dos partidos social-
democratas europeus, com graves conseqüências para a luta anti-capitalista.

1
. Perry Anderson, Considerações sobre o marxismo ocidental. SP: Boitempo, 2003.
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Quem são os inimigos do marxismo? Obviamente, os capitalistas e seus
intelectuais são os antagonistas históricos do marxismo. Mas outros personagens
tiveram também participação nessa empresa. A chamada intelligentsia contra-
revolucionária a que se referiu Florestan Fernandes, parte dela “pós-marxista”, e, junto
com esta, toda uma plêiade de empreiteiros acadêmicos que se nutriu da “modernização
conservadora” da ditadura empresarial-militar. Para ofuscar o capitalismo e a luta de
classes difundiram idéias como sociedade civil como espaço virtuoso da democracia, da
liberdade e da criação, como se o capitalismo fosse algo externo a ela. Um certo uso de
noções como “novos movimentos sociais”, ONG´s, Terceiro Setor, Público-não estatal,
gênero, raça, multidão, entre tantas outras, compuseram um novo léxico em que a
história e suas contradições não têm lugar.
A ofensiva antimarxista na universidade nos anos 90 e no início a presente
década não pode contar com o afastamento de professores e estudantes por meio do AI-
5 ou do Decreto 477 como nos ásperos tempos da ditadura empresarial-militar. Mas
nem por isso foi menos violenta e efetiva. Projetos, cursos e currículos deveriam estar
inscritos na esfera do capital, calibrados pela lógica utilitarista das competências e por
isso todo resquício de marxismo (inclusive de clássicos do pensamento social brasileiro)
teria de ser varrido do ambiente acadêmico.
Os nichos privados que foram os campeões dessa ofensiva ideológica (fundações
de apoio privadas, núcleos temáticos fechados em torno de seus contratos a despeito dos
espaços públicos da universidade etc.) foram recompensados com verbas diferenciadas
e se fortaleceram e se autonomizaram, criando ilhas de prosperidade em um oceano de
departamentos sucateados. O efeito demonstração para os novos professores não
poderia ser mais direto: para entrar nas ilhas de prosperidade (relativa) é preciso fazer
uma opção pelo “capitalismo acadêmico”. O contra-exemplo, permanecer no modelo da
universidade pública e, por conseguinte, ficar imerso no anacronismo e na decadência
material. Com a hipertrofia da esfera privada, gradativamente os colegiados deixaram
ser loci fortemente legítimos, pulsantes, democráticos e capazes de definir a política
universitária.
O intento de silenciar o marxismo está inserido em um processo mais amplo de
erosão do espaço público em favor da esfera privada. É importante observar que a
ausência de autonomia da universidade frente ao Estado – também apropriado pelo
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capital e pela lógica capitalista – impossibilitou, historicamente, a real autonomia
cultural das universidades públicas brasileiras. Os extraordinários estudos de Florestan
Fernandes sobre a correlação entre heteronomia cultural e capitalismo dependente
explicam muito bem o dilema educacional brasileiro. A tendência de encolhimento dos
espaços públicos – e de mercantilização da educação – sofreu uma intensificação
vertiginosa no neoliberalismo que difunde também uma pedagogia em prevalecem
disposições ideológicas assentadas no individualismo, na competição, no
empreendedorismo, na subordinação da ética da produção do conhecimento crítico ao
ethos empresarial. O conhecimento ao ser convertido em mercadoria pela propriedade
intelectual, pressupõe o fetichismo e a alienação e, por isso, o pensamento crítico não
pode vicejar.
É necessário destacar que esse processo não está restrito às ciências da natureza
ou à tecnologia, alcançando com vigor também as ciências humanas-sociais. A
preocupação com a boa governança e com a manutenção da governabilidade exige
ações deliberadas para manter a ordem. A nova definição de “boa ciência” nesses
campos do saber freqüentemente legitimou temáticas congruentes com estes objetivos.
Como historicamente o marxismo se afirmou como o pensamento crítico mais pujante,
tornou-se o alvo principal dos que querem a conservação da ordem.
