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nº 6 - ano 4

Universidade Federal do Rio de Janeiro


Reitor
Aloísio Teixeira

Vice-reitora
Sylvia da Silveira de Mello Vargas

Pró-reitor de Graduação
Belkis Valdman

Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa


Angela Uller

Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento


Carlos Antonio Levi da Conceição

Pró-reitor de Pessoal
Luiz Afonso Henriques Mariz

Pró-reitor de Extensão
Laura Tavares Ribeiro Soares

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Decano
Marcelo Macedo Corrêa e Castro

Colégio de Aplicação
Diretora Geral
Celina Maria de Souza Costa

Vice-Diretora
Miriam Abduche Kaiuca

Diretores Adjuntos de Ensino


Angela Alves da Fonseca
Marcelo da Silva Bueno
Mario Jacinto Ferraro Junior
Rowilson Aparecido da Silva

Diretores Adjuntos de Licenciatura, Pesquisa e Extensão


Fábio Garcez de Carvalho
Maria Luiza Mesquita da Rocha
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Juliana Ennes
3 Entrevista
Professora Heloisa Buarque de Hollanda
EDITOR A CHEFE

6 Língua portuguesa
Teresa Coutinho Andrade

VICE-EDITOR A
Cristiana Madanêlo Leitura no ensino fundamental
PRODUÇÃO GR ÁFICA Luciana Ferreira, Marise Leite, Natália Fernandes,
Juliana Montenegro Raquel Fonseca, Vanessa Barbosa
Raphael Borges

FOTOGR AFIA
Silmar Marques
12 Artes plásticas
Ensino em artes: um outro mundo é possível?
REVISÃO Sandra Martins
Ana Beatriz Muniz
Maria Luiza Rocha

APOIO
15 Sem fronteiras
Fábio Garcez Uma atitute sem pressa: antídoto para a ansiedade
Maria Luiza Rocha
Tiago Lisboa Bartholo improdutiva
ENTREVISTA Isabel Cristina de Moura Carvalho
Ana Crélia Dias

FOTOLITOS E IMPRESSÃO
18 Construindo pontes
Stamppa Gráfica e Editora
Do you speak “français” ou parlez-vous “English”?
TIR AGEM Eliane Cardoso Tibogue, João Carlos Teixeira de Mello,
1.000 exemplares
Maria Aparecida Gomes Ferreira e Raquel Souza de Oliveira
ILUSTR AÇÃO
Cora Ribeiro
Juliana Montenegro
23 Como e porque ler José de Alencar
Ana Crélia Dias e Antônio Carlos Secchin
BOLSISTA DE INICIAÇÃO
ARTÍSTICA E CULTUR AL
Juliana Montenegro
26 Memória
CONSULTORES TÉCNICOS Memórias de um colégio
Armando Gens (Português)
Isabel Cunha (Inglês) Teócrito Abritta
Rosza Vel Zoladz (Artes)

29 Resenha
A mitologia africana em sala de aula
Claudio Lorenço de Oliveira

30 Notas
Aconteceu no 1° semestre de 2009
Caro Leitor
Chegamos ao sexto número de PERSPECTIVA CAPIANA cuja capa homenageia alguns de nossos grandes
escritores – Aluísio de Azevedo, Carlos Drummond de Andrade, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Cecília Meireles,
Manuel Bandeira, Monteiro Lobato, Mario de Andrade, Mário Quintana, Oswald de Andrade e José de Alencar.

A homenagem relaciona-se à questão da sobrevivência do livro impresso em meio ao avanço tecnológico, tratada
na entrevista com Heloisa Buarque de Holanda, assim como à questão da leitura, apresentada em dois artigos que
tratam do tema– sua prática no ensino fundamental e a importância de se ler José de Alencar.

Em seguida, o artigo de autoria de professores de Francês e de Inglês propõe a cooperação entre os setores de
tais línguas estrangeiras em nosso colégio. Trata-se de uma proposta inovadora e instigante no que diz respeito à
reflexão lingüística por parte do aprendiz.

Depois nos deparamos com dois textos que em comum apresentam novas maneiras de se viver. O primeiro, “O
ensino de arte: um outro mundo possível” relata uma experiência vivenciada por uma educadora preocupada
com o preparo de seu próprio material, tal como se fosse uma requintada, no sentido de acurada, refeição, com
todas suas implicações prazerosas. O segundo, por sua, vez, “Uma atitude sem pressa: antídoto para a ansiedade
improdutiva” propõe uma nova maneira de se comportar em um mundo em que a pressa impregna o cotidiano
até na alimentação.

Finalmente, fecha-se o número com algumas saudosas memórias do irmão de um ex-aluno capiano, Guilhermino
Abritta, e com uma resenha de um livro de histórias da mitologia africana.

É com alegria, então, que já começamos a nos animar para colocar mãos às letras para o sétimo número.

Teresa Coutinho Andrade


Editora-chefe
perspectiva@cap.ufrj.br
entrevista
Profª Heloísa
Buarque
de Hollanda
Muito se tem falado sobre o futuro
do livro impresso em meio ao avanço
tecnológico e ao consequente aparecimento
de novas mídias. Conversamos com a Profª
Heloísa Buarque de Hollanda, que fez
mestrado e doutorado em Literatura
Brasileira na UFRJ e pós-doutorado em
Sociologia da Cultura na Universidade de
Columbia, Nova York. Ela é coordenadora PERSPECTIVA: Livro, para Arlindo Machado, é “todo
e qualquer dispositivo através do qual uma civilização
do Programa Avançado de Cultura grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o
Contemporânea, diretora da Aeroplano conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de
seus sistemas de crenças e os voos de sua imaginação”.
Editora e Consultoria e curadora do Essa definição transcende a própria ideia de registro
Portal Literal. Seu campo de pesquisa escrito. O que está em crise: o paradigma sequencial
e linear do livro impresso ou o livro propriamente
privilegia a relação entre cultura e segundo a concepção de Machado?
desenvolvimento, dedicando-se às áreas
Heloísa Buarque De Hollanda: Acho que os dois.
de poesia, relações de gênero e étnicas, De um lado o texto , cada vez mais, se faz na forma de
culturas marginalizadas e cultural digital. hiperlinks, não linear, e não sequencial. Essa tendência,
você pode inclusive aferir na própria escrita dos autores
mais jovens que foram criados sob a égide da internet. É
um comportamento que está estruturando a percepção
e a escrita das novas gerações, e o livro começa a
acompanhar a necessidade de novos modelos não
lineares. De outro, o registro da memória e o registro
de práticas culturais cada vez mais se dá em suportes
vários, inclusive o livro, mas não apenas no papel
impresso do livro. Existem ainda experiências cada vez
mais frequentes de utilização de convergência de mídias,
ou seja, da utilização simultânea de suportes diversos.

