ANO I • N.

º 24 • 31 Dezembro 2010 • Director: Vlademiro Marçal • Propriedade: Medi@Capital, SA

Já
SEMANÁRIO GRATUITO
cá está
Grande reportagem

Alcoolismo entre os jovens

filhos do vício
Pág. 6

Caderno

Os factos & os casos

2010 em revista
Pág. 9

venha
Notas soltas

Dívida pública
Cabo Verde no fio da
navalha
Pág. 13

a
Bai-bai

Norberto Tavares
cantor da liberdade
Pág. 20

mudança
2 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
marco do correio
O Já reserva-se o direito de seleccionar e, eventualmente, reduzir os textos não solicitados,
Professores
perseguidos
no Tarrafal
Já há algum tempo que venho a
seguir as edições do semanário e
como um cidadão que espera
pela mudança para o bem da
nossa democracia e do nosso
país, fico sempre bem informado,
das atrocidades cometidas pelo
governo do PAICV, que são
muitas.
Quero aproveitar a oportunidade
para denunciar alguns abusos de
um dos comandados de JMN e
desmentir algumas informações
proferidas pela representante do
PAICV no último debate sobre a
educação realizada pela TCV.
Na vila do Tarrafal, o Delegado
do Ministério da Educação,
Jacinto da Veiga, já há anos que
vem maltratando os professores,
sobretudo os que não
simpatizam com as suas cores
políticas, nas quais passo a citar
algumas:
• Troca os professores dos pólos
sem sequer consultar os gestores,
com o único objetivo de agradar
aos seus espiões;
• Já levantou pelo menos seis
processos disciplinares aos
professores e nunca ganhou nada;
• Há professores que estão há
vários anos a trabalhar longe de
casa, no entanto novos
professores são nomeados e
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tiragem do País
semanarioja@gmail.com
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As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor,
bem como um número telefónico de contacto.
nem se prestará informação postal sobre eles.
colocados em escolas próximas
das casas por serem filhos ou
parentes próximos dos militantes
do PAICV;
• Vingança política com um
professor com oito anos de
trabalho, por ser filho de um
secretário da Câmara Municipal
do Tarrafal (trabalhou três anos
em Figueira da Muita). Por
direito, trabalhou um ano perto
de casa em Chão Bom, para
logo, no ano seguinte, ser
afastado para mais longe em
Achada Longueira. No ano
seguinte, estando no Instituto
Pedagógico, foi obrigado a
lecionar e estagiar numa turma
composta em “Riba Cutelo”,
para, no ano seguinte, ser
mandado para Achada Lagoa,
uma localidade totalmente
isolada, e neste ano que o
professor encontra–se a estudar
na Universidade Santiago Norte.
Como se não bastasse este ano
foi novamente trocado para um
outro pólo, ficando na escola da
localidade da Fazenda que fica
bem atrás do Monte Graciosa,
uma das localidades mais
isoladas do Tarrafal. É de
salientar que este professor
trabalhou em cinco escolas
diferentes nestes últimos cinco
anos. Este foi um caso
exemplificado, mas há mais
casos destes acontecendo no
Tarrafal, gerando cada vez mais
indignação no seio dos
professores;
• Com este delegado, fica
provada a total falha em nomear
20 000 exemplares!
somente pessoas da mesma cor
política para cargos de elevada
importância, mesmo mostrando
total incapacidade de gerir os
recursos humanos que dispõe;
• Este delegado insiste em
manter turmas superlotadas com
mais de quarenta alunos,
enquanto recém-formados
professores estão há dois anos
na lista de espera.
Em relação ao debate da passada
quarta-feira, queria só esclarecer
duas informações proferidas
pela representante do PAICV.
Primeiro, ela afirmou que todos
os processos de reclassificações
já estão resolvidos, mas o que
todos nós sabemos é que isto
não é verdade, pois há muitos
professores que há mais de
quatro anos esperam por
reclassificações, e eu
pessoalmente lido com isto, pois
tenho uma irmã que desde de
2008 espera ser reclassificada.
A outra informação é que todos
os subsídios já estão atribuídos,
o que não corresponde à
verdade, porque nós começamos
o ano letivo no mês Setembro e
eu ainda não recebi o subsídio
de isolamento, porque trabalho
numa localidade isolada.
O meu objetivo é que o
semanário investigue e denuncie
ou simplesmente denuncie pois
qualquer professor que não seja
simpatizante do PAICV pode
confirmar estes factos.
José Luís Furtado
(Tarrafal)
Já SEMANÁRIO GRATUITO
Administração e Redação:
Largo Eusébio da Silva Ferreira,
Achada de Santo António, Cidade da Praia,
Ilha de Santiago, Cabo Verde C.P. 669
editorial
Vlademiro
Osvaldo Marçal
semanarioja@gmail.com
Uma nova era
Q
uando um novo ano começa, sempre fazemos
votos de mudança para melhor: queremos que
o ano novo nos faça esquecer problemas,
incómodos, “azares”, tristezas que nos bateram à porta
no ano findo; queremos que nos seja dada oportunidade
para concretizar sonhos adiados; queremos ter
capacidade para realizar projetos que fomos
congeminando. Um novo ano promete sempre ser, no
pesado baú das nossas esperanças, uma nova era.
Por razões acrescidas, 2011 vem cumprir esta regra.
Porque se perspetiva profunda mudança no País e
porque, do coração, desejamos que essa mudança nos
conduza a um desenvolvimento e ao progresso,
repetidamente prometido, mas adiado até hoje. Porque
há reconhecidas razões que nos fazem acreditar, com
convicção, que estamos à beira de nos libertar da
frustração a que os maus fados (e coisas que têm outros
nomes) nos têm vindo a condenar ano a ano. Agora, há
uma vontade coletiva, ganhando contornos que a fazem
quase invencível, a empurrar-nos para a hora da
mudança: percebemos que ela está nas nossas mãos,
que apenas depende de nós.
É por isso que, de maneira muito especial, nos
dispomos ao rabenta bolha: para, com alegria máxima,
receber 2011, que queremos seja o ano primeiro de uma
nova era – de tolerância, de fraternidade, de progresso,
de solidariedade, de democracia, de crescimento, de
menos desemprego, de menos pobreza, de melhor saúde
e educação, de cultura, de paz e segurança.
Sabemos que somos capazes de deixar a tristeza na
última página do calendário que se encerra agora. E de,
com justificado otimismo, avançar de peito aberto ao
encontro dos desafios que aí vêm: nós, cabo-verdianos,
se aprendemos na História a vencer sofrimentos,
também nela aprendemos a festejar, de modo ímpar, os
nossos sucessos. E é o sucesso que buscamos – para
cada um de nós, para todos, para o País.
Que chegue então uma nova era, na qual sejamos (todos
nós, cabo-verdianos) a única medida de todas as
políticas e a única razão de todas as medidas.
Estes são os nossos votos: bom ano 2011, feliz
mudança. Estamos juntos!

Telefone: (00238) 2623817
E-mail: semanarioja@gmail.com
Propriedade: Medi@capital, SA
Director: Vlademiro Marçal
Design e Paginação: Medi@capital, SA
Impressão: Grafedisport SA
Tiragem: 20.000 exemplares

na rota dos dias
Denúncias de venda ilegal de terrenos em São Vicente
Funcionários Liceus com parque
informático
da CMSV queixam-se obsoleto
de ser perseguidos
A denúncia do PAICV de uma rede que se dedicava à venda ilegal de terrenos da Câmara
Municipal de S. Vicente, virou processo do Ministério Público que já deu o que tinha a dar.
Sem conseguirem provar nada, agora acusam uma funcionária de corrupção passiva, por
causa de terrenos comprados em 1988 e vendidos em 2008
O
Presidente da Câmara Muni-
cipal de São Vicente, Augusto
Neves, já se tinha queixado
que, “desde a bárbara e ilegal invasão
do edifício da CMSV, que a Policia
Judiciária e o Procurador Regional não
deixam muitos dos nossos trabalharem.
Estão constantemente a ser chamados
para depor”.
A dar razão ao Presidente da CMSV, na
semana passada ficou a saber-se que
uma funcionária da Câmara, Filomena
Bettencourt, mais conhecida por Mena,
foi constituída arguida no processo
sobre a alegada venda ilegal de terrenos
Estado da saúde em Cabo Verde:
Hospital da Praia sem
películas para radiografias
Hora a hora, o Hospital piora: ao fechar o ano de 2010, mais surpresas desagradáveis
aconteceram na única unidade hospitalar da capital – agora, faltam películas para radiografias
municipais. Mena foi acusada de cor-
rupção passiva porque, em 2008, ven-
deu um terreno que comprara em 1988
na CMSV.
A defesa de Mena diz que a intervenção
do Juiz no caso de Cláudia Salomão
“deitou por terra a acusação de corrup-
ção passiva aplicada aos funcionários
da CMSV, que não intervêm no proces-
so de vendas de terrenos”. No caso
desta funcionária, a defesa fez prova da
forma como o terreno foi adquirido: “o
terreno foi dado por aforamento em
1988. Em 1993, Onésimo Silveira, en-
tão Presidente da CMSV, descongelou a
O s utentes do Hospital Agostinho
Neto, HAN, estão indignados
com a indisponibilidade dos serviços
de radiologia para efetuar as radiogra-
fias solicitadas pelos médicos. Esta
situação tem vindo a agravar-se nos
últimos tempos e, conforme apurou o
nosso jornal, desde 23 de Dezembro,
a rotura de stock é quase total.
Dizemos “quase”: o Hospital, desde
essa data, só está a ter capacidade
para efetuar as “chapas” (como as
pessoas as designam) nos casos em
que as películas radiográficas sejam
necessariamente de pequenas dimen-
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 3
Programa “Mundo Novo” adiado
venda de terrenos e Mena acabou por
comprá-lo. Em 2008 vendeu-o, o que
agora lhe vale a acusação de corrupção
passiva.
“A defesa não tem dúvidas de que esta
acusação é atitude é pura intimidação”.
Diz que não vê outro motivo, “porque
se toda a gente, que comprou um ter-
reno na CMSV e o vendeu, cometeu o
crime de corrupção passiva, então vão
ter que constituir como arguidos quase Promessas leva-as o vento e delas está o inferno cheio.
metade da população de São Vicente”. Os estudantes cabo-verdianos estão a ter disto a prova
A Defesa considera que tem todos os
argumentos para desmontar “mais esta
– o governo prometeu-lhes computadores, a felicidade
acusação do Ministério Público”. de um “mundo novo”. Agora, olham em volta e
Assim vai um processo despoletado por perguntam: mas onde raio estão os computadores?
denúncia do PAICV, que pretendia atin-
gir Isaura Gomes e Benvindo Cruz. Só
que, até agora, apenas funcionários da O Ministério da Educação deplorável. “Ou o ministério
vai, aos poucos, perdendo decide introduzir informática
toda e qualquer credibilidade nos liceus ou o ministério decide
CMSV foram ouvidos no processo e
fica cada mais longe de qualquer prova devido às excessivas demago- suspendê-la, e se calhar fica
a tese do PAICV, seguida pelo Ministé- gias do governo que apenas melhor”, respondeu-nos de
rio Publico, de que havia uma rede que avolumam os problemas com forma lacónica, acrescentando
se dedicava à venda ilegal de terrenos que as escolas se debatem. É que os computadores estão a
na CMSV. disso exemplo a Escola Pedro funcionar de forma tão lenta que
Gomes, na Achada Santo An- desmotiva qualquer utilizador.
tónio, Praia, que tem este mo- A situação informática nos
mento caso bicudo com o par- liceus do País vai assim: outros
que informático. liceus têm problemas similares.
O ministro da Educação, Octá- O tão propalado “Mundo Novo”
vio Tavares, visitou a escola e está longe de ser realidade.
prometeu renovar Anunciado pelo
o parque com a A situação informática primeiro-ministro
introdução de nos liceus do País vai há mais de um
computadores no-
vos. A verdade é
que a promessa
continua a ser
têm problemas
similares. O tão
ano, os estudantes
assim: outros liceus continuam à es-
pera de poder ter
computador.
promessa e os alu- propalado “Mundo No liceu do Pal-
nos continuam a
Novo” está longe de marejo, na Praia,
assistir às aulas de os estudantes
sões, ou seja, de um dedo, ou do
tornozelo. Nos outros casos, os médi-
cos têm de se deslocar ao serviço de
informática sem
as mínimas condi-
ser realidade.
Anunciado pelo
também esperam
e uma fonte ga-
radiologia para diagnosticar os pos- ções. primeiro-ministro há rantiu a Já que es-
síveis traumatismos através do com- Um estudante, de- mais de um ano, os ses dispositivos
putador. sesperado com a só chegam em
Perante esta situação, os utentes dos situação, contatou estudantes continuam Março. “Este go-
serviços de saúde vêem-se obrigados o nosso jornal pa- à espera de poder ter verno está a quei-
a recorrer a clínicas privadas, onde ra relatar o que ali computador mar os últimos
são obrigados a pagar (e dinheiro se passa. A nossa cartuchos. E se
muitas vezes não têm) por uma radio- reportagem indagou junto da perderem as eleições?”, pergun-
grafia. escola e um professor, que diz ta a nossa fonte, aconselhando
No fecho desta edição, tentámos falar não estar para “chatices”, con- os políticos a terem sentido de
com a Administração do HAN para firmou-nos que a situação é equilíbrio nas suas promessas.
uma reação, mas sem sucesso.
4 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
na rota dos dias
PAICV trama futuro da Praia
Traição de Joaquim Barbosa
chumba
orçamento para 2011
Inesperadamente, e por razões pessoais, Joaquim Barbosa fez “birra” e absteve-se na votação do
Orçamento da Câmara da Praia para 2011. Consequência: o diploma fundamental para o
Município foi chumbado. Na bancada do MpD fala-se em “traição”
C
ontrariamente àquilo que se
esperava, o Orçamento da
Câmara da Praia foi chumba-
do na Assembleia Municipal da pas-
sada terça-feira - 10 votos contra do
PAICV e a abstenção do deputado do
MpD, Joaquim Barbosa. A atitude
deste eleito municipal põe em causa a
exequibilidade do Plano de Ati-
vidades da Câmara, que paradoxal-
mente foi aprovado.
A Câmara Municipal da Praia entra
no ano 2011, sem Orçamento, o que
para Ulisses Correia e Silva é um
constrangimento, uma vez que a edi-
lidade vai funcionar com base em
duodécimos. “Este ato insólito é
resultante de um conluio de Joaquim
Barbosa, secretário da Mesa, eleito
pelas listas do MpD, com o PAICV,
que conseguiu tramar a Câmara desta
forma”, acusa o edil. Ulisses consi-
dera que a atitude desse eleito não
atinge o seu elenco, mas sim o
Município da Praia, que não terá à
disposição o seu principal instrumen-
to de gestão.
Acusações de conluio
Ulisses Correia e Silva disse ao nosso
jornal que Joaquim Barbosa, no fim
do primeiro dia de sessão da
Assembleia Municipal, saiu de braço
dado com os “camaradas do PAICV”,
a comemorar a “vergonhosa vitória”.
O Presidente da Câmara Municipal da
Praia, falando ao Já, explicou que a
indignação do Secretário da Mesa da
Assembleia Municipal, que o levou a
agir desta forma, tem a ver com um
conjunto de reivindicações que se
prendem com as condições de traba-
lho - máquina fotocopiadora e simi-
lares. Ulisses acusa Joaquim Barbosa
de ter feito aliança com o PAICV para
derrubar a Câmara da Praia. “É
lamentável, pois em qualquer parte do
mundo há sempre compromisso de se
aprovar este precioso instrumento” –
a não aprovação do Orçamento expe-
diente que só afeta o Município,
nunca os seus dirigentes.
E Correia e Silva sublinha que, tendo
o próprio líder da bancada do PAICV,
José Eduino, se pronunciado a favor
da necessidade de aprovação do orça-
mento, tese também defendida pelo
líder da bancada do MpD, é grave que
a questão tivesse sido reformatada no
sentido de se prejudicar a Praia em
consequência do ato absurdo de
Joaquim Barbosa.
Quanto à “ameaça” de inspeção à
Câmara feita pela Direção Geral da
Descentralização, Ulisses afirma não
a temer porque acredita que todas as
Câmaras vão passar por esse processo
que até pode ser pedagógico. “Caso
contrário, é perseguição. E nós não
nos intimidámos, porque trabalhamos
com seriedade e para servir a comu-
nidade”.
Vale tudo
Pensões
aumentam
a um mês
das eleições
É o vale tudo: o primeiro-ministro vai ao catálogo
politiqueiro em busca de alguma coisa que o salve.
E não recua diante de nada. Agora até com a miséria
dos coitados se tenta jogar
O governo de José Maria
Neves decidiu aumentar as
pensões sociais a partir de
Janeiro, expediente eleitoralista
que não passaria pela cabeça do
Diabo e faz prova de que, em
apertos, o ainda primeiro
ministro não olha a meios.
“Fico satisfeito porque os
desprotegidos vão ser
beneficiados, o que é bom” –
diz a Já, um técnico com vasta
experiência na gestão de
previdência social. “O que não é
bom, é que se trate de uma
medida eleitoralista. Enganar as
pessoas, aproveitar a fragilidade
das pessoas é o que nenhum
governo devia fazer, mas é o
que este governo faz. Porquê
José Maria Neves não o fez há
um ano, e agora em Janeiro, a
um mês das eleições, quando
devia remeter-se a meros atos de
gestão, joga este despropositado
trunfo?”. E acrescenta o nosso
interlocutor: “Claro que não
somos contra. Não se pode ser
contra em assuntos deste género,
porque estão em causa pessoas,
o benefício das pessoas. Mas
somos contra estes expedientes
de campanha que apenas
demonstram falta de escrúpulos
de quem deles se socorre”.
Carlos Veiga, líder do MpD, que
se encontrava no Sal, quando
houve anúncio da artimanha de
Neves, manifestou-se em
conferência de imprensa contra
a manobra, ressalvando que a
medida beneficia os
carenciados. Mas, no seu
entender, a decisão do governo,
tendo em conta a altura em que
é anunciada, “cheira a
campanha”.
Também Elísio Freire, membro
da comissão politica do MpD,
diz que se trata “de medida
eleitoralista e não é uma política
social séria. Os carenciados
saem a ganhar e nós não
protestamos contra isso.
Protestamos é contra a manobra,
a manha, a astúcia deste
governo. Somos solidários e
defendemos uma política social
séria, estribada em princípios,
em valores. Repugna-nos o
aproveitamento vergonhoso da
situação das pessoas
vulneráveis. Mas os
cabo-verdianos estão
esclarecidos e saberão distinguir
todas as situações”, afirma
Freire, advogando que a classe
politica deve esquivar-se destes
expedientes em que José Maria
Neves é “useiro e vezeiro”.

