Localizo essa questão como combustível para o pensamento capitalista e aqui
descortinarei as razões. O mundo se viu, durante enfrentamento da crise 2008/2009, rodeado por questões profundas que cercearam as ações dos governos em busca de soluções financeiras para salvaguardar da bancarrota um sistema que consubstancia a economia global, o famigerado capitalismo. Financistas cutucaram as velhas feridas do império americano naquele momento e seu jeito especulativo de fazer negócios, bem como houve severas críticas ao modelo republicano de pensar o cenário mundial. Tal situação fez eleger naquele país um presidente que inaugurou uma nova fase no governo imperialista americano. Isso tudo suscitado pelas quedas das bolsas ao redor do globo que também revelaram, além das extensões das balanças comerciais que estão agrupadas em almágamas no mercado financeiro (e sem qualquer possibilidade de fragmentação), as fragilidades das crenças nos conceitos clássicos de gerir negócios. Fico em estado de contemplação analisando as possibilidades que o fato histórico que acabo de relatar pode provocar na mente de um jovem administrador e na forma como isso repercute na sua formação. Não discuto o quanto pode ser valioso para o capitalismo sobreviver a mais um teste prático e não mais ideológico, enquanto o mundo já havia assistido no final do século passado, em slow motion, o socialismo se desiludir em seus princípios básicos na terra russa e outros países nem tão extremistas assim em seus idealismos comunistas. Contudo, reforço minha curiosidade sobre como estará, neste momento pós-crise, a sagacidade dos jovens que deverão herdar as consequências da especulação descabida que gerou uma instabilidade gigante no olho do capitalismo durante alguns meses no fim da primeira década deste novo século. Quais valores estarão nas veias dessa nova geração que deverá substituir os velhos-lobos que construíram a roda da fortuna por onde giram não somente a economia mundial como também as avarezas, os credos, os mitos, as malícias, os egos, as ganâncias... Questiono como poderão esses jovens que não entenderam com perfeição as questões políticas dos acordos financeiros mundiais do pós-guerra do século passado, a engenharia das máquinas que impulsionaram o consumo desmedido para a segurança do liberalismo – alicerce do capitalismo – e a sagacidade dos cérebros atentos para as novas oportunidades especulatórias, assumir a gestão de negócios no mundo que vislumbra as energias renováveis, por exemplo, como tendência de investimento e lucratividade. Para o velho conceito, isso é apenas uma bolha e nada mais. De qual lado da mesa, me pergunto, sentaria um jovem executivo no momento de tomar suas decisões sobre assuntos corporativos que tivessem em suas propostas aumento do consumo de energia em desmedida proporção e, em contrapartida, um avanço tecnológico de ponta que acarretaria bilhões aos cofres da empresa que representa. É quase lúdico para mim pensar no volume de cólicas estomacais sentiria esse jovem executivo diante de uma decisão que jamais despertaria a menor sombra nos olhos dos homens de minha geração. Para nós, aquilo que não é ilegal, mas sustenta o negócio e o equilíbrio financeiro de uma organização não vai para a mesa de negociação com os princípios éticos atrelados em nossas mentes. Isto é, em nossa bagagem, aquilo que não é ético pode ser aceitável em nome do desenvolvimento econômico. Nosso currículo está repleto dessas decisões e a história comprova a clareza de nossas intenções. Temos resultados para mostrar; é de resultados que sobrevivem as organizações. E com isso, os jovens executivos colerizados, não podem deixar de concordar. Moral, ética, consciência, altruísmo, generosidade, solidariedade, são valores que não fizeram parte da formação de executivos e financistas que, como eu, impulsionaram o capitalismo a partir da década de 60 do século passado. Nosso comportamento pode ser alvo das mais ardentes críticas hoje, pelos jovens que elegeram a paz mundial – como as misses de minha geração – e o equilíbrio ecológico como bandeira para a formação dos jovens executivos; entretanto, ainda não consigo, permitam-me a opinião, observar o ser humano distante de duas subversões que impregnam suas veias e ações: a competitividade e a ganância. Ambas subversões presentes na alma de homens como eu, e ainda consideradas qualidades indispensáveis a um bom executivo, levaram o mundo ao contexto globalizado que deixamos de herança aos futuros administradores e financistas. Em algumas empresas essas mesmas subversões podem ser abençoadas com o título de talento para contratação de jovens executivos. Alguém poderá concluir se a competitividade e a ganância são realmente os principais vilões da história que contei aqui. Deixo-os à vontade para refletir: Is greed good? Aguardo considerações sobre o tema.
(Por Gordon Gekko, a mente mais brilhante de “Wall Street” duas vezes estrelado por Michael Douglas. Nota: somente quem assistiu a segunda versão do filme consegue compreender em profundidade o racionalismo presente nesse texto)