CONTEÚDO
CONTEÚDO.......................................................................................................1
AULA 1..............................................................................................................4
Objecto do Direito da economia....................................................................4
A constituição alemã de Weimar - Margarete Thatcher..............................10
Seis causas de superação do modelo liberal (a grande causa económica
foram “falhas de mercado”)........................................................................10
AULA 2............................................................................................................12
Quatro concepções do Direito da economia................................................12
Direito financeiro (finanças públicas). ........................................................12
Fontes nacionais do direito da economia (concepção técnico – jurídica:
modos de formação ou revelação de normas jurídicas)..............................13
Fontes internacionais do direito da economia (princípio da vigência art.º 8
da CRP)....................................................................................................... 13
AULA 3............................................................................................................15
AULA PRÁTICA 1.............................................................................................18
Falhas de Estado. .......................................................................................18
AULA 4............................................................................................................18
Constitucionalismo económico português...................................................18
AULA PRÁTICA 2.............................................................................................20
Caso prático 1.............................................................................................20
AULA 5............................................................................................................21
Estrutura da propriedade dos meios de produção......................................21
Iniciativa económica. .................................................................................23
Sector privado.............................................................................................24
AULA PRÁTICA 3.............................................................................................25
Caso prático 2.............................................................................................25
AULA 6............................................................................................................26
Sector público.............................................................................................26
Sector empresarial do estado (SEE)............................................................26
AULA PRÁTICA 4.............................................................................................28
Nacionalização (art.º 83 da CRP).................................................................28
Página 1
Expropriação (art.º 62/2 da CRP) vs. nacionalização (art.º 83 da CRP).......28
Nacionalização (art.º 83 da CRP) vs. requisição (art.º 62/2 da CRP)...........29
Nacionalização (art.º 83 da CRP) vs. resgate de concessão........................29
Confisco......................................................................................................29
Socialização. ..............................................................................................29
Nacionalização vs. intervenção...................................................................29
Regime jurídico das nacionalizações:..........................................................30
AULA 6............................................................................................................30
Empresas públicas......................................................................................30
Tipos de empresa pública...........................................................................31
Empresa pública sob forma societária, Características:..............................31
Entidades Públicas Empresariais (EPE). Características:.............................32
Caso prático 3.............................................................................................34
AULA 7............................................................................................................36
Identificação do sector empresarial do Estado (SEE)..................................37
AULA PRÁTICA 5.............................................................................................39
Caso prático 4.............................................................................................39
AULA 8 (20/10/2010)......................................................................................41
Sector público Empresarial (SPE):...............................................................41
Novo estatuto do gestor público.................................................................42
Privatizações...............................................................................................44
AULA PRÁTICA 6.............................................................................................45
Caso prático 5 (20/10/2010)........................................................................45
AULA 9 (21/10/2010)......................................................................................47
(Re)privatizações em Portugal....................................................................47
AULA PRÁTICA 7.............................................................................................51
Caso prático 6 (caso 9 do manual de casos práticos). 29/9/2010...............51
AULA 10 (27/10/2010)....................................................................................53
Concertação económica e social e contratualismo económico...................53
AULA 11 (29 /10/2010)...................................................................................55
Contratualismo económico-social................................................................55
PPP-Parcerias público privadas....................................................................56
AULA PRÁTICA 8.............................................................................................57
Página 2
Croqui, com as questões relevantes...........................................................57
AULA 12..........................................................................................................58
Direito da concorrência...............................................................................58
AULA PRÁTICA 9 (3/11/2010)..........................................................................60
Caso prático 7.............................................................................................60
AULA 13 (5/11/2010)......................................................................................61
Direito da concorrência em Portugal...........................................................61
AULA PRÁTICA 10 (5/11/2010)........................................................................63
Caso prático 8 (caso 13 do manual de casos práticos)...............................63
AULAS 14 e 15................................................................................................65
Direito da UE da concorrência.....................................................................65
AULA PRÁTICA 11...........................................................................................67
Direito Nacional da Concorrência................................................................67
AULA 16 (17/11/2010)....................................................................................69
Abuso de Posição dominante (TFUE 102, L 18/2003, 6)..............................69
Mercado relevante......................................................................................70
AULA 17 (03/12/2010)....................................................................................71
Condicionalismos económicos (Fontes de concorrência identificadas pela
Comissão):..................................................................................................71
Elementos comprovativos utilizados para definir os mercados relevantes (3
dimensões)..................................................................................................73
Dimensão do produto...............................................................................73
Dimensão geográfica...............................................................................74
Integração do mercado na Comunidade..................................................75
Cálculo das quotas de mercado..................................................................76
Abuso de posição dominante......................................................................76
Caso prático 9.............................................................................................76
Caso prático 10...........................................................................................78
AULA 18 (10/12/2010)....................................................................................79
Concentração de empresas.........................................................................79
Operações de concentração no Direito da EU.............................................79
Operações de concentração no Direito da nacional....................................81
Entidades reguladoras independentes (ERI)...............................................82
Página 3
AULA 19 (15/12/2010)....................................................................................83
Auxílios de Estado.......................................................................................83
Análise dos auxílios de Estado no Direito da EU..........................................85
Caso prático 10...........................................................................................88
AULA 1
Página 4
metais preciosos, a que dá origem, vai determinar duas
consequências essenciais para o pensamento económico:
- o desenvolvimento de novas ideias sobre a moeda;
- a concepção metalista, base dos sistemas mercantilistas.
O considerável afluxo de metais preciosos ocorre em
paralelo com a inflação dos preços, que transforma e
desequilibra as condições da vida económica e social. Os
trabalhadores são seriamente atingidos pelo fenómeno. A
sobrevivência das ideias medievais do “justo preço” e “justo
salário” cristaliza a taxa dos salários, a despeito da elevação do
custo de vida. O descontentamento generaliza-se.
Era opinião comum que as mutações monetárias estavam na
base da elevação do nível dos preços. Contudo De Malestroit,
num relatório apresentado ao Rei Carlos IX em 1566, afirma que
não houve realmente elevação do preço; a alta seria apenas
aparente, ocasionada pela redução do valor das moedas. Contra
esta tese vai insurgir-se Jean Bodin, que, a partir de estatísticas,
demonstra ser a elevação dos preços superior à redução havida
no valor das moedas e que a verdadeira causa da inflação nos
preços residia no enorme aumento do stock monetário de
metais.
A abundância de metais preciosos não constitui apenas o
fundamento dessa controvérsia sobre a moeda, mas é, ainda, a
determinante de uma concepção central do mercantilismo: a
ideia metalista.
A ideia metalista foi deduzida pela seguinte observação: a
prosperidade dos países parece estar na razão directa da
quantidade de metais preciosos que possuem.
Daí nasce a convicção – predominante nos séculos XVI e XVII
– de serem riqueza e quantidade de metal precioso, possuídas
por um país, expressão de um só e mesmo fenómeno. Na
verdade, os mercantilistas não vêem o ouro e a prata como “a
única riqueza”, mas como “o mais perfeito instrumento de
aquisição da riqueza”. No entanto, foram muitos os
mercantilistas que confundiram a riqueza com o dinheiro. Até
aos primórdios do século XVII, principalmente, era muito comum
essa confusão em autores espanhóis, italianos e ingleses.
Em resumo, três são os principais fundamentos da ideia
metalista. Um, decorrente do facto de se associar à ideia de
moeda – riqueza; outro, que consiste no carácter de durabilidade
da riqueza metálica; e o último, enfim, oriundo da necessidade
de dinheiro para a guerra.
O mercantilismo exprimiu-se através de diversas formas com
destaque para três: espanhola ou bulionista, francesa ou
colbertismo e inglesa ou comércialista.
Página 5
i. A forma espanhola ou bulionista). A primeira – e também a
mais rudimentar – forma de mercantilismo coincide com a
descoberta e exploração das minas de ouro da América pela
Espanha. Os principais representantes são Ortiz, Botéro, etc.
Para se conseguir acumular o máximo de ouro e prata, dois
são os processos preconizados e empregues:
- impedir que o metal precioso saia do país, através
de medidas intervencionistas em diversos campos.
Atraem-se também as moedas estrangeiras para o
interior do país, mediante a adopção de taxa de juros
elevadas. Por fim, para impedir a saída do metal,
falsificam-se as moedas;
- a balança de contratos. Os mercantilistas
compreendem a importância das trocas entre
nações, mas, em contraposição, perceberam que
esse comércio acarreta um deslocamento dos
stocks metálicos. Por isso, impõem medidas de
controlo: os navios espanhóis que vão vender
mercadorias no exterior, devem, obrigatoriamente,
trazer para a Espanha o valor da sua carga em
ouro; ao invés, os navios estrangeiros, que
desembarcam os produtos dos seus países na
Espanha, devem levar, ao partir, o valor da sua
carga em produtos espanhóis.
Estes processos esbarravam na dificuldade de
fiscalizar os contratos continuadamente, e da sua
aplicação só ser possível por parte de um pequeno
número de países.
É assim que a balança de contratos vai dar lugar à
balança de comércio e, com ela, o alargamento da
concepção mercantilista: admite-se a entrada e saída de
ouro, desde que se assegure uma balança de comércio
favorável.
ii. A forma francesa ou colbertismo. Com o mesmo objectivo de
aumentar os stocks monetários, a França vai orientar a sua
acção para o fomento da indústria, uma vez que não pode
recorrer às fontes directas de metais preciosos. A indústria é
preferida, por um lado, em virtude da sua produção ser mais
certa e regular, e, por outro, pelo facto dos produtos
fabricados para a exportação terem um valor específico
maior. O esforço em prol do desenvolvimento industrial é
acompanhado de numerosas medidas intervencionistas: o
Estado outorga monopólio de produção e regulamenta a
indústria de modo estrito; há interdição do trabalho livre. A
mão-de-obra representa, na produção, a parte mais
importante do preço de custo dos produtos. Por conseguinte,
é fixado o salário máximo, a fim de colocar os produtos
Página 6
nacionais em condições vantajosas no mercado
internacional. A taxa de juros é também fixada pelo Estado.
Associado à importância crescente da indústria está
também a noção de populacionismo, já que é favorável a
produção. A intervenção do Estado vai também influir no
sector do consumo: para aumentar o volume das
exportações de objectos de luxo limita-se o seu consumo
interno.
iii. A forma inglesa ou comercialista. Foi perante as
potencialidades comerciais dos Descobrimentos que os
comerciantes solicitaram a abolição da proibição da saída de
metais preciosos do país. O argumento é simples: as Índias
Orientais fornecem aos compradores preciosas especiarias,
as quais são revendidas aos estrangeiros a um preço muito
elevado. Ora, os indígenas não querem vender contra
pagamento em outros produtos, mas, sim, em metal
precioso. A exportação desse metal permitiria, portanto, ao
comerciante inglês, auferir lucros que se traduziriam, no fim
de contas, em importação do metal precioso, com vantagem
para o país.
Na concepção mercantilista, é a nação – e não o
indivíduo – o comerciante. Cabe-lhe, pois, envidar todos
os esforços para conseguir uma balança de comércio
exterior saldada mediante a entrada de metal. No
entanto, como se exige que a balança seja favorável, todo
um sistema de regulamentações é elaborado: o Estado
regulamenta a produção, fiscaliza as exportações e
controla as vendas no exterior. Essa regulamentação é
tanto mais rigorosa quando, na verdade, à preocupação
metalista se vai juntar a preocupação política: é assim que
a fiscalização das exportações visará também impedir a
saída de produtos e matérias-primas que possam ser úteis
à defesa do país ou à condução da guerra.
b. Fisiocracia (finais do séc. 18). A fisiocracia, advinda da chamada
escola fisiocrática, surgiu no século XVIII e é considerada a primeira
escola de economia científica. Os fisiocratas consideram o sistema
económico como um "organismo" regido por leis intrínsecas (pela
ordem natural das coisas), sendo elas assim, cientificamente
relevantes.
Página 7
Embasavam-se na economia agrária, identificando na terra a
fonte única de riqueza: uma semente é capaz de gerar mil, os
recursos nela se reproduzem.
Base da constituição da ordem natural, a sociedade, unidade
regida por leis necessárias apenas na medida em que as
actividades económicas dos seres humanos sejam reduzidas e
integradas à unidade através de um processo que somente a
troca poderia realizar. Desconsiderando as diferenças entre uma
inspiração iluminista e uma pós-hegeliana, pode-se assumir essa
interpretação da história como um marxismo avant la lettre.
A comparação entre a agricultura capitalista e a agricultura
camponesa corroborava com a visão dos fisiocratas, que
enxergavam na agricultura camponesa um atraso fadado ao fim,
visto que os arrendatários capitalistas conseguiam maiores
índices de produção.
Entretanto, não se tinha a mesma visão nos meios urbanos,
onde o trabalho artesanal constituiria uma forma natural de
autogestão.
Para os fisiocratas, a tarefa histórica do capitalismo consiste
numa ampliação, por ele (o capitalismo) tornada possível, do
excedente. Este excedente, por sua vez, seria um fenómeno
típico da agricultura, onde o capitalismo se apresentaria com
uma ordem própria, ao contrário do que ocorre no meio urbano,
onde teoricamente não existiriam excedentes.
Definia-se excedente (ou produto líquido): parte da riqueza
produzida que excede a consumida, ao longo do processo
produtivo e trabalho produtivo era o trabalho capaz de produzir
excedente, temos então, a partir de uma óptica fisiocrata, o
trabalho agrícola como única forma de trabalho produtivo.
Apesar das limitações surgidas a partir da tomada de um
conceito como esses, é de grande mérito da individualização no
processo produtivo o lugar de origem do produto líquido
(excedente), tendo a escola clássica (Adam Smith) tomado esse
conceito dos fisiocratas como ponto de partida.
Para os fisiocratas, toda riqueza provém da terra, a indústria
apenas diversifica o produto e o comércio distribui. Eram contra
o intervencionismo mercantilista. Sendo importante lembrar que
as ideias fisiocratas surgem na época que não existia actividade
industrial, ou seja, apenas actividades ligadas ao sector
primário, a agricultura. Eles também eram contra a da nobreza
na economia.
c. Adam Smith. Adam Smith (nascido provavelmente em Kirkcaldy,
Fife, 5 de Junho de 1723 — morreu em Edimburgo, 17 de Julho de
1790) foi um economista e filósofo escocês. Teve como cenário
para a sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII.[1]
Página 8
É o pai da economia moderna, e é considerado o mais
importante teórico do liberalismo económico. Autor de "Uma
investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações",
a sua obra mais conhecida, e que continua sendo como
referência para gerações de economistas, na qual procurou
demonstrar que a riqueza das nações resultava da actuação de
indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse (self-
interest), promoviam o crescimento económico e a inovação
tecnológica.
Smith ilustrou bem seu pensamento ao afirmar "não é da
benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu
espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em
promover seu "auto-interesse".
Assim acreditava que a iniciativa privada deveria agir
livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental.
A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só
à queda do preço das mercadorias, mas também a constantes
inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção
e vencer os competidores.
Ele analisou a divisão do trabalho como um factor
evolucionário poderoso a propulsionar a economia. Uma frase de
Adam Smith se tornou famosa: "Assim, o mercador ou
comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta
(self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo
que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da
sociedade." Como resultado da actuação dessa "mão invisível",
o preço das mercadorias deveria descer e os salários deveriam
subir.
As doutrinas de Adam Smith exerceram uma rápida e
intensa influência na burguesia (comerciantes, industriais e
financistas), pois queriam acabar com os direitos feudais e com
o mercantilismo.
d. Liberalismo económico (Estado mínimo, direito à propriedade
privada, livre iniciativa económica). As teses do liberalismo
Económico foram criadas no século XVI com clara intenção de
combater o mercantilismo, cujas práticas já não atendiam às novas
necessidades do capitalismo. O pressuposto básico da teoria liberal
é a emancipação da economia de qualquer dogma externo a ela
mesma.