sem perdão
“Operação Natal”
Dois mortos
em acidentes
de viação
A quadra natalícia em Cabo Verde ficou marcada por acidentais de trânsito.
Consequências: duas vítimas mortais e vários feridos
A
primeira vítima mortal foi
uma senhora, Domingas
Mendes Almeida, conhecida
por Cintia, de 23 anos, e que se
encontrava grávida de 27 semanas. O
acidente aconteceu no dia do Natal,
na estrada de acesso à Cidade Velha,
na zona industrial de Tira Chapéu.
No momento do acidente, Cintia via-
java na carroçaria de uma Toyota
Dyna, conduzida por um familiar,
Quintino Mendes Moreno, que terá
alegado falha mecânica (quebra do
veio de transmissão) para o despiste
do veículo. Quintino foi apresentado
ao tribunal, na segunda-feira, tendo a
juíza decretado termo de identidade e
residência e interdição de sair do
País.
Acidente na Serra
Malagueta
Também no dia do Natal, mais um
acidente com uma Toyota Dyna, este
na zona da Serra Malagueta. A viatu-
ra que transportava trinta pessoas na
carroçaria (entre as quais duas cri-
anças) capotou, provocando 22 feri-
dos, alguns deles com alguma gravi-
dade. Os sinistrados, da localidade de
Cruz Grande (concelho de Santa
Catarina), tinham ido ao Tarrafal para
um passeio convívio. Foram socorri-
dos no local e transportados para os
hospitais da Praia e o Regional de
Santiago Norte. O médico de serviço
nesta última unidade adiantou à
imprensa que todos os feridos apre-
sentavam múltiplas lesões, fraturas
em várias partes do corpo, mas que
nenhum corria risco de vida.
Guineense atropelado
mortalmente
Na véspera do Natal, 24, por volta
das 15 horas, na Achada de S. Filipe,
cidade da Praia, uma viatura con-
duzida por Beto Teixeira, que se
encontrava na companhia das duas
filhas, atropelou mortalmente um
indivíduo de nacionalidade guine-
ense, de 33 anos. Segundo relata
Teixeira, o atropelado encontrava-se
na companhia de mais três indivídu-
os (alegadamente embriagados) que
atravessaram repentinamente a estra-
da, passando em frente da sua viatu-
ra, não dando hipótese de evitar o
acidente. Os outros três indivíduos
puseram-se em fuga.
O julgamento sumário do condutor
foi adiado para a última quinta-feira,
dia 30, porque a Polícia de Trânsito
não anexou a certidão de óbito ao
processo.
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 5
crimes

Santacatarinenses mais inseguros
Atentado na Assomada
A reconhecida tranquilidade de Assomada parece estar a ser macu-
lada por uma onda de criminalidade. Polícia manifesta preocupação
A Polícia Nacional continua a investigar alegadas tentativas de homicídio
contra o gerente da Shell da Cidade de Assomada e esposa, depois de na noi-
te da passada terça-feira, 21, terem sido atacados por indivíduos que dispara-
ram sete tiros contra o casal.
Segundo pudemos apurar, Alcides Pereira Landim foi atingido com dois tiros
e a mulher com um, quando estavam prestes a entrar em casa, em Bolanha,
depois de um dia de trabalho. O casal foi conduzido ao Hospital Agostinho
Neto, na Praia, estando ambos livres de perigo.
Após o atentando, a PN e a Polícia Judiciária entraram em ação, indo à pro-
cura dos atiradores, mas sem sucesso. Em declarações à imprensa, o coman-
dante da esquadra local, Domingos Rosa, não escondeu a sua "preocupação"
com o "aumento da criminalidade violenta" na cidade de Assomada.

Roubos no Sal
Assalto à mão armada na
Murdeira
As autoridades estão em alerta perante a vaga de furtos que asso-
la a ilha, visando fundamentalmente cidadãos estrangeiros
Há relatos na imprensa de que os salenses estão cada vez mais intranquilos,
devido ao surto de criminalidade. Um encapuzado assaltou a residência de um
casal estrangeiro no complexo residencial da Murdeira, ilha do Sal, domingo
à noite, utilizando arma de fogo.
De acordo com a polícia, o assaltante entrou no complexo pela praia e usou a
arma para ameaçar o casal, um austríaco e uma alemã. O meliante levou con-
sigo mais de dois mil euros e uma viatura que usou na fuga. À hora do fecho
desta edição a PN ainda não tinha identificado nenhum suspeito.
Este é mais um caso, entre muitos, que nos últimos tempos têm tirado a tran-
quilidade dos salenses, naquela que era considerada a ilha mais turística de
Cabo Verde.
A polícia da ilha tem vindo a registar vários casos de assaltos à mão armada,
como o roubo no Posto da Enacol, em Santa Maria, e também nos edifícios
da CV Telecom e dos Correios de Cabo Verde, nos Espargos, na passada quin-
ta-feira, 23.
Recentemente, mais um caso de roubo de viatura foi registado pela PN do Sal.
O windsurfista, Josh Ângulo, foi igualmente vítima de roubo, quando os la-
drões levaram a sua viatura, enquanto praticava surf, juntamente com mais
três turistas, numa das praias da zona de Fontona.

Natal em São Vicente
Polícia Nacional deteve 44
indivíduos
A quadra festiva registou, em S. Vicente, dezenas de ocorrências, rele-
vando que nem o Natal inibe os criminosos do “exercício da atividade”…
O Comando Regional de São Vicente da Polícia Nacional (PN) deteve 44 pes-
soas entre os dias 23 e 27 de Dezembro, numa ação integrada no plano “Natal
e Fim de Ano em Segurança”.
De acordo com o boletim de ocorrências da PN, deste número, 11 foram en-
caminhadas para o Ministério Público, e os restantes 33 identificados pela po-
lícia.
Durante este período, o Comando deu conta da ocorrência de cinco acidentes
de viação, dos quais resultaram apenas danos materiais, e também de dez cri-
mes contra pessoas, 16 contra o património, tendo o serviço de piquete aten-
dido 211 solicitações.
No mesmo período, a Guarda Fiscal apreendeu 10 embalagens com cigarros,
produtos de contrabando, e o serviço de Piquete elaborou dois autos de deten-
ção em flagrante delito, sendo um por posse de arma branca e outro por rou-
bo em viatura.
Por seu lado, segundo divulgou a Inforpress, o Corpo de Intervenção revistou
40 suspeitos em plena via pública.
6 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
grande reportagem
Alcoolismo dispara entre os jovens
Filhos
Há anos que a sociedade anda distraída. Sem políticas claras que
enquadrem a juventude no exercício sadio da festa e da cidadania, o
poder foi – por inação criminosa e absoluta – entregando a nova
geração ao regaço trôpego da desistência, do vício e dos consumos
C a rl a Fe r n a n d e s ( t e x t o ) | J o s é R a m o s ( foto s )
s bebidas mais consumidas
A entre adolescentes cabo-
-verdianos são grogue; cer-
veja; bagulho (mistura de
vinho e Coca-Cola); cocktail (mistura
de vodka com variados sabores de su-
mo); ponche; e, atualmente, o shot
(mistura de várias bebidas alcoólicas),
ingerido de um só gole, também vem
despertando a curiosidade dos jovens e,
mais grave que isso, a entrar nos seus
hábitos diários de consumo alcoólico.
Idade do consumo
tende a baixar
O uso do álcool é preocupante por suas
consequências sanitárias e sociais. A
iniciação ao consumo entre adolescen-
tes ocorre cada vez mais cedo, normal-
mente aos 13 anos de idade. Num estu-
do efetuado pela organização não go-
vernamental Associação Zé Moniz,
constatou-se que, a nível nacional,
39,6 por cento dos adolescentes
admitem terem-no experimentado.
Mas na cidade da Praia a situação
ainda é mais preocupante e dispara
para os 60 por cento.
Quem circula por locais de concentra-
ção de adolescentes, depara-se com o
inevitável: os jovens começam a beber
muito cedo, porque o álcool é barato,
socialmente aceite – ao contrário das
drogas - e, algumas vezes, até é
encorajado pelos familiares, no caso
dos rapazes, como forma de afirmação
de masculinidade. É por volta dos 14
ou 15 anos que muitos jovens
começam a sair à noite e percebem que
o efeito do álcool os deixa socialmente
mais soltos e descontraídos face aos
amigos e ao sexo oposto. A experiên-
cia alcoólica é quase sempre coletiva,
feita entre amigos da mesma idade, e
encarada como um passo para se sen-
tirem por um momento “donos do
mundo” e serem aceites no grupo.
Embora seja proibida a venda de bebi-
das a menores de 18 anos, rapazes e ra-
parigas bebem quanto e onde querem:
bares próximos a escolas, discotecas,
supermercados, atividades grupais e
festas. Em Cabo Verde, apesar de exi-
stir a lei, a maioria dos estabele-
cimentos ignoram-na porque a regula-
mentação simplesmente não existe. A
nossa reportagem esteve em alguns ba-
res da capital e em nenhum deles en-
contrámos a placa obrigatória: “proibi-
da a venda e o consumo de bebidas al-
coólicas a menores de 18 anos”. Os
miúdos têm acesso a álcool com maior
facilidade e, num dos estabelecimen-
tos, encontrámos uma menina de 12
anos servindo bebidas, na ausência da
avó.
A primeira embriaguez
Vários são os casos de adolescentes
que ingerem álcool descontrolada-
mente e, muitas vezes, acabam incons-
cientes. “A primeira vez que consumi
álcool foi aos13 anos, a sensação foi
boa. Estava com colegas de escola e fo-
mos fazer trabalho de grupo na casa de
um deles, que era um ano mais velho.
Depois do trabalho, trouxe-nos uma
garrafa de ponche e começámos a be-
ber. No início, recusei, tinha medo de
ficar embriagada, insistiram e, como
queria fazer parte do grupo, resolvi
aceitar” – diz-nos Diva, de 16 anos, que
estuda no 11º ano e considera normal o
uso de álcool nessa idade.
Segundo o estudo realizado, indicadores
revelam que mais de um quinto dos ado-
lescentes admitiram ter-se embriagado
de uma a quatro vezes. Diva afirma que
já se embriagou numa festa do fim de
ano: “entre meus amigos, toda a vez que
estamos numa festa existe aquela brin-
cadeira de quem aguenta mais… Então
comecei a misturar. Passado algumas
horas já estava sem noção, nem sei
como cheguei a casa [ri-se]. O álcool
não afeta os meus estudos porque sei
qual é a hora de beber e de estudar”.
Pedro, 17 anos, também estuda no 11º
ano, e a primeira vez que experimentou