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 3


entrevista

Arquivo Pessoal


O livro impresso se
PERSPECTIVA: A redução de custos pode levar os
meios digitais e os sistemas de hipertextos a substituírem torna certamente
o livro impresso?
obsoleto como
Heloísa: Acho que não. O livro impresso se torna
certamente obsoleto como referência, como suporte
referência, como
para a divulgação técnica e científica e para outros suporte para a
nichos da produção outrora confinada às editoras. Mas
certamente o livro impresso encontrará seu novo perfil divulgação técnica
e seus novos usos no caso do crescimento desse sistema
editorial de base digital. e científica...
PERSPECTIVA: A velocidade da geração de
Mas certamente
informações é muito diferente do tempo do encontrará seu novo
conhecimento. Essa velocidade torna obsoletas ideias
recentes, isto é, informações tecnológicas, por exemplo, perfil e seus novos
têm data de validade. Alguns especialistas afirmam que
é quase impossível dar conta de editar essa produção usos no caso do
frenética de informação sem correr o risco de retificação
crescimento desse


e perda de material impresso. Isso vai de encontro à
publicação de livros “de papel”? sistema editorial de
Heloísa: Acho que sim. As publicações marcadas base digital.
pela urgência de informação e divulgação encontrarão
melhor canal nas mídias digitais.

4 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
entrevista

PERSPECTIVA: Os escritores cujas obras são
divulgadas na internet (sites, blogs, etc) sofriam, a
princípio, certo preconceito, por serem rotulados como
aqueles que não conseguiram atrair editores. Como está
a internet é
essa situação? um ambiente
Heloísa: Acho que o preconceito é mais em torno da extraordinário
qualificação de “ literário” para os textos hospedados
na internet. Porque, em termos de visibilidade, todos já para divulgar
concordam que a internet é um ambiente extraordinário
para divulgar novos autores, estimular a vida literária e
novos autores,
mesmo para ajudar o editor a encontrar novos títulos. estimular a
PERSPECTIVA: Apesar da crescente publicação de vida literária
obras digitais, há autores que tentam restringir o acesso
a suas obras por esses meios. Essa resistência tem dias e mesmo para


contados, na sua opinião?
ajudar o editor a
Heloísa: Essa é uma questão comandada unicamente encontrar novos
pelo mercado. E o mercado está dando mostras de
que o acesso de obras na internet vem induzindo a títulos.
compra desses textos. Paulo Coelho, por exemplo,
tem disponibilizado sua obra na íntegra para download
gratuito. E não se pode dizer que Paulo Coelho não sabe
vender...

PERSPECTIVA: Como fica a questão da autoria em PERSPECTIVA: Como fica a literatura diante de
tempos de produção digital? todas essas mudanças?

Heloísa: Fica irreversivelmente mais aberta a Heloísa: Fica super feliz. Ela vai ganhar mais espaço,
experiências de criação compartilhada e novas formas mais visibilidade, mais leitores e mais facilidade de
não proprietárias de criação. O que é novo e promete criação. Se ela não gostar disso, estará vivendo um
um longo caminho pela frente. problema sério....

PERSPECTIVA: A tão divulgada facilidade digital


de ser compartimentada e transportada pode, como
anunciam alguns especialistas, promover a leitura?

Heloísa: Pode sim. Se você olhar em volta, a divulgação Heloisa Buarque de Hollanda é coordenadora do Programa
e o consumo da música e do cinema, por exemplo, dão Avançado de Cultura Contemporânea, diretora da
provas disso. Por que não a literatura? Aeroplano Editora e Consultoria e curadora do Portal
Literal. Fez Mestrado e Doutorado em Literatura Brasileira
PERSPECTIVA: Na sua opinião, o surgimento de um na UFRJ e pós doutorado em Sociologia da Cultura na
pequeno equipamento como o kindle redimensiona o Universidade de Columbia, Nova York.
conceito de aquisição de livros impressos? A ideia de ter
uma biblioteca pessoal pode dar lugar, no futuro, a um
acervo digital?

Heloísa: Depende apenas do seu projeto de leitura.


Ou a rapidez e a agilidade do acesso aos textos e sua
portabilidade, e os leitores estão cada vez mais móveis
e migrantes, ou se você quer o livro como fruição e
contato físico. Acho que o livro do futuro vai ter que
atender aos dois tipos de consumo.

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 5


língua portuguesa

Leitura no ensino
fundamental
uma prática mediada
Luciana Ferreira
Marise Leite
Natália Fernandes
Raquel Fonseca
Vanessa Barbosa

“EU NÃO TENHO TEMPO PARA LER”


A frase acima poderia ser dita por
qualquer um de nós. Afinal, a falta de tempo
é uma de nossas principais reclamações
ao longo de nossos turbulentos dias. Mas,
como ficamos nós educadores diante de Para que Literatura?
tal afirmativa? Será que a velocidade dos Para termos o direito ao sonho e
tempos modernos é incompatível com a garantia da realidade.
Olga de Sá
a leitura?

