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DIREITO CIVIL

A RESPONSABILIDADE
CIVIL DO ESTADO POR
CONDUTA OMISSIVA
João Agnaldo Donizeti Gandini
Diana Paola da Silva Salomão

RESUMO

Afirma que a doutrina e a jurisprudência brasileiras ainda não se pacificaram acerca da natureza da responsabilidade civil do Estado por conduta
omissiva. A divergência gira em torno do questionamento sobre a revogação tácita, ou derrogação, do art. 15 do Código Civil de 1916 (art. 43 do novo
Código Civil), frente ao art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988.
Examina dois posicionamentos: um defende a natureza subjetiva da responsabilidade do Estado por conduta omissiva, com base legal no art. 15 do
antigo Código Civil, restando, portanto, como de natureza objetiva apenas a responsabilidade por condutas comissivas. O outro defende a teoria da
responsabilidade objetiva tanto para a conduta comissiva como para a omissiva, aplicando-se, para ambos, a norma do art. 37, § 6º, da Constituição
Federal. Atualmente essa divergência alcança o Poder Judiciário e causa um entrave no curso dos processos, em razão das discussões sobre qual a
natureza jurídica da responsabilidade do Estado por condutas omissivas que geraram danos.
Por fim, traça algumas considerações sobre a responsabilidade civil privada e geral, uma vez que a responsabilidade do Estado é responsabilidade
civil, à qual são aplicados, todavia, princípios peculiares.

PALAVRAS-CHAVE
Omissão; conduta; novo Código Civil; responsabilidade civil – Estado; Constituição Federal; Código de Defesa do Consumidor.

R. CEJ, Brasília, n. 23, p. 45-59, out./dez. 2003 45


1 A RESPONSABILIDADE CIVIL Foram surgindo certos princí- conceito atual, uma vez que seu sig-
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA pios gerais, e a responsabilidade ci- nificado original seria a posição da-

N
vil evoluiu sob o prisma de seu fun- quele que não executou o seu dever2,
os primórdios da civilização, damento, baseando-se o dever de re- ou, ainda, a idéia de fazer com que
a responsabilidade civil funda- parar o dano não somente quando se atribua a alguém, em razão da prá-
va-se na vingança coletiva, houvesse culpa, esta denominada tica de determinado comportamento,
caracterizada pela reação conjunta do “responsabilidade subjetiva”, como um dever3. Juridicamente relevante
grupo contra o agressor, pela ofensa também pela teoria do risco, passan- seria a responsabilidade imposta
a um de seus componentes. O insti- do aquela a ser objetiva, sob a idéia àquele que, com sua conduta comis-
tuto evoluiu para uma reação indivi- de que todo risco deve ser garanti- siva ou omissiva, violou bem juridi-
dual, ou seja, passou da vingança do, independente da existência de camente protegido, gerando para ele
coletiva para a privada, onde os ho- culpa ou dolo do agente causador do uma sanção.
mens faziam justiça pelas próprias dano. Como bem salientou Serpa
mãos, fundamentados na Lei de A respeito, temos os comentá- Lopes: A violação de um direito gera
Talião, conhecida até hoje pela ex- rios de Carlos Roberto Gonçalves: A a responsabilidade em relação ao que
pressão “olho por olho, dente por den- responsabilidade objetiva funda-se a perpetrou. Todo ato executado ou
te”. O poder público, nesse caso, in- num princípio de eqüidade, existente omitido em desobediência a uma nor-
tervinha apenas para ditar “como” e desde o Direito Romano: aquele que ma jurídica, contendo um preceito de
“quando” a vítima poderia ter o direi- lucra com a situação deve responder proibição ou de ordem, representa
to de retaliação, ensejando no pelo risco ou pelas desvantagens dela uma injúria privada ou uma injúria
lesante dano idêntico ao que foi pro- resultantes – ubi emolumentm, ibi pública, conforme a natureza dos in-
duzido. onus; ubi commoda, ibi incommoda: teresses afetados, se individuais ou
No antigo Direito romano, pre- Quem aufere os cômodos (ou lucros), coletivos 4.
valeceu a noção básica do delito, no deve suportar os incômodos (ou ris- A responsabilidade se apre-
qual a vingança privada tornou-se o cos)1. senta sob vários aspectos, sendo ela
fator genético pairado sob a idéia pre- Quanto à indenização, impera de natureza civil, penal ou adminis-
dominante de responsabilidade, não o princípio da responsabilidade trativa. Este estudo se concentra na
se distanciando, com isso, das civili- patrimonial, ou seja, o lesante respon- responsabilidade civil.
zações que o precederam. de com o seu patrimônio pelos pre-
Numa segunda etapa, surgiu a juízos causados a terceiros. Deverá 1.3 CONCEITO DE
idéia da composição voluntária, pre- haver plena e total reparação dos di- RESPONSABILIDADE CIVIL
valecendo o entendimento de que reitos do lesado (restitutio in integrum),
seria mais racional a reparação do até onde suportarem as forças do A responsabilidade civil pode
dano por meio da prestação da poena patrimônio do devedor, ensejando ser conceituada sob um novo enfo-
e outros bens (pagamento de certa uma compensação pelo prejuízo so- que, observado pelo jurista Francis-
quantia em dinheiro, do que cobrar a frido. co Amaral: A expressão responsabi-
pena de Talião. Após essa fase, sur- No Direito brasileiro existiram lidade civil pode compreender-se em
giu a da composição legal, em que o três fases distintas. Na primeira, as sentido amplo e em sentido estrito.
ofensor era punido pelo Estado de Ordenações do Reino sustentavam- Em sentido amplo, tanto significa a
modo muito tímido, como a ruptura se no Direito romano, aplicando-o situação jurídica em que alguém se
de um membro, a fratura de um osso, como subsidiário do Direito pátrio, encontra de ter de indenizar outrem
ofensas ordinárias como violências devido à chamada “Lei da Boa Ra- quanto a própria obrigação decorren-
leves, bofetadas, golpes etc. zão” (Lei de 18 de agosto de 1769). te dessa situação, ou, ainda, o insti-
A evolução do tema só ocor- A segunda fase concentrou-se no tuto jurídico formado pelo conjunto de
reu com a introdução, nos conceitos Código Criminal de 1830, que pro- normas e princípios que disciplinam
jus-romanísticos, da Lex Aquilia de manou com a idéia de “satisfação”, o nascimento, conteúdo e cumprimen-
Damno, que promanou dos tempos ou seja, o ressarcimento do dano, to de tal obrigação. Em sentido estri-
da República e sedimentou a idéia de usado até hoje. Já a terceira fase dis- to, designa o específico dever de in-
reparação pecuniária, em razão do tinguiu a responsabilidade civil da denizar nascido do fato lesivo impu-
valor da res. penal, concentrando a satisfação do tável a determinada pessoa5.
Com relação à culpa, há algu- prejuízo decorrente do delito na legis- A amplitude do conceito de
mas controvérsias entre os autores a lação civil. responsabilidade civil revela dificul-
respeito de suas origens. De um lado, dades em se ater numa só definição,
sustentam que a idéia de culpa era 1.2 CONCEITO DE porque a doutrina tende a unir os con-
estranha à Lei Aquilia; de outro, afir- RESPONSABILIDADE ceitos técnicos e a realidade concre-
mam que esta lei não a negava, de- ta da obrigação de reparar os danos,
fendendo sua presença como elemen- O vocábulo “responsabilidade” independentemente de serem identi-
tar na responsabilidade civil (In Lege originou-se do verbo latino respondere, ficadas à causalidade, à teoria sub-
Aquilia et levissima culpa venit). ou seja, o fato de alguém se constituir jetiva ou à objetiva.
A teoria da responsabilidade se garantidor de algo. Por sua vez, tal O campo da responsabilidade
concretizou por intermédio da doutri- verbo latino teve raízes na palavra civil é amplo, pois não se trata de ins-
na, principalmente a desenvolvida spondeo, também de origem latina, tituto jurídico exclusivo do Direito Ci-
pelos juristas franceses Domat e fórmula pela qual se vinculava, no vil, e está bem inserido no corpo da
Pothier, responsáveis pelo princípio Direito romano, o devedor nos con- Teoria Geral do Direito, daí sofrer na-
da responsabilidade civil e que influ- tratos verbais. turais adaptações conforme aplicado
enciou quase todas as legislações A origem da palavra “respon- no Direito Público ou Privado, porém
fundadas na culpa. sabilidade” não nos auxilia no seu sempre mantendo a sua unidade jurí-

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dica6. Há quem sustente, ainda, ser
a responsabilidade civil parte integran-
te do Direito obrigacional, pois sem-
pre visa a fazer com que o autor do O princípio que sustenta a responsabilidade civil
ato indenize a vítima pelos prejuízos contemporânea é o da restitutio in integrum, isto é, da
a ela causados.
reposição do prejudicado ao status quo ante. Nesse
1.4 FINALIDADE diapasão, a responsabilidade civil possui dupla função na
A responsabilização civil tem esfera jurídica do prejudicado: a) mantenedora da segurança
por finalidade precípua o restabe- jurídica em relação ao lesado; b) sanção civil de natureza
lecimento do equilíbrio violado pelo
dano. Por isso, há em nosso ordena- compensatória.
mento jurídico a responsabilidade ci-
vil não só abrangida pela idéia do ato
ilícito, mas pelo ressarcimento de pre-
juízos onde não se cogita da ilicitude
da ação do agente ou até da ocorrên-
cia de ato ilícito, o que se garante pela do agente. A responsabilidade está No novo Código Civil, tal regra
Teoria do Risco, haja vista a idéia de calcada no risco assumido pelo foi dividida em mais de um artigo,
reparação ser mais ampla do que lesante, em razão de sua atividade. constante na Parte Geral, Livro III, Tí-
meramente o ato ilícito. tulo III (“Dos Atos Ilícitos”), e na Par-
O princípio que sustenta a res- 1.5.1 RESPONSABILIDADE te Especial, Livro I, Título IX (“Da Res-
ponsabilidade civil contemporânea é SUBJETIVA OU TEORIA DA CULPA ponsabilidade Civil”). Na nova reda-
o da restitutio in integrum, isto é, da ção, foram modificadas e inseridas
reposição do prejudicado ao status O fato é um pressuposto mate- algumas palavras, a fim de deixar
quo ante. Nesse diapasão, a respon- rial da existência do direito, sendo um mais clara a intenção do legislador,
sabilidade civil possui dupla função fenômeno perceptível, que resulta de além de inserir o posicionamento
na esfera jurídica do prejudicado: a) uma atividade humana ou da nature- jurisprudencial já pacífico de que ha-
mantenedora da segurança jurídica za, agindo sob o mundo exterior. verá responsabilidade por dano mo-
em relação ao lesado; b) sanção civil Os fatos podem ser naturais ou ral independente da existência cumu-
de natureza compensatória. jurídicos. O natural é um aconteci- lativa de dano material (art. 186 in
mento qualquer, abrangendo os fatos fine), bem como o abuso do direito
1.5 ESPÉCIES DE dependentes e não-dependentes da como ato ilícito (art. 187) e o conceito
RESPONSABILIDADE CIVIL conduta humana, ou seja, com a par- de responsabilidade objetiva (pará-
ticipação ou não do homem para sua grafo único do art. 927):
A responsabilidade civil apre- ocorrência. O fato jurídico é o aconte- Art. 186. Aquele que, por ação
senta-se sob várias espécies, confor- cimento que marca o começo ou o ou omissão voluntária, negligência ou
me a perspectiva analisada. São elas: término de relações jurídicas, possi- imprudência, violar direito e causar
Quanto ao seu fato gerador, bilitando a conservação, modificação dano a outrem, ainda que exclusiva-
poderá ser: responsabilidade contra- ou extinção de direitos. mente moral, comete ato ilícito.
tual: proveniente de conduta violadora Os fatos humanos, também Art. 187. Também comete ato
de norma contratual; ou responsabili- chamados de “atos jurídicos”, são con- ilícito o titular de um direito que, ao
dade extracontratual ou aquiliana: re- ceituados como sendo todo compor- exercê-lo, excede manifestamente os
sultante da violação de um dever ge- tamento apto a gerar efeitos jurídicos. limites impostos pelo seu fim econô-
ral de abstenção, de respeito aos di- Dentre eles, há o ato jurídico lícito, ou, mico ou social, pela boa-fé ou pelos
reitos alheios legalmente previstos. simplesmente, ato lícito, e os atos ju- bons costumes.
Quanto ao agente, poderá ser: rídicos ilícitos ou atos ilícitos. Art. 927. Aquele que, por ato
responsabilidade direta: proveniente O ato lícito é causa geradora ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
de ato do próprio responsável; ou res- de obrigação, como o contrato e a outrem, fica obrigado a repará-lo.
ponsabilidade indireta: provém de ato declaração unilateral de vontade. O Parágrafo único. Haverá obriga-
de terceiro, vinculado ao agente ou ato ilícito, em princípio, pressupõe ção de reparar o dano, independen-
de fato de animal ou coisa inanimada culpa lato sensu do agente, ou seja, temente de culpa, nos casos especi-
sob sua guarda. a intenção do agente de prejudicar ficados em lei, ou quando a ativida-
Quanto ao seu fundamento, outrem, a violação de um direito, o de normalmente desenvolvida pelo
poderá ser: prejuízo causado por negligência, autor do dano implicar, por sua natu-
Responsabilidade subjetiva: imprudência ou imperícia. reza, risco para os direitos de outrem.
presente sempre o pressuposto cul- O Código Civil de 1916, em seu A imputabilidade da conduta do
pa ou dolo. Portanto, para sua carac- art. 159, asseverava que: Todo aque- agente, em face do citado art. 159 do
terização devem coexistir os seguin- le que, por ação ou omissão voluntá- antigo Código Civil e art. 186 c/c. 927,
tes elementos: a conduta, o dano, a ria, negligência ou imprudência, vio- caput, do novo Código, sobressalta
culpa e o nexo de causalidade entre lar direito ou causar prejuízo a outrem, como elemento subjetivo do ato ilíci-
a conduta e o dano. fica obrigado a reparar o dano. A ve- to. Da mesma forma, se o ato do agen-
Responsabilidade objetiva: não rificação da culpa e a avaliação da te não for voluntário, seja por ação,
há a necessidade da prova da culpa. responsabilidade regulam-se pelo seja por omissão, ou, ainda, se o even-
Basta haver dano, conduta e nexo disposto neste Código (arts. 1.518 a to danoso é proveniente de caso for-
causal entre o prejuízo sofrido e a ação 1.532 e 1.537 a 1.553). tuito, força maior ou de outra causa de