do vício
álcool tinha quinze. Desde então não
parou: “estava numa festa e queria des-
contrair-me para curtir melhor a noite e
também para arranjar algumas namo-
radas. Bebo durante a semana, sempre
que aparecer alguém para pagar. Bebo
porque me sinto fixe”.
O prazer de andar pelas ruas com copos
de bebidas nas mãos é, para muitos jo-
vens, sinal de “independência” e “liber-
dade”. Pedro diz, com toda a convic-
ção, que a embriaguez é parte da vida e
conta com orgulho a experiência: “cla-
ro que já me embriaguei, umas duas
vezes, tinha que me ‘batizar’ - também
já ‘batizei alguns amigos [risos] -, foi
num passeio na praia de mar, e nem
conseguia ficar de pé, fui o último a
cair, foi divertido”, adiantando que cos-
tuma “beber bagulho, ponche e grogue
de vez em quando. Meus pais sabem
que consumo álcool, claro que sabem;
minha mãe não aprova, mas também
não critica; meu pai nunca me disse na-
da, mas eu não escondo de ninguém
que bebo”.
Segundo Pedro, os jovens começam a
beber por falta de ocupação: “estou de
férias e não tenho nada para fazer, nada
em que possa ocupar o tempo livre. En-
tão, vou ter com os amigos, que tam-
bém estão à toa, e acabamos sempre
com garrafas nas mãos”. Em relação
aos estudos, o jovem garante que tem
dado conta do recado, “o álcool não
afeta os meus estudos porque não sou
viciado. E este fim de ano vou beber
apenas para relaxar e curtir com meus
amigos”.
Elas ganham terreno
O número de meninas que consomem
álcool é cada vez mais elevado. Cons-
tata-se – ainda segundo o mesmo estu-
do - que o consumo entre raparigas é de disseram nunca ter consumido. “Nunca
56 por cento, só na cidade da Praia, e a experimentei, nunca tive curiosidade.
nível nacional de 27,7. Cláudia, de 15 Tenho amigas que consomem álcool e
anos, deixou de estudar há três, porque vejo o seu comportamento negativo:
não gostava da escola e a mãe nunca a falam e fazem asneiras quando estão
incentivou a continuar os estudos. “A sob o efeito. Por isso me mantenho fir-
primeira vez que pus álcool na boca ti- me na minha escolha: não preciso de
nha 10 anos - lembro-me bem -, a mi- álcool para nada”, diz Paula Lopes, de
nha mãe e a minha tia sempre me man- 16 anos, que estuda no 9º ano e não
davam comprar bebi- consegue perceber por
das nos bares e sempre É por volta dos 14 ou que tantos jovens esco-
quis experimentar para quinze anos que lhem o álcool como di-
saber como era. Um versão. “Não frequento
dia, a meio do caminho, muitos jovens bares, discotecas, sítios
resolvi beber um pou- começam a sair à onde circulam bebidas,
co. Fiz isso muitas ve- noite e percebem que porque acho que ainda
zes. Passados uns anos,
comecei a beber em
o efeito do álcool os não tenho idade para es-
se tipo de vida. Quando
casa com as minhas pri- deixa socialmente estou com meus amigos
mas e amigas, hoje be- mais soltos e que consomem, gozam
bo praticamente todos descontraídos face aos comigo, me desafiam
os dias e, quando não para experimentar, que
tenho dinheiro, sempre amigos e ao sexo ‘não faz mal’, é muita
aparece quem paga”. oposto pressão, mas como cos-
A influência dos pais tumo dizer: a última pa-
no comportamento dos filhos é tema lavra é minha”.
que tem gerado muita polémica. Há Para Paula, o álcool só destrói, e acha
quem aponte o dedo aos progenitores que o governo devia fazer mais para di-
na construção da personalidade juvenil, minuir esta tendência dos jovens, que se
influenciada pelo convívio em ambien- estão a iniciar cada vez mais cedo no
te doméstico. Mas os pais, por sua vez, mundo da bebida. À despedida, a jovem
apontam o dedo aos amigos e colegas remata: “desde que a lei entrou em vigor,
de turma como sendo culpados. Segun- nunca vi ninguém, nem nenhum esta-
do Cláudia, a mãe nunca lhe falou em belecimento a serem multados porque
deixar de beber e, às vezes, bebem cer- venderam álcool a menores. E é por isso
veja e ponche juntas. “Nunca me em- que temos muitos jovens sem futuro”.
briaguei – adianta -, prefiro beber em
casa em vez de nos bares, como a Mendigar para beber
maioria faz. A bebida relaxa-me, este Mário, 15 anos, estuda no 7º ano, con-
fim de ano quero curtir ao máximo… a fessa que teve o primeiro contato com
vida é para aproveitar”. álcool aos treze. A vontade de seguir os
Nem todos os jovens vêem o álcool co- passos dos amigos e primos falou mais
mo única escolha para se divertirem. alto. “Sempre vi meus amigos com gar-
Na capital do País, apenas 40 por cento rafas de cerveja, bebiam bagulho, e fi-
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 7
cava curioso. Comecei a andar com
eles e a minha curiosidade aumentava
cada vez mais. Um dia me desafiaram
e aceitei logo, no fundo queria mostrar-
lhes que já não era criança”.
Muitos jovens começam a ter proble-
mas com a bebida porque se acham ca-
pazes de controlar a quantidade ingeri-
da. “Durante a semana bebo pouco,
apenas para ficar fixe, e no fim-de-se-
mana bebo em maior quantidade mas
sempre sob controlo. No meu grupo,
existe aquela disputa de ‘quem conse-
gue aguentar mais’, ou seja, quem é
‘mais homem’. E nesta brincadeira me
embriaguei só uma única vez porque
sei controlar-me, ao contrário dos meus
amigos que não se aguentam [gaba-se].
Quando saio com eles e não temos di-
nheiro para paródia, o sistema é ficar-
mos à frente do bar e pedirmos a quem
passe para pagar qualquer coisa; às ve-
zes, fazemos recados aos vizinhos em
troca de algumas moedas. A bebida não
é cara, um copo de cerveja custa cin-
quenta escudos e nunca me impediram
de entrar em nenhum bar. Eles querem
lá saber se tenho idade ou não…”
Uma política que proteja os jovens
mais vulneráveis não consta da agenda
do atual governo, que se esqueceu por
completo de arranjar alternativa para
que os jovens possam ocupar os tem-
pos livres. A lei que regula os estabele-
cimentos é débil, a fiscalização não
existe. O drama do alcoolismo juvenil
submerge a sociedade cabo-verdiana
como gangrena. A resolução do proble-
ma passa por políticas de combate à
doença e dinâmicas inclusivas que
façam os jovens compreender as vanta-
gens de uma vida sem álcool – e isso
passa por uma “coisa” chamada cida-
dania ativa!
8 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
isto vimos
Legislativas de 2011
Partidos “renovam” listas
As listas (do MpD e do PAICV) já conhecidas denotam algum esforço por parte dos partidos para o rejuvenescimento parlamentar.
Há surpresas em ambas as partes. E há ausências…
T Diáspora: confirma-se a
odos os partidos políticos
cabo-verdianos, incluindo o
PTS, entregaram dentro do
prazo legal, as listas dos candidatos a
deputados para as eleições legislativas
de 6 de Fevereiro, sem surpresas quan-
to ao posicionamento dos seus líderes:
José Maria Neves encabeça a lista do
PAICV na Praia, assim como Carlos
Veiga, e António Monteiro é o
primeiro em S. Vicente pela UCID.
Onésimo Silveira encabeça a lista do
PTS em S. Vicente, como aliás já tinha
sido anunciado pelo atual Presidente
do Partido do Trabalho e da
Solidariedade, João do Rosário,
decisão considerada normal, tendo em
conta o trajeto do ex-líder daquele par-
tido.
Na segunda-feira, o PAICV deu o pon-
tapé de saída na Praia. O presidente da
Comissão Política Regional de
Santiago Sul dos tambarinas,
Felisberto Vieira (segundo da lista),
fez-se acompanhar de Fernando
Robalo ao Tribunal da Comarca da
Praia para formalizar as candidaturas
dos deputados neste círculo eleitoral,
com algumas surpresas pelo meio.
Desde já, a inclusão de Rui Semedo,
depois do desgaste que o ex-líder par-
lamentar tem tido na Assembleia
Nacional e muito mal apreciado pelos
cabo-verdianos. Assim como Janira
Hopffer Almada, cujas intervenções a
roçar arrogância são motivo de comen-
tários pouco abonatórios para a candi-
data. Ou até mesmo o nome de Dúnia
Pereira que, apesar de ser jovem
quadro e diretora da Juventude, é figu-
ra com pouco peso no círculo onde foi
escolhida.
De resto, confirmam-se os nomes do
músico Mário Lúcio e do Reitor da
UniCV, António Correia e Silva, em-
bora neste último caso haja quem
defenda que este deveria ter colocado
imediatamente o cargo à disposição.
Outro nome na lista da Praia é o de
Nuías Silva, atual líder da JPAI, apesar
de ser natural da ilha do Fogo e
Presidente da Assembleia Municipal
de S. Filipe, entre outras coisas. A lista
do PAICV na Praia integra ainda os
nomes de Nilda Fernandes, Afonso da
Fonseca e Justiniano Luciano (ambos
deputados nesta última legislatura), e
ainda Francisco Carvalho e Cláudia
Rodrigues, presidente do ISIEG,
enquanto independentes.
Para Felisberto Vieira, esta “é uma
lista que cumpre os requisitos funda-
mentais com a abertura à sociedade
civil”, destacando a participação de 9
mulheres, num universo de 19 efetivos
e que são jovens quadros e outras com
alguma experiência. Temos também
equilíbrios territoriais e mais de 95 por
cento de pessoas com formação ao
nível da licenciatura ou superior”,
disse Filú.
Fora desta lista, Filú destaca os nomes
de Eduardo Monteiro, José Maria de
Pina, Hermínia Ferreira e Ivete Freire,
esta última na lista para África”.
São Vicente sem novidades
Em S. Vicente a lista do PAICV é
encabeçada por Filomena Martins.
Franklin Spencer (Enapor) é segun-
do, e seguem-se Hermes Santos,
Maria da Luz Monteiro, Alexandre
Novais, Arlinda Medina, Paulo Noel
(independente), Samila Inocêncio
(JPAI), Óscar Melício (INDP; inde-
pendente), Cosmo Lima Alves (inde-
pendente) e Marie Louise Tavares
(OMCV).
“fuga” de Sidónio
Sidónio Monteiro lidera a lista PAICV
das Américas, Alberto Alves vem logo
a seguir. Na Europa, Arnaldo Andrade
e Etelvine são os dois deputados pos-
síveis e na África e resto do Mundo,
confirma-se Estêvão Rodrigues e
Ivette Freire.
Fogo: três homens e duas
mulheres
Eis a lista completa do PAICV no
Fogo: Júlio Correia, Lívio Fernandes
Lopes, Joanilda Andrade, Eva Ortet e
Ernesto Silva.
Santiago Norte: sem
independentes
Em Santiago Norte, onde se destaca a
ausência de David Hopffer Almada, só
três mulheres fazem parte do elenco de
14 efetivos: José Maria Veiga, José
Manuel Andrade, Vanusa Cardoso,
Moisés Borges, Humberto Brito,
Emanuel Moreira, António Fernandes,
Virgínia Baessa, Alcídio Tavares,
Pedro Furtado, José Manuel Sanches,
Pedro Moreno Brito, Suzete Soares e
Felisberto Moreira.
MpD com vários regressos
e muita juventude
Em relação ao MpD, destacam-se em
Santiago Sul os “regressos” de José
Filomeno, Francisco Barbosa Amado,
Adalberto Silva (Betú) – em vez do
Maio, círculo de que fora deputado em
anteriores legislaturas -, e a presença
de independentes, como Eunice Silva,
Abraão Vicente ou a jurista Filomena
Gonçalves. A grande surpresa foi a
inclusão da “desconhecida” Isa
Filomena Soares da Costa, trunfo
importante do partido em S. Domingos
e mais concretamente na freguesia de
N. Sra da Luz.
De resto, a presença massiva dos
“Jotas”: o líder Miguel, o vice Carlos e
ainda Milton Paiva, Janilson Silves
Ferreira “Mike” (líder da JpD em S.
Domingos) e Luís Silva.
Elísio Freire em Santiago
Norte
Ausências notadas em Santiago Sul:
Fernando Elísio Freire, agora terceiro
na lista em Santiago Norte, Filomena
Delgado e Agostinho Lopes, antigo
líder ventoinha. Sem surpresas, Mário
Silva é cabeça de lista no círculo a norte António Correia e Silva
da ilha, seguido por Austelino Correia,
Freire, Pedro Alexandre Rocha, Filipe Janine Lélis, Daniel Évora e Ildo
Furtado e Anilda Tavares. Rocha; e no Maio, Joana Rosa e João
Dono. Sem surpresas, José Luís Santos
O regresso de António está no topo da lista na Boa Vista,
Jorge Delgado coadjuvado por João Pedro Lima
Em S. Vicente, Jorge Santos está à Spencer.
frente de uma lista onde prontificam David Lima Gomes e Francisco Walter
Humberto Cardoso, António Jorge Tavares estão na lista da Brava, Nelson
Delgado, Eva Caldeira Marques, João Brito e Osvaldo Fonseca em S.
Gomes, Maria Celeste Fonseca, Nicolau.
Américo Silva (ex-autarca do Paul),
João Santos, entre outros.
Marcos Evangelista por
Leão Lopes é o segundo na lista por África
Santo Antão, logo atrás do médico Em relação ao círculo da Diáspora,
João Arlindo do Rosário. Orlanda Orlando Dias e Marcos Evangelista
Ferreira, Francisco Dias, Valter Silva e (ex-director das Contribuições e
Joel Barros fecham a lista dos efetivos. Impostos) por África, Cândido
Na ilha do Fogo, o já anunciado Eurico Rodrigues e José Cristiano Monteiro
Monteiro encabeça a lista com mais 4 pelas Américas. Emanuel Barbosa e
elementos: Jorge Nogueira, Lourenço Elsa Maria Soares fecham a lista da
Lopes, Maria Ascensão Rodrigues Europa e Resto do Mundo.
Pires e Filipe dos Santos. Antes do fecho desta edição, não
recebemos quaisquer informações ou
O esperado documentos sobre as listas da UCID e
Na ilha do Sal são candidatos efetivos: PTS.