Segundo matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo,


de 29/05/08, a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, Tão urgente quanto a superação do desafio de formar
revelou que 45% dos brasileiros dizem que não gostam de leitores, talvez seja a tarefa anterior de romper,
ler. Segundo o balanço, realizado pelo Ibope (Instituto principalmente no meio escolar, com a aceitação de
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), a pedido do tal constatação que parece constituir-se em um dogma
Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê, em média, 4,7 livros que apregoa de forma permanente o dissabor e a
por ano, e compra ainda menos, média de 1,2 exemplar incompatibilidade dos jovens de hoje em relação à leitura.
a cada 12 meses. Diante de tais dolorosas informações Constatação esta que, por sua simples aceitação, muitas
não basta a constatação. Saber as causas desta situação vezes paralisa os trabalhos, fazendo com que não reste
e promover intervenções é mais do que necessário nada mais à escola a não ser conformar-se e lamentar
e cabem algumas reflexões. O que leva o brasileiro a o trágico desta situação. Tal como o personagem grego
não gostar de ler? Será que o avanço da tecnologia e o Sísifus em sua trágica rotina, a escola encontra-se em
aparecimento de novas mídias são os vilões prováveis um círculo vicioso de não exercitar a leitura porque os
desta histórias? Qual é a responsabilidade da escola e alunos não gostam de ler e, por conseguinte, os alunos
o nosso papel, enquanto professores em relação a esta não gostam de ler porque não exercitam a leitura.
situação? Será mesmo que o brasileiro não gosta de ler? Trágico realmente!

6 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
língua portuguesa
Entretanto, sendo a escola o espaço privilegiado de A mediação da leitura, uma prática a ser
educação, a ela cabe, com certeza, o esforço e a aceitação
do desafio de formar leitores . exercitada

Sem dúvidas, é tempo de repensar. É tempo de Aqui, novamente é um personagem clássico que nos
abandonar o que não deu certo, abandonando também sugere o caminho a ser seguido. Como observa o
ideias viciosas; é tempo de buscar novos caminhos e professor Marcos Bagno, tal como Ariadne que oferece
novas práticas que absorvam o novo, para que ao longo a Teseu um novelo de lã para que ele não se perca
do trajeto escolar nossas crianças e jovens possam no labirinto do monstruoso Minotauro, o papel do
perceber a fundamental importância da leitura e, se professor é o de mediador, é o de “ensinar a aprender,
possível, enxergar os livros com os mesmos olhos de e não apenas mostrar os caminhos”, mas também
Sartre para quem “Os livros foram os meus pássaros e os meus orientar o aluno para que desenvolva um olhar crítico
ninhos, meus animais domésticos, meus estábulos, meu campo. que lhe permita reconhecer, em meio ao labirinto, as
A biblioteca era o mundo fixado num espelho, tinha o tamanho trilhas que conduzem à compreensão .
infinito dele, sua variedade, sua imprevisibilidade”.
Portanto, ser mediador de leitura é oferecer mais do
De todos os desafios a superar, o de ultrapassar práticas que um caminho seguro e confortável. Este caminho
docentes desgastadas parece ser um dos maiores. tem um atalho que passa pela leitura compartilhada, na
qual o professor como leitor-guia promove o uso e o
exercício de estratégias de leitura como as previsões, as
antecipações, as inferências, a observação de pistas num
diálogo permanente com o texto, mostrando ao aluno,
leitor em formação, que ler é mais do que decodificar
ou ir do início ao fim do texto de forma passiva
esperando que este se autorrevele como se fosse algo a
ser consumido em largos goles.

Nessa tarefa de mediação da leitura, é de suma importância


que a interlocução com o texto, promovido e mediado
pelo professor, conduza a uma leitura comentada do
texto. A atividade de mediação prossegue com o professor
levantando questões, problematizando as situações
temáticas ou discursivas apresentadas pelo texto,
estimulando as várias leituras, os múltiplossentidos,
o debate, a reflexão, lançando luzes sobre as pistas
que a todo momento transpassam o texto, desafiando
o leitor a percebê-los e a decifrá-los, antecipando
situações futuras que levam o leitor a querer confirmar
as hipóteses apresentadas no processo de leitura em um
jogo de “decifra-me ou te devoro”.

Importante lembrar que esta construção não se dá


instantaneamente, mas demanda longo tempo e
ilustração por Juliana Montenegro

persistência através de um trabalho permanente, que


tem no prazer da descoberta e na superação de desafios
que os próprios textos oferecem a chave da compreensão
e do sucesso como leitor.

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 7


língua portuguesa
O que você está lendo?

Para que o professor possa realizar essa mediação de


leitura, de certo modo, deve ter um conhecimento dos Porcentagem
caminhos que seus alunos vêm trilhando como leitores.
Não estão lendo nenhum 22,40%
livro
Em uma pesquisa feita com os alunos do Ensino
Fundamental do Colégio de Aplicação da UFRJ, pode- Estão lendo algum livro 77,60%
se perceber bem quem é o público leitor com o qual os
docentes vêm trabalhando. Em muitas das colocações
dos estudantes, percebemos uma curiosa relação.
Quando os alunos afirmam que não gostam de ler
associam esse “ler” a textos tidos como “chatos”, “com
vocabulário difícil”, “com histórias longe da atualidade”. Para os
alunos, um livro chato é aquele em que eles não veem
nenhuma aplicabilidade imediata em suas vidas. Nessa
mesma enquete lançamos a vários alunos a seguinte
questão: O que você está lendo agora? As respostas vêm
transcritas nos quadros que se seguem:

Gênero textual Porcentagem Livros e periódicos mais citados

Revistas em quadrinhos 11,20% . Mangás (Naruto, Hunter X Hunter), gibis


da Turma da Mônica.

Revistas de adolescentes 1% . Revista Capricho, Revista Atrevida.