Os economistas do final do século XVIII, eram contrários a
intervenção do Estado na economia. Para eles o Estado deveria
apenas dar condições para que o mercado seguisse de forma
natural seu curso.
Um dos principais pensadores da época foi François
Quesnay, que apesar de médico na corte de Luiz XV teve
contacto com as ideologias económicas. Em sua teoria afirmava
Página 9
que a verdadeira actividade produtiva estava inserida na
agricultura.
Para Vincent de Gournay as actividades comerciais e
industriais deveriam usufruir de liberdade para o melhor
prosseguimento em seus processos produtivos, para alcançar
assim uma acumulação de capitais.
O criador da teoria mais aceita na economia moderna, nesse
sentido, foi sem dúvida Adam Smith, economista Escocês, que
desenvolveu a teoria do liberalismo, apontando como as nações
iriam prosperar. Nela ele confrontou as ideias de Quesnay e
Gournay, afirmando que a desejada prosperidade económica e a
acumulação de riquezas não são concebidas pela actividade
rural e nem comercial. Para Smith o elemento de geração de
riqueza está no potencial de trabalho, trabalho livre sem ter,
logicamente, o estado como regulador e interventor.
Outro ponto fundamental é o fato de que todos os agentes
económicos são movidos por um impulso de crescimento e
desenvolvimento económico, que poderia ser entendido como
uma ambição ou ganância individual, que no contexto macro
traria benefícios para toda a sociedade, uma vez que a soma
desses interesses particulares promoveria a evolução
generalizada, um equilíbrio perfeito.
Página 10
m. Crise de 1929 – obrigou a uma intervenção dos poderes públicos
(New Deal)1;
n. A 2ª GG de 1939 a 1945 – planificação económica da guerra;
o. Welfare State – planeando e definindo finalidades e prioridades tais
como: segurança social, protecção no trabalho, política de
emprego, política educacional, política habitacional, etc.
1
O New Deal (cuja tradução literal em português seria "novo acordo" ou "novo trato") foi o nome dado à
série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do Presidente
Franklin Delano Roosevelt, com o objectivo de recuperar e reformar a economia norte-americana, e assistir
aos prejudicados pela Grande Depressão. O nome dessa série de programas foi inspirado no Square Deal,
nome dado pelo anterior Presidente Theodore Roosevelt à sua política económica.
Itens do projecto:
o investimento maciço em obras públicas: o governo investiu US$ 4 bilhões (valores não
corrigidos pela inflação) na construção de usinas hidreléctricas, barragens, pontes, hospitais,
escolas, aeroportos etc. Tais obras geraram milhões de novos empregos;
a destruição dos estoques de géneros agrícolas, como algodão, trigo e milho, a fim de conter a
queda de seus preços;
a diminuição da jornada de trabalho, com o objectivo de abrir novos postos. Além disso, fixou-se o
salário mínimo, criaram-se o seguro-desemprego e o seguro-velhice (para os maiores de 65 anos).
Para se entender correctamente o New Deal é importante ter em mente que na década de 1930 os Estados
Unidos atravessaram um período em que um grande número de norte-americanos viveu na absoluta
pobreza, desesperadamente necessitando mais alimentos, roupas e abrigos. Paradoxalmente, os recursos
produtivos (fazendas, fábricas, máquinas, mão de obra) que poderiam prover estes alimentos, roupas e
abrigos estavam paralisados: não produziam nada.[1]
Como resultado do New Deal foram criadas nos Estados Unidos dezenas de agências federais (equivalentes
às autarquias, no direito administrativo brasileiro), as quais receberam o apelido irónico de alphabet
agencies (agências alfabéticas), devido à profusão das siglas com que eram designadas: CCC (Civilian
Conservation Corps), TVA (Tennessee Valley Authority), AAA (Agricultural Adjustment Administration),
PWA (Public Works Administration), FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), SEC (Securities and
Exchange Commission), CWA (Civil Works Administration), SSB (Social Security Board), WPA (Works
Progress Administration), NLRB (National Labor Relations Board).
Embora não fosse propriamente um projecto coerente de reformas políticas, económicas e sociais, as
políticas implementadas por Franklin D. Roosevelt em resposta à Grande Depressão lançaram as bases do
estado keynesiano e do poder sindical nos Estados Unidos.[2] O New Deal pode ser dividido em quatro
dimensões: 1) às reformas económicas e à regulação de sectores da economia, 2) a que se ocupou das
medidas emergenciais, 3) a que diz respeito às transformações culturais, e 4) uma nova actuação política
entre o Estado e factores sociais, o que formou a chamada coalizão do New Deal. Em seus primeiros 100
dias, o New Deal implementou reformas sectoriais na economia americana para criar as condições para a
formação de poupança interna e recuperar a rentabilidade dos investimentos. Foram implementadas
medidas para sanear o sistema financeiro, com o Emergency Banking Act, para regular a produção
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AULA 2
agrícola, com o Agricultural Adjustment Act (AAA), e para evitar a perda da hipoteca das casas próprias,
com o Home Owners’ Refinancing Act.
Página 12
Fontes nacionais do direito da economia (concepção técnico – jurídica:
modos de formação ou revelação de normas jurídicas).
u. Direito nacional:
i. CRP;
ii. Os actos normativos previstos no art.º 112 da CRP;
Artigo 112.º
(Actos normativos)
1. São actos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais.
2. As leis e os decretos-leis têm igual valor, sem prejuízo da subordinação às correspondentes leis dos decretos-leis
publicados no uso de autorização legislativa e dos que desenvolvam as bases gerais dos regimes jurídicos.
3. Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que carecem de aprovação por maioria de dois terços, bem
como aquelas que, por força da Constituição, sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por outras
devam ser respeitadas.
4. Os decretos legislativos têm âmbito regional e versam sobre matérias enunciadas no estatuto político-administrativo
da respectiva região autónoma que não estejam reservadas aos órgãos de soberania, sem prejuízo do disposto nas
alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 227.º
5. Nenhuma lei pode criar outras categorias de actos legislativos ou conferir a actos de outra natureza o poder de, com
eficácia externa, interpretar, integrar, modificar, suspender ou revogar qualquer dos seus preceitos.
6. Os regulamentos do Governo revestem a forma de decreto regulamentar quando tal seja determinado pela lei que
regulamentam, bem como no caso de regulamentos independentes.
7. Os regulamentos devem indicar expressamente as leis que visam regulamentar ou que definem a competência
subjectiva e objectiva para a sua emissão;
8. A transposição de actos jurídicos da União Europeia para a ordem jurídica interna assume a forma de lei, decreto-lei
ou, nos termos do disposto no n.º 4, decreto legislativo regional.
Página 13
2) Não vinculativo:
a) Recomendação;
b) Parecer.
iii. Jurisprudência do TJUE (fonte mediata).
x. Direito internacional – tratados e convenções.
y. Novas fontes do Direito da economia – agentes privados (por
exemplo a Associação de Bancos Portugueses).
Página 14
AULA 3
Constituição económica.
z. Constituição económica em sentido formal. Conjunto de princípios e
normas que regulam a direcção e organização da economia que
constam do texto constitucional.
aa. Constituição económica em sentido material. Conjunto de princípios
e normas fundamentais da actividade económica, quer constem ou
não no texto constitucional (por exemplo a Lei-Quadro das
privatizações).
bb.Constituição económica em sentido real. Conjunto de princípios e
normas fundamentais da actividade económica tal como são
concretizados pelos diversos decisores, mormente pelos tribunais.
2. Constituições portuguesas.
a. A Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822, a
Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa de 1826 e a
económico implícito
Ruptura
Página 15
d. A Constituição da República Portuguesa de 1976 teve os
seguintes momentos significativos:
i. A revolução do 25 de Abril de 1974 e a consequente
mudança de regime;
ii. O 11 de Março de 1975 que em termos económicos marca o
inicio da nacionalização de mais de 250 empresas. O Estado
viu-se detentor de um vasto património empresarial público
em resultado do processo de nacionalizações encetado após
o 11 de Março, mediante o qual um elevado número de
empresas saiu da esfera privada para a pública. O estado
assumiu uma intervenção directa na economia tornando-se
um produtor de bens e serviços;
iii. O Estado tornou-se proprietário (Sector Empresarial do
estado);
iv. O 11 de Março de 1975 deu origem a nacionalizações,
ocupações de terras e empresas e à produção de relevante
legislação económica e laboral;
v. Neste contexto é importante a noção de pré-constituição
económica (Sousa Franco e Guilherme Oliveira Martins) –
conjunto de princípios, normas e situações de facto que vão
condicionar a elaboração da Constituição de 1976.
vi. O período que se inicia com o 25 de Abril de 1974 e que finda
a 25 de Novembro de 19753 caracteriza-se por:
1) Uma tensão entre a legitimidade revolucionária e a
legitimidade democrática;
Foi enriquecida pelos Padres da Igreja, teólogos e canonistas da Idade Média e pelos pensadores e filósofos
católicos dos tempos modernos. "A doutrina social da Igreja se desenvolveu no século XIX por ocasião do
encontro do Evangelho com a sociedade industrial moderna, suas novas estruturas para a produção de bens
de consumo, sua nova concepção da sociedade, do Estado e da autoridade, suas novas formas de trabalho e
de propriedade." [2] A Doutrina Social da Igreja considera que a "a norma fundamental do Estado deve ser
a prossecução da justiça e que a finalidade de uma justa ordem social é garantir a cada um, no respeito ao
princípio da subsidiariedade, a própria parte nos bens comuns.
3
Artigo do Diário de Notícias: no dia 25 de Novembro de 1975, no final do período revolucionário que
se seguiu ao 25 de Abril, Portugal esteve à beira de uma guerra civil. Depois de um período de disputa pelo
poder político-militar, que abrange todo o Verão de 1975, as forças democráticas (PS, PSD e CDS, na ala
partidária, os moderados do Movimento das Forças Armadas, o MFA, liderados pelos Grupo dos Nove, e a
Igreja Católica), que lutavam por uma democracia do tipo europeu, e as forças pró-comunistas (PCP,
extrema-esquerda e a Esquerda Militar), que procuravam impor ao País um regime autoritário próximo do
dos países comunistas, enfrentaram-se em Lisboa.
Venceram os moderados e o caminho para a democracia foi reaberto. Mas a data, isto é, o "quem é quem" e
o "quem faz o quê" nos acontecimentos que levaram os radicais do MFA a marchar com a unidade pára-
quedista de Tancos sobre a capital e as principais bases aéreas em seu redor, ainda permanece envolto em
"mistério". E nem um simples e linear raciocínio de mediana inteligência desata, 30 anos depois, esse
"mistério". O "mistério" resume-se a uma pergunta: é, ou não, o PCP, com o apoio operacional da Esquerda
Militar, a organização que avança para o confronto e porquê?
Página 16
2) Proclamação do princípio da irreversibilidade das
nacionalizações;
3) Estado veda o acesso à livre iniciativa económica
(reserva pública);
4) A lei impõe a vedação de sectores à livre iniciativa
económica;
5) A Constituição vem a ser um texto compromissório
entre o princípio socialista e o princípio democrático.
vii. Revisão de 1982:
Têm-se colocado dúvidas sobre a coerência (ou a "incoerência") de um plano militar "tão frouxo" como o
dos revoltosos de Tancos. E, no plano político, sobre as verdadeiras intenções e acção do PCP nessa data.
Em suma, perguntam os que alimentam esse "mistério": como poderia o PCP avançar para uma tentativa de
mudança do poder político-militar com tal plano militar tão débil? E que quereria ele fazer, de facto, um
golpe militar, tomar o poder? As respostas, mesmo com base em depoimentos que não incluem as
"memórias" do PCP, são, para mim, simples.
Era o plano militar de quem comandava o 25 de Novembro frouxo? Não. Qualquer aprendiz de militar
verifica que uma acção de ocupação do quartel-general (QG) operacional da Força Aérea e das suas
principais bases aéreas operacionais não é um plano qualquer. É um plano inteligente e necessário para
fazer de novo bascular a balança do poder para a esquerda pró-comunista. Porquê? Porque, estando a
principal força de actuação - o Exército - maioritariamente dominada pelos moderados, só o desequilíbrio
dos restantes dois ramos das Forças Armadas - Marinha e Força Aérea - poderiam impor ao Exército um
realinhamento político-militar e impedir uma eventual acção deste para repor a ordem no País. Tomar o
comando da Força Aérea e as suas principais bases significava, "apenas", subtrair ao Exército o seu
principal apoio. E era também uma forma de incitar e libertar a Marinha - nomeadamente os fuzileiros -
para uma acção ao lado dos radicais.
Que falhou neste plano militar? Duas coisas. Uma, e muito importante, o alinhamento do então comandante
operacional do Copcon (QG operacional do MFA), general Otelo Saraiva de Carvalho, ao lado dos pára-
quedistas (isto é: da Esquerda Militar). Otelo, que o PCP mais voluntarista contava como aliado e
comandante militar "independente" para o golpe, foi para casa nessa madrugada, deixando os revoltosos
sem um comando visível (e daí o ódio, que ainda hoje persiste, do PCP a Otelo). Outra, a acção do
presidente da República, general Costa Gomes, que se opõe sinceramente a uma guerra civil e dá ordens de
fidelidade hierárquica a unidades e cobertura aos militares moderados.
Que falhou no plano político? Otelo e Costa Gomes, de novo. O general Otelo Saraiva de Carvalho,
comandante operacional do MFA no 25 de Abril, fora preparado, depois de Março de 1975, para ser o
"grande líder" da revolução. É namorado pelo PCP e por Cuba. Tem encontros a sós com Cunhal e Fidel
Castro convida-o repetidamente para visitar a ilha. Otelo acaba por lá ir em Julho. É recebido como um
herói, é-lhe incentivado um papel de caudilho. Otelo regressa aparentemente convencido, diz que vai
mandar os "contra-revolucionários" para a praça de touros do Campo Pequeno e é portador de uma
mensagem de Fidel para Costa Gomes anunciando a intervenção cubana em Angola. Mas, depois, Otelo
falha sempre: não apoia o primeiro-ministro comunista Vasco Gonçalves nem os pára-que- distas. Costa
Gomes também "falha". Deixa Cuba avançar em Angola, até porque Portugal era frágil aí. Mas não dá
possibilidade ao golpe do 25 de Novembro de avançar em Lisboa. Homem da Guerra Fria e estratego
inteligente, deixa Angola para as superpotências e Portugal para a NATO. Um mês antes do 25 de
Novembro, o líder soviético Leonid Breznev, numa conversa a sós de quatro horas, em Moscovo,
explicara-lhe que a União Soviética não combateria os EUA na Península Ibérica. Por isso, a primeira
preocupação de Costa Gomes, na manhã do 25 de Novembro, é falar com Cunhal e o seu braço popular
(não armado, mas armável), a Intersindical. Cunhal aceita, mas ganha tempo para negociar o futuro, sem
Página 17
1) Extinguiu a legitimidade revolucionária militar e cria o
Tribunal Constitucional;
2) Desde esta data os governos moderados legislam em
sentido liberal e o Tribunal Constitucional sanciona
este entendimento (Constituição em sentido real).
Ruptura
AULA PRÁTICA 1
Falhas de Estado.
e. Noção desenvolvida por James McGill Buchanan Jr. Conhecida como
Escola da Public Choice, tem sua origem no conjunto de reflexões
que alguns autores, entre os quais se destaca a figura de James
Buchanan, desenvolveram a partir dos anos sessenta, visando a
adopção de uma perspectiva económica de análise dos fenómenos
políticos, notadamente das decisões em situações de não mercado
ou de mercado político. Esta escola se desdobra na investigação de
temas clássicos da ciência política, tais como as estruturas das
decisões nas sociedades democráticas, o papel do legislativo na
produção das escolhas colectivas através da óptica da uma teoria
económica, onde a especificidade da política se submete
integralmente às categorias e à lógica da análise económica.