O pensamento pós-moderno – inclusive o de inspiração pós-estruturalista – que
buscou ocupar o seu espaço, a despeito de todo suporte que pôde contar – difusão nos
cadernos literários dos principais jornais e revistas, suporte de grandes editoras,
colóquios patrocinados por ministérios da educação e da cultura, verbas de fundações
estrangeiras umbilicalmente ligadas ao capital – começa a mostrar sinais de
esgotamento. Embora beneficiado pelo glamour criado no marketing acadêmico, não foi
capaz de oferecer explicações e, principalmente, de produzir idéias que transformassem
a barbárie neoliberal. O regresso a concepções a-históricas e idealistas como a de que os
movimentos devem buscar micro-nichos na (abstrata) sociedade civil ou a crença no
poder de uma etérea multidão como protagonista de uma vaporosa história não têm
servido de referência para os protagonistas das lutas sociais. De fato, as multitudinárias
lutas sociais em toda a América Latina sinalizam com um caminho que os pós-
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modernos pouco ou nada podem dizer2. Alternativamente, o marxismo não dogmático e
não evolucionista tem muito a contribuir para a construção de alternativas.
O fracasso absoluto das políticas macroeconômicas neoclássicas e das políticas
de ajuste estrutural (expressas no famoso Consenso de Washington) vem tornando a AL
a região de maior potencial transformador, sintetizando lutas nas frentes
antiimperialista, nacional e social3. De fato, as lutas dos movimentos sociais têm exigido
uma real consideração da tese de Lênin: “sem teoria revolucionária não há movimento
revolucionário”. Mas, como indagou Emir Sader4, “E agora, que teoria?”.
Obviamente, as questões acima não são retóricas. Movimentos sociais
fundamentais como o MST se propõem a dialogar com os setores críticos na
universidade, cursos são realizados demandando a renovação crítica do marxismo e o
próprio movimento reivindica, impetuosamente, a sua autopedagogia na Escola
Nacional Florestan Fernandes5.
Duas ordens de problemas precisam ser enfrentadas para que novas idéias sejam
forjadas na universidade:
(i) Em primeiro lugar, é preciso criar espaços públicos de produção de
conhecimento original, sem os quais dificilmente os pequenos grupos de pesquisa e
núcleos marxistas poderão existir de modo pleno e, mesmo, resistir ao referido
movimento que pretende suprimir o marxismo do ambiente acadêmico. Assim, uma
agenda para a educação superior alternativa à propugnada pelo MEC6 terá de ser
construída de modo a abranger um arco de alianças que passa pela reunião dos setores
que Florestan Fernandes denominou de “homens da ciência” – professores e
pesquisadores que estão produzindo conhecimento científico desvinculado da
mercantilização que se difunde na universidade – e, ainda, dos movimentos sociais,
2
. Ver em OSAL/Brasil www.outrobrasil.net as cronologias dos conflitos sociais brasileiros.
Para uma visão latino-americana, ver www.clacso.org/osal.
3
. Perry Anderson. Conferencia na XXI Asamblea General de Clacso. 27 a 31 de outubro de
2003. Havana.
4
. Emir Sader. E agora, que teoria? Ver em www.outrobrasil.net.
5
Roberto Leher. Escola Nacional Florestan Fernandes: um grande acontecimento para a
educação. www.outrobrasil.net, fev 05.
6
. A agenda do governo federal para a educação superior é constituída pelo Programa
Universidade para Todos, pela lei do Sistema Nacional de Avaliação (Sinaes), pela lei de
Inovação Tecnológica e, recentemente, pelos anteprojetos de lei da educação superior de
dezembro de 2004 e de 30 de maio de 2005. Os documentos e os textos críticos podem ser
encontrados em www.outrobrasil.net (dossiê reforma universitária).
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sindicatos, fóruns (como o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública) e segmentos
engajados nas lutas altermundistas (Anti-ALCA e OMC, por exemplo). Para levar
adiante essa agenda como força viva será preciso organizar o campo marxista nas
universidades, dotando-o de maior organicidade, articulando esses núcleos e pesquisas
de modo mais sistemático (Rede de Revistas marxistas, encontros de pesquisadores,
redes e páginas web comuns) objetivando viabilizar um diálogo verdadeiro com a classe
que vive do próprio trabalho.
(ii) Em segundo lugar, o marxismo terá de se empenhar na construção de uma
nova episteme, radicalmente crítica ao falso universalismo liberal e ao eurocentrismo
que caracterizam grande parte do pensamento social. A herança do marxismo
estalinista, pelo lado da esquerda, e das vertentes pós-modernas e do neoliberalismo da
Terceira Via, que se recusam a pensar alternativas ao capitalismo realmente existente,
são óbices a serem enfrentados. Em relação aos adeptos da “terceira via” é preciso
contradizê-los na crença de que é possível criticar o neoliberalismo sem romper com os
seus marcos e sua lógica e, principalmente, com as políticas econômicas neoclássicas,
desde o presente, e com o capitalismo, enquanto modo de produção da vida material e
espiritual que conduz vastas regiões do mundo a condição de barbárie. Se o
conhecimento ficar prisioneiro das ideologias dominantes ele não será crítico e não
abrirá caminho para o pensamento novo. Mas não basta a crítica ao capitalismo em
abstrato ou as denúncias às suas iniqüidades. Urge pensar a forma como o capitalismo
foi sendo forjado na América Latina e o seu correspondente padrão de poder fundado na
colonialidade do poder e do saber, como tem assinalado Aníbal Quijano, Edgardo
Lander, entre outros.