Jornais 2,4% . Lance, Meia Hora

Ficção 20% . Fala sério, mãe, de Talita Rebouças


contemporânea . Fala sério, pai, de Talita Rebouças
brasileira . Tudo por um feriado, de Talita Rebouças

Ficção . Querido diário otário, de Jim Benton


55,2%
contemporânea . O diário da princesa, de Meg Cabot
estrangeira . Goosebumps, de R. L. Stine
. Só Zoando, de Andy Griffiths
. Desventuras em série, de Lemony Snicket
. Formaturas infernais, de Meg Cabot,
Stephenie Meyer, Michele Jaffe,
Kim Harrison e Lauren Myracie
. série Harry Potter, de J. K. Rowling
. série Crepúsculo (Twilight), de Stephenie
Meyer
. O diário de Bridget Jones, de Helen Fielding
. Gossip Girl, de Cecily von Ziegesar
. Marley e eu, de Jahn Grogan

Literatura clássica 7,2% . Dom Carmurro, de Machado de Assis

8 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
língua portuguesa
Essas respostas nos fornecem exatamente a visão da indicadas eventualmente através de provas e testes; é o
relação que os alunos mantêm com a leitura. Um dado de construir este leitor que extrapola a decodificação e
importante é o de que entre os livros mais lidos estão entende o ato de ler como um exercício desafiador de
obras que se encaixam na nova tendência editorial de construção de sentidos .
produzir histórias em série (como as séries Crepúsculo,
Harry Potter e as histórias criadas pela brasileira Thalita Uma proposta para trabalhar com
Rebouças). Dessa constatação podemos tirar algumas
reflexões: essas leituras de séries como as de Stephenie Machado de Assis
Meyer cerceiam a busca de outros gêneros da literatura?
Os livros da escritora carioca Thalita Rebouças não são, Sendo considerado um dos mais importantes autores
na verdade, uma reduplicação do universo de nossos da literatura universal, Machado de Assis geralmente
alunos? Qual o desafio para esses leitores que essas é indicado para a leitura no Ensino Médio quando a
obras propõem? Há de fato um desafio nessas leituras? carga de trabalho escolar é bastante ampliada. Neste
cenário, o primeiro contato com este autor, na maioria
Nesse momento, a presença de um professor como das vezes, longe de ser o início de uma longa e agradável
mediador de leitura é necessária. A orientação ao aluno convivência, promove um divórcio definitivo. Antes de
para que ele analise sua “estrada de leitura” é um bom indicar a leitura deste e de outros autores clássicos, é
caminho. Mostrar aos alunos a importância de se refletir necessário que ao longo dos anos escolares formemos
sobre o que eles estão lendo e a variedade ou não de leitores que sejam capazes de ler e de compreender tais
gêneros é de fundamental importância para a construção obras. Mas como é possível oferecer Machado de Assis,
da criticidade desses leitores. por exemplo para o 6º ano? Terão condições de lê-lo,
saberão interlocutar com seus textos? E a linguagem,
não é muito distante da usada por alunos nesta faixa
Trabalhar com os clássicos no ensino etária? Sem dúvidas os questionamentos procedem, mas
fundamental é possível? há caminhos nem tão dolorosos!

Mais do que possível, é necessário!


Na enquete anterior, poucas obras clássicas foram
citadas em nossa pesquisa. É indiscutível a importância
da leitura dos clássicos na formação dos jovens, não
apenas por abordarem temas universais que exploram
as várias vertentes humanas, mas também por permitir é necessário
o contato dos alunos, leitores em formação, com
linguagens e estruturas discursivas mais elaboradas,
o exercício
que extrapolam a linguagem do cotidiano, abrindo permanente da
um mundo de possibilidades linguísticas, temáticas
e culturais. No dizer de Ítalo Calvino, “Os clássicos são leitura que pela
aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas
das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que sua constância vá
deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais
simplesmente na linguagem ou nos costumes.)”
do estranhamento
inicial promovido
Entretanto, por suas próprias características, os clássicos
não primam pela obviedade, não nos dizem tudo de pelo distanciamento
pronto, necessitando de um leitor experiente para
da linguagem do


interlocutar com o texto, assumindo-se como co-autor ,
abrindo as várias possibilidades de leituras e de sentidos
que o texto oferece. Para tal, é necessário o exercício
cotidiano ao prazer
permanente da leitura que pela sua constância vá do das descobertas.
estranhamento inicial promovido pelo distanciamento
da linguagem do cotidiano ao prazer das descobertas.
O papel da escola e do professor como promotores de
leituras é, portanto, maior do que o de avaliar as leituras

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 9


língua portuguesa


Desmistificando Machado...

Ir construindo leitores para Machado de Assis a partir


são escolhidos e lidos de
do 6º ano, desvendando aos poucos aspectos da obra do forma compartilhada em
autor, pode ser uma sugestão de trabalho no caminho de
formação de leitores para este autor. Nesta proposta, os sala de aula, permitindo
textos a serem trabalhados nos diversos anos escolares
no Ensino Fundamental são escolhidos e lidos de forma pela mediação do
compartilhada em sala de aula, permitindo pela mediação
do professor e contribuições dos colegas a superação
professor e contribuições


das possíveis dificuldades que o texto possa oferecer dos colegas a superação
em relação à linguagem, ao vocabulário, à temática, às
referências intertextuais, aos valores e comportamento das possíveis dificuldades
dos personagens entre outras. A proposta sugere:
que o texto possa oferecer

Ano Textos Aspectos a serem abordados Trabalhos sugeridos


escolar sugeridos

6º Conto de escola . A época de Machado de Assis . Produção textual (Exemplo: contos


sobre a escola);
Um apólogo . Roda de leitura com o conto “Um apólogo”;
. Trabalho com vocabulário através de jogos
didáticos;
. Debates sobre “modelos de escolas”.

7º Noite de almirante . O Rio de Machado de Assis . Trabalho iconográfico: comparação entre


o Rio de Janeiro de Machado de Assis
com o atual;
. Produção textual: contos sobre o bairro
onde os alunos vivem.

8º A cartomante . Os valores na época de . Juri simulado sobre o conto “Uns abraços”;


Machados de Assis . Debate sobre o conto “A cartomante”.
Uns abraços

9º A causa secreta . Os personagens de Machado de Assis . Dramatização dos contos.