2010
Cabo Verde em revista
Resenha dos factos mais importantes ocorridos em 2010 e que foram tema em destaque no Já: lembramos
que o nosso jornal só iniciou publicação em 23 de Julho - essa também data importante do ano, pois
constituiu pedrada no charco do conformismo latente numa imprensa submissa e dócil ao poder - pelo
que, naturalmente, iremos apenas aflorar acontecimentos compreendidos entre essa data e a atualidade.
Como adiante se verá, são episódios recorrentes com que a maioria dos cabo-verdianos se confrontou
Ilhas
marginalizadas
O isolamento a que estão votadas
as ilhas de São Nicolau, Maio e
Brava, provocado pela insuficiente
ligação marítima e aérea,
desesperando as populações locais,
empresários e turistas, foi tema em
destaque na primeira edição do Já.
Sem navios que efetuem ligações
de forma eficaz, assiste-se ao
açambarcamento de produtos, ao
disparar de preços, levando a que
25 mil cabo-verdianos estejam
praticamente isolados do resto do
País. Comentando esta estranha
situação num “país de
Desenvolvimento Médio”, João
Dono, na sua coluna “Ponto de
Mira”, sublinhava com toda a
lógica: “Investe-se, sim senhor, na
construção de portos – enche o
olho. Mas para que servem os
portos se faltam navios?”…
Em Santiago, JMN tentou
“cozinhar”, secretamente, a
instalação de duas incineradoras,
tendo para o efeito assinado três
protocolos diferentes no espaço de
4 meses, abrindo a possibilidade de
se importar lixo tóxico de outros
países para serem incinerados na
Praia, com a gestão do projeto a ser
atribuída a várias empresas sem
concurso público. As fortes críticas
lançadas pelo MpD e pelo então
seu líder, Jorge Santos, fizeram
com que o executivo tambarina
assumisse o erro e extinguisse a
Unidade Incineradora da Praia SA
(UIP), argumentando que, afinal, a
“opção para a incineração não é a
mais adequada”. O que se sabe é
que a “teia” estava bem montada e
só faltava a cereja no topo, ou seja,
Felisberto Vieira ganhar a
presidência da Câmara da Praia, o
que não se verificou. Uma estória a
cheirar fortemente a corrupção,
envolvendo o governo de Cabo
Verde, a Câmara da Praia (então
liderada por Filu) e um pequeno
grupo de cabo-verdianos radicados
nos EUA. E que teve impacte
internacional, pois a União
Europeia assumira o compromisso
com CV para o tratamento de
resíduos sólidos no arquipélago em
aterros sanitários e ameaçou retirar
apoios comunitários.
Polícias e
ladrões
Uma reportagem sem peias e
afoita: entrevistámos elementos
ligados aos thugs, o grupo de
jovens marginais que recorrem à
violência como forma de vida na
cidade da Praia, dividindo a capital
em zonas controladas pelas várias
fações, disputando a tiro o controlo
das mesmas. Um ex-aderente da
“causa” justificava o seu modo de
vida com as desigualdades sociais e
falta de oportunidades para os
jovens. E vale a pena lembrar que
um dos últimos episódios
protagonizados por esta “seita do
mal” teve lugar há poucas semanas
no Bairro Brasil, onde um jovem de
treze anos foi abatido com tiro na
cabeça por um grupo rival.
Afirmam sem rebuço que tanto o
“governo como a sociedade não
querem que o fenómeno thug se
extinga, pois apenas se preocupam
em julgá-los e condená-los”. Eles lá
sabem… Estranha-se é a forma
como estes “meninos” conseguem,
para as suas “brincadeiras”, armas
de guerra (AKM e UZI) ou pistolas
de calibre 6.35mm e 9 mm.
Talvez tenha sido o crime do ano,
pelo horror dos factos conhecidos:
uma jovem foi violada, assassinada
e queimada em São Domingos e o
cadáver, abandonado num caminho
vicinal, acabou por ser retalhado
por animais. O presumível algoz é
ex-fuzileiro anteriormente detido
pela violação de uma menor, mas
que acabou por ficar em liberdade,
o que levou os familiares desta sua
última vítima a questionar se o
energúmeno tivesse ficado detido
aquando esse seu primeiro crime, a
descoberta deste horrível quadro
macabro nunca teria tido lugar. A
Polícia e o Ministério Público que
façam mea culpa desta tragédia.
Entretanto, soube-se que o Estatuto
da Polícia Nacional pode ser
impugnado, por não corresponder
às novas ameaças à segurança. Há
um rol de anos que a corporação
está mergulhada em profunda
letargia profissional. Para cúmulo,
Já soube que a Polícia tem ao seu
serviço agentes com passado
criminal, thugs arregimentados, que
houve polícias apanhados a roubar,
mulheres recrutadas para agentes
por via de assédio sexual. Assim
vai a corporação do ministro Lívio
Lopes… Na PJ, também o mal-
estar se tornou uma evidência. Em
declarações ao Já, o presidente da
Associação Sindical dos
Funcionários de Investigação
Criminal fez saber que a
corporação está cansada de
sucessivas promessas
governamentais, nunca
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 9
CADERNO
concretizadas, de resolução dos
seus principais problemas,
ameaçando entrar em greve de zelo.
Em Agosto, relatamos um caso de
excessos policiais: uma equipa de
fiscalização da Câmara da Praia foi
à Terra Branca/Santaninha dar
cumprimento ao mandato de
embargo de uma construção
clandestina. O visado, ao
aperceber-se do ato de apreensão,
sacou da arma e ameaçou o
manobrador da máquina que se
aprestava para demolir a construção
clandestina. Detido o prevaricador,
este acabou por ser solto por ordem
do comandante regional da PN,
Guilherme Cardoso, que, por acaso,
é primo do infrator. Apesar do
percalço, a construção foi
concluída. A Câmara da Praia
recorreu para o Procurador-Geral.
Entretanto, em puro ato de
revanchismo, a Esquadra
“Guantanamo” (Achada de S.
Filipe) quis mostrar serviço ao
comandante e prendeu o fiscal da
obra, apreendendo-lhe uma pistola
que nem sequer estava operacional.
Fica o registo, insólito, de um caso
de compadrio e de nepotismo
policial.
Degradação
social
Já trouxe à estampa a degradação
económica e social em que vivem
as famílias cabo-verdianas.
Sensibilizou-nos, em São Vicente,
10 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
2010 Cabo Verde em revista
o drama vivido por homens e
mulheres à deriva depois do fecho
das suas empresas.
O Parque Industrial do Lazareto,
sonhado pelos políticos como a
grande alternativa que iria tirar a
ilha da negra estatística de ser a
que apresenta maior taxa de
desemprego em Cabo Verde, foi
afinal, uma miragem.
Falámos com gente apertada pelo
flagelo, como foi o caso de Teresa
e Hiriondina, duas irmãs que
trabalhavam na extinta Trafo,
chorando a sua desdita,
provavelmente desconhecendo que
uma das medidas que poderia ser
chave para a resolução deste
problema – o Centro de Promoção
de Investimentos em São Vicente, o
Promex – fora desmantelado, um
sinal claro de que o governo central
nada queria saber de indústrias que
estavam a criar milhares de postos
de trabalho.
Nas antípodas do “país maravilha”
tão apregoado por JMN, o país real
sofre. De fome. Às portas da
capital (Já viu e registou as
imagens), há centenas de pessoas
que vasculham na lixeira municipal
à cata de alimentos.
E apontam-se os números da
miséria: há pelo menos 70 pessoas
adultas e 26 crianças que
diariamente chafurdam nessa
lixeira, misturando-se com animais,
numa promiscuidade arrepiante.
Uma situação que poderá acabar
com a construção de um novo
aterro sanitário, promessa de
Ulisses Correia e Silva, presidente
da Câmara da Praia.
No Mindelo, a situação também é
degradante: centenas de pocilgas
continuam a crescer em redor da
cidade.
São o “cofre do povo” e
sobrevivência de muitas famílias,
num atentado à saúde pública e ao
consumidor, em urbe com fama de
ser a mais limpa e arrumada de
Cabo Verde.
O nosso jornal registou, através de
imagens, esse retrato a preto e
branco da pobreza que vai
atingindo largas franjas da
população sanvicentina – gente
pobre que nunca foi contemplada
pelo programa de Luta Contra a
Pobreza, porque se insiste em não
reconhecer que eles são pobres.
Na Praia, os números do INE
também não mentem: dois em cada
quatro praienses, entre os 15 e os
24 anos, não arranjam emprego.
Uma mancha negra que alastra pelo
País, de forma cruel.
Apagões e o
“choque fiscal”
Já revelou que os objetivos da
política energética do Governo para
a legislatura não foram alcançados.
Em todos os sentidos: na melhoria
da eficiência energética, qualidade
de serviços de eletricidade e água,
na energia renovável ou na
reestruturação do setor de
combustíveis. É o que se pode
concluir lendo o relatório da
ELECTRA relativo ao ano de 2009
que o jornal escalpelizou. E os
apagões vão continuar na ordem do
dia, pelo menos até Fevereiro…
isto se continuar a faltar o “pilim”
para pagar o combustível à Enacol,
“atingida” com um calote de mais
de meio milhão de contos e que
decidiu racionar o abastecimento.
Este, afinal, é o principal motivo
revelado pelo Já de faltar a luz em
diversos locais, pondo a nu a
mentira apregoada pela empresa
pública de que a falta de energia se
deve a deficiências nos geradores.
Um mal que afeta não só a capital,
mas que alastra a S. Vicente, S.
Filipe (Fogo) e em Santa Cruz
(Santiago). Mas, apesar de
devedora, a ELECTRA também
resolve “fustigar” os seus clientes,
cortando-lhes a energia por falta de
pagamento. Como foi o caso da
Universidade de Cabo Verde, em
Novembro último. E não importou
(para a imagem internacional do
País que ficou afetada) que o
“apagão” tivesse lugar na altura em
que o Primeiro Ministro de São
Tomé efetuava uma visita à
instituição.
Também nos domínios da
Economia, com base em relatórios
do INE, do FMI, e nas estimativas
do PIB e dos Censos desses anos,
apresentámos criterioso trabalho
onde os números falam por si: em
35 anos de Independência, foi na
década de 90 – era Carlos Veiga
Primeiro Ministro – que Cabo
Verde cresceu mais em termos
económicos. Na nova politica
económica apresentada pelo líder
do MpD em Julho, tendo em vista a
resolução dos problemas que
afetam o empresariado (“As
empresas são o coração da
economia”, disse Carlos Veiga
durante um encontro, na Praia, de
discussão sobre o “Estado da
Nação”), de destacar os propósitos
enunciados pelos democratas de
redução da carga fiscal, dotando o
País de fiscalidade moderada,
simples e estável, o chamado
“choque fiscal”, num claro objetivo
de libertar os recursos das famílias
e das empresas para o investimento
e criação de emprego.
Entretanto, no que concerne à
economia real (e atual), em Cabo
Verde a situação não tranquiliza:
em Setembro, o Fórum Económico
Mundial (FEC) revelou dados que
colocam o Arquipélago em 117º
lugar no ranking de
competitividade entre 139 países.
Como curiosidade, anote-se que no
item “Qualidade das Estradas”,
onde o governo de JMN enterrou
dezenas de milhões de contos, a
nossa pontuação é de 3.8, ficando
na 68ª posição. O relatório do
Banco de Cabo Verde também não
foi simpático para a governação do
PAICV, ao apontar o agravamento
generalizado da situação económica
do País no próximo ano.
Talvez assim se explique o facto de
o governo de José Maria Neves ter
apresentado com grande atraso as
“Contas do Estado de 2010”,
concluindo-se que, nos últimos 18
meses, o endividamento do Estado
aumentou de 16 milhões de contos,
mais 20%! Só nos primeiros seis
meses deste ano, o Governo
aumentou a sua dívida em 7,5
milhões de contos, equivalente à
média de um milhão e duzentos mil
contos por mês… Principais
conclusões dos números
tardiamente apresentados: nos
últimos seis meses, o Governo
aumentou desenfreadamente o
endividamento do País; o INPS
(Instituto Nacional de Previdência
Social) tornou-se o principal
financiador do Estado; as
prioridades dos investimentos
públicos secundarizam tudo o que
tem a ver diretamente com a vida
das pessoas; as receitas fiscais
estagnaram, pondo assim à mostra
o “congelamento” da própria
economia.
Adjudicações
sem concurso
público
Matéria pastosa tem sido a
adjudicação de empreitadas,
envolvendo organismos públicos e
empresas portuguesas, quase todas
com cartão de apresentação do
amigo PS de Lisboa (por algum
motivo, gradas figuras socialistas
passaram no último ano pelo
Arquipélago, a começar por José
Sócrates, com um computador
Magalhães no bolso) … São vários
os casos. Por exemplo, o contrato
feito entre o IFH (Imobiliária,
Fundiária e Habitat), empresa de
capitais públicos, no valor de 1
milhão e 200 mil contos, com a
empresa lusa Monteadriano, para
obras de infra-estruturação do
Palmarejo Grande. Nos termos
deste protocolo, a Monteadriano
responsabiliza-se pelo projeto,
mobiliza o financiamento e executa
a obra. A obra acabaria por ser
adjudicada por ajuste direto,
constituindo este caso uma pequena
amostra de como as construtoras
nacionais são preteridas pelo
governo de JMN em detrimento de
outras ligadas ao chamado grupo
do MITT (o Ministério de Manuel
Inocêncio Sousa).
Estranha foi essa propensão do
governo tambarina para escolher
parceiros portugueses com
problemas na Justiça. Foi o caso da
Mota Engil – cujas empresas do
seu universo ganharam
adjudicações nos domínios da
energia eólica sem concurso
público – e que está a ser alvo de
investigações por suspeitas de
fraude e branqueamento de
capitais; ou, mais recentemente, a
Parque Expo, outra EP lusa, que
ganhou concurso - em conjunto
com o IFH - nos domínios da
urbanização e infra-estruturação de
terrenos na Praia e cujos antigos
administradores foram envolvidos
em Portugal em estórias de
corrupção, outro por tráfico de
droga, financiamentos ao PS e
burla.
Governantes e
políticos com a
“careca à mostra”
Já pôs a careca à mostra a muitos
governantes do PAICV que se vão
servindo do seu posto em vez de
servir o povo. A começar pelo
Primeiro Ministro JMN: será
admissível num Estado de Direito,
o chefe do Governo eximir-se ao
pagamento do Imposto Único sobre
Património (IUP) nos serviços
municipais da Praia? Pois é isso
que acontece. Já apurou que o líder
tambarina deve seis prestações
respeitantes a dois prédios urbanos
que tem registados em seu nome:

um apartamento na Achada de
Santo António, no conjunto
habitacional da IFH
“Comunidades” e também em
relação ao luxuoso duplex
construído na Prainha, onde reside
atualmente. O escândalo lá ia
passando despercebido durante o
“consulado” de Filu à frente da
CMP. A entrada de Ulisses Correia
e Silva destapou estas e outras
situações opacas no município. Mas
os calotes do Primeiro Ministro não
ficam por aqui: na edição de 4
Novembro revelávamos que Neves
era devedor do Imposto Único
sobre Rendimento (IUR) dos anos
fiscais de 2003, 2004, 2005 e 2007,
perfazendo a dívida o montante de
1.194.4164$00.
Mais grave do que isso, é o próprio
Diretor Geral dos Impostos,
Emanuel Tavares Moreira, militante
do PAICV, ser também ele devedor
à “casa” que tutela da “bagatela” de
521.499$00, relativos ao IUR dos
anos de 2003, 2004 e 2005. É
anedótico ver a situação e
impunidade destes dois
responsáveis da Nação, ambos a
darem mau exemplo à comunidade
que sofre e é penalizada quando
não paga os seus impostos.
O mesmo Neves deve julgar-se
acima da lei ao ignorar as
notificações do Tribunal da Praia
que o obrigam ao pagamento de
indemnizações a quatro cidadãos
luso-caboverdianos espoliados das
suas terras, ficando obrigado a
depositar 187 mil contos na conta
do Tribunal da Comarca da Praia.
São azares de um político que se
julga acima da Justiça e justifica
com “questões pessoais” o facto de
ter atribuído uma bolsa de estudo
no valor de 10.270 dólares a uma
“amiga especial”, militante do
PAICV, que estuda nos EUA…
montante esse que se vai renovando
de ano para ano. Neves entalou-se
ainda mais ao referir aos
microfones da televisão que a bolsa
é “ajuda a pessoa com
dificuldades”. Dificuldades de
monta que não impediram a tal
bolseira amiga de vir dos Estados
Unidos ao Congresso do PAICV,
em Janeiro deste ano, conforme
documentou foto publicada pelo Já.
Outra história escandalosa
envolvendo elementos do Governo
teve como protagonista o ministro
dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação, José de Brito, que viu
garantida a sua aposentação – basta
consultar o Boletim Oficial nº 27,
de 7 de Julho, II série, onde se
pode ler ter sido atribuída a
choruda pensão provisória anual de
1.734.000 escudos, alegadamente
correspondente a 34 anos de
serviço prestado ao Estado. Ora,
acontece que muitos funcionários
públicos nunca vislumbraram Brito
a trabalhar durante tanto tempo na
Administração Pública… Para
mais, quando a colega de governo o
autorizou a amortizar uma dívida
que o ministro tem para com o
Estado de mais de um milhão de
escudos em 270 prestações, isto é,
em mais de 20 anos. Ora como
Brito tem 66 anos de idade, quando
já for nonagenário é que saldará a
dívida… um “milagre”da
multiplicação dos dias, só ao
alcance dos poderosos e à amizade
entre camaradas da mesma esfera
política…
Brito não é caso “virgem” no
governo no que concerne a
reformas especiais. No Boletim
Oficial de 25 Novembro de 2009
(II Série) saiu o despacho de
aposentação de Octávio Tavares,
actual ministro da Educação e
Desporto, mas que, na altura,
exercia, em comissão ordinária de
serviço, as funções de Secretário de
Estado de Educação, com o escalão
C… do Instituto Pedagógico. Como
passe de mágica, Octávio, que
nunca deu aulas no IP e sempre foi
quadro de carreira na Inspecção
Geral do Ministério das Finanças,
abicha a reforma como quadro do
instituto e (pois claro) com o
salário de Secretario de Estado. Na
hora do mais que provável termo
de mandato, os membros do
governo do PAICV procura assim
acautelar o futuro… tudo de forma
opaca, a cheirar fortemente a
compadrio e ilegalidade
Este estranho frenesim de que
deram mostras as gentes ligadas à
estrela negra neste final de
mandato, também se estendeu ao
líder da bancada parlamentar
tambarina, Rui Semedo, que
consegue o feito de estar reformado
desde 11 de Junho de 2008 como
professor do secundário, mas
auferindo o salário de líder
parlamentar (144 500 escudos
mensais), que é a última função que
tinha na altura e que ainda hoje
exerce no Parlamento, acumulando
essa pensão com o salário da atual
função… Ou seja, Semedo recebe
uma reforma como líder e continua
a exercer essa mesma função na
Assembleia, beneficiando de todas
as regalias inerentes ao cargo…
Outro caso com contornos
semelhantes envolve o secretário da
mesa da Assembleia Nacional, o
deputado Eduardo Monteiro, que
somou o salário de parlamentar
(136 contos) com outro tanto
correspondente à aposentação como
inspetor tributário. Ou também os
casos do presidente da Câmara
Municipal de Santa Catarina do
Fogo, que passou à reforma,
apesar de exercer o cargo
autárquico; ou o de Miguel António
Lima, presidente da Agência de
Regulação e Supervisão dos
Produtos Farmacêuticos e
Alimentares, o qual, apesar de
ainda exercer o cargo naquela
instituição reguladora, vai receber
uma reforma anual de 285 contos
mensais, correspondentes ao seu
salário atual. O facto de ser
cunhado do Presidente da
República é simples pormenor…
São casos e mais casos de reformas
doiradas que nos levam a concluir
que os “camaradas” tambarinas
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 11
preparam-se para a retirada e não
querem ir para a aposentadoria com
as mãos a abanar.
Recenseamento
sob suspeita
De vários cantos do Mundo da
Diáspora cabo-verdiana choveram
críticas de que o Recenseamento
Eleitoral foi politizado e utilizado
pelo PAICV para a propaganda do
governo de José Maria Neves.
Apontámos o exemplo de Rhode
Island, nos EUA, onde foram
descobertos vários materiais de
publicidade ao PAICV, entre os
quais um DVD que o Governo
mandou conceber com os seus
“feitos” e imagens de estradas
construídas, tudo traduzido em
inglês e destinado às pessoas que se
iam recensear. Até um folheto com
a trajetória de Filú foi encontrado
neste local escolhido para posto de
recenseamento que deveria primar
pela isenção, mas que mais parecia
sede do partido tambarina. As
reclamações vieram de vários
quadrantes geográficos. No norte
de França, milhares de cabo-
verdianos não foram recenseados
porque o kit estava avariado, no
Reino Unido e na Bélgica o ato
realizou-se apenas durante cinco
dias.
No próprio Arquipélago da
Morabeza, o PAICV tentou por
todos os meios, limpos e menos
limpos, levar por diante a sua
campanha eleitoral com dinheiros
do erário público. Desde Junho - e
sob o patrocínio do Ministério das
Infra-Estruturas, Transportes e
Telecomunicações e a contribuição
generosa de empresas públicas,
numa ação que se prolongou até ao
final deste mês de Dezembro -, a
RTC e a Tiver estão a transmitir
alternadamente publi-reportagens
com conteúdos eleiçoeiros,
pomposamente chamadas
“Documentários com Informação
Educativa e Promocional
Patriótica”. Tudo sob a chancela do
ministro Inocêncio, que chega a
exortar empresas públicas a
contribuírem solidariamente para
esta causa, manifestando “o
privilégio de agradecer o
envolvimento, da forma possível e
com os montantes possíveis”… O
mesmo Inocêncio que, em plena
12 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
2010 Cabo Verde em revista
época eleitoral, andou de ilha em
ilha, ao colo de Neves, com a
televisão pública atrelada, a lançar
primeiras pedras de novos
empreendimentos ou inaugurar
outros com grande atraso, como foi
o caso de um centro social
(promessa que se estendeu durante
cinco anos) no Maio e uma estrada
com sete quilómetros que custou
quase 400 mil contos. Goebbels
não faria melhor…
Aliás, Manuel Inocêncio de Sousa
terá de descalçar aquela “bota” de
anunciar publicamente a sua
candidatura ao cargo de Presidente
da República, estando ainda em
funções como ministro, infringindo
o que está estipulado no Código
Eleitoral.
Greves
Ficam na História do sindicalismo
em Cabo Verde os vários dias de
greve na CV Telecom, expressão do
mal-estar existente entre os
trabalhadores (segundo os números
do sindicato, ter-se-ão registado
níveis de adesão a rondar os 90 por
cento) em luta pela melhoria
salarial de 4 por cento, que a
Administração refutou. Paralisação
que serviu de barómetro à cada vez
mais latente insatisfação social face
a políticas que geram desemprego e
não aumentam o poder de compra
dos trabalhadores. Sindicatos que
também devem estar atentos à
denúncia que foi feita pela
presidente do Instituto Cabo-
Verdiano da Criança e do
Adolescente (ICCA), Marilene
Bessa, alertando para o aumento do
trabalho infantil em Cabo Verde.
Situação calamitosa relevada nas
nossas páginas: há menores a
trabalhar nas oficinas, na
agricultura, na lavagem de carros,
sendo muito grave em São Vicente,
onde meninas de treze anos se
prostituem nas ruas a troco de uns
escassos escudos.
Desporto
O desporto cabo-verdiano foi para
Maputo participar nos VII Jogos da
CPLP à custa do dinheiro dos
angolanos, os quais abriram os
cordões à bolsa para financiar a
maior comitiva de sempre a
competições internacionais. Luanda
custeou as viagens de ida e volta
mas a preparação dos atletas não
foi a mais adequada. Entretanto, no
mundo do futebol, o grande
acontecimento do defeso foi a
contratação pela Académica da
Praia de Fufuco, considerado o
melhor jogador de Cabo Verde. A
“bronca” estoirou ao saber-se que
Fufuco terá assinado contrato com
dois clubes diferentes no mesmo
ano, representando actualmente
clube português da Madeira, o
Nacional. A briosa prometeu levar
o caso à FIFA, visando ser
ressarcida do investimento feito e o
atleta continua suspenso pela
Associação Regional de Futebol de
Santiago Sul.
Entrevistas
Nas grandes entrevistas do ano, de
destacar a que deu ao Já o líder do
MpD, Carlos Veiga, o qual, em oito
páginas, expôs as linhas gerais do
programa eleitoral do partido,
explicando de forma detalhada o
modo como se propõe mudar o País,
dando enfoque fundamentalmente
nos setores da Economia, Emprego,
Energia, Cultura, Educação e
Juventude.
A juíza Maria das Dores Gomes,
presidente da Associação Cabo-
verdiana das Mulheres Juristas,
pondo o dedo na ferida na situação
da magistratura: “Os magistrados
ganham salários de miséria e não são
aumentados há 14 anos!”,
sublinhando que para a Justiça ser
mais eficaz e célere devem ser
criadas melhores condições de
trabalho aos funcionários judiciais,
que apresentam baixo nível
académico.
A manipulação dos concursos
públicos por agentes do partido no
poder também foi denunciado ao
nosso jornal pelo conhecido jurista
Geraldo Almeida, o qual apresentou
factos concretos de que ele próprio
foi vítima, como o episódio de um
concurso para assessoria à Direção
Geral de Silvicultura e Pecuária,
concurso meramente curricular que
ganhou. “Até me mandaram um e-
mail manifestando o seu apreço por
ter ganho o concurso. Mas, decorrido
algum tempo, quando quis saber
quando é que entrava no exercício de
funções, qual não foi o meu espanto
ao ser informado que tinham
recebido instruções superiores para
não me adjudicarem o trabalho”.
é um homem de uma inteligência
serena, um humanista”, disse o
professor.
Ouvimos igualmente a grande
escritora e intelectual, Ondina
Ferreira, ex-ministra da Cultura
que, de forma frontal, nos disse que
o “PAICV tem de ir para a
oposição”, porque é bom para a
qualidade da democracia. Também
no domínio da cultura, a entrevista
a Abraão Vicente foi “pedrada no
charco” pantanoso desta sociedade
hipócrita; e, para rematar, Tito Paris
- um dos maiores embaixadores da
música cabo-verdiana -, sem papas
na língua, denunciou: “Fui muito
prejudicado pelo PAICV”.
Internacional
Facto importante que afetou a
imagem internacional de Cabo
Verde foi a divulgação, no website
do australiano Julian Assange, de
que a Administração Obama
desconfiava dos dirigentes
tambarinas. A secretária de Estado,
Hillary Clinton (que chegou a
visitar o Arquipélago e
efusivamente recebida por JMN),
deu ordens expressas para os vigiar.
Tráfico de droga e ligações aos
cartéis sul-americanos,
vulnerabilidade do sistema de
telecomunicações, corrupção,
direitos humanos, saúde, segurança
alimentar, atividades da banca,
lavagem de dinheiro e fluxos
migratórios, foram aspetos que
levaram Washington a desconfiar
de José Maria Neves, uma
inconfidência internacionalmente
feita nos ficheiros diplomáticos
norte-americanos e que deitou por
terra a mentira do bom
relacionamento do governo do
PAICV com o “amigo dos States”.
Também com base nos mesmos
ficheiros, ficámos a saber que Cabo
Verde fora utilizado como arma de
pressão do primeiro ministro
italiano, Silvio Berlusconi, para
calar Bono Vox, o vocalista dos
U 2, que criticava o executivo
transalpino de mostrar pouco
interesse em perdoar as dívidas aos
países mais pobres. Respondendo a
estas denúncias feitas na Wikileaks,
que mancham a imagem de Cabo
verde, José Maria Neves optou por
criticar o “mensageiro” que
destapou estes factos
comprometedores…
De Lisboa, o professor Marcelo
Rebelo de Sousa, comentador e
professor de Direito, veio à Praia
ajudar a criar a Associação de
Juízes dos PALOP, visando a
independência dos magistrados. E
aproveitou para dar uma entrevista
ao Já, relevando o caráter do seu
antigo colega de universidade e
atual líder do MpD: “Carlos Veiga