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exclusão de responsabilidade, excluí- animal ou coisa inanimada, que cau- tes (o que a vítima efetivamente per-
da está a responsabilidade7. se dano a outrem, gerando o dever deu) e os lucros cessantes (o que a
Como podemos observar, no de satisfazer os direitos do lesado8. vítima razoavelmente deixou de ga-
Direito brasileiro a responsabilidade Sílvio Rodrigues, por outro nhar), conforme normatizado no art.
civil comum não se desvencilhou do lado, somente considera como pres- 1.059 do antigo Código Civil, referen-
princípio fundamental da culpa, pois suposto da responsabilidade a ocor- dado no art. 402 do novo Código. Já
o art. 159 do antigo Código Civil, bem rência de um ato ilícito9, diferentemen- o dano moral corresponde à lesão de
como art. 186 c/c. 927, caput, do novo te de Maria Helena Diniz, que abarca bens imateriais, denominados “bens
Código, disciplinam que a vítima que em seu conceito também os atos líci- da personalidade” (ex.: honra, ima-
sofreu um dano tem direito a sua re- tos. Para aquele autor, seria pressu- gem etc.).
paração, e, portanto, o ofensor tem o posto a ação ou omissão do agente, O dano também pode ser re-
dever de repará-lo. O dever de repa- que decorre sempre de uma atitude, flexo ou em ricochete, correspon-
ração só prosperará se a culpa for quer ativa, quer passiva, e que vai dendo ao fato de uma pessoa sofrer,
extraída da conduta danosa. causar dano a terceiro. A atitude ati- por reflexo, um dano, primariamente
Do exposto, sobressaem os va consiste em geral no ato doloso causado a outrem, como por exem-
seguintes elementos da responsabi- ou imprudente, enquanto a passiva, plo, separanda que deixa de receber
lidade civil subjetiva: 1) a conduta; 2) via de regra, se retrata através da pensão alimentícia em razão da
o dano; 3) a culpa; e 4) o nexo de negligência. (...) A omissão só ocorre superveniente incapacidade física do
causalidade entre a conduta e o dano. quando o agente, tendo o dever de ex-marido, esta decorrente de ato ilí-
agir de determinada maneira, deixa cito praticado por terceira pessoa11.
1.5.2 RESPONSABILIDADE OBJETIVA de fazê-lo10.
OU TEORIA DO RISCO Portanto, a conduta seria um 1.6.3 NEXO DE CAUSALIDADE
comportamento humano, comissivo
A regra geral é a responsabili- ou omissivo, voluntário e imputável. O nexo de causalidade consis-
dade civil aquiliana ou subjetiva. Po- Por ser uma atitude humana, exclui te na relação de causa e efeito entre
rém, nossa legislação, com finalida- os eventos da natureza; voluntário no a conduta praticada pelo agente e o
de protetiva, criou certas exceções, sentido de ser controlável pela von- dano suportado pela vítima.
aplicando em determinados casos a tade do agente, quando de sua con- Nem sempre é tarefa fácil bus-
responsabilidade objetiva. duta, excluindo-se, aí, os atos incons- car a origem do dano, visto que po-
Esta, por sua vez, elimina de cientes ou sob coação absoluta; im- dem surgir várias causas, denomina-
seu conceito o elemento “culpa”, ou putável por poder ser-lhe atribuída a das “concausas”, concomitantes ou
seja, haverá responsabilidade pela prática do ato, possuindo o agente sucessivas. Quando as concausas são
reparação do dano quando presentes discernimento e vontade e sendo li- simultâneas ou concomitantes , a ques-
a conduta, o dano e o nexo de causa- vre para determinar-se. tão resolve-se com a regra do art. 1.518
lidade entre estes. do antigo Código Civil, regra também
A evolução provocada pela teo- 1.6.2 DANO presente no novo Código, em seu art.
ria objetiva deu-se pelo fato da facili- 942, que estipula a responsabilidade
tação da ação da vítima em concreto O dano representa uma cir- solidária de todos aqueles concorren-
na reparação do dano, gerando aos cunstância elementar ou essencial da tes para o resultado danoso.
infratores a obrigação de indenizar responsabilidade civil, presente em Porém, diante da problemática
por acidentes provenientes de suas ambas as teorias anteriormente cita- a respeito das concausas sucessivas,
atividades, em detrimento da teoria das. Configura-se quando há lesão, surgiram três teorias a respeito:
subjetiva, para a qual o agente preci- sofrida pelo ofendido, em seu conjun- Teoria da equivalência das con-
sa salientar a culpa dentro da idéia to de valores protegidos pelo direito, dições ou dos antecedentes ou
de desvio de conduta. relacionando-se a sua própria pessoa conditio sine qua non: com várias cir-
A prova acaba sendo de difícil (moral ou física) aos seus bens e di- cunstâncias que poderiam ter causa-
constatação, criando grandes óbices reitos. Porém, não é qualquer dano do o prejuízo, qualquer delas poderá
à vítima, que quase sempre acabava passível de ressarcimento, mas sim ser considerada a causa eficiente, ou
arcando com os respectivos ônus. o dano injusto, contra ius, afastando- seja, se suprimida alguma delas, o
Com a técnica da presunção de cul- se daí o dano autorizado pelo direito. resultado danoso não teria ocorrido.
pa, impõe-se a inversão do ônus da Para o dano ser passível de Exemplo: se uma pessoa é atropela-
prova, em razão da condição menos indenização, há a necessidade de da, a causa pode ser a imperícia do
favorável da vítima. apuração de alguns requisitos: atua- condutor, mas também a constituição
lidade, certeza e subsistência. O débil da vítima, a natureza do pavi-
1.6 ELEMENTOS DA dano atual é aquele que efetivamen- mento sobre o qual esta foi projeta-
RESPONSABILIDADE CIVIL te já ocorreu. O certo é aquele funda- da, a demora de seu transporte para
1.6.1 CONDUTA do em um fato certo, e não o calcado o hospital, a falta de meios adequa-
em hipóteses. A subsistência consiste dos para o seu tratamento etc. Essa
A responsabilidade civil, tanto em dizer que não será ressarcível o teoria, se aplicada de forma isolada,
objetiva como subjetiva, deverá sem- dano que já tenha sido reparado pelo leva a resultados absurdos, provocan-
pre conter como elemento essencial responsável. do infinitamente responsabilidades.
uma conduta. O dano poderá ser patrimonial Teoria da causalidade adequa-
Maria Helena Diniz assim a ou moral. O patrimonial afeta o da: a causa deve ser apta a produzir
conceitua: Ato humano, comissivo ou patrimônio da vítima, perdendo ou o resultado danoso, excluindo-se,
omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e deteriorando total ou parcialmente os portanto, os danos decorrentes de cir-
objetivamente imputável, do próprio bens materiais economicamente ava- cunstâncias extraordinárias, ou seja,
agente ou de terceiro, ou o fato de liáveis. Abrange os danos emergen- o efeito deve se adequar à causa.