O enfermeiro

O alienista

ReCAptulando algumas ideias... inadequadas de trabalho fazem com que o aluno


relacione estas leituras a tarefas maçantes e esvaziadas
O texto literário clássico é visto por muitos alunos de sentido. Por isso, é essencial que o professor não
com repulsa. No processo de aproveitamento dos se esqueça que a leitura de textos literários precisa se
textos de literatura para fins didáticos, algumas práticas relacionar ao prazer, pois é o prazer da leitura que

10 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
língua portuguesa
vai abrir as portas do fantástico mundo imaginário e Para isso, como mediador de leitura, o professor tem
permitir o rompimento das barreiras que separam o o importante papel de orientar os alunos a perceberem
mundo real daquelas muitas outras realidades possíveis que eles também são produtores de um discurso. Desse
criadas pela imaginação. modo, leitor e obra se completam, já que a “Leitura
ultrapassa a última página de um livro” (PONDE e YUNES,
É fundamental, portanto, que o trabalho com o texto 1988). Daí a importância de o professor exercitar a
literário privilegie o contato direto do aluno com a obra, leitura compartilhada. Afinal, é na vivência do texto
fazendo com que ele se relacione com a escrita literária literário que a literatura ganha vida.
e ganhe familiaridade com o poder “mágico” do texto
poético, sempre em um processo livre de imposições e
cobranças relacionadas a avaliações.

Dramatização dos alunos da turma 18-A a partir de contos do livro “Sete ossos e uma maldição”.

Indicações bibliográficas: ____________________ Como e por que ler os


clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro:
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito Objetiva, 2002.
da leitura. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.
PONDÉ, Glória e YUNES, Eliana. Leitura e
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de literatura infantil. São Paulo: FTD, 1988.
fadas. Tradução de Arlene
SANTOS, Joel Rufino dos. Quem ama literatura
Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. não estuda literatura: ensaios indisciplinados.
Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos.
São Paulo: Schwarcz Ltda., 2005. SARTRE, J.P. Que é a literatura? Tradução de
Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Ática, 2004.
MACHADO, Ana Maria. Contracorrente –
conversas sobre leitura e política.São Paulo: SÁ, Olga de. Introdução a Contos de cidadezinha
ABDR, 1999. de Ruth Guimarães. Centro Cultural Teresa D’
Ávila, 1996.

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 11


artes plásticas

O ensino em Arte:
um outro mundo
é possível?
Sandra Martins

Outro dia acordei assustada no meio da noite,


preocupada com o que faremos com todo o lixo que
acumulamos à nossa volta. Diria que, se fosse há algum
tempo atrás, provavelmente atribuiria tal preocupação
a um desses típicos ataques de TPM que costumam
atemorizar as mulheres quando se encontram nessa fase
em que quase tudo é motivo para desencadear medos,
tensões, preocupações e mau humor. Após refletir
melhor, percebi que provavelmente a culpa era da minha
recente menopausa. Portanto tentei me convencer de
que eram só peripécias dos benditos hormônios que
de vez em quando costumam atazanar as mulheres.
Qual nada... Acho que a preocupação era e é real. E
a pergunta que me faço é: o que faremos quando não
der mais para fingir que não vemos o lixo que vem se
acumulando, principalmente nas últimas décadas, para
as novas gerações? Diremos apenas, como na gíria, ih,
foi mal?

Recentemente, foi noticiado em todos os meios de


comunicação, que encontraram o tal lixo debaixo do
tapete: Ilustração por Cora Ribeiro

Foi durante uma alegre competição de barco a vela


que o oceanógrafo americano Charles Moore se deparou com algo
trágico: um gigantesco depósito de lixo em pleno mar. “Fiquei
impressionado, de repente estava no meio daquilo. Para onde eu
olhava, via lixo”, diz ele. A 500 milhas náuticas (cerca de 920
quilômetros) da costa da Califórnia, no oeste dos EUA, esse Nesse preciso momento, mesmo que queiramos, não dá
depósito estava e ainda está lá. A primeira e mais importante mais para tentar esconder.
questão é saber como essa mancha se formou e cresceu. A primeira
e mais importante resposta, impressionante e assustadora, é que Então a questão que se coloca é o quanto estamos
a grande sujeira que muitas vezes se tenta esconder debaixo do imbricados no modo de vida e produção atual a ponto
imenso tapete de mar é fruto da falta de consciência ambiental - um de não sermos capazes de alertar as novas gerações, de
dia ela aparece e bóia, um dia a atitude predatória vem à tona, modo contundente, que esse modelo de sociedade tem
ainda que seja em meio a uma tranquila regata. nos levado à beira de um precipício.

12 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html

artes plásticas
estamos imbricados no Imbuída de tais reflexões, remeto-me logo para o
meu ofício: professora de Artes Visuais do Ensino
modo de vida e produção Fundamental e Médio, chegando ao fim dessa etapa
produtiva. Em que contribuí para atenuar um pouco
atual a ponto de não esse despencar ladeira abaixo de tudo que é sólido e
parece que tende a se desmanchar embaixo do tapete da
sermos capazes de alertar calmaria do Oceano Pacífico?
as novas gerações, que Ao longo de quase 30 anos de carreira, vi e tentei fazer