nota$ solta$
A crise da dívida pública
Europa treme e Cabo Verde
no fio da navalha
O mundo mudou muito nos últimos anos devido à incontinência orçamental, à inflexibilidade económica e aos excessos financeiros também do setor privado.
Vivemos o chamado momento Minsky. A nossa perceção de espaços políticos também
A
Europa, que era espaço geo-
político consolidado, referen-
cial de estabilidade, é hoje
zona em convulsão económica e, con-
sequentemente, política. Existe eleva-
do grau de incerteza a nível mundial,
marcado pela degradação das finanças
públicas e efeitos pro-cíclicos desen-
cadeados pela disciplina orçamental e
pela reestruturação da dívida soberana.
A economia mundial só deve crescer
4,8% em 2010 e 4,2% em 2011, com
riscos descendentes. Na Europa, o
crescimento deve atingir, na melhor
das hipóteses, níveis dos 1.7 % e 1.5%,
em 2010 e 2011, respetivamente. A
África Subsariana cresce nos 5%, em
2010, e 5.5% em 2011, uma das pou-
cas exceções.
A crise de crescimento, orçamental e
de dívida pública, colocou o mercado
financeiro perante grande choque. É
preciso cuidado com os pequenos cus-
tos, porque uma pequena fenda afunda
grandes barcos, parafraseando Benja-
mim Franklin. Há países na Europa a
financiarem-se a taxas de 7%, 10%,
12%, como Portugal, Irlanda e Grécia,
respetivamente - valores impensáveis
há alguns meses.
Cabo Verde está metido, pelo grau de
abertura da sua economia, pela fraca
competitividade e produtividade na-
cional e desequilíbrios orçamentais
evidentes, neste grande imbróglio. Só
a falta de informação ou o desconheci-
mento da realidade permite afirmar o
contrário. O último relatório do BCV
foi inequívoco, pecando por ter vindo
a público (as conclusões) com atraso
de, sensivelmente, um ano.
As receitas do turismo cresceram
pouco em 2009. Apenas 3%, depois de
terem caído cerca de 20% em 2009.
Deve descer de 18% do PIB em 2009
2009
Receitas do Turismo% PIB 18
IDE % do PIB 8 6,2
Fonte: BCV
Valor atualizado líquido da dívida
externa % PIB
Fonte: BCV
para situar-se nos 16.8% em 2011. O
IDE retrai, depois de quebras acentu-
adas em 2008 e 2009, assim como as
remessas dos emigrantes. O IDE deve
baixar de 8% do PIB, em 2009, para
5.6%, em 2011, segundo as melhores
previsões do BCV.
A dívida externa atinge 55% do PIB,
quando a dívida pública é de 100% da
riqueza nacional, se incluirmos a dívi-
da contingente. Prevê-se forte deterio-
ração das contas externas, em 2011. O
valor atual da dívida externa, que é o
que realmente interessa, aproxima-se
dos 50% do PIB, atingindo o “thresh-
old de risco” moderado.
Um grande “buraco”
Cabo Verde está metido num grande
buraco orçamental: défice orçamental
previsto de cerca de 15% do PIB para
2010; o Governador do BCV confir-
mou a derrapagem das contas públi-
cas, alimentando um nível de endivi-
damento a roçar os 100% da riqueza
nacional. Nem consideramos todas as
dívidas contingentes, nomeadamente
as responsabilidades com as bolsas
empréstimos no montante já de 10
milhões de contos e com as promoções
e progressões dos funcionários. Nem
incluímos o endividamento dos muni-
cípios, que já atinge 3 milhões de con-
tos, cerca de 20% do PIB, com poten-
2010 2011
Previsão
17,8 16,8
5,6
2007 2008 2009 2010
30,5 29,1 29,4 44,25
cial de crescimento anual na ordem
dos 2%, nem as responsabilidades do
Estado com os direitos adquiridos rel-
ativos às progressões e promoções dos
funcionários públicos, nem as respon-
sabilidades do Estado com encargos
com as despesas de saúde e segurança
social, nem as dívidas contingentes
junto das empresas públicas,
nomeadamente a Electra e os TACV,
da ordem já dos 13% do PIB. Seria
exercício interessante, a ser realizado
pelo BCV, informar todos da ver-
dadeira situação fiscal do País.
Atingimos os limites da insustentabili-
dade orçamental. O ritmo de endivida-
mento não pode continuar, a ajuda
pública tende a diminuir, há mais paí-
ses a competir pela atração do In-
vestimento Direto Estrangeiro e o
acesso ao financiamento está mais di-
fícil e mais caro.
O buraco orçamental cabo-verdiano é,
economicamente, conjuntural e estru-
tural. Trata-se de problema de finan-
ciamento: devemos muito dinheiro ao
exterior. Necessitamos que o exterior
continue a financiar-nos para que Cabo
Verde continue a crescer e a prosperar.
Precisamos de estratégia de saída da
atual política orçamental, de política
orçamental fortemente expansionista
para política orçamental equilibrada e
orientada para o crescimento económi-
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 13
co. A questão é: como? Este deveria com a União Europeia, com as oportu-
ser um dos grandes debates para o nidades que podem resultar do desen-
ciclo eleitoral que não pode ser trans- volvimento das nossas relações com
formado em quem dá mais, quem outros espaços, em particular África e
promete mais. os Países da CPLP, os EUA, a América
do Sul e a Ásia.
É preciso mudar de vida Centro de serviços internacionais,
A questão essencial é: quem é capaz de nomeadamente na área financeira,
fazer melhor? Como fazer crescer a indústria ligeira, energia e ambiente,
economia, como gerar empregos, turismo e turismo residencial, ciência e
como incentivar exportações, como indústria da saúde, tecnologias de
melhorar o sistema de informação e comuni-
ensino e formação Precisamos de cação e zonas francas
profissional, como estratégia de saída da comerciais e culturais,
unificar o mercado são pilares que podem
atual política
interno e ligá-lo com o estruturar a economia
mundo e como alterar a orçamental, de política cabo-verdiana. Uma
trajetória da política orçamental economia multi-espe-
orçamental? Não há cializada. Uma econo-
respostas fáceis e sim-
fortemente mia que, pelo menos
ples, mas é para isso expansionista para em determinados
que os Governos exis- política orçamental setores, deve ser
tem. “economia de nicho”,
Com tecido empresari- equilibrada e orientada que atue pela di-
al composto essencial- para o crescimento ferença, seja pela valo-
mente por micro e
PME, mercado interno
económico. A questão rização dos produtos e
serviços de alta quali-
pequeno que tem esgo- é: como? Este deveria dade, seja pela inova-
tada a capacidade de ser um dos grandes ção na distribuição e
crescimento, em espe- criação permanente de
cial quando se perspeti- debates para o ciclo novos produtos e de
va quebra nos con- eleitoral que não pode produtos competitivos.
sumos público e priva-
ser transformado em Os serviços que presta-
mos têm de ter reco-
do, não resta alternativa
às empresas nacionais quem dá mais, quem nhecimento internacio-
que não virarem-se promete mais nal, assim como as
para os mercados exter- nossas empresas, os
nos. Para tal, é necessário que estejam nossos produtos e as nossas marcas.
dotadas de boa capacidade competitiva Uma economia de serviços, a chamada
para terem sucesso além-fronteiras. economia de triplo Tê, é, claramente,
Necessitamos de visão consequente uma economia do conhecimento e do
para o desenvolvimento da economia, capital social de altíssimo nível. Uma
uma aliança estratégica, conjugando, a economia de EXCELÊNCIA. É
diversos níveis, os desafios e vanta- empreitada que exige, acima de tudo,
gens decorrentes da parceria especial estratégia e liderança.
14 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
coisas do mundo
Portugal entre a crise e o desalento
Desemprego
dispara
Até 2013 o desemprego vai continuar a aumentar. As medidas do governo parecem não surtir
efeito, a economia não responde… O espetro da crise colou-se aos portugueses como ferrete,
ao mesmo tempo que, na sombra, o FMI espreita
M
ais de 600 mil desempre-
gados, o número mais ele-
vado assinalado em 30
anos. É assim que Portugal vai entrar
em 2011 e, segundo especialistas, este
número vai disparar ainda mais, tendo
em conta os fracos sinais de recuper-
ação da economia (0,3 % de aumento
do PIB durante o primeiro trimestre
deste ano, comparativamente a 2009).
Sinal de preocupação que apenas pa-
rece não incomodar o Primeiro Mi-
nistro, José Sócrates, que apresentou o
aumento do PIB como “sinais claros
de recuperação da economia”…
Desacreditado, agastado por divergên-
cias internas (no partido e no Go-
verno), Sócrates já não é levado a sério
pelos portugueses e é mesmo motivo
de chacota entre os parceiros da União
Europeia. 2011 será, para o amigo de
José Maria Neves, um ano terrível
onde tentará jogar tudo e, previsivel-
mente, tudo perderá.
Os dados do desemprego, agora torna-
dos públicos, resultaram de um estudo
efetuado pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE), onde se revela que,
no que respeita ao primeiro trimestre
de 2010, houve agravamento compar-
ativamente ao ano anterior. O desem-
prego disparou dos 9,8 para os 10,9 %.
Mas é de admitir a possibilidade de
Portugal entrar em 2011 com o preo-
cupante número de 15 %, ou de 11,2 –
segundo as perspetivas mais otimistas.
Os indicadores agora apresentados
confirmam a tendência de subida do
desemprego, iniciada no segundo
trimestre de 2008, decorrente da crise
mundial, mas de igual modo, segundo receita do Estado. E a previsão de des-
economistas, “por razão do desnorte e cida abaixo dos 600 mil desemprega-
da aplicação de medidas político- dos só deve ocorrer, ainda segundo
económicas erradas” empreendidas economistas de várias sensibilidades,
em Portugal nos últimos anos. Os eco- durante 2013, mas em 2012 já se po-
nomistas têm vindo a defender como derá assinalar ligeira descida da taxa
cenário mais provável a continuação
da tendência de aumento do desem-
de desemprego.
As medidas apresentadas pelo gover-
prego, embora com subida menos no, consubstanciadas na redução de
acentuada. encargos com o desemprego, ao mes-
mo tempo que são vistas por alguns
Degradação do mercado de como “positivas” e suscetíveis de
trabalho atrair investimento estrangeiro a mé-
Mais ainda: especialistas consideram dio prazo, são liminarmente rejeitadas
que dificilmente a situação poderá ser pelos sindicatos que as consideram
invertida nos próximos tempos. Efe- lesivas dos direitos dos trabalhadores e
tivamente, tudo indica que o mercado geradoras de mais desemprego a curto
de trabalho estará congelado em 2011, e médio prazos.
acrescido do facto de o número de pes- O número de 600 mil desempregados,
soas com emprego di- ora avançado, pode, no
minuir por via do en- entanto, ser bastante
A degradação do superior. Isto, se tiver-
cerramento de mais
empresas e da extinção mercado de trabalho, mos em conta parte
de postos de trabalho com a drástica redução significativa do merca-
em outras. No entanto, da oferta, arrasta do onde proliferam os
a tendência será no sen- “recibos verdes” e
tido do estancamento
inevitavelmente a cujos trabalhadores
do desemprego, com li- precariedade do não são considerados
geiras subidas não emprego e o recurso à estatisticamente nem
significativas, mas com
a agravante de, parale-
economia informal têm direito a subsídio
de desemprego.
lamente, não se registar Sob o espetro da pos-
nenhuma subida na criação de em- sibilidade de intervenção do FMI e a
prego. inevitável degradação da crise social
A degradação do mercado de trabalho, e do crescendo de contestação às
com a drástica redução da oferta, ar- medidas impopulares gizadas pelo
rastará inevitavelmente a precariedade governo e o principal partido da
do emprego e o recurso à economia in- oposição, Portugal entrará em 2011
formal que abalará ainda mais a débil sem razões para olhar o futuro com
contabilidade das contas públicas e a esperança.
Angola em alta
Reconstrução e
desenvolvimento
geram confiança
Após dezoito anos de guerra civil, Angola parece agora
respirar os ares do progresso e do desenvolvimento.
A retomada de um troço de ligação ferroviária é símbolo de
confiança e otimismo
A reposição da ligação ferroviária
entre Luanda, Kuanza Norte e
Malange, retomada no início da
estão equipadas ao nível das mais
modernas estações do mundo, “com
área administrativa, restaurante,
semana, suscita uma onda de otimis- posto médico, oficinas, residências
mo e confiança, simbolizando para os para os funcionários, área de contro-
angolanos a confirmação da via de lo de linhas e salas para passageiros
desenvolvimento e progresso que, com capacidade para 500 pessoas”.
nos últimos anos, tem colocado Estabelecida como prioridade para o
Angola como potência económica plano governamental de dinamização
emergente do continente africano. da economia interna, a reposição de
Dezoito anos depois todos os troços inati-
de ter sido encerrada, Dezoito anos depois de vados visa ampliar a
por razão da guerra capacidade angolana
civil que opôs o ter sido encerrada, a no transporte de pas-
MPLA à UNITA e di- retomada da ligação sageiros e mercado-
vidiu a sociedade an- ferroviária é, agora, um rias, e constitui parte
golana ao meio, a re-
tomada da ligação fer-
símbolo da unidade referencial da oferta
turística. Carruagens
roviária é, agora, sím- nacional modernas e confortá-
bolo da unidade na- veis poderão ser meio
cional e do consenso que parece exis- de transporte de excelência para o
tir, entre as várias fações políticas, no usufruto do deslumbrante património
que respeita às necessidades de inter- natural e paisagístico de Angola.
nacionalização da economia, de con- Nos últimos cinco anos, Angola tem
solidação do crescimento dos últimos
anos e criação de melhores condições
vindo a fazer esforço assinalável para
resolver as necessidades de um país
de vida para um povo que, ultrapas- fragilizado por quase duas décadas
sado o espetro da guerra, olha para o de guerra civil, com escassez de qua-
futuro com esperança e otimismo. dros e pesada dívida externa. Mas, ao
Os convidados da viagem inaugural contrário de há uma década, o país
tiveram ocasião de visitar várias conta hoje com grande capital de
estações, reconstruídas no âmbito de confiança internacional e é visto co-
um plano mais geral de reabilitação mo uma das economias mundiais
das estruturas destruídas durante a com mais acentuado nível de cresci-
guerra e que, conforme se pôde ver, mento.
 Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 15