AULA 4
Dir-se-ia não haver depoimentos ou provas suficientes do que afirmo. Mas há. Não se conhece tudo, mas o
que se apurou, nestes anos de investigação e de recolha de relatos, é suficiente. Explicarei isso em próximo
artigo.
Página 18
1) Pré-constituição económica de 11 Março 1975:
a) Legislação nova;
b) Situações de facto (mais de 250
nacionalizações).
2) Princípio da irreversibilidade das nacionalizações;
3) Imposição da vedação de sectores à iniciativa
económica privada.
iv. Nova Constituição económica (Sabino Cassesse).
1) Revisão de 1982.
a) Extinção do Conselho da Revolução
(legitimidade revolucionária);
b) Criação do Tribunal Constitucional;
c) Legislador começa a produzir legislação com
carácter mais liberal;
d) Tribunal Constitucional sanciona o
entendimento de que as normas da CRP são
programáticas, não impedindo assim que o
legislador ordinário faça as suas escolhas;
e) Dá-se a adesão à CEE em 1 de Janeiro de 1986.
2) Revisão de 1989 (ruptura definitiva com a CRP de
1976).
a) Paz Ferreira recupera a expressão de Cassesse:
“nova constituição económica”, que significa:
i) Abertura à produção normativa para além
da CRP (abertura a ordenamentos
externos);
ii) Crise das finanças públicas (não há
dinheiro para o Estado ser proprietário de
hospitais, fábricas, etc.);
iii) Entendimento mais liberal da intervenção
do Estado na economia.
g. Constituição económica da EU.
i. Declaração Schuman em 9 de Maio de 1951;
ii. Tratado de Paris em 18 de Abril de 1951 (CECA válido por 50
anos);
iii. Tratados de Roma de 25 de Março de 1957 (em vigor em 1
de Janeiro de 1958, instituíram a CEE e a EURATOM);
iv. Tratados de revisão:
1) Luxemburgo 1970;
Página 19
2) Bruxelas 1975;
3) Acto Único Europeu 1986;
4) Maastricht 1992 (criação da UE/CE);
5) Amestardão;
6) Nice 2001;
7) Tratado constitucional 2004 (não procedeu);
8) Tratado de Lisboa (TUE e TFUE).
v. União aduaneira;
vi. Mercado interno.
h. Daqui se extrai que o conceito “Nova Constituição Económica”
se reporta ao conceito de constituição económica material
(conjunto de princípios e normas que regulamentam a actividade
económica).
AULA PRÁTICA 2
Caso prático 1
Em virtude das enormes dificuldades que o país atravessa do ponto de
vista económico e financeiro e com vista a salvaguardar a manutenção dos
postos de trabalho e viabilizar o saneamento de empresas, o Sr. Ministro das
Finanças exarou um despacho a determinar a intervenção do Estado nas
empresas em graves situações económico – financeiras, designadamente
quando se comprove terem dificuldades em honrar os seus compromissos
financeiros com entidades residentes noutros estados membros da EU.
Quid iuris
a. O despacho do Ministro das Finanças tem natureza
regulamentar;
b. Só por lei da AR ou por DL autorizado do Governo, ou seja:
i. Art.º 83 da CRP: “A lei determina os meios e as formas de
intervenção e de apropriação pública dos meios de
produção, bem como os critérios de fixação da
correspondente indemnização”;
ii. Art.º 165/1, alínea l) da CRP: “Meios e formas de
intervenção, expropriação, nacionalização e privatização
dos meios de produção e solos por motivo de interesse
público, bem como critérios de fixação, naqueles casos,
de indemnizações”.
c. Se for por DL autorizado, adicionalmente:
i. Art.º 165/2 da CRP: “As leis de autorização legislativa
devem definir o objecto, o sentido, a extensão e a
duração da autorização, a qual pode ser prorrogada”;
Página 20
ii. Art.º 198/1, alínea b) da CRP: “Fazer decretos-leis em
matérias de reserva relativa da Assembleia da República,
mediante autorização desta”:
iii. Art.º 198/3 da CRP: “Os decretos-leis previstos nas
alíneas b) e c) do n.º 1 devem invocar expressamente a
lei de autorização legislativa ou a lei de bases ao abrigo
da qual são aprovados”.
AULA 5
Página 21
cooperativo e social de propriedade dos meios de
produção”);
iii. Este princípio da organização económica é de tal forma
relevante que é objecto de garantia constitucional (art.º 82/1
da CRP: “É garantida a coexistência de três sectores de
propriedade dos meios de produção”);
iv. Esta norma é uma garantia institucional, não garante a
existência de cada empresa em cada sector, nem sequer
garante uma exacta delimitação entre sectores, garante sim
a existência de cada sector (nenhum pode ser eliminado).
m. Sector público vs. Sector privado (critério misto, apela; à
titularidade [propriedade formal], e; à gestão [poder de direcção]).
i. Sector público. São os meios de produção cuja propriedade e
gestão pertencem ao Estado ou a outras entidades públicas
(art.º 82/2 da CRP: “O sector público é constituído pelos
meios de produção cujas propriedade e gestão pertencem ao
Estado ou a outras entidades públicas”);
ii. Sector privado.
1) São os meios de produção cuja propriedade ou gestão
pertencem a pessoas privadas singulares ou colectivas
(art.º 82/3 da CRP: “O sector privado é constituído
pelos meios de produção cuja propriedade ou gestão
pertence a pessoas singulares ou colectivas privadas,
sem prejuízo do disposto no número seguinte”);
2) Quando se está perante propriedade privada cuja
gestão seja cooperativa passa para o terceiro sector
de propriedade dos meios de produção (sector
cooperativo e social).
iii. Sector cooperativo e social (sector compósito):
1) Subsector cooperativo. Caracteriza-se pela posse e
gestão (art.º 82/4 al. a) da CRP: “Os meios de
produção possuídos e geridos por cooperativas, em
obediência aos princípios cooperativos, sem prejuízo
das especificidades estabelecidas na lei para as
cooperativas com participação pública, justificadas
pela sua especial natureza”);
2) Subsector das comunidades locais. Caracteriza-se
também pela posse e gestão, trata-se de baldios,
lavadouros e fontes (art.º 82/4 al. b) da CRP: “Os
meios de produção comunitários, possuídos e geridos
por comunidades locais”);
3) Subsector da solidariedade social. Caracteriza-se
também pela posse e gestão, trata-se misericórdias e
IPSS (art.º 82/4 al. d) da CRP: “Os meios de produção
possuídos e geridos por pessoas colectivas, sem
Página 22
carácter lucrativo, que tenham como principal
objectivo a solidariedade social, designadamente
entidades de natureza mutualista”);
4) Autogestão. Exploração por trabalhadores em
autogestão (art.º 82/4 al. c) da CRP: “Os meios de
produção objecto de exploração colectiva por
trabalhadores”).
Iniciativa económica.
n. Iniciativa pública. Em princípio a iniciativa pública não sofre
qualquer limite, mas no entanto tem que respeitar estes dois
limites:
i. Respeitar os outros dois sectores (art.º 82/1 da CRP: “É
garantida a coexistência de três sectores de propriedade dos
meios de produção”);
ii. Deve ser desenvolvida no âmbito das incumbências gerais do
Estado em matéria económica (art.º 80/d da CRP: “A
organização económico-social assenta nos seguintes
princípios: … d) Propriedade pública dos recursos naturais e
de meios de produção, de acordo com o interesse
colectivo…”).
o. Iniciativa privada.
i. A iniciativa privada encontra-se enquadrada:
1) Pela CRP – art.º 61/1: “A iniciativa económica privada
exerce-se livremente nos quadros definidos pela
Constituição e pela lei e tendo em conta o interesse
geral”;
2) Pela lei;
3) Pelo interesse geral.
ii. Pode a iniciativa privada ser limitada?
1) Pode! A CRP consagra a possibilidade de vedar
sectores à iniciativa económica privada (art.º 86/3 da
CRP: “A lei pode definir sectores básicos nos quais seja
vedada a actividade às empresas privadas e a outras
entidades da mesma natureza”);
2) Hoje em dia não se veda totalmente o acesso, cria-se
um regime de acesso ao sector;
3) Relativamente ao investimento privado estrangeiro
dispõe o art.º 87 da CRP o seguinte: “A lei disciplinará
a actividade económica e os investimentos por parte
de pessoas singulares ou colectivas estrangeiras, a fim
de garantir a sua contribuição para o desenvolvimento
do país e defender a independência nacional e os
interesses dos trabalhadores”.
Página 23
p. Iniciativa cooperativa. Neste âmbito a CRP faz apelo a princípios
extra-ordenamento jurídico português (art.º 61/2 da CRP: “A todos
é reconhecido o direito à livre constituição de cooperativas, desde
que observados os princípios cooperativos”).
Sector privado.
q. Propriedade privada (art. º 62 da CRP).
i. Componentes:
1) Direito de adquirir bens;
2) Direito de usar e fruir os bens;
3) Liberdade de transmissão, quer inter vivos ou mortis
causa;
4) Direito de não ser privado da propriedade.
ii. Limites constitucionais:
1) Bens insusceptíveis de apropriação privada (bens do
domínio público (art.º 84 da CRP):
Artigo 84.º
(Domínio público)
1. Pertencem ao domínio público:
a) As águas territoriais com seus leitos e os fundos marinhos contíguos, bem como os lagos, lagoas e cursos de água
navegáveis ou flutuáveis, com os respectivos leitos;
b) As camadas aéreas superiores ao território acima do limite reconhecido ao proprietário ou superficiário;
c) Os jazigos minerais, as nascentes de águas mineromedicinais, as cavidades naturais subterrâneas existentes no
subsolo, com excepção das rochas, terras comuns e outros materiais habitualmente usados na construção;
d) As estradas;
e) As linhas férreas nacionais;
f) Outros bens como tal classificados por lei.
2. A lei define quais os bens que integram o domínio público do Estado, o domínio público das regiões autónomas e o
domínio público das autarquias locais, bem como o seu regime, condições de utilização e limites.
Página 24
A lei determina os meios e as formas de intervenção e de apropriação pública dos meios de produção, bem como os
critérios de fixação da correspondente indemnização.
AULA PRÁTICA 3
Caso prático 2.
Confrontada com diversas unidades industriais que se encontravam
desactivadas há já algum tempo, de tal forma, que alguns dos seus
responsáveis até se encontravam imigrados no estrangeiro, uma autarquia
pretendia expropria-las para as re-afectar a novas industrias.
Quid júris?
s. O direito de propriedade trás agarrado a si a possibilidade de
expropriação ou requisição (art.º 62 da CRP):
Artigo 62.º
(Direito de propriedade privada)
1. A todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em vida ou por morte, nos termos da
Constituição.
2. A requisição e a expropriação por utilidade pública só podem ser efectuadas com base na lei e mediante o
pagamento de justa indemnização.
Página 25
iii. No art.º 88/1 da CRP: “Os meios de produção em abandono
podem ser expropriados em condições a fixar pela lei, que
terá em devida conta a situação específica da propriedade
dos trabalhadores emigrantes”.
y. Os requisitos para a apropriação pública estão previstos no art.º 83
da CRP: “A lei determina os meios e as formas de intervenção e de
apropriação pública dos meios de produção, bem como os critérios
de fixação da correspondente indemnização”;
z. O conceito de “justa indemnização” foi fixado pela jurisprudência
do TC - a jurisprudência constitucional veio consagrar o princípio
da indemnização necessária para as nacionalizações (art.º 83,
parte final e art.º 165/1 alínea l) da CRP).
AULA 6
Sector público.
aa. À luz da CRP é constituído pelos meios de produção cuja
propriedade e gestão pertencem ao Estado ou outras entidades
públicas.
bb.Princípios constitucionais:
i. A organização económico-social assenta no princípio da
propriedade pública dos recursos naturais e de meios de
produção de acordo com o interesse colectivo (art.º 80 da
CRP: “Propriedade pública dos recursos naturais e de meios
de produção, de acordo com o interesse colectivo”);
ii. A organização económico-social assenta no princípio da
liberdade de iniciativa e da organização empresarial no
âmbito de uma economia mista (art.º 80/c da CRP:
“Liberdade de iniciativa e de organização empresarial no
âmbito de uma economia mista”);
iii. Incumbe prioritariamente ao Estado no âmbito económico e
social assegurar a plena utilização das forças produtivas,
designadamente zelando pela eficiência do sector público
(art.º 81/c da CRP: “Assegurar a plena utilização das forças
produtivas, designadamente zelando pela eficiência do
sector público”).
cc. Ilações que se extraem destes princípios:
i. Há propriedade pública, fundiária ou empresarial;
ii. Há iniciativa pública.
Página 26
1) Intervenções directas dos estados na economia eram
restritas;
2) Existiam investimentos em infra-estruturas de
interesse geral;
3) Os serviços de correios e de comunicações integravam
a esfera do Estado, como também os transportes
ferroviários;
4) Manufactura de materiais de guerra;
5) As administrações municipais integravam serviços de
interesse público (água, gás, etc.);
6) Conclusão: a actividade empresarial do Estado era
excepcional.
ii. Estado de bem-estar:
1) Surgem as empresas públicas, especialmente depois
da 2ª GG.
3. SEE em Portugal.
a. Estado Novo:
i. Havia serviços públicos personalizados (personalidade
jurídica: “absoluta susceptibilidade de ser titular de direitos e
deveres”);
ii. Havia concessões;
iii. SEE muito débil, diminuto (FN de Cordoaria, FN de Vidro da
Marinha Grande, TLP, CTT, etc.);
iv. Estabelecimentos fabris militares;
v. CGD (banco).
b. Fase das nacionalizações revolucionárias (pós 11 de Março de
1975) – estamos perante razões de ordem política e ideológica:
i. Fenómeno das nacionalizações:
1) Estas operaram através de actos avulsos (banco a
banco, etc.);
2) Visaram a extinção dos maiores grupos económicos
portugueses;
3) Procuraram cobrir os sectores básicos ou estratégicos
da economia.
ii. Constituição de 1976:
1) Princípio da irreversibilidade das nacionalizações;
2) Consequência – nasceu um avultado património
empresarial do Estado.
c. Fase da organização (1976).
Página 27
i. O destaque ia para as Empresas Públicas, optou-se por isso
por “codificá-las” num único diploma (DL 260/76 de 8 de
Abril);
ii. DL 260/76 de 8 de Abril:
1) Revestia uma definição marcadamente ideológica e
restrita de Empresa Pública;
2) Correspondência a um regime de forte controlo
governamental sobre a gestão das Empresas Públicas;
3) Poder de dar directivas e instruções genéricas aos
administradores das Empresas Públicas (tutela).
d. Fase de remodelação.
i. Nova legislação para disciplinar melhor as Empresas Públicas
do ponto de vista financeiro, com vista a possibilitar uma
gestão mais flexível e autónoma;
ii. Transformação das EP em sociedades anónimas e
reestruturação empresarial;
iii. Transformação do capital estatutário em capital social,
permitindo a sua futura alienação em parcelas;
iv. Privatizações a partir do final da década de 80, “menos
Estado, melhor Estado”.
AULA PRÁTICA 4
Página 28
j. A nacionalização obedece a fundamentos político-ideológicos ou
político-económicos – a expropriação é um acto normal de
administração pública;
k. A nacionalização é uma providência extraordinária – a expropriação
é um acto normal;
l. A nacionalização opera por lei (no sentido que produz efeitos
automaticamente) – a expropriação não (a lei que autoriza a
expropriação pressupõe actos jurídicos posteriores).
Confisco.
o. Consiste na apreensão e perda a favor do Estado de todo ou parte
do património do agente de uma infracção sem que haja lugar a
indemnização.