esse modelo de sociedade coisas que me pareceram, de algum modo, propor outro
campo possível nos afetos, no contato com a natureza e
tem nos levado à beira de dessa com a arte, para mim mãe de todos os princípios,
sejam eles éticos, estéticos ou teleológicos.
um precipício.
Resolvi então recuperar uma experiência observada por
mim e que aguçou minha imaginação; uma experiência
de uma professora do Cap que, a meu ver, reúne um
pouco dessas condições para as quais a Arte e os
educadores em Arte, devem estar voltados.
Há pouco tempo tive a oportunidade de entrar
em contato com o trabalho de Zygmund Bauman, Os artistas, todos eles, ao longo do percurso de tempo
um sociólogo que tenta entender de que maneira a no qual estão inseridos - o tempo de sua história - se
sociedade moderna vem lidando com os problemas que manifestam dentro da tensão existente entre a realidade
estão colocados em nosso cotidiano. Ele desenvolve e o imaginário (pessoal e coletivo), realizando em sua
uma interessante e instigante teoria em que analisa a arte a síntese possível entre esses dois pólos. Esse é um
passagem de uma remota modernidade a qual define tempo antropológico, antropo-estético e antropo-ético,
como “pesada” e “sólida” para uma modernidade consolidado e permeado pela natureza em todas as suas
mais recente que qualifica como “leve” e “líquida”, em possíveis dimensões.
desenfreado dinamismo. Já no prefácio de seu livro
somos brindados com uma epígrafe de Paul Valéry, Tendo a achar que só nos conectamos com a essência
poeta francês do século XIX, que nos deixa entrever mesma da Arte quando penetramos nos ritos, nos cultos
o caminho pelo qual Bauman irá desenvolver seus e na sacralidade das coisas como aparições do mundo
argumentos. no qual vivemos. As imagens na TV são ritualizações
diárias de frascos de shampoos, sabões, bebidas
Interrupção, incoerência, surpresa são as condições refrescantes e efervescentes. Como vivermos sem
comuns de nossa vida. Elas se tornaram mesmo necessidades reais nos curvarmos aos templos do consumo, ao culto das
para muitas pessoas cujas mentes deixaram de ser alimentadas... imagens reificadas? Dessa maneira, é possível que a mais
por outra coisa que não mudanças repentinas e estímulos banal das ações cotidianas possa desencadear um universo
constantemente renovados ... Não podemos mais tolerar o que de possibilidades estético-cognitivas e afetivas, recebendo
dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos. ressignificações na própria esteira do consumo.
Assim toda a questão se reduz à mente humana
dominar o que a mente humana criou? O relato a seguir parte da experiência vivenciada por uma
Educadora em Arte, em uma turma de primeira série do
Ao analisar o modo pelo qual o indivíduo em sua versão Ensino Fundamental, que vem trilhando esse caminho
contemporânea se instaura, Bauman irá recorrer à há algum tempo. Uma de suas maiores preocupações é
história desse desenlace que ocorrerá com as relações fazer com que os alunos vivenciem os espaços próprios
sólidas, permanentes, compromissadas, na sociedade da Arte, gerando possibilidades de questionamentos
do início da modernidade, e a passagem para o estágio da obra nos espaços a elas consagrados: os museus, os
líquido, de fluidez, do descompromisso e do descartável centros culturais, as galerias. Porém existe uma outra
nas atuais relações vigentes entre as pessoas e destas coisa que a fascina. Como artista plástica, ela produz seus
com seu ambiente. Insistentemente ele chamará a próprios pigmentos, selecionando as melhores rochas e
atenção para a mudança do paradigma relacionado a minérios do terreno, observando as possibilidades de
espaço-tempo numa sociedade interligada em rede. gamas de cores ali obtidas, seu brilho, sua transparência,

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 13


artes plásticas
sua opacidade. Depois, cuidadosamente ela os tritura, Cabe dizer ainda, que esse momento sagrado desdobrou-
moe, peneira. À semelhança dos procedimentos típicos se em atividades e conversas que envolveram um longo
do ato de cozinhar. Pois justamente ali, na cozinha, processo criativo discutido e compartilhado por todos.
também estão os seus devaneios. Esta singela experiência transcorreu em uma turma
da professora de Arte e artista Plástica Anita Fiszon e
Como passar impunemente pelo aguçamento dos demonstra, no meu entender, como tudo pode ter um
sentidos que representa uma cozinha: paladares, cheiros, novo olhar, um sopro criativo, que se faz presente desde
formas e cores, texturas, chiados e repiques? Pois vai daí os bisontes nas cavernas de Lascaux, passando pelo Le
que ela resolve perguntar aos pequeninos em sala, como Déjeuner sur l’Herbe de Edouard Manet até o banquete com
acontece a refeição em suas casas. Deveriam observar, as crianças sobre as mesas “peripatéticas” (conforme
conversar com as pessoas envolvidas na situação e nossas necessidade, elas se deslocam pela sala de aula)
trazer, posteriormente, os seus relatórios. Conclusão da das salas de artes do Colégio de Aplicação.
tarefa: muitos se alimentavam de comidas do tipo “fast
food” e, invariavelmente, comiam sozinhos em frente à
televisão.

Pois, com a mesma base de comida empregada nas


refeições aligeiradas dos alunos, ela promove, na
pequena cozinha improvisada da escola, um pitéu
com cheiros e gostos dos mais variados temperos.
Em sala, sobre uma linda mesa enfeitada com papéis
coloridos pelos próprios alunos, é servido e degustado
coletivamente aquele lauto “banquete”. Os pequenos se
regalam e lambem os beiços. Cumpre-se a oferenda do
alimento. Os deuses podem se aquietar.

Indicações bibliográficas:

www.terra.com.br/istoe/edições/artigo71923-1.htm

BAUMAN, Zyngmunt. Modernidade Líquida. Trad.


Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p.7

14 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
sem fronteiras
Uma atitude
sem
pressa:
antídoto
para a ansiedade
improdutiva Isabel Cristina de Moura Carvalho

Slow food é um movimento social que Você já ouviu falar de um movimento social voltado
para a desaceleração do estilo de vida baseado na
se inicia na Itália em 1986, na cidade de comida rápida, a chamada “fast food” (aquela das redes
Bra na região de Piemonte, tendo como de lanches rápidos, comida industrializada, pré-pronta
entre outras)? Este movimento chama-se Slow Food e
símbolo o caracol. O evento fundador tem ganho maior visibilidade nos últimos anos entre
foi a mobilização em reposta à abertura os chamados movimentos sociais que lutam por um
outro mundo possível, e se articulam globalmente em
de um Mc Donald’s na Piazza Di Spagna, iniciativas como os Fóruns Sociais Mundiais, evento
em Roma. Neste momento o manifesto mundial que começou muito perto de nós, em Porto
Alegre nos anos 2000.
de lançamento do movimento declarava
que um firme empenho na defesa da Pois bem, dentro da esfera do movimento Slow uma
expressão particular, a Slow Atittude ou uma atitude sem
tranquilidade é a única forma de se opor pressa, começou a chamar minha atenção, destacando-
à loucura universal da Fast Life. se das centenas de informações, frases e imagens que
circulam na internet. E aqui devo reconhecer que, do
ponto de vista de uma ecologia mental, a internet, ao lado
de seu poder difusor de uma infinidade de senso comum,
também tem sido um espaço de articulação e difusão
de novas idéias, redes e movimentos contribuindo para
uma “globalização virtuosa”. Evidentemente, para o
cidadão da sociedade da informação, um tipo de catador