Para que o marxismo seja uma teoria capaz de responder aos desafios do
presente, é preciso considerar não apenas as diversas mediações do real – o mundo do
trabalho, o Estado, a ação dos partidos, os aparatos da mídia, a educação, a arte e a
cultura, entre outras – mas, antes, urge exercitar um olhar para o movimento do real
para o qual o pensamento marxista latino-americano tem aportado importantes
contribuições, mas que a herança eurocêntrica insiste em secundarizá-lo. E isso também
é um traço marcante do pensamento crítico brasileiro (e de outros países da região),
inclusive universitário. Como observa Nestor Kohan7 “Tranqüilamente e sem nenhum

7
. Nestor Kohan. Ni calco ni copia. In: www.rebelion.org (acessado em 11 de junho de 2005).
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rubor no rosto, um estudante universitário pode obter seu título em Sociologia, Filosofia
ou inclusive História sem ter escutado nenhuma vez os nomes de Mariátegui ou de
Mella8.” O mesmo poderia ser dito, no Brasil, sobre Florestan Fernandes.
Autores contemporâneos como Ana Esther Ceceña, Aníbal Quijano, Edgardo
Lander, Miriam Limoeiro Cardoso, entre tantos outros, têm chamado a atenção para os
problemas advindos do evolucionismo, do economicismo e do pensamento binário que
opera a disjunção entre estrutura-superestrutura; natureza e cultura; povo, cultura e
universidade etc., que tornam o “marxismo ocidental”9 incapaz de apreender o
desenvolvimento desigual do capitalismo e, portanto, um conhecimento que pouco
revitaliza a teoria da práxis. No mesmo texto já mencionado, Kohan cita um excerto de
Che Guevara que assevera: “Lutamos contra a miséria, mas lutamos ao mesmo tempo
contra a alienação”. De fato, sem essa ousadia cultural, moral e ética e sem interagir
com os movimentos concretos, o marxismo acabou se afastando das lutas e experiências
que forjam uma sociedade de outro tipo nos diversos países da região, lutas que
justamente negam a tese da política enquanto reflexo da economia e da tecnologia.
Para que a universidade possa ter loci em que a batalha das idéias
verdadeiramente acontece de modo rigoroso e radical, é preciso reconstruir os círculos
de cultura marxista, os núcleos de pesquisa e as linhas de investigação que possam abrir
espaços de diálogos da universidade com e nas lutas emancipatórias. É indispensável
um trabalho persistente, metódico de leitura dos clássicos do marxismo, colocando-os
em boa prosa com os autores revolucionários latino-americanos. Certamente, novas
perguntas, novos olhares, novos conceitos poderão ser efetivados e, com estes, os
movimentos que forjam a sociedade de outro tipo poderão ao mesmo tempo estar
imbuídos e serem protagonistas da teoria revolucionária que favorecerá a abertura de
brechas para o futuro edificadas desde o presente. Subjetividades antiburguesas,
antiautoritárias e anticapitalistas resultam de um longo e laborioso processo em que as
formas de vida material, as ideologias erguem poderosos obstáculos que o marxismo
deve enfrentar pensando uma formação de outro tipo dos lutadores sociais.

8
. José Carlos Mariátegui (1894-1930) intelectual e revolucionário peruano. Julio Antonio
MELLA (1903-1929), destacado revolucionário cubano.
9
. Utilizo a expressão no sentido conferido por Perry Anderson em Considerações sobre o
marxismo ocidental, obra já citada.
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Seguramente, o processo de sua construção não se esgota na universidade que,
entretanto, pode favorecer a sua criação e difusão. Em um momento em que todo o
enorme arcabouço da ‘terceira via neoliberal´ começa a apresentar rachaduras, a voz dos
que lutam pelo socialismo precisa estar rigorosamente amparada em análises refinadas
do movimento do real para encontrar as melhores formas de fazer ruir os aparatos que
aprisionam centenas de milhões na opressão e na miséria: a organização do marxismo
nos espaços acadêmicos é um passo importante para fortalecer uma outra hegemonia
para uma nova sociedade.

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