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JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO

POLÍTICA, ÉTICA E RELIGIÃO

Coletânea de artigos
publicados na revista “Diretrizes”

Caratinga – MG
2008
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Dados para Citação Bibliográfica

GAMITO, José Aristides da Silva. Política, Ética e Religião. Coletânea de Artigos publicados
na revista “Diretrizes”. Caratinga, 2008.
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A ÉTICA DO CUIDADO AMBIENTAL

A preocupação mundial atualmente se volta para o aquecimento global. O homem fez da


tecnologia uma arma disparada contra si mesmo. A ecologia como uma dimensão moral é
uma novidade de nosso tempo se olharmos a história do ocidente. A concepção judaico-cristã
de homem faz um corte entre seres humanos e natureza. O homem não é visto como natureza,
mas como um sujeito supra-natural posto no cosmo. E este mundo se tornou o seu utensílio de
satisfação de sua vontade de poder. A gênese do capitalismo sacralizou essa antropologia
(visão de homem) e acentuou a superioridade da razão, dando condições para que a natureza
fosse explorada sem controle.
Até o início da modernidade questões como meio ambiente e uso responsáveis dos recursos
naturais não eram cogitados como aspectos morais. A técnica e o capital não permitiam
pensar na finitude dos bens naturais. Somente a partir da década de 70, aparecem os primeiros
índices de uma consciência ecológica. Representa esta revolução ecológica o surgimento da
permacultura. O termo vem da expressão “agricultura permanente” e consiste num método de
organização humana ambientalmente sustentável com viabilidade financeira e equilíbrio
social. O sistema foi criado pelos ecologistas australianos Bill Mollison (1928) e David
Holmgren (1955) na década de 70. A sustentabilidade ecológica e humana é a base das
comunidades permaculturais. Reúnem práticas agrícolas, arquitetura bio-sustentável,
saneamento básico e toda estruturação da vida em harmonia com o meio.
Como reflexão, a relação como o meio ambiente ganha teoria como as propostas éticas do
filosófo alemão Hans Jonas (1903-1993) e do australiano Peter Singer (1946). O primeiro
centrou sua preocupação nos problemas gerados pela tecnologia, formulou o princípio de
responsabilidade, segundo o qual deve-se permitir somente atos cujos efeitos possibilitem a
permanência da vida humana genuína na terra. É vital um equilíbrio entre progresso técnico e
qualidade de vida. O segundo levantou bandeira em favor dos animais, reconhecendo o direito
de proteção, preservação e tirando-os da lista de consumo humano. Não se pode discriminar
uma espécie por não ser humana. Todas as espécies que são capazes de sofrer têm os mesmos
direitos que o homem. Para o pensador é imoral criar animais confinados e geneticamente
alterados para consumo. A solução é ser vegetariano.
Ao lado desses sistemas de vida e pensamento estão as ONGs. Crescem, em grande
proporção, as organizações que defendem uma relação saudável com o planeta. Um destaque
entre elas é Greenpeace Foundation. Fundada em 1971 no Canadá. Presente em quarenta e um
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países, é sustentada por 2,8 milhões de membros particulares. Seu campo de ação é o
ambiente, em questões dealterações climáticas, preservação
dos oceanos e florestas, paz edesarmamento, engenharia genética, desenvolvimento
nuclear,comércio justo ou sustentável.
Os debates e as ações são velhos. Mas, somente a pressão do aquecimento global fez o
assunto se tornar novo e presente na boca de todo mundo. Para reverter a progressiva
destruição do planeta, não bastam só teorias. Há que se desenvolver uma educação ecológica
que saia dos livros e se torne prática cotidiana. São atitudes de ética ecológica como se
recolhe o lixo, cuida da água, estrutura o quintal de casa. As instituições podem promover
essas ações. Porém, por trás delas, deve estar uma mentalidade nova. A base da conversão é
ecológica é aceitar a condição natural do homem. Ele é um membro frágil e dependente do
ecossistema. Não está autorizado a sobrepor as outras criaturas. Não é dono, é hóspede
convidado a cuidar. É precedido, gerado, circundado e sustentado pela natureza. Enfim, é um
convite ao retorno ao homem natural.

O ENFRAQUECIMENTO DO CONCEITO DE CIÊNCIA

Dentre as diversas transformações trazidas pela pós-modernidade, pretendo abordar neste


artigo o enfraquecimento do conceito de ciência. O positivismo pretendeu dar à ciência um
caráter absoluto, uma objetividade impecável que afastava qualquer subjetividade da pesquisa
científica. Com o decorrer dos anos esse cientificismo passou a ser asfixiante, o campo de
atuação da ciência tornou-se vasto e uma crescente ramificação e especialização foram
assumidas como solução. O conceito moderno de ciência nasceu atrelado à clareza e à
distinção, separando-se de um conjunto de temas e procedimentos ditos anticientíficos. Esses
princípios se intensificaram, tomaram diversas expressões como o iluminismo e o
positivismo. Porém, com a pós-modernidade vemos um constante enfraquecimento do
rigorismo científico principalmente nas ciências humanas. Temas e teorias inadmissíveis
anteriormente passam a chamar a atenção dos cientistas. A ciência na pós-modernidade
tornou-se relativa, personalizada, ramificada e aproximativa. Banalidades do cotidiano
transformaram-se em objetos da ciência, de hora em hora nasce mais uma “logia” ou “grafia”.
Muitas teorias internalizadas nos cotidiano pelas pessoas como se fossem verdades
irrefutáveis e são aplicadas a torto e a direito gerando exclusões e determinismos. A
psicologia de um tratado da filosofia metamorfoseou-se na religião salvífica do século XX.
Absolutização das psicoterapias, a experiência de quase morte (EQM), a hipótese de Deus na
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astronomia, as teorias mirabolantes da parapsicologia, as regressões detalhistas são teorias


admitidas como científicas que provêm mais do discurso da imaginação do que do conceito
genuíno e forte de ciência. A terapia de vidas passadas se vincula a uma série de implicações
pouco científicas. Brian Weiss, psiquiatra dos EUA na obra “Muitas Vidas, uma Só Alma”
propõe a técnica da progressão. Pela hipnose poderia ver o que as pessoas serão no futuro.
Uma síntese de imaginação cognitiva, metempsicose e noção confusa de tempo ganha uma
roupagem científica e entra a todo vapor no mercado. E muitas outras hipóteses improváveis
desfilam como ciência. A verdade para a pós-modernidade é uma experiência estética,
individual, confirmada pela aparência. Toda relação cognitiva se reduz à hermenêutica, as
teses e dissertações são apenas engenhosas colagens. O arranjo do discurso, a sua imagem
garante a veracidade. Por essas razões acima citadas, chegamos a uma conclusão incipiente
que estamos nos deparando com um enfraquecimento do conceito de ciência. Isto no põe de
sobreaviso em relação aos produtos intelectuais que recebemos e assimilamos como
científicos. Científico, verdadeiro e seguro não são mais sinônimos.