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 15


sem fronteiras


digital, o difícil e dispendioso em tempo e músculos (em
geral atrofiados) é filtrar esses fluxos, separar, reciclar,
descartar e selecionar o que vale a pena. Foi assim a
o movimento Slow
minha garimpagem da expressão slow atittude. Depois critica um dos motores
de descartada algumas vezes, a sedutora expressão
reaparecia aqui e ali, e terminei por seguir suas pistas. da sociedade da
produção e consumo
O estilo slow de ser movimento


acelerados que eu
Pude verificar, então, que as referências à expressão slow
atittude ou atitude sem pressa integravam o ideário do
chamaria de ansiedade
Slow Food, movimento que tem se firmado como parte de improdutiva.
um movimento ambiental altermundista (denominação
conferida aos novos movimentos mundiais por um
‘outro mundo possivel’). O ponto de partida do slow é
a valorização do alimento como cultura e a defesa dos clima persecutório que nos envolvem, produzindo uma
saberes, modos de vida, formas de produzir e estilos de patologia social que tem feito das fobias e depressões
consumir relacionados a uma comida saudável, limpa um traço quase epidêmico dos tempos que vivemos.
e justa. o movimento slow conjuga alimentação e gosto, No contraponto, o movimento Slow defende ambientes
mudança social e bem viver. A afirmação de identidades de trabalho e de convivência menos coercitivos e,
alimentares contra a padronização ganha materialidade portanto, mais produtivos e criativos, bem como uma
nas chamadas “comunidades do alimento”. Trata-se de atitude reflexiva e serena face às nossas
promover redes de agricultores, criadores, pescadores expectativas de aquisição e consumo.
e produtores artesanais ao redor do mundo em torno
de cadeias produtivas alimentares boas, justas e limpas.

Cartaz do evento Slow Food Nation de 2008, em São Francisco, EUA

Slow attitude ou “atitude sem pressa” é parte desse estilo


de viver, produzir e consumir que valoriza a bio e a
sócio diversidade, bem como um ideal de bem viver
que considera o direito ao tempo e aos prazeres de
uma vida simples, recusando a ideologia que associa
aceleração, eficiência e consumo ilimitado como ideal
de uma vida bem sucedida. Ao denunciar os dispositivos
de sequestro do tempo e do empobrecimento da
experiência humana, o movimento Slow critica um
dos motores da sociedade da produção e consumo
acelerados que eu chamaria de ansiedade improdutiva. Uma
espécie de combustível dessa sociedade, esse sintoma
psicossocial é a contrapartida psíquica da urgência e do

16 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
sem fronteiras
Uma educação para uma vida sem O que a escola pode fazer para
pressa é possível? incentivar uma atitude sem pressa?

Por tudo isso, penso que esse movimento e seus Não se trata de dar receitas, embora estejamos falando
desdobramentos merecem nossa atenção enquanto de um movimento eco-gastronômico, o Slow Food.
educadores, na medida em que podem ser tomados como Mas se a escola quiser contribuir para questionar
uma experiência social e pedagógica com potencial para a pressa, a velocidade tão valorizada pelos tempos
contribuir na formação de uma orientação saudável, contemporâneos, pode abrir um espaço de reflexão
não apenas na alimentação, mas também nas relações e constituição de posições críticas em relação ao
de trabalho, de convivência e nos nossos planos e imperativo que associa eficiência e rapidez. Esta
expectativas de uma vida boa. O Slow nos alerta para reflexão pode voltar-se para os próprios processos
todo um estilo de vida sereno e criativo que valoriza o pedagógicos e administrativos da gestão escolar, a vida
convívio humano e resiste ao imperativo do “do it now”. dos professores, as relações de trabalho. Essa busca por
Em português, o equivalente seria “faça isso agora”, ou um ponto de fuga da correria do dia a dia pode ter os
ainda pior: “faça isso para ontem!”. Assim, partindo da alunos como companheiros. Afinal, desacelerar é uma
premissa de que a educação tem algo a aprender com este atitude ecológica. Se o professor quiser, junto com seus
movimento, não seria interessante o exercício de pensar alunos, saber mais sobre este movimento social e munir-
uma “educação sem pressa”, ou ainda, uma “educação se de argumentos para a defesa da idéia de desacelerar
para uma vida sem pressa”? a vida, pode aventurar-se começando pelos caminhos
da atitude diante da alimentação desde o conceito de
slow food. A tradução desta ideia seria algo como “comer
lentamente” e, como vimos, fazer do preparo da comida
uma atividade de cuidado com a vida, e do momento
das refeições um tempo de encontro e convivência.
Tudo isto está em oposição à cultura do fast food, comida
rápida, industrializada, solitária.

Ilu
st
ra
çã
o Isabel C. M. Carvalho é
po
rJ psicóloga (PUCSP); mestre em
ul
ia
na Psicologia da Educação (IESAE/RJ) e doutora
Mo
nt
en em Educação (UFRGS). Tem trabalhado com
eg
ro educação e meio ambiente desde meados dos
anos 80, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Mora atualmente em Porto Alegre onde
trabalha como professora universitária na
PUCRS. É autora de livros e artigos sobre
educação ambiental e psicologia social.
www.isabelcarvalho.blog.br

Para saber mais, visite o site brasileiro Fundação


Slow Food: http://www.slowfoodbrasil.com

Se você leitor/a se interessou pelo assunto,


pesquise mais. Por exemplo, vá ao verbete
Slow Food na Wikipedia e leia o artigo da
Revista Vida Simples sobre o mesmo tema
http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/006/01.shtml