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Teoria da causalidade imedia-
ta ou dos danos diretos e imediatos:
deve haver entre o fato e o dano uma
relação de causa e efeito direta e ime-
diata. Esta é a teoria adotada pelo Apesar de o legislador brasileiro não os definir, podemos dizer
nosso ordenamento jurídico, prevista que a culpa stricto sensu seria a violação de um dever, legal
no art. 1.060 do antigo Código Civil,
bem como no art. 403 do novo Códi- ou contratual, por imprudência, negligência ou imperícia; e o
go. Portanto, será causa do dano dolo seria a violação de tais deveres intencionalmente,
aquela que está mais próxima deste,
imediatamente (sem intervalo) e dire-
buscando o resultado que aquele ato irá causar ou, ainda,
tamente (sem intermediário)12. assumindo o risco de produzi-lo.
A culpa exclusiva da vítima, a
culpa de terceiro, o caso fortuito ou a
força maior, a cláusula de não indeni-
zar, as excludentes de ilicitude, o
estado de necessidade e a legítima
defesa retiram o nexo causal. A coin-
cidência não implica causalidade. sar prejuízos aos seus administrados, termédio de seus funcionários; por
mediante comportamentos lícitos ou isso, quando há algum ato ilícito, a
1.6.4 CULPA ilícitos, comissivos ou omissivos, re- responsabilidade recai no funcionário,
sultando-lhe a obrigação de recom- por ele ser o executor do ato; quando
A culpa, para a responsa- por tais danos. os funcionários agem fora dos parâ-
bilização civil, é tomada pelo seu vo- A responsabilidade do Estado metros legais, presume-se que não
cábulo lato sensu, abrangendo, as- obedece a um regime próprio, com- agiram como funcionários, daí a
sim, também o dolo, ou seja, todas patível com sua situação jurídica, irresponsabilidade do Estado.
as espécies de comportamentos con- pois potencialmente tem o condão de Combatiam-se tais idéias com
trários ao direito, sejam intencionais proporcionar prejuízos macroscó- os seguintes argumentos: o Estado
ou não, mas sempre imputáveis ao picos. Ademais, os administrados possui vontade autônoma, pois a teo-
causador do dano. não têm poderes para diminuir a atu- ria da ficção legal foi superada; o Es-
Apesar de o legislador brasi- ação do Estado, no âmbito de seus tado, como pessoa dotada de capa-
leiro não os definir, podemos dizer direitos individuais. cidade, incorre em culpa in eligendo e
que a culpa stricto sensu seria a vio- Para Celso Antônio Bandeira in vigilando com relação aos seus fun-
lação de um dever, legal ou contratual, de Mello, a responsabilidade do Es- cionários; o Estado é sujeito de direi-
por imprudência, negligência ou im- tado está implícita na noção do Es- tos e obrigações.
perícia; e o dolo seria a violação de tado de Direito, não havendo neces- Em fins do século XVIII, logo
tais deveres intencionalmente, bus- sidade de regra expressa para firmar- após a Revolução Francesa, em que
cando o resultado que aquele ato irá se isso, porquanto no Estado de Di- as revoltas provocaram vários danos
causar ou, ainda, assumindo o risco reito todas as pessoas, de Direito a bens particulares, surgiu a diferen-
de produzi-lo. Público ou Privado, encontram-se su- ciação entre atos de gestão e de im-
A culpa estaria presente so- jeitas à obediência das regras de seu pério, como uma técnica jurídica com
mente nas responsabilizações civis ordenamento jurídico. Dessa forma, a finalidade de minimizar os prejuí-
decorrentes de atos ilícitos, segundo presente também está o dever de zos que poderia ter de arcar o tesou-
a orientação adotada pelo Código Ci- responderem pelos comportamentos ro francês, já praticamente insolven-
vil pátrio, uma vez que as responsa- violadores do direito alheio. te. Assim, os atos de gestão seriam
bilidades provenientes de atos lícitos Hely Lopes Meireles utiliza o aqueles em que o Estado pratica
não exigem tal pressuposto. termo “responsabilidade da adminis- como se fosse um particular, quando
Francisco Amaral, reportando- tração”, pois entende que o dever de administra seu patrimônio. Os atos de
se a René Savatier, traz como pres- indenizar se impõe à Fazenda Públi- império (ou atos de mando) seriam os
supostos da culpa: a) um dever vio- ca14. que o Estado pratica no exercício do
lado (elemento objetivo); b) culpabili- poder de polícia, a ele inerente.
dade ou imputabilidade do agente 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA Ante essa diferenciação, surgiu
(elemento subjetivo). Acrescenta, ain- RESPONSABILIDADE DO ESTADO a teoria de que só pelos atos de ges-
da, que este último se desdobra em tão cabe ação indenizatória, pois não
dois elementos: a) possibilidade, para Num primeiro momento, vigia se pode questionar a soberania do
o agente, de conhecer o dever o princípio da irresponsabilidade do Estado. Por outro lado, é imprescindí-
(discernimento); b) possibilidade de Estado, na época dos Estados des- vel a ocorrência da culpa do funcioná-
observá-lo (previsibilidade e evitabi- póticos ou absolutistas. O raciocínio rio, explicitada na imprudência, negli-
lidade do ato ilícito)13. era o de que, se o Estado é o guardião gência ou imperícia, como condição
da legislação, o chefe do Executivo para responsabilização daquele.
2. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO não atentaria contra essa mesma or- Posteriormente, houve o surgi-
ESTADO dem jurídica, já que ele a represen- mento da teoria da culpa civilística,
2.1 INTRODUÇÃO tava. que aplicava à responsabilidade do
A irresponsabilidade do Esta- Estado a mesma regra do Direito Pri-
Já é pacífico o entendimento do era justificada da seguinte forma: vado, ou seja, deveria haver culpa do
de que o ordenamento jurídico brasi- o Estado, por ser pessoa jurídica, não agente estatal para que se configu-
leiro admite que o Estado possa cau- tem vontade própria; ele age por in- rasse a responsabilização do ente

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público. Com isso, num primeiro mo- mente responsável pelos atos ilícitos bilidade das causas determinantes de
mento, apenas o funcionário respon- praticados por seus representantes, tais fenômenos, o que, por conse-
deria perante o lesado e, somente que nessa qualidade causarem da- guinte, justifica a elisão de sua obri-
num segundo momento, também o nos a alguém. gação de indenizar eventuais danos,
Estado. Porém, por volta da década de por não estar presente aí o nexo de
Dentro dessa evolução, surgiu 1930, predominava o entendimento causalidade16.
a teoria da faute du service, trazendo de que os atos delitivos geradores Se o Estado deixar de realizar
a idéia de que a culpa seria do ser- dos danos, praticados pelos represen- ato ou obra considerada indispensá-
viço público e não mais do agente tantes do Estado que excedessem vel e sobrevier fenômeno natural que
estatal, ou seja, haveria a responsa- nas suas funções, não geravam a res- cause danos a particulares pela falta
bilidade do Estado mesmo se o ser- ponsabilidade do Estado, pois aque- daquele ato ou obra, portanto condu-
vidor faltoso não fosse identificado, les perdiam a qualidade de prepostos ta omissiva, o Poder Público será o
pois a responsabilidade daquele vi- deste o qual não concorria para o responsável pela reparação de tais
ria da falha do serviço em si, porque evento danoso. Portanto, o agente prejuízos, pois estará presente o nexo
este não funcionara ou funcionara mal respondia pessoalmente. Adotava-se de causalidade entre o ato omissivo
ou tardiamente. Assim, a culpa não tal teoria porque naquela época ocor- e o dano. Dessa forma, a causa do
era presumida, pois o lesado deveria reram inúmeras revoluções, como a dano não é o fato de força maior, mas
provar o inadequado funcionamento Revolução de 1932, em que o Estado o desleixo do Estado em, sendo pos-
do serviço público. era irresponsabilizado nos casos de sível prever tal fenômeno e suas con-
Por fim, houve o surgimento da excesso culposo ou doloso dos mili- seqüências, nada ter feito para evitá-
teoria do risco administrativo, na qual tares. las.
o Estado deveria indenizar o dano não A partir da Constituição Fede- Na hipótese de caso fortuito, o
somente quando este resultasse de ral de 1937, art. 158, o Estado pas- dano decorre de ato humano, gera-
culpa do agente estatal ou de falha sou a responder objetivamente pelos dor de resultado danoso e alheio à
do serviço, que seriam os atos ilíci- atos de seus funcionários, indepen- vontade do agente, embora por ve-
tos, mas também os resultantes de dentemente da existência ou não da zes previsível. Por ser um acaso,
atos lícitos, pois não era mais a cul- culpa do Estado, fundamentada esta imprevisão, acidente, algo que não
pa do serviço ou do servidor que ge- responsabilidade na teoria do risco. poderia ser evitado pela vontade hu-
rava essa responsabilidade, mas sim Com o advento da atual Constituição mana, ocorre a quebra do nexo de
o risco que toda atividade estatal im- de 1988, houve uma ampliação da causalidade, daí a exclusão da res-
plicaria para os administrados. responsabilidade estatal, haja vista o ponsabilidade diante do caso fortui-
Dessa forma, o Estado seria preposto de o Estado deixar de ser to.
responsabilizado quando sua ativida- apenas o funcionário público para ser A força maior e o caso fortuito
de configurasse um risco para o ad- o agente público, termo que abrange estão previstos no art. 1.058 do anti-
ministrado, independentemente da um número maior de pessoas. go Código Civil, bem como no art. 393
existência ou não de culpa e desde A responsabilidade civil do do novo Código. Porém, tais normas
que desse risco tivesse resultado um Estado, considerada pela teoria do não os definiram separadamente, o
dano. A responsabilidade, portanto, risco administrativo, conduz a pessoa que provoca na seara jurídica uma
passou a ser objetiva. O lesado so- jurídica de direito público à reparação divergência quanto às suas defini-
mente precisava provar a conduta do do dano sofrido pelo particular por ções, alguns os conceituando exata-
agente estatal, o dano e o nexo de conduta da administração, segundo mente ao contrário do acima expos-
causalidade entre ambos. o princípio da repartição eqüitativa to, a posição da corrente dominante.
Importante mencionarmos o dos ônus e encargos públicos a to- O estado de necessidade é
surgimento da teoria do risco integral, dos da sociedade, num sentido de também causa de exclusão de res-
que focaliza o tema sob prismas socialização dos prejuízos oriundos ponsabilidade, pois traduz situação
atuais e avançados. Para essa teoria, daquela conduta. em que prevalece interesse geral so-
o Estado fica obrigado a indenizar todo bre o pessoal e até mesmo individual
e qualquer dano, mesmo o resultante 2.3 EXCLUDENTES DA – princípio da supremacia do interes-
de culpa ou dolo da vítima. RESPONSABILIDADE DO ESTADO se público, caracterizado pela preva-
Entretanto, essa teoria não é lência da necessidade pública sobre
muito aceita por vários países, por ser A responsabilidade civil do o interesse particular. Ocorre quando
considerada a modalidade extrema Estado será elidida quando presen- há situações de perigo iminente, não-
da doutrina do risco administrativo, tes determinadas situações, aptas a provocadas pelo agente, tais como
por isso abandonada, na prática, bem excluir o nexo causal entre a conduta guerras, onde haja um sacrifício do
como por conduzir ao abuso e à ini- do Estado e o dano causado ao parti- interesse particular em favor do Po-
qüidade social. cular, quais sejam, a força maior, o der Público, que poderá intervir em
Nosso ordenamento jurídico foi caso fortuito, o estado de necessida- razão da existência de seu poder dis-
acompanhando essa evolução, ado- de e a culpa exclusiva da vítima ou cricionário.
tando as teorias predominantes em de terceiro. A culpa exclusiva da vítima ou
cada época, com exclusão da Teoria A força maior é conceituada de terceiro é também considerada
do Risco Integral, apesar de alguns como sendo um fenômeno da nature- causa excludente da responsabilida-
autores sustentarem o contrário, di- za, um acontecimento imprevisível, de estatal, pois haverá uma quebra
vergindo da larga maioria da doutrina inevitável ou estranho ao comporta- do nexo de causalidade. O Poder
e da jurisprudência15. mento humano, como, por exemplo, Público não pode ser responsabiliza-
O antigo Código Civil, de 1916, um raio, uma tempestade, um terre- do por um fato a que, de qualquer
em seu art. 15 (art. 43 do novo Códi- moto. Nesses casos, o Estado se tor- modo, não deu causa. Isso decorre
go), estatuiu que o Estado será civil- na incapacitado diante da imprevisi- de um princípio lógico de que nin-

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guém poderá ser responsabilizado
por atos que não cometeu ou para os
quais não concorreu. Para ser apurada a responsabilidade do Estado por conduta
Nos casos em que se verifica
a existência de concausas, isto é, omissiva deve-se indagar qual dos fatos foi decisivo para
mais de uma causa ensejadora do configurar o evento danoso e quem estava obrigado a evitá-lo.
resultado danoso, praticadas simul-
taneamente pelo Estado e pelo lesa- Assim, o Estado responderá não pelo fato que diretamente gerou o
do, não haverá excludente de respon- dano, como numa enchente, por exemplo, mas sim por não ter ele
sabilidade. Haverá, sim, atenuação
do quantum indenizatório na medida praticado conduta suficientemente adequada para evitar o dano ou
da participação no evento. mitigar seu resultado, quando o fato for notório ou perfeitamente
2.4 CARACTERES DA CONDUTA
previsível.
ENSEJADORA DE
RESPONSABILIDADE DO ESTADO