COMENTÁRIOS SOBRE O EVANGELHO DE JUDAS

O Evangelho de Judas propõe ser um relato secreto do que Jesus revelou a


Judas, em conversa particular, uma semana antes de sua morte. Assim se inicia o texto: “O
relato secreto da revelação de Jesus na conversa com Judas Iscariotes, durante a semana dos
três dias antes da Páscoa que ele celebrou.” Em seguida, o texto vai se desenvolvendo com
diálogos entre Jesus e os discípulos, em menor quantidade; o acento é maior nos diálogos a
sós com Judas. Jesus interpreta uma visão de Jesus, ensina-lhe cosmologia, descreve a
criação, os primeiros pais, os anjos e o destino da humanidade. Depois de revelações gerais, o
mestre fala da missão especial de Judas, a sua precedência no meio dos discípulos, a narrativa
é concluída com o episódio da traição. Traição aprovada por Jesus. A obra soa como uma
tentativa de resgate da figura de Judas, a partir da justificação e isenção de sua culpa na
traição. Jesus apresenta características dos textos gnósticos e também dos sinóticos. É um
profeta misterioso, intérprete de sonhos, que possui uma sabedoria secreta não-compreensível
a todos. Os seus títulos são: mestre, profeta, filho de Deus. A eleição de Judas como seu
confidente, decorre do fato de o discípulo ter uma fortaleza espiritual superior aos outros
discípulos. Ele revela quem é seu mestre e descobre a sua origem. Algumas situações nos
levam a perceber certa crítica ao templo, que pode refletir a própria situação da comunidade
autora em relação à igreja oficial. Os discípulos estão destinados a superarem o poder do
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templo. O ensino de Jesus tem dois públicos como alvos: uma geração misteriosa e a geração
presente. A doutrina de Jesus tem característica gnóstica, ela extrapola a racionalidade do
texto. O mestre ensina cosmologia, revelando a origem dos primeiros pais, dos anjos, da
humanidade. Descreve a hierarquia dos eões. Cristo é posto como o grande Seth, o
primogênito dentre todas as criaturas. Esta concepção aproxima-se de Paulo, quando este
coloca Cristo como o primaz das criaturas. A chave de leitura da compreensão da figura de
Jesus decorre da sua íntima relação com Judas. A partir desses colóquios Cristo vai se
revelando como mestre, filho de Deus, o primeiro dentre as criaturas. A sua morte fica
subentendida no final, aos descrever a cena da traição. A identidade do confidente de Jesus é
evidente no texto. Judas é o principal interlocutor do Mestre. Possui uma espécie de primado
no meio dos discípulos, encarna em si a figura de Pedro e do discípulo amado dos canônicos.
Judas possui uma fortaleza espiritual ímpar no meio do discipulado. O texto diz: “Tu
ultrapassarás todos eles.” Ele não é visto como o filho da perdição (Jo 17, 12), mas ao
contrário, o discípulo principal. O texto o transforma no filho da bênção. Isto é devido à sua
missão diante de Jesus: “Tu me libertarás do homem que me reveste”. A mais importante e
conclusiva. O texto se situa no século segundo II, foi escrito pela seita dos cainitas. Tratarei
esse autor ou autores de comunidade. Esta provavelmente admirava Judas e fizeram uma
releitura da sua traição. A doutrina do desprezo do corpo presente nesses grupos muito
contribuiu para a reinterpretação. A comunidade patrocina um resgate da figura de Judas, ação
dele é este justificada e o discípulo a passar do primado espiritual. A comunidade relê a
trajetória de Judas, coloca a sua rejeição pelos cristãos como o cumprimento de uma profecia.
E depois de um tempo de rejeição, ele seria relembrado. O evangelho é esta fonte importante.
Ele revela ensinamentos que só Judas teve acesso. A atribuição da autoria a Judas se insere
em casos comuns dos evangelhos. O documento nos ajuda a compreende o cristianismo
primitivo. Questões como a diversidade de idéias, o primado entre os apóstolo, a
supervalorização da figura de Jesus e a fusão entre cristianismo e helenismo. As lacunas do
manuscrito deixam muitas passagens obscuras. A visão integral do texto fica comprometida.
É um texto pequeno. Mas, de difícil leitura.

REFERENDO SOBRE ARMAS: UMA ANÁLISE

Referendo – Por que os brasileiros disseram “não”? O Tribunal Superior


Eleitoral (TSE) 63, 88 % dos eleitores disseram “não’ à proibição do comércio de armas e
munição, e 36, 11 % escolheram o “sim”. O resultado representou um retrocesso no
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desarmamento do país, embora não impeça a continuidade do mesmo. Existem outras