polichinelo Aviso à navegação:

polichinelo é sátira e xuxadera. Aqui não se respeita ninguém: são ditas as coisas sem recato. É o reino da má-língua, pura
e dura. A quem tenha temores e pudores, um conselho: não leia. Quem goste de rumores e tenha bons humores, leia, leia!

Pedrinhas
Polichinelo ficou de olhos esbugalhadas
(jura mesmo) quando, numa noite destas,
viu um camião carregado de pedras
enveredar pela rua principal da Prainha e,
de súbito, estacionar ali, diante de famosa
moradia com cor de iterícia. Polichinelo
primeiro pensou que a viatura tomava
balanço para se lançar sobre as lombas
que obrigam a reduzir a velocidade da
circulação. Depois, notou que, da carlinga,
saltaram dois homens que começaram a
inclinar uma vascula para despejar carga
de pedra na berma da estrada:
!?!
!!
- Que é lá isso?, perguntou-lhes
Polichinelo. Então não sabem que quem
tonelada de primeiras pedras! Dúvida
imediata: o senhor dito cujo, tão cedo para
kasu-bodi
mora aqui é gente fina e não fica bem ali se mudou e já está em obras de
porem-lhe tanta pedra à porta?! ampliação? Que não, por certo não seria,
“Para suprimir o
- Talvez tenha razão, responderam a congeminou Polichinelo. Querem ver? desemprego no seio da
Polichinelo. Mas a verdade é que este “Primeiras pedras?”. “Ka pode”, gritou juventude, os jovens têm
carregamento é encomenda feita daqui. Polichinelo, “a lei já não lhe permite andar
Compete-nos deixar a carga a quem a a atirar primeiras pedras?”. “A lei?”, de ser empreendedores e
encomendou. responderam os descarregadores. “Onde é sonhadores. As bases
E, dito isto, sacaram da carteira fatura que já se viu esse senhor preocupar-se para a sustentabilidade
comprovativa. Lá estava, escarrapachado, com a lei? A lei é para os cabo-verdianos.
o nome do encomendador – esse mesmo, Para esse senhor, ah-ah-ah”. E desataram à dessa política de
sem tirar nem pôr. E o descritivo: uma gargalhada. desenvolvimento já
foram criadas pelo
Governo chefiado por
JMN. Só falta a

Partidinhas
Neves não desarma. Assaltado pelo desespero, o primeiro-ministro não hesita em espezinhar a
determinação e o
empenho dos jovens.”
Janira Hopffer Almada,
lei, em rasgar disposições legais, em cuspir sobre os regulamentos, desde que desconfie que isso
in “A Semana”
ainda lhe possa render mais uns apoiozinhos. Por isso, toca de mandar ministros obedientes, que
a tudo se prestam, a fazer inaugurações, apesar de todos saberem que, neste período, tal lhes está
Polichinelo: Eu já andava
interdito. E mesmo que essas inaugurações ainda chamem mais as atenções para a desgraça que
foi o seu governo. Um exemplo: inaugurar extensões da rede elétrica apenas recorda os apagões desconfiado. A esperta da
com os quais, durante anos, cansaram Cabo Verde. Mas o aperto é tanto, que nem dá para ele Janira é que esclareceu tudo
pensar. E, se é verdade que, nos últimos dias, os apagões parecem ter levado sumiço (está-se – a culpa é dos jovens! Do Zé
mesmo a ver que, em vésperas de campanha, já não falta dinheiro para comprar combustível Maria é que nunca!
para a Electra), não menos verdade é que falar agora em eletricidade leva a lembrar os apagões Explicação tambarina: os
que se querem esquecer. Todavia, a tonteira é tanta que já há quem acredite que se, apesar dos jovens é que são os culpados
cuidados especiais em curso, houver algum apagão na Praia ele vai, a correr, inaugurá-lo. do desemprego juvenil

Prendinhas
boka bedjo Aquele senhor de lon-
gas barbas brancas,
barrete vermelho na
cabeça (que só se dis-

A inauguração... ...do apagão. tingue do de Kumba

Ialá, porque tem borla
branca na ponta), ca-
Para provar o grande sacão e calças igualmente vermelhas e botas altas, andou de saco-
desenvolvimento que o país tem la às costas por diversas residências da cidade da Praia. Noite de
tido, aqui estamos muita azáfama, que Polichinelo espreitou. E viu:
• colocar no sapatinho de certo senhor, que habita em vivenda
de novo para mais uma amarela na Prainha, uma embalagem de comprimidos de fósforo,
inauguração!... para que a sua memória se lembre de como obteve o prémio de
uma moradia, com mobiliário e tudo; e uma lupa para que ele
consiga finalmente ler o Código Eleitoral;
• colocar à porta da sede de um partido, no Platô, um alambique
como prenda para certo secretário geral (recurso necessário
porque não foi posto sapatinho na chaminé e também porque o
dito não acredita no Pai Natal);
• colocar no sapatinho de certo senhor que mora na Prainha,
mesmo defronte de muito conhecido restaurante, uma emba-
lagem de comprimidos para as dores de estômago para o ajudar
1º Ministro a curar a digestão da candidatura de certo engenheiro a vaga num
famoso palacete no Platô;
• colocar em certo apartamento de Chã d’Areia um enorme leque
para que figura muito controversa, oriunda do Fogo, possa
aliviar-se, abanando-se, dos rubores e orelhas vermelhas devido
aos impropérios que lhe chegam dos Estados Unidos, mandados
por camaradas muito mal dispostos.
16 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010
em jogo
Futebol africano 2010
Um ano para ficar na história
A
bem-sucedida organização do
evento gerou um bem-vindo
impulso para a imagem da
África perante a comunidade global. An-
tes do Mundial, jamais os africanos fala-
ram com tanto carinho do seu continente,
que agora se orgulha de ter demonstrado
capacidade e competência necessárias
para sediar a competição. Para a África
do Sul, o torneio representou chance de
mudar as perceções e de receber o mun-
do como poucos países fizeram antes.
Do ponto de vista puramente futebolísti-
co, porém, a África permanece numa
encruzilhada: ao mesmo tempo em que
ameaça seguir evoluindo para se tornar
uma força mundial, corre o risco de dar
um passo atrás. Com seis representantes
classificados para a Copa do Mundo da
FIFA pela primeira vez, o continente te-
ve oportunidades mais sólidas de triun-
far na edição deste ano. Os resultados
dentro de campo foram variados, em-
bora promissores. O FIFA.com faz uma
retrospetiva de 2010 no futebol africano.
Vitórias dramáticas
O Egito sofreu uma derrota amarga no
jogo-desempate contra a Argélia e aca-
bou de fora do África do Sul 2010, mas
o ano testemunhou a consagração con-
tinental dos "faraós", que conquistaram
a Copa Africana de Nações pela tercei-
ra vez consecutiva. A marca inédita foi
alcançada no mês de Janeiro em Ango-
la. Na competição mais prestigiada da
África, a seleção egípcia não se abalou
com a pressão da concorrência e regis-
tou seis vitórias em seis jogos.
O outro finalista da Copa Africana foi a
seleção do Gana, treinada pelo sérvio
Milovan Rajevac. Embora desfalcada, a
equipa contou com o talento da geração
que venceu a Copa do Mundo Sub-20 da
FIFA, em 2009, e com a regularidade do
avançado Asamoah Gyan. País africano
mais bem-sucedido no Mundial, Gana
surpreendeu a Sérvia na estreia com um
penalty convertido pelo atacante no final
da partida. Nos mata-mata, contou com
um golaço de Gyan no final do prolonga-
mento contra os Estados Unidos para se
apurar para os quartos de final, igualan-
do o recorde de camaroneses (1990) e
senegaleses (2002).
Embora a África do Sul tenha se torna-
do o primeiro país-sede a não passar da
fase de grupos de uma edição da Copa
do Mundo da FIFA, os Bafana Bafana
despediram-se bem da sua torcida, ar-
rancando uma vitória por 2 a 1 à ex-
campeã mundial, França, na animada
Bloemfontein. A eliminação no saldo
de golos não diminuiu o orgulho da na-
ção nem a festiva presença das vuvuze-
las na sequência do torneio.
Já a Copa do Mundo de Clubes da
FIFA foi a única competição em que a
África jogou de igual para igual com o
resto do planeta: após uma série de re-
sultados frustrantes para o continente, o
TP Mazembe tornou-se na primeira
equipa fora da Europa ou da América
do Sul a chegar à final do torneio. A
equipa da República Democrática do
Congo derrotou os brasileiros do Inter-
nacional por 2 a 0 na semi-final.
O capitão de Camarões Samuel Eto’o
viveu uma Copa do Mundo da FIFA
decepcionante com o seu país, que ter-
minou na lanterna do Grupo E sem so-
mar nenhum ponto. No entanto, as
atuações do craque com a poderosa In-
ter de Milão foram suficientes para lhe
render o prémio de Jogador do Ano da
África pela quarta vez, marca jamais
igualada por nenhum outro atleta.
Astros em ascensão
O atacante egípcio Mohamed "Gedo"
Nagui foi a grande revelação da Copa
Africana de Nações, em Angola. Ele
havia apontado apenas um golo com a
camisa da seleção anteriormente, mas
marcou cinco tentos em cinco jogos
iniciados no banco, entre eles o da vitó-
ria por 1 a 0, aos 40 minutos do segun-
do tempo, na final contra Gana.
O ganês Asamoah Gyan possivelmen-
te vai lembrar-se de 2010 como o me-
lhor ano da sua carreira. Depois de assi-
nalar três golos na Copa Africana de
Nações, dois deles decisivos para vitó-
rias do seu país, o jogador de 25 anos
chegou à Copa do Mundo da FIFA
questionado quanto à capacidade de li-
derar o ataque da seleção. Mas, na au-
sência do talismã e capitão Michael Es-
sien, Gyan foi a inspiração de Gana, as-
sinando três golos e personificando a
confiança da equipa.
Gyan jogou ao lado de diversos talen-
tos promissores na seleção ganesa, com
destaque para os meio-campistas An-
dré Ayew e Kwadwo Asamoah, de 21
e 22 anos, respetivamente. Ayew, que é
filho do ídolo Abedi Pelé, foi um dos fi-
nalistas do Prémio Melhor Jogador Jo-
vem Hyundai na África do Sul 2010,
enquanto Asamoah foi premiado como
Os últimos 12
meses marcaram o
ano da África no
planeta bola, com a
primeira Copa do
Mundo da FIFA
disputada no
continente.
A edição de 2010
foi grande festa do
futebol e as dúvidas
que cercavam a
realização do
torneio não se
justificaram
revelação do ano pela Confederação
Africana de Futebol.
Momentos marcantes
Tshabalala comanda a festa
O golo de Siphiwe Tshabalala contra o
México foi o primeiro da Copa do Mun-
do da FIFA2010 e abriu a campanha sul-
africana em grande estilo. Parecia que o
golaço ajudaria os anfitriões a saírem
vivos de um grupo complicado, mas
apesar de terem caído na primeira fase, o
lance deixou um clima de triunfo no ar.
Gyan converte um penalty
Três semanas depois do golo de Tsha-
balala, o Estádio Soccer City testemu-
nhou outro momento para ficar na his-
tória. Pouco depois de perder um pe-
nalty no último minuto do prolonga-
mento contra o Uruguai — o que aca-
bou impedindo Gana de se tornar o pri-
meiro país africano a chegar à semifi-
nal de uma Copa do Mundo da FIFA —
Gyan acertou a primeira cobrança na
disputa de penalidades. Embora os "es-
trelas negras" tenham sido eliminados,
o atacante deu à África uma demonst-
ração de coragem e protagonizou uma
lembrança inesquecível.
Já com a Fifa.com