A responsabilidade civil do Es- tal ficar abaixo do padrão normal que ponsabilidade subjetiva, cuja base
tado poderá ser proveniente de duas se costuma exigir. Dessa forma, legal era a aplicação do art. 15 do
situações distintas, a saber: a) de pode-se afirmar que a responsabili- antigo Código Civil18; e outra, susten-
conduta positiva do Estado, isto é, dade estatal por ato omissivo é sem- tada por vários autores, que defende
comissiva, no sentido de que o agente pre decorrente de ato ilícito, porque a teoria da responsabilidade objeti-
público é o causador imediato do havia um dever de agir imposto pela va, aplicando-se, por conseguinte, o
dano; b) de conduta omissiva, em que norma ao Estado que, em decorrên- art. 37, § 6º, da Constituição Federal.
o Estado não atua diretamente na pro- cia da omissão, foi violado.
dução do evento danoso, mas tinha Para ser apurada a responsa- 3.2 A RESPONSABILIDADE ESTATAL
o dever de evitá-lo, como é o caso da bilidade do Estado por conduta SUBJETIVA POR CONDUTA
falta do serviço nas modalidades em omissiva deve-se indagar qual dos OMISSIVA DEFENDIDA POR CELSO
que este não funcionou ou funcionou fatos foi decisivo para configurar o ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO
tardiamente, ou ainda, pela atividade evento danoso e quem estava obri-
que se cria a situação propiciatória gado a evitá-lo. Assim, o Estado res- Para Celso Antônio Bandeira de
do dano porque expôs alguém a ris- ponderá não pelo fato que diretamen- Mello, deve ser aplicada a teoria sub-
co. te gerou o dano, como numa enchen- jetiva à responsabilidade do Estado
Celso Antônio Bandeira de te, por exemplo, mas sim por não ter por conduta omissiva. Para isso, ar-
Mello classifica as várias hipóteses ele praticado conduta suficientemen- gumenta o autor que a palavra “cau-
de comportamento estatal comissivo, te adequada para evitar o dano ou sarem” do art. 37, § 6º, da Constitui-
que lesa juridicamente terceiros; são mitigar seu resultado, quando o fato ção Federal somente abrange os atos
eles: a) comportamentos lícitos: a.1) for notório ou perfeitamente previsí- comissivos, e não os omissivos, afir-
atos jurídicos; a.2) atos materiais; b) vel. mando que estes somente “condi-
comportamentos ilícitos: b.1) atos ju- Primeiramente, importante res- cionam” o evento danoso.
rídicos, por ex.: a decisão de apreen- saltar que até a Constituição de 1946, Comentando o supracitado ar-
der, fora do procedimento ou hipóte- para a responsabilização do Estado tigo constitucional, ensina: De fato, na
ses legais, a edição de jornal ou re- era aplicada a regra do art. 15 do hipótese cogitada, o Estado não é o
vista; b.2) atos materiais, por ex.: o Código Civil de 1916, numa primeira autor do dano. Em rigor, não se pode
espancamento de um prisioneiro, cau- fase, regida por princípios privatís- dizer que o causou. Sua omissão ou
sando-lhe lesões definitivas 17. ticos e, noutra, por princípios publicís- deficiência haveria sido condição do
ticos, fundados na “falta do serviço”. dano, e não causa. Causa é o fato
3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO A partir da Constituição Fede- que positivamente gera um resulta-
ESTADO DECORRENTE DE ral de 1946, adotou-se no nosso do. Condição é o evento que não ocor-
CONDUTA OMISSIVA ordenamento jurídico a teoria da res- reu, mas que, se houvera ocorrido,
ponsabilidade objetiva, para a respon- teria impedido o resultado19.
3.1 INTRODUÇÃO sabilização do Estado. Maria Helena Diniz também
Não há dúvidas quanto ao ca- entende que a teoria subjetiva deve-
O Estado poderá causar danos bimento da aplicação da teoria obje- rá ser aplicada aos casos de respon-
aos administrados por ação ou omis- tiva na responsabilidade decorrente sabilidade do Estado por conduta
são. Porém, nos casos de conduta de condutas comissivas, porém dife- omissiva, haja vista ter-se a necessi-
omissiva, há entendimentos diversos rentemente ocorre com relação às dade de ser avaliada a culpa ou o
no sentido de que esta não constitui condutas omissivas, pois surgiu na dolo. Ensina, ainda, que o art. 15 do
fato gerador da responsabilidade ci- doutrina e jurisprudência brasileiras antigo Código Civil foi modificado
vil do Estado, visto que nem toda con- uma polêmica discussão a respeito somente em parte pelo art. 37, § 6º,
duta omissiva retrata uma desídia do de seu cabimento, nos casos de da Constituição Federal20.
Estado em cumprir um dever legal. responsabilização decorrente de con- Corroborando os ensinamentos
Seria o Estado responsável ci- duta omissiva estatal. acima, a ilustre doutrinadora Odília
vilmente quando somente se omitir di- A respeito, há dois posiciona- Ferreira da Luz entende que: Isso não
ante do dever legal de obstar a ocor- mentos: um que segue os argumen- significa, necessariamente, adoção
rência do dano, ou seja, sempre quan- tos de Celso Antônio Bandeira de da tese objetiva com exclusividade,
do o comportamento do órgão esta- Mello, que defende a teoria da res- pois ainda existe a responsabilidade

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decorrente da falta do serviço, que é adjetivação. Se ao contrário, todos ou cional acolhe, sob o manto da respon-
a regra; na verdade, coexistem a res- alguns contribuíram para o evento, sabilidade objetiva, tanto a conduta
ponsabilidade objetiva e a subjetiva, que não ocorreria, se não houvesse a omissiva quanto a comissiva32.
esta fundada na faute de service e conjugação deles, esses devem ser A jurisprudência pátria é majo-
não mais na culpa do agente público considerados causas concorrentes ou ritária no sentido de que a responsa-
(a não ser nos casos em que o Esta- concausas 26. bilidade do Estado por conduta
do se iguale juridicamente ao admi- Dessa forma, conclui Aguiar omissiva é objetiva. Com efeito, os
nistrado)21. Dias que a inércia do Estado empe- julgados abaixo denotam o exposto:
Entre esses juristas também nha responsabilidade civil a este e a RESPONSABILIDADE CIVIL
estão Caio Tácito e Themístocles conseqüente obrigação de reparar DO ESTADO - MORTE DE DETENTO.
Brandão Cavalcanti. O próprio Aguiar integralmente o dano causado, na for- O ordenamento constitucional vigen-
Dias, embora manifeste preferência ma do art. 37, § 6º, da Constituição te assegura ao preso a integridade
pela responsabilidade objetiva, admi- Federal; portanto, a responsabilidade física (CF, art. 5, XLIX) sendo dever
te que predomina a teoria subjetiva é objetiva. do Estado garantir a vida de seus
quando da falta do serviço22. Segundo Odete Medauar, a detentos, mantendo, para isso, vigi-
Encontramos, também, algu- responsabilidade do Estado, funda- lância constante e eficiente. Assas-
mas decisões dos tribunais brasilei- mentada na teoria do risco adminis- sinado o preso por colega de cela
ros no mesmo sentido: trativo, apresenta-se, hoje, na maio- quando cumpria pena por homicídio
RESPONSABILIDADE CIVIL ria dos ordenamentos jurídicos, regida qualificado responde o estado civil-
DO PODER PÚBLICO – REVOLTA DA pela teoria da responsabilidade obje- mente pelo evento danoso, indepen-
POPULAÇÃO – BOMBA – CULPA – tiva. Entende, ainda, que a adoção dentemente da culpa do agente pú-
Para obter a indenização contra o da responsabilidade objetiva do Es- blico. Recurso improvido. Por unani-
Estado por ter o autor sido atingido tado traz, por conseguinte, o sentido midade, negar provimento ao recur-
por uma bomba durante incidentes de de igualdade de todos ante os ônus so33.
revolta da população pela majoração e encargos deste e o próprio sentido RESPONSABILIDADE CIVIL
das passagens de ônibus, necessá- de justiça (eqüidade). Acrescenta DO ESTADO – MÁ EXECUÇÃO DOS
ria se faz a comprovação da culpa que, como nem sempre é possível SERVIÇOS PÚBLICOS – RISCO AD-
do Estado no fato23. identificar o agente causador do dano, MINISTRATIVO – DANO E NEXO DE
Prestação de serviço de saú- nem demonstrar o dolo ou culpa, CAUSALIDADE. A responsabilidade
de mantido em hospital municipal – melhor se asseguram os direitos da civil das pessoas jurídicas de direi-
Necessidade da comprovação da vítima pela aplicação da responsabi- to público, responsabilidade objeti-
ocorrência de comissão ou omissão lidade objetiva ao Estado27. va, com base no risco administrati-
decorrente de imprudência, negligên- Quanto ao preceito da igualda- vo, que admite pesquisa em torno
cia ou imperícia quer por parte do de de todos ante os ônus e encargos da culpa do particular, para o fim de
médico, quer por parte da pessoa ju- públicos, também denominado “soli- abrandar ou mesmo excluir a respon-
rídica de direito público24. dariedade”, ensina: Se, em tese, to- sabilidade estatal, ocorre, em sínte-
dos se beneficiam das atividades da se, diante dos seguintes requisitos:
3.3 A RESPONSABILIDADE ESTATAL Administração, todos (representados a) do dano; b) da ação administrati-
OBJETIVA POR CONDUTA OMISSIVA pelo Estado) devem compartilhar do va (comissiva ou omissiva); c) do
DEFENDIDA PELA DOUTRINA E ressarcimento dos danos que essas nexo causal entre o dano e a ação
JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIAS atividades causam a alguém28. administrativa. – O Município tem,
Na mesma linha de raciocínio, por obrigação, manter em condições
Toshio Mukai observa, com Celso Ribeiros Bastos analisa a res- de regular o uso e sem oferecer ris-
propriedade, o conceito de causa: As ponsabilidade do Estado, ensinando cos, as vias públicas e logradouros
obrigações, em direito, comportam que tal entendimento já se encontra abertos à comunidade34.
causas, podendo estas ser a lei, o sedimentado atualmente e não há, Indenização – Acidente de
contrato ou o ato ilícito. Ora, causas, portanto, que se questionar sobre o Trânsito – Sinistro ocasionado pela
nas obrigações jurídicas (e a respon- elemento subjetivo da culpa entre o falta de serviço na conservação de
sabilidade civil é uma obrigação), é dano e o comportamento que o pro- estrada – Ausência de prova de cul-
todo o fenômeno de transcendência vocou29. pa do particular, bem como de even-
jurídica capaz de produzir um poder Hely Lopes Meirelles, da mes- to tipificador de força maior – Com-
jurídico pelo qual alguém tem o di- ma forma, defende a tese da respon- provação do nexo de causalidade
reito de exigir de outrem uma pres- sabilidade objetiva, dispondo que entre a lesão e o ato da Administra-
tação (de dar, de fazer, ou de não esta se fundamenta no risco proveni- ção – Verba devida – Aplicação da
fazer)25. ente de sua ação ou omissão, que teoria do risco administrativo, nos ter-
José de Aguiar Dias, adepto visam à consecução de seus fins 30. mos do art. 37, § 6º, da CF35.
da responsabilidade objetiva, ao ex- Preleciona Weida Zancaner Conclui-se que o comporta-
por o seu entendimento sobre o ter- Brunini que a teoria objetiva é apli- mento omissivo do Estado deve ser
mo causa, assim preceituou: Só é cada na responsabilidade do Esta- considerado como causa do dano e
causa aquele fato a que o dano se do. Porém, a teoria subjetiva ainda não simples condição deste, como
liga com força de necessidade. Se permanece na relação Estado-funci- entende a corrente doutrinária subje-
numa sucessão de fatos, mesmo onário, quanto ao direito de regres- tivista, anteriormente citada. Portan-
culposos, apenas um, podendo evi- so do Estado contra seu agente, pois to, o § 6º do art. 37 da Constituição
tar a conseqüência danosa, interveio condicionada está à culpabilidade Federal contempla, além da respon-
e correspondeu ao resultado, só ele deste31. sabilidade por atos comissivos,
é causa, construção que exclui a po- Yussef Said Cahali também é aquela decorrente da conduta omis-
lêmica sobre a mais apropriada no sentido de que o artigo constitu- siva.