restrições aprovadas pelo Congresso que garantem o processo. O “não” prevaleceu apesar da
insistente conscientização dos movimentos que se propõem como força de paz. Quais seriam
as razões? Muitos alegaram que a pergunta do referendo não foi clara. E ainda, muitos dos
participantes não conheciam as outras leis e consideram a questão isoladamente. Os motivos
bem eloqüentes se concentram na situação sócio-econômica do país que não oferece
segurança. O acesso à problemática que girava em torno do desarmamento chegou ao eleitor
via propaganda eleitoral, que mais confunde do que esclarece. A intenção da propaganda é
influenciar a opinião dos cidadãos, isto fez com que a questão fosse levada para o nível
pessoal, desconsiderando os efeitos sociais do referendo.Os defensores do “não” alegaram que
a solução não seria proibir, isto seria uma privação de direitos do cidadão. Mas, a
Constituição brasileira não prevê direito universal de porte de armas para os cidadãos.
Portanto, a reivindicação é legalmente insustentável. Deslocaram a solução para a educação.
Porém, esta é uma resposta a longo prazo e a violência no Brasil não pode continuar nesse
nível, a situação é gritante. O procedimento só seria viável num país altamente democrático,
com altos índices de educação e maior distribuição de renda. Para um processo de paz
democrático e educativo, o desarmamento deveria acontecer a partir de dois movimentos: um,
a curto e outro, a longo prazo. Imediatamente, desarmar uma sociedade que não sabe conviver
com as armas e gradualmente, investir na educação e reformas econômicas e sociais que
extirpem a violência pelas raízes.Ainda é válido pensar que a mentalidade de violência já se
instalou de certa forma no brasileiro que a resposta à violência tem sido atos violentos. O
Estado perdeu o controle sobre a realidade, não oferece segurança e o cidadão tem de se
defender a todo custo. Isto confirma que o referendo foi mal preparado, encarado como um
elemento desligado de uma lei maior que tenta contemplar uma realidade mais ampla,
embora, não vincule a ela as reformas econômicas e sociais necessárias. O Estatuto do
Desarmamento foi seccionado da pergunta do referendo.Por meio de algumas razões estamos
tentando entender as razões do “não” baseado em critérios econômicos e sociais. Já do ponto
de vista estritamente religioso cristão, que dizer da grande maioria cristã que optou pelo não?
A situação social influenciou, a mídia converteu uma questão do bem-comum em auto-defesa.
A percepção mais grave é que na prática cristã do brasileiro, seja católico ou evangélico, há
uma separação entre fé e ética. A primeira tem sido orientada pela igreja, mas a ética
transformou-se numa escolha muito pessoal, que nega a natureza da ética. Esta, mesmo no
que toca ao pessoal, ela é toda orientada para a sociedade e para o bem-comum. Nenhuma
definição ética é egocêntrica. O rosto do cristão ficou bastante configurado neste resultado do
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referendo. A fé tem se tornado uma instância muito procurada, mas que só age na dimensão
psicológico-existencial, não chega a atingir o agir ético que se faz necessário no concreto das
relações. A ocasião é propícia para a Igreja conhecer melhor seus fiéis e seu modo de lhes
falar. A propósito de uma avaliação geral, o fato aqui discutido não deve invalidar nossos
esforços em favor da cultura da paz. A esperança ainda continua. O referendo representou um
grande passo para a história da nação brasileira. Mesmo que o motivo seja a dor, a
humanidade começa a construir timidamente a civilização do amor tão sonhada. A maioria
disse “não” à vida, mas ela continua se afirmando incansavelmente e não há de ser ignorada
sempre.

RELIGIÃO, JUVENTUDE E IDENTIDADE

A questão da identidade apresenta-se como uma dificuldade constantemente


debatida atualmente. Esta não se refere exclusivamente à resposta de “quem sou eu ?” , mas a
indagação é muito mais ampla “o que faço ou como eu assumo este eu que sou ?”. Assumir
um eu romântico totalmente positivo, otimista, auto-motivador é uma tarefa fácil, porém o
cerne da questão está em como assumir este eu real incluindo a possibilidade do fracasso.Na
época contemporânea temos diversas propostas que prometem solucionar o dilema da
identidade e da auto-realização. Existem propostas de redenção fácil, desvinculadas da
liberdade, excluindo o sofrimento da condição humana. Não podemos negligenciar, há uma
imensa e ameaçadora conjuntura sócio-política e econômica em torno do jovem, exigindo dele
uma modelação conforme o padrão estabelecido pelo mercado: emprego, faculdade,
casamento e profissão. Como fazer uma autêntica escolha de si levando em conta todo esse
conjunto de situações? Para se realizar a todo custo, muitos preferem o caminho mais curto e
inautêntico o “ser como os outros”. A tentação é negar a sua identidade para assumir a
identidade da massa anônima na qual todos se comportam uniformemente: moda, ídolos,
consumo e repetição de comportamento e idéias. A questão é mais séria do que se pensa,
muitos tentam protestar contra a massificação por de guerrilhas e terrorismos. O eu não é todo
mundo, ele é uma singularidade inalienável, não pode passar o seu poder de decisão para
outrem. O problema se agrava mais ainda quando juntamente com o nosso ser o nosso fazer se
massifica também. O jovem passa fazer o que todo mundo faz, seu comportamento não é
diferenciado. A perda da identidade existencial e moral tem sérias conseqüências. Ela afeta as
relações provocando um desequilíbrio incluindo crimes e problemas psíquicos. Na escolha de
si há risco de se perder, do fracasso, de não se realizar, isso nos angustia. O principal sintoma
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é perda do sentido da vida. Dentre tantas propostas de existência autêntica existe a religião.
Que orienta, significa, mas a auto-escolha a precede. No nosso caso de cristão, o Evangelho é
uma proposta-experiência que redimensiona a vida. O no ser é assumido como filho de Deus e
o nosso fazer na construção do Reino. O lugar do jovem ainda anda muito indefinido na
Igreja, é necessário ocupar esse espaço. Cristo nos convida a uma escolha fundamental, a
escolha dele, implica a escolha de nós mesmos. Fazendo o nosso batismo e a nossa marca de
cristão. Quanto ao fazer somos intimados a construir uma civilização do amor, superando a
falsa fraternidade desenvolvida entre nós. A nossa tarefa é usar o vigor juvenil que temos para
superarmos o comodismo diante da atual e circundante situação do mundo contemporâneo.
Fazer como Cristo fez com a sua situação histórica.

A NATUREZA E A EDUCAÇÃO DO CUIDADO

Há muita carência de educação no mundo. E uma delas que tem feito falta
entre nós, é a educação para o cuidado. O cuidado tem uma tarefa dupla: cuidar dos outros e
cuidar do mundo. O nosso descuido com a natureza tem provocado agressões catastróficas.
Atualmente, devido ao efeito estufa o nível de acidez nos oceanos aumentou, juntamente com
o aquecimento destes, a vida oceânica está ameaçada. Os elevados níveis de ozônio na
atmosfera têm causado alterações nas plantas e animais. Os invernos rigorosos da Europa
tendem a acabar e as geleiras, a derreter. Esses são exemplos de algumas mudanças naturais
resultantes da nossa deseducação para o cuidado.O nosso descuido com os outros engloba
tanto essas agressões à natureza quanto o desrespeito direto ao outro. Exemplo claro disso,
são as guerras que presenciamos diariamente. Mais do que nunca, precisamos a aprender a
cuidar. Esta é uma arte difícil, exige dedicação, discernimento e previsão. Significa assumir a
presença dos outros no mundo e assumir o próprio mundo como sustentáculo para os nossos
projetos. A lição de Gn, 1, 28 de “crescer”, “multiplicar”, “encher” e “dominar a terra” ecoa
aqui. Esses imperativos devem ser entendidos como a prova da grande responsabilidade
humana de cuidar da natureza, cuidar como um pastor dedicado.A faculdade de cuidar é
própria do homem. Cuidar vem de cogitare “pensar”. Os animais, de certa forma, cuidam dos
seus. Porém, só o gênero humano devido à sua racionalidade foi constituído, pela natureza,
pastor da criação. Esta opção se torna fundamental, porque agredir a natureza para ele, é
agredir a si mesmo. Há uma relação filial incorruptível entre os dois. Pena que temos nos
esquecido disso. E vivemos imprudentemente agredindo uns aos outros e a nós mesmos,
através da natureza. No dia 4 de outubro comemoramos o Dia da Natureza, dia de São
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Francisco de Assis. Este homem enriqueceu o cristianismo com a sua espiritualidade da


simpatia com a natureza. Ele se sentiu próximo dela numa relação fraterna. Acima de tudo,
poderíamos chamá-lo de mestre da arte do cuidado. Ele soube cuidar de si mesmo, do outro
(na pessoa do menos favorecido) e do mundo (natureza). Esta simples reflexão não deve parar
por aqui, deve suscitar outras, que nos impulsionem a aprender essa arte, enquanto ainda é
tempo. Se aprendermos as lições franciscanas do amor à natureza, a nossa esperança se
fortalecerá. Salvemos a natureza nos tornando alunos louváveis da escola do cuidado.

A CARÊNCIA DE UMA EDUCAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL

A tradição educacional brasileira exclui do seu currículo uma atenção para a


Educação Política. Ao analisarmos as preocupações dos nossos educadores constatamos uma
concentração delas na formação técnica, com o prejuízo da formação ética. Isso não se deve à
falta de teorias para embasamento de tais projetos, pois temos bons teóricos da educação e
cidadãos conscientes no exercício do magistério. Mas, a razão é bem outra, conscientização
política não é prioridade para o Estado.No passado a disciplina ocupou espaço nas escolas, no
período da ditadura militar, sob o nome de Educação Moral e Cívica. Porém, a intenção foi
bem diversa da nossa nesta reflexão, funcionava como um mecanismo ideológico do Estado.
Atualmente se encontram nas escolas algumas matérias paliativas do campo das ciências
humanas para simular o interesse do Estado, tais como Filosofia, Sociologia e Ensino
Religioso, que são vistas com descaso. A educação crítica fica sempre a desejar.Esta carência
tem causas históricas que remontam à época do voto de cabresto. Ela é resultado da soma de
vários sestros sociais que compuseram uma indiferença política muito marcante no povo
brasileiro. Apesar de muitas iniciativas sociais surgidas nas últimas décadas, há ainda muitos
resquícios da velha ordem do coronelismo. Não excluímos aqui o espírito revolucionário do
nosso povo manifesto em muitas ocasiões da nossa história, muitas revoluções aconteceram,
mas só quando a situação já era insuportável. A partir dessas considerações feitas, vale
recordar a importância do nosso envolvimento na administração do bem comum. Evitando
procedimentos como venda de votos, partidarismo agressivo e comodismo social. Este
processo de conversão tem acontecido, mesmo que de uma forma muito lenta. Por exemplo,
há muito se reservou o papel da mudança à instituição, agora já percebemos que ela provém
das forças populares. Isso constitui um passo fundamental. A Educação Política precisa se
tornar uma realidade contagiante. A proposta seria organizar um poder paralelo ao Estado,
dirigido pelo povo. Partindo da articulação dos movimentos sociais existentes e da direção de
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todos os nossos esforços para uma nova ordem. A conscientização para essa necessidade,
direito e poder, é dada pela educação. Esta seria de responsabilidade de todos os segmentos
educativos da sociedade, especialmente a escola, na qual a Educação Política se converteria
numa disciplina prioritária. E não com a ocupação periférica que tem atualmente na Escola.
No fundo é voltar todas as nossas atenções com seriedade e urgência para as Políticas
Públicas, dando ao país uma cultura de Educação Política, libertando-nos dos rotineiros vícios
de cidadania. Precisamos de uma mentalidade aberta à mudança. O momento oportuno é
agora. Que tal começarmos com um voto bem consciente nas eleições deste ano?

OS FÓRUNS SOCIAIS E A EMERGÊNCIA DA SOLIDARIEDADE

Ao abordar superficialmente a situação a situação do nosso mundo, temos


inúmeros razões para dispensar a esperança. Uma das razões é o desaparecimento daquela
febre social dos anos 60 e 70 e até o início dos anos 80. Mas semente ainda permanece. Porém
ao descermos com atenção na contemporaneidade percebemos motivos para a nossa
esperança. Iniciativas sociais isoladas representam uma nova forma de protestos com a
emergência da solidariedade, índice de uma nova ordem. O que turva a nitidez da nossa visão
é a morosidade e a desarticulação aparentes desses movimentos. A atual fase do protesto
social tem características bem diversas das anteriores. A anterior era muito eufórica, radical,
desligada do possível, pouco diálogo, menos debatida, isso prejudicava a sua eficiência. Já a
atual conta com muitas vantagens, frutos das experiências anteriores, são organizadas,
dissociadas de partidarismo e abertas ao diálogo. Fatores que possibilitaram o seu
enfrentamento com a ordem vigente de igual para igual. Uma das maiores expressões desta
nova maneira são os fóruns sociais. O fórum social é um evento definido por um comitê
organizador mundial que determina princípios e temas a serem discutidos. Ele se torna a voz e
vez de todos outros movimentos sociais. Um espaço aberto a todos. No evento acontecem
seminários, oficinas, exposições e conferências. O seu berço foi Porto Alegre, desde a sua
primeira edição cresce assustadoramente. Como mencionei acima, os fóruns representam uma
nova fase do protesto social, uma nova ordem e a emergência da solidariedade internacional.
Está emergindo a medida mais desafiante e ao mesmo tempo mais eficaz contra as seqüelas
desumanas do capitalismo: a solidariedade. As barbaridades cometidas em favor do lucro
provocaram a evidência de um sentimento muito antigo na humanidade. Mas, que irrompeu
agora impulsionado pela necessidade de maneira nunca vista. Estamos entrando numa era em
que a solidariedade está rompendo timidamente com a exclusão capitalista. Eis a esperança!
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Esta solidariedade tende a crescer e se tornar autêntica e a salvação para o humanidade da


mania de destruição que ela mesma criou.

O FENÔMENO CHAMADO MÃE

Na maioria das línguas a palavra mãe tem a letra m em comum. Os diversos


povos parecem concordes quanto ao significado deste termo, ao nome deste fenômeno. A
natureza em seus milhares de anos de evolução, foi desenvolvendo modos de reprodução e
conservação da vida. E de repente no auge do processo de aperfeiçoamento das espécies, eis
que o gênero humano surpreende, desenvolve o mais belo meio de transmissão da vida. Surge
o fenômeno mãe. Este fenômeno parece descritível à primeira vista, porém, no mais profundo
do seu sentido, só há mistério e admiração. Mãe é uma palavra que traz consigo uma riqueza
de sentimentos e significados: doação, ternura, amor incondicional e doçura. Se pudéssemos
atribuir desejos à natureza, poderíamos afirmar que ser mãe é o modo como ela se arranjou
para se sentir amada e extasiada pela sua porção que é filha. Esta dádiva da existência já, por
muitas vezes e por diversos estilos, foi homenageada em prosa e em verso. Contudo, nenhuma
composição artística pode esgotar o valor sempre surpreendente do que é mãeEm todas as
culturas e em toda circunstância, este modo de ser mulher chega para conferir sentido à
existência frágil que é o ser humano. Ela parece uma força-reserva que a natureza criou para
nos proteger, afagar e ratificar o nosso valor. Mãe sempre me garante que o que nos
caracteriza como seres humanos não é a razão e sim o amor. Mesmo contrariando qualquer
teoria científica ou filosófica o amor de mãe me garante isso. Não há na natureza uma outra
realidade mais sublime do que essa. Não somos o homo sapiens, somos o homo
amans.Quantos rostos de mãe podemos contemplar ! Mãe bem amada, mãe abandonada, mãe
resistência, mãe vitoriosa. Mas, em todas flui o mesmo amor. Todos os homens experimentam
o mistério deste amor. Os animais também o experimentam na forma da proteção e da
nutrição. Só faltava na história do cosmo, Deus ter mãe. Este se encantou tanto com a sua
criação que quis ter uma também. As religiões mitológicas sabiamente já prefiguraram este
acontecimento ímpar. A humanidade sempre desejou ter uma mãe no céu. Nas mitologias dos
povos de formas variadas se apresentaram divindades mães. E fomos aos poucos descobrindo
que Deus é muito mais mãe do que pai. Ainda mais, por conseqüência extrema o universo
inteiro se configura como uma grande mãe protetora de todas as coisas existentes. E a mãe
suprema desta grande mãe só poderia ser Deus. Estamos todos envoltos por mães desde as
nossas origens até os nossos fins. O amor materno pede o desenvolvimento de um afeto muito
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especial: a gratidão. Sabemos que todo dia é dia das mães, mas precisávamos convencionar
um dia para exprimirmos a nossa gratidão. Assim nasceu o dia das mães, uma data magnífica.
Historicamente há uma superação a ser feita. Essa data não é dia de consumo, nem de poesia
barata e muito menos dia de lazer. É, acima de tudo, livre de qualquer amarra capitalista, o
Dia da Celebração da gratidão e do amor mais sublime que há entre nós. Nisto todos povos
são concordes !!! Eis a surpresa que nos fez Deus na evolução da existência. Que presentão!
Felicidades a todas a nossas mães .

A "POLITICOFOBIA" DOS BRASILEIROS

A história se repete. Nas eleições presidenciais passadas, estávamos decepcionados com a


política brasileira. Havia uma esperança na nossa frente. A esquerda assumiria o poder.
Daquela vez seria para valer. O povo estaria mais próximo do poder. Os anos se passaram e
outra vez estamos decepcionado e sem esperança. Descobrimos que a esquerda quando sobe
ao poder se "endireita", torna-se apenas uma simulação do mesmo. Percebemos o quanto
caremos de ética.
O período lulista nos deu uma lição histórica. A bandeira socialista não resiste mais ao
mercado. Política e ética se converteram em produtos negociáveis. Não é uma permuta de
indivíduos no poder que garantirá uma nação melhor. Com um novo método temos que nos
voltar para as bases. Regastar a participação cidadã, sendo um cuidado para deificar
mediações partidárias. Esse momento exige cautela. Depois de recuperar a nossa esperança,
devemos recomeçar. Somente uma mudança estrutural ousada e gradual pode nos devolver
uma paixão pela política. Há uma urgência de educação ética para as nossas crianças. Não
repitamos o erro de formamos técnicos políticos, precisamos de homens apaixonados pelo
bem comum.

VERDADE E CONTRADIÇÃO NO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

O constante crescimento da tensão entre mulçumanos e cristãos nos leva a


questionar a postura das grandes religiões monoteístas. As diferenças culturais entre oriente e
ocidente são enormes. O choque cultural é inevitável. As culturas não estão num mesmo nível
de compreensão da realidade. As religiões monoteístas sempre tiveram tendências
absolutistas. O judaísmo historicamente foi menos problemático. O islamismo e o
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cristianismo fortemente marcados pela propagação da fé, quiseram se tornar religiões


universais. E num sistema de verdade fechado não há espaço para a diversidade. Essas
religiões trazem consigo uma visão de mundo monista. A modernidade forçou o cristianismo
a uma conversão que o enriqueceu muito. Ajudou-o a recuperar o espírito primitivo: a religião
da tolerância e do amor. Mas a cultura ocidentalista construída ao longo dos séculos contínua.
Ela, veladamente, considera o oriente irracional e primitivo. Isso se deve à transposição
cultural feita com o cristianismo, de um povo intuitivo, sensível para uma civilização marcada
pela razão e pela metafísica. Por outro lado, o oriente islâmico considera os ocidentais como
infiéis, ateus e materialistas e devem ser convertidos. A destruição do Word Trade Center deu
início a uma grande cruzada na era contemporânea que fica cada vez mais tensa. As guerras
no Afeganistão e no Iraque provaram a hipocrisia do Império Americano, ícone do ocidente.
O fundamentalismo democrático pela força da razão sustenta uma aparência mascarada pelos
ideais da Revolução Francesa, mas no fundo relativiza seus discursos em favor do mercado.
Os fundamentalistas orientais são menos hipócritas. Seus ideais são levados até as últimas
conseqüências, o indivíduo e a pátria se fundem. Dando ocasião para o tipo de “martírio” dos
homens-bombas. Religião é uma questão séria demais. Por isso essas defesas violentas de
convicções. Os monoteísmos universalizantes fizeram um difícil concubinato entre verdade e
contradição. As religiões pregam a prosperidade do mundo, o amor de Deus e salvação dos
homens, mas usam meios contraditórios para imporem essas verdades. É totalmente
contraditório pregar Deus por meio da guerra. Para elas, a fé dignifica e autoriza uns a
sacrificarem outros na tarefa de homogeneizar o mundo. O múltiplo não é tolerado. A
proposição principal é: Deus é uno. Daí se justifica o monismo: uma só fé, uma só cultura, um
só pensamento. O diverso é visto como subversão ao plano de Deus. O que fizemos da
religião? Poderíamos nos perguntar. Um grande problema é a mediação histórica da verdade.
Homens, lugares determinados e sistemas de pensamento tornam-se mediações necessárias
para a verdade ou para Deus. As religiões do Livro sacralizam a palavra escrita e a amarram a
conceitos fixos. Os intérpretes fazem da palavra seu refém. Ela profere literalmente a palavra
de Deus de modo fixo e cristalizado. Todos os espaços da vida têm que ter uma referência ao
divino. Há uma colonização do cotidiano pela Palavra cristalizada. A religião passa a ser
condição fundamental para a antropologia – o homem é um subordinado ao Deus petrificado
nas escrituras. Um conflito entre oriente e ocidente pode acontecer a qualquer momento. A
grande cruzada reparadora da Idade Média é uma possibilidade a qual não podemos ignorar.
O fim da história e do mundo pode ter como causa uma guerra religiosa. Assim provaremos
para quem sobreviver o quanto conhecemos a verdade. Relativizamos o nosso conceito de
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dignidade humana para defendermos o divino. Somos religiosos para termos tempo para
sermos humanos. Uma guerra religiosa é soco mais dolorido que podemos dar no coração de
Deus, Numa religião que perde a razão de vista, a verdade e a contradição se confundem.

A VISITA GRATUITA DE NOSSO DEUS

Quando percebemos ele já estava no nosso meio. Quem podia imaginar que
aquela criança de Belém era ele?! Seu primeiro choro infantil foi lição de amor tão singular. A
humanização de Deus foi surpreendente, gratuita e não exigiu respostas. Belém não é um
lugar necessário. O coração do homem é um presépio gratuito do divino. Mas, ele quis armar
a sua tenda entre nós. Tornou-se um profeta não para nos ensinar um código de moral, mas
para nos convidar a uma experiência acessível a todos: o amor. Porém, tenho de discorrer
sobre a natureza desse amor. Ele não é um amor exigente e nem é recíproco. Ele é pura
iniciativa, nítido desdobramento em favor do outro. Ele não diz faça o bem para ser salvo.
Mas, nele já está implícita a salvação: o bem faz sentido porque vivemos uma relação de
pessoas salvas. A História da Salvação plenificada na epifania do Senhor nos mostra uma
relação de graça. Entre o homem e Deus há uma caso de aspiração e sedução infindável. O
Natal nos faz repensar a nossa relação com Deus. Ele não tinha nenhuma dívida conosco, não
havia um contrato exigindo a sua manifestação para que crêssemos. Nem impôs a fé como
condição. No entanto, ele veio. Ele que nos criou livremente. Só poderá receber uma resposta
gratuita. Ao longo da história nosso zelo excessivo foi instituindo obrigações para o amor. E
passamos a dizer que devemos o amor uns aos outros. Isso não cabe na natureza intrínseca do
mesmo.Como podemos sentir a relação de graça e de liberdade com o nosso Deus? A fé cristã
não parte da adesão a um conjunto de verdades. Começa com um encontro pessoal com Jesus.
Ás vezes, mediado pela comunidade ou não. A estrutura central desse ato de fé que nasce
dessa apresentação interpessoal é o amor. Não é uma experiência moral em primeira instância.
É uma relação estética pautada por um amor espontâneo. A conversão de muitos santos se
deram da maneira mais impensável. É um enamoramento sem formas prévias, sem exigências
de reciprocidade. Compreende-se a medida do amor é com o próprio amar.O Evangelho
provoca uma virada de expectativa diante da lei. Enquanto, se espera do devoto um
cumprimento perfeito dos mandamentos. A gratuidade evangélica vai além, justamente
naquilo que não se exige. Não precisamos mostrar nossas ações para atrair recompensas, o
intuito do bem não é receber outro em troca. Essa pespectiva contradiz os ditos “amor com
amor se paga”, “o bem se paga com bem”. A essência evangélica nos convida a dar mais um
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passo, convida-nos a uma virada de expectativa. O amor não nos faz devedores. Se
concordamos com atitude farisaica (da recompensa), no lugar em que não se fizer mais o bem,
não teremos motivação para realizá-lo. O efeito da graça na vida humana só pode ser uma
postura de gratuidade. Caso contrário estaremos numa relação ambígua. A encarnação só
pode ser entendida num contexto de graça e a relação com ela fará sentido se for por nada. E
as nossas relações interpessoais? Qual será o parâmetro? O limite é o amor. Ele é desmedido.
“Ama e faze o que quiseres”, dizia Agostinho. Não tenhamos medo o amor dá o contorno
próprio ás coisas autenticamente humanas. Se não há uma relação de necessidade e de
obediência. Então, tudo é permitido, dirão alguns. Quando desviamos e projetamos a razão do
amor na premiação que Deus nos conferirá, desfiguramos o amor divino. Se tiramos a
premissa esquecemos que somos seres amorosos. A graça age a na comunhão entre o homem
e Deus. A salvação é a maneira objetiva como a graça nos toca – não depende de nosso
mérito. Agora a santidade é a relação subjetiva que se estabelece com a graça. É acolhida livre
e pessoal da salvação – é uma construção pessoal. Essas relações quando são confundidas,
não conseguimos compreender a visita gratuita que nosso Deus nos faz a cada Natal. Amar é
próprio de quem cultiva a hospitalidade. Fica o convite para acolhermos o nosso visitante
neste Natal, em outras palavras: sejamos gratuitos – amemos as pessoas pelo que elas são e
não pelo que elas podem nos dar. Assim como o nosso Deus fez conosco na Encarnação.

UM OLHAR SOBRE AS RAÍZES DA PAZ

“... homem...Ele nos parece o animal mais forte porque é o mais astuto: um dos
corolários disso é a sua intelectualidade” (Nietzsche). O ser humano está condenado a
conviver com sua ambivalência: a capacidade de amar e de gerir guerras. De onde virá o
equilíbrio de forças, senão de sua decisão de amar? Porém, o amor precisa de um ambiente
favorável para se desenvolver e gerar relações fraternas. É preciso lançar um olhar mais
profundo sobre as raízes da paz. Num mundo cansado de guerras e de múltiplas formas de
violência, parece que a compreensão de paz reduziu a mera ausência de guerra. Há que se
recuperar o sentido do Shalôm (paz) bíblico. A construção da paz do mundo é uma tarefa
árdua e lenta. Apesar de todo o progresso tecnológico, o homem continua eticamente
atrasado. Há uma disparidade entre essas duas dimensões. Seus instintos de predador ainda
continuam s mesmos. Se não se desenvolvem meios de humanização, ele continua entre o
irracional e o pensante. A violência está travestida de diversas formas culturais, desde
símbolos, passando por instituições até os atos propriamente ditos. Como poderíamos avançar
na direção de uma cultura de paz?Não se pode isolar o problema da conjuntura social, política
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e econômica. E nem podemos nos esquecer que ser pacífico é uma decisão individual, parte
de uma metanóia (conversão) a para a paz. Quanto mais se enrijecer as convicções individuais
e étnicas, tornando-as absolutas e hegemônicas, mais formas de violências serão geradas. O
terrorismo, os fundamentalismos islâmico e cristão e o crime organizado são protestos
desesperados que tem salvaguardar uma concepção de homem. No fundo quem não pertence a
esse qualificativo deve morrer. O humano é relativizado em nome de certas “verdades”.
Mesmo nas sociedades democráticas ainda não há autêntica convivência entre a s diferenças.
A tolerância é muito confundida com conformismo, a decisão de começar a paz é sempre
adiada. Não há política e nem educação favoráveis para a superação da violência. Alguns
optam por uma pacificação como o império americano. Faz-se guerra para garantir a paz,
como os romanos diziam Se vis pacem, para bellum (se queres a paz, prepara a guerra). Será
que estamos dispostos a investir no caminho encontrado por Gandhi? O da não violência?No
sentido bíblico a paz é fruto da justiça. A opção por ela requer uma sociedade onde reina a
justiça. Sem elas inter-relações a questão se torna uma utopia estéril. Há um discurso por aí de
livretos de auto-ajuda que poetizam uma paz ingênua, não feita para o mundo dos homens.
Tenhamos cuidado para que nossas reflexões cristãs não tomem a mesma direção!Francisco
de Assis, Gandhi nos lembram decisões imperturbáveis pela paz. Decidir-se por ela é doloroso
e um risco a princípio. Significa uma saída corajosa de todo individualismo, de convicções
fechadas, mesmo sagradas, que não se dispõem a dialogar com outras verdades. O homem da
paz é um homem radical, não se contenta em ser superficialmente humano. Na sua decisão
corre o risco de ficar sozinho. Jesus é o protótipo! Espero que cristão não tenham sido
entorpecidos pela desesperança na paz.

REDESCOBRIR A IDENTIDADE DE JESUS

Durante os primeiros séculos da Igreja um dos grandes desafios encontrados foi o surgimento
das heresias. Os pais da Igreja se esforçaram tremendamente para que a fé fosse transmitida
com fidelidade. Porém, o cristianismo primitivo foi se construindo a partir do contato do
Evangelho com as diversas culturas do mundo antigo. Os cristãos provenientes do meio
filosófico e de religiões mistéricas tendiam a interpretar os princípios da fé a partir de sua
visão de mundo.
A dificuldade doutrinal foi explicitar coerentemente a identidade de Jesus. Houve muitas
propostas e discussões. Surgindo, assim, os desvios de doutrina chamados de heresias
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cristológicas. Essas questões foram resolvidas em concílios. Hoje essas heresias persistem de
outras formas. E quando se pergunta sobre a identidade de Jesus o problema reaparece.
O que se observa nas igrejas e movimentos pentecostais é uma despersonalização de Cristo.
Flagrantes de pregações e de programas de TV nos sugerem que Jesus é definido segundo
critérios de âmbito psicológico, financeiro e clínico. As visões cristológicas contemporâneas
se afastam consideravelmente da tradição bíblica e são afirmações impactantes como “Jesus é
a solução”. O padre e o pastor apresentam Jesus a partir da carência do fiel. Para se converter
é necessário ter problemas financeiros, de saúde ou passionais. A função de Jesus é responder
e solucionar os males daquele que crê. A sua personalidade é colorida segundo a praticidade,
seu aspecto ontológico se perde. Jesus não é mais assumido como o Filho de Deus, está mais
para super-homem. O slogan do cristão que defende essas heresias é “Jesus tem poder”.
Essas constatações nos impulsionam a uma revisão de método de evangelização. As
influências do mercado nos fazem sacrificar a identidade do Filho de Deus. Ele é apresentado
segundo princípios do marketing como um produto de excelente qualidade. E que soluciona
todos os problemas do ser humano. Uma visão utilitarista de Deus e pessimista de homem.
Deus existe para servir o homem na superação de suas limitações e o homem precisa estar
decadente e ameaçado para buscar a divindade. A personalidade de Jesus se encontra
fragmentada e presa a interesses de ordem prática. Quando se diz que “Jesus é tudo”, corre-se
o risco de reduzi-lo a nada.
As pregações e a catequese não podem desgrudar o olho da Bíblia e da Tradição. A tarefa
religiosa de nosso tempo é indubitavelmente redescobrir Jesus. A síntese da fé cristã
formulada no Credo professa: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor “ e seus
desdobramentos.
Jesus Cristo possui todas as dimensões da pessoa humana, mas é único e não pode ser
confundido com uma expressão vaga sem compromisso histórico. Não tem como pregar um
Cristo versátil, multicolor e com personalidade cambiante sem desviar da fé ortodoxa. A fé
tem uma fórmula própria, transmitida, que reflete um mistério ímpar. Portanto, é preciso
redescobrir Jesus com os pés na história para que não se caia em heresias hodiernas tais como
as do Jesus terapeuta, financista e clínico.

Informativo “A Catedral”, ano XIX, março a julho de 2007, nº 123

A VIOLÊNCIA ENTRE OS JOVENS BRASILEIROS

Nos últimos anos, a sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas do
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mundo. São altos os índices de violência urbana, doméstica e familiar. O país tem índices de
violência superiores às áreas de conflitos como Colômbia e a Palestina. O episódio do
espancamento da empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, 32 anos, por cinco jovens
da classe média provocou a indignação da sociedade. O crime ocorreu dia 24, na Barra da
Tijuca, bairro nobre do Rio Os agressores eram ricos, universitários e no grupo havia até
estudante de Direito. Esse é um dos exemplos mais recentes da violência entre jovens da
classe média. Em 1997, jovens ricos de Brasília mataram queimado, enquanto dormia, o índio
Pataxó Galdino Jesus dos Santos. Nos dois casos, os rapazes alegaram equívocos. Os do Rio
pensaram que a agredida era prostituta. Os de Brasília acharam que o assassinado era
mendigo.
Antes se ligava a questão da violência às condições sociais e econômicas dos indivíduos. Hoje
o problema se generalizou e jovens ricos e pobres estão constantemente envolvidos com a
violência. Todos os meios se tornaram espaços de prática de violência. Que vai desde uma
agressão verbal entre familiares até uma segregação predatória e generalizada nas grandes
cidades. A cidade se transformou em tribos que se estranham.
O cidadão está envolto de particularidades e critérios pessoais que definem o direito de viver.
E não consegue mais reconhecer a sua semelhança com o próximo. Uma mesma espécie se
estranha. A violência surge no interior humano, mas se propaga em cadeia. Há pressões
sociais, econômicas e políticas sobre o jovem brasileiro. Há competitividade, pobreza,
corrupção, estresse e redução do sentido da vida. Essas causas já são conhecidas como
geradoras de violência. São apenas reações. E quantos aos jovens de classe média que tem
uma economia estável? Onde estariam as causas da violência?
A idéia de homo hóminis lupus, o homem é o lobo do homem (Plauto 254-184), está fazendo
sentido. O indivíduo fechado em seu egoísmo pode definir para si um conceito de homem e
descartar os outros dessa classificação. Se a sociedade não regulamenta leis, não detém os
males dessa guerra. Porém, a questão é mais profunda. Faz-se necessário refazer conceitos
sobre a vida e uma cosmovisão completa. Somente a abertura ao outro totalmente outro, e não
extensão do nosso egoísmo poderá salvar o homem de ser lobo de si. A ausência de sabedoria
e arranjo da vida para nos remeter ao estado de “guerra de todos contra todos”.
O egocentrismo predatório nos ronda a todo tempo. Estamos pensando em fatos, mas se
analisarmos toda estrutura de nossa sociedade, percebemos uma coletividade só em função da
sobrevivência. Se os mais fortes não dependessem dos obséquios dos menores, não os
tolerariam. Há entre nós uma justiça fictícia. Cristãos, juristas, humanistas se rendem à
sedução do mal. E o mal é justamente a estranheza. O homem que estranha o outro e não
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consegue vê-lo pertencente à sua espécie. É na verdade, um ódio a si mesmo!


A falta de uma educação humanizante permite a jovens sentirem-se como únicos herdeiros da
cidade, do Estado civilizado. Prostitutas, homossexuais, índios, mendigos e outros excluídos
ficam invisíveis quando os césares da classe média passam. Não coloquemos a culpa só na
miséria, a opulência desregrada também gera agressores.
Quem gerou os neonazistas, os skinheads, hardcores, punks? Inicialmente essas tribos urbanas
surgem em reação à cultura dominante e depois apelam para violência. São alimentados por
jovens pobres? Não são os poderosos que os geraram? São provas da complexidade da
violência. Na estranheza que o homem tem do mundo e do outro, muitas vezes no seu arranjo
existencial, ele se protege do tradicional agredindo. O que a sociedade brasileira fez do legado
cristão? Ou nunca o tenha sido totalmente. Dizia André Guide: “É muito mais fácil liderar
homens ao combate de guerra do que acalmá-los e dirigi-los para o paciente e doloroso parto
da paz''. Optar pela paz é uma decisão custosa, mas vale a pena quando se assume a
sacralidade da vida humana!

PARA QUE TODOS SEJAM UM

A diversidade de igrejas e movimentos cristãos nasce de uma mesma fonte. Seu ponto de
unidade é a Bíblia. Uma única palavra vista por tantos olhares diferentes. Mas estas são
contradições e mazelas do cristianismo. O zelo pela conservação fiel da mensagem evangélica
se transforma em vício. Guerras e massacres já aconteceram porque a religião se tornou cega
diante do dinheiro e do poder.
As dificuldades em torno de um consenso da interpretação bíblica começaram bem cedo.
Quando olhamos para o cristianismo primitivo o imaginamos como um movimento
homogêneo. Basta um pouco de atenção que veremos as razões dos concílios, dos combates
aos hereges. Mais tarde acontece o grande cisma. Católicos orientais e ocidentais se dividem.
Na época da Reforma, antigas controvérsias são retomadas.
Os teólogos, ao longo do tempo, foram usando instrumentos de interpretação. A primeira
parceira histórica foi a retórica grega. As categorias platônicas deram corpo de expressão para
a Bíblia. Houve maior resistência em aceitar o pensamento aristotélico. A crítica bíblica só
ganhou mesmo cientificidade nos séculos 18 e 19. Os intelectuais protestantes alemães
tiveram grande contribuição.
Mesmo com a aquisição de modernos instrumentos de interpretação, o aperfeiçoamento da
crítica bíblica não pôde impedir a continuidade, e até mesmo, o aumento de leituras
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fundamentalistas por parte de grupos pentecostais. Na década de 90, por exemplo, cresceu nos
Estados Unidos uma pressão para a adoção do criacionismo nas escolas. O fato fez aumentar
as divergências entre fé e ciência.
Atualmente duas posições diante da Bíblia são bastante claras. Há uma interpretação
racionalista empregada em ambientes acadêmicos pelos biblistas. Essas conclusões chegam às
classes populares. A segunda é a interpretação estética, seu poder é os sentidos. A fonte é a
pregação de pastores e padres. São repassadas em meios de comunicação.
Será que sabemos o que a Bíblia quer dizer? As divergências de compreensão se tornam
diferenças instituições e por fim conflitos pessoais. “Para que todos sejam um”, o desejo de
Cristo fica em segundo plano. Os cristãos deveriam pôr em primeiro lugar seus pontos de
unidade: a fé em Cristo. As divergências dogmáticas não deveriam ser impedimento para o
progresso do Evangelho. Muitas esses pontos de divisão ganham espaço maior do que os
benefícios que a fé pode trazer. É preciso ter coragem de sacrificar detalhes para salvar o
essencial!
Jornal “O Carmelo”, outubro de 2007, 48ª edição.

AS HIPOCRISIAS DA SOCIEDADE OCIDENTAL

A sociedade ocidental conserva algumas tradições que merecem uma crítica impiedosa. A
cada fim de ano vemos uma corrida louca em torno do Natal e do ano novo. Antigas festas
pagãs cristianizadas foram agora “capitalizadas”. Apesar de uma boa parte da sociedade não
ter nenhuma prática cristã, essas pessoas insistem em adotar discursos e símbolos cristãos
nessa ocasião. Vivemos uma crise de convicção. A nossa sociedade precisa festa e feriados,
mas não precisa de sustentar hipocritamente antigas tradições. Natal é para os cristãos. O Ano
Novo é celebrado com muita superstição para atrair “sorte”, doutores altamente diplomados
ainda têm práticas míticas. Essas se perdem na estética e na fantasias e não se convertam às
grandes causas da humanidade.
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IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR

José Aristides da Silva Gamito é bacharel em


Filosofia e pós-graduado
graduado em Docência Básica e
Universitária,, licenciando em Filosofia (2010). É natural
de Vermelho Velho, Raul Soares, MG. Sendo filho de
Aristides Antônio da Silva (in memoriam) e Lourdes
Leandra da Silva (in memoriam). É casado com a
professora de Biologia Joana Regina Gamito.
Atualmente reside em Conceição de Ipanema, MG.

CONTATO

E-mail: joaristides@boll.com.br Blog: joaristides@blogspot.coom

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