olhem para elas
Sensibilidade
dentária
Zarina Santos
Graduanda em Odontologia
P
ara quem sofra de sensibili-
dade dental, podem haver algu-
mas dificuldades durante esta
quadra. “Deixa ver se me faço enten-
der”: refrigerante gelado, sopa quenti-
nha, cerveja gelada, sobremesa ou até
mesmo um chá para a digestão, não te-
rão sido as melhores opções…
Quando postos na boca devem ter sen-
tido aquele “arrepio”, acompanhado
da tal dorzinha que de “inha” não tem
nada.
Se ao ler isto, fez cara feia e levou a
mão a boca, “recordar é viver”: con-
sidere-se um dos muitos que sofrem
deste problema.
Causas
A sensibilidade dentária afeta um
grande número de pessoas e é desen-
cadeada por bebidas e alimentos
quentes, frios, doces ou ácidos. Em
condições normais, a dentina (camada
interna que envolve o nervo) é coberta
pelo esmalte da coroa e a gengiva ao
redor do dente. Alguns fatores podem
levar ao desgaste do esmalte ou à
retração da gengiva, o que provoca a
exposição da dentina, composta por
grande número de poros e túbulos que
vão da face externa do dente até à
A sensibilidade dentária afeta
um grande número de
pessoas e é desencadeada por
bebidas e alimentos quentes,
frios, doces ou ácidos
polpa, no centro. Estes podem ser
estimulados por mudanças de tempe-
ratura ou por certos alimentos, provo-
cando dor.
A exposição pode ser causada pela
retração gengival devido à idade ou
escovação inadequada; alimentos e
bebidas ácidas (como laranja e refri-
gerantes) que causam a erosão do
esmalte; bruxismo, que na verdade, faz
com que todos ou a maior parte dos
dentes tornem-se sensíveis; escovação
com creme dental muito abrasivo,
escovação incorreta e/ou escovação
em um número de vezes maior do que
três; gengivite, que pode causar
retração gengival; cárie e dente lasca-
do ou fraturado.
Tratamento
O primeiro passo é descobrir a “causa”,
obviamente com a ajuda de um den-
tista. Se a sensibilidade for causada por
cárie, pode-se restaurar o dente.
Contudo, se a causa for a exposição da
dentina, o tratamento para a redução
da sensibilidade requer vários procedi-
mentos tanto em consultório como em
casa.
No consultório:
Aplicação de verniz de flúor nas áreas
expostas para ajudar a mineralizar o
esmalte e a dentina; aplicação de
espuma ou gel de flúor, por meio de
moldes bucais, durante 3 a 5 minutos,
proporcionando alta concentração de
flúor para ajudar as áreas sensíveis;
aplicação de agente fixador (material
usado para fixar restaurações) para
impermeabilizar a superfície da denti-
na contra os estímulos que causam a
sensibilidade.
Em casa:
Use uma escova de cerdas muito
macias, com creme dental pouco abra-
sivo; escove corretamente, mas não
em demasia; use creme dental espe-
cialmente formulado para ajudar a sen-
sibilidade dentária; use creme dental
com alta concentração de flúor
(receitado pelo dentista) para ajudar a
fortalecer a superfície do dente e evitar
alimentos e bebidas ácidas.
Cada caso é um caso. Portanto, entre
as várias opções de tratamento é o den-
tista quem irá escolher o melhor para o
seu caso, nunca tente se “auto-diag-
nosticar” pois a dor pode ser um sinal
de algo mais sério.
Mitos e realidade
A perda de dentes não faz parte do
processo de envelhecimento natural.
Com cuidados adequados, eles podem
permanecer por toda a vida. As
doenças gengivais são as principais
causas de perdas dentárias.
12 conselhos úteis para eliminar e
combater o stress!
Final de ano, é tempo de rever a vida,
pensar no que eliminar e no que cultivar.
Embora o stress seja resposta natural a
desafios, fazendo com que a nossa vida não
seja tão entediante, é quase sempre
desnecessário e não facilmente eliminável.
1. Identificar as fontes de stress. Pare para
pensar 5 ou 10 minutos sobre as coisas que
tornam os seus dias e as suas semanas mais
stressantes. Quais são as pessoas, as
atividades, as tarefas ou as coisas que
considera serem a raiz de todo o seu stress.
Elabore uma lista do top 10 e veja o que
pode ser eliminado de imediato.
2. Elimine obrigações desnecessárias. Pese
em cada uma, individualmente, a quantidade
de stress que produz versus o valor que
retira de cada uma. Seja radical e faça o que
tiver de fazer para eliminar aquelas que lhe
proporcionam mais stress do que prazer.
3. Procrastinação. Deixar para amanhã
aquilo que pode ser feito hoje – todos
fazemos isto! Só que, ao deixar que os
afazeres da sua vida se amontoem, também
gera stress. Desenvolva o hábito de “fazer
agora” ou “tratar imediatamente” e
mantenha tudo sob controlo e em dia.
4. Desorganização. Todos temos uma
pontinha de desorganização dentro de nós. E
a desorganização também é stressante –
visualmente, é horrível e impede-nos de
encontrar as coisas que necessitamos, pior
ainda! Reserve um tempinho para se
organizar: comece com o escritório e os mil
e um papéis que lá abundam, passando
progressivamente para as restantes divisões
da casa.
5. Atrasado. Estar atrasado stressa qualquer
um. Temos de correr para nos arranjarmos,
correr para chegar ao sítio aonde já
devíamos estar e stressamos durante todo o
processo por estar atrasado e pelo mal
que… isso vai parecer! Aprenda a chegar
Guloseimaspara o final do ano
Bombom brigadeiro
com castanha
Ingredientes:
Bombom:
2 colheres (de sopa) de margarina
1 colher (de chá) de conhaque
Elimine o stress
de 2010 e entre
ZEN em 2011
cedo, faça disso um hábito novo e vai ver
como se livra desse maldito stress!
Cronometre o tempo que demora a arranjar-
se, sair de casa e chegar ao emprego, por
exemplo… se calhar até é mais rápido do
que pensa, não? Uma vez familiarizado com
os seus “tempos”, basta começar 10 minutos
mais cedo, para chegar a todo o lado com 10
minutos de antecedência, nas calmas e sem
stress… é uma sensação fantástica!
6. Controlador. Embora gostássemos de
ser, não somos o “Mestre do Universo”.
Tentar controlar tudo e todos não funciona,
mas tentamos fazer isso e quando
verificamos que, de facto, não gera
resultados, os nossos níveis de ansiedade
sobem em flecha. É importante aprender a
deixar as coisas fluírem naturalmente,
respeitar a forma como as outras pessoas
fazem as coisas, aceitar o desfecho das
diferentes situações que povoam a nossa
existência. A única coisa que você realmente
pode controlar é você próprio – aperfeiçoe
isso antes de tentar controlar o resto do
mundo. Para além disso, procure distanciar-
se das suas tarefas e aprenda a delegar.
7. Múltiplas tarefas. Executar, em
simultâneo, múltiplas tarefas pode parecer
produtivo, mas na realidade torna-nos mais
lentos na medida em que não conseguimos
concentrarmo-nos o suficiente numa só
tarefa para poder conclui-la. Entretanto,
ficamos stressados. Faça apenas uma coisa
de cada vez.
8. Elimine os “suga-energias”. Se já parou
para analisar a sua vida (passo 1) e
identificou as suas maiores fontes de stress,
provavelmente também descobriu algumas
coisas que lhe sugam a sua preciosa energia.
Saiba quais são e faça um delete
permanente.
9. Evite as pessoas difíceis. Sabe
exatamente quem são. Sim, diretores,
colegas de trabalho, clientes, vizinhos, até
alguns amigos e familiares – aquelas
100 gramas de castanha moída
1 lata de leite condensado
Uvas passas para decorar
Margarina para untar
Para banhar:
400 gramas de chocolate branco
Modo de preparar:
Levar todos os ingredientes do bombom
ao fogo, exceto as passas.
Mexer sem parar, até desprender do
fundo da panela. Transferir para um
prato raso e deixar esfriar.
Enquanto isso, derreter o chocolate em
banho-maria. Com a mão levemente
untada com margarina, formar bolinhas
e reservar. Com a ajuda de um garfo,
banhar os bombons no chocolate e
colocar sobre uma folha de papel-
manteiga. Antes de secar, colocar uma
passa em cima. Depois de seco,
transferir para forminhas.
Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 17
pessoas que tornam a sua vida mais
complicada. Por outro lado, pode sempre
confrontá-los e discutir as desavenças, mas
isso seria ainda mais stressante. O mais fácil
é simplesmente (e na medida do possível)
cortar relações.
10. Ajude os outros. Pode parecer
contraditório acrescentar mais tarefas a uma
vida já por si muito ocupada, mas se puder
adicionar alguma coisa, então deve ser isto:
ajudar outras pessoas – seja através do
voluntariado numa instituição de
solidariedade social ou simplesmente ser
simpático e afável para com as pessoas da
sua vida, conhecidos e desconhecidos – vai
trazer-lhe não só sensações de bem-estar,
mas contribuir para a redução dos seus
níveis de stress.
11. Exercício físico. No que toca a aliviar
stress, esta dica é do senso comum
porque… funciona! Para além de aliviar,
praticar exercício físico também é excelente
maneira de prevenir contra o stress, uma vez
que lhe proporciona algum tempo de
qualidade sozinho, perfeito para relaxar,
para contemplar, para esquecer e, ainda por
cima, para se manter em forma! As pessoas
que estão em forma têm maior capacidade
para lidar com o stress. O reverso também é
verdade: o facto de não estar em forma ou
de viver uma vida pouco saudável pode ser,
em si, uma fonte de stress.
12. Alimentação saudável. Obviamente. De
mãos dadas com o exercício físico, também
a alimentação saudável e equilibrada é
excelente forma de expulsar o stress,
evitando que ele volte a aparecer. A velha
máxima “nós somos o que comemos” nunca
foi tão verdade!
13. Ambiente zen. Trabalhar e viver em
ambientes simples, organizados, limpos e
tranquilos, ao invés de cenários caóticos e
repletos de distrações desagradáveis, é mais
uma fórmula eficaz para a existência livre
de stress.
Biscoitinhos de Mel
Ingredientes:
1 colher (de sopa) de fermento em pó
1 colher (café) de canela em pó
1 colher (café) de cravo em pó
1 colher (café) de noz moscada
4 colher (sopa) de margarina
3/4 chícara (chá) de açúcar
1/2 chícara (chá) de mel
farinha até o ponto, ou seja, até que a
massa fique firme sem grudar nas mãos
(aproximadamente 600 gramas)
2 ovos
Modo de preparar:
Abrir a massa fina e recortar os biscoitos,
usando forminhas próprias ou
simplesmente cortar em quadradinhos.
Passar gema de ovo por cima e decorar
com confeitos coloridos ou prateados.
Assar em forno médio, em forma untada e
polvilhada com farinha de trigo.
18 • Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010

cachupada
Conto infantil

Horóscopo De 3 a 9 de Janeiro

Carneiro Leão Sagitário

21-3 a 20-4
Carta Dominante: o Carro, que significa
Sucesso.
Amor: Sentir-se-á um pouco apático. Preste
mais atenção ao que o seu coração lhe tem
transmitido, não fique indiferente.
Saúde: O seu descontentamento com a
silhueta levá-lo-á a pensar em fazer uma dieta.
Dinheiro: É importante que faça uma análise
onde destaque os seus últimos investimentos,
de modo a determinar que rumo dar à sua vida
financeira. Aja com prudência e sabedoria.
Pensamento positivo: O sucesso espera por
mim, porque eu mereço!
Números da Sorte: 15, 20, 24, 36, 45, 49
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 11
23-7 a 22-8
Carta Dominante: 5 de Ouros, que significa
Perda/ Falha.
Amor: Não se iniba de demonstrar o tamanho
do seu amor, contudo evite ser demasiado
exigente com o seu parceiro.
Saúde: Concentre a sua atenção e energia na
cura de um problema de saúde.
Dinheiro: O laço que mantém com o seu
actual emprego vai fazer com que tenha de
fazer uma escolha difícil.
Pensamento positivo: Aprendo com os meus
erros.
Números da Sorte: 5, 15, 26, 29, 38, 39
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 15
21-11 a 20-12
Carta Dominante: 6 de Paus, que significa
Ganho.
Amor: Não crie barreiras entre si e um amigo
muito querido. Um pequeno desentendimento
poderá fazer com que ponha em risco uma
amizade de longa data.
Saúde: Deve consultar o seu médico de modo
a aconselhá-lo sobre as melhores formas de
prevenir uma alergia.
Dinheiro: Um colega de trabalho pode
dificultar-lhe a vida ao falar com o seu chefe,
no sentido de ficar com uma tarefa que lhe
tinha sido atribuída a si.
Pensamento positivo: Ganho o respeito e a
admiração dos outros através da minha
honestidade.
Números da Sorte: 5, 6, 18, 22, 31, 34

Mia,
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 19

Touro Virgem Capricórnio

21-4 a 21-5
Carta Dominante: Rei de Paus, que significa
Força, Coragem e Justiça.
Amor: Corte com as coisas do passado.
Alimentar paixões antigas só vai fazer com
que se sinta nostálgico e deprimido.
Saúde: Cuidado com o stress.
Dinheiro: Tenha atenção ao seu trabalho, pois
23-8 a 22-9
Carta Dominante: A Imperatriz, que significa
Realização
Amor: Passará momentos muito felizes junto
da sua família. Aproveite para passear e fazer
programas diferentes e divertidos.
Saúde: É possível que uma corrente de ar lhe
provoque uma constipação.
21-12 a 19-1
Carta Dominante: Cavaleiro de Espadas, que
significa Guerreiro, Cuidado.
a baleia do Bairro Manguí - XX
Amor: Procure entender os actos da sua cara-
metade. Lembre-se que nem todas as pessoas
são iguais e que deve aceitar a pessoa amada
tal como ela é.
Saúde: Evite comer alimentos demasiado
A
tro.
polícia avançou ao encontro dos amiguinhos, mandou parar a batucada
do cortejo e dirigiu-se ao Nixon, que era o maior e mais velho dos qua-