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3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A
NATUREZA OBJETIVA DA
RESPONSABILIDADE ESTATAL POR
CONDUTA OMISSIVA Pretendeu-se com toda a evolução da responsabilidade do
Os autores pátrios, no que tan- Estado evitar que o lesado tivesse de provar a culpa do
ge à natureza da responsabilidade do agente, nem sempre – e quase nunca – isso é um exercício
Estado por conduta comissiva, põem-
se de acordo. Todavia, no que pertine fácil. Por que o legislador, cônscio dessa evolução, teria
à conduta omissiva, dividem-se em marchado em ré? (...) Implica, tal conclusão, um contra-
dois grupos: os que defendem a na-
tureza objetiva dessa responsabilida- senso. Porque, na omissão, em regra, é muito mais difícil a
de e os que a entendem subjetiva. prova da culpa.
No primeiro grupo estão autores como
Yussef Said Cahali, Odete Medauar,
Álvaro Lazzarini, Carvalho Filho e Cel-
so Ribeiro Bastos, entre outros; no se-
gundo, Celso Antônio Bandeira de
Mello, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, ofendido39. Logo em seguida, depois responsabilidade objetiva apenas
Lucia Valle Figueiredo e outros. de transcrever ensinamentos de Cel- para os casos de conduta comissiva,
O primeiro deste último grupo so Antônio e Álvaro Lazzarini, alude retroagindo, no que tange à omissiva,
adotou, quanto ao tema, a ensinança a que substancialmente, tais manifes- aos tempos da culpa civilística ou da
de seu pai, Osvaldo Aranha Bandeira tações não se revelam conflitantes, faute du service, seria demasiado.
de Mello, e, os demais, por sua vez, sendo mais aparente o confronto que Aliás, a responsabilidade objetiva já
seguiram-no. se pretende, em especial quando se vinha consagrada no Direito brasilei-
O próprio Celso Antônio Ban- considera que a própria filosofia jurí- ro desde a Constituição Federal de
deira de Mello, ao analisar os danos dica está longe de definir a discrimi- 1946 (art. 194)43. Por que, então, o le-
decorrentes de atividades perigosas nação conceitual entre “causa” e “con- gislador constitucional, ao invés de
do Estado, afirma categoricamente dição”40. avançar, teria preferido recuar, distin-
que mesmo as condutas não-ligadas Álvaro Lazzarini contesta a guindo as duas condutas? Qual o fun-
ao dano entram decisivamente em assertiva de que a conduta comissiva damento, legal e político, para a dis-
sua linha de causação36. Diz ele: há possa ser causa do dano e a omis- tinção?
determinados casos em que a ação siva, não41. Cahali, sintetizando o pen- No que concerne ao agente
danosa, propriamente dita, não é efe- samento de Lazzarini, afirma que para estatal causador do dano, o constitu-
tuada por agente do Estado, contudo esse autor: inte avançou substituindo a expres-
é o Estado quem produz a situação Causa, nas obrigações jurídi- são “funcionário” por “agente”, muito
da qual o dano depende37. O próprio cas, é todo fenômeno de transcen- mais abrangente. Estendeu a respon-
autor apresenta exemplos. Vejamos dência jurídica capaz de produzir um sabilidade também para os particu-
um: o assassinato de um presidiário efeito jurídico pelo qual alguém tem o lares prestadores de serviço público
por outro presidiário. Não foi o Esta- direito de exigir de outrem uma pres- (a chamada “desestatização” apenas
do, mas sim o presidiário, o autor do tação (de dar, de fazer ou não fazer); engatinhava). Por que, no que tange
dano; todavia, foi aquele quem criou daí concluir que a omissão pode ser à conduta do agente, aquele teria re-
as condições para que este dano causa e não condição, ou, em outros cuado quase um século, para, a par
ocorresse, mantendo-os presos. Se o termos, o comportamento omissivo da responsabilidade objetiva, fixada
Estado tivesse cuidado para que a do agente público, desde que defla- para a conduta comissiva, estatuir a
segurança do presidiário fosse ade- grador primário do dano praticado por responsabilidade subjetiva em caso
quada, o dano poderia ter sido evita- terceiro, é causa e não simples con- de conduta omissiva?
do. Logo, o Estado, também aí, a par dição do evento danoso42. Pretendeu-se com toda a evo-
de manter presos o autor do dano e a Veja-se, que no exemplo cita- lução da responsabilidade do Esta-
vítima (conduta positiva), omitiu-se do por Celso Antônio Bandeira de do evitar que o lesado tivesse de pro-
quanto à segurança desta última em Mello, tanto a conduta comissiva, var a culpa do agente, nem sempre
face daquele (conduta omissiva). A quanto a omissiva, se eliminada, afas- – e quase nunca – isso é um exercí-
primeira delas, para o autor, é causa taria o dano. Por que, então, tratá-las cio fácil. Por que o legislador, côns-
do dano, a segunda, não. de modo diverso? Não existe argu- cio dessa evolução, teria marchado
Agostinho Alvim acentua que mento de ordem filosófica para tanto. em ré? Especialmente quando ele
a teoria da equivalência das condi- Nem o há de ordem jurídica. Vejamos: mesmo, legislador constitucional,
ções aceita qualquer das causas A Constituição Federal, no arti- previu a responsabilidade objetiva,
como eficiente, asseverando que go citado, não diferenciou as duas com o mesmo desiderato, para ques-
essa equivalência resulta de que, su- condutas, quando poderia perfeita- tões relacionadas com o meio ambi-
primida uma delas, o dano não se ve- mente fazê-lo. Assim, o vocábulo ente e com os direitos do consumi-
rificaria38. “causarem”, do aludido dispositivo, dor? Implica, tal conclusão, um con-
Yussef Said Cahali ensina que deve ser lido como “causarem por tra-senso. Porque, na omissão, em
não parece haver dúvida de que a ação ou omissão”. regra, é muito mais difícil a prova da
responsabilidade civil do Estado Entender-se que o legislador culpa.
pode estar vinculada a uma conduta brasileiro, muito bem informado, à Ao final, parece ser mesmo
ativa ou omissiva da Administração, época, da evolução do instituto, teria despicienda a discriminação entre
como causa do dano reclamado pelo recuado no tempo, estabelecendo a causa e condição como fatores

R. CEJ, Brasília, n. 23, p. 45-59, out./dez. 2003 53


ensanchadores da responsabilidade Entretanto, quando defende a sada e decidida pelo ângulo da Ad-
estatal. natureza subjetiva da responsabilida- ministração, ou seja, pelo lado ativo
Ademais, o ensinamento de de do Estado por conduta omissiva, da relação, ao passo que, quanto à
Celso Antônio Bandeira de Mello ba- o mesmo autor assevera que (...) sen- conduta comissiva, a análise e a de-
seia-se em que a conduta omissiva do responsabilidade por ilícito, é ne- cisão devem centrar-se no lesado, isto
da Administração é sempre ilícita. cessariamente responsabilidade sub- é, no lado passivo da relação51.
Parte da idéia de que a responsabili- jetiva47. Em qualquer caso de respon-
dade do Estado nasce do fato de que É de se indagar: por que na sabilidade do Estado, seja por con-
este, tendo o dever de agir, não agiu. conduta comissiva ilícita não se dis- duta comissiva, seja por omissiva, há
Logo, descumpriu um dever legal; cute dolo ou culpa – responsabilida- vários elementos a ocupar o cenário:
agiu ilicitamente. Mesmo firmado tal de objetiva – e na conduta ilícita o dano, a conduta estatal e o nexo de
entendimento – e parece ser este o omissiva aqueles elementos subjeti- causalidade. Outros, ainda, poderão
predominante –, não estaria afastada vos são discutidos – responsabilida- ter lugar na discussão: a presença de
a responsabilidade objetiva da Admi- de subjetiva? Seria apenas porque circunstâncias excludentes, o fato de
nistração omissa. A responsabilida- na primeira a conduta estatal é causa o dano não ser especial e anormal, a
de continuaria sendo objetiva, por for- do dano e, na segunda, mera condi- inexistência do dever de agir etc.
ça de disposição constitucional ex- ção? Essa distinção, como se asse- Assim, não se pode afirmar que
pressa, cabendo ao lesado demons- verou, já não se sustenta cientifica- na responsabilidade decorrente de
trar a conduta (no caso, omissiva) do mente. Logo, há de ser afastada. conduta comissiva analisa-se a ques-
agente estatal, o dano e o nexo de Com efeito, alijada a dicotomia tão pelo lado do lesado, quando, em
causalidade entre eles, e, àquela de- entre causa e condição, o dano, re- se tratando de conduta omissiva,
monstrar que não tinha o dever legal sultante de conduta estatal, comissiva essa análise estaria centrada no lado
de agir, ou que, o tendo, não deixou ou omissiva, deve ser reparado pelo da Administração. Em ambos os ca-
de agir ou, ainda, que está presente Estado, sem que se possa debater sos, vários fatores entram em linha
qualquer das excludentes de respon- sobre a existência ou não de culpa. de conta, sem preponderância de
sabilidade, o que afastaria a obriga- Portanto, responsabilidade objetiva. qualquer deles. Em ambos, será de
ção de indenizar. Não é necessário Demais disso, há autores que fundamental importância, por exem-
transmudar a responsabilidade obje- sustentam idéia de a omissão do plo, a imputação do dano à conduta
tiva em subjetiva para que a Admi- agente estatal poder ser causa do estatal (comissiva ou omissiva) e sua
nistração se desvincule do dever de dano. Entre eles Rui Stoco: Não é qualificação (especial e anormal),
indenizar; basta demonstrar não ter o apenas a ação que produz dano. bem como o fato de que o sujeito le-
dever de agir e que, portanto, sua Omitindo-se o agente público também sado não está obrigado a suportá-lo.
conduta não foi, do ponto de vista pode causar prejuízo ao administra- Por conseguinte, o argumento não
jurídico, causa do evento danoso. do e à própria Administração48. impressiona.
Cahali informa que: (...) notori- Lazzarini diz que o Estado res- Por fim, há de ser analisada a
amente elástico o conceito de exigibi- ponde, objetivamente, sempre que afirmação, também feita por Celso
lidade do ato estatal, no caso, a car- demonstrado o nexo de causalidade Antônio, de que, se nos danos de-
ga de subjetivismo que caracteriza a entre o dano e a atividade funcional correntes de conduta estatal omissiva
sua identificação é que terá induzido do agente estatal, só podendo haver o Estado for chamado a responder
alguns autores ao exame das hipóte- discussão sobre culpa ou dolo na objetivamente, este estará sendo
ses da perspectiva da responsabili- ação regressiva do Estado contra o erigido à condição de segurador uni-
dade subjetiva do Estado, com agente causador do dano. Acrescen- versal52. Não parece, porém, ser exa-
perquirição necessária do elemento ta que não é somente a ação, mas tamente assim.
“culpa ou dolo”44. também a omissão, que pode causar Em todos os casos em que o
E arremata: (...) portanto, o dano suscetível de reparação por Estado é chamado a ressarcir prejuí-
dever jurídico descumprido, de exe- parte do Estado49. O mesmo autor in- zos decorrentes de conduta omis-
cução da obra ou prestação do servi- dica vários casos onde os tribunais siva, bem assim nas comissivas,
ço devido, colocado como causa pri- pátrios entenderam ser a omissão de poderá ele defender-se demonstran-
mária da responsabilidade estatal, é agente do Estado causa do dano, do a presença de quaisquer das cir-
circunstancial e contingente45. decidindo por impor a este o dever cunstâncias excludentes de respon-
Para Celso Antônio Bandeira de de indenizar50. sabilidade. Poderá, ainda, demons-
Mello, a conduta comissiva decorren- Imagine-se a situação em que trar o dano não ser especial nem
te de ato ilícito gera responsabilida- um médico, no desempenho de fun- anormal ou não ter o dever de agir.
de objetiva. Adverte ele que às ve- ção estatal, deixe de socorrer um Com este largo espectro de defesas,
zes a conduta estatal causadora do paciente e este, em razão da omis- conclui-se que, mesmo se aplican-
dano é ilegítima e, nesse caso, não são daquele, vem a morrer. Não terá do, em todos os casos, a teoria do
haverá lugar para variar as condições sido a omissão do médico (agente risco administrativo e, portanto, a res-
de aplicação da responsabilidade do estatal) a causa do dano? Será pos- ponsabilidade objetiva, o Estado não
Estado. Afirma, com todas as letras, sível justificar, nesta hipótese, que estará sendo erigido à condição de
(...) deveras, se a conduta legítima para a causação do dano a conduta segurador universal. Ademais, se o
produtora de dano enseja responsa- omissiva atuou à guisa de mera con- Estado se omite no seu dever de agir
bilidade objetiva, a fortiori deverá dição? conforme os padrões médios de exi-
ensejá-la a conduta ilegítima causa- Não parece ser cabida uma ou- gência da população, assim causan-
dora de lesão injurídica (...) saber-se tra afirmação do mesmo autor, no do lesões ao patrimônio das pes-
se o Estado agiu ou não culposa- sentido de que, nos casos de respon- soas, melhor seria mesmo ser erigido
mente (ou dolosamente) é questão sabilidade do Estado por conduta a tal condição. Não é esse, contudo,
irrelevante”46. omissiva, a questão deve ser anali- o caso.