Socialização.
p. Passagem dos meios de produção ou outros bens para o sector
social (à luz da versão originária da CRP de 1976).
Página 29
b. Artigos da CRP a aplicar numa nacionalização: art.º 83 + 165/1
alinea l). Se for o Governo a nacionalizar, adicionalmente: os art.º
165/2, 198/1 alínea b) e o art.º 198/3.
AULA 6
EMPRESAS PÚBLICAS.
Página 30
7. O DL 558/99 de 17 de Dezembro implementa um novo conceito de
empresa pública. O novo regime orienta-se em três sentidos
fundamentais:
a. Ampliação do conceito de empresa pública;
b. Aplicação do Direito privado como regime regra;
c. Criação de melhores condições para o exercício da função
accionista do Estado.
Página 31
Entidades Públicas Empresariais (EPE). Características:
m. São criadas por DL o qual aprova os respectivos estatutos;
n. São dotadas de autonomia administrativa, financeira e patrimonial;
o. Têm capital estatutário;
p. Estão sujeitas a tutela económica e financeira exercida pelo
Ministro da Finanças e pelo ministro do sector;
q. Podem ser sujeitas a um regime especial de gestão, em
circunstâncias excepcionais;
r. Podem ser objecto de transformação, fusão, cisão e extinção por
DL.
8. Modalidades:
a. Empresas públicas encarregadas da gestão de serviços de interesse
económico geral;
b. Empresas públicas que exercem poderes de autoridade.
c. Restantes
9. As empresas públicas encarregadas da gestão de serviços e
interesses económicos gerais (têm dignidade de Direito da UE
primário, Tratado de Amesterdão);
a. São as empresas cuja actividade deve:
i. Assegurar a universalidade e continuidade dos serviços
prestados;
ii. Assegurar a coesão económica e social;
iii. Assegurar a protecção dos consumidores;
iv. Prosseguir a eficiência económica;
v. Respeitar os princípios da não discriminação e transparência.
b. Em relação a estas empresas podem ser celebrados contratos com
o Estado que envolvam a atribuição de indemnizações
compensatórias, segundo regime a fixar em DL;
c. O Direito UE consagra o princípio da neutralidade da propriedade –
o regime comunitário respeita a propriedade dos estados –
membros;
d. Estas empresas por sua vez têm que respeitar o Direito UE da
concorrência;
e. No entanto estas empresas de forte influência da tradição francesa
de serviço público, praticam preços baixos ao público sendo
posteriormente indemnizadas (indemnizações compensatórias);
f. Podem ser EP ou EPE.
Página 32
10. Empresas públicas que exercem poder de autoridade, em que se
possibilita a essas EP que possam exercer poderes e prerrogativas de
autoridade de que goza o Estado, tais como:
a. Poderes de autoridade em matéria de expropriações,
licenciamento, concessão, etc.;
b. Impõe-se todavia que os poderes de autoridade sejam concedidos
por diploma legal ou por contrato de concessão, mas neste último
caso só em situações excepcionais e na medida do estritamente
necessário à persecução do interesse público.
11.Existiram três gerações de empresas públicas:
a. Primeira geração.
i. As empresas públicas até 1975 (serviços públicos
personalizados):
1) Conceito de pessoa jurídica:
a) Absoluta susceptibilidade de ser destinatário de
direitos ou deveres;
b) Ou se tem ou não, é um conceito absoluto;
c) Em contra-posição, a capacidade é um conceito
relativo.
ii. As empresas privadas que chegavam ao termo da
concessão;
iii. (Marcelo Caetano) – não necessitam de ter escopo lucrativo.
b. Segunda geração (de 1975 até 1999, DL 260/76 de 8 de Abril).
i. Consagrava uma noção estrita de empresa pública detida a
100% pelo Estado.
c. Terceira geração (de 1999 em diante, DL 558/99 de 17 de
Dezembro).
i. Empresa pública sob forma societária (art.º 3/1 do DL
558/99);
ii. Entidades públicas empresariais EPE (art.º 3/2 e 23 e ss. do
DL 558/99).
Página 33
Caso prático 3.
A empresa de transporte Camaleão foi nacionalizada na sequência do 11
Março de 1975 (CRP ainda não existia). Anos depois (logo já existia CRP
de 1976), os seus ex-proprietários foram indemnizados, mas nunca
aceitaram de bom grado as indemnizações atribuídas, considerando-as
insuficientes e procurando por isso recorrer à via judicial.
Seja como for, com as verbas provenientes das indemnizações
adquiriram diversos terrenos, assistindo desconfortados ao facto de alguns
deles serem expropriados para a construção de uma auto-estrada – o que os
revoltou procurando mais uma vez justiça nos tribunais. Quid júris?
Resolução:
d. Caracterizar a nacionalização (art.º 83 da CRP):
i. Quanto à sua natureza: coactiva e extraordinária;
ii. Transferência de um bem esfera privada para a esfera
pública;
iii. Motivação de ordem económico – social, os bens são afectos
ao serviço público;
iv. Reveste forma legal – não pode ser atacada com base na sua
legalidade, apenas com base na sua inconstitucionalidade.
e. Por contra-posição a expropriação (art.º 62/2 da CRP):
i. Obedece à lei mas pode ser feita por acto administrativo;
ii. Acto normal da administração.
f. Quanto à indemnização relativa à nacionalização:
i. A jurisprudência constitucional veio consagrar o princípio da
indemnização necessária para as nacionalizações (art.º 83,
parte final e art.º 165/1 alínea l) da CRP);
ii. Está-se a atacar a indemnização que é um acto
administrativo, logo tem que ser nos tribunais
administrativos;
iii. (Oliveira Ascensão) – a indemnização consiste numa
compensação logo deve corresponder ao valor do bem;
iv. (Freitas do Amaral) – a indemnização deve ser justa logo
integral;
v. (Fausto Quadros) – defende a reversão;
vi. O TC distingue dois regimes de indemnização:
1) 1º critério (art.º 62/2 da CRP) reporta-se à
expropriação, é um critério mais exigente “justa
indemnização”;
Página 34
2) 2º critério (artº 83 da CRP) quanto à nacionalização, a
indemnização deve ser razoável, não necessitando de
ser integral.
g. Quanto ao último parágrafo do caso prático – podem impugnar o
facto nos tribunais administrativos.
Página 35
AULA 7
12. As empresas públicas societárias são empresas stricto sensu.
13.Existiram três gerações de empresas públicas:
a. Primeira geração.
i. As empresas públicas até 1975 (serviços públicos
personalizados):
1) Conceito de pessoa jurídica:
a) Absoluta susceptibilidade de ser destinatário de
direitos ou deveres;
b) Ou se tem ou não, é um conceito absoluto;
c) Em contra-posição, a capacidade é um conceito
relativo.
ii. As empresas privadas que chegavam ao termo da
concessão;
iii. (Marcelo Caetano) – não necessitam de ter escopo lucrativo.
b. Segunda geração (de 1975 até 1999, DL 260/76 de 8 de Abril).
i. Consagrava uma noção estrita de empresa pública detida a
100% pelo Estado.
c. Terceira geração (de 1999 em diante, DL 558/99 de 17 de
Dezembro).
i. Empresa pública sob forma societária (art.º 3/1 do DL
558/99);
ii. Entidades públicas empresariais EPE (art.º 3/2 e 23 e ss. do
DL 558/99).
Página 36
IDENTIFICAÇÃO DO SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO (SEE).
d. Inicialmente o SEE integrava o sector público de propriedade dos
meios de produção, excluía no entanto as empresas
intervencionadas (propriedade privada mas de gestão pública), mas
também excluía as empresas participadas em que a propriedade e
a gestão eram privadas.
e. Esta situação começou a evoluir a partir de 1996, nomeadamente
com as funções desempenhadas pelo Tribunal de Contas (Lei 14/96
de 20 de Abril, Lei 98/97 de 26 de Agosto). A primeira a regular a
fiscalização do SEE pelo Tribunal de Contas, a segunda, sobre a
organização e processo do Tribunal de Contas. Acresce-se a estes
diplomas a Lei 48/2006 de 29 de Agosto, através da qual foram
ampliados os poderes de jurisdição do Tribunal de Contas,
consagrando-se formalmente o princípio da perseguição dos
dinheiros públicos. Todos estes diplomas reflectem a importância
da fiscalização pelo Tribunal de Contas das empresas onde o Estado
possa exercer influência dominante.
f. É na sequência destes diplomas que evocamos o DL 558/99,
nomeadamente o art.º 2, que consagra que o SEE integra as
empresas públicas quer sob forma societária, quer EPE, bem como
as empresas participadas. Ou seja o SEE começa a estar
enquadrado de forma alheia à perspectiva jurídico – constitucional.
14.Enquadramento do SEE.
a. Sector Público Administrativo:
b. Sector Público Empresarial:
i. Sector Empresarial do Estado (SEE):
1) EPE (administração indirecta do Estado de forma
pública);
2) Empresas públicas sob forma societária ou stricto
sensu (administração indirecta do Estado de forma
privada);
3) Empresas participadas (participação pública ou
representantes públicos em entes colaborantes).
ii. Sector Empresarial das Regiões Autónomas;
iii. Sector Empresarial Autárquico.
15.O DL 558/99 de 17 de Dezembro que foi alterado pelo DL 300/2007 de 23
de Agosto, em que se regista uma nova concepção de orientações para o
SEE assentes em três níveis hierárquicos (DL 300/2007):
a. 1º - Orientações estratégicas para todo o SEE a emitir por resolução
do CM;
b. 2º - Orientações gerais a um conjunto de empresas públicas no
mesmo sector de actividade;
Página 37
c. 3º - Orientações específicas para um EPE ou para uma empresa
pública stricto sensu.
Página 38
AULA PRÁTICA 5
Caso prático 4.
O Governo pretende que o Estado detenha uma presença
empresarial importante nos sectores segurador e financeiro,
equacionando, entre outras, a possibilidade de nacionalizar algumas
empresas nesses sectores.
Quid júris?
d. Neste caso abrem-se duas hipóteses:
i. O Estado nacionaliza empresas existentes;
ii. O Estado cria empresas novas.
e. (1ª hipótese) noção de nacionalização (art.º 83 da CRP):
Artigo 83.º
(Requisitos de apropriação pública)
A lei determina os meios e as formas de intervenção e de apropriação pública dos meios de produção, bem como os
critérios de fixação da correspondente indemnização.
ii. O Estado pode tomar esta iniciativa? Sim (art.º 81/c) da CRP).
Artigo 81.º
(Incumbências prioritárias do Estado)
Incumbe prioritariamente ao Estado no âmbito económico e social:
a) Promover o aumento do bem-estar social e económico e da qualidade de vida das pessoas, em especial das mais
desfavorecidas, no quadro de uma estratégia de desenvolvimento sustentável;
b) Promover a justiça social, assegurar a igualdade de oportunidades e operar as necessárias correcções das
Página 39
desigualdades na distribuição da riqueza e do rendimento, nomeadamente através da política fiscal;
c) Assegurar a plena utilização das forças produtivas, designadamente zelando pela eficiência do sector público;
d) Promover a coesão económica e social de todo o território nacional, orientando o desenvolvimento no sentido de um
crescimento equilibrado de todos os sectores e regiões e eliminando progressivamente as diferenças económicas e
sociais entre a cidade e o campo e entre o litoral e o interior;
e) Promover a correcção das desigualdades derivadas da insularidade das regiões autónomas e incentivar a sua
progressiva integração em espaços económicos mais vastos, no âmbito nacional ou internacional;
f) Assegurar o funcionamento eficiente dos mercados, de modo a garantir a equilibrada concorrência entre as empresas,
a contrariar as formas de organização monopolistas e a reprimir os abusos de posição dominante e outras práticas
lesivas do interesse geral;
g) Desenvolver as relações económicas com todos os povos, salvaguardando sempre a independência nacional e os
interesses dos portugueses e da economia do país;
h) Eliminar os latifúndios e reordenar o minifúndio;
i) Garantir a defesa dos interesses e os direitos dos consumidores;
j) Criar os instrumentos jurídicos e técnicos necessários ao planeamento democrático do desenvolvimento económico e
social;
l) Assegurar uma política científica e tecnológica favorável ao desenvolvimento do país;
m) Adoptar uma política nacional de energia, com preservação dos recursos naturais e do equilíbrio ecológico,
promovendo, neste domínio, a cooperação internacional;
n) Adoptar uma política nacional da água, com aproveitamento, planeamento e gestão racional dos recursos hídricos.
Página 40
AULA 8 (20/10/2010)
Página 41
3) Competência para aprovar cabe à Assembleia
Intermunicipal.
iii. Empresas metropolitanas:
1) Proposta da Junta Metropolitana;
2) Exigido parecer favorável das assembleias municipais;
3) Competência para aprovar cabe à assembleia
Metropolitana.
iv. Este processo tem que ser antecedido de determinados
trâmites:
1) Realização de estudos técnicos;
2) Demonstração da viabilidade económica, através da
identificação de ganhos de qualidade e de
racionalidade;
3) Por outro lado estão sujeitos a normas de
contabilidade e de limites de empréstimos (contam
para o cálculo dos limites de endividamento).
18.Sector Público das Regiões Autónomas:
a. É uma competência que decorre directamente da CRP (art.º 227/1,
alínea o): “As regiões autónomas são pessoas colectivas territoriais
e têm os seguintes poderes, a definir nos respectivos estatutos:…
Superintender nos serviços, institutos públicos e empresas públicas
e nacionalizadas que exerçam a sua actividade exclusiva ou
predominantemente na região, e noutros casos em que o interesse
regional o justifique…”);
b. Como se desenvolveram:
i. Fruto do processo de nacionalizações de 1975;
ii. As RA criaram EP “ex novo”.
c. Para estas empresas aplica-se subsidiariamente o regime do SEE
(art.º 5 do DL 558/99).
Página 42
iii. Orientações específicas.
g. Os gestores públicos encontram-se sujeitos à avaliação de
desempenho a qual é sistemática;
h. O mandato é de 3 anos;
i. Natureza das funções: Executiva (regime de exclusividade); Não
executivas.
Página 43
PRIVATIZAÇÕES.
j. Caracterização:
i. O movimento das privatizações começou por ser um
fenómeno característico dos países ocidentais desenvolvidos;
ii. Começou a surgir em força em finais dos anos 70;
iii. Inscrevem-se num movimento amplo de redução do Estado;
iv. Neste movimento inicial desempenhou um forte papel as
doutrinas no domínio económico (neo-liberais e neo-
individualistas);
v. Forte pendor político conservador (Margaret Thatcher, 1979).
k. Década de 90.
i. Privatizações na Europa de Leste – instrumento privilegiado
para a transição de economia planificada para a economia de
mercado, nomeadamente por influência do FMI e do Banco
Mundial;
ii. Nos anos 2000 estendeu-se a todo o globo (Banco Mundial e
FMI).
19. Razões para os processos de privatização (Ideológicas; Económicas;
Políticas; Financeiras).
a. Razões ideológicas.
i. O movimento das privatizações era encarado como uma
ruptura com o excessivo intervencionismo do Estado na
economia;
ii. Chegou-se mesmo a argumentar que o excessivo peso do
estado na economia restringia a liberdade.
b. Razões económicas.
i. Ideia de que a gestão privada era mais eficaz que a gestão
pública;
ii. A privatização implica modernização e competitividade
económica;
iii. Reforça a capacidade empresarial;
iv. Liberta os homens políticos para a resolução de problemas
políticos.
c. Razões políticas:
i. As privatizações como meio para debilitar as empresas
públicas, as quais eram consideradas bastiões das forças
sindicais;
ii. É uma forma de disseminar o capitalismo popular
(disseminar as acções das empresas).