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 17


construindo pontes

Do you speak “français”


ou parlez-vous “English”?
Um diálogo possível entre os
setores de língua inglesa e
francesa no CAp-UFRJ
Eliane Cardoso Tibogue
João Carlos Teixeira de Mello
Na qualidade de professores de línguas
estrangeiras, avaliamos os encontros Maria Aparecida Gomes Ferreira
interdisciplinares envolvendo os nossos Raquel Souza de Oliveira
setores curriculares e como eles podem
proporcionar a consciência linguística
e o desenvolvimento educacional dos que, a despeito do inquestionável respaldo legal ao
alunos de educação básica. Assim sendo, ensino das línguas estrangeiras no contexto escolar,
ainda é imperativo para o trabalho docente cotidiano
decidimos realizar, com nossas turmas do preencher de significado educacional e social o ensino
6º ano, um trabalho integrando o inglês e das línguas estrangeiras nas escolas. Não raramente
professores dessa disciplina são questionados – direta
o francês por meio de palavras cognatas. ou indiretamente – por alguns membros da comunidade
Apesar de ter sido uma experiência escolar (alunos, pais ou pares) quanto à pertinência de
sua disciplina no currículo da educação básica. No
embrionária, ela se mostrou bastante caso particular dos professores de língua inglesa, existe
fértil na construção do aluno de língua ainda o fato de muitos de seus alunos serem igualmente
aprendizes dessa língua no contexto de cursos
estrangeira como aprendiz mais autônomo livres, o que, inevitavelmente, provoca comparações.
e reflexivo sobre a linguagem e seus usos. Infelizmente, estes cotejos entre o ensino-aprendizagem
de inglês na escola e o de cursos livres costumam atuar
a partir de uma lógica binária, ou seja, enquanto um é
Apesar de o ensino de língua estrangeira ser um direito entendido como bom, o outro é visto como ruim (e é
legalmente assegurado na educação básica a partir do recorrente o trabalho de ensino-aprendizagem do inglês
6º ano do ensino fundamental (Cf. a Lei de Diretrizes e na escola ocupar o pólo de menor autoridade). Por essa
Bases da Educação de 1996), alguns estudos denunciam razão, entendemos que é, de fato, uma das tarefas dos
o desprestígio que essa disciplina continua a ter em professores de língua estrangeira tornar os processos
muitas comunidades escolares brasileiras, como bem de ensino-aprendizagem de sua matéria de maneira
sinalizam vários pesquisadores brasileiros (dentre relevante social e educacionalmente para seus alunos e
eles, Moita Lopes, 1996 e Paiva, 2003). Isso significa para sua comunidade escolar como um todo.

18 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
construindo pontes
Foto por Maria Aparecida Gomes Ferreira

Painel introdutório da exposição “Do you speak “français” ou parlez-vous “English”?”

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: livres. É comum, em muitos cursos livres de inglês,
“terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira por exemplo, a proibição do uso da língua do aprendiz
(1998), o ensino de uma língua estrangeira nas escolas pode em contexto de sala de aula, por se acreditar que a
oferecer ao aprendiz muito além da aquisição das quatro língua materna prejudicaria o processo de “aquisição”
habilidades referentes a uma língua (ler, escrever, ouvir e falar)”. da língua estrangeira e por se crer que aprender uma
Uma das prerrogativas que o ensino de outra língua na língua estrangeira é meramente um processo de se
escola pode dedicar ao aluno do ensino fundamental é adquirir hábitos linguísticos na língua alvo por meio da
fazer com que ele se torne um aprendiz-usuário mais automação. O objetivo do ensino acaba se restringindo
consciente e crítico da linguagem. A compreensão dos a fazer do aluno um simples (e passivo) usuário de uma
mecanismos de funcionamento da linguagem beneficia língua estrangeira, sem que haja a preocupação de
não só os processos de ensino-aprendizagem da familiarizá-lo ao exercício da reflexão crítica sobre essa
própria língua estrangeira, como, igualmente, favorece outra língua (e também sobre a sua própria).
o incremento de seu conhecimento em língua materna.
Em face disso, é possível perceber que o documento Por desdobramento ao trabalho de interface entre uma
acima citado encaminha a proposta de um trabalho em língua estrangeira ensinada na escola e a língua materna
sala de aula que, sempre que possível, compare a língua dos alunos, muitos são os melhoramentos educacionais
estrangeira e a língua materna do aluno, porque entende advindos do trabalho interdisciplinar entre as equipes
que há ganhos pedagógicos para os participantes desse de língua estrangeira. Atividades conjugadas por esses
contexto quando essa estratégia é abraçada. De fato, setores curriculares podem ajudar a tornar explícitas
isso já marca um diferencial entre o trabalho de ensino- para os alunos as relações que determinadas línguas
aprendizagem de uma língua estrangeira em contexto estrangeiras mantêm entre si. Além disso, é necessário
escolar e aquele desenvolvido usualmente em cursos grifar que uma educação linguística plural é, sobretudo,

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 19


construindo pontes
para construir significado nessa língua, as professoras
de inglês, já no 1º semestre de 2009, discutiram
com seus alunos o conceito de “cognato”. Convém
esclarecer que um cognato é habitualmente definido
como uma palavra de uma língua que é parecida com
outra em um idioma diferente, havendo, em ambas as
línguas, uma equivalência de significado (um exemplo
de palavras cognatas em inglês e português são,
respectivamente, April e abril). Uma vez ambientados
com esse conceito, os alunos e as professoras analisaram
diversas palavras cognatas em português e inglês.
Entendemos que um trabalho de língua estrangeira
que busque criar autonomia do aluno em relação à sua
própria aprendizagem precisa, igualmente, ajudar esses
discentes a entender o que eles estão fazendo (e o modo
como efetuam esses usos em outra língua). Por isso, esse
conceito foi antecipado no currículo de língua inglesa
do colégio, para que os jovens aprendizes dessa língua
estrangeira já tomassem ciência de determinadas pistas
(no caso, os cognatos) que nos norteiam na negociação
de significados nas práticas discursivas.

O segundo momento desse trabalho se deu a partir da


integração dessa prática das professoras de inglês com a
Aluno Matheus (turma 19A) prestigiando os painéis da exposição. dos professores de francês do 6º ano. Com o propósito
de fazer com que os nossos alunos operacionalizassem
esse conceito de cognato em sua aprendizagem do inglês