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O Supremo Tribunal Federal já
teve o ensejo de aclarar a situação,
em voto do Ministro Celso de Mello53.
A razão está mesmo com Ode- Como o interesse social tem por objetivo a manutenção da
te Medauar, que argumenta, em pre-
ciosa síntese: Informada pela teoria
ordem pública no sentido de viabilizar a harmonia social,
do risco, a responsabilidade do Es- ressalta-se a gravidade de uma conduta ilícita e omissiva. O
tado apresenta-se hoje, na maioria
dos ordenamentos, como responsa-
ato ilícito corresponde ao que a sociedade repudia como
bilidade objetiva. Nessa linha, não comportamento, isto é, não-aceito no grupo social. Por isso,
mais se invoca o dolo ou culpa do como se violasse os valores desse grupo. Da mesma forma, o
agente, o mau funcionamento ou fa-
lha da Administração. (...) Deixa-se risco social apresentado pela conduta omissiva é grave.
de lado, para fins de ressarcimento
do dano, o questionamento do dolo
ou culpa do agente, o questionamento
da licitude ou ilicitude da conduta, o
questionamento do bom ou mau fun-
cionamento da Administração. De- mente poderá fazer ou deixar de fa- 3.6 A FALTA DO SERVIÇO E O
monstrado o nexo de causalidade, o zer algo, quando prescrito por lei. Po- CÓDIGO DE DEFESA DO
Estado deve ressarcir54. rém, em sua grande maioria os atos CONSUMIDOR
A evolução da responsabilida- administrativos são atos vinculados.
de do Estado, no sentido de sua Mesmo nos atos discricionários tam- O Código de Defesa do Con-
objetivação, fica ainda mais evidente bém pesa tal princípio, pois a mar- sumidor, em seu art. 14, combinado
quando se constata a redação, como gem de liberdade de decisão que a com o art. 3º, atribui ao Estado, como
se segue, do art. 43 do novel Código norma autoriza ao agente possui, fornecedor de serviço público, a res-
Civil: sempre, um limite, posto pela pró- ponsabilidade objetiva por danos de-
Art. 43 – As pessoas jurídicas pria norma. correntes da “falta do serviço públi-
de direito público interno são civilmen- Na responsabilidade do Esta- co”, e inclui, assim, a responsabili-
te responsáveis por atos dos seus do por conduta omissiva, o agente dade por conduta omissiva.
agentes que nessa qualidade cau- tem o dever de agir, estabelecido em Assim, o Estado é considera-
sem danos a terceiros, ressalvado lei, mas ao desobedecer à lei, não do fornecedor de serviço público, que
direito regressivo contra os causado- age. Por isso, causou um dano ao deve, portanto, obedecer a todos os
res do dano, se houver, por parte particular. Portanto, trata-se de uma princípios e regras protetores do con-
destes, culpa ou dolo. conduta ilícita, isto é, contrária à lei. sumidor, inclusive ao princípio conti-
O legislador contemplou, mais Logo, feriu-se o princípio da legalida- do no inc. X do art. 6º do CDC, o qual
uma vez, a responsabilidade objeti- de. expressamente determina ser direito
va do Estado – embora sem necessi- Como o interesse social tem do consumidor a adequada e eficaz
dade –, permitindo a perquirição so- por objetivo a manutenção da ordem prestação dos serviços públicos em
bre a presença do elemento subjeti- pública no sentido de viabilizar a har- geral.
vo (culpa ou dolo) tão-somente na monia social, ressalta-se a gravida- O art. 22 do mesmo diploma
ação regressiva (do Estado) em face de de uma conduta ilícita e omissiva. legal dispõe que a responsabilidade
do (agente) causador do dano. O ato ilícito corresponde ao que a so- pelo fornecimento inadequado ou ine-
O legislador brasileiro, bem ciedade repudia como comportamen- ficaz do serviço público será regida
como a doutrina e a jurisprudência, to, isto é, não-aceito no grupo social. pelas regras deste código. Portanto,
sempre tiveram clara a evolução da Por isso, como se violasse os valo- responsabilidade objetiva55.
responsabilidade do Estado, sempre res desse grupo. Da mesma forma, o Explica o doutrinador Zelmo
no sentido de sua objetivação, afas- risco social apresentado pela condu- Denari: As pessoas jurídicas de di-
tando-se da culpa e aproximando-se ta omissiva é grave. reito público – centralizadas ou des-
do risco, até assumi-lo, sendo razoá- A doutrina majoritária – inclusi- centralizadas – podem figurar no pólo
vel se tratasse de algum tipo de res- ve Bandeira de Mello – entende ser ativo da relação de consumo, como
ponsabilidade subjetiva apenas no objetiva a responsabilidade decorren- fornecedor de serviços. Por via de
período do início de vigência do anti- te do dano provocado por ato lícito conseqüência, não se furtarão a ocu-
go Código Civil de 1916 até a pro- do Estado. Se ato lícito está em con- par o pólo passivo da corresponden-
mulgação da Constituição Federal de formidade com o Direito, ou seja, en- te relação de responsabilidade56.
1946, quando, promulgada esta, a tendido como adequado, correto, De acordo com o Código de
responsabilidade do Estado passou bem visto pela sociedade, e, para Defesa do Consumidor, são respon-
a ser objetiva, ficando revogado o esse, a responsabilidade é objetiva, sáveis objetivamente a União, os Es-
Código Civil. por que para o ato ilícito omissivo não tados, os Municípios e o Distrito Fe-
haveria também essa maior proteção deral. Também o são as autarquias,
3.5 O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E ao administrado, sendo que este últi- as fundações públicas, as socieda-
A CONDUTA OMISSIVA mo é indiscutivelmente mais grave? des de economia mista, as empresas
Destarte, é imperiosa a prote- públicas e as concessionárias e
O princípio da legalidade é o ção do administrado contra condutas permissionárias de serviço público.
maior que rege os atos administrati- mais graves, ampliando o seu cam- O Estado somente será consi-
vos praticados pelo Estado. Exige po de amparo pela adoção da res- derado fornecedor e, portanto, estará
ele que a administração pública so- ponsabilidade objetiva. sujeito às regras do Código de Defe-