Página 44
d. Razões financeiras.
i. Processo de libertar o Estado do peso do financiamento das
empresas públicas reduzindo assim o fardo no OE;
ii. Utilização da receita das privatizações;
iii. Cria uma dinâmica favorável ao mercado de capitais;
iv. Possibilitar um acesso mais rápido aos mercados
internacionais de capitais.
AULA PRÁTICA 6
Página 45
i. O DL 558/99, nomeadamente o art.º 2, que consagra que o
SEE integra as empresas públicas quer sob forma societária,
quer EPE, bem como as empresas participadas;
ii. Artigo 3º do DL 558/99 - As empresas públicas são as
empresas onde o Estado exerça uma posição dominante;
iii. A empresa pública sob forma societária obedece a dois
critérios:
1) Critério formal – é empresa pública aquela que é assim
formada nos termos da lei comercial;
2) Critério substancial / funcional – é aquela em que o
Estado exerce uma influência dominante.
iv. O Sector Público Empresarial divide-se em:
1) Sector Empresarial do Estado (SEE):
a) EPE (administração indirecta do Estado de
forma pública);
b) Empresas públicas sob forma societária ou
stricto sensu (administração indirecta do Estado
de forma privada);
c) Empresas participadas (participação pública ou
representantes públicos em entes
colaborantes).
2) Sector Empresarial das Regiões Autónomas;
3) Sector Empresarial Autárquico.
v. Do que foi dito conclui-se que esta empresa pertence sem
dúvida ao Sector Público Empresarial (SPE);
vi. O art.º 2 do DL 558/99 refere-se a empresas com
participação pública e privada (não sendo portanto critério
que se aplique a este caso);
vii. Pelo simples facto de ter uma participação significativa de
uma empresa do Sector Empresarial do Estado (SEE), como
essa participação não é maioritária, a empresa enquadra-se
no Sector Empresarial das Regiões Autónomas, que exerce
“uma influência dominante” (art.º 6/1 do DL 558/99: “Sem
prejuízo das autonomias atribuídas às entidades públicas
estaduais, de carácter administrativo ou empresarial,
detentoras de participações, ou reconhecidas às Regiões
Autónomas, aos municípios e às suas associações, uma
empresa participada por diversas entidades públicas integra-
se no sector empresarial da entidade que, no conjunto das
participações do sector público, seja titular da maior
participação relativa.”).
Página 46
AULA 9 (21/10/2010)
(Re)privatizações em Portugal.
j. Privatização (stricto sensu) – alienar ao sector privado, bens que
sempre foram do sector público – vs Reprivatização
k. Até à Revisão de 1989 a CRP consagrava o princípio da
irreversibilidade das nacionalizações;
l. Com a Revisão de 1989 este foi substituído pelo princípio da
admissibilidade das reprivatizações previsto no art.º 293 da CRP
que fixa os princípios que uma lei-quadro das reprivatizações deve
adoptar (Lei 11/90 de 5 de Abril).
Artigo 293.º
(Reprivatização de bens nacionalizados depois de 25 de Abril de l974)
1. Lei-quadro, aprovada por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, regula a reprivatização da
titularidade ou do direito de exploração de meios de produção e outros bens nacionalizados depois de 25 de Abril de
l974, observando os seguintes princípios fundamentais:
a) A reprivatização da titularidade ou do direito de exploração de meios de produção e outros bens nacionalizados
depois do 25 de Abril de 1974 realizar-se-á, em regra e preferencialmente, através de concurso público, oferta na bolsa
de valores ou subscrição pública;
b) As receitas obtidas com as reprivatizações serão utilizadas apenas para amortização da dívida pública e do sector
empresarial do Estado, para o serviço da dívida resultante de nacionalizações ou para novas aplicações de capital no
sector produtivo;
c) Os trabalhadores das empresas objecto de reprivatização manterão no processo de reprivatização da respectiva
empresa todos os direitos e obrigações de que forem titulares;
d) Os trabalhadores das empresas objecto de reprivatização adquirirão o direito à subscrição preferencial de uma
percentagem do respectivo capital social;
e) Proceder-se-á à avaliação prévia dos meios de produção e outros bens a reprivatizar, por intermédio de mais de uma
entidade independente.
2. As pequenas e médias empresas indirectamente nacionalizadas situadas fora dos sectores básicos da economia
poderão ser reprivatizadas nos termos da lei.
20.Reprivatizações:
a. Base legal – Lei 11/90 de 5 de Abril, alterada pela Lei 102/2003 de
15 de Novembro;
b. Âmbito material – a Lei 11/90 de 5 de Abril veio permitir a
reprivatização total da titularidade ou do direito de exploração ou
de outros meios de produção de bens nacionalizados depois do 25
de Abril de 1974;
c. Objectivos das reprivatizações (art.º 3 da Lei 11/90): Económicos –
alíneas a), b) e d) do art.º 3 da Lei 11/90; Políticos – alínea c) do
art.º 3 da Lei 11/90; Sociais – alínea e) do art.º 3 da Lei 11/90
(dispersão do capital social pelo maior número possível de
titulares); Financeiros – alínea g) do art.º 3 e art.º 16 da Lei 11/90.
Página 47
d. Processos de reprivatização (art.º 6/1 da Lei 11/90), em regra:
i. Alienação das acções representativas do capital social;
ii. Aumento de capital social.
e. Modalidades de reprivatização (art.º 6 a 8 da Lei 11/90):
i. Em regra:
1) Concurso público;
2) Oferta na bolsa de valores;
3) Subscrição pública.
ii. Excepcionalmente:
1) Concurso aberto a candidatos especialmente
qualificados;
2) Venda directa (BFB e BPI).
f. Para que estas alternativas sejam efectuadas é necessário que haja
interesse nacional ou a situação económico-financeira da empresa
o justifique;
g. Enquadramento formal das operações de reprivatização:
1) Aprovação por DL da transformação da empresa
pública de EP em SA e dos respectivos estatutos (art.º 4 da
Lei 11/90 – transformação do capital estatutário em capital
societário);
2) Resolução do CM destinada a aprovar as condições
finais concretas das operações a realizar em cada processo
de reprivatização (art.º 14 da Lei 11/90);
h. Regimes preferenciais nos processos de reprivatização, porquê?
1) Porque consta da CRP (um deles) no art.º 293/1 alínea
c): “Os trabalhadores das empresas objecto de
reprivatização manterão no processo de reprivatização da
respectiva empresa todos os direitos e obrigações de que
forem titulares” e alínea d): “Os trabalhadores das empresas
objecto de reprivatização adquirirão o direito à subscrição
Página 48
preferencial de uma percentagem do respectivo capital
social”;
2) A Lei 11/90 prevê três regimes preferenciais (visando
o objectivo de consumar o capitalismo popular):
a) Pequenos subscritores (art.º 10/1);
b) Trabalhadores da empresa objecto da
reprivatização (art.º 10/1);
c) Emigrantes (art.º 10/2), facultativo.
Página 49
base em razões e para garantia do interesse público, art.º
15/1 e 2 e ainda art.º 4/2);
ii. O Estado pode deter acções privilegiadas “golden share” que
lhe concedem direito de veto quanto:
1) Alterações do pacto social;
2) Outras deliberações que sejam tipificadas nos
estatutos (art.º 15/3).
l. Controlo do processo de reprivatização.
i. Avaliação prévia das empresas e bens a reprivatizar (art.º 5 e
art.º 293/1, alínea e) da CRP: “Proceder-se-á à avaliação
prévia dos meios de produção e outros bens a reprivatizar,
por intermédio de mais de uma entidade independente”);
ii. O Governo é apoiado tecnicamente por uma comissão de
acompanhamento (art.º 20);
iii. Existe um regime de incompatibilidades para os membros
dessa comissão (art.º 21).
m. Reprivatização de empresas públicas regionais (art.º 17 e art.º 4).
i. É exigido a iniciativa e o parecer favorável do respectivo
Governo regional;
ii. A forma é através de DL obrigando sempre à transformação
da empresa em SA.
n. Destino das receitas obtidas (art.º 16) para EP regional (art.º 17/3).
Página 50
22.Direito das privatizações vs. Direito comercial e Direito dos bens
mobiliários.
i. O CSC estabelece o direito dos accionistas no entanto o
Estado tem direitos especiais;
ii. Quando houve privatizações, houve mais acções no mercado
e desenvolveu-se este.
AULA PRÁTICA 7
Página 51
iii. Modalidade: Venda directa de 99% (L11 6/3/b), que requer
fundamentação (L11 6/3/b), caderno de encargos (L11 8/2) e
intervenção do CM (L11 8/3) ; Oferta na bolsa de valores
restrito a trabalhadores
iv. Regimes preferenciais
1) Trabalhadores (CRP 293/1/0, L11 10/1)
2) Pequenos subscritores (L11 10/1) - FALTA
v. Destino das receitas (L11 17/3)
Página 52
AULA 10 (27/10/2010)
Concertação económica e social e contratualismo económico.
k. Relações entre os universos público e privado:
i. 1º Período - Estado liberal;
ii. 2º Período - Estado intervencionista;
iii. 3º Período - Estado contemporâneo.
l. Período do Estado liberal (séc. 19 até anos 20 do séc. 20).
i. Dicotomia Estado – Sociedade (o Estado não deveria intervir
na economia, salvo em casos excepcionais);
ii. Instrumentos jurídicos:
1) Estado utiliza a lei
2) Sociedade privilegia o contrato.
m. Estado intervencionista (anos 20 até anos 80) – Estado Providência.
i. O ideário consistia na ideia ética fundamental de que todos
têm direito a um conjunto de bens fundamentais;
ii. Consequentemente, o Estado tem que intervir activamente
sobre a sociedade;
iii. Fenómeno da publicização do Direito privado (imposição de
controlos à sociedade e multiplicação de normas imperativas
jus cojens condicionando a liberdade de celebrar contratos).
n. Estado contemporâneo (após os anos 80).
i. O Estado começa a lançar mão de instrumentos de Direito
privado, operando-se o fenómeno da privatização do Direito
público ou pelo menos o fenómeno da privatização da
actividade económica do Estado;
ii. Ou seja, por um lado, o Estado invade zonas cada vez mais
amplas, mas por outro, prescinde cada vez mais de meios de
imposição da vontade unilaterais.
o. Formas de redução da unilateralidade da acção do Estado:
i. Traduz-se na busca de soluções no sentido de aproximar o
poder de decisão dos cidadãos. Exemplos:
1) Descentralização financeira – traduz-se na
aproximação da decisão económico-financeira do
cidadão, rectius, dos contribuintes;
2) A figura do Provedor de Justiça (o Provedor de Justiça
exerce a mediação entre os cidadãos e o Estado, art.º
23 da CRP);
Página 53
3) Concertação económica e social – traduz-se na busca
de consensos entre o Estado e os principais parceiros
económicos e sociais.
p. Concertação económica e social.
i. Noção – o Estado abdica de formas puramente unilaterais de
actuação para procurar associar às suas decisões os
cidadãos ou os organismos representativos da sociedade;
ii. Esta concertação económica e social envolve compromissos
entre os parceiros sociais e entre estes e o Governo em
domínios de legislação laboral, das políticas económicas e
dos rendimentos e preços.
q. Metodologia:
i. Troca de informação;
ii. Confronto de previsões;
iii. Adopção de decisões;
iv. Formulação de pareceres.
r. Características históricas:
i. Teve desenvolvimento em países escandinavos, na Áustria,
na Alemanha e em Portugal a partir dos anos 90;
ii. Assiste-se a uma tendência expansiva da concertação
económica e social.
s. Abordagem teórica:
i. A doutrina encarou isto sob a fórmula da hipótese neo-
corporativista (Baptista Machado e Barbosa de Melo);
ii. A sua origem tem a ver com problemas de articulação entre
a concertação económica e social com a democracia
representativa;
iii. (Batista Machado) – esta dimensão corporativista da
democracia não entra em conflito com a democracia
parlamentar, na medida em que representa um
complemento e não uma alternativa;
iv. (Manuel Lucena) – contraposição entre o corporativismo
seguido no Estado Novo e o corporativismo de associação na
concertação económica e social;
v. (Barbosa de Melo) – refere três condições objectivas para a
concertação económica e social:
1) Vontade para a concertação;
2) Ética colectiva de fidelidade à palavra dada;
3) Autêntica representatividade.
Página 54
AULA 11 (29 /10/2010)
Contratualismo económico-social
t. Conceito mais amplo que os contratos económicos e que se traduz
em diversas modalidades de relacionamento entre o Estado e os
particulares:
i. Acordos de cavalheiros (gentleman agreement);
ii. Condicionamento de certos actos da Administração a acordos
prévios com os particulares. Cabral Moncada e outros,
qualificam-no como acto misto, formado por contrato mais
acto unilateral da Administração;
iii. Acordos colectivos genéricos;
iv. Contratos económicos.
u. Nestas modalidades, podemos distinguir 3 aspectos:
i. Estabelecimento de consensos
ii. Diminuição da unilateralidade da acção do Estado
iii. Acordo gerador de direitos e obrigações para cada uma das
partes.
v. Nos Contratos económicos, o Estado ou outro ente público
enquanto parte contratante, ao agir na área económica, face a
outros entes públicos, privados ou do sector social, não se coloca
numa posição de supremacia, nem reserva para si poderes
especiais. [recorda-se que, em alternativa, o contrato
administrativo é uma modalidade de actuação pública em que o
Estado conserva poderes de autoridade].
w. Há divergência doutrinária quanto ao regime jurídico aplicável:
público ou privado? Identificam-se 2 fases
i. 1. Fase) publicista, em que o regime propugnado era o Dt
Público
ii. 2. Fase) em que o regime se aproxima do Dt Privado
x. Paz Ferreira defende uma concepção unitária de contratação
pública e privada, que parte dum tronco comum prévio à
contratação, nomeadamente quanto às condições de formação da
vontade e aos diversos controlos de interesse público. Paz Ferreira
cita Sérvulo Correia em que este refere que nos art.s 265 ss da CRP
não se estabelece uma dicotomia entre a actuação da
Administração pelo Dt Público e pelo Dt Privado.
y. Nos contratos económicos o objecto insere-se sempre no âmbito da
intervenção económica do Estado, nomeadamente para a execução
dum programa de actividades económicas previamente definido.
z. Exemplos de contratos económicos:
Página 55
i. Contratos-programa entre o Estado e autarquias locais,
destinados a concretizar fórmulas de cooperação técnica e
científica entre a AP Central e o Município ou um conjunto de
Municípios em áreas como saneamento básico,
infraestruturas, etc.
ii. Contratos de desenvolvimento, celebrados entre o Estado e
uma ou mais empresas, em que o Estado fornece auxílios e
isenções fiscais e as empresas investem em actividades
consideradas relevantes;
iii. Contratos de investimento estrangeiro em que o Estado atrai
o investimento estrangeiro com apoios e isenções fiscais;
iv. Acordos para saneamento económico-financeiro ou Contratos
de viabilização para auxílio a empresas em situação
económica difícil;
v. PPP – Parcerias público-privadas.