é possível que alguém procure desfazer aquilo
que lhe levou tanto tempo a conseguir.
Pensamento positivo: Eu procuro ser justo e
correcto para com todos os que me rodeiam.
Números da Sorte: 01, 04, 13, 24, 28, 29
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 12
Gémeos
21-5 a 20-6
Carta Dominante: 3 de Copas, que significa
Conclusão.
Amor: Alguns contratempos podem pôr em
causa o seu relacionamento amoroso.
Mantenha a calma e não permita que
comentários de pessoas maldosas e invejosas
prejudiquem a sua relação.
Saúde: É possível que tenha alguns problemas
circulatórios.
Dinheiro: Esteja consciente das suas
capacidades e lute por conseguir atingir os
seus objectivos.
Pensamento positivo: Com determinação
consigo concretizar os meus objectivos.
Números da Sorte: 05, 09, 17, 20, 39, 49
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 13
Caranguejo
21-6 a 22-7
Carta Dominante: Valete de Copas, que
significa Lealdade, Reflexão.
Amor: Um acontecimento inesperado fará
com que se sinta muito querido e desejado
pelos seus amigos.
Saúde: Seja mais consciencioso e não coma
em demasia pois, para além de engordar, pode
correr o risco de sofrer de colesterol e
problemas cardiovasculares.
Dinheiro: Durante este período poderá andar
mais nervoso do que o habitual, pois terá uma
certa dificuldade em cumprir os seus
compromissos. Contudo poderá ver a sua
situação melhorar.
Pensamento positivo: Sou leal às minhas
convicções!
Números da Sorte: 10, 20, 24, 27, 29, 36
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 14
Dinheiro: Grandes oportunidades esperam por
si. Saiba aproveitá-las!
Pensamento positivo: Eu sei que consigo
realizar os meus projectos, acredito em mim!
Números da Sorte: 17, 18, 19, 26, 29, 38
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 16
Balança
23-9 a 22-10
Carta Dominante: 5 de Espadas, que
significa Avareza.
Amor: Andará um pouco frio e distante.
Saúde: Sentirá muita vitalidade. Aproveite
para se inscrever numa modalidade desportiva.
Dinheiro: O seu poder de iniciativa vai ser
notado pelo seu superior hierárquico que o
saberá recompensar da melhor forma.
Pensamento positivo: Sorrio mais vezes e
dessa forma a minha vida é mais rica.
Números da Sorte: 4, 9, 15, 19, 36, 48
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 17
Escorpião
23-10 a 21-11
Carta Dominante: 7 de Paus, que significa
Discussão, Negociação Difícil.
Amor: Poderá voltar a sentir-se apaixonado.
Saúde: A sua família poderá requisitar tanto a
sua presença que irá sentir-se esgotado e sem
energia. Apoie os seus entes queridos mas
pense também um pouco mais no seu bem-
estar.
Dinheiro: Período muito favorecido, contudo
não coloque em risco a sua estabilidade
financeira.
Pensamento positivo: Com respeito e
sabedoria superam-se todas as diferenças.
Números da Sorte: 25, 31, 32, 39, 42, 43
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 18
pesados pois a tendência é para digestões
difíceis.
Dinheiro: Período favorável a iniciar um
curso de formação profissional. Vá em frente,
aposte em si mesmo.
Pensamento positivo: Tenho cuidado com o
que digo e com o que faço para não magoar as
pessoas que amo.
Números da Sorte: 08, 19, 22, 26, 31, 39
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 20
Aquário
20-1 a 18-2
Carta Dominante: O Louco, que significa
Excentricidade.
Amor: Tenha cuidado para não magoar o seu
par numa discussão insignificante e sem
fundamento.
Saúde: Tendência para a depressão, combata-a
tendo pensamentos mais optimistas.
Dinheiro: Poderá ter dificuldade em fazer-se
ouvir numa importante reunião de negócios.
Não desista perante as dificuldades.
Pensamento positivo: Eu acredito nos meus
sonhos!
Números da Sorte: 07, 22, 23, 28, 33, 39
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 21
Peixes
19-2 a 20-3
Carta Dominante: 2 de Paus, que significa
Perda de Oportunidades
Amor: Um amigo muito querido pode
precisar da sua ajuda. Esteja disponível e seja
um bom ouvinte.
Saúde: Poderá notar algum cansaço fora do
vulgar.
Dinheiro: Período muito favorável no sector
financeiro. Invista nesta área.
Pensamento positivo: Acredito em mim, sei
que sou capaz!
Números da Sorte: 08, 09, 20, 24, 26, 33
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 22
- Que é isto, rapaz? Quem mandou vocês para a rua com esses cartazes? Não
sabem que é proibido manifestação? Muito menos contra polícia e gover-
nador?
- Sr. Polícia porque é que não se pode falar de liberdade? Sim, sim, sim,
porque não se pode?! – gritaram todos.
- Se fazem mais perguntas levo tudo pra esquadra.
- Vamos, vamos, leva a gente, que nós queremos ver o avô Irondino – respon-
deram os meninos em coro.
- Ora vamos lá a saber quem são os vossos pais. Tu, fala. Tu, fala.
Mas os meninos sabiam que não deviam envolver os pais naquilo porque seria
muito perigoso e, por isso, calaram-se. Mas os senhores polícias rasgaram os
cartazes, e agarraram nos meninos e levaram-nos para a esquadra! Aí foram
mesmo obrigados a falar, porque foram ameaçados com porrada e com a des-
graça dos pais, mas o pior foi que não viram o avô Irondino, nem ouviram
falar dele!
Depois do susto, voltaram para casa, tristes porque a sua luta em nada tinha
resultado. No bairro Mangui, toda a gente esperava o carro da polícia que os
trouxe de volta e as mães dos nossos amiguinhos foram interrogadas pelos
polícias.
No dia seguinte, como estava próximo do Natal e das eleições para o gover-
nador, e há muito que não sabiam o que era ter prendas de Natal, os quatro
juntaram-se com outros meninos do bairro à espera da carrinha da dis-
tribuição que, nestas alturas, percorria as ruas do bairro com bolsas de plásti-
co com óleo, arroz, farinha, sal, chocolates, drops e outras coisas para dar aos
mais pobres, mas só aqueles que garantissem votar no Sr. Governador. A car-
rinha chegou ao fim da tarde e lá fez a distribuição, mas desta vez as casas
dos pais do Nixon, do Juninho, da Iva e da Nádi não foram contempladas com
prenda! Nem os meninos tiveram drops e chocolates! Porque seria?
Na noite de Natal, ficaram todos a olhar uns para os outros e foi a mãe do
Juninho quem abriu a boca e disse: Não há nada por causa da vossa brin-
cadeira dos cartazes e da mania da liberdade.
- Mas isso não é justo. – disse Juninho. Só queríamos libertar o avô Irondino.
O Nixon e a mãe dele disseram que vivemos naquela democracia.
- Isso é o que dizem, mas agora todos somos inimigos do Governador e ainda
há-de vir por aí pior.
- Avé Maria! Ka pode ser! – exclamou Juninho. Mãe, vai ser sempre assim
aqui no bairro?
- Espero bem que não, meu filho. Mesti Muda, sim!
José Braga-Amaral
 Já • Sexta-feira 31 Dezembro 2010 • 19

cachupada
Telenovelas PALAVRAS CRUZADAS
RECORD • Ribeirão do Tempo
Horizontais:
1 – Remuneram; Verbal.
2 – Agarrara-se com gavinhas; Aguce.
3 – Combatera; Tal.
4 – Aniversário; Extraordinário.
5 – Nome da décima sétima letra do alfabeto
grego; Um cento; As.
6 – Recipiente de louça ou de metal em que se leva
a sopa para a mesa.
7 – Composição poética; “Ouvido” (pref.); Aqui.
8 – Leito de dormir; Carregador.
9 – Erva-doce; Humor viscoso que se forma nos
pontos lacrimais.
10 – “Radio detection and ranging” (abrev.);
Mérito.
Joca promete muito amor a Arminda 11 – Estação climática da Suíça; Falara em público.

C lorís mostra o jornal a Tito, Newton e Filomena. Todos ficam perplexos.

Visivelmente perturbado, Tito vai se arrumar no quarto. Teixeira mostra a notí-
cia à Arminda, que fica furiosa. Tito relembra de momentos íntimos que viveu com
Verticais:
1 – Tirar a pele a; Esvaziara.
Karina e Filomena entra no quarto. Filomena pergunta a Tito se ele ainda é apaixon-
2 – Aprendiz; Tornar hidrófobo.
ado por Karina. Tito tenta convencer Filomena de que não sente mais nada por Karina,
mas ela não acredita no marido. Bruno diz a Teixeira que não confia em Nicolau.
3 – Mamífero carnívoro da família dos Felídeos;
Joca comemora a notícia. Léia diz ao filho que é contra a sua paixão pela empresária. Assustador.
Joca diz que vai provar que as suas suspeitas em relação a Flores são verdadeiras. Joca 4 – Lavras; Planos laterais do avião.
liga a Arminda e diz que está cheio de amor para lhe dar. Ela agradece e fica pensati- 5 – Abismo; Jogo de cartas, semelhante ao da
va. Diana faz um trabalho no computador com a televisão ligada e ouvindo música, paciência; “Rádio” (s.q.).
quando Arminda entra. Arminda desliga o som e comenta sobre o trabalho de Diana, 6 – Cingir fortemente.
ORARA.
que logo pergunta como ela está em relação à manchete do jornal. Arminda diz a 7 – Siga; Voz do gato; Eternidade.
9 – ANIS; REMELA. 10 – RADAR; VALOR. 11 – AROSA;
Diana que Nicolau fez isso para se vingar, porque sabia que ela iria terminar o noiva- 8 – Tornar balofo; Estimar. 6 – TERRINA. 7 – ODE; OTO; CA. 8 – CAMA; A; AMAL.
do. Confiante da sua vitória nas urnas, Querêncio comemora no bar. Joca chega ao bar 9 – Espécie de alfange muito utilizado pelos indí- 3 –LUTARA; ATAL. 4 – ANOS; P; RARO. 5 – RO; CEM; NAS.
e oferece uma rodada a todos para celebrar. genas na África; Adoça com mel. Horizontais: 1 – PAGAM; VOCAL. 2 – ELARA; APARE.
Léia, um pouco insegura, resolve ligar a Flores e diz que precisa conversar pessoal- 10 – Ave trepadora, semelhante ao papagaio;
mente com ele. Léia chega à casa de Flores. Tito diz a Clorís que ficou chateado ao Temperatura elevada.
Soluções:
saber que sua ex-noiva está com o seu inimigo. Filomena diz a Newton que quer saltar 11 – Malucos; Fizera subir.
de pára-quedas a fim de provar o seu amor por Tito e ganhá-lo de vez. Newton fica
pasmo com a determinação de Filó. Léia conta a Flores que Joca desconfia de que foi
ele o responsável pelo atentado que quase matou o detetive.
Flores finge estar chocado com a notícia. Ele a faz prometer que vai espionar Joca e
ela concorda. Léia diz a Joca que terminou o seu relacionamento com o professor.
Nicolau e Karina chegam de carro em Ribeirão e circundam a praça acenando a todos.
Boa Mesa Farmácias
de serviço
As pessoas olham curiosas.
Cosmos
Praia
SIC • Passione
Deslumbramento e bom gosto 31/12 – Farmácia Santo
António
01/01 – Farmácia
Africana
02/01 – Farmácia Avenida
03/01 – Farmácia Santa
Isabel
04/01 – Farmácia
Universal
05/01 – Farmácia 2000
N o interior de Santiago, a Assomada
recebe-nos prazenteira entre pre-
gões de rabidantes e texturas cromáticas
o apetite dos comensais -, a simpatia das
empregadas, esse sorriso bonito das
crioulas, traz-nos de enfiada oferta rica
06/01 – Farmácia
Moderna
que se estendem pela rua do mercado, da gastronomia local.
07/01 – Farmácia Central
Diana simula não gostar mais de Mauro convidando à compra. As entradas apresentam-se generosas e
É difícil não dar com ele, porque é o fartas, numa conjugação de sabores e co-
D iana simula estar confusa quanto aos seus sentimentos por Mauro. Melina faz
perguntas sobre Diana a Laura e finge estar preocupada com o seu desapareci-
mento. Mauro vai embora arrasado e Diana fica desesperada com a situação. Berilo
maior edifício da Assomada, ali, mesmo
a seguir ao renovado Cine Club. O “Cen-
res: os legumes, as frutas, o queijo de ca-
bra…; ou a gulosa linguiça estaladiça da
S. Vicente
volta a interessar-se por Agostina. Mimi e Jéssica hospedam-se num hotel ao ver tro Comercial Cosmos”, subindo a esta- fritura recente. E que dizer da grelhada 31/12 – Farmácia Jovem
chegar a Laurenza. Clô fica preocupada com o desânimo de Olavo e convida fante escadaria – os sacrifícios que se fa- de peixes? Divina! E do guisado de ca- 01/01 – Farmácia
Gemma, Alfredo e Dino para jantarem em sua casa. zem pelo “pecado da gula”… – que nos brito? Supremo. Mindelo
Totó fica sensibilizado ao ver que Clara arrumou a sua casa e cozinhou para ele antes eleva ao topo do prédio, abre-nos as por- Das sobremesas, retemos na memória a
de sair para o trabalho. Olga avisa Diogo para não se apaixonar por Clara. Diana tas ao restaurante do mesmo nome. calda de manga com o mesmo queijo das 02/01 – Farmácia
pede demissão e Laura fica inconformada. Fred exige saber o que Melina fez contra entradas. E a carta de vinhos, sendo curta, Avenida
O Cosmos abraça-nos mesmo no topo,
Diana. Gerson leva Fátima para passear e ela convence Felícia a ir com eles.
oferecendo-nos deslumbrante visão da oferece-nos néctares das melhores pro- 03/01 – Farmácia Leão
Berilo continua vendo Jéssica ao olhar para Agostina. Mimi descobre através de
Francesca que Agostina e Berilo estão a morar na sua antiga casa. Berilo fica confu- cidade até à lonjura dos seus limites bei- veniências. E o preço médio da refeição
04/01 – Farmácia Nena
so ao ver a verdadeira Jéssica na sua sala. Olavo se surpreende ao descobrir que jados pelos montes que cercam a As- anda à volta dos mil e poucos escudos.
somada e o recorte vívido da urbe. Ir ao Cosmos é uma viagem, que vale a 05/01 – Farmácia Higiene
Gemma e Fortunato se conhecem. Sinval e Lorena exigem que Stela saia de casa se
escolher ficar com Agnello. Felícia chega a casa com Gerson e Fátima e fica cons- Depois do impacto da paisagem – que pena, pelos saberes e sabores de Santa 06/01 – Farmácia Jovem
trangida ao encontrar Totó. Bete acusa Fred de ter assassinado Saulo. pressentimos ser um “truque” para abrir Catarina.
 Já SEMANÁRIO GRATUITO

bai-bai
Sexta-feira 31 Dezembro 2010
Escreva-nos:
semanarioja@gmail.com

Norberto
Tavares
o cantor da liberdade
Foi sempre um artista comprometido. Entusiasta da independência, militante ativo pela democracia, homem de
seu tempo e de seu povo. Deixou-nos um dia depois do Natal, mas continua “por aí”, desafiando tiranos e
tiranetes, armado com a viola e a voz livre

E stávamos no início do século XXI, corria o ano de 2003,

quando rebenta a polémica: Norberto Tavares anuncia
não mais lançar nenhuma obra discográfica. O gesto é
forma de protesto contra os “corvos” que dominavam a
produção musical cabo-verdiana. O músico, cantor e compositor
junta a sua voz a outro nome grande da música crioula: “O Paulino
[Vieira] é homem muito corajoso e está a batalhar por uma causa
muito justa à qual eu também me sinto comprometido”.
Entre a música e o compromisso, foi assim que o santiaguense de
Santa Catarina, de seu nome Norberto Tavares, sempre regeu sua
vida, sempre abraçou o mundo e sempre – quando outros se escon-
diam por detrás dos biombos da cobardia e do oportunismo – tomou
posição.
Homem do seu tempo – como sói dizer-se -, Norberto desde cedo
percebeu que o seu papel no Mundo estava talhado a ser diferente da
comodidade fácil dos fúteis, dos submissos e dos cínicos.
Nascido a 6 de Junho de 1956, na então Assomada colonial, tem
como pai o extraordinário músico Aristides Tavares, tocador de vio-
lino e de outros instrumentos de corda. Órfão prematuro aos 9 anos,
o pequeno Norberto, seguindo “estranho impulso hereditário”
aprende, de moto próprio, a tocar acordeão, teclados e guitarra,
incentivado pelo pároco local que põe à sua guarda o órgão da igre-
ja – seu primeiro palco. E, ainda adolescente, ganha nome e créditos
de artista, abrindo-se-lhe as portas do Mundo e o apelo ancestral da
diáspora cabo-verdiana.
Nos anos 70, sob o jugo colonial, quando andava no ar, segura mas
não datada, a liberdade da Pátria, ruma a Lisboa de viola a tiracolo e
mergulha na onda da música, compondo funaná e batuko que havia
aprendido na distante Assomada. Em 1975, surge o primeiro disco
com a banda Black Power que, entretanto, fundara em Lisboa com
outros músicos cabo-verdianos.
Os alvores da democracia em Portugal vive-os intensamente, percor-
rendo as ruas de Lisboa na mole humana que “gritava ódio apenas
ao vazio”; como entusiasta, assiste à independência de Cabo Verde.
Suas letras perpassam essas generosas ideias de liberdade que, aliás,
o marcaram pela vida e o fazem rumar à América, placa giratória dos
cantos da distante África e das músicas de todo o Mundo.
A voz, a viola, a pena ágil, utiliza-as Norberto para ter seu povo perto
do coração e como armas de intervenção política, de denúncia das
Entre a música injustiças sociais em Cabo Verde. E, 17 anos depois de ter deixado a
Pátria amada, regressa para integrar as multidões que, num misto de
e o compromisso, foi assim esperança e revolta incontida, percorrem as ruas clamando por liber-
que sempre regeu sua vida, dade e democracia. Em cada palco, Norberto Tavares, crioulo de
Santa Catarina, puxa pela corrente de mudança com a música e a
sempre abraçou o mundo verve certeira, influenciando o resultado eleitoral que abriu o País ao
e sempre – quando outros fim da ditadura do partido único e da celerada perseguição das vozes
discordantes.
se escondiam por detrás Norberto era assim, onde houvesse uma luta justa para travar, dizia:
presente; quando o sofrimento se encostava a um “irmão”, se entre-
dos biombos da cobardia gava todo: solidário; quando o seu povo clamava por justiça, subia
e do oportunismo – tomou ao primeiro palanque e emprestava a sua arte para o servir!
Deixou-nos dia 26 de Dezembro, em New Bedford, depois de travar
posição sua última luta pela vida – e adquiriu a imortalidade, porque os artis-
tas e os combatentes da liberdade não se apagam da memória do
povo e deixam seu nome inscrito nas páginas da História.
Norberto Tavares? Presente!