R. CEJ, Brasília, n. 23, p. 45-59, out./dez. 2003 55


sa do Consumidor (responsabilidade sendo de natureza subjetiva, com “funcionário” por “agente”, muito mais
objetiva) quando for produtor de bens base no art. 15 do antigo Código Ci- abrangente, e a extensão da respon-
ou prestador de serviços, remunera- vil (art. 43 do novo Código). A segun- sabilidade também para os particu-
dos por “tarifas” ou “preços públicos”. da corrente, que sustenta ser a res- lares prestadores de serviço público
Por outro lado, não serão aplicadas ponsabilidade objetiva, é seguida (a desestatização apenas engati-
as normas do CDC aos casos em que pelos doutrinadores Odete Medauar, nhava).
aquele for remunerado mediante ati- Celso Ribeiro Bastos, Álvaro Lazzarini, Para Celso Antônio Bandeira de
vidade tributária em geral (impostos, Aguiar Dias, Hely Lopes Meirelles, Mello, a conduta omissiva da Admi-
taxas e contribuições de melhoria). Weida Zancaner Brunini, Yussef Said nistração é sempre ilícita. Mesmo fir-
Portanto, a partir do advento do Cahali, entre outros, e fundamenta-se mado tal entendimento, não estaria
Código de Defesa do Consumidor, a no art. 37, §6º, da Constituição Fede- afastada a responsabilidade objetiva
responsabilidade do Estado, pelo ral. da Administração omissa, pois a res-
serviço público remunerado por tarifa Celso Antônio Bandeira de ponsabilidade continuaria sendo ob-
ou preço público, é de natureza obje- Mello, a fim de justificar a aplicação jetiva, por força de disposição cons-
tiva, tanto para as condutas comis- da teoria subjetiva à responsabilida- titucional expressa. Não é necessá-
sivas como para as omissivas. de do Estado por conduta omissiva, rio transmudar a responsabilidade
argumenta que a palavra “causarem” objetiva em subjetiva para que a Ad-
4 CONCLUSÕES do art. 37, § 6º, da Constituição Fe- ministração se desvincule do dever
deral, somente abrange os atos de indenizar; basta que esta demons-
A responsabilidade civil é um comissivos, e não os omissivos, afir- tre não ter o dever de agir e que, por-
instituto de difícil conceituação, por mando que estes apenas “condi- tanto, sua conduta não foi, do ponto
sua amplitude. Tem por finalidade o cionam” o evento danoso, ou seja, de vista jurídico, causa do evento
restabelecimento do equilíbrio viola- são apenas “condição”, e não “cau- danoso.
do pelo dano. Quanto ao seu funda- sa”, do dano, pois causa é o fato que Celso Antônio entende ser a
mento, a responsabilidade civil pode- positivamente gera um resultado e conduta comissiva decorrente de ato
rá ser: a) subjetiva: presente sempre condição é o evento não-ocorrido, mas ilícito e gerar responsabilidade obje-
o pressuposto culpa ou dolo; por isso, que, se tivesse ocorrido, teria impe- tiva, bem como que às vezes a con-
para sua caracterização devem coe- dido o resultado. duta estatal causadora do dano é ile-
xistir os seguintes elementos: a con- A outra corrente, a qual susten- gítima e, nesse caso, será sempre
duta, o dano, a culpa e o nexo de ta ser a responsabilidade do Estado objetiva a responsabilidade. Entretan-
causalidade entre a conduta e o dano. por conduta omissiva regida pela te- to, quando defende a natureza sub-
É a teoria da culpa, também chama- oria do risco, fundamentada no art. jetiva da responsabilidade do Esta-
da de “responsabilidade aquiliana”; 37, § 6º, da CF, contraria os argumen- do por conduta omissiva, o mesmo
b) objetiva: não há a necessidade da tos de Celso Antônio Bandeira de autor se contradiz, ao asseverar que
prova da culpa, basta haver dano, Mello. Segundo ele, a conduta (...) sendo responsabilidade por ilíci-
conduta e nexo causal entre o prejuí- omissiva estatal não pode ser consi- to, é necessariamente responsabilida-
zo sofrido e a ação do agente; está derada condição, mas sim causa, de subjetiva59. É de se indagar: por-
calcada no risco assumido pelo pois esta é todo fenômeno capaz de que, na conduta comissiva ilícita, não
lesante, em razão de sua atividade, produzir um poder jurídico pelo qual se discute dolo ou culpa – responsa-
daí ser chamada também de “teoria alguém tem o direito de exigir de ou- bilidade objetiva – e, na conduta ilíci-
do risco”. trem uma prestação (de dar, de fa- ta omissiva, aqueles elementos sub-
Em nosso ordenamento jurídi- zer, ou de não fazer). jetivos são discutidos – responsabili-
co é pacífico o entendimento de que Celso Antônio Bandeira de dade subjetiva? Seria apenas por-
o Estado é responsável por suas con- Mello, quando analisa os danos de- que, na primeira, a conduta estatal é
dutas, comissivas ou omissivas, que correntes de atividades perigosas do causa do dano e, na segunda, mera
causarem danos a terceiros, porém Estado, afirma categoricamente que condição? Essa distinção, como se
essa responsabilidade traz em seu mesmo as condutas não diretamente asseverou, já não se sustenta cienti-
bojo regras peculiares. ligadas ao dano entram decisivamen- ficamente, por isso deve ser afasta-
O Estado poderá excluir a sua te em sua linha de causação57. Há da, prevalecendo a responsabilização
responsabilidade quando ocorrerem determinados casos em que a ação objetiva do Estado.
determinadas situações, que, na ver- danosa, propriamente dita, não é efe- Não se sustenta a outra afirma-
dade, retiram o nexo de causalidade tuada por agente do Estado, contudo ção do mesmo autor, no sentido de
entre a conduta estatal e o dano. São é o Estado quem produz a situação que, nos casos de responsabilidade
elas: força maior, caso fortuito, esta- da qual o dano depende58. do Estado por conduta omissiva, a
do de necessidade e culpa exclusiva A Constituição Federal, no arti- questão deve ser analisada e decidi-
da vítima ou de terceiro. go citado, não diferenciou as condu- da pelo ângulo da Administração, ao
A doutrina e a jurisprudência tas comissivas e omissivas; assim, passo que, quanto à conduta comis-
brasileiras são unânimes quanto à o vocábulo “causarem”, do aludido siva, a análise e a decisão devem
natureza objetiva da responsabilida- dispositivo, deve ser lido como “cau- centrar-se no lesado. Em qualquer
de do Estado por conduta comissiva. sarem por ação ou omissão”, pois caso de responsabilidade do Estado,
Porém, quanto às condutas omis- caso contrário, o legislador teria re- seja por conduta comissiva, seja por
sivas, o direito pátrio traz duas cor- cuado no tempo, estabelecendo a res- omissiva, haverá sempre os seguin-
rentes divergentes. A primeira, capi- ponsabilidade objetiva apenas para tes elementos: o dano, a conduta es-
taneada por Oswaldo Aranha Bandei- os casos de conduta comissiva, in- tatal e o nexo de causalidade. Outros,
ra de Mello e continuada por Celso concebível diante dos avanços em ainda, poderão ter lugar na discus-
Antônio Bandeira de Mello, aponta a outras matérias constitucionais, tais são: a presença de circunstâncias
responsabilidade do Estado como como a substituição da expressão excludentes, o fato de o dano não ser

56 R. CEJ, Brasília, n. 23, p. 45-59, out./dez. 2003


especial e anormal, a inexistência do jetiva, por que, para o ato ilícito autor afirma que o instituto da responsa-
dever de agir etc. Assim, não se pode omissivo, não haveria também essa bilidade civil traduz a realização jurídica de
afirmar que na responsabilidade de- maior proteção ao administrado, sen- um dos aspectos do personalismo ético,
segundo o qual ter responsabilidade, ser
corrente de conduta comissiva anali- do este último indiscutivelmente mais
responsável, é assumir as conseqüências
sa-se a questão pelo lado do lesado, grave? É imperiosa a proteção do do próprio agir, em contrapartida ao poder
quando, em se tratando de conduta administrado contra condutas mais de ação consubstanciado na autonomia
omissiva, essa análise estaria centra- graves, ampliando o seu campo de privada. Não mais a concepção egoística
da no lado da Administração. Em amparo pela adoção da responsabili- do indivíduo em si, mas o indivíduo como
ambos os casos, vários fatores en- dade objetiva. pessoa, comprometido com o social. A
tram em linha de conta, sem prepon- O Código de Defesa do Con- responsabilidade civil traduz, portanto, o
dever ético-jurídico de cumprir uma
derância de qualquer deles. sumidor atribui ao Estado, como for- prestação de ressarcimento.
Também foi analisada a afirma- necedor de serviço público, a respon- 6 DINIZ, op. cit., p. 3. Acrescenta, ainda,
ção, de Celso Antônio Bandeira de sabilidade objetiva por danos decor- Maria Helena Diniz: Por repercutir em todas
Mello, de que se, nos danos decor- rentes da “falta do serviço público”, as atividades humanas, múltiplos são os
rentes de conduta estatal omissiva, incluindo, assim, a responsabilidade dissídios doutrinários e díspares são os
o Estado for chamado a responder por conduta omissiva; deve, ainda, posicionamentos dos tribunais.
objetivamente estará sendo erigido à obedecer a todos os princípios e re- 7 BRASIL. Código Civil (2002). Art. 188
8 DINIZ, op. cit., p. 37.
condição de segurador universal. Em gras protetores do consumidor; e, pelo 9 RODRIGUES, op. cit., p. 5. No mesmo
todos os casos nos quais o Estado é art. 22, a responsabilidade pelo for- sentido AMARAL, op. cit., p. 523.
chamado a ressarcir prejuízos decor- necimento inadequado ou ineficaz do 10 DINIZ, op. cit., p. 302.
rentes de conduta omissiva, bem as- serviço público será de natureza ob- 11 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsa-
sim nas comissivas, poderá ele de- jetiva. bilidade civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense,
fender-se demonstrando a presença Ante todos os argumentos 1998. p. 42; SAMPAIO, Rogério Marrone
de Castro. Direito civil: responsabilidade
de quaisquer das circunstâncias expostos, nosso posicionamento é no
civil. São Paulo: Atlas, 2000. p. 91.
excludentes de responsabilidade. sentido da aplicabilidade da Teoria do 12 AMARAL, op. cit., p. 528; PEREIRA, op.
Poderá, ainda, demonstrar o dano Risco Administrativo, ou seja, da res- cit., p. 5 e ss.; SAMPAIO, op. cit., p. 80;
não ser especial, nem anormal, ou que ponsabilidade de natureza objetiva ao GONÇALVES, op. cit., p. 372.
não tinha o dever de agir. Este largo Estado, pelas condutas omissivas 13 SAVATIER apud AMARAL, op. cit., p. 525.
espectro de defesas leva à conclu- que causarem danos a terceiros, haja No mesmo sentido RODRIGUES, op. cit.,
são de que, mesmo se aplicando a vista a necessidade de proteger o p. 305; DINIZ, op. cit., p. 39.
responsabilidade objetiva, o Estado lesado ante a dificuldade deste em 14 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito adminis-
trativo brasileiro. 23. ed. atual. São Paulo:
não estará sendo erigido à condição demonstrar a culpa ou dolo de algum Malheiros, 1998. p. 530.
de segurador universal. agente ou que o serviço não funcio- 15 Indenização – Furto de veículo estacionado
A evolução da responsa- nou como deveria. Ademais, o art. 37, livremente, à noite, em via pública –
bilidade do Estado, no sentido de sua § 6º, da Constituição Federal é claro Inocorrência da denominada faute du
objetivação, fica ainda mais evidente ao discorrer que o Estado responde, service, quando o Poder Público devia agir
quando se constata a redação do art. independente de culpa, pelas condu- ou não agiu, agiu mal ou tardiamente –
Ordenamento jurídico, ademais, que não
43, do novo Código Civil de 2002, tas comissivas ou omissivas que cau-
adotou a teoria do risco integral – Verba
onde ficou absolutamente claro que sarem danos a terceiros. Todos os ar- indevida – Inteligência do art. 37, § 6º, da
a perquirição sobre a presença do gumentos utilizados pelos doutrina- CF BRASIL. Tribunal de Justição do
elemento subjetivo (culpa ou dolo) dores, a fim de sustentar a tese de Estado de São Paulo. Apelação Cível nº
seria tão-somente na ação regressi- que se aplica a teoria subjetiva na 74.607-5/5-SP. Apelante: Abel Mantovam.
va (do Estado) em face do (agente) responsabilização das condutas Apelado: Fazenda do Estado. Relator: Des.
causador do dano. omissivas estatais, são frágeis e con- Rui Stoco. São Paulo, 26 de julho de 2000.
Revista dos Tribunais, São Paulo, v.782, p.
O legislador brasileiro, bem traditórios. Ademais, o novo Código 235-236, dez. 2000.
como a doutrina e a jurisprudência Civil, ao trazer tal regra no art. 43, cor- 16 MUKAI, Toshio. Direito administrativo
sempre tiveram clara a evolução da roborou a norma constitucional, no sistematizado. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
responsabilidade do Estado, no sen- sentido de que se verificará a culpa 1999. p. 530.
tido de sua objetivação, afastando-a ou o dolo somente em ação regressi- 17 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso
da culpa e aproximando-a do risco, va do Estado em face do agente cau- de direito administrativo. 10. ed. São Paulo:
até assumi-lo, sendo razoável que se sador do dano. Malheiros, 1998. p. 623-624.
18 BRASIL. Código Civil. Art. 15: As pessoas
falasse em algum tipo de responsa-
jurídicas de direito público são civilmente
bilidade subjetiva apenas no período NOTAS BIBLIOGRÁFICAS responsáveis por atos dos seus represen-
do início de vigência do antigo Códi- tantes que nessa qualidade causem danos
go Civil de 1916 até a promulgação a terceiros, procedendo de modo contrário
da Constituição Federal de 1946, ao direito ou faltando a dever prescrito por
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsa- lei, salvo o direito regressivo contra os
quando, promulgada esta, a respon- bilidade civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
sabilidade do Estado passou a ser causadores do dano.
1995. p. 6. 19 MELLO, op. cit., p. 673.
objetiva, ficando revogado o antigo 2 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil 20 DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado.
Código Civil. brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 31.
A doutrina majoritária, inclusi- v. 7. p. 33. 21 OLIVEIRA, Odília Ferreira da Luz. Manual
ve Bandeira de Mello, entende ser 3 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 14. ed. de direito administrativo. Rio de Janeiro:
São Paulo: Saraiva, 1995. p. 5. Renovar, 1997. p. 298.
objetiva a responsabilidade decorren-
4 LOPES, Miguel de Serpa. Curso de direito 22 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade
te do dano provocado por ato lícito civil. 8. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Freitas civil. 6. ed. rev. aum. Rio de Janeiro:
do Estado. Se ato lícito é o que está Bastos, 1996. v. 8. p. 550-551. Forense, 1979. p. 664.
em conformidade com o Direito e, 5 AMARAL, Francisco. Direito civil. 2. ed. Rio 23 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do
para esse, a responsabilidade é ob- de Janeiro: Renovar, 1998. p. 531. O citado Rio de Janeiro. Apelação nº 4545/90. 6ª

