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Ano III - Número 12


Novembro de 2010
sumário
4 entrevista
Projeto Rondon, lição de vida e cidadania
ACAMPAVIDA
6 categorias O Acampavida chegou a 12ª edição consolidado
Rotina de quem cuida dos animais na UFSM como um dos mais tradicionais eventos promovidos
7 geral pelo Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira
Passagem aumenta, mas problemas continuam Idade (Nieati) do Centro de Educação Física e
Desportos (CEFD). Atraídos pela programação
11 geral voltada ao público da terceira idade, 840 idosos foram
Automobilismo ganha espaço na Universidade
recebidos no campus da Universidade Federal de Santa
12 capa Maria (UFSM), durante os dias 22, 23 e 24 de outubro
Discórdia entre estudantes e vigilantes na CEU de 2010.
Um baile no Clube Santamariense abriu a
15 paralelo programação na noite da sexta-feira, 22. Os dias
EAD, expansão para democratizar o ensino
de sábado e domingo foram voltados à realização
16 geral de oficinas no campus. Acadêmicos dos cursos de
O RU e o comportamento dos usuários Educação Física, Odontologia, Fisioterapia, Terapia
Ocupacional, Fonoaudiologia, Enfermagem, Nutrição,
18 de dentro para fora Psicologia, Direito, Espanhol, Zootecnia, Agronomia,
Núcleo de Prática Jurídica atende comunidade
Comunicação Social, Biologia e Matemática
coordenaram atividades educativas com os idosos.
19 de fora para dentro
Português e espanhol para policiais rodoviários A programação da noite de sábado contou com uma
Mostra Artística, quando os participantes puderam
20 cultura expor seus talentos na dança, declamação e música.
Produção cinematográfica na UFSM Na sexta-feira, antecipando as atividades do
Acampavida, o Nieati realizou a primeira edição do
21 arco da velha Seminário de Pesquisa e Extensão sobre Terceira Idade
Cenas históricas do movimento estudantil
e Envelhecimento. Voltado ao público acadêmico, o
22 cultura evento contou com a presença de especialistas em
Desvendando os monumentos da UFSM gerontologia das universidades do Estado de Santa
Catarina, de Passo Fundo e da Federal do Rio Grande
24 perfil do Sul. A iniciativa desses eventos integra o conjunto
Rato, o faz-tudo do CPD
de ações do Núcleo que visam a valorização dos idosos,
expediente o aumento da sua autonomia e a melhoria da qualidade
de vida.
Revista Laboratório do 4º semestre de Jornalismo da
UFSM
Edição: Viviane Borelli
Sub-edição: Marlon Dias
Diagramação: Anelise Dias, Guilherme Porto, Luiz
Valério Seles, Maiara Alvarez (8º sem.),Manuela Ilha,
Mathias Rodrigues e Yuri Medeiros
Revisão: Gabriel Bortulini, Janine Appel, Maurício Brum REVISTA .TXT NA WEB
e Olívia Scarpari. Em outubro de 2010, a .txt ampliou as possibilidades
Fotografia: Gabriela Moraes e Iuri Müller.
Divulgação: Bárbara Barbosa, Camila Marchesan, Débora de comunicação com seus leitores. A revista ganhou uma
Dalla Pozza, Eduarda Toscani, Greice Marin e Julia do página na web, hospedada no endereço www.ufsm.br/
Carmo
Edição online: Giuliana Matiuzzi, Kamila Baidek e Nadia revistatxt. No site, além da versão impressa completa, os
Garlet internautas encontram fotos, vídeos, infográficos e tex-
Revisão Online: Fernanda Arispe, Gabriel Bortulini e
Gregório Mascarenhas
tos exclusivos para a versão online. Para o website, são
Capa: Maiara Alvarez produzidos textos que trazem as impressões dos repórte-
Foto da capa: Iuri Müller res sobre as matérias, o relato das dificuldades enfrenta-
Professora responsável: Viviane Borelli Mtb/RS 8992
Endereço: Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234 das na apuração e situações curiosas.
Telefone: (55) 3220 8487 Mais que uma réplica virtual das páginas que você
Impressão: Imprensa Universitária
Data de fechamento: 12 de novembro de 2010 está prestes a ler, o site oferece conteúdo pensado e pro-
Tiragem: 500 exemplares duzido especialmente para o leitor on line.
www.ufsm.br/revistatxt
txt.revista@gmail.com

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carta ao leitor
Foto: Divulgação

O movimento estudantil ganhou


expressividade nos “Anos de Chum-
bo” quando jovens de vários recantos
do Brasil foram às ruas protestar con-
tra a repressão. Os estudantes busca-
vam uma sociedade mais justa e igua-
litária que só seria possível através da
união. Com o passar dos anos, esses
ideais foram se perdendo. Mas hoje,
mesmo numa sociedade marcada pelo
individualismo característico de nosso
tempo, o movimento estudantil mos-
tra que o compartilhamento de ideias
ainda é um caminho.
Expor problemas do cotidiano é
um dos propósitos do movimento. Ao
perceberem que era iminente mais um
aumento no preço das passagens urba-
nas, os jovens foram às ruas. Ocupa-
CÓDIGOS SECRETOS PELO CAMPUS
ram a Prefeitura Municipal, a Câmara
O quick response code (QR Code) é um código que pode de Vereadores e as ruas centrais da
carregar diversos tipos de informações, como endereços cidade durante uma semana ininter-
da internet, imagens e textos. Criado no Japão, em 1994, rupta de protestos no mês de outubro.
o QR Code funciona como um código de barras, porém Os problemas no transporte coletivo
mais eficiente. Para decifrá-lo, é necessário um celular com continuam, mas os estudantes conse-
câmera fotográfica, o aplicativo decodificador e conexão guiram mostrar para os governantes
com internet. Também é possível fazer sua leitura na webcam locais que vivemos numa sociedade
democrática e que é preciso liberdade
do computador, através de um aplicativo específico que de expressão.
decodifique o software. Os movimentos evidenciaram a
No Brasil, o QR Code ainda é pouco utilizado. Na necessidade de exercício da dialética.
UFSM, a primeira experiência de utilização do código foi Como prega o sociólogo alemão Jür-
testada pela equipe do Infocampus (Informativo on line gen Habermas, a interação e a busca
publicado no website da UFSM) por sugestão da editora de de diálogo são formas de construir
multimídia e acadêmica do curso de Comunicação Social - uma sociedade mais democrática. O
primeiro passo foi dado. Mesmo que
Jornalismo, Paolla Wanglon. Móbiles e cartazes contendo
seja um caminho tortuoso a percorrer,
os desconhecidos “quadradinhos pretos” foram espalhados autoridades e estudantes devem conti-
pelo campus da Universidade, suscitando curiosidade. nuar tendo bom senso para dialogar e
A campanha de divulgação incentivava as pessoas a avançar nas negociações.
acessarem o site do Infocampus e descobrir, afinal, o que era
aquilo. Quando entrassem no site, os curiosos descobririam
que os “quadradinhos pretos” escondiam textos com as Marlon Dias e Viviane Borelli
informações antecipadas sobre a programação do 5º Festival
de Cultura da UFSM, realizado entre os dias 9 e 12 de
novembro. A equipe também utilizou textos sobre trabalhos
apresentados na 25ª Jornada Acadêmica Integrada e que

txt
foram produzidos por acadêmicos do 2º semestre do curso
de Jornalismo.
O QR Code é uma “forma de cobertura diferenciada e
de experimentação para disponibilizar conteúdo na web”,
esclarece o editor-chefe do Infocampus, Lucas Dürr Missau.

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entrevista

Lições
de Brasilidade
Manuela Ilha e Nadia Garlet

O Projeto Rondon foi resultado da ação voluntária de alunos da antiga Universidade do Estado da Guanabara (atual
UFRJ) que foram para Rondônia desenvolver atividades que estimulassem o crescimento daquela região em 1967.
A UFSM foi uma das primeiras universidades brasileiras a ingressar no grupo de trabalho criado no ano seguinte. A
importância que o projeto assumiu dentro da UFSM nesses 42 anos de atividades é imensurável. Contudo, é possível saber mais
sobre o Projeto Rondon e suas práticas através das memórias de um dos mais antigos rondonistas em atividade, Ubiratan Tupi-
nambá da Costa, o Bira, pró-reitor adjunto da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), professor do curso de Odontologia
e coordenador do Projeto Rondon na UFSM. O envolvimento do professor Bira com as atividades do Projeto iniciou quando
ainda era acadêmico, e tem marcado sua trajetória na Universidade. Ele é responsável pelas operações dentro da UFSM desde o
final da década de 1970, e foi diretor do campus avançado de Roraima entre 1977 e 1983.

.txt - Mesmo com 42 anos de tradição, ainda há cer- 1989. O mais representativo dos campi avançados era o da
to desconhecimento sobre as ações desenvolvidas pelo UFSM, por ter sido o primeiro e por ser o mais distante
Projeto Rondon? da universidade de origem. As atividades lá permaneceram
Bira - É algo marcante e que diz respeito às contribui- até 1985. Não eram ações de férias, eram mensais – a cada
ções dadas pela Universidade para a sociedade. Os resulta- trinta dias, as equipes mudavam. Primeiro, os acadêmicos
dos vão além dos números – como é possível medir a satis- ficavam em prédios emprestados pelo governo, até a cons-
fação de fazer as ações e observar os resultados finais? Por trução das edificações; depois, foram construídos prédios
isso, há a questão da sensibilidade em participar de uma para alojar e receber os alunos que iam durante o ano. Por
ação solidária comunitária, social. isso, o campus avançado deu origem à Universidade Fede-
Tudo que o rondonista consegue experimentar faz ral de Roraima (UFRR).
diferença em sua formação cidadã e acadêmica, além de .txt - E que ações foram desenvolvidas no campus
agregar muitas coisas boas para a vida. avançado?
Em primeiro lugar, há a inconstância das pessoas den- Bira - Naquela época, o assistencialismo funcionava,
tro da Universidade, já que o aluno permanece quatro ou pois era necessidade de então. A preocupação do governo
cinco anos na Instituição e a deixa quando se forma. Tam- era a interiorização, ou seja, fazer o acadêmico participar
bém há outras ações que motivam mais a participação dos das atividades como rondonista e estimulá-lo a voltar para
alunos. A pesquisa, por exemplo, tem uma repercussão trabalhar. Muita gente que foi para o campus avançado ape-
muito maior do que a extensão, já que oferece bolsas e fi- nas “desceu” para pegar o diploma e já retornou para Boa
nanciamentos. Quem participa do Projeto Rondon não ga- Vista. Os interessados mandavam seus documentos através
nha nada! O Projeto Rondon ainda não tem as dimensões das equipes que iam, mês a mês, para o campus. A UFSM
que merece – quem participa gosta da experiência, mas até tinha boa reputação e o campus tinha uma história positiva
saber é um longo caminho. em Roraima, pois lá, o objetivo de interiorização proposto
.txt - Na primeira fase do Projeto Rondon (1969- pelo Projeto Rondon funcionou muito bem. Em 1979, so-
1985), as atividades desenvolvidas pela UFSM envol- mente integrando o quadro de funcionários do estado de
Fotos: Acervo Pessoal

veram a participação nas operações nacionais e regio- Roraima, havia mais de 150 egressos da UFSM.
nais. Além disso, houve a instalação pioneira no Brasil Foi uma aventura pela Amazônia e pela região norte do
de um campus avançado. Como foi a instalação deste país. Para além do conhecimento, foi possível andar pelo
campus pela UFSM? Brasil e ver sua grandiosidade e riqueza.
Bira - Em linhas gerais, o campus avançado era uma .txt - Em 1989, o Projeto Rondon foi extinto e, em
atividade promovida pela UFSM em Roraima. Os campi 1996, surgia o programa Universidade Solidária, cujas
avançados foram iniciativas do Projeto Rondon que deram ações eram semelhantes ao projeto precursor. Em
certo. Eles foram criados a partir de 1969 e perduraram até 2005, o nome Projeto Rondon foi resgatado e retomou

