Anda di halaman 1dari 59

Como representar objectos?

Ana Mafalda Mendes de Almeida e Paiva

9 de Janeiro de 2011
ii

Trabalho realizado no âmbito do Estágio


Pedagógico do ramo Educacional da Licen-
ciatura em Matemática da Faculdade de
Ciências da Universidade de Coimbra.
Índice

1 Introdução 1
1.1 O método das coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Um pouco de História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Coordenadas de um ponto na recta 9


2.1 O Eixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Módulo e Distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3 Coordenadas de pontos no plano 15


3.1 O Referencial Cartesiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2 Aplicações do Método das Coordenadas . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.1 Distância entre pontos do plano. . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.2 Definindo figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2.3 Resolvendo Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3 Outros Sistemas de Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4 Coordenadas de pontos no espaço 37


4.1 Eixos e planos coordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.2 Definindo figuras no espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5 O espaço a quatro dimensões 51


5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2 Eixos coordenados e planos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.3 A esfera e o cubo tetradimensionais . . . . . . . . . . . . . . . . 56

iii
iv ÍNDICE

6 Conclusão 63

Bibliografia 63
Capı́tulo 1

Introdução

1.1 O método das coordenadas

A aplicação da Álgebra ao estudo das propriedades das figuras geométricas


teve um papel muito importante no desenvolvimento da Geometria. Esta asso-
ciação desenvolveu-se como um ramo independente na Geometria - a Geometria
Analı́tica.
O aparecimento da Geometria Analı́tica está associado à descoberta de
um método básico, o Método das Coordenadas. O Método das Coordenadas
é um processo que nos permite descrever um objecto geométrico por fórmulas
matemáticas, sendo, elo fundamental na resolução de um considerável conjunto
de questões, tais como: problemas de trajectórias, formas, posições no plano ou
no espaço, entre outros. Com este método podemos tratar situações tão práticas
e simples como o cálculo da distância entre dois pontos sobre uma recta, ou
entre dois locais na terra, até ao lançamento de um satélite e o cálculo da sua
órbita.
Por coordenadas de um ponto entende-se os números que determinam a sua
posição numa dada recta, ou numa dada superficı́e, ou no espaço. Deste modo,
a posição de um ponto na superficı́e da Terra será conhecida através das suas
coordenadas geográficas - a Latitude e a Longitude.
Para determinar as coordenadas de um ponto, temos que conhecer os pontos
de referência a partir dos quais as medições são feitas. No caso das coordenadas

1
2 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

geográficas, o Equador e o Meridiano Zero são os pontos de referência. Se


os pontos de referência são dados e a forma de os usar para determinar as
coordenadas de um ponto é dada, dizemos que estamos em presença de um
Sistema de Coordenadas.
A descrição de figuras geométricas através de equações é um feito carac-
terı́stico do Método das Coordenadas e permite o uso de meios algébricos no de-
senvolvimento de estudos geométricos e na resolução de problemas geométricos.
Ao fornecer um carácter algébrico aos estudos geométricos, o Método das
Coordenadas transferiu para a Geometria a mais importante caracterı́stica da
Álgebra: a uniformidade de métodos para resolver problemas. Enquanto que
na Aritmética e na Geometria Elementar geralmente temos que procurar uma
forma especial de resolver cada problema, na Álgebra e na Geometria Analı́tica,
a solução para todos os problemas é encontrada de acordo com um determi-
nado plano, que facilmente se aplica a qualquer problema. Mas não podemos re-
jeitar por completo a aplicação da Geometria Elementar, pois em determinadas
situações a sua ajuda conduz-nos a soluções elegantes e muito mais simples que
as obtidas através do Método das Coordenadas.
Outra caracterı́stica a salientar no Método das Coordenadas é o facto da
sua aplicação nos poupar a necessidade de representação visual de figuras de
complexa configuração no espaço.
Em suma este método nasceu da necessidade transformar a informação vi-
sual em numérica e vice-versa facilitando o estudo problemas de posiciona-
mento.
No ensino vamos encontrar este método, pela primeira vez, no 7o ano do
3o Ciclo do Ensino Básico em que surge a representação na recta e a noção
de módulo de números racionais. É também nesse ano que os alunos têm o
primeiro contacto com o Referencial Cartesiano (rectangular e monométrico),
utilizado na representação gráfica de situações de proporcionalidade directa.
Nos 8o e 9o anos pouco mais se aprofunda a utilização e estudo do Método
das Coordenadas, fazendo-se uso do referencial essencialmente na representação
gráfica de algumas funções simples. As questões envolvendo distâncias entre
1.2. UM POUCO DE HISTÓRIA 3

dois pontos têm nos programas destes anos uma abordagem essencialmente
geométrica.
Só no ensino secundário se dá “um passo em frente” na utilização de co-
ordenadas. No 10o ano, tanto em Matemática A como em Matemática Apli-
cada às Ciências Sociais, aprofunda-se o estudo do Método das Coordenadas
extendendo-o ao plano tridimensional. O desenvolvimento deste estudo terá
continuidade até ao final do ensino secundário.

1.2 Um pouco de História

O desenvolvimento do Método das Coordenadas atribui-se a René Descartes


(1596 - 1650), mas também o seu contemporâneo Pierre de Fermat (1601 -
1665) usou métodos algébricos nos seus estudos de Geometria.

Figura 1.1: Descartes

René Descartes nasceu em 1596, em Touraine - França e morreu em 1650,


em Estocolmo. Nasceu numa famı́lia nobre, o que lhe permitiu estudar numa
das mais conhecidas escolas da Europa, o Colégio Jesuı́ta de La Flèche. In-
gressou neste Colégio com oito anos e lá permaneceu durante dez anos. Aı́
teve oportunidade de adquirir uma sólida cultura em humanidades, ciência e
filosofia.
Após o término dos seus estudos, em Direito, Descartes, que desde cedo
sentiu o desejo de conhecer a natureza do homem e do universo, apercebe-se
da sua ignorância e, inspirado pelo rigor e solidez da construção matemática,
que muito admirava, procura um fundamento absoluto e irrefutável para as
ciências. Descartes acreditava que todo o universo material podia ser expli-
cado em termos fı́sico-matemáticos. Assim, em 1637, escreve o “Discours de la
méthode pour bien conduire sa raison et chercher la vérité dans les sciences”(O
Discurso do Método), onde procura definir regras para a procura da verdade
em todos os campos.
4 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Em “La Géométrie”, um dos três anexos do “Discours de la méthode...”,


Descartes aplica a Álgebra à Geometria e faz a classificação sistemática das
curvas, distinguindo as curvas geométricas (que se podem exprimir com exac-
tidão através de uma equação) das curvas mecânicas (as que não podem). Este
anexo pode ser considerado a obra fundadora da Geometria Analı́tica.
A aplicação da Álgebra à Geometria já tinha começado a aparecer em tra-
balhos de matemáticos do séc. XVI. O francês, François Viète (1540-1603),entre
outros, não só fez importantes descobertas algébricas, como também simplifi-
cou a notação, introduzindo letras para representar números e usando os sinais
+ e -. Esta evolução só se tornou útil meio século mais tarde nos trabalhos de
Descartes e Fermat.
Descartes considerava que o estudo de curvas, feito pelos matemáticos gre-
gos não era o mais correcto, e assim, com o intuito de sistematizar este estudo,
assimilou todas as técnicas já conhecidas, organizou-as e, recorrendo a dois
eixos perpendiculares e às coordenadas dos pontos, conseguiu desenvolver o es-
tudo de curvas e resolver problemas da Antiguidade Grega por processos muito
originais. Considerou também que qualquer ponto do espaço pode ser deter-
minado por três coordenadas que representam as distâncias do ponto a três
planos perpendiculares dois a dois. Daı́ em diante, a definição de curva passou
a ser a relação entre as coordenadas dos seus pontos.
Na sua procura de regras para definir e construir curvas, Descartes, concluı́u
que era necessário fixar a posição de um ponto no plano, estando esta posição
dependente de dois elementos, as coordenadas desse ponto. Começa, então,
por estabelecer as bases do seu sistema de coordenadas, mostrando que cada
ponto M fica perfeitamente definido pelas “distâncias” MP e MQ a duas rectas
concorrentes x0x’ e y0y’. Por sua vez a relação y= f(x) caracteriza o conjunto
dos pontos da linha, em que a cada valor de x associado a um ponto da linha
corresponde um valor de y (função de x ). Este método permite traduzir pro-
priedades geométricas em relações numéricas e resolver problemas geométricos
por aplicação de cálculos algébricos.
Descartes provocou uma verdadeira revolução na Matemática, criando a
1.2. UM POUCO DE HISTÓRIA 5

Geometria Analı́tica através da união entre a Geometria e a Análise. Com a Ge-


ometria Analı́tica, a Geometria liberta-se da necessidade do desenho rigoroso,
com régua e compasso e, por outro lado, permite interpretar geometricamente
processos algébricos, dando-lhes novo significado. Desta forma a Matemática
fica dotada de métodos gerais que lhe faltavam, imprimindo uma nova dinâmica
ao desenvolvimento desta ciência.
A influência de Descartes foi de tal forma notável para o desenvolvimento
da Matemática que Laplace, matemático dos finais do século XVIII, associa o
método de Descartes ao nascimento das Matemáticas Modernas. É do nome
de Descartes ou “Cartesius”, nome latino com que assinava as suas obras, que
derivam as expressões referencial cartesiano ou coordenadas cartesianas.

Tal como referido inicialmente, Descartes não foi um génio isolado na sua
época. Vivia-se a Época do Renascimento e, com ela, tinha renascido uma
imensa curiosidade pelo saber; foram diversas as ciências que progrediram e
também a Aritmética e a Álgebra tiveram grande desenvolvimento, especial-
mente pelas mãos dos matemáticos da Universidade de Bolonha, uma das mais
famosas da Europa nos séculos XV e XVI.
Não podemos esquecer Pierre de Fermat, contemporâneo de Descartes, que
também contribuiu para o desenvolvimento da Geometria Analı́tica. Pierre de
Fermat nasceu em 1601, em Beaumont-de-Lomages, França e morreu em 1665.
Tal como Descartes, formou-se em Direito, foi advogado e oficial do governo
em Toulouse. A Matemática era “apenas” o seu passatempo.

Figura 1.2: Pierre de Fermat

Independente de Descartes, mas semelhante ao proposto por este, também


Fermat propôs um sistema de posicionamento, através da utilização de métodos
algébricos nos estudos de Geometria. É pois, igualmente considerado inventor
da Geometria Analı́tica. O trabalho de Fermat baseava-se numa reconstrução
do trabalho de Apollonius, usando a álgebra de Viète 1 . Para além da Ge-
1
Apollonius viveu na Grécia(cerca de 262 a.C - 190 a.C) e foi conhecido como o “grande
6 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

ometria Analı́tica, o trabalho de Fermat foi fundamental na criação do Cálculo


Diferencial, do Cálculo de Probabilidades e no desenvolvimento da Teoria de
Números, área em mais se notabilizou.
O seu contributo para a Geometria Analı́tica encontra-se num pequeno
texto, “Ad locos planos et solidos isagoge” (Sobre lugares planos e sólidos),
escrito, no máximo, em 1636 e publicado em 1679, postumamente em con-
junto com toda a sua obra. Nesta obra, Fermat dá uma visão da Geometria
Analı́tica mais próxima da actual, sendo o primeiro a fazer a sua aplicação
ao espaço tridimensional. Neste trabalho também se encontram equações da
recta, da circunferência e de outras cónicas, em relação a um sistema de eixos
perpendiculares.
Na verdade, Descartes apenas é mais facilmente denotado como sendo o
criador da Geometria Analı́tica devido à modéstia de Fermat, avesso a publicar
os seus trabalhos. Apenas divulgava as suas descobertas por carta aos amigos
e assim, o seu trabalho só foi conhecido após a sua morte, tendo sido publicado
em 1679, 42 anos após a publicação do “Discours de la méthode...”.

geómetra”.
Viète viveu em França(1540 - 1603) e foi conhecido como “o pai da Álgebra”.
Fermat usou a Álgebra de Viète para reconstruir a obra Plane Loci de Apollunius.
Capı́tulo 2

Coordenadas de um ponto na
recta

2.1 O Eixo

Um eixo é uma recta orientada sobre a qual se estabelece uma escala.


Para definir um eixo procedemos da seguinte forma:

• escolhe-se uma recta;

• escolhe-se um ponto sobre a recta para origem, ponto O;

• escolhe-se uma unidade de medida, dada por um segmento de recta;

• escolhe-se a direcção a ser considerada positiva.

Figura 2.1: Eixo real

Uma recta nestas condições será chamada de eixo numérico, recta orien-
tada ou eixo das coordenadas. Habitualmente, considera-se que o eixo está
desenhado na horizontal e que a direcção positiva é da direita para a esquerda.
Ao introduzir as coordenadas cria-se uma correspondência bijectiva entre
o conjunto dos números reais, R, e o conjunto dos pontos da recta que serve
de eixo, ou seja, é satisfeita a seguinte propriedade: a cada ponto na recta

7
8 CAPÍTULO 2. COORDENADAS DE UM PONTO NA RECTA

corresponde um e apenas um número real, e a cada número real corresponde


√ 
um e apenas um ponto na recta. Usa-se a designação P − 2 para indicar

que a coordenada do ponto P é − 2, ou, um outro exemplo, A (x) para indicar
que a coordenada de A é x. Usualmente, lê-se o “ponto menos raı́z de dois”,
no primeiro caso e “o ponto x”, no segundo caso.
A recta orientada tem aplicações práticas muito importantes, como é o caso
dos Frisos Cronológicos usados em História ou de um simples termómetro para
avaliar a temperatura ambiente ou corporal, sendo muito útil na ordenação de
valores.
A figura 2.2 é um exemplo de um eixo numérico, onde se podem observar
as coordenadas de alguns pontos.

Figura 2.2: Pontos na recta

2.2 Módulo e Distância

Dá-se o nome de módulo ou valor absoluto de um número à distâcia do


ponto que o representa à origem do eixo e denota-se da seguinte forma 1 |x|.
Por exemplo, o módulo ou valor absoluto de − 21 é dado por − 21 = 12 , o módulo

de 3 por |3| = 3, e o de -5 por |−5| = 5.


Temos, então, três casos dinstintos:

• se x > 0, então |x| = x,

• se x < 0, então |x| = −x,

• se x = 0, então |x| = 0.

Podemos concluir que se dois pontos a e −a estão à mesma distância da


origem das coordenadas, os números a e −a têm o mesmo valor absoluto, isto é
1
o sı́mbolo de valor absoluto “||” foi usado pela primeira vez por Karl Weirstrass (1815-
1877)
2.2. MÓDULO E DISTÂNCIA 9

|a| = |−a|, e chamam-se números simétricos. Por exemplo, -2 e 2 são simétricos


pois |−2| = |2| = 2
Os conceitos de distância e módulo estão interligados na medida em que,
como foi já referido, o módulo de um número a não é mais do que uma distância:
a do ponto que o representa no eixo à origem. Estamos assim em condições de
definir distância entre dois pontos. De facto, conhecendo as coordenadas dos
pontos, sabemos quais as suas posições em relação um ao outro e em relação à
origem e facilmente se determina a distância entre eles.
A tı́tulo de exemplo podemos verificar que facilmente se calcula a distância
entre A(−3) e B(2). Ora -3 está à esquerda de 2, assim como da origem, e a
sua distância à origem é 3, por sua vez 2 está à direita da origem e encontra-se
2 unidades de distância desta; assim a distância de A a B é 5.
Generalizemos: pretendemos definir a distância entre dois pontos arbitrários,
A(x1 ) e B(x2 ), que denotamos por d(A, B), só que, neste caso as coordenadas
dos pontos são desconhecidas. Como não conhecemos as coordenadas dos pon-
tos teremos que analisar todas as posições relativas possı́veis que os pontos A,
B e O podem ter entre si.
Relativamente ao ponto A são duas as posições que B pode ter: ou à direita
ou à esquerda de A e, para cada uma delas, temos três casos possı́veis atendendo
aos sinais de A e B. Tome-se para primeira hipótese, B à direita de A, temos
então,

1. A e B estão ambos à direita da origem - a distância d(A, B) é igual à


diferença das distâncias dos pontos B e A à origem. Como x1 > 0 e
x2 > 0 a distância entre A e B é dada por d(A, B) = x2 − x1

2. A e B estão em lados opostos relativamente à origem - a distância é igual


à soma das distâncias dos pontos B e A à origem. Neste caso, temos
x1 < 0 e x2 > 0 e tal como anteriormente .

3. A e B estão ambos à esquerda da origem - aqui x1 < 0 e x2 < 0 e tal como


nos dois casos anteriores a distância será dada por d(A, B) = x2 − x1 .
10 CAPÍTULO 2. COORDENADAS DE UM PONTO NA RECTA

A segunda hipótese é B à esquerda de A, para esta também temos três


casos a considerar que diferem dos três anteriores apenas nas posições de
A e de B que trocam entre si, em qualquer um destes três casos temos
x2 < x1 , assim, em analogia aos três casos anteriores, a distância é dada
por d(A, B) = x1 − x2

Em conclusão pode-se dizer que a distância entre dois pontos genéricos


A e B é dada por:

 x2 − x1 se x1 − x2 < 0
d(A, B) =
 x − x se x − x < 0
1 2 1 2

Recorrendo à definição de valor absoluto, podemos escrever na forma mais


simples d(A, B) = |x1 − x2 | ou d(A, B) = |x2 − x1 |.

Há ainda a considerar o caso em que x1 = x2 , que se dá quando os pontos


A e B coincidem, mas também aqui, d(A, B) = |x1 − x2 | = 0.

Propriedade 1 A coordenada do ponto médio, x, de qualquer segmento AB


é dada por
x1 + x2
x= ,
2
com x1 e x2 as coordenadas de A e de B.

Demonstração: Sejam A (x1 ) e B (x2 ), dois pontos no eixo. Seja x a co-


ordenada do ponto M , em que M é o ponto médio do segmento AB, então
d (x, x1 ) = d (x, x2 ), ou seja |x − x1 | = |x − x2 |.

- Se A está à esquerda de B, x estará à direira de A e à esquerda de B.


Assim, x − x1 > 0 e x − x2 > 0, donde |x − x1 | = x − x1 e |x − x2 | = x − x2
Donde
x1 + x2
d (x, x1 ) = d (x, x2 ) ⇔ x − x1 = x2 − x ⇔ 2x = x2 + x1 ⇔ x =
2
x1 +x2
Ou seja, a coordenada de x é x = 2

- Se A está à direita de B, x estará à esquerda de A e à direita de B.


Logo d (x, x1 ) = |x1 − x| = x1 − x e d (x, x2 ) = |x2 − x| = x − x2 , donde
x1 + x2
d (x, x1 ) = d (x, x2 ) ⇔ x1 − x = x − x2 ⇔ x1 + x2 = 2x ⇔ x =
2
2.2. MÓDULO E DISTÂNCIA 11

x1 +x2
Também, neste caso, a coordenada de x é x = 2

Como em ambos os casos o resultado é o mesmo, concluı́-se que a coordenada


do ponto médio do segmento AB é dada por

x1 + x2
x=
2

Exercı́cios:

1. Marcar num eixo coordenado os pontos x para os quais:

(a) d(x, 7) < 3

Figura 2.3: Conjunto dos pontos cuja distância a 7 é inferior a 3

Analisando a figura facilmente verificamos que a solução para esta


questão é o conjunto dos valores no intervalo ]4, 10[

(b) |x − 2| > 1

Figura 2.4: Conjunto dos pontos cuja distância a 2 é superior a 1

De novo, através da análise da figura 2.4 pode-se concluir que os


valores de x que verificam a condição são os valores

] − ∞, 1[∪]3, +∞[.
12 CAPÍTULO 2. COORDENADAS DE UM PONTO NA RECTA
Capı́tulo 3

Coordenadas de pontos no
plano

3.1 O Referencial Cartesiano

Para definir um referencial no plano consideramos “duas rectas concorrentes


que, por comodidade, se tomam perpendiculares entre si”[2]. Uma das rectas
será chamada eixo das abcissas, ou eixo dos xx, ou Ox e a outra recta eixo das
ordenadas, ou eixo dos yy, ou Oy. O ponto de intersecção dos eixos denomina-se
origem das coordenadas, ou simplesmente origem e designa-se pela letra O.

Figura 3.1: Referencial

A direcção dos eixos habitualmente determina-se de tal forma que o semi-


eixo positivo OX coincide com o semi-eixo positivo Oy após uma rotação de
90o no sentido contrário ao movimento dos ponteiros do relógio. Por norma,
define-se a mesma unidade de medida em ambos os eixos, caso em que de-
nominamos o referencial como monométrico. No entanto, podemos atribuir
diferentes medidas e, nesse caso, o referencial dir-se-á dimétrico.

Figura 3.2: Referencial Monométrico

13
14 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

Para determinar a posição de um determinado ponto P no plano, após se ter


definido o referencial, é necessário encontrar as sua coordenadas relativamente
ao referencial em questão. Para tal traçamos duas rectas perpendiculares cuja
intersecção se dá no referido ponto, intersectando uma delas o eixo Ox e a outra
o eixo Oy (ver Figura 3.3).

Figura 3.3: Coordenadas de P

Os pontos de intersecção das rectas com os eixos denominam-se projecções


do ponto P nos eixos coordenados; a P1 , a projecção no eixo Ox, corresponderá
um determinado número real x que será a coordenada de P no eixo dos xx e a
P2 , a projecção no eixo Oy, corresponderá um determinado número real y que
será a coordenada de P no eixo dos yy. Ou seja a qualquer ponto no plano
correpondem dois valores reais, x e y, as coordenadas cartesianas do ponto,
em que x é a abcissa do ponto e y a ordenada. Por outro lado, para cada par
de números reais x e y podemos determinar um ponto no plano. Assim, tal
como na recta, define-se uma correspondência bijectiva entre pontos no plano
e pares de valores reais x e y, tomados numa determinada ordem onde x é a
primeira coordenada e y a segunda. Resumindo, existe uma correspondência
biunı́voca entre o conjunto dos pontos do plano e R2 . Assim é habitual escrever
as coordenadas de um ponto P da seguinte forma: P (x, y). Correntemente em
vez de dizermos o ponto de coordenadas (x, y) dizemos o ponto (x, y).

Importa referir que os eixos coordenados dividem o plano em quatro qua-


drantes da seguinte forma: o primeiro quadrante localiza-se entre o semi-eixo
positivo dos xx e o semi-eixo positivo dos yy, os restantes quadrantes numeram-
se consecutivamente no sentido anti-horário. Donde, dado um ponto P de
coordenadas (x, y), tem-se:
3.2. APLICAÇÕES DO MÉTODO DAS COORDENADAS 15

P ∈ Linguagem corrente Linguagem matemática

1o Quadrante Ambas as coordenadas são positivas x>0ey>0


2o Quadrante A abcissa é negativa e a ordenada positiva x<0ey>0
3o Quadrante Ambas as coordenadas são negativas x<0ey<0
4o Quadrante A abcissa é positiva e a ordenada negativa x>0ey<0

O referencial cartesiano, tal como acontecia com a recta, tem as mais vari-
adas aplicações, desde as puramente matemáticas, que veremos à frente, pas-
sando pelas lúdicas, como é o caso do jogo de Xadrez ou Batalha Naval, até
à localização na superfı́cie terrestre. De facto, a cada ponto da superfı́cie da
terra corresponde um par de coordenadas, a Longitude e a Latitude.

Figura 3.4: Jogo de Xadrez

Figura 3.5: Mapa da cidade de Coimbra

Possivelmente, de todas as possı́veis aplicações, esta última é a de maior


utilidade real, na medida em que é utilizada em variadas situações: por exemplo
numa viagem a um local desconhecido podemos chegar ao local pretendido
através das coordenadas da sua localização num mapa. De acordo com a Schools
Council [3], em 1976, no curso de oficiais da marinha utilizava-se uma grelha
impressa numa tela, com a origem O e os eixos do referencial marcados, e nessa
tela eram projectados mapas de canais e estuários e assim era feito o estudo e
discussão de possı́veis rotas para os navios.

3.2 Aplicações do Método das Coordenadas

A verdadeira inovação que o método das coordenadas trouxe à Matemática


foi o facto de permitir a resolução algébrica de determinados problemas que
até à data apenas se podiam resolver geometricamente, o que nem sempre era
tarefa fácil.
16 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

A geometria analı́tica diz-nos que um ponto é conhecido através das suas


coordenadas e, assim, a resolução de um dado problema representado geo-
metricamente, passa pela descoberta das fórmulas que permitem representar
algébricamente a figura associada ao problema, através das coordenadas de
pontos dados e das relações entre elas.
A solução de um problema complexo passa, na grande maioria das vezes,
pela resolução de alguns problemas simples, muitos deles encontrados com
maior frequência e de grande simplicidade, por isso chamados de básicos. Um
destes problemas básicos é o cálculo da distância entre dois pontos que tratare-
mos de seguida dada a sua notável utilidade na resolução de outros problemas
e mesmo em situações do dia-a-dia.

3.2.1 Distância entre pontos do plano.

O conhecimento das coordenadas de um determinado ponto indica-nos a sua


localização exacta no plano, mas se conhecermos apenas uma das coordenadas,
por exemplo x = a, teremos um conjunto de pontos admissı́veis, ou seja, es-
pecificando uma das duas coordenadas determinaremos uma curva no plano
que corresponde a todos os pontos cuja a abcissa é a. Por exemplo, se consid-
erarmos os pontos que verificam a condição y = x2 ,ou seja em que a ordenada
é o quadrado da abcissa, obtém-se uma curva - parábola.

Figura 3.6: Parábola

Mas nem toda a relação entre coordenadas dará origem a um conjunto de


pontos. Pode, por exemplo, dar origem a um único ponto, como é o caso de
x2 + y 2 = 0, ou ao conjunto vazio, como é o caso de x2 + y 2 = −1.
Tal como na recta, também no plano podemos definir distância entre dois
pontos. Para tal, supomos conhecidas as coordenadas dos pontos e temos que
encontrar a fórmula que nos permite calcular a distância entre dois pontos
dados. Comecemos por calcular a distância de um ponto à origem. Seja A o
ponto de coordenadas (x, y). Através do Teorema de Pitágoras facilmente se
3.2. APLICAÇÕES DO MÉTODO DAS COORDENADAS 17
p
conclui que, d (A, O) = x2 + y 2 .

Figura 3.7: Distância de A a O

Passemos então à generalização, isto é, pretendemos encontrar uma fórmula


que nos permita calcular a distância de dois quaisquer pontos no plano. Sejam
A (x1 , y1 ) e B (x2 , y2 ), dois quaisquer pontos no plano, para os quais vamos
calcular a distância entre ambos, d (A, B). Para responder a esta questão,
apoiar-nos-emos na Figura 3.8.

Figura 3.8: Distancia de A a B

Sejam A1 ,B1 , A2 , B2 , as projecções dos pontos A e B nos eixos coordenados,


e C o ponto de intersecção dos segmentos de recta que passam por AA1 e por
BB2 . Aplicando o teorema de Pitágoras ao triângulo ABC podemos concluir
que,

d2 (A, B) = d2 (A, C) + d2 (B, C) .

Através da figura, facilmente concluı́mos que o comprimento do segmento


AC é igual ao comprimento do segmento A2 B2 . Como os pontos A2 e B2
estão sobre o eixo Oy, sabemos calcular a distância entre eles, que será igual a
|y1 − y2 |. De forma análoga concluı́mos que o comprimento do segmento BC é
igual a |x1 − x2 |. Então podemos concluir que

d2 (A, B) = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 ,

donde, podemos que concluir que a fórmula para calcular a distância entre A e
B é dada por
q
d (A, B) = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 .

Obviamente, esta fórmula é válida para quaisquer dois pontos do plano,


independentemente das suas posições. Mais ainda, a distância entre dois pontos
na recta, determinada no capı́tulo anterior, também se pode representar por
18 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

uma fórmula semelhante a esta, isto é


q
d (AB) = (x1 − x2 )2

fórmula que se obtém através da aplicação do facto de x2 = |x|.
A tı́tulo de exemplo demonstraremos o seguinte teorema recorrendo à fórmula
da distância entre dois pontos:

Teorema 1 Num paralelogramo, a soma dos quadrados dos lados é igual à


soma dos quadrados das diagonais.

Demonstração: Considere-se o paralelogramo OABC e o referencial carte-


siano colocado de forma a que origem coincida com o vértice O do paralelo-
gramo, tal como indicado na figura.

Figura 3.9: Paralelogramo

No paralelogramo, d1 e d2 são as diagonais do paralelogramo, A tem por


coordenadas (a1 , a2 ), B (b1 , b2 ), C (c1 , 0) e A1 e B1 são as projecções dos pontos
A e B no eixo Ox, respectivamente, e A2 a projecção dos pontos A e B no eixo
Oy. Seja h1 o comprimento da diagonal d1 e h2 o comprimento da diagonal d2 .
Comecemos por calcular h1 : aplicando o teorema de Pitágoras podemos
concluir que
h21 = d2 (O, B1 ) + d2 (B1 , B)

Como os pontos O e B1 se encontram sobre o eixo Ox, facilmente encontramos


a distância entre eles, d (O, B1 ) = |0 − b1 | = b1 . Através da figura, vemos que
o comprimento de BB1 coincide com o comprimento de OA2 , que se encontra
sobre o eixo Oy, logo, d (B1 , B) = d (O, A2 ) = |0 − a2 | = a2 . Assim

h21 = b21 + a22 (3.1)

Para h2 podemos ver que:

h22 = d2 (A1 , C) + d2 (A1 , A)


3.2. APLICAÇÕES DO MÉTODO DAS COORDENADAS 19

Por análise da figura, verifica-se que o comprimento de A1 A é igual ao


comprimento de OA2 que se encontra sobre o eixo e assim

d (A1 , A) = |0 − a2 | = a2 .

Por outro lado, como A1 e C se encontram sobre o eixo Ox, sabemos calcular
a distância entre eles que é dada por,
q
d (A1 , C) = (c1 − a1 )2 = c1 − a1

Conclui-se, então que

h22 = a22 + (c1 − a1 )2 (3.2)

Resta calcular o comprimento dos lados do paralelogramo. Obviamente,


basta calcular dois deles, visto que, por definição, os lado são iguais dois a dois.
Assim calcularemos o comprimento de OC e de OA. O comprimento de OC
calcula-se sem dificuldade, uma vez que ambos os pontos se encontram sobre o
eixo Ox , logo,

d (O, C) = |c1 − 0| = c1 (3.3)

Quanto ao comprimento de OA, aplicando o teorema de Pitágoras tem-se

d2 (O, A) = d2 (O, A2 ) + d2 (A2 , A) ⇔

⇔ d2 (O, A) = a22 + a21 ⇔

Assim, o comprimento de OA é dado por,

q
d (O, A) = a22 + a21 (3.4)

De (3.3) e (3.4) temos que a soma dos quadrados dos lados é dada por:

2d2 (O, C) + 2d2 (O, A) = 2c21 + 2 a22 + a21 = 2a21 + 2a22 + 2c21 .

(3.5)

Analisando a figura vemos que o comprimento de OB1 é igual à soma do


comprimento de OC com o de OA1 , assim

b1 = c1 + a1
20 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

e substituindo em (3.1) vem

h21 = (c1 + a1 )2 + a22 (3.6)

De (3.2) e (3.6) podemos concluir que a soma dos quadrados das diagonais
é dada por:

h21 + h22 = (c1 + a1 )2 + a22 + a22 + (c1 − a1 )2

= c21 + 2c1 a1 + a21 + 2a22 + c21 − 2c1 a1 + a21

= 2a21 + 2a22 + 2c21 (3.7)

Finalmente, concluı́mos de (3.5) e (3.7), que a soma dos quadrados das


diagonais é igual à soma dos quadrados dos lados do paralelogramo.

3.2.2 Definindo figuras

Um número finito, ou infinito, de pontos marcados no plano representa uma


figura geométrica. Definir uma figura pode significar estabelecer um método
de verificar se um determinado ponto pertence ou não à figura considerada.
Como podemos então definir uma figura?
Por exemplo, definimos um cı́rculo como o conjunto dos pontos do plano
situados à mesma distância de um dado ponto, ou uma elipse como o conjunto
dos pontos do plano tais que a soma das distâncias a dois pontos fixos é con-
stante. Recorrendo à fórmula algébrica já determinada para a distância entre
dois pontos podemos definir sem dificuldade cada uma das figuras.
Fixemo-nos no cı́rculo. Um ponto arbitrário M (x, y) estará no cı́rculo de
centro C (a, b) e raio R se e somente se d (M, C) for igual a R, o que se representa
pela seguinte fórmula
q
(x − a)2 + (y − b)2 = R

ou de forma equivalente

(x − a)2 + (y − b)2 = R2
3.2. APLICAÇÕES DO MÉTODO DAS COORDENADAS 21

Esta equação é chamada equação do cı́rculo de centro C (a, b) e raio R. Con-


hecendo esta equação, para verificar se um dado ponto do plano pertence ou
não ao cı́rculo, basta substituir x e y na equação pelas coordenadas do ponto.
Se a igualdade se verificar, o ponto está no cı́rculo, caso contrário o ponto não
se encontra no cı́rculo.
Exemplo: A equação do cı́rculo de centro na origem e raio 2:

x2 + y 2 − 4 = 0

que mais geralmente representamos por

x2 + y 2 = 4;

e cuja representação gráfica é:

Figura 3.10: Cı́rculo de centro (0, 0) raio 2

Verifiquemos a posição dos seguintes pontos relativamente ao cı́rculo:

1. O ponto (1, 1)

Substituindo na equação vem:

12 + 1 2 = 2

2 6= 4, logo o ponto não pertence ao cı́rculo. Neste caso como 2 < 4 o


ponto encontra-se no interior do cı́rculo.
√ √
2. O ponto ( 2, 2)

Substituindo na equação vem:


√ √
( 2)2 + ( 2)2 = 4

Neste caso dá-se a igualdade, logo o ponto pertence ao cı́rculo.

3. O ponto (2, 1)

Substituindo na equação vem:


22 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

22 + 12 = 5

5 6= 4, logo o ponto não pertence ao cı́rculo. Neste caso como 5 > 4 o


ponto encontra-se no exterior do cı́rculo.

No caso da elipse a equação que a define é dada por


(x − x1 )2 (y − y1 )2
+ =1
a2 b2
em que (x1 , y1 ) é o centro de elipse e a e b o comprimento dos seus semi-eixos
e, mais uma vez podemos verificar se um dado ponto pertence ou não à elipse
através da substituição das coordenadas do ponto na equação.
Exemplo: A equação da elipse de centro (1, 2) e semi-eixos de comprimento
3 e 2, é dada por
(x − 1)2 (y − 2)2
+ =1
9 4
e tem por representação gráfica a seguinte figura:

Figura 3.11: Elipse de centro A = (1, 2)

Verifiquemos a posição de alguns pontos relativamente à elipse:

1. O ponto (0, 0)

Substituindo na equação vem:


(0 − 1)2 (0 − 2)2 10
+ =
9 4 9

As coordenadas do ponto em questão não verificam a equação, logo o


10
ponto não pertence à elipse. Neste caso, como 9 > 1, o ponto encontra-
se no exterior da elipse.

2. O ponto (1, 1)

Tal como no caso anterior, basta substituir as coordenadas do ponto na


equação
(1 − 1)2 (1 − 2)2
+ =1
9 4
Neste caso dá-se a igualdade, logo o ponto pertence à elipse.
3.2. APLICAÇÕES DO MÉTODO DAS COORDENADAS 23

Para além dos exemplos anteriormente apresentados, podemos apresen-


tar mais alguns:

1. A equação
x−y =0

ou mais geralmente
y=x

que define uma recta, a bissectriz dos quadrantes ı́mpares e tem a seguinte
representação geométrica:

Figura 3.12: Recta y = x

2. a equação da parábola com vértice na origem é

y = x2

e representa-se geometricamente da seguinte forma:

Figura 3.13: Parábola

3. Considere-se a equação
|x| |y|
+ =2
x y
Pela definição de módulo sabemos que

|a|  1 se a > 0
=
a  −1 se a < 0

|x| |y|
Verifica-se que a expressão x + y , em que x e y são as coordenadas de
um determinado ponto P , terá por resultado:

- 2 se P se encontrar no primeiro quadrante;

- 0 se P se encontrar no II ou IV quadrante;

- −2 se P se encontrar no III quadrante;


24 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

- a expressão não terá significado se o ponto P se encontrar num dos


eixos coordenados, ou se coincidir com a origem.

Concluı́-se, então, que a equação indicada representa uma parte do plano:


o primeiro quadrante, excluı́ndo os eixos coordenados.

Figura 3.14: 1o Quadrante

4. A equação
|x| + |y| = 2

Tendo em conta que x e y são as coordenadas de um determinado ponto


P no plano analisemos a equação em cada um dos quadrantes:

x+y =2 para o quadrante I,

−x + y = 2 para o quadrante II,

−x − y = 2 para o quadrante III,

x−y =2 para o quadrante IV,

pela definição de módulo facilmente se vê que a equação descreve o con-


torno do quadrado de vértices (0, 2), (2, 0), (0, −2) e (−2, 0).

Figura 3.15: |x| + |y| = 2

Muitos mais exemplos poderiam ser apresentados, mas a pretensão é apenas


ilustrar que, de facto, o Método das Coordenadas é uma ferramenta essencial
na tradução de problemas geométricos para problemas algébricos e vice-versa.
Podemos dizer que, em Geometria Analı́tica, uma equação funciona como
um crivo, rejeitando os pontos que não nos são necessários e guardando os que
formam a figura que nos interessa. A equação de uma curva é a equação que se
transforma numa identidade sempre que substituı́mos x e y pelas coordenadas
3.2. APLICAÇÕES DO MÉTODO DAS COORDENADAS 25

de um ponto da curva e não é satisfeita se substituı́rmos pelas coordenadas de


um ponto que não está na curva.
Generalizando representamos uma equação nas variáveis x e y da seguinte
forma
f (x, y) = 0.

Em que f (x, y) representa a expressão matemática que contém x e y, ou pelo


menos uma delas. De acordo com o que já foi dito anteriormente a equação
f (x, y) = 0 define uma certa figura como o conjunto de pontos cujas coorde-
nadas no referencial cartesiano satisfazem a equação.

3.2.3 Resolvendo Problemas

Tal como referido quando terminado o ponto anterior, “A tradução de


conceitos geométricos para a linguagem das coordenadas permite-nos consid-
erar problemas algébricos em vez de geométricos. Acontece que, depois dessa
tradução, a maioria dos problemas relacionados com linhas e cı́rculos conduz
a equações do primeiro e segundo grau; e existem fórmulas gerais simples para
a solução destas equações... O filósofo Francês René Descartes, ao revelar o
método das coordenadas gabou-se:“Eu resolvi todos os problemas”- significando
os problemas geométricos desse tempo. ”[1]
Para exemplificar, exibe-nos o seguinte problema, cuja resolução geométrica
seria bastante complicada, mas se a partir das coordenadas, passar-mos a
equações algébricas, esta resolução torna-se substâncialmente simples.

Problema[1, página 27]: Dados dois pontos A e B no plano, encontrar o


conjunto dos pontos M cuja distância a A é duas vezes superior à sua distância
a B.
Resolução:
Escolhe-se um referencial adequado no plano, de tal forma que a origem
coincida com o ponto A, o segmento AB fique sobre a parte positiva do eixo
Ox, e, para unidade de medida, toma-se o comprimento de AB. Desta forma
as coordenadas de A serão (0, 0) e as de B, (1, 0). As coordenadas do ponto
26 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

M , desconhecido, são dadas por (x, y). A condição enunciada d (A, M ) =


2 × d (B, M ), é,

p q
x2 + y 2 = 2 (x − 1)2 + y 2 (3.8)

Fica assim determinada a equação do conjunto dos pontos desejado. Mas


podemos desenvolver mais a equação para tentar perceber a figura geométrica
por ela representada. A equação 3.8, elevando ambos os termos ao quadrado,
é equivalente a:
3x2 − 8x + 4 + 3y 2 = 0 ⇔
8 16 4
⇔ x2 − x + + y2 = ⇔
3 9 9
 2  2
4 2
⇔ x− + y2 = .
3 3
Esta equação é já nossa conhecida, trata-se da equação da circunferência
de centro em 43 , 0 e raio 32 , assim o conjunto desejado, M , é o conjunto que


satisfaz esta equação.

3.3 Outros Sistemas de Coordenadas

Para além do sistema de coordenadas Cartesiano Rectangular podemos con-


siderar outros sistemas de coordenadas que, em situações especı́ficas, podem
facilitar a resolução de problemas, por serem mais apropriadas à especificidade
do problema em si. Alguns não são mais do que variações deste sistema, em
que a diferença poderá estar na posição dos eixos (que poderá ser oblı́qua em
vez de perpendicular), ou na escolha das unidades de medida, que pode ser
diferente em cada um dos eixos.
Um sistema realmente diferente do Cartesiano Rectangular, mas que, no
entanto, descreve o mesmo plano é o Sistema de Coordenadas Polar, bastante
utilizado dado a sua simplicidade e porque facilita, em especial, a resolução de
problemas trigonométricos.
Para definir um Sistema de Coordenadas Polar, partimos de um ponto fixo,
O, designado por origem ou pólo e uma semi-recta orientada, designada por
3.3. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS 27

eixo polar com extremidade O. As coordenadas de um determinado ponto M


são determinadas por dois valores: ρ, o raio polar - a distância do ponto ao pólo
- e ϕ, o ângulo polar - o ângulo orientado e considerado no sentido contrário
aos ponteiros do relógio, ou seja, desde o eixo polar até à semi-recta OM (ver
Figura 3.16). Portanto, quando definimos a posição de um ponto através de
coordenadas polares, os dois valores indicados não são mais do que a direcção
em que o ponto se encontra e a distância a este ponto. Dada a siplicidade deste
sistema ele é frequentemente utilizado, mesmo sem notarmos, por exemplo,
quando indicamos um “caminho” a alguém, ao dizermos, “Vire para Oeste
(direcção) na casa amarela à beira da estrada (o pólo), ande 100 metros e aı́
encontrará a Pousada (o ponto)”, estamos a fazer uso das coordenadas polares.

Figura 3.16: Sistema de Coordenadas Polar

Uma vez que ambos os sistemas definem o mesmo plano, vamos determinar
a relação entre coordenadas polares e coordenadas cartesianas, de modo a obter
um processo de transformar coordenadas polares em coordenadas cartesianas
e vice-versa. Tomemos para eixo polar a parte positiva do eixo Ox do sistema
Cartesiano Rectangular e o ponto O como a origem a origem das coordenadas,
marcando o segmento P Px perpendicular a Ox. Sejam (x, y) as coordenadas
cartesianas e (ρ, ϕ) as coordenadas polares de um mesmo ponto P . Se o ponto P
se encontrar no primeiro quadrante, o triângulo rectângulo desenhado permite
verificar geometricamente as seguintes relações (ver Figura 3.17):

x = ρ cos ϕ, y = ρ sin ϕ

e ainda
p
ρ = ± x2 + y 2 , tan ϕ = y/x, com x 6= 0.

Figura 3.17: Coordenadas Polares ↔ Coordenadas Cartesianas

Tal como já foi referido a utilização deste tipo de coordenadas, assim como
qualquer outro, prende-se com o facto deste poder facilitar a resolução de de-
28 CAPÍTULO 3. COORDENADAS DE PONTOS NO PLANO

terminado tipo de problemas. Uma curva pode ser representada tanto em


coordenadas cartesianas como polares, mas um dos sistemas poderá ser mais
adequado do que outro em determinadas situações. Há que referir que em co-
ordenadas polares não existe uma correspondência um-para-um entre pontos e
coordenadas. De facto, dois pontos de coordenadas polares ρ, ϕ e ρ, ϕ + 2kπ,
com ρ > 0 e k um inteiro qualquer, coincidem.
O conjunto de pontos (ρ, ϕ) do plano que verifica a equação f (ρ, ϕ) = 0
chama-se curva em coordenadas polares.
Vejamos alguns exemplos de equações polares de algumas rectas, circun-
ferências e outras figuras:

• Rectas verticais: ρ cos ϕ = a ou ρ = asecϕ;

• Rectas horizontais: ρ = a csc ϕ

• Rectas que passam pela origem: ϕ = ϕ0

• Circuferência centrada na origem: ρ = a (raio = |a|)

• Circunferência centrada no eixo Ox e tangente ao eixo Oy: ρ = 2a cos ϕ

• Circunferência centrada no eixo Oy e tangente ao eixo Ox: ρ = 2a sin ϕ

• Lemniscatas:

Figura 3.18: Lemniscatas

• Rosas:

Figura 3.19: Rosas

Note-se a simplicidade de descrição algébrica de equações em coordenadas


polares quando comparadas com as cartesianas. Claro que, para a correcta
identificação das superficı́es , é necessário fixar de forma adequada o pólo e o
eixo polar.
Capı́tulo 4

Coordenadas de pontos no
espaço

4.1 Eixos e planos coordenados

Para determinar a posição de um ponto no espaço necessitamos de três


eixos coordenados, em vez de dois, ou seja, temos necessidade de definir um
Referencial Cartesiano no espaço. Um referencial cartesiano no espaço é um
sistema de três eixos, não complanares com a mesma origem, O, nos quais se
fixam unidades de comprimento.

Figura 4.1: Espaço

Se, nos três eixos, é usada a mesma unidade de comprimento e se cada um


dos seus eixos é perpendicular aos outros dois, o referencial diz-se monométrico
e ortogonal, respectivamente.
Tal como acontecia na dimensão 1, R, e na dimensão 2, R2 , também no
espaço, ao considerarmos um referencial cartesiano, estabelecemos uma cor-
respondência biunı́voca entre os pontos do espaço e R3 . Qualquer ponto do
espaço é representado através de um único terno ordenado (x, y, z), em que x
é a abcissa do ponto, y a ordenada e z a cota.
Observação: Para localizar um ponto na Terra também se usam três coor-

29
30 CAPÍTULO 4. COORDENADAS DE PONTOS NO ESPAÇO

Figura 4.2: Coordenadas de um ponto no Espaço

denadas: a latitude, a longitude e a altitude, medidas em relação ao meridiano


de Greenwich e em relação ao nı́vel médio da água do mar.
No espaço, para além dos eixos coordenados, Ox, Oy e Oz, temos também
a considerar os planos coordenados definidos pelos eixos coordenados, dois a
dois. São três os planos nestas condições:

• O plano xOy, que passa pelos eixos Ox e Oy e que contém todos os pontos
da forma (x, y, 0), com x e y quaisquer valores reais. Este plano define-se
pela equação z = 0.

Figura 4.3: Plano xOy

• O plano xOz, que passa pelos eixos Ox e Oz e que contém todos os pontos
da forma (x, 0, z), com x e z quaisquer valores reais. Este plano define-se
pela equação y = 0.

Figura 4.4: Plano xOz

• O plano yOz, que passa pelos eixos Oy e Oz e que contém todos os pontos
da forma (0, y, z), com y e z quaisquer valores reais. Este plano define-se
pela equação x = 0.

Os três planos coordenados dividem o espaço em oito regiões denominadas


por Octantes. Sendo o primeiro destes formado pelos pontos que têm as três
coordenadas positivas, numerando-se os seguintes no sentido anti-horário, isto
é:

• 1o Octante x > 0, y > 0 e z > 0;

• 2o Octante x < 0, y > 0 e z > 0;

• 3o Octante x < 0, y < 0 e z > 0;


4.1. EIXOS E PLANOS COORDENADOS 31

Figura 4.5: Plano yOz

Figura 4.6: Planos no Espaço

• 4o Octante x > 0, y < 0 e z > 0;

• 5o Octante x > 0, y < 0 e z < 0;

• 6o Octante x < 0, y > 0 e z < 0;

• 7o Octante x < 0, y < 0 e z < 0;

• 8o Octante x > 0, y < 0 e z < 0;

Para determinar as coordenadas de um determinado ponto P no espaço


temos que encontrar os valores das suas coordenadas, x, y e z.
Para encontrar o valor da abcissa, x, contrói-se um plano paralelo ao plano
yOz que passe por P . O ponto de intersecção deste plano com o eixo Ox será
a coordenada em x, ou abcissa do ponto P .
Procedemos de forma análoga para encontrar os valores da ordenada e da
cota, ou seja, para a ordenada constrói-se um plano passando por P , paralelo
ao plano xOz, e para a cota, o plano a construir passará igualmente por P ,
mas será paralelo ao plano xOy. No primeiro caso, o ponto de intersecção do
plano com o eixo Oy dará o valor da ordenada do ponto P e no segundo caso,
através da intersecção do plano com o eixo Oz, encontramos a cota do ponto
P.
Na situação inversa, em que conhecemos as coordenadas de um determinado
ponto P e queremos encontrar a sua posição no espaço, utiliza-se o mesmo pro-
cedimento mas por ordem contrária. Começamos por marcar cada uma das co-
ordenadas no respectivo eixo, contruindo depois os planos paralelos aos planos
coordenados passando por estes pontos. O ponto de intersecção dos três planos
será o ponto P que se procura e que tem por coordenadas (x, y, z). Mais uma
vez, e tal como já foi referido, verifica-se a existência de uma correspondência
32 CAPÍTULO 4. COORDENADAS DE PONTOS NO ESPAÇO

unı́voca entre os pontos do espaço e ternos ordenados de números reais, que,


em particular, representam o conjunto R3 .
Tal como acontecia no plano, chamamos projecções nos eixos aos pontos
de intersecção dos eixos coordenados com os planos contruı́dos passando pelo
ponto P e paralelos aos planos coordenados, estas projecçoes são dadas pelos
pontos P1 , P2 e P3 , em que: P1 é a projecção de P no eixo Ox, P2 no eixo Oy
e P3 no eixo Oz. Podemos, então, definir coordenadas de um ponto no espaço
da seguinte forma:
- As coordenadas de um ponto P no espaço são as coordenadas das pro-
jecções do ponto P nos eixos coordenados.

Figura 4.7: Projecções de P nos eixos coordenados

Facilmente se verifica que diversas fórmulas apresentadas no plano se veri-


ficam no espaço, com as devidas alterações. Exemplo disso é a distância entre
dois pontos A (x1 , y1 , z1 ) e B (x2 , y2 , z2 ), que se calcula através da seguinte
fórmula
q
d (A, B) = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 + (z1 − z2 )2 ,

em particular distância de um ponto P à origem é dada pela fórmula


p
d (O, P ) = x2 + y 2 + z 2 .

Exercı́cios:

1. Considere-se os pontos (1, 1, 1), (1, 1, −1), (1, −1, 1), (1, −1, −1), (−1, 1, 1),
(−1, 1, −1), (−1, −1, 1), (−1, −1, −1).

(a) Encontrar a distância destes pontos a (1, 1, 1).

Resolução:
p
d((1, 1, 1), (1, 1, −1)) = (1 − 1)2 + (1 − 1)2 + (1 + 1)2 = 2
p
d((1, 1, 1), (1, −1, 1)) = (1 − 1)2 + (1 + 1)2 + (1 − 1)2 = 2
p
d((1, 1, 1), (−1, 1, 1)) = (1 + 1)2 + (1 − 1)2 + (1 − 1)2 = 2
4.1. EIXOS E PLANOS COORDENADOS 33
p √
d((1, 1, 1), (1, −1, −1)) = (1 − 1)2 + (1 + 1)2 + (1 + 1)2 = 2 2
p √
d((1, 1, 1), (−1, 1, −1)) = (1 + 1)2 + (1 − 1)2 + (1 + 1)2 = 2 2
p √
d((1, 1, 1), (−1, −1, 1)) = (1 + 1)2 + (1 + 1)2 + (1 − 1)2 = 2 2
p √
d((1, 1, 1), (−1, −1, −1)) = (1 + 1)2 + (1 + 1)2 + (1 + 1)2 = 2 3

(b) Qual destes pontos é mais distante de (1, 1, 1)?

Resolução:

O ponto mais distante a (1, 1, 1) é o ponto (−1, −1, −1), que se



encontra à distância 2 3 de (1, 1, 1).

(c) Qual destes pontos se encontra mais perto de (1, 1, 1)?

Resolução:

Os pontos mais próximos de (1, 1, 1) são os pontos (1, 1, −1), (1, −1, 1)
e (−1, 1, 1), que se encontram à distância 2 de (1, 1, 1).

2. Desenhar um cubo fazendo passar os eixos coordenados por três arestas


adjacentes em relação a qualquer um dos vértices. Tomar para unidade
de medida a aresta do cubo. Denotar os vértices do cubo por A, B, C,
D, A1 , B1 , C1 , D1 , tal como na figura.

Figura 4.8: Cubo

(a) Encontrar as coordenadas dos vértices do cubo.

Resolução:

Se a aresta do cubo é a unidade de medida, então os vértices têm as


seguintes coordenadas:

A = (0, 0, 0) B = (1, 0, 0) C = (1, 1, 0) D = (0, 1, 0)


A1 = (0, 0, 1) B1 = (1, 0, 1) C1 = (1, 1, 1) D1 = (0, 1, 1)

(b) Encontrar o ponto médio da aresta CC1 .

Resolução:
34 CAPÍTULO 4. COORDENADAS DE PONTOS NO ESPAÇO

Seja CM o ponto médio de CC1 , as suas coordenadas serão dadas


por: CM = 1+1 1+1 0+1
= 1, 1, 12
 
2 , 2 , 2

(c) Encontrar as coordenadas do ponto de intersecção das diagonais da


face AA1 B1 B

Resolução:

A diagonal BA1 tem por equação:

(1, 0, 0)+K1 (A1 −B) = (1, 0, 0)+K1 [(0, 0, 1) − (1, 0, 0)] = (1, 0, 0)+K1 (−1, 0, 1),
(4.1)
com K1 ∈ [0, 1]

A diagonal AB1 tem por equação:

(0, 0, 0) + K2 (B1 − A) = (0, 0, 0) + K2 (1, 0, 1), (4.2)

com K2 ∈ [0, 1]

Ponto de intersecção das diagonais, encontra-se igualando as equações


(4.1) a (4.2), isto é

(1, 0, 0) + (−K1 , 0, K1 ) = (K2 , 0, K2 ) ⇐⇒



 1 − K1 = K2
⇐⇒
 K =K
1 2


1
 K2 = 2
⇐⇒
 K =K
1 2

O ponto de intersecção será 12 , 0, 21




(d) Escrever as relações a que as coordenadas dos pontos no interior e


na fronteira do cubo definido na questão anterior satisfazem.

Resolução:

As coordenadas x, y e z dos pontos no interior e na fronteira do


cubo podem tomar todos os valores entre 0 e 1 inclusivé, ou seja,
satisfazem as relações:
4.2. DEFININDO FIGURAS NO ESPAÇO. 35

0≤x≤1

0≤y≤1

0≤z≤1

4.2 Definindo figuras no espaço.

Tal como acontece no plano, também no espaço podemos definir figuras,


tais como curvas e superfı́cies, através de números e relações numéricas.
Por exemplo, podemos definir uma linha recta paralela ao eixo Oz, especi-
ficando as coordenadas x e y, por exemplo x = a e y = b (com a e b valores
reais) e deixando z arbitrariamente livre. De igual forma podemos definir uma
recta paralela a Oy através das condições x = a, z = c e y ∈ R.
Especificando apenas uma das coordenadas e deixando as outras duas tomar
valores arbitrários definimos um plano. Por exemplo a expressão x = 3 define
o plano paralelo ao plano yOz e a uma distância 3 deste plano no sentido
positivo do eixo Ox. Mas, recorrendo a equações e a relações entre coordenadas
poderemos definir figuras mais elaboradas.

Figura 4.9: Plano x=3

Exemplos:

1. O conjunto dos pontos a uma dada distância r da origem das coordenadas


é dada pela expressão
p
x2 + y 2 + z 2 = r ⇐⇒ x2 + y 2 + z 2 = r2

Este conjunto representa a suprefı́cie da esfera de centro na origem, O, e


raio r.
36 CAPÍTULO 4. COORDENADAS DE PONTOS NO ESPAÇO

Figura 4.10: Esfera de centro na origem e raio r

Se tomarmos o conjunto de pontos definidos pela expressão

x2 + y 2 + z 2 > r 2

obtemos o exterior da esfera indicada anteriormente, que não é mais do


que o conjunto dos pontos que estão a uma distância da origem superior
a r.

2. Que conjunto de pontos define a equação

x2 + y 2 = 1 (4.3)

Começando por analisar os pontos sobre o plano xOy, ou seja quando


z = 0, estamos a analisar a equação x2 + y 2 = 1 no plano, que, como vi-
mos anteriormente, define um cı́rculo de centro na origem e raio 1. Qual-
quer um destes pontos tem cota nula e abcissa e ordenada satisfazendo
 √ 
a relação (4.1). Por exemplo, o ponto 23 , 35 , 0 satisfaz a equação, o
 √   √ 
mesmo acontece com 23 , 35 , 2 , ou com 32 , 35 , −10 , ou qualquer ponto
 √ 
do tipo 32 , 35 , z em que o valor de z é arbitrário.

Mais ainda, qualquer um destes pontos se encontra na recta que passa


 √ 
pelo ponto 32 , 35 , 0 e é paralela ao eixo Oz. Desta forma, qualquer
ponto (x∗ , y ∗ , 0) do cı́rculo traçado no plano xOy origina diversos pon-
tos satisfazendo a equação (4.1) - os pontos na recta passando por estes
pontos, paralelo ao eixo Oz. Como z não faz parte da equação qualquer
ponto da forma (x∗ , y ∗ , z), com x∗ e y ∗ satisfazendo a equação x2 +y 2 = 1,
z ∈ R, satisfazem a equação (4.1).

Então o conjunto dos pontos determinado pela equação (4.1) é uma su-
perfı́cie cilı́ndrica, contruı́da da seguinte forma: toma-se o cı́rculo de cen-
tro na origem e raio 1 desenhado no plano xOy e, através de cada ponto
do cı́rculo, contrói-se uma recta paralela ao eixo Oz.
4.2. DEFININDO FIGURAS NO ESPAÇO. 37

Figura 4.11: Cilı́ndro de equação x2 + y 2 = 1

3. Consideremos agora um sistema de equações


 x2 + y 2 + z 2 = 4
 z=1

A equação x2 + y 2 + z 2 = 4 é o conjunto dos pontos que representa


a superfı́cie de esfera de centro na origem e raio 2. A equação z = 1
corresponde ao plano paralelo ao plano xOy e localizado à distância um
da origem, no sentido positivo.

Os pontos satisfazendo ambas as condições encontram-se na intersecção


da esfera com o plano.

Tal como no plano, também no espaço podemos apresentar outros sistemas


de coordenadas para além do Cartesiano Rectangular, exemplo disso são os
sistemas de Coordenadas Cilı́ndricas e o de Coordenadas Esféricas.

O sistema de coordenadas cilı́ndricas foi construı́do tendo por base o sis-


tema de coordenadas polares. Podemos pensar nele como uma evolução do
modelo polar para o espaço tridimensional. Este sistema é constı́tuido por um
subsistema polar na base de um cilindro e as coordenadas de um ponto neste
sistema são dadas por (ρ, θ, z).

Figura 4.12: Coordenadas Cilı́ndricas (ρ, θ, z) em R3

De acordo com a Figura 4.12, vemos que ρ representa a distância de cada


p
ponto de coordenadas (x, y, z) ao eixo z, isto é ρ = x2 + y 2 , e θ é o ângulo
formado entre o semi-eixo positivo Ox e o segmento que une (x, y, 0) à origem
e z é a cota.

As coordenadas cilı́ndricas relacionam-se com as cartesianas rectangulares


38 CAPÍTULO 4. COORDENADAS DE PONTOS NO ESPAÇO

através das seguintes expressões

x = ρ cos θ

y = ρ sin θ

z = z (4.4)

O sistema de coordenadas esféricas é uma adaptação do sistema de coorde-


nadas polares ao espaço, em que consideramos a medida do raio de uma esfera e
os ângulos internos que este raio forma com os eixos Ox e Oz. As coordenadas
de um ponto neste sistema de eixos são dadas por (ρ, θ, ϕ).

Figura 4.13: Coordenadas Esféricas (ρ, θ, ϕ) em R3

p
De acordo com a Figura 4.13, temos que ρ = x2 + y 2 + z 2 , é a distância
de cada ponto de coordenadas (x, y, z) à origem, θ é o ângulo formado entre o
semi-eixo positivo Ox e o segmento de recta que une a origem a (x, y, 0) e ϕ é
o ângulo entre o semi-eixo positivo Oz e o segmento de recta que une (x, y, z)
à origem. Podemos assim relacionar estas coordenadas com as coordenadas no
sistema cartesiano rectangular da seguinte forma:

x = ρ sin ϕ cos θ

y = ρ sin ϕ sin θ

z = ρ cos ϕ (4.5)

Exemplo:
A esfera de centro na origem e raio 2 consoante o sistema de coordenadas
usado, pode ser representada por qualquer uma das equações seguintes:

• em coordenadas cartesianas, x2 + y 2 + z 2 = 4

• em coordenadas cilindricas, 0 ≤ θ ≤ 2π ∧ z = 2

• em coordenadas esféricas, − π2 ≤ ϕ ≤ π
2 ∧ 0 ≤ θ ≤ 2π ∧ ρ = 2
4.2. DEFININDO FIGURAS NO ESPAÇO. 39

Figura 4.14: Esfera de centro na origem e raio 2


40 CAPÍTULO 4. COORDENADAS DE PONTOS NO ESPAÇO
Capı́tulo 5

O espaço a quatro dimensões

5.1 Introdução

A noção intuitiva de que o Universo possui três dimensões parece um facto


irrefutável. Afinal, apenas nos movemos para cima ou para baixo, para a direita
ou para a esquerda e para dentro ou para fora. Será que três dimensões são
suficientes para descrever a natureza?
Alguns Fı́sicos e Matemáticos dedicados ao estudo do ı́nicio do Universo
responderam a esta questão, dizendo que, de facto, existem mais do que três
dimensões, segundo alguns deles o Universo tem onze dimensões (mas não é
nosso objectivo chegar tão longe).
Um destes Matemáticos foi Hermann Minkowski. Mikowski nasceu a 22 de
Junho de 1864 na Lituânia e morreu a 12 de Janeiro de 1909. Estudou nas
Universidades de Berlim e Königsberg e ganhou o prémio de matemática da
Academia Francesa de Ciências pelos seus manuscritos sobre a teoria das for-
mas quadráticas. Minkowski leccionou nas Universidades de Bonn, Göttingen,
Königsberg e Zurique, tendo sido , em Zurique, um dos professores de Einstein.
Este matemático desenvolveu a teoria geométrica dos números e usou métodos
geométricos para resolver complexos problemas em Teoria dos Números, Fı́sica,
Matemática e a Teoria da Relatividade. Foi ele quem propôs um Espaço
Tetradimensional. Este espaço é denominado Espaço de Minkowski e é este
o espaço habitual para formular a famosa Teoria da Relatividade de Einstein.

41
42 CAPÍTULO 5. O ESPAÇO A QUATRO DIMENSÕES

Neste espaço, as três dimensões usuais são combinadas com a dimensão Tempo,
formando uma variedade tetradimensional para representar um espaço - tempo.
A necessidade da criação de um espaço com quatro dimensões surge no
decurso do desenvolvimento da teoria geométrica dos números. Minkowski
usou uma aproximação geométrica para a resolução de equações envolvendo
números inteiros, espantando os Matemáticos do seu tempo pela simplicidade
e clareza que a Geometria trouxe à resolução de questôes difı́ceis em Teoria de
Números.
Por exemplo, se pretendermos saber o número de soluções, no conjunto dos
inteiros, das inequações do tipo x2 + y 2 ≤ n ou x2 + y 2 + z 2 ≤ n, com n um
número inteiro, verificamos que, algebricamente, se torna um exercı́cio com-
plicado na medida em que o número de soluções cresce com o crescimento de
n. Mas facilmente se responde à questão recorrendo à Geometria, isto porque
as expressões representam o interior de um cı́rculo e de uma esfera, respectiva-

mente de raios n. Podemos, assim, verificar que o número de soluções inteiras
corresponde ao número de pontos com coordenadas inteiras dentro do cı́rculo
ou da esfera, conforme a inequação que estivermos a tratar.
No caso do cı́rculo o número de soluções é aproximadamente igual à área

do cı́rculo, de raio n, que é πn e, no caso da esfera, este número é aproxi-
√ √
madamente igual a 43 πn n, o volume da esfera de raio n.
E se tomarmos a inequação x2 + y 2 + z 2 + u2 ≤ n, como procedemos para
encontrar o número de soluções inteiras da inequação? Neste caso temos quatro
incógnitas, mas, ao resolvermos este mesmo problema com duas incógnitas
verificou-se, através da representação geométrica, que as soluções da inequação
eram pontos do plano, assim como com três incógnitas as soluções eram pontos
do espaço.
Agora para resolver esta questão necessitamos de um espaço com quatro
dimensões no qual seja possı́vel visualizar a inequação x2 + y 2 + z 2 + u2 ≤ n

como uma esfera tetradimensional de raio n. Surge assim a necessidade de
desenvolver uma geometria que envolva este espaço.
A geometria tetradimensional foi uma ferramenta essencial no desenvolvi-
5.2. EIXOS COORDENADOS E PLANOS 43

mento da Fı́sica moderna, sem ela seria de extrema dificuldade expôr e utilizar
ramos da Fı́sica Contemporânea como é o caso da Teoria da Relatividade de
Einstein, já atrás referida.“Desta forma, foi um golpe de sorte para a Fı́sica
Moderna que, na altura da descoberta da Teoria da Relatividade, Matemáticos
tenham preparado a ferramenta conveniente, compacta e bela da Geometria
multidimensional, que num determinado número de casos simplificou significa-
tivamente a resolução de problemas” [1].

5.2 Eixos coordenados e planos

É muito difı́cil, para a maioria das pessoas, formar mentalmente uma im-
agem a 4-Dimensões, pois a realidade que nos rodeia é tridimensional. Como
já se viu, este é um útil conceito matemático, envolvendo uma geometria dev-
idamente desenvolvida e sem contradições. Visto a visualização não ser fácil,
teremos que recorrer a definições analı́ticas, ao que o método das coordenadas
se adequa, e a analogias com espaços de dimensões inferiores.

Comecemos por definir ponto num espaço a 4-dimensões: Um ponto num


espaço tetradimensional é um quadrúplo ordenado de números (x, y, z, u).

Sabemos que o espaço bidimensional tem dois eixos, o eixo Ox, que é o
conjunto dos pontos da forma (x, 0) onde x toma qualquer valor real e o eixo
Oy, constituı́do pelos pontos da forma (o, y), com y qualquer valor real. No
espaço tridimensional temos três eixos, o eixo Ox - constituı́do pelos pontos
(x, 0, 0), com x ∈ R-, o eixo Oy - constituı́do pelos pontos (0, y, 0), com y ∈ R-
e o eixo Oz - constituı́do pelos pontos (0, 0, z), com z ∈ R.

Parece natural, num espaço de quatro dimensões, tomar os eixos coordena-


dos como o conjunto dos pontos em que uma das coordenadas pode ter qualquer
valor real e as restantes permanecem nulas. Então o espaço de quatro dimensões
tem quatro eixos coordenados:

• O eixo Ox - o conjunto dos pontos da forma (x, 0, 0, 0) em que x é qualquer


valor real.
44 CAPÍTULO 5. O ESPAÇO A QUATRO DIMENSÕES

• O eixo Oy - o conjunto dos pontos da forma (0, y, 0, 0) em que y é qualquer


valor real.

• O eixo Oz - o conjunto dos pontos da forma (0, 0, z, 0) em que z é qualquer


valor real.

• O eixo Ou - o conjunto dos pontos da forma (0, 0, 0, u) em que u é qualquer


valor real.

Figura 5.1: Espaço Tetradimensional

Tal como no espaço de três dimensões, também no espaço de quatro di-


mensões podemos definir planos coordenados. Quando se tem apenas três di-
mensões, um plano coordenado é dado pelo conjunto dos pontos em que duas
das coordenadas tomam valores reais arbitrários e a outra é nula. Ora, de forma
análoga podemos definir plano no espaço tetradimensional. Assim, temos os
planos:

• xOy - o conjunto dos pontos da forma (x, y, 0, 0);

• xOz - o conjunto dos pontos da forma (x, 0, z, 0);

• xOu - o conjunto dos pontos da forma (x, 0, 0, u);

• yOz - o conjunto dos pontos da forma (0, y, z, 0);

• yOu - o conjunto dos pontos da forma (0, y, 0, u);

• zOu - o conjunto dos pontos da forma (0, 0, z, u).

Em cada um dos planos as duas coordenadas variáveis podem tomar qual-


quer valor real e as outras duas são nulas.
Por exemplo, o ponto (−2, 2, 0, 0) pertence ao plano xOy, enquanto que o
ponto (−1, 0, 0, 0) pertence aos planos xOy, xOz e xOu, isto porque o ponto se
encontra no eixo Ox e este eixo pertence aos três planos. Verifica-se que cada
5.2. EIXOS COORDENADOS E PLANOS 45

três planos coordenados passam por um mesmo eixo, que é a intersecção dos
três planos.
Até agora nada de novo, tudo o que se definiu para o espaço tridimensional
foi generalizado para o espaço tetradimensional. Mas é natural que surjam
outros conjuntos, como é o caso dos planos coordenados tridimensionais. Tal
como o senso comum nos indica, estes planos são os conjuntos dos pontos em
que três das coordenadas tomam todos os possı́veis valores reais e a quarta
coordenada é nula.
Temos quatro planos coordenados nestas condições:

• O plano xyz - o conjunto dos pontos (x, y, z, 0);

• O plano xyu - o conjunto dos pontos (x, y, 0, u);

• O plano xzu - o conjunto dos pontos (x, 0, z, u);

• O plano yzu - o conjunto dos pontos (0, y, z, u).

Cada um destes planos passa pela origem das coordenadas, cada um deles
é definido por três dos eixos coordenados e quando intersectados dois a dois
originam um plano bidimensional.
Um conceito que também é possı́vel generalizar a partir das dimensões in-
feriores, já estudadas, é o conceito de distância entre dois pontos.
A distância entre dois pontos A(x1 , y1 , z1 , u1 ) e B(x2 , y2 , z2 , u2 ) de um
espaço de quatro dimensões define-se pelo valor d(A, B) dado pela fórmula
p
d(A, B) = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 + (z1 − z2 )2 + (u1 − u2 )2 .

Em particular a distância de um ponto A à origem é dado por


p
d(A, B) = x2 + y 2 + z 2 + u2 .

De facto, para qualquer dimensão n ≥ 1 temos


q
d(A, B) = (x11 − x12 )2 + (x21 − x22 )2 + (x31 − x32 )2 + ... + (xn1 − xn2 )2 .

Exercı́cios:
46 CAPÍTULO 5. O ESPAÇO A QUATRO DIMENSÕES

Provar que o triângulo de vértices A(4, 7, −3, 5), B(3, 0, −3, 1) e C(−1, 7, −3, 0)
é isósceles.
Resolução:

p √ √
d(A, B) = (4 − 3)2 + (7 − 0)2 + (−3 + 3)2 + (5 − 1)2 = 1 + 49 + 16 = 66

p √ √
d(A, C) = (4 + 1)2 + (7 − 7)2 + (−3 + 3)2 + (5 − 0)2 = 25 + 25 = 50

p √ √
d(B, C) = (3 + 1)2 + (0 − 7)2 + (−3 + 3)2 + (5 − 0)2 = 16 + 49 + 25 = 90

Como o comprimento dos três lados é diferente, o triângulo é isósceles.

5.3 A esfera e o cubo tetradimensionais

Uma esfera (no espaço tridimensional) é o conjunto dos pontos cuja distância
a um ponto fixo, o centro da esfera, é um valor fixo, o raio. Esta definição
pode igualmente ser utilizada para definir esfera no espaço tetradimensional
uma vez que sabemos como se define ponto e distância entre dois pontos neste
espaço. Se considerarmos a origem do referencial, (0, 0, 0, 0), como centro da
esfera, definimos esfera no espaço de quatro dimensões da seguinte forma.

Definição: O conjunto dos pontos (x, y, z, u) que satisfaz a relação

x2 + y 2 + z 2 + u2 = r2

é chamada esfera tetradimensional, com centro na origem e raio r.

Uma outra figura que interessa definir é o cubo em quatro dimensões. Come-
cemos por relembrar a definição de quadrado, no plano, utilizando o caso sim-
ples de um quadrado com um vértice na origem, lados de comprimento um e
no primeiro quadrante.
5.3. A ESFERA E O CUBO TETRADIMENSIONAIS 47

O quadrado é o conjunto dos pontos (x, y) que satisfazem as relações

0 ≤ x ≤ 1 , 0 ≤ y ≤ 1.

Qualquer quadrado se define de forma análoga, alterando os valores entre os


quais x e y podem variar.

Figura 5.2: Quadrado

Vejamos a definição de cubo, também com um vértice na origem, aresta de


comprimento um e com todas as coordenadas no primeiro octante.
O cubo é o conjunto de pontos (x, y, z) que satisfazem as relações

0 ≤ x ≤ 1 , 0 ≤ y ≤ 1 , 0 ≤ z ≤ 1.

Figura 5.3: Cubo

Analisando estas duas definições podemos dizer que o quadrado corresponde


ao cubo em duas dimensões, é como que “um cubo bidimensional”.
Claro que, o análogo destas figuras na dimensão um, o “cubo unidimen-
sional” não é mais do que um segmento de recta que se representa da seguinte
forma
0 ≤ x ≤ 1.

Posto isto, naturalmente se aceita que existe um cubo no espaço de quatro


dimensões.
Definição: O cubo tetradimensional é o conjunto dos pontos (x, y, z, u) que
satisfazem as condições

0 ≤ x ≤ 1 , 0 ≤ y ≤ 1 , 0 ≤ z ≤ 1 , 0 ≤ u ≤ 1.

Figura 5.4: Cubo Tetradimensional


48 CAPÍTULO 5. O ESPAÇO A QUATRO DIMENSÕES

Tal como acontece nas dimensões um, dois e três, também com quatro
dimensões o comprimento da aresta do cubo poderá ser diferente de um basta
para isso alterar os valores entre os quais x, y, z, e u tomam valores.
De facto, analiticamente é com facilidade que se define o cubo tetradimen-
sional, mas desenhá-lo já não é uma tarefa tão fácil. Para tal analisaremos a
sua estrutura, usando como ponto de comparação os “cubos” nas dimensões
um, dois e três.
A tabela [1] abaixo resume toda a informação que temos sobre estes cubos.

Composição da fronteira Pontos Segmentos Faces


(vértices) (lados, arestas)
O segmento 2 – –
O quadrado 4 4 –
O cubo 8 12 6

Tranformemos a informação desta tabela de forma a facilitar as conclusões


que pretendemos obter. Considerando, em vez do nome das figuras, o número n
correspondente à sua dimensão: para o segmento temos n = 1; para o quadrado,
n = 2 e para o cubo, n = 3. Procedemos de igual forma para os elementos da
fronteira de cada uma das figuras, fazendo para o ponto n = 0, para o lado ou
aresta n = 1 e para a face n = 2. Com estas alterações a tabela fica da seguinte
forma [1]

Composição da fronteira 0 1 2
Dimensão do cubo / / /
1 2 – –
2 4 4 –
3 8 12 6
4

Falta, então a última linha para isso temos que fazer a análise analı́tica das
fronteiras de todos os cubos e, depois, fazer a analogia com as fronteiras do
cubo em quatro dimensões.
5.3. A ESFERA E O CUBO TETRADIMENSIONAIS 49

Comecemos por determinar o número de vértices. Quando n = 1, a fronteira


do segmento 0 ≤ x ≤ 1 são apenas dois pontos: x = 0 e x = 1. Quando n = 2,
a fronteira do quadrado, 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1, contém quatro vértices: (0, 0),
(0, 1), (1, 0) e (1, 1). O cubo, n = 3, 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1, 0 ≤ z ≤ 1, tem oito
vértices que são: (0, 0, 0), (1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 1), (0, 1, 1) e
(1, 1, 1).
Os vértices do cubo tetradimensional, dado anteriormente, são os pontos
(x, y, z, u) em que x, y, z e u são ou 0 ou 1. Se, a cada um dos ternos com-
postos pelas coordenadas do vértice do cubo tridimensional, for acrescentada
uma coordenada, primeiro o zero e depois um, obteremos para cada terno dois
quadrúplos, ficamos, desta forma com 8 × 2 = 16 vértices.
Queremos, agora determinar o número de arestas. No quadrado os lados
definem-se através das relações

0≤x≤1 , y=0

x=1 , 0≤y≤1

0≤x≤1 , y=1

x=0 , 0≤y≤1

Ou seja, cada lado do quadrado caracteriza-se através da seguinte pro-


priedade: em cada ponto de um lado, uma das coordenadas está fixa (será 0
ou 1) e a outra coordenada toma todos os valores entre zero e um.
No cubo tridimensional, cada ponto de uma aresta terá duas coordenadas
fixas, que terão valor 0 ou 1, e a outra coordenada tomará todos os valores
entre 0 e 1, por exemplo:

x=0 , y=0 , 0≤z≤1

0≤x≤1 , y=0 , z=1

de forma análoga se definem as restantes deste cubo.


Seguindo o mesmo procedimento. As arestas de um cubo tetradimensional
é o conjunto dos pontos nos quais três das coordenadas têm um valor fixo (no
50 CAPÍTULO 5. O ESPAÇO A QUATRO DIMENSÕES

caso que estamos a analisar será 0 ou 1) e a outra coordenada pode variar entre
0 e 1. A tı́tulo de exemplo, apresentamos as expressões que definem algumas
das arestas
x=0 , y=0 , z=1 0≤u≤1

0≤x≤1 , y=1 , z=0 , u=0

x = 1 , 0 ≤ y ≤ 1 , z = 0 , u = 0.

Ora, para determinar o número de arestas, podemos começar por fixar


quatro grupos de arestas. No primeiro grupo a coordenada variável será x
(0 ≤ x ≤ 1) e y, z e u terão valor constante (0 ou 1) em todas as possı́veis
combinações, que sabemos ser em número de oito, pois já calculámos estas
combinações quando calculámos os vértices do cubo em três dimensões. Temos,
então oito arestas neste primeiro grupo, em que x é a cordenada variável. Da
mesma forma se define um segundo grupo, em que y é a coordenada variável, o
mesmo acontecendo nos outros dois grupos, em que z e u são variáveis. Logo,
no total, teremos 4 × 8 = 32 arestas.
Passemos agora às faces. Aqui só poderemos utilizar a ajuda do cubo tridi-
mensional. Cada face é definida fixando uma das coordenadas, que terá o
valor 0 ou 1, e fazendo as outras duas tomar todos os valores entre 0 e 1.
Análogamente em quatro dimensões teremos:
Definição: Uma face bidimensional do cubo tetradimensional é o conjunto
de pontos onde quaisquer duas coordenadas podem tomar todos os valores
possı́veis entre 0 e 1 e as outras duas se mantêm constantes (iguais a 0 ou 1).
Exemplos de faces bidimensionais:

x=0 , 0≤y≤1 , 0≤z≤1 , u=1

0≤x≤1 , 0≤y≤1 , z=1 , u=0

Recorrendo à definição analı́tica das faces do cubo tridimensional e acrescen-


tando uma coordenada chegamos à conclusão de que o cubo tetradimensional
tem 24 faces bidimensionais.
5.3. A ESFERA E O CUBO TETRADIMENSIONAIS 51

Surge agora a novidade do cubo tetradimensional, as faces tridimensionais.


Definição: Uma face tridimensional de um cubo tetradimensional é o con-
junto dos pontos em que três das coordenadas tomam qualquer valor possı́vel
entre 0 e 1 e a quarta é constante (igual a 0 ou 1).
Verificamos com facilidade que temos oito destas faces. Exemplificamos
algumas delas:

0 ≤ x ≤ 1 , 0 ≤ y ≤ 1 , 0 ≤ z ≤ 1, u = 0

x=1, 0≤y≤1, 0≤z≤1, 0≤u≤1

Figura 5.5: Faces de um Cubo Tetradimensional

Só analisámos com alguma profundidade um cubo tetradimensional, mas é


possı́vel definir e visualizar outras imagens no espaço a quatro dimensões.
52 CAPÍTULO 5. O ESPAÇO A QUATRO DIMENSÕES
Capı́tulo 6

Conclusão

Procurou-se com este trabalho dar uma visão geral do método das coorde-
nadas, mostrando a sua importância no desenvolvimento de diversas ciências e
a sua utilidade não só na resolução de questões ligadas às ciências mas também
em questões práticas.
De facto a “descoberta” e divulgação das coordenadas, no tempo de Descartes,
foi uma verdadeira revolução que permitiu um notável desenvolvimento da
Matemática. Situações que para nós hoje são tão simples, como determinar
a posição de um satélite no espaço, traçar a rota de um avião, localizar um
acontecimento histórico relativamente a um acontecimento de referência não
seria possı́vel sem o uso de coordenadas.
Muito mais haveria a dizer e outras dimensões poderiam ser tratadas, mas o
objectivo principal era tratar os conceitos básicos exibindo possı́veis aplicações
do método.

53
54 CAPÍTULO 6. CONCLUSÃO
Bibliografia

[1] I.M.Gel’fand, E.G.Glagoleva,A.A. Kirillov , The Method of Coordinates,


Birkhauser, 1990

[2] Bento de Jesus Caraça, Conceitos Fundamentais de Matemática, Gradiva,


2002

[3] Schools Council Sixth Form Mathematics Project, Geometry from coordi-
nates, Heinemann Educational Books/ Schools Council

[4] A.S.Smogorzhevsky, Method of Coordinates, Mir Publisher,

[5] Belmiro Costa, Ermelinda Rodrigues, Espaço B - 10o ou 11o ano, Edições
Asa, 2005

[6] Francelino Gomes, Cristina Viegas, Yolanda Lima, Xeqmat - 10o ano, Edi-
torial o Livro

[7] www.math.ist.utl.pt/ gpires/AMIII/Textos/Mudvar.pdf

[8] www.wikipedia.org

55

Anda mungkin juga menyukai