R. CEJ, Brasília, n. 23, p. 45-59, out./dez. 2003 57


C.Civ. Relator: Des. Pestana de Aguiar. 53 A teoria do risco administrativo, consagrada BITTAR, Carlos Alberto. Curso de direito civil.
Julg. 19.3.91. em sucessivos documentos constitucionais Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994. v. 1.
24 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de brasileiros desde a Carta Política de 1946, CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual
São Paulo. Agravo de Instrumento nº confere fundamento doutrinário à respon- de direito administrativo. 2. ed. rev. ampl. Rio
144.363-5/5-SP. Agravante: Gerci Ermina sabilidade civil objetiva do Poder Público de Janeiro: Lumen Juris, 1999.
da Anunciação. Agravado: Prefeitura pelos danos a que os agentes públicos CAVALCANTI, Themistócles. Tratado de direito
Municipal de São Paulo. Relator Des. houverem dado causa, por ação ou por administrativo. 4. ed. São Paulo: Freitas Bastos,
Laerte Sampaio. São Paulo, 7 de dezembro omissão. Essa concepção teórica, que 1960. v. 2.
de 1999. Revista dos Tribunais, São Paulo, informa o princípio constitucional da COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito das
v. 775, p. 247-250, maio 1999. responsabilidade civil objetiva do Poder obrigações. 6. ed. rev. atual. Coimbra:
25 MUKAI apud LAZZARINI, Álvaro. Respon- Público, faz emergir, da mera ocorrência Almedina, 1994.
sabilidade civil do Estado por atos omissivos de ato lesivo causado à vítima pelo Estado, CRETELLA JUNIOR, José. Tratado de direito
dos seus agentes. Revista de Jurispru- o dever de indenizá-la pelo dano pessoal administrativo. Rio de Janeiro: Forense, [s.d.].
dência do Tribunal de Justiça de São e/ou patrimonial sofrido, independente- ______. Manual de direito administrativo. 3 .
Paulo, São Paulo, v. 23, n. 117, p. 16, mar./ mente de caracterização de culpa dos ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
abr. 1989. agentes estatais ou de demonstração de ______. Direito administrativo brasileiro. Rio de
26 DIAS, op. cit., p. 252. falta do serviço público. Os elementos que Janeiro: Forense, 1999.
27 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo compõem a estrutura e delineiam o perfil DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito
moderno. 4. ed. São Paulo: Revista dos da responsabilidade civil objetiva do Poder administrativo. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
Tribunais, 2000. p. 430. Público compreendem a) a alteridade do FIGUEIREDO, Lucia Valle. Curso de direito
28 Idem, p. 431. dano, b) a causalidade material entre o administrativo. 2. ed. rev. ampl. atual. São
29 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito eventus damni e o comportamento positivo Paulo: Malheiros, 1995.
administrativo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, (ação) ou negativo (omissão) do agente GALLI, Rocco. Corso di diritto amministrativo.
1999. p. 190. público, c) a oficialidade da atividade 2. ed. rev. ampl. aum. Padova: Sedam, 1994.
30 MEIRELLES, op. cit., p. 536. causal e lesiva, imputável a agente do GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo.
31 BRUNINI, Weida Zancaner. Da responsa- Poder Público, que tenha, nessa condição 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Saraiva, 1995.
bilidade extracontratual da administração funcional, incidido em conduta comissiva GIL, Antonio Hernandez. Derecho de
pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, ou omissiva, independentemente da obligaciones. Madrid: Espasa-Calpe, 1988. t.
1981. p. 32. licitude, ou não, do comportamento 3.
32 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade funcional (RTJ 140/636) e d) a ausência JORGE, Fernando Pessoa. Ensaio sobre os
civil do Estado. 2. ed. São Paulo: Malheiros, de causa excludente da responsabilidade pressupostos da responsabilidade civil.
1995. p. 40. estatal (RTJ 55/503 – RTJ 71/99 – RTJ 91/ Coimbra: Almedina, 1995.
33 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 377 – RTJ 99/1155 – RTJ 131/417). O LAZZARINI, Álvaro. Responsabilidade civil do
Recurso Especial nº 5711. Recorrente: princípio da responsabilidade objetiva não Estado por atos omissivos dos seus agentes.
Estado do Rio de Janeiro. Recorridos: se reveste de caráter absoluto, eis que Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça
Otacília Teixeira da Silva e outros. Relator: admite o abrandamento e, até mesmo, a do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 23, n.
Ministro Garcia Vieira. Brasília, 20 de exclusão da própria responsabilidade civil 117, p. 8-26, mar./abr. 1989.
março de 1991. Disponível em:< http:// do Estado, nas hipóteses excepcionais LENZ, Luís Alberto Thompson Flores. A
www.stj.gov.br/webstj/>. Acesso em: 11 configuradoras de situações liberatórias – responsabilidade civil do Estado pela prática
fev. 2004. como o caso fortuito e a força maior – ou de ato lícito. Revista da Procuradoria-Geral da
34 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do evidenciadoras de ocorrência de culpa República, São Paulo, n. 8, p. 34-40, jan/jun.
Rio de Janeiro. Apelação nº 7613/94. 6ª atribuível à própria vítima (RDA 137/233 – 1996.
C.Civ. Relator: Des. Pedro Ligiéro. COAD RTJ 55/50 - STF – RE 109.615 – RJ – 1ª T. LUZ, Odília Ferreira da. Manual de direito
75286. – Rel. Min. Celso de Mello – DJU administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
35 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de 02.08.1996). MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Respon-
54 MEDAUAR, op. cit., p. 430. sabilidade patrimonial do Estado por atos
Minas Gerais. Revista dos Tribunais, v. 777,
55 BRASIL. Código de Proteção e Defesa do administrativos. Revista de Direito Adminis-
p. 365.
Consumidor (1990). Art. 22. Os órgãos trativo. Rio de Janeiro, n. 132, p. 41-56, abr./
36 CAHALI, op. cit., p. 628.
públicos, por si ou suas empresas, jun. l978.
37 Idem.
concessionárias, permissionárias ou sob MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira de.
38 ALVIN, Agostinho. Da inexecução das
qualquer outra forma de empreendimento, Princípios gerais de direito administrativo. Rio
obrigações e suas conseqüências. 4. ed.
são obrigadas a fornecer serviços ade- de Janeiro: Forense, 1969. v. 2.
atual. São Paulo: Saraiva, 1972. p. 345.
quados, eficientes, seguros e, quanto aos MENDONÇA, Manuel Inácio Carvalho de.
39 CAHALI, op. cit., p. 282.
essenciais, contínuos. Parágrafo único – Doutrina e prática das obrigações. 4. ed. Rio
40 Idem, p. 285.
Nos casos de descumprimento, total ou de Janeiro: Forense, 1956.
41 MUKAI apud LAZZARINI, op. cit., p. 8-26. parcial, das obrigações referidas neste MONTEIRO, Wáshington de Barros. Curso de
42 CAHALI, op. cit., p. 285. direito civil. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
artigo, serão as pessoas jurídicas com-
43 MEIRELLES, op. cit., p. 534; CRETELLA v. 4 .
pelidas a cumpri-las e reparar os danos
JUNIOR, José. Direito administrativo CROSTOBAL MONTES, Angel. La estructura
causados, na forma prevista neste Código.
brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1999, y los sujetos de la obligacion. Madrid: Civitas,
56 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código
p. 684. Entendem que o art. 194 da brasileiro de defesa do consumidor : 1990.
Constituição Federal de 1946 revogou o comentado pelos autores do anteprojeto. LÓPEZ MUÑOZ, Riánsares. Dilaciones
art. 15 do antigo Código Civil, já que com 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, indebitas y responsabilidad patrimonial de la
ele incompatível. 1999. p. 190. administración de justicia. Granada: Comares,
44 CAHALI, op. cit, p. 286. 57 MELLO, op. cit., p. 628. 1996.
45 Idem, p. 287. 58 Idem, p. 628. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de
46 MELLO, op. cit., p. 623. 59 Idem, p. 624. Andrade. Novo Código Civil e legislação
47 Idem, p. 624. extravagante anotados. São Paulo: Revista dos
48 STOCO, Rui. Responsabilidade civil. 3. ed. Tribunais, 2002.
rev. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR NONATO, Orosimbo. Curso de obrigações. Rio
1997. p. 572. de Janeiro: Forense, 1959. v. 2.
49 LAZZARINI, Álvaro. Estudos de direito PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsa-
administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista ÁLVAREZ, Carlos Lasarte. Principios de derecho bilidade civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense,
dos Tribunais, 1999. p. 443. civil: derecho de obligaciones. 4. ed. rev. atual. 1998.
50 Idem, p. 429. Madrid: Trivium, 1996. t. 2. GONZÁLES PÉREZ, Jesús Responsabilidad
51 Idem, p. 626. BAHIA, Saulo José Casali. Responsabilidade patrimonial de las administraciones publicas.
52 MELLO, op. cit., p. 626. civil do Estado. Rio de Janeiro: Forense, 1997. Madrid: Civitas, 1996.

58 R. CEJ, Brasília, n. 23, p. 45-59, out./dez. 2003


SCAFF, Fernando Facury. Responsabilidade do
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WALD, Arnoldo. Curso de direito civil brasileiro:
obrigações e contratos. 14. ed. rev. atual. ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. v. 2.

Artigo recebido em 20/1/03.

ABSTRACT

The article affirms that the Brazilian


doctrine and jurisprudence have not decided
yet about the nature of the State’s civil liability
for omissive conduct. The divergence lies in
the questioning on tacit revocation, or
derogation, set forth in the article 15 of the
1916 Civil Code (article 43 of the new Civil
Code), in accordance with the article 37,
paragraph 6 of the 1988 Brazilian
Constitution.
It examines two positions: one defends
the State’s liability for omissive conduct as
having subjective nature, under the terms of
the article 15 of the old Civil Code, therefore,
remaining, as being of objective nature, only
the liability for obligatory conducts. The other
one supports the objective liability theory not
only for the obligatory conduct but also for the
omissive one, applying, in both cases, the rule
of article 37, paragraph 6 of the Brazilian
Constitution. Nowadays, this divergence
reaches the Judiciary Power and causes a
restraint on the proceedings’ development by
virtue of the discussions concerning the
juridical nature of the State’s liability for
omissive conducts that generated damages.
Finally, it draws some considerations
about the private and general civil liability, since
the State’s liability is a civil one, to which
peculiar principles, however, are applied.

KEYWORDS – Omission; conduct;


new Civil Code, civil liability – State; Brazilian
Constitution; Consumer’s Defense Code.

João Agnaldo Donizati Gandini é Juiz


de Direito titular da 9ª Vara Cível da
Comarca de Ribeirão Preto/SP e profes-
sor da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de Ribeirão Preto.

Diana Paola da Silva Salomão é


Advogada em Ribeirão Preto – SP.

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