PPP-Parcerias público privadas
aa. Forma de desintervenção directa do Estado enquanto produtor de
bens e prestador de serviços.
bb. Noção de PPP: é uma relação de longo prazo que se estabelece
entre duas ou mais organizações, sendo uma delas pública, para o
desenvolvimento e concretização dum projecto, partilhando
investimentos, riscos, responsabilidades e resultados.
cc. Surge com Thatcher (1979) e começa a ser utilizada em Portugal na
década 80, devido a limitações orçamentais do Estado decorrentes
de:
i. Necessidade de reduzir despesa,
ii. Limitações das receitas fiscais;
iii. Necessidade de desenvolver projectos com modalidades
flexíveis de financiamento.
dd.As PPP decorrem da necessidade do Estado levar a cabo projectos
importantes para a economia nacional ou local, através de:
i. Estímulo à iniciativa económica privada;
ii. Partilha de risco entre o sector público e o sector privado;
iii. Crescente preocupação para se atingirem metas mais
elevadas de eficiência e qualidade na gestão de actividades
e serviços públicos.
ee.Modalidades de Concretização duma PPP:
i. Formato de concertação – é o formato menos vinculativo e
consiste no propósito de realizar um projecto comum;
ii. Formato contratual – contratualização da relação entre os
entes envolvidos;
Página 56
iii. Formato institucional – criação duma ou mais instituições
com capitais públicos e privados para a concretização da
PPP.
ff. Enquadramento jurídico próprio (DL 86/2003 de 26/4 e DL 141/2006
de 27/7), devido à cada vez mais frequente utilização das PPP e à
necessidade de controlo financeiro dos dinheiros públicos. O
Tribunal de Contas elege como aferidor da justificação duma PPP, o
comparador público, i.e. o custo público comparável do projecto se
concretizado pelo ente público sozinho; este comparador público é
o valor limite para a orçamentação do projecto numa perspectiva
plurianual.
AULA PRÁTICA 8
Croqui, com as questões relevantes.
gg. Na resolução da questão fazer um croqui, com as questões
relevantes:
i. Enquadramento no SE das Regiões Autónomas
ii. Competência das RA, em matéria de Superintendência – artº
227º/1, alínea o) CRP
iii. O Governo vai fazer uma reestruturação – aplica-se
subsidiariamente o CSC;
iv. Aplicação da Lei 11/90 – Empresa originária fruto de uma
nac. – artº 1 – âmbito material da lei
v. Iniciativa – do G, Regional – artº 17/1;
vi. Objectivos: 4 – artº 3;
vii. Necessidade de Avaliação Prévia; 293º/1 da CRP e artº 5, da
lei 11/90:
1) Tem que haver Comissão Acompanhamento – artº
17/2, da Lei 11/90;
2) A Comissão Acompanhamento tem que ter
Representante da RA – art.º 20º da Lei 11/90.
viii. Tipo de alienação – artº 6º , da Lei 11/90
ix. Salvaguarda dos Trab. E Peq. Subscritores: -artº 10/11 e 12ª
x. Destino das Receitas: - art0 17º/3
hh.Importante:
i. Iniciativa - de cada um dos Gov. Regionais;
ii. Decisão – Gov. República – artº 4 – D.lei e artº 14º –
Resolução do CM.
Página 57
AULA 12
DIREITO DA CONCORRÊNCIA .
Página 58
b. Trata-se de um conjunto de princípios e normas jurídicas que têm
em vista a protecção dos mercados contra restrições à
concorrência, quer imputáveis a comportamentos isolados dos
sujeitos económicos, quer a comportamentos coligados de grupos
de empresas, quer ainda ao exercício abusivo de posições de
domínio e bem assim ao controlo de operações de concentração.
c. Sendo um ramo especial do Direito há que delimitá-lo:
i. Âmbito territorial – onde se aplica?;
ii. Âmbito material – que matérias trata?.
25.Do ponto de vista teórico existem dois grandes sistemas de Direito da
concorrência:
a. Sistema do dano potencial, baseado na teoria da concorrência –
condição;
i. Dano potencial, envolve uma noção estrutural da
concorrência vista como um bem em si mesmo.
b. Sistema do dano efectivo, baseado na teoria da concorrência –
meio.
i. Dano efectivo – aqui privilegiam-se os comportamentos
efectivos dos agentes económicos.
26. Sistema do dano potencial baseado na teoria da concorrência –
condição (EUA):
a. A concorrência é um bem absoluto (é uma condição);
b. Os agentes económicos, se querem operar, têm de respeitar a
concorrência.
c. Com o Sherman Act (1890)começa a lei anti-trust, proibição de
acordos contrários às práticas concorrenciais.
d. Controlo prévio de acordos, concentrações, etc.
e. Aproximação ao sistema alternativo do dano efectivo – as empresas
de caminhos-de-ferro fizeram um acordo, à primeira vista seria um
acto proibido pela lei anti-trust, no entanto os juízes aplicando a
rule of reason concluem que o acordo até pode ser benéfico para o
consumidor (desta forma é mitigado este sistema).
f. Rule of reaon é um juízo de razoabilidade dobre a ponderação de
valores e interesses em presença.
27. Sistema do dano efectivo baseado na teoria da concorrência – meio
(UE):
a. A concorrência é um valor entre outros, pelo que poderá ceder
perante ex. desenvolvimento regional;
b. Balanço económico – documento que mostra de que forma os
agentes económicos beneficiam dum acordo que viola a
concorrência;
Página 59
c. Controlo a posteriori - só se existirem danos efectivos para a
concorrência é que são aplicadas sanções;
d. Aproximação ao sistema do dano potencial – existe um controlo
prévio à concentração de empresas (portanto existem nuances de
concorrência condição).
Caso prático 7.
Suponha que o CM aprova um DL que revoga a Lei 88-A/97 de 25
de Julho e que aprova a alienação de todos os jazigos minerais
existentes a sul do Tejo.
Quid júris?
e. A questão do DL revogar a Lei 88-A/97 de 25 de Julho é uma
possibilidade plausível se houver Lei de autorização legislativa em
conformidade com:
i. Art.º 165/1, alínea j) da CRP: “É da exclusiva competência da
Assembleia da República legislar sobre as seguintes
matérias, salvo autorização ao Governo:... Definição dos
sectores de propriedade dos meios de produção, incluindo a
dos sectores básicos nos quais seja vedada a actividade às
empresas privadas e a outras entidades da mesma
natureza”);
ii. Art.º 165/2 da CRP: “As leis de autorização legislativa devem
definir o objecto, o sentido, a extensão e a duração da
autorização, a qual pode ser prorrogada”);
iii. Art.º 198/1, alínea b) da CRP: “Compete ao Governo, no
exercício de funções legislativas:… Fazer decretos-leis em
matérias de reserva relativa da Assembleia da República,
mediante autorização desta…”);
iv. Art.º 198/3 da CRP: “Os decretos-leis previstos nas alíneas b)
e c) do n.º 1 devem invocar expressamente a lei de
autorização legislativa ou a lei de bases ao abrigo da qual
são aprovados”).
f. Os jazigos minerais não podem ser alienados por serem domínio
público (art.º 84/1 da CRP): “Pertencem ao domínio público:… Os
jazigos minerais, as nascentes de águas mineromedicinais, as
cavidades naturais subterrâneas existentes no subsolo, com
excepção das rochas, terras comuns e outros materiais
habitualmente usados na construção…”). Logo o DL seria
materialmente inconstitucional.
g. O regime de utilização de bens do domínio público é definido por
lei, actualmente a Lei 88-A/97 de 25 de Julho: “A exploração dos
recursos do subsolo e dos outros recursos naturais que, nos
termos constitucionais, são pertencentes ao Estado será
Página 60
sempre sujeita ao regime de concessão ou outro que não
envolva a transmissão de propriedade dos recursos a explorar,
mesmo quando a referida exploração seja realizada por empresas
do sector público ou de economia mista” (art. 2);
h. Historicamente esta solução teve a seguinte evolução:
i. Na sequência do 11 de Março de 1975 deram-se as
nacionalizações que operaram sobre o direito de
propriedade;
ii. A CRP de 1976 previa o princípio da “irreversibilidade das
nacionalizações”;
iii. A CRP de 1976 impunha “a vedação de sectores à iniciativa
económica”; Na Lei 46/77 de 8 de Julho constavam todos os
sectores vedados;
iv. A Revisão de 1989 consagrou o “princípio da reversibilidade
das nacionalizações”;
v. A Revisão de 1997 deu nova redacção ao art.º 86/3 da CRP
substituindo a palavra deve (ius cojens) pela palavra pode
(faculdade): “A lei pode definir sectores básicos nos quais
seja vedada a actividade às empresas privadas e a outras
entidades da mesma natureza”;
i. No entanto continua a existir, no âmbito do domínio público uma
proibição constitucional de alienação, conforme se extrai do art.º
84/1 da CRP, materializada em lei ordinária pela Lei 88-A/97 de 25
de Julho, art.º 2.
AULA 13 (5/11/2010)
Página 61
iii. No corporativismo de Estado é o próprio Estado que cria as
corporações tais como juntas, comissões coordenadoras e
uma série de instituições reguladoras do mercado, que
controla e politiza.
iv. A tudo isto há a acrescentar a lei do condicionamento
industrial instituída em 1931 e alterada em 1937. Esta fazia
depender de autorização administrativa a instalação,
reabertura e transformação dos estabelecimentos industriais;
v. O espírito corporativista e fechado do Estado Novo era
avesso a um mercado concorrencial;
vi. Primavera Marcelista (1972) - Lei 1/72 de 24 de Março,
designada Lei de defesa da concorrência, que revogou a
legislação do condicionamento industrial e instituía uma
disciplina de concorrência moderna. A entrada em vigor da
lei estava dependente de um decreto regulamentar que
nunca foi emitido.
l. 25 de Abril de 1974.
i. Defendeu-se uma nova política económica e social, em que
um dos objectivos era uma estratégia anti-monopolista; No
entanto esta estratégia visava fins ideológicos
(socializantes);
ii. Na CRP de 1976 encontramos normas anti-monopolistas mas
com os fins acima descritos; Portanto continuou a inexistir
um regime de defesa da concorrência;
iii. A grande inovação em matéria de concorrência dá-se, no
contexto das negociações de pré-adesão, através do DL
422/83 de 3 de Dezembro, o qual foi posteriormente
revogado pelo DL 371/93 de 29 de Outubro e este por sua
vez foi revogado pela Lei 18/2003 de 11 de Junho que
consagra o novo regime jurídico da concorrência. Esta lei
sofre alterações pelo DL 219/2006 de 2 de Novembro e pelo
DL 18/2008 de 18 de Janeiro
iv. A actual versão da CRP incumbe ao Estado o funcionamento
eficiente dos mercados (CRP 81/f)..
28. Actualmente existem dois regimes jurídicos distintos:
a. O regime jurídico de defesa da concorrência, que visa proteger o
mercado - DL 18/2003
b. O regime sobre práticas individuais restritivas, da orbita do Direito
privado, que é a repressão de comportamentos menos
transparentes mas sem efeitos graves a nível da concorrência (visa
a protecção de agentes económicos concretos contra actos ou
omissões que causem prejuízos a um concorrente através da
desonestidade e má fé no comércio) – DL 370/93.
Página 62
AULA PRÁTICA 10 (5/11/2010)
Página 63
iv. Aplica-se o o art.º 33 do DL 558/99 por se tratar de uma EPE.
v. A EPE tem de ser transformada em SA (L11 4/1) mediante DL
que aprova a operação (L11 13), cabendo ao CM aprovar as
condições finais e concretas (L11 14). Tem de existir
avaliação prévia (L11 5) e criada uma Comissão de
acompanhamento (L11 20). O processo foi de alienação de
acções (L11 6/1/a) na modalidade de subscrição de acções
(L11 6/2). Foi satisfeito o regime preferencial para
trabalhadores (CRP 293/1/d; L11 10/1), mas não o respectivo
a pequenos subscritores (L11 11/1). Também foi violado o
preceito quanto ao destinos das receitas (CRP 293/1/b, L11
16).
Página 64
AULAS 14 e 15
Direito da UE da concorrência
29. Função do Direito da UE da concorrência:
a. Genérica – idêntica à de qualquer outro ordenamento jurídico da
concorrência, ou seja, visa a salvaguarda do mercado, isto é, a
defesa de uma sã concorrência;
b. Específica – é um Direito de integração, ou seja tem por objectivo
impedir barreiras artificiais entre os diversos EM que desvirtuem a
eliminação de fronteiras e de construção de um mercado comum.
Quatro liberdades a proteger pelo Direito da UE:
i. Liberdade de circulação de mercadorias e produtos;
ii. Liberdade de circulação de serviços, incluindo a liberdade de
estabelecimento;
iii. Liberdade de circulação de pessoas;
iv. Liberdade de circulação de capitais.
30. No Direito Comunitário há a considerar os art.s 101 ss do TFUE (ex 81 ss
do T da CE);
a. Normas directamente aplicáveis aos operadores económicos;
i. Proibição de coligações anti-concorrenciais (TFUE 101/1):
1) Acordos entre empresas;
2) Decisões de associações de empresas;
3) Práticas concertadas.
ii. Abuso de posição dominante (TFUE 102);
iii. Controlo prévio de operações de concentração das empresas
(legislado em Regulamentos).
b. Normas que visam directamente os Estados-membros (alguns
autores dizem que visam indirectamente os operadores
económicos, neste caso estão principalmente em causa os auxílios
de Estado, art.º 107 do TFUE).
31. O Direito Comunitário de defesa da concorrência só se aplica se for
afectado o mercado intra-comunitário4.
a. Tratar-se de acordo entre empresas, ou de decisão de associação
entre empresas, ou de prática concertada entre empresas
(distinguir de práticas paralelas).
b. Que haja restrição, falseamento ou impedimento da concorrência;
c. Que sejam susceptíveis de afectar o comércio entre Estados-
membros (afectar trocas intracomunitárias);
4
A jurisprudência do TJUE e a Comissão têm entendido que os acordos “de minimis”, embora preenchendo
os pressupostos, devido ao seu impacto reduzido, não estão abrangidos por esta legislação.
Página 65
32. Se estes pressupostos não se verificarem só se pode aplicar, o Direito
nacional da concorrência.
33. O art.º 101/3 do TFUE diz o contrário do 101/1 (explica-se pela teoria da
concorrência – meio).
a. O nº 1 exemplifica as práticas proibidas;
b. O n.º 2 diz que a sanção é a nulidade (“São nulos os acordos ou
decisões proibidos pelo presente artigo”);
c. O n.º 3 diz que o n.º 1 poderá não se aplicar (“As disposições no
n.º1 podem, todavia, ser declaradas inaplicáveis: …— a qualquer
acordo, ou categoria de acordos, entre empresas,… — a qualquer
decisão, ou categoria de decisões, de associações de empresas, e…
— a qualquer prática concertada, ou categoria de práticas
concertadas”)
34.O art.º 101/3 do TFUE acolhe a teoria da concorrência – meio:
a. O n.º 1 do art. 101 não se aplica se (duas condições positivas e
duas negativas):
i. Quando contribua para melhorar o progresso tecnológico e
económico;
ii. Contando que aos utilizadores se reserve parte do lucro
resultante (benefício);
iii. Não imponham restrições que não sejam indispensáveis
(princípio da proporcionalidade);
iv. Não dêem a essas empresas a possibilidade de eliminar a
concorrência (teoria da concorrência – condição, último
baluarte, limite).
b. Mecanismos de isenções (art.º 101/3 do TFUE):
i. Isenções por categoria de acordos verticais ou horizontais
(previstos em Regulamentos da EU);
ii. Isenções individuais.
35.A Sanção prevista por violação do TFUE 101 é a nulidade da decisão (TFUE
2), cominada ainda com coimas (aplicadas pela Comissão);
36.Metodologia para resolução de casos práticos sobre Direito da
Concorrência da UE:
a. Analisar o art.º 101/1 do TFUE e determinar se estão preenchidos
os pressupostos;
• Se não, ver se é aplicável o direito nacional da
concorrência.
Página 66
b. Se se aplica o TFUE 101, ver se a proibição pode ser isentada à luz
do TFUE 101/3:
i. A situação enquadra-se numa isenção por categoria (prevista
em Regulamentos da UE). Se sim, a prática não é proibida
FIM.
ii. Se não e estiverem preenchidas as 4 condições do TFUE
101/3, solicita-se à Comissão a isenção com base num
“Balanço Económico” (105/1)
1) Se for deferido, a Comissão emite uma isenção
individual;
2) Se for indeferido, a actuação é proibida.
c. Se a actuação for proibida e não isenta é nula (TFUE 101/1) e
cominada por coima.
AULA PRÁTICA 11
Página 67
38.Regime Jurídico da Concorrência (Lei 18/2003, de 11 de Junho), que
mimetiza as normas europeias:
a. Proibição de coligações anti-concorrenciais:
i. Acordos entre empresas, art.º 4/1;
ii. Decisões de associações de empresas, art.º 4/1;
iii. Abuso de dependência económica, art.º 7;
iv. Práticas concertadas, art.º 4/1.
b. Abuso de posição dominante, art.º 6;
c. Controlo prévio das operações de concentração das empresas art.º
8 e ss.
d. O art.º 13 regula os auxílios do Estado (o Estado a vigiar o Estado!).
39.Note-se que as Práticas individuais ilícitas são reguladas pelo DL 370/93.
40. As EP têm que respeitar o Direito da concorrência (DL 558/99, art.º 8).
Esta norma poderia estar na Lei 18/2003 pois esta tem por âmbito no art.º
1/1 todas as actividades económicas (princípio da universalidade).
Página 68
AULA PRÁTICA 12
41.Caso prático
a. Suponha que na assembleia-geral de uma Associação Europeia de
Agencias de Viagens foi adoptada uma deliberação no sentido de
repartir o mercado nacional. Quid iuris?
i. A deliberação não afecta o comércio entre os EM pelo que
não se aplica o TFUE
ii. Vamos verificar se estão preenchidas as previsões de
aplicação da L18/2003?
1) Há uma decisão duma Associação para restringir de
forma sensível a concorrência no mercado nacional
(4/1)
2) A decisão de repartição de quotas está tipificada no
4/1/d
iii. Vamos verificar se a decisão, que à partida é nula (4/2),
encontra justificação no art. 5
1) Preenchem cumulativamente os requisitos positivos e
negativos (5/1)?
2) Enquadra-se numa isenção por categoria prevista em
Regulamento EU (5/3)?
3) Foi objecto duma avaliação prévia favorável da AnC?
iv. Se algum dos requisitos do art 5 for satisfeito a decisão é
válida e eficaz; se não, é nula!
AULA 16 (17/11/2010)
Página 69
44.Exploração ou práticas abusivas
a. O TFUE não define prática abusiva apenas exemplifica em diversas
alíneas.
b. Noção objectiva de abuso (Ac Hoffmann-La Roche, processo 85/76,
sentença em 1979): “Comportamento duma empresa, detentora de
posição dominante em certo mercado, susceptível de influenciar a
estrutura desse mercado, no qual a mera presença da empresa em
causa conduz ao enfraquecimento da concorrência, através da
utilização de processos distintos daqueles que, em condições
normais, condicionam a concorrência, e têm, em última análise, o
efeito de prejudicar a manutenção do grau de concorrência que
ainda subsista no mercado em causa.”.
c. De forma mais simples, podemos definir prática abusiva como a
conduta duma unidade económica com poder económico que
influencia a estrutura de mercado.
MERCADO RELEVANTE
Página 70
AULA 17 (03/12/2010)
46.Metodologia utilizada pela Autoridade da Concorrência:
a. Condicionalismos concorrenciais;
b. Elementos comprovativos utilizados para definir os mercados
relevantes;
c. Cálculo das quotas de mercado.
Página 71
sua produção para os produtos relevantes e comercializá-los a
curto prazo (4) sem incorrer em custos ou riscos suplementares
significativos em resposta a pequenas alterações duradouras nos
preços relativos. Sempre que sejam preenchidas estas condições, a
produção adicional colocada no mercado téra um efeito disciplinar
sobre o comportamento concorrencial das empresas em causa. Um
impacto deste tipo, em termos de eficácia e efeito imediato, é
equivalente ao efeito da substituição do lado da procura.
Normalmente, estas situações ocorrem quando as empresas
comercializam uma vasta gama de qualidades ou tipos de um
mesmo produto. Mesmo se, para um determinado cliente final ou
grupo de consumidores, as diferentes qualidades não forem
substituíveis, essas diferentes qualidades serão reunidas no âmbito
de um único mercado do produto, desde que a maioria dos
fornecedores esteja em condições de oferecer e vender as diversas
qualidades de imediato e na ausência de qualquer aumento
significativo dos custos acima descritos. Em tais casos, o mercado
do produto relevante englobará todos os produtos que sejam
substituíveis do ponto de vista da procura e da oferta, sendo
adicionadas as vendas desses produtos para calcular a totalidade
do valor ou volume do mercado. O mesmo raciocínio pode levar a
que sejam reunidas diferentes áreas geográficas.
Um exemplo prático da análise da substituibilidade do lado da
oferta aquando da definição de mercados do produto pode ser
ilustrado no caso do papel. No mercado existe geralmente uma
gama de diferentes qualidades de papel, desde o papel de escrever
normal até ao papel de elevada qualidade a utilizar, por exemplo,
na publicação de livros de arte. Do ponto de vista da procura, as
diferentes qualidades do papel não podem ser utilizadas para uma
determinada utilização específica, isto é, um livro de arte ou uma
publicação de luxo não pode utilizar um papel de menor qualidade.
No entanto, as instalações de produção estão em condições de
fabricar as diferentes qualidades de papel e a produção pode ser
ajustada a custos negligenciáveis e num curto espaço de tempo. Na
ausência de dificuldades específicas a nível da distribuição, os
fabricantes de papel podem, por conseguinte, concorrer entre si
para as encomendas de diversas qualidades de papel,
nomeadamente, se as encomendas forem feitas de forma
suficientemente atempada a fim de permitir alterar os planos de
produção. Nestas circunstâncias, a Comissão não definiria um
mercado separado para cada qualidade de papel e respectiva
utilização. As diversas qualidades de papel serão incluídas no
mercado relevante e será feita a adição dos respectivos volumes de
vendas para estimar o valor e o volume total do mercado.
Sempre que a substituibilidade do lado da oferta implicar a
necessidade de uma adaptação significativa dos activos corpóreos
existentes, a realização de investimentos adicionais, alterações nas
decisões estratégicas ou substanciais atrasos, esta não será tida
em conta na fase de definição do mercado. Exemplos em que a
Página 72
substituição do lado da oferta não levaram à Comissão a alargar o
mercado podem ser citados no domínio dos produtos dos bens de
consumo corrente, nomeadamente, as bebidas vendidas sob a
marca do fabricante. Embora as instalações de engarrafamento
possam, em princípio, engarrafar diferentes bebidas, tal pressupõe
custos e prazos de entrega (em termos de publicidade, ensaios do
produto e distribuição) antes da venda dos produtos no prática.
Nestes casos, os efeitos da substituibilidade do lado da oferta e
outras formas de concorrência potencial seriam examinados numa
fase posterior.
f. Concorrência potencial – A terceira fonte de condicionalismos
concorrenciais, a saber, a concorrência potencial, não é tomada em
consideração na definição dos mercados, uma vez que as condições
em que a concorrência potencial representará efectivamente um
verdadeiro condicionalismo concorrencial dependerá da análise de
factores e circunstâncias específicos relacionados com as condições
de penetração no mercado. Caso necessário, esta análise é apenas
realizada numa fase subsequente, em geral, uma vez determinada
a posição das empresas em causa no mercado relevante e sempre
que essa posição suscitar preocupações do ponto de vista da
concorrência.
Dimensão do produto.
Há toda uma série de elementos que permitem avaliar até que
ponto poderia verificar-se uma substituição. No âmbito dos
processos individuais, determinados tipos de elementos serão
factores determinantes, principalmente em função das
características e da especificidade do sector e dos produtos ou
serviços em análise. O mesmo tipo de elementos pode ser
destituído de qualquer interesse no âmbito de outros processos. Na
maioria dos casos, a decisão deverá ser tomada com base num
determinado número de critérios e elementos de apreciação
diferentes. A Comissão segue uma abordagem flexível face aos
dados empíricos, com vista a utilizar da melhor forma possível
todas as informações disponíveis e susceptíveis de serem
relevantes nos casos individuais. A Comissão não observa uma
hierarquia rígida quanto às diferentes fontes de informação ou tipos
de elementos comprovativos.
O processo de definição dos mercados relevantes pode ser
resumido da seguinte forma: com base nas primeiras informações
disponíveis ou nas informações apresentadas pelas empresas em
causa, a Comissão poderá geralmente estabelecer, em traços
largos, os eventuais mercados relevantes no âmbito dos quais
deverá ser apreciada, por exemplo, uma operação de concentração
ou uma restrição da concorrência. Em geral, e para quaisquer
efeitos práticos, na instrução dos processos individuais, a questão
consistirá geralmente em determinar um número restrito de
Página 73
eventuais mercados relevantes alternativos. Por exemplo, no que
diz respeito ao mercado do produto, a questão será muitas vezes a
de saber se o produto A e o produto B pertencem ou não ao mesmo
mercado. Sucede frequentemente que a inclusão do produto B será
suficiente para dissipar quaisquer preocupações do ponto de vista
da concorrência.
Nestas situações, não é necessário considerar se o mercado
inclui igualmente produtos adicionais, nem chegar a uma conclusão
definitiva sobre o mercado do produto exacto. Se a operação em
causa não colocar problemas do ponto de vista da concorrência, ao
abrigo das eventuais definições alternativas do mercado, a questão
de definição do mercado pode ser deixada em aberto, o que
reduzirá consequentemente os encargos que recaem sobre as
empresas em matéria de fornecimento de informações.
Dimensão geográfica.
A abordagem da Comissão no que diz respeito à definição do
mercado geográfico pode ser resumida da seguinte forma: partirá
de uma opinião inicial sobre o âmbito do mercado geográfico com
base em indicações de carácter geral quanto à distribuição das
partes e dos seus concorrentes, bem como de uma análise
preliminar da fixação dos preços e das diferenças de preços a nível
nacional, comunitário ou do EEE. Esta opinião inicial constitui
essencialmente uma hipótese de trabalho que permitirá à Comissão
centrar as suas averiguações a fim de obter uma definição de
mercado geográfico precisa.
Devem ser analisados os motivos subjacentes a uma
determinada configuração de preços e quotas de mercado. As
empresas podem beneficiar de elevadas quotas de mercado nos
seus mercados nacionais apenas em virtude do peso do passado e,
de igual forma, uma presença homogénea das empresas em todo o
EEE pode coadunar-se com a existência de mercados geográficos
regionais ou nacionais. A hipótese de trabalho inicial será, por
conseguinte, confirmada através de uma análise das características
da procura (importância das preferências nacionais ou locais,
actuais padrões de compra dos clientes, diferenciação dos
produtos/marcas, etc.) no intuito de estabelecer se as empresas em
áreas diferentes constituem efectivamente uma fonte alternativa
de abastecimento para os consumidores. Igualmente neste
contexto, o critério adoptado é o da substituição decorrente da
variação dos preços relativos e a questão consiste em saber, uma
vez mais, se os clientes das partes transfeririam as suas
encomendas para empresas situadas noutro local a curto prazo e a
custos negligenciáveis.
Caso necessário, será efectuada uma análise subsequente dos
factores relacionados com a oferta a fim de confirmar se essas
empresas situadas em áreas geográficas distintas não se defrontam
com entraves para realizar as suas vendas em condições
Página 74
concorrencias em todo o mercado geográfico. Esta análise incluirá
um exame dos requisitos para uma implantação a nível local, tendo
em vista a realização de vendas na área em causa, as condições de
acesso aos canais de distribuição, os custos inerentes à criação de
uma rede de distribuição e a existência ou a ausência de entraves
regulamentares associados aos contratos públicos, à
regulamentação dos preços, aos contingentes e direitos aduaneiros
que limitam o comércio ou a produção, às normas técnicas, aos
monopólios, à liberdade de estabelecimento, aos requisitos em
matéria de autorização administrativas, à regulamentação relativa
ao acondicionamento, etc. Em suma, a Comissão identificará
eventuais obstáculos e entraves que isolam as empresas situadas
numa determinada área das pressões concorrenciais de empresas
situadas fora dessa área, de modo a determinar o grau exacto de
interpenetração do mercado a nível nacional, europeu e mundial.
A estrutura efectiva dos fluxos comerciais e respectiva evolução
representa uma outra indicação útil para confirmar a importância
económica de cada um dos factores relacionados com a procura ou
a oferta supramencionadas e a medida em que estes poderão ou
não constituir entraves concretos conducentes à criação de
mercados geográficos distintos. A análise dos fluxos comerciais
abordará normalmente a questão dos custos de transporte e a
medida que estes podem entravar o comércio entre áreas
diferentes, atendendo à localização das instalações de produção,
aos custos de produção e aos níveis de preços relativos.
Página 75
CÁLCULO DAS QUOTAS DE MERCADO.
Página 76
formação ministradas por essas entidades às acções por si efectuadas mas
obrigando-as a pagar taxas, quer pelo início da actividade de formação, quer
pelo exercício da actividade de formação.
De seguida a AdC recebe uma denúncia anónima.
Quid júris?
i. Resolução.
i. A OE surge como uma entidade reguladora dessa profissão, é
uma ordem profissional;
ii. Ao ser adoptado, o regulamento de formação expressa a
vontade dos representantes dos membros dessa profissão;
iii. Trata-se de uma decisão de associação de empresas passível
de violar as normas de concorrência se tiver por objecto ou
efeito de impedir, falsear ou restringir, de forma sensível, a
concorrência;
iv. Ora, uma ordem profissional com poderes reguladores não
pode escapar à aplicação do art.º 4 da Lei 18/2003 nem
eventualmente do art.º 101 do TFUE;
v. Através deste regulamento, a OE efectuou uma segmentação
artificial do mercado de formação dos engenheiros
informáticos ao reservar 50% para si da formação e fixar
critérios para as outras entidades relativamente aos
restantes 50%;
vi. Assim sendo, violou o art.º 4 da Lei 18/2003, porquanto
através do referido regulamento a OE adoptou uma decisão
que tem como efeito impedir, falsear ou restringir de forma
sensível a concorrência;
vii. Alem disso, a OE enquanto entidade formadora exerce uma
actividade económica considerando-se portanto como uma
empresa (art.º 2 da Lei 18/2003), aplicando-se assim o art.º 6
da Lei 18/2003, na medida que, no mercado regulado surge
como detentora duma posição dominante, manifestando o
seu poder de mercado excluindo outras concorrentes através
da criação de barreiras artificiais à entrada;
viii. Ao abusar da sua posição dominante, porque utiliza o seu
poder de mercado para auferir vantagens que de outro modo
não obteria numa situação de sã concorrência, ela está a
cometer um ilícito concorrencial;
ix. Perante isto, a AdC dá início ao processo (art.º 17 da Lei
18/2003), aplicando as coimas (art.º 43 da Lei 18/2003),
podendo também aplicar sanções acessórias,
designadamente a publicação desta decisão (art.º 45 da Lei
18/2003);
Página 77
x. Da decisão da AdC cabe recurso para o Tribunal de Comércio
de Lisboa (art.º 50 da Lei 18/2003).
Página 78
iv. A AdC apura a conduta dos arguidos para saber se houve ou
não violação da concorrência;
v. Havendo abuso de posição dominante este é punível com
coima (art.º 48 da Lei 18/2003), aplicando-se a sanção
acessória (art.º 45 da Lei 18/2003);
vi. Da decisão da AdC cabe recurso para o Tribunal de Comércio
de Lisboa (art.º 50 da Lei 18/2003).
AULA 18 (10/12/2010)
CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS.
Página 79
vii. Por fim o Regulamento (CE) 139/2004 do Conselho de 20 de
Janeiro de 2004 que teve na sua elaboração as seguintes
preocupações:
1) Alargamento a leste e na bacia mediterrânica;
2) Globalização ou mundialização, raízes;
a) Abril de 1994 – acordos de Marraquexe que
deram origem à Organização Mundial do
Comércio (OMC);
b) Diminuição dos direitos aduaneiros e barreiras
alfandegárias.
viii. O novo regulamento equilibra a necessidade de um mercado
interno são e a necessidade de reestruturar as empresas;
ix. É sob este pano de fundo que é aprovado o Regulamento
(CE) 139/2004 do Conselho de 20 de Janeiro de 2004
executado pelo Regulamento (CE) N.º 802/2004 da Comissão
de 7 de Abril de 2004;
x. O regulamento de execução estabelece regras para:
1) Notificações;
2) Prazos;
3) Audições;
4) Acesso ao processo e informações;
xi. Nos anexos do regulamento de execução constam os
formulários:
1) CO – concentração;
2) MF – memorando de fundamentação;
3) Etc.
m. Quando se aplica o Direito da EU?
i. Quando estiverem preenchidos os requisitos do Regulamento
(CE) 139/2004 quando fala em limiares (art.º 1, 2, 3 e 4):
1) Volume de negócio;
2) N.º de empresas;
3) Etc.
ii. Se não se alcançarem esses limiares temos que ver se se
aplica o Direito nacional da concorrência (art.º 9).
47.Noção de concentração de empresas.
a. Quando estamos a preencher este conceito interessam-nos os
critérios qualitativos:
Página 80
i. Conceito de controlo – operações de que resulte uma
alteração duradoura no controlo das operadoras
económicas em causa e por conseguinte na estrutura
do mercado.
b. Tipos:
i. Fusão entre empresas (A perde a personalidade jurídica, B
também e nasce C), mas entende-se que também é fusão se
A e B mantêm a personalidade jurídica, embora com uma
direcção única, etc;
ii. Aquisição do controlo (A adquire uma parcela da B), aqui
basta a possibilidade de exercer uma influência
determinante para que se esteja perante uma aquisição do
controlo;
iii. Quando estamos perante a criação de uma nova empresa (A
e B criam uma C e controlam-na).
c. A Comissão quando é notificada de uma operação de concentração:
i. Começa por estudar o mercado:
1) Delimitar o mercado de produto relevante;
2) Delimitar o mercado geográfico relevante;
3) Ver até que ponto aquela concentração vai afectar o
mercado – Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH): é um
método de avaliação do grau de concentração num
mercado, e é vulgarmente usado por entidades
reguladoras da concorrência. O IHH é calculado como
a soma dos quadrados das quotas de mercado das
empresas que operam no mercado em questão, e
varia entre 0 e 10.000. O valor zero traduz um
mercado em que não existe qualquer empresa. O valor
10.000 traduz uma situação de monopólio, em que
uma única empresa tem 100% de quota de mercado.
Quando o IHH é superior a 1.800 considera-se que o
mercado é muito concentrado. Entre 1.000 e 1.800
considera-se que o mercado tem alguma
concentração.
ii. Tem que haver uma notificação prévia.
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2) Há lugar ao pagamento de uma taxa, sendo que o
documento comprovativo deve ser remetido à AdC,
art.º 32 (é a partir daqui que se contam prazos);
iii. Em cinco dias a AdC promove a publicação em dois jornais
de expansão nacional a expensas dos autores para que
terceiros interessados possam apresentar observações no
prazo que for fixado, o qual não pode ser inferior a 10 dias;
iv. A AdC procede à instrução do processo (art.º 34);
v. FASE 1 – Trinta dias a contar da data da notificação a AdC
adopta uma das seguintes decisões (art.º 35 e 36):
1) Que a operação não se encontra abrangida pela
obrigação de notificação prévia;
2) Não se opor à operação de concentração, isto é,
adopta uma decisão de não oposição (aquela matéria
cai no âmbito do art.º 9, mas a AdC não tem nada a
opor porque no seu juízo não afecta o mercado);
3) Dá início a uma investigação aprofundada o que
implica um prazo adicional de 90 dias.
vi. Durante esse prazo adicional, a AdC pode sempre solicitar
informações adicionais aos notificantes e a terceiros;
vii. FASE 2 – Finda uma investigação aprofundada a AdC toma
uma das seguintes decisões.
1) Não se opor à operação de concentração (adopta uma
decisão de não oposição);
2) Proíbe a operação de concentração.
viii. Quer na fase 1, quer na fase 2, a decisão pode não ser
simples, pode impor condições (decisão sob condição).
Quanto às decisões sob condição ver o documento da AdC
“LINHAS DE ORIENTAÇÃO sobre a adopção de
COMPROMISSOS EM CONTROLO DE CONCENTRAÇÕES”,
disponível no site da AdC.
e. A AdC antes de emitir uma decisão de não oposição troca
impressões com as empresas notificantes (isto está previsto na
decisão 2008/C 267/01) no sentido de comunicar condições e
sugestões.
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h. No ordenamento português, na Revisão de 1997, foi criado o art.º
267/3 da CRP, para resolver esse problema (criando uma previsão
normativa para as ERI);
i. No Direito da economia fala-se em Entidades Reguladoras
Sectoriais (art.º 6 do DL 10/2003 de 18 de Janeiro);
j. O Prof. Luís Morais diz que as ERI não são entidades
verdadeiramente independentes mas sim de autonomia reforçada.
48.ERI.
a. Desintervenção do Estado na economia - Diminuição do papel do
Estado empresário e reforço do papel do Estado regulador.
b. Desgovernamentalização da regulação – confiar a função da
regulação a entidades reguladoras sectoriais dotadas de autonomia
face a Governo e à Administração Pública, munidas de poderes
regulamentares, administrativos e sancionatórios.
c. Liberalização e fomento da concorrência, ou seja, passagem de
uma regulação hostil ao mercado para uma regulação constitutiva e
fomentadora do mercado (amiga do mercado).
d. Protecção do interesse geral e dos interesses dos utentes, ou seja,
mudança de uma regulação proteccionista de cada sector para uma
regulação virada para a protecção do interesse geral e do interesse
dos utentes.
AULA 19 (15/12/2010)
AUXÍLIOS DE ESTADO.
e. Direito nacional – o art.º 13 da Lei 18/2003 de 1 de Junho (está-se
aqui perante uma situação em que o Estado se controla a si
mesmo):
Página 83
f. Direito da EU – art.º 107 do TFUE:
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ANÁLISE DOS AUXÍLIOS DE ESTADO NO DIREITO DA EU.
g. Princípio da incompatibilidade das vantagens concedidas pelos
Estados-membros – requisitos (art.º 107/1 do TFUE):
i. Ser o auxílio concedido a certas empresas ou produções
(ficam de fora por exemplo uma redução do IRC
generalizada);
ii. Que falseiem ou ameacem falsear a concorrência;
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iii. Que afectem as trocas intracomunitárias.
h. O art.º 107/2 prevê derrogações ao art.º 107/1 autorizadas ou ex
legem;
i. O art.º 107/3 prevê derrogações facultativas.
49.Bosquejo histórico:
a. No Tratado SECA, Paris 1952, as ajudas públicas eram proibidas;
b. Diferentemente no Tratado de Roma, ou no TFUE que lhe sucedeu,
encontramos um enquadramento das ajudas de Estado, proibindo
(condições cumulativas):
i. As ajudas que falseiem ou ameacem falsear a concorrência;
ii. Afectem o comércio entre Estados-membros;
iii. Sejam selectivas.
c. Nesta matéria ponderam-se vários valores:
i. De um lado é geralmente reconhecido que as ajudas de
Estado representam um instrumento necessário para operar
alterações estruturais;
ii. Isto porque o livre jogo da oferta e da procura não permite
por si só aceder a certas finalidades de desenvolvimento
legítimas e evitar tensões intoleráveis;
iii. Por outro lado geralmente um auxílio de Estado implica um
conflito de interesses entre os agentes económicos que
beneficiam dessa ajuda e, da outra parte, dos seus
concorrentes dos outros Estados-membros;
iv. Por conseguinte o sistema de regulação das ajudas de Estado
previsto no art.º 107 e ss. do TFUE, permite às autoridades
da EU praticar as medidas necessárias entre os diferentes
interesses económicos em jogo.
d. O que é o Estado? – A noção de Estado é a mais ampla possível,
abrange todo e qualquer organismo interno, nomeadamente,
administração central, regional, local, SEE, SPA, tudo.
e. Sempre que estejamos perante um auxílio de Estado existe a
obrigação de notificação prévia da Comissão.
f. Consequência – a ilegalidade irreparável dos auxílios de Estado
concedidos sem terem sido previamente notificados à Comissão.
g. Auxílio? – Noção ampla que abrange toda e qualquer vantagem
concedida, directa ou indirectamente, através de recursos em que
intervenha o Estado.
h. A doutrina fala de cinco elementos constitutivos da noção de
auxílio:
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i. A intervenção deve ter origem pública – é a contribuição
pública que é contemplada, não uma contribuição privada.
Num acórdão de 22 de Março no processo 78/76 o TJUE
entendeu que não havia diferença entre a ajuda ser
concedida directamente pelo Estado ou por organismo
público ou privado por ele criado para gerir ajudas (IAPMEI,
etc.). Num acórdão de 11 de Julho de 1996, processo C-39/94
o TJUE entendeu que basta verificar que a entidade donde
emana a intervenção pertence ao sector público para reter a
origem pública dessa intervenção.
ii. Deve traduzir-se num ganho ou numa atenuação de um
encargo – exemplos escola: a Comissão como também o TJUE
consideram que constituem intervenções aquelas que
apresentem o carácter de uma medida de efeito equivalente:
1) Ajudas positivas – são aquelas que se traduzem num
ganho directo para a empresa. Exemplos de ajudas
positivas:
a) Subvenção;
b) Garantias outorgadas pelo Estado em condições
anormais, nomeadamente quando o Estado
assume os riscos que normalmente deveriam
ser assumidos pela empresa;
c) Quando assume empréstimos à taxa bonificada;
d) Quando coloca à disposição dos beneficiários
bens ou prestações gratuitas em condições
anormais;
e) O que sucede quando o Estado contribui com
capital para uma empresa privada (empresa
participada, situação que é licita ao abrigo do
DL 558/99, art.º 2)? – o problema que aqui se
coloca é um problema de qualificação da ajuda,
que comporta dificuldades acrescidas. A
Comissão aplica neste caso o seguinte critério:
i) Emprega o critério do comportamento de
um investidor privado actuando em
condições normais de economia de
mercado;
ii) Segundo os acórdãos do TJUE de 14 de
Novembro de 1984, processo 323/82, e
14 de Setembro de 1994, processo C-
42/93 uma contribuição em capital para
manter artificialmente uma empresa não
competitiva e que desapareceria segundo
a lei da oferta e da procura, então essa
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comparticipação é havida como ajuda de
Estado e por isso proibida.
2) Ajudas negativas – são aquelas que se traduzem nem
aligeirar dos encargos da empresa. São constituídas
pelo aligeiramento ou atenuação dos encargos para as
empresas sem que a entidade sem que a entidade
pública despenda qualquer soma, ou seja, assuma
qualquer despesa (deixa de haver receita, exemplo:
isenções fiscais selectivas, reduções de taxas
selectivas, etc.).
iii. Deve apresentar um carácter selectivo – não são
contempladas as medidas que contemplem o conjunto da
economia, tais como taxas de quotização gerais da
Segurança Social, etc. (deve-se no entanto ter o cuidado de
averiguar se sob a capa de uma medida genérica não se
esconde uma ajuda selectiva).
iv. Deve falsear ou ameaçar falsear a concorrência – ter em
linha de conta que o efeito da medida de intervenção do
Estado deve ser analisada quer ela seja real ou potencial,
aqui também evocamos a regra de minimis, não se aplica o
art.º 107 do TFUE às ajudas que não tenham um impacto
sensível nas trocas entre Estados-membros.
v. Deve afectar as trocas entre Estados-membros – aqui há que
ter em conta que não se aplica apenas à alteração das trocas
no interior da UE mas que se pode aplicar às ajudas para
exportar para Estados terceiros quando afectem Estados-
membros.
50.Regime (art.º 10/7 do TFUE).
a. Há derrogações automáticas ao art.º 107/1 no art.º 107/2 do TFUE;
b. As derrogações previstas no art.º 107/3 precisão sempre da
autorização da Comissão;
c. Qualquer fluxo que provenha da UE nunca se integra no âmbito do
art.º 107 do TFUE.
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A empresa Linha do Sul SA pretende adquirir 60% de uma empresa
concorrente, denominada Transporte Regional do Sul SA, a qual detém 35%
da quota de mercado do transporte colectivo de passageiros no sul do país.
Por se revelar uma opção estratégica a Linha do Sul SA está disposta a ir
até às últimas consequências.
Quid júris.
T. Globais T. Regional
SA do Sul SA
80% 60%
Estrutura
L. do Sul Viagens C. empresarial
SA SA
Estrutura do
mercado
30% 15% 35%
d. Resolução:
i. Trata-se de uma operação de concentração de empresas na
modalidade de aquisição, por quanto se visa uma alteração
duradoura no controlo de uma empresa e que, por isso, se
repercute na estrutura do mercado em causa (art.º 8/1,
alínea b) da Lei 18/2003), na medida em que uma ou mais
empresas pretendem adquirir directa ou indirectamente o
controlo de uma empresa daí decorrendo a possibilidade de
nela exercer uma influência dominante (art.º 8/3, alínea a)
da Lei 18/2003).
ii. O mercado de produto relevante é o transporte de
passageiros.
iii. O mercado geográfico relevante é o sul do país.
iv. A operação está sujeita a notificação prévia (art.º 9/1, alínea
a) da Lei 18/2003) pelo que deve ser notificada a AdC no
prazo de 7 dias úteis após a eventual conclusão do acordo ou
da divulgação do anúncio preliminar de uma OPA (art.º 9/2
da Lei 18/2003 e art.º 7/2, alínea c) dos Estatutos da AdC,
aprovados pelo DL 10/2003 de 18 de Janeiro). A notificação é
apresentada pela empresa adquirente em formulário próprio
(art.º 31 da Lei 18/2003), promovendo a AdC a publicação
em dois jornais de expansão nacional a expensas da
empresa notificante (art.º 33 da Lei 18/2003).
v. Caso não proceda à notificação, isso constitui contra-
ordenação punível com coima (art.º 43/3, alínea a) da Lei
18/2003), sem prejuízo de aplicação duma sanção pecuniária
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compulsória por cada dia de atraso (art.º 46, alínea b) da Lei
18/2003).
vi. A operação de concentração fica suspensa, dispondo a AdC
de um prazo de 30 dias para se pronunciar.
vii. Após a instrução e até ao termo do prazo de 30 dias a AdC
adopta uma de três decisões:
1) Não se encontrar a operação abrangida pela obrigação
de notificação prévia (art.º 35/1, alínea a) da Lei
18/2003);
2) Decisão de não oposição, eventualmente
acompanhada de condições e obrigações destinadas a
garantir o cumprimento de compromissos assumidos
pelos autores da notificação com vista a assegurar a
manutenção de uma concorrência efectiva (art.º 35/1,
alínea a), 35/2 e 35/3 da Lei 18/2003);
3) Dar início a uma investigação aprofundada (art.º 35/1,
alínea c) da Lei 18/2003).
viii. Se a AdC tomar a opção n.º 3) então dispõe de 90 dias para
proceder às diligências de investigação a fim de tomar uma
de duas decisões:
1) Proibição da operação de concentração (art.º 37/1,
alínea b) da Lei 18/2003), o que implica a nulidade dos
negócios jurídicos relacionados com a referida
operação (art.º 41 da Lei 18/2003);
2) Decisão de não oposição (art.º 37/1, alínea a), 35/2 e
35/3 da Lei 18/2003).
ix. Existe um reforço da posição dominante no mercado e por
via disso é bastante provável que a AdC proíba a
concentração (art.º 12/4 da Lei 18/2003).
x. Há recurso para o Tribunal de Comércio (art.º 50 da Lei
18/2003 e art.º 34 dos Estatutos da AdC).
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