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suas atividades, agora sob coordenação do Ministério
.txt
da Defesa. Quais as diferenças entre a primeira fase e o
atual momento do Projeto Rondon?
Bira - O antigo Rondon era assistencialista, enquan-
to o novo modelo adota outra concepção, de capacitação
de multiplicadores. O tempo disponível para as atividades
tornou-se menor, os tempos são outros e há outra realida-
de no país. Por isso, hoje o Rondon busca formar multipli-
cadores em determinados assuntos. Eles aprendem novas
coisas, e são capazes de crescer e mudar sua realidade. Essa
capacitação de multiplicadores também dá chances para o
acadêmico avaliar sua capacidade de conhecimento e de
comunicação. A resposta da comunidade também impor-
ta, assim como a participação nas nossas oficinas.
.txt - O envolvimento da UFSM já é tradicional no Atividades realizadas no Amapá, em 2007
Projeto Rondon. A Instituição participou de quase to-
das as operações do programa. Apesar de ter participa- é a pregação principal do Projeto Rondon e da Extensão
do tantas vezes, cada nova operação pode ser conside- Universitária: trazer para dentro da Universidade as ques-
rada um desafio? tões que são próprias da comunidade. Acredito que o aca-
Bira - Costumo dizer que cada operação parece ser a dêmico, ao ser veículo dessa relação, tem um crescimento
primeira. Sinto-me motivado a cada nova etapa – os luga- muito grande. Por menos que ele tenha conseguido atingir
res são novos, as pessoas também. Isso é provocante pela todos os objetivos, assim mesmo, ele trouxe um aprendi-
novidade e expectativa do que poderemos encontrar na zado, até pela derrota – mas geralmente é pela vitória de
cidade. Na nossa Universidade, o Projeto Rondon é algo ter conseguido aplicar tudo aquilo que ele se propôs. Se
especial. Por isso, levo sempre tudo a sério e busco atingir o aluno não conseguir atingir sua plenitude, ele vai saber
os objetivos de equipe. Não sou egoísta, mas sempre quero identificar as dificuldades que teve e fazer as correções no
que a minha Universidade seja melhor que a outra! O fato decorrer da sua vida profissional. É também a oportunida-
de se estar em um lugar diferente é um desafio muito gran- de de poder experimentar esse Brasil maravilhoso, além de
de, e saber conviver com as pessoas que trabalharemos é criar expectativa de mercado de trabalho, de conhecer as
complicado. A ideia não é ser o “salvador da pátria”, mas de possibilidades.
alguma forma tentar contribuir para o próximo. .txt - E o que o Projeto deixa de mais especial para o
.txt - Em quais lugares a Universidade já atuou? aluno que participa dessa experiência?
Bira - Com o projeto Universidade Solidária, fomos a Bira - Acredito que o acadêmico que participa do Pro-
Coari/AM, Antônio Cardoso/BA, Caroebe/RR. Por meio jeto Rondon tem outra visão de mundo. Sai estimulado
desse programa, fomos também a Jatobá/PE – onde esti- pelo princípio humanitário de solidariedade e de parti-
vemos quatro vezes (2001-2004) –, Canapólis/BA e Nina cipação. O universitário rondonista tem um crescimento
Rodrigues/MA. Na segunda fase do Projeto Rondon, atu- muito grande porque descobre, a partir dali, as potenciali-
amos três vezes em Tabatinga/AM, fomos a Marechal Tau- dades da nossa Universidade, enriquecendo sua formação
maturgo/AC, Oiapoque/AM, Faro/PA, Lagoa da Confu- cidadã e acadêmica. O espírito de brasilidade de qualquer
são/TO, Barros Cassal/RS, Salto do Jacuí/RS, Orocó/PE um de nós aumenta consideravelmente porque apren-
e Arari/MA. demos a respeitar este país e a nos identificar com uma
.txt - Quais são as vantagens que o acadêmico tem riqueza nossa, que é vítima da cobiça internacional. Nós
em participar das Operações do Projeto Rondon? temos a oportunidade de, ao viajar, conhecer todas essas
Bira - A maior vantagem é a oportunidade da expe- riquezas. E tudo isso serve muito para informação e ama-
riência que só a Extensão oferece. Essa retroalimentação durecimento do universitário. .txt

Para ser
um Rondonista
70% do curso completo;
Participação em Projeto de
Extensão;
Carta de recomendação
do seu curso;
Projeto baseado nas
informações do município
selecionado.

Equipe da UFSM na Operação Rei do Baião, em Orocó/PE (2010) .txt Novembro de 2010 5
categorias
Foto: Kamila Baidek

O Esquilador Janine Appel, Kamila Baidek e Marlon Dias


Quando é tempo de Na primavera, quando a temperatura co- são como meus filhos” – diz o funcionário
tosquia/ já clareia o dia meça a aumentar, é tempo de aparar a lã dos da UFSM. Além de esquilador, Seu Ari é
animais.
com outro sabor/ uma espécie de capataz do Laboratório de
Ovinocultura. Cuidados com alimentação

O s versos de “Esquilador”, cantados Um descascarreia/ outro já e vacinação dos animais são rigorosamente
por Telmo de Lima Freitas, descre- maneia/ e vai levantando/ controlados por ele. Para fins de pesquisa
vem com poesia o início de mais para o tosador acadêmica, o funcionário mantém anotados
um dia de lida campeira de Ari Vieira de Sou- e atualizados em cadernetas todos os dados
za, funcionário do Departamento de Zootec- Durante a realização da tosa, a divisão de sobre o rebanho cultivado
nia da Universidade Federal de Santa Maria tarefas entre Seu Ari e os alunos dos cursos A silhueta desse esquilador revela um ho-
(UFSM) desde 1978 e que, há quatorze anos, de Medicina Veterinária e Zootecnia do Cen- mem simples que guarda a sabedoria do cam-
trabalha no Laboratório de Ovinocultura. A tro de Ciências Rurais (CCR) parece coreo- po. Suas mãos calejadas pela tesoura revelam
função desempenhada por Seu Ari na Insti- grafar a canção que exalta o ofício de tosquiar marcas da rotina de um duro trabalho braçal.
tuição talvez esteja entre as menos burocrá- ovelhas. Seu Ari representa uma categoria profissio-
ticas. Em contrapartida, o cumprimento de nal pouco evidenciada na Universidade, mas
suas obrigações exige muita dedicação de fundamental para que as pesquisas na área de
As tesouras cortam /em um produção rural avancem. “Produzir uma car-
tempo e energia.
Seu Ari costuma chegar ao trabalho por
só compasso/ enrijecendo o ne de melhor qualidade, com o menor gasto,
volta das sete horas da manhã. Não cumprirá braço/ do esquilador no menor tempo, é o que buscamos nas pes-
suas próximas horas de expediente dentro de quisas dos alunos e dos professores. Orien-
uma sala com ar condicionado num prédio de Enquanto isso, uma a uma, as ovelhas vão tamos o produtor a repetir nossas experiên-
concreto, mas em galpões, baias, mangueiras perdendo a lã. Homem acostumado desde cias porque nossos resultados são positivos”,
e potreiros. Ao invés de passar café, prepara cedo às lidas do campo, ele orienta com fir- pondera. A seu modo, Seu Ari contribui com
o chimarrão a ser partilhado com os demais meza o ofício da gurizada menos experiente a construção do conhecimento dos acadêmi-
participantes da reunião matinal que definirá na esquila. No entanto, sua aparente dureza cos da área de Ciências Rurais sobre um tema
a ordem do dia para as lidas com um rebanho é desfeita nas palavras ternas que revelam que a vivência do campo se encarregou de lhe
de aproximadamente 300 ovinos. seu carinho pelos acadêmicos: “Esses guris ensinar..txt

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geral .txt

Trajeto conflituoso
Aumento do preço da passagem gera divergências entre Prefeitura, ATU e estudantes
Anelise Dias e Gregório Mascarenhas

P ouco mais de dez quilômetros separam o


centro da cidade do campus da Universida-
de Federal de Santa Maria (UFSM). Qua-
tro linhas de ônibus – Vale Machado, Bombeiros,
Tancredo Neves e Circular – transportam, diaria-
mente, estudantes, funcionários e visitantes até a
Cidade Universitária. Mas nem sempre essa viagem
é tranqüila. Problemas como lotação maior do que
a permitida, atrasos e indisponibilidade de linhas
em determinados horários podem transformar um
percurso necessário em aborrecimento. Se a quali-
dade do serviço de transporte tem influência direta
na rotina do usuário, o valor da tarifa é determinan-
te no orçamento. No dia 26 de outubro, o preço da
passagem subiu de R$2,00 para R$2,20. A tarifa au-
mentou, mas o serviço se manteve problemático.
A relação entre a Associação dos Transporta-
dores Urbanos de Santa Maria (ATU), a Prefeitura
Municipal e os universitários sempre foi conflituosa.
Quando o atual prefeito Cezar Schirmer (PMDB)
venceu a eleição municipal em 2008, comprome-
teu-se em mediar as crises entre os responsáveis
pelo transporte coletivo municipal e os usuários. Na
época, em entrevista à .txt (edição nº 3, outubro de
2008), Schirmer disse: “A passagem em Santa Maria
é cara. Deveria ser R$1,40. Uma coisa é certa: eu
não vou assumir e aumentar a passagem”.
Com menos de dois anos na gestão de Schirmer,
Santa Maria teve o segundo aumento da tarifa. Com
as promessas não cumpridas pelo prefeito, a relação
entre estudantes, Administração Municipal e ATU
piorou. Os universitários que dependem do trans-
porte coletivo permanecem insatisfeitos. O estu-
dante Omar Albuquerque, graduando em Ciências
Sociais pela UFSM – um dos cursos noturnos da
Universidade – queixa-se da lotação e da escassez
de linhas à noite: “se eu pegar um ônibus às 18h ou
18h15min, que são horários de pico, eu vou em pé.
Como embarco na última parada da Rua do Acam-
pamento, o ônibus vem sempre lotado. Além disso,
o tempo de espera entre um veículo e outro é de 15
a 20 minutos. Se espero por um ônibus menos lota-
do, chego atrasado à aula”.
Já para a estudante de Medicina Isabel Ferreira,
o problema é a pouca oferta de veículos que per-
Foto: Nathália Schneider

correm o trajeto Bombeiros/Universidade: “Não


existem muitos ônibus da linha Bombeiros fora do
horário de maior movimento. Então, todo mundo
espera e, quando o ônibus chega, lota logo na se-
gunda parada.” E complementa: “além do mais, a
frota do Bombeiros é bem menor, se comparada à
da Vale Machado”. segue
Manifestantes bloquearam o trânsito na Rua do Acampamento em
protesto ao aumento da passagem
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geral
O percurso
Quando o ex-prefeito Valdeci Oliveira o Decreto. No lugar do documento anterior,
(PT) foi eleito, em 2000, a tarifa do trans- o prefeito apresentou um novo, no qual
porte público em Santa Maria era R$0,80. De desconsiderava as exigências formalizadas
lá para cá – tanto no governo petista quanto anteriormente e renovava a concessão do
no atual – o valor da passagem sofreu suces- transporte coletivo às mesmas empresas por
sivos reajustes até chegar aos atuais R$2,20. mais dez anos – sem que houvesse processo
O aumento representa 275% em dez anos licitatório.
– ou seja, o custo para o passageiro quase Apesar disso, a pressão exercida pelas
triplicou. No mesmo período, a inflação no empresas através da ATU para que o preço
Brasil somou 73,35% segundo os dados do aumentasse continuou. De acordo com o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Secretário de Controle e Mobilidade Urba-
(INPC), calculados pelo Instituto Brasileiro na, Sérgio Renato Medeiros, a Associação já
de Geografia e Estatística (IBGE). havia protocolado o pedido de atualização
Quando a tarifa subiu de R$1,80 para do cálculo tarifário quatro vezes em 2010.
R$2,00 – no terceiro mês do governo Schir- Na quinta tentativa, a prefeitura cedeu. O
mer –, algumas exigências a serem cumpri- cálculo foi refeito e, segundo os dados apre-
das pelas empresas de ônibus foram firma- sentados pelo governo municipal, o custo
das no Decreto Executivo Nº 020, de 9 de para o passageiro deveria ser R$2,31.
março de 2009. No documento assinado No dia 11 de outubro – uma semana e
pelo prefeito, estavam firmadas algumas exi- um dia depois do primeiro turno das elei-
gências: implantação da passagem integra- ções –, Sérgio Medeiros apresentou o estu-
da até fevereiro de 2010, ampla divulgação do com a proposta de aumento. O estudante
dos horários e freqüências das linhas atuais de Direito do Centro Universitário Francis-
e implantação de veículos equipados para cano (Unifra) e um dos porta-vozes da opo-
o transporte de pessoas com necessidades sição ao reajuste, Tiago Aires, lamenta a falta
especiais. Conforme o documento, o des- de transparência e abertura para o debate: “o
cumprimento desses compromissos formais pedido foi feito numa segunda-feira, entre
por parte das empresas implicaria na não um domingo e um feriado. Na quarta, a pla-
concessão de novos aumentos e no retorno nilha com os cálculos da nova tarifa já estava
da tarifa para R$1,80. pronta para ser apresentada à prefeitura. A
Em fevereiro de 2010, Schirmer revogou população não teria ficado sabendo de nada Secretário de Controle e Mobilidade Urbana,
Sérgio Medeiros, responsável pelo cálculo
do reajuste da tarifa do transporte coletivo
Ajuste da tarifa na última década
(valores em reais)
2010

2,20
A votação no Conselho
2009

2,00
A favor do aumento
2008

2,00 Sindicato dos Contadores e


Técnicos em Contabilidade de
Santa Maria
2007

1,80 Sindicatos dos Trabalhadores


e Condutores de Veículos
Rodoviários (SITRACOVER)
2006

1,80
Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Santa Maria
Fotos: Anelise Dias e Gregório Mascarenhas

1,60
2005

1,50 Sindicato das Empresas de


Transporte (SETRANS -SM)
2004

1,35 Câmara de Comércio e Indústria


de Santa Maria/Sindicato dos
Lojistas e Câmara dos Dirigentes
2003

1,35 Lojistas (CASISM/SINDILOJAS/


1,10 CDL)
Sindicato dos Taxistas (SindTaxi)
2002

0,90
Prefeitura Municipal - três votos:
Sérgio Medeiros, Sérgio Martini e
2001

0,80 Andréa Santos


Associação das Empresas Inter-
Distritais
2000

0,80

0 0,5 1 1,5 2
8 .txt Novembro de 2010
.txt
do aumento
se algumas pessoas não tivessem assistido prefeitura e de algumas entidades. Se o con-
à reunião”. selho fosse técnico daria um respaldo para
Porém, os valores que compõem o cál- a decisão do prefeito. Mas ele é meramente
culo tarifário já vinham sendo pesquisados político”.
pela Secretaria há mais tempo. Um pedido No dia 13 de outubro, a chamada para a
de orçamento, feito em agosto deste ano reunião do Conselho, em caráter extraordi-
(reproduzido abaixo), demonstra que os nário, trazia no texto duas pautas: “apresen-
trâmites necessários para que o aumento tação do relatório do cálculo tarifário pelo
se concretizasse já circulavam pelos corre- relator”, bem como “votação e aprovação da
dores da Prefeitura pelo menos dois meses tarifa de transporte coletivo urbano”. Das
antes que o reajuste viesse a público. 17 entidades que compõem o CMT, 15 es-
Feito o cálculo, o próximo passo foi a tavam presentes na votação, que aconteceu
votação no Conselho Municipal de Trans- no auditório do SEST/SENAT, dia 18 de
portes (CMT). O órgão é formado por 17 outubro. O resultado: dez votos a favor da
entidades que discutem e votam as ques- proposta de aumento contra cinco desfa-
tões referentes ao trânsito em Santa Ma- voráveis (veja quadro). Com a planilha de
ria. O CMT, entretanto, é um instrumento custos pronta e aprovada pelo Conselho, só
apenas consultivo e não deliberativo – isto faltava a sanção do prefeito.
é, as decisões tomadas pelo Conselho ser- Oito dias depois, dia 26, Cezar Schir-
vem apenas como recomendação e, na mer ratificou o reajuste. No entanto, houve
prática, as resoluções cabem somente ao uma ressalva: o prefeito decidiu aumentar a
prefeito. Porém, segundo Tiago Aires, “na passagem para R$2,20 e não para os R$2,31
forma como o Conselho foi projetado, os calculados pela Secretaria de Controle e
interesses das empresas transportadoras Mobilidade Urbana. Segundo fontes da
sempre vão se sobressair aos interesses da Prefeitura, Schirmer optou pelo valor mais
população. Isso porque as entidades que baixo porque as empresas não haviam cum-
historicamente votam pelos empresários prido as promessas de melhoria na quali-
têm mais cadeiras”. dade do transporte público desde o último
O professor do Curso de Ciências aumento, em março de 2009. O professor
Econômicas da UFSM Roberto da Luz Roberto da Luz, porém, contesta: “a prefei-
Acadêmico de Direito da Unifra, Tiago acrescenta: “o CMT é um conselho polí- tura dá uma base de cálculo maior, já espe-
Aires, opositor ao acréscimo no valor da tico e não técnico. Há representantes dos rando que o valor final fique um pouco mais
passagem de ônibus estudantes, das empresas de ônibus, da baixo”. segue

Municipal de Transportes
Contra o aumento
Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM)
Diretório Central dos Estudantes
(DCE)
Sindicato dos Trabalhadores
Urbanos de Santa Maria (STU)
Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB)
União Santamariense dos
Estudantes (USE)

O orçamento anexado à planilha de reajuste apresentada pela Prefeitura

.txt Novembro de 2010 9


geral
Movimentações na contramão do aumento
Tão logo os jornais chegavam às bancas o poder aquisitivo da população, o custo tes. A audiência foi agendada, então, para
trazendo a notícia de que a tarifa do ônibus operacional do sistema e a justa remune- a noite de segunda-feira, 19 de outubro. Às
poderia aumentar novamente, a Universi- ração do serviço”. Mencionou também o 19h, os estudantes estavam lá, como firma-
dade começava a efervescer. Indignados caso da cidade de Dourados (MS), onde do no acordo. Junto deles, compareceram
tanto com o segundo acréscimo na tarifa um sistema de pagamento de propinas en- vereadores, líderes de movimentos sociais,
em menos de dois anos de governo, quanto volvendo o transporte coletivo municipal representantes de entidades e usuários do
com as promessas não cumpridas pelo pre- foi desmantelado pela Polícia Federal. Uma transporte coletivo.
feito Cezar Schirmer, os estudantes se or- das empresas participantes do esquema O prefeito não foi à Câmara nem man-
ganizaram na tentativa de barrar o reajuste. fraudulento em Dourados atua também no dou representante. No dia seguinte à au-
“Mais aumento eu não agüento”, “2,31 é transporte de passageiros em Santa Maria. diência, assinou a aprovação do aumento.
roubo”, “Se a passagem aumentar, a cidade Tiago acrescentou: “em Santa Maria ainda Apesar disso, a luta dos acadêmicos não
vai parar” diziam os cartazes espalhados não foi descoberto nada parecido. Mas no acabou no momento do reajuste da pas-
pelos muros de Santa Maria. Iniciavam as que depender dos estudantes, aqui não vai sagem. O Coordenador Geral do DCE,
panfletagens e as manifestações estudantis sobrar um centavo para a corrupção”. Eduardo Flech, assevera: “vetar aumento
que seguiriam até a aprovação oficial do Frente a tais argumentos, a Prefeitura na tarifa é uma das bandeiras do Diretó-
aumento. transferiu a votação do CMT para a tarde, rio, mas não é a única. Nossa briga é por
Schirmer se reuniria com o CMT para no prédio do SEST/SENAT – localizado um transporte coletivo de qualidade para
discutir a proposta de aumento, na segun- em no bairro Nonoai, afastado do centro Santa Maria. E, para isso, vamos continuar
da-feira, 18 de outubro. Por volta das 6h45 da cidade. A reunião foi fechada e a parti- lutando”. .txt
do dia da reunião, os estudantes já se con- cipação de apenas quatro membros do Di-

Foto: Anelise Dias


centravam em frente à Prefeitura. A reu- retório Central dos Estudantes (DCE) da
nião teria início apenas às 8h, no auditório UFSM foi permitida. O DCE votou contra;
do térreo. Na tentativa de evitar a presença a UFSM também. A Ordem dos Advogados
de manifestantes, o encontro foi transferi- do Brasil (OAB) foi igualmente contrária e
do para outra sala, no quinto andar. Não alegou que o acréscimo máximo que acei-
adiantou. Os estudantes foram até lá. taria seria de R$0,20. Ainda assim, a pro-
O prefeito não compareceu. Quem posta do aumento da passagem foi apro-
conversou com os estudantes foi o secretá- vada. Caberia ao prefeito, então, decidir o
rio Sérgio Medeiros. Dele, cobravam a ma- que seria feito.
nutenção da tarifa, sob a alegação de que as Os protestos, porém, não terminariam.
exigências definidas no Decreto Executivo Nos dias seguintes à votação do CMT, os
Nº 020, na ocasião do aumento da passa- estudantes voltaram à Prefeitura pedindo
gem de R$1,80 para R$2,00, não foram por uma audiência pública. Dessa vez, não
cumpridas. Pediam por novo processo li- foi permitido que entrassem no prédio.
citatório. Como resposta à manifestação estudantil,
O manifestante Tiago Aires exigia que o prefeito assinou um termo de compro-
a Lei Orgânica do Município de Santa Ma- misso redigido a próprio punho, no qual
ria fosse respeitada: “é dever do poder pú- garantia a realização de audiência pública
blico municipal fornecer serviço de trans- na Câmara de Vereadores. Pedia apenas O estudante Rodrigo Almeida (DCE),
porte coletivo com tarifa que considere que a data fosse marcada pelos estudan- contrário ao aumento, apresenta documento
à Prefeitura
Foto: Nathália Schneider

10 .txt Novembro de 2010


geral .txt

Uma nova fórmula


na engenharia
Projeto Bombaja aproxima acadêmicos
ao mundo do automobilismo
Gabriel Eduardo Bortulini e Luiz Valério Seles Iustração do protótipo

O projeto de extensão do curso de desde seu primeiro semestre de curso, em é um monoposto (veículo para uma pes-
Engenharia Mecânica da Univer- 2007. Fez parte do Baja SAE até o final de soa) de competição, com o motor de até
sidade Federal de Santa Maria 2009 e, com o surgimento do projeto Fór- 600 cilindradas. É um protótipo que pode
(UFSM), Bombaja, tem uma nova divisão mula SAE, no início de 2010, entrou na ficar abaixo de 200 kg com o piloto. Isso
desde março deste ano. Trata-se do Fórmu- equipe e foi escolhido capitão. “O nosso somado à potência de seu motor de 100-
la SAE, que consiste em construir, a cada objetivo sempre foi ter o carro para esse 110 cavalos pode fazer o carro atingir com
ano, um carro diferente. A equipe é forma- ano. Tem outras equipes que preferem ter facilidade os 200 Km/h. Possui boa parte
da pelo professor orientador, Mário Edu- esse tempo maior, cerca de dois anos de da tecnologia de um Fórmula 1 em escala
ardo Santos Martins, e por alunos da En- projeto e fabricação. Já a nossa abordagem reduzida.
genharia Mecânica. O grupo representa a foi diferente porque para reunir recursos a A oportunidade de aplicar nos proje-
UFSM na cidade de Americana, São Paulo, gente precisava mostrar o carro. Para obter tos as teorias aprendidas em sala de aula
onde acontece a competição Fórmula SAE, esses recursos da universidade e externos, desenvolve um acadêmico mais completo.
no campo de testes da Goodyear de 19 a 21 dos nossos parceiros, era preciso mostrar o A produção é profissional e engloba desde
de novembro. carro”, comenta Gibran dos Santos. a fabricação do protótipo, com projetos
O Bombaja é suporte para outros pro- O carro projetado pelos acadêmicos secundários para cada parte do veículo,
jetos do Centro de materiais e peças, até os
Tecnologia da UFSM, relatórios de custos.
como o Baja SAE, o No geral, o projeto
Aerodesign SAE e o tem como patrocinadora
Eficiência Energética, a indústria metal-mecâ-
além do próprio Fór- nica. Porém, o apoio dos
mula SAE. Dentro do patrocinadores se restrin-
Bombaja, os acadêmi- ge à cessão do material
cos têm a oportunidade necessário. A equipe ain-
de aplicar os conceitos da não conseguiu apoio
que aprendem em sala financeiro de fora da
de aula e adquirir expe- universidade. “A Reitoria
riência para atuação no nos deu um apoio feno-
mercado de trabalho. menal para o laboratório
No caso do Fórmula e de motores que está em
de outros dois projetos, licitação e vai ser cons-
o Baja e o Aerodesign, truído no ano que vem.
existe ainda outra insti- Foram R$ 600 mil”, conta
tuição responsável por o orientador do projeto,
estas produções: a SAE, Equipe simulando medidas com a estrutura pronta Mário Martins. .txt
que significa Sociedade dos Engenheiros
da Mobilidade. Trata-se de uma associação
Fotos e ilustração: arquivo equipe Fórmula SAE

sem fins lucrativos que visa difundir co- Integrantes da Equipe Fórmula SAE
nhecimentos relativos à tecnologia da mo- Andrea Corneli Ortis, Artur Krüger, Cássio Lino Cassol Görck, Cristiano
bilidade. Fundada por líderes como Henry João Brizzi Ubessi, Eduardo Cezar Marques, Evandro Farias Medeiros,
Ford, Thomas Edison e Orville Wright em Felipe Mittmann Hilgert, Fernando Machado Leal, Fernando Mariano Bayer
1905 nos Estados Unidos, a SAE está atual- (Professor), Gabriel Azevedo Tatsch, Gibran Portolan dos Santos (Capitão),
mente constituída em 93 países, e presente Guilherme Paul Jaenisch, Jeferson Machado Callai, Leonardo Barili Brandi,
no Brasil desde 1991. Leonardo Aier Trost Morcelli, Luciano Rivas Mendes Ribeiro, Macklini Dalla
Em março deste ano, um grupo de alu- Nora, Mariane Wojciechowski Barbosa, Mario Eduardo Santos Martins
nos de engenharia resolveu dar início a (Professor Orientador), Miguel Guilherme Antonello, Paulo Henrique de
uma tarefa ousada: construir do zero um Oliveira, Paulo Romeu Moreira Machado (Professor), Rafael Sebastião
carro muito parecido com os de Fórmula Miranda, Renan Felipe Schirmer, Rogers Guilherme Reichert, Susana Tebaldi
1 em apenas sete meses. O estudante de Toledo, Villiam Hackenhaar, Vinícius Bernardes Pedrozo, Vinícius Rückert
Engenharia Mecânica Gibran Portolan dos Roso, Willian Rigon Silva.
Santos é integrante do programa Bombaja

.txt Novembro de 2010 11


capa
Nem oito
nem
oitenta Moradores da Casa do Estudante
protestam contra excessos da
vigilância da UFSM
Iuri Müller e Mathias Rodrigues

Q uinta-feira, 7 de outubro de 2010, 21h. União Universi-


tária. Aos poucos uma sala vazia, que serve de auditório
improvisado, vai se enchendo. Moradores da União e
das Casas do Estudante Universitário (CEU) do campus realizam
uma Assembleia Geral. Esse tipo de reunião às vezes junta pouco
mais de uma dezena, mas esta parece diferente. Logo começam a
faltar cadeiras. Mais tarde, nem se encontra mais lugar para ficar
em pé. Quase 300 estudantes acotovelam-se para ouvir e serem
ouvidos. O tema, a segurança na Universidade.
Há mais ou menos um ano, alguns moradores da Casa inco-
modaram-se com certas atitudes da vigilância. Segundo uma car-
ta de denúncia que circulou entre os alunos, e foi lida na Assem-
bleia, vigilantes estariam cometendo “ações repressivas e ilegais”.
O documento ia além: citava ações como perseguições, constran-
gimento público, toque de recolher, ameaças físicas, morais e até
mesmo de morte “por parte da chefia da vigilância e de seus su-
bordinados”.
Quem narra um desses casos é o estudante de Filosofia e mo-
rador da CEU II, Gabriel Vaccari: “temos um Grupo de Estudos
Marxistas e colocamos cartazes de divulgação. Chegou ao extre-
mo dos vigilantes arrancarem das paredes. Se dentro de uma uni-
versidade você não pode colar cartazes de um grupo de estudo,
é porque a coisa se desvirtuou completamente”. A estudante de
Pedagogia e membro da Direção da CEU, Márcia Rambo, lembra
de outro caso: “Sabemos de pessoas que estavam no bosque e no
Planetário pela noite e que foram abordadas com armas sacadas
pela vigilância”.
Os moradores presentes na reunião do dia 7 de outubro ou-
viam com atenção os relatos dos membros da Direção sobre a si-
tuação. Também foram informados sobre as negociações com a
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) e com a Pró-Reitoria
de Infraestrutura (Proinfra). As acusações não foram contestadas
e à medida que cada um pedia a palavra, mais depoimentos se
somavam.
Da maior Assembleia da CEU dos últimos anos, fez-se um
documento com propostas. A sala de um grupo de estudos, no
Foto: Iuri Müller

bloco 13, que estava sem uso e que fora ocupada pela vigilância
há alguns meses deveria voltar aos alunos. Quanto à atuação dos
vigilantes, os estudantes queriam um abrandamento e não o seu
fim. “Não queremos nem oito e nem oitenta”, disse o estudante de
Ciências Sociais e membro da Direção da Casa, Fabrício Teló.

12 .txt Novembro de 2010


.txt
O protesto e as repercussões
Na semana seguinte, ocorreu outra As- com os estudantes, os vigilantes teriam, não é esse o pedido: “sabemos da necessi-
sembleia – que resultaria em uma manifes- de acordo com alguns moradores, ficados dade de segurança, só que os vigilantes não
tação no saguão do prédio da Reitoria, no alheios à CEU II. O morador Gabriel Vac- podem exceder limites”.
dia 20 de outubro. Desta vez, dos cem alu- cari se posiciona: “de tão fácil que foi essa O aluno ainda constata qual a parcela
nos presentes, dois se manifestaram con- de culpa dos estudantes na situação: “você
trários às deliberações e se disseram a favor “Sabemos da necessidade vai cada vez mais perdendo a sua capaci-
das atitudes da segurança. Segundo eles, dade de intervir. Isso foi uma das questões
havia utilidade nas ações, já que os furtos
de segurança, só que que deu origem a esse ganho de autoridade
diminuíram, bem como o barulho. Como os vigilantes não podem da vigilância.” Vaccari exemplifica: “quan-
representavam uma parcela numericamen- exceder limites” do um morador ouve outro com um som
te insignificante, o ato foi mantido. alto, ele não tem a capacidade de pedir para
O protesto rendeu resultados: a sala do vitória, me parece duvidosa. Não sabemos que abaixe a música. Ele liga para a vigilân-
bloco 13 foi devolvida e os vigilantes foram se foi um passo político para dizer: já que cia. Essa é a contradição da situação, nós
obrigados a usar crachás durante o traba- não querem vigilância, a gente tira tudo, também somos responsáveis pelo que está
lho. Ao invés de abrandarem o tratamento até que aconteça um grande problema”. E acontecendo” – admite.

Tensão distancia a vigilância da CEU II


O conflito que tanto desagradou os ram que eu ameacei alguém de morte, mas “segurança para proteção e não opressão”
estudantes teve, desde as primeiras quei- nunca falaram comigo. Eu fico chateado, e “estudante não é patrimônio”, cerca de
xas, um alvo principal: o chefe do setor de porque trabalho na UFSM há muito tem- cinquenta estudantes protestaram no pré-
vigilância da UFSM, Romeu Lemes. Há po e nunca tive problema com estudante”, dio da administração da UFSM. Reclama-
quase duas décadas na instituição, o ex- lamenta. Todas as queixas chegaram a ele vam das abordagens truculentas, do posto
policial militar conta que não havia tido de vigilância que surgiu dentro da Casa do
problemas com alunos até então. E sobre Moradores reclamavam Estudante e da complacência da Reitoria.
a atualidade, diz que o desgaste poderia das abordagens Romeu Lemes reconhece que pode
ter sido evitado. A questão com o chefe da ter havido, sim, excessos em certas ações
vigilância tomou contornos pessoais: nas
truculentas, – mas nega que a equipe de vigilantes
do posto de vigilância
Fotos: Camila Marchesan

manifestações, o nome de Romeu foi gri- seja despreparada. Em esferas superiores


tado e sempre relacionado ao destempero que surgiu dentro da CEU e da Universidade, defende-se a ideia de
das ações. da complacência um curso de preparação. O pró-reitor de
Para que o descontentamento fosse assuntos estudantis, José Francisco Dias,
freado, bastaria, segundo Romeu, uma
da Reitoria afirma que “é preciso definir que tipo de
conversa franca com os acadêmicos. “Me na manifestação do dia 20, na Reitoria. pessoa vai atuar na casa; que se faça um
colocaram um rótulo, como escreveram Com placas e faixas estampando frases treinamento para os vigilantes que não sa-
numa parede “Romeu Repressor”. Disse- como “pra que(m) serve a segurança?”, bem como abordar um estudante.”

.txt Novembro de 2010 13


capa
vigilância, nos últimos tempos houve re- antigo posto de vigilância voltou aos alu-
No gabinete do reitor... gistros de furtos, arrombamentos, tráfico nos, as rondas praticamente deixaram de
O pensamento encontra eco nas pa- de drogas e tentativa de estupro. Mais do existir. A diretora da CEU II relata que na
lavras do reitor da UFSM, Felipe Müller. que qualquer tentativa de repressão, a ins- semana posterior à reintegração da sala, só
Em entrevista para a .txt, ele garante que talação do posto de vigilância na Casa foi ouviu o barulho do tradicional Opala da
solicitou “uma capacitação em gestão de justificada pela realidade do local. vigilância em uma única madrugada. Ro-
pessoas, e principalmente na gestão de jo- Por outro lado, os estudantes afirmam meu afirma que a Casa não foi entregue à
vens e adolescentes” para a Pró-Reitoria que jamais exigiram o fim da segurança: sorte – os prédios estariam protegidos por
de Recursos Humanos (PRRH), destina- uma vigilância móvel e, por isso, menos
da àqueles que trabalham mais próximos “Houve um momento visível.
às Casas do Estudante. de conflito”, admite o Já o reitor Felipe Müller reconhece que
Assim como Romeu, o reitor também reitor Felipe Müller “houve um momento de conflito” que ge-
é criticado pelos moradores descontentes rou o sumiço dos vigilantes, mas que du-
– pois foi logo no primeiro ano da gestão para que os problemas fossem soluciona- rou apenas três dias. A solução foi abrir
de Felipe Müller que a atuação da vigilân- dos, os alunos não poderiam temer justa- o gabinete da Reitoria para a Direção da
cia se intensificou. A situação, entretanto, mente quem os protege, como disse Ga- Casa. O posicionamento do reitor é claro:
poderia ter mais ligação com antigos pro- briel. Mas após as reclamações, o que se “o que nós queremos não é a eliminação da
blemas da Casa do Estudante do que com viu foi a ausência da vigilância nas cerca- vigilância, e sim uma vigilância que possa
uma ordem da Reitoria. nias da CEU II. conviver de forma pacífica, que possa en-
O cenário da CEU II apresentava as- Da repressão ao abandono, teria sido tender as necessidades de uma população
pectos complicados. Segundo o chefe da uma questão de poucos dias. Desde que o em termos de lazer e convivência”.

À procura de um tom moderado


Perguntado se o recente conflito en- e também pelas da Reitoria, formou-se um toda a noite e a madrugada.
fraquece a assistência estudantil da Uni- grande emaranhado de inquietudes entre O episódio pode ser resumido como
versidade, o pró-reitor José Francisco estudantes e vigilantes. Mas os próximos um combate a dois exageros. Na visão da
Dias diz que a UFSM segue uma linha que passos, ao que parece, devem ser de mais vigilância, houve excesso nas reivindi-
vai contra a tendência de diminuir a proxi- cações dos alunos, “o pessoal fala em re-
midade com o acadêmico. Instituições de Os próximos passos, pressão, compara a época atual com a do
Santa Catarina e do Paraná já repensam o Regime Militar. Eu vivi aquele tempo, era
modelo de abrigar estudantes dentro dos ao que parece, um tempo de palavras proibidas, em que
limites universitários, o que não ocorre devem ser de mais sumia gente. Hoje, se pode debater. Os
em Santa Maria. O pró-reitor também negociação e menos moradores nunca me procuraram para dis-
Fotos: Camila Marchesan

lembra que a discussão da segurança entre cutir os problemas da vigilância” – lembra


alunos e vigilantes é um tema nacional – e conflitos Romeu. Já para os alunos, o exagero repre-
que “é a partir do debate que as soluções senta um cerco à liberdade de expressão e
se ampliarão”. negociação e menos conflitos. Os direto- sugere um comportamento repressivo dos
Da Assembleia em que surgiram as de- res da Casa do Estudante ainda buscam responsáveis pela segurança – aspectos de
núncias, passando pelas manifestações e medidas mais flexíveis, como a permissão uma vida universitária que se assemelha-
pela argumentação do chefe da segurança, da volta dos passeios pelo campus durante ria àquele período histórico. .txt

14 .txt Novembro de 2010


paralelo .txt

EAD: uma
opção
de
ensino
Projeto Universidade Aberta do Brasil
promove educação ao alcance de todos
UFSM
Greice Marin e Bárbara Barbosa Polos de apoio

Acordar cedo, cumprir horários pré- o estabelecimento de cerca de mil polos no ter muita discipli-
determinados, dirigir-se à universidade, Brasil. na, pois os horários
fazer contato diariamente com colegas e De acordo com o coordenador da UAB sou eu quem escolhe,
professores são tarefas que fazem parte da na UFSM, Fábio de Bastos, prioriza-se mas tenho prazos semanais
rotina da maior parte dos universitários do três aspectos: 1) a formação de professo- a cumprir. Toda semana temos
Brasil. Entretanto, com o advento de novas res da Educação Básica do Brasil, uma vez módulos de leitura e tarefas a rea-
tecnologias, surge uma nova possibilidade que nem todos a possuem; 2) o resgate da lizar. Antes de ingressar no EAD pensava
de crescimento profissional para pessoas agricultura familiar e 3) cursos na área de que seria mais fácil”.
que não dispõem de tempo ou de recursos políticas públicas. Bastos acrescenta que Após longos períodos de exclusão,
financeiros para frequentar um curso pre- a EAD não é tão à distância como se ima- cidades pequenas que não contam com
sencial. gina: há encontros presenciais para avalia- instituições públicas recebem do projeto
“É demasiado retrógrado pensar que ções dos acadêmicos, tais como provas e Universidade Aberta do Brasil a oportu-
as metodologias de ensino não evoluam, seminários. Esses encontros acontecem ge- nidade de acesso à educação de nível su-
não se transformem. Hoje, a sede de co- ralmente às sextas-feiras, a partir das 19h, e perior.
nhecimento e informação é tão grande nos sábados, de manhã e de tarde. A servidora pública e acadêmica do
que o espaço físico não poderia limitar a Pela internet, o contato entre aluno e Curso de Administração Pública EAD do
aprendizagem” afirma Mateus Schmidt, 20 universidade acontece através de um am- polo de Sobradinho, RS, Marilise de Mo-
anos, escriturário da Prefeitura Municipal biente virtual de ensino-aprendizagem: o raes, 29 anos, declara que a UAB é uma
de Três Passos, RS, e acadêmico do curso Moodle. Por meio do Moodle os alunos re- oportunidade de crescimento profissional
de Licenciatura em Física na modalidade cebem semanalmente tarefas, vídeo-aulas, e que seria “praticamente impossível fre-
à distância, pela Universidade Aberta do módulos de leitura e exercícios. Além dis- qüentar aulas regulares porque trabalho de
Brasil (UAB). so, há um fórum para os acadêmicos posta- dia e aqui não tem universidade”, conta.
A criação da UAB se deu em 2005, pelo rem dúvidas e esclarecerem conteúdos. Em contrapartida, a educação pre-
Ministério da Educação, visando a amplia- Os cursos de graduação abrangem as sencial sempre teve e terá seu espaço no
ção e interiorização da oferta do ensino mais diversas áreas como: Física, Letras processo educativo: trata-se de um siste-
superior gratuito no Brasil. Suas ações, em (ênfase em Espanhol ou Português), Pe- ma tradicional, de bastante credibilida-
parceria com os estados, municípios e uni- dagogia, Sociologia, Tecnologia em Agri- de que não dispensa a presença física do
versidades, procuram identificar e alcançar cultura Familiar, Administração Pública professor e promove a convivência entre
as áreas carentes de educação para a devida e Educação especial. São 27 polos espa- alunos e docentes. Geralmente, os alunos
implementação de novos pólos. São ofere- lhados pelo Rio Grande do Sul, além dos do ensino regular são pessoas que não tra-
cidos cursos de graduação, pós-graduação demais distribuídos por outros estados, balham e que dispõem de mais tempo ou
e extensão com o objetivo de implementar como Paraná, São Paulo, Ceará e Tocan- condições financeiras para se dedicarem a
a educação à distância (EAD) em várias tins. Os polos comportam estrutura com uma universidade em tempo integral.
instituições públicas do território brasi- computadores, biblioteca, tutor e espaço De qualquer maneira, seja próximo ou
leiro, inclusive na Universidade Federal de para encontros presenciais. à distância, as duas modalidades têm um
Arte: Maiara Alvarez

Santa Maria (UFSM). Para o aluno do curso de Administra- fim comum: aprimorar a formação de pro-
Segundo a Capes (Coordenação de ção Pública Ead do polo de Restinga Seca fissionais que já se encontram no merca-
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- - RS, Sidney Marchiori, 35 anos, há pro- do, preparar os que ainda não foram nele
perior), em 2009 a UAB ofereceu 129.474 fessores e tutores de plantão diariamente inseridos e, ainda, dar chance àqueles que
vagas em 88 instituições federais e estadu- para elucidar possíveis dúvidas que surjam jamais sonhariam em estar num ambiente
ais de ensino superior e 723 pólos de apoio ao longo da disciplina. “Eu me obrigo a ter acadêmico, seja por entraves financeiros
presencial. Até 2011, o sistema UAB prevê que estudar e pesquisar muito. É preciso ou geográficos. .txt

.txt Novembro de 2010 15


geral

RU: modos de
usar e conviver
Como o Restaurante Universitário e o comportamento dos
seus usuários se relacionam
Giuliana Matiuzzi e Olívia Scarpari

O lugar onde uma pessoa se encon-


tra altera seu modo de agir. É isso
que enuncia o sociólogo ameri-
cano Erving Goffman, conhecido por seus
estudos sobre as interações em espaços pú-
do e a entrada dos usuários mais tranqüila,
passou a ser possível focar atenções para
dentro do RU: o fluxo interno e o aprovei-
tamento de espaço.
No Restaurante, todos são levados a
Propaganda da UFSM, Juliana Petermann,
explica que a psicologia das cores orienta
o uso dos diferentes tons de laranja, que
estimulam o apetite e ao, mesmo tempo,
faz com que as pessoas comam num ritmo
blicos. Longe de ser apenas um cenário, o obedecer convenções determinadas pela mais acelerado.
espaço condiciona a forma como nos rela- forma como as pessoas fazem uso do lugar. Em pesquisa de opinião realizada pela
cionamos com as pessoas dentro dele. Isso Da mesma maneira, deve-se considerar a reportagem da .txt entre os dias 9 e 10 de
pode ser constatado durante um almoço no “situação social”, ou seja, verificar o que o novembro com 140 estudantes, a perma-
Restaurante Universitário (RU), ao obser- contexto dispõe. Isso sigifica, por exemplo, nência nas mesas por mais tempo que o ne-
varmos o local com um olhar mais demora- que dentro de um ambiente como o do RU, cessário para a refeição é um dos compor-
do. O ambiente coletivo, em um contexto é importante compreender a necessidade tamentos considerados mais prejudiciais
no qual todos têm pressa, faz com que o de facilitar o fluxo de pessoas. O diretor do ao bom andamento das atividades no RU
comportamento grupal se altere significa- RU, Odone Romeu Denardin, exemplifica: (59%), e também uma das mais recorren-
tivamente. “Já me sugeriram colocar uma televisão, tes. Também foram assinalados o desres-
A fila externa, que permanecia como mas se eu fizesse isso muitos se distrairiam peito à fila de entrega da bandeja (38%) e
uma reclamação quase unânime dos es- e ficariam ainda mais tempo sentados”. a marcação de mesas com pastas ou bolsas
tudantes até a abertura do novo RU no Para o melhor fluxo de pessoas, inclu- (21%).
campus, parece ter sido deixada para trás. sive, lança-se mão das cores estratégicas. Outras ocorrências, apesar de menos
Com o problema mais elementar já sana- A professora do curso de Publicidade e frequentes, são mais sérias. Logo que os co-
pos permanentes foram implantados, mui-
Práticas prejudiciais à boa convivência no RU tos foram furtados, levando a assessoria de
comunicação do RU a realizar uma campa-
59% nha em tempo recorde para que as pessoas
Permanên- atentassem para o fato. Segundo o diretor, a
cia desnes-
campanha teve um efeito positivo e hoje o
sária nas
mesas
problema é quase inexistente: “No começo
foi mais grave, os copos não voltavam. Ago-
38% ra são apenas casos isolados”. Além disso,
Desrespeito em outras ocasiões, registrou-se também
à fila de
furtos de objetos nos escaninhos. Do uni-
entrega
verso dos pesquisados, 5% relatou ter sido
21%
Fotos: Iuri Müller

18% vítima de furto, especialmente de guarda-


Marcação
Desrespeito chuvas. Contudo, Denardin pondera que
das mesas
à fila externa com objetos as reclamações dessas ocorrências por en-
quanto cessaram.
pessoais 4% Outra
Fonte: pesquisa .txt
16 .txt Novembro de 2010
Estrutura física versus comportamento do usuário .txt
A pesquisa realizada pela .txt também nários, quanto por parte dos que almoçam fora de casa”.
questionou aos 140 usuários, a quem eles ali. No entanto, para isso acontecer, preci- O arquiteto Alberto Brilhante cita ain-
atribuiriam maior parcela de responsabi- samos reformular a estrutura da cozinha e da outros problemas no comportamento
lidade por eventuais tumultos dentro dos outras partes externas, e isso custa caro.” dos usuários que estão diretamente ligados
Restaurantes Universitários da UFSM. – afirma. Alberto Brilhante também sugere à estrutura do espaço do Restaurante Uni-
Constatou-se que 61% das pessoas acre- que a ordem de entrega da bandeja deveria versitário. “Quando bolamos o projeto do
ditam que isso seria um problema estru- ser modificada: “Logicamente precisaria novo RU nos baseamos no que dava errado,
tural do RU e outros 39% dos pesquisados começar pelas coisas mais leves como en- e continua dando, no RU antigo. Um dos
crêem que, na verdade, a maior parte dos tregar os talheres e copos primeiro”. problemas que os usuários enfrentam é o
tumultos ali ocorridos se dá pela falta de Para o psicólogo Luciano Haussen, da locomoção nas dependências do recin-
eficiência do público freqüentador do Res- “dois aspectos que sabidamente geram es- to. No novo RU, dividimos as mesas por se-
taurante. tresse na maioria das pessoas são o barulho tores com diferentes cores. Isso nos permi-
Um problema bastante importante que intenso e constante em locais com muita tiu deixar corredores bastante espaçosos.
a diretoria registra é o da aglomeração para gente”. Como no outro restaurante a quantidade
a entrega da bandeja: “Na maioria das ve- O arquiteto da Proinfra explica que de- de mesas foi aumentada e não o espaço em
zes, os estudantes são rápidos para entregar vido a entraves financeiros não foi instalado si, a dificuldade de locomoção causa pro-
os materiais, mas se tem alguém que atrasa um sistema de atenuação de ruídos no RU. blemas”. O arquiteto cita o caso de pessoas
e que demora mais do que o normal, isso já “A cozinha é o local mais barulhento de um que transitam procurando local para se sen-
prejudica todo o fluxo. Tem gente que de- refeitório. Os funcionários empilham pra- tar e que, acidentalmente, acabam batendo
mora dois segundos para entregar todos os tos, etc. Os RUs não contam com sistemas as bandejas nas pessoas que já estão senta-
elementos da bandeja; outros, dois minu- de abafamento desses sons. Isso sem contar das, ou que, pelo esbarrão, acabam derru-
tos. Não tem muito o que fazer”, comenta que, como se trata de um restaurante com bando líquidos no chão. Também lembra
Denardin. muitas pessoas, o barulho das conversas e que, como as mesas do RU antigo possuem
O arquiteto da Pró-reitoria de infra- das movimentações também reverbera.” – a mesma cor, os usuários demoram mais
estrutura (Proinfra) da UFSM, Alberto avalia o arquiteto. Em meio a um ambiente tempo para localizar um assento vazio. E
Brilhante, está do lado que crê que os con- tão estrepitoso, o local causaria desconfor- ainda, uma vez identificado, se o local for
tratempos ocorridos se devem à falta de to nos usuários. muito distante, a dificuldade de locomoção
estruturas e planejamento para os Restau- Em relação às condutas inadequadas poderia incorrer em constrangimentos de
rantes Universitários da UFSM – juntos, por parte dos freqüentadores do Restau- convivência, como o caso de um outro usu-
em média, os RUs giram suas catracas para rante, Haussen avalia que uma possível ex- ário se sentar antes no lugar pretendido.
um contingente de 5.500 almoços diários. plicação para esse tipo de comportamento Como explicava o teórico Erving Goff-
“Não se trata da culpa dos usuários. Vejo é o fato das pessoas se sentiriam mais à von- man, o modo como os hábitos se propagam
que o aluno, mesmo aquele que está ain- tade quando protegidas pelo anonimato de constrói o ambiente. No Restaurante Uni-
da se acostumando com o novo sistema da um grande grupo. Segundo Haussen, tais versitário, o coletivo estabelece significa-
Universidade, em dois meses já se habitua atitudes, em diferentes graus de seriedade, dos e se apropria de um local que é um dos
com a ordem correta da entrega dos utensí- deflagrariam o pensamento dos que infrin- mais importantes da assistência estudantil.
lios utilizados”. gem convenções nesses contextos: “Eles A renovação dos usuários é cíclica e a cul-
Para sanar esses e outros problemas, raciocinam assim: ‘se todos estão fazendo, tura de uso está sempre sendo transforma-
uma reforma seria necessária. “O problema também posso fazer’ e isso é aumentado se da, ainda mais em épocas de expansão da
reside na organização funcional do RU. Por não há nenhuma punição ou resposta nega- comunidade universitária, como é o caso
exemplo, sabe-se que 90% da população é tiva do meio”. O especialista ainda assegura da UFSM. Analisar o comportamento de
destra, por que então o sistema de entrega que conflitos são choques de educações di- uma estrutura tão relevante para o bom
no RU é feito pela esquerda e não pela direi- ferentes entre os participantes da situação: funcionamento da Universidade faz com
ta? É claro que uma reforma repercutiria na “Por mais que isso pareça batido, aquilo que, quem sabe, se empreendam melhorias
cultura do RU, tanto por parte dos funcio- que os pais transmitem será apresentado a respeito do uso desses espaços..txt

.txt Novembro de 2010 17


de dentro para fora .txt

Direito em
extensãoUFSM presta assistência jurídica
gratuita há mais de 30 anos
Eduarda Toscani

Q uem caminha pela Floriano Peixoto e passa pelo prédio do


Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), antiga sede
da Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
dificilmente repara na fachada amarela, bem na beirada da calçada.
Por trás dali acontece um importante projeto de extensão. Em cima de
um portãozinho de latão branco, uma placa azul indica: ali funciona a
Assistência Judiciária Gratuita da UFSM que beneficia a comunidade de
Santa Maria desde 1978. Na época, o curso de Direito não contava com
um espaço dentro da Instituição para que os alunos experimentassem
o cotidiano da profissão. Então, a Pró-Reitoria de Extensão implantou
o projeto cujo regimento interno, criado em 1996, tornou-o uma sub-
unidade do CCSH.
UFSM possui Assistência Judiciária para carentes Na Assistência, trabalham geralmente alunos dos últimos semestres,
tanto do Direito Diurno, quanto do Noturno, que dão aconselhamento a
todos que procuram uma solução aos seus mais diversos casos. “Se for um
Como funciona a Assistência caso previdenciário, trabalhista ou penal a gente só aconselha a pessoa a
Após a entrevista de triagem, o caso é procurar núcleos jurídicos ou a defensoria pública”, explica o estudante
estudado pelos alunos até encontrarem do décimo primeiro semestre de Direito e estagiário, Niklas Hamm. Já
quando são casos de direito civil, de família ou de revisão de contratos,
uma solução para o problema, seguindo
os estudantes solicitam que a pessoa agende uma entrevista de triagem
a orientação dos professores Carlos Nor- com a assistente social da Assistência Judiciária, Mara Bortoluzzi.
berto Vieira e Maria Ester Bopp. Só então A triagem leva em consideração fatores sociais, como renda e
encaminham a petição inicial do proces- gastos mensais, para determinar se a pessoa preenche os requisitos
so. Os estudantes acompanham todo o para o atendimento. É beneficiado quem ganha no máximo três salários
desenrolar do caso, acompanhando as mínimos. Entretanto, essa norma é abrandada em casos específicos,
notas de expediente e repassando o an- como quando o cliente tem muitos filhos, paga pensão ou comprova que
damento às partes. Enquanto o processo não tem condições de pagar um advogado particular.
Para a população santa-mariense, a Assistência é uma forma
esta correndo, os clientes também são as-
acessível de fazer valer os seus direitos, enquanto para os alunos, é uma
sistidos por alunos do curso de Psicologia maneira de colocar em prática a teoria aprendida em sala de aula. As
da UFSM, que prestam apoio emocional situações cotidianas são muito mais complicadas do que as hipotéticas
e psicológico. Segundo o diretor, Éverton que o acadêmico analisa nos semestres anteriores. Apenas aliando esse
Miralha Massia, cerca de 85% dos casos conhecimento à prática jurídica, o estudante conseguirá alcançar a
que a Assistência recebe são de direito fa- maturidade necessária para o mercado de trabalho.
miliar. O estudante Niklas Hamm detalha Além do exercício prático da profissão, o estágio também permite
que boa parte desses casos são de pesso- que o acadêmico entre em contato com uma vivência que, muitas vezes, é
afastada da sua. “É um forte baque saber o que frequentemente acontece
as que querem terminar sua vida conjugal
em comunidades como Boi Morto, Vila Carolina, Urlândia ou Jockey
devido à violência familiar. Clube. Não temos noção do tipo de violência que muitas dessas pessoas
O trabalho da Assistência não se limita sofrem”, pondera Niklas. Tratar de situações reais e contribuir para mudar
ao auxílio nos trâmites jurídicos, pois dá a realidade de uma pessoa são aprendizados para um acadêmico, que
outros suportes para a superação desses passa a enxergar no seu curso, além de uma carreira de futuro, uma forma
Foto: Guilherme Porto

conflitos. Já em casos mais brandos, ten- de fazer valer princípios de justiça, igualdade e dignidade humana.
ta-se a audiência de conciliação entre as O trabalho desenvolvido na “casinha amarela” bem na beirada da
partes, como explica Everton: “há situa- calçada, há mais de 30 anos, aproxima a população santa-mariense mais
humilde do que já é dela, mas que geralmente desconhece: seus direitos.
ções em que o próprio casal se reconcilia
Uma sociedade mais justa não se vale apenas de leis postas, pois justiça
ou entra em acordo, então nem precisa- social se conquista principalmente nas ações cotidianas. Nesse quesito, a
mos encaminhar a ação”. Assistência Judiciária da UFSM já está fazendo a sua parte. .txt

18 .txt Novembro de 2010


de fora para dentro .txt

Português e
Espanhol:
uma via de
mão dupla
Policiais rodoviários brasileiros e uruguaios têm acesso
a idiomas instrumentais para agregar valor à profissão
Débora Dalla Pozza

O s diferentes usos de uma lingua- fessora Maria Tereza Marchesan. Segundo envolvidos a produzirem publicações deri-
gem, por si só, são elementos ela, os policiais sentiram a necessidade de vadas dos dois projetos de extensão.
afirmadores e identificadores das capacitação para lidar com turistas de pa- A iniciativa é reconhecida como “mis-
relações culturais de uma sociedade. Pela íses vizinhos que viajavam ao litoral brasi- são diplomática” pelo Ministério das Rela-
língua falada e sua utilização abstraem-se leiro no verão. ções Exteriores. Tal prestígio reafirma uma
conclusões sobre o contexto cultural e a A falta de compreensão do espanhol nobre premissa: o ensino - assim como as
forma como os indivíduos se apropriam pelos oficiais brasileiros impossibilitava a grandes rodovias - é mesmo um caminho
dela. eficiência comunicacional pretendida na de mão-dupla, no qual muito se recebe em
Conhecer outro idioma deve ser essen- realização de seus trabalhos. A expansão troca do que se transmite aos outros .txt
cial para quem convive com culturas dis- do curso aconteceu quando, em 2006, em
tintas no seu ambiente de trabalho. Não é conversa com a professora Maria Tereza, a
mesmo? Quem bem pode afirmar isso são Policía Caminera Uruguaya requisitou que
os policiais rodoviários – brasileiros ou es- também fosse ministrado aos seus oficiais
trangeiros –, que entram em contato com um curso similar ao já estruturado, voltado
pessoas de múltiplas nacionalidades no ao ensino de português instrumental.
cumprimento de sua função. Nos países do O aprendizado de uma língua estran-
Mercado Comum do Sul (Mercosul), esses geira instrumental é diferenciado do en-
profissionais vivem em meio a um crescen- sino habitual de idiomas: “o princípio do
te incremento do turismo entre os quatro ensino do idioma instrumental é instruir
países membros originários da união adu- o aluno o necessário para suprir suas de-
aneira (Argentina, Brasil, Paraguai e Uru- mandas de aprendizagem”, detalha Maria
guai). Tereza. Dessa forma, o suporte didático
Frente a essa realidade, dois projetos de composto por apostila e material de áudio
extensão da Universidade Federal de Santa é exclusivamente criado para o Curso.
Maria (UFSM) vêm agregando qualidade
ao dia-a-dia de policiais brasileiros e uru- Os benefícios
guaios responsáveis pela fiscalização e pelo
cuidado das rodovias de seus países. Os O comandante regional da Polícia Ro-
cursos de capacitação em Português Ins- doviária Estadual, Capitão Elton Colussi,
trumental para Agentes do Governo Uru- afirma que o curso é importante para a Bri-
guaio: Polícia Rodoviária e em Espanhol gada Militar especialmente no atual mo-
Instrumental para Agentes do Governo mento: “estamos próximos de uma Copa
Brasileiro: Polícia Rodoviária possibilitam do Mundo que ocorrerá no Brasil e trará
que profissionais que exercem a mesma alto volume de turistas a nosso país. Saber
função nos países vizinhos aprendam a lín- uma nova língua para trocar informações
Foto: Arquivo Cepesli

gua correspondente dos colegas. com pessoas diferentes é mais do que ne-
O projeto surgiu em 2005, diante de cessário para as autoridades que trabalham
um pedido por aulas de espanhol instru- com público”.
mental pela Polícia Rodoviária Estadual à A professora Maria Tereza, por sua vez,
coordenadora dos projetos de extensão e destaca que esses projetos expuseram o Aula prática que integra policiais
do Centro de Ensino e Pesquisa de Línguas perfil humano existente por trás da farda uruguaios e Polícia Rodoviária
Estrangeiras Instrumentais (Cepesli), pro- dos policiais, o que motivou os acadêmicos Estadual é destaque do curso

.txt Novembro de 2010 19


cultura
Hamartia – ventos do destino
Um contrato firmado em 2004 entre
e UFSM e a Força Aérea Brasileira (FAB)
deu início à produção de Hamartia – Ven-
tos do Destino, dirigido por Rondon de
Castro. Desde então, diversos projetos
voltados exclusivamente para a produção
do filme foram elaborados em cursos da
UFSM. Acadêmicos do Desenho Indus-
trial, por exemplo, trabalharam durante um
ano e meio na produção do storyboard e da
maquete do longa. Acadêmicos da Psicolo-
gia atuaram no que chamaram de “psicoha-
martia”, ao estudar e criar o perfil dos ato-
res, os quais atuaram praticamente como
profissionais da FAB. Outra participação
muito importante veio do curso de Músi-
Gabriela Moraes e Guilherme Porto ca. Um único acadêmico produziu a trilha
sonora original e criou uma biblioteca de

C inema não se restringe à projeção Gabriel Isaia) ganhou o prêmio de Melhor sons para o filme. No total, foram mais de
de imagens e à indústria cinemato- Vídeo Universitário no Festival de Cinema 50 acadêmicos envolvidos nos projetos.
gráfica. Seu produto é obra artísti- de Gramado e 1969 (de Maurício Canterle Hamartia está em fase de montagem
ca, que, por sua vez, não se limita à forma- e Manolo Zanella) faturou seis prêmios no e em dezembro será finalizado. Em abril,
ção acadêmica de seus produtores. Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC). Rondon de Castro pretende levá-lo para os
Mesmo sem possuir um curso de Cine- O crescente destaque e a paixão pelas festivais e salas de cinema do país. Cidades
ma, pessoas ligadas à UFSM sempre man- produções cinematográficas culminaram como Porto Alegre, São Paulo, Belo Hori-
tiveram uma relação íntima com a Sétima em uma ação do professor e coordenador do zonte, Recife e Brasília possuem uma cul-
Arte. Um dos casos é o de Sérgio Assis curso de Comunicação Social - Jornalismo tura cinematográfica muito forte, por isso
Brasil. Ex-diretor da TV Campus, Assis da UFSM, Rondon de Castro, que também serão alvo das exibições, ainda no primeiro
Brasil foi o responsável pelo primeiro lon- trabalhou na fundação da Especialização semestre. Em Brasília, por exemplo, o fil-
ga-metragem realizado em Santa Maria. Ao em Cinema Digital. A UFSM possui cursos me será exibido durante um mês em qua-
adaptar o livro Manhã Transfigurada para as que têm em seu currículo disciplinas e tro salas, a fim de medir o público e então
telas, o cineasta deu um grande passo para professores com capacidade para suprir as seguir para outros locais. Em seis meses,
o crescimento cultural da cidade e quebrou necessidades da criação da graduação em estima-se um público de, pelo menos, 400
o tabu da centralização da produção cine- Cinema. O professor enviou o projeto de mil pessoas envolvidas diretamente com a
matográfica. criação do curso de Cinema para aprovação FAB, sem contar o público em geral.
Assis Brasil também é um dos responsá- no Programa de Expansão e Reestruturação Produções como Hamartia seguem o
veis por outro marco do cinema na UFSM das Universidades Federais (Reuni), mas, caminho traçado por Sérgio Assis Brasil
e em Santa Maria. Junto a outros profissio- infelizmente, esbarrou no “desinteresse de e outros amantes da Sétima Arte, que lu-
nais, fundou o curso de Especialização em órgãos superiores”, como salientou. taram e trabalham para a manutenção e o
Cinema Digital. O Curso teve cinco edições Além de limitar o crescimento da Uni- crescimento do cinema em Santa Maria.
entre os anos de 2002 e 2007 e o resultado versidade, a desistência da criação do Curso Essas ações mostram toda a força que a
foi a produção de diversos curtas-metragens também atrasa a expansão artística de San- vontade e o interesse podem gerar, mesmo
que romperam as fronteiras do Rio Grande ta Maria, a nossa “Cidade Cultura”. Limitar que com recursos limitados. O ponto de
do Sul, ganhando destaque em todo o Bra- o crescimento do cinema significa limitar partida foi dado. Que agora os ventos car-
sil. Dentre as produções, o curta Centopéia o desenvolvimento de uma das grandes ri- reguem essa arte para caminhos ainda não
(de Cristina Trevisan, Tiago Gonçalvez e quezas da cidade: o turismo cultural. desbravados. .txt

Fotos: Divulgação Hamartia


20 .txt Novembro de 2010
o arco da velha .txt
.txt

Dando continuidade à seção em homenagem aos 50 anos da UFSM, esta edição traz imagens
históricas do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Iuri Müller

Posse da diretoria do
DCE, em dezembro de
1973. À direita da foto,
quase fora do enquadra-
mento, está o então reitor
da UFSM, Hélios Homero
Bernardi.

Movimento estudantil
em protesto na frente
do prédio da Reitoria.
A névoa que quase
esconde o planetário
mostra o rigor do
inverno de 1980, ao
menos naquele agosto.
Fotos: Departamento de Arquivo Geral da UFSM

Jantar de inauguração
Foto: Orozimbo Ramos Penna

da sede do DCE, em
setembro de 1970. O
fundador da UFSM,
José Mariano da Rocha
Filho, é o último
homem antes do
espelho. Mais tarde, o
local se transformaria
na tradicional boate do
Diretório Central.

.txt Julho
.txt Novembro de de 2010 21
2010 21
cultura

Símbolos ocultos
Um passeio pelo campus pode intrigar um observador mais atento. Entre os
monumentos, o que mais chama a atenção, seja pela imponência ou pela
curiosidade que desperta, é o dedicado ao fundador UFSM
Camila Marchesan, Fernanda Arispe e Julia do Carmo

A os 18 anos, José Mariano da Rocha que muitos acreditam ser a prova da rela-
Filho revelou, em carta à sua mãe, ção de Mariano com os maçons, serviria
Maria Clara Marques da Cunha, para representar a busca do homem por
aquele que era o seu maior sonho. Nos idos Deus, por apontar para o céu.
de 1933, o jovem rabiscara algumas poucas Além disso, instrumentos de traba-
palavras esperançosas, dedicadas ao ani- lho (compasso, esquadro) com a ideia de
versário da mãe: “Agora quero dar-vos um “moldar o caráter” também farão parte do
abraço e pedir-vos a benção para que este monumento. Porém não estarão ligados
vosso filho seja um homem que produza aos ideais da Francomaçonaria, e sim aos
alguma coisa à humanidade”. Mal sabia ele, da Ordem de Malta. “O Mariano era Ca-
ao expressar seus anseios nessas contidas e valeiro de Malta e Cavaleiro da Santa Sé.
utópicas palavras, que, 27 anos depois, seu Os Cavaleiros de Malta são a continuação
sonho transformar-se-ia em realidade. No dos Cavaleiros Templários, só que ligados
dia 14 de dezembro de 1960, o garoto que à Igreja Católica”, revelou.
sonhara produzir “alguma coisa à humani- Ao ser questionado sobre a existência
dade” criaria a primeira universidade fede- atual da Ordem, as palavras de Francisco
ral do interior do Brasil. faltaram, mas os olhos brilharam, um sorri-
Não é de se estranhar, então, que haja so se abriu e as mãos procuraram no bolso
homenagens em profusão àquele menino um chaveiro. Branco, com uma cruz verme-
que não mediu esforços para realizar seu lha no centro: o símbolo dos Cavaleiros de
sonho. Entre elas, um monumento dedica- Malta.
do a ele chama atenção e desperta curio- Francisco nos explicou que também
sidade nas centenas de universitários que havia sido iniciado na Ordem de Malta. Ba-
passam apressados pelo campus todos os sicamente, sua estrutura é bastante pareci-
dias. Localizado no final da Avenida Rorai- da com a dos Templários. Porém, enquanto
ma, próximo à Reitoria e ainda não com- historicamente estes faziam a proteção mi-
pletamente finalizado, o monumento agu- litar dos cruzados, a Ordem de Malta enfo-
ça a curiosidade dos jovens: além de não cava mais a saúde e a medicina. “No mun-
ser auto-explicativo, também carrega várias do inteiro, eles fazem o ‘bem’. E os mesmos
teorias a respeito de suas simbologias ocul- instrumentos que a Maçonaria usa, já eram
tas. usados por eles.”
Não há quem nunca as ouviu. Calouro Agora, depois dessas revelações, um
ou formando, quem frequenta a UFSM já simples passeio pelo campus se tornará di-
deve ter escutado ou criado a sua própria ferente. A partir de hoje, o monumento em
teoria a respeito da imponente construção homenagem a Mariano da Rocha assume
em frente à Reitoria. Ouvimos várias ver- um novo significado, envolto em toda uma
sões sobre o monumento: algumas envol- simbologia própria. O irônico é perceber
vem águias, faróis, a letra “M” de Mariano que algumas daquelas teorias conspirató-
e a maçonaria. Cansadas de tantas versões rias estavam certas. O monumento é cober-
diferentes e com a curiosidade aguçada to de referências a uma ordem secreta. Não
também pela nossa própria imaginação, eram os maçons, como muitos apostavam,
fomos em busca de alguém que pudesse mas sim os Cavaleiros de Malta.
explicar tão intrigante construção. Francis- Provavelmente, quando, aos 18 anos,
co José Mariano da Rocha foi o indicado. Mariano da Rocha Filho escrevera aquela
Atual diretor do Planetário da UFSM, ele é carta à sua mãe contando seus sonhos, ele
filho do Mariano. E as explicações vieram. não imaginava que iria tão longe. O mem-
Francisco nos conta que a ideia inicial bro de uma Ordem secular que fundou a
do monumento era representar Nossa Se- UFSM, 27 anos depois, com certeza, não
nhora Medianeira. “Marianinho era muito era mais aquele garoto dos idos 1933, mas
cristão. Ele queria dedicar a Universidade à uma coisa pode-se dizer que nele nunca
Nossa Senhora Medianeira”. Com o andar mudou. Ele ainda sonhava em “produzir
da obra, outros significados foram incor- alguma coisa à humanidade”. E, ninguém
porados à ideia inicial. A grande pirâmide, pode negar, ele conseguiu..txt

22 .txt Novembro de 2010


.txt
As simbologias ocultas,
porém, não estão Bússola
presentes somente A estética da bússola sugere a exalta-
no monumento em ção da diversidade existente dentro
da UFSM. Valorizar as diferenças
homenagem a Mariano. e as peculiaridades de cada pessoa,
Elas se multiplicam seja ela de onde for, é o motivo de se
em outros marcos da utilizar traços que formam um rosto
Universidade na obra. Os cabelos, por exemplo,
tendo cada fio desenhado de uma
maneira diferente, tentam abranger
os representantes de todas as etnias.
Uma linha reta busca representar
descendentes das raças indígena e
oriental. Uma linha ondulada busca
representar a raça branca, e uma linha
encaracolada remete à raça negra. As
duas faces da escultura representam a
importância, para a instituição, tanto
das pessoas que chegam quanto das
que deixam a Universidade.

Relógio Solar
Equatorial e Horizontal
Além de marcar as horas com as projeções
de sua sombra, o Relógio Solar traz alguns
simbolismos. Durante os equinócios, a som-
bra do relógio projeta uma cruz no centro da
estrutura. Ainda, em determinadas épocas do
ano, há a projeção da Bandeira Internacional
da Paz (um círculo com um ponto no cen-
tro). Segundo Francisco, o ponto central da
bandeira significaria Deus e o círculo traria a
ideia de que todos os homens estão à mesma
distância dele. O relógio ainda marca a data
da fundação da Universidade (14/12/1960).
Todo ano, nessa mesma data, às 14h30
(15h30 pelo horário de verão) a sombra do
relógio projeta-se em cima de uma estrela
de cinco pontas, desenhada na parte inferior
Intihuatana da estrutura. Para comemorar os 50 anos da
Universidade, está prevista a construção de
Intihuatana, ou “pedra que amarra
um Relógio Solar Indígena, utilizado pelos
o sol”, é um megalito Inca que
índios brasileiros para determinar o meio-dia
serve para marcar os solstícios e
solar, os pontos cardeais e as estações do ano.
os equinócios com as projeções de
sua sombra. Os incas acreditavam
que estava amarrada a esta pedra
uma corda de prata que a prendia
ao sol. Durante os solstícios, eles
faziam uma festividade em volta da
pedra para puxar o sol de volta. A
estrutura representa um puma em
Fotos: Maurício Brum

posição de comando. O monu-


mento também é dividido em três
planos, que representam os três
mundos: mundo dos mortos, dos
vivos e dos espíritos.

.txt Novembro de 2010 23


perfil .txt

Jorge, um
Rato Severino Maurício Brum e Yuri Medeiros

N a última noite dos anos no-


venta, duas expectativas mo-
nopolizavam os pensamentos
enquanto os foguetes de Ano Novo não
espocavam. Um misto de catarse coletiva
público.
Sem se adaptar à capital, Rato vis-
lumbrou uma perspectiva diferente para
a carreira nos novos computadores que
chegavam à UFRGS: passou a fazer o curso
ro sistema on-line da UFSM – que desde
1990 registrava as consultas do Hospital
Universitário – e prestar atendimento aos
usuários no campus. No início dos anos
2000, encarava qualquer variação climática
trazida por um ano redondo como o 2000, técnico em informática e articulou um re- para levar um grupo de estagiários até os
com o temor por uma hecatombe digital torno à cidade natal. Em 1989, conseguiu porões da UFSM, interligando os prédios
provocada pelo chamado Bug do Milênio a transferência para a UFSM, integrando o com cabos de fibra óptica.
– o sumiço repentino de arquivos em com- CPD, à época, apenas um núcleo situado Hoje, ele coordena uma equipe de 14
putadores com sistemas antigos, nos quais no sétimo andar da Reitoria. Imediatamen- bolsistas e é responsável pela transmissão
os anos eram marcados com apenas dois te, passou a morar no campus, cuidando televisiva via web de diferentes eventos
dígitos e a passagem de 99 para 00 poderia relacionados à Universidade. Iniciado em
ser entendida como um retorno a 1900. Na escuridão do 31 de 2004, o sistema evoluiu e tem a estimativa
Então, na escuridão do 31 de dezembro dezembro de 1999, Rato de finalizar o ano atual com cerca de 600
de 1999, Rato virou o ano no Centro de eventos transmitidos ao vivo. Já foi fechado
Processamento de Dados (CPD) de uma
virou o ano no Centro de um convênio com o Grupo RBS para par-
UFSM vazia. Além do Hospital, poucas Processamento de Dados ceria com o Canal Rural.
luzes respingavam no espectro da Cidade de uma UFSM vazia Rato, que tem dificuldades para lem-
Universitária e quase ninguém deve ter brar o nome exato de seu cargo, prefere se
atentado que, naquele prédio baixo ao lado do supercomputador que administrava considerar um “Severino”. “Quebra os ga-
da Reitoria, havia alguém de vigília para os sistemas da Universidade. Permaneceu lhos” que surgem, está disposto a tudo, e
evitar que a primeira alvorada de 2000 ins- no prédio reservado aos funcionários até não gosta da ideia de se aposentar – algo
taurasse o caos na parte informatizada da 2001, quando o computador central foi que poderia ocorrer em quatro anos, já
Universidade. Rato levou a esposa Leila substituído por servidores relacionados. que a periculosidade da sua função reduz
para fazer companhia, esperou alguns mi- Mas as atribuições de Rato se acumu- o tempo de carreira. Nesse dia, Jorge Luiz
nutos após a meia-noite e constatou o que laram e não se resumiram às correrias para Alves terá apenas 51 anos. Ele quer ficar.
já imaginava: o medo coletivo não se con- evitar resfriamentos e aquecimentos exces- No que depender da sua vontade, o casal
firmou. sivos da ‘máquina’. Também cabia a ele lu- de ratinhos não sai tão cedo de cima das
O homem que fez o provável plantão tar contra eventuais problemas no pionei- mesas do CPD. .txt
menos desejado da história do CPD é co-
nhecido como Rato nos recantos da UFSM
e estranha quando lhe chamam pelo nome
real, Jorge Luiz Alves. A alcunha veio de
uma daquelas provocações de infância. O
pequeno Jorge tinha as orelhas e dentes
pronunciados, o que gerou brincadeiras
dentro de casa, e apelido que não se gosta
é que pega. Aos 47 anos, com um casal de
ratinhos de borracha como mascotes sobre
sua mesa no CPD, o técnico em informática
evidencia que hoje aceita bem o apelido.
Rato é natural de Santa Maria, mas, nos
anos 80, deixou a cidade para trabalhar na
Universidade Federal do Rio Grande do
Foto: Maurício Brum

Sul (UFRGS), logo após se casar. Em Porto


Alegre, sua função era relacionada aos de-
partamentos de pessoal da instituição, num
setor ingrato – tratava do auxílio para fune-
rais de funcionários e lidava com as resci-
sões contratuais e demissões numa época
em que não havia estabilidade no serviço

24 .txt Novembro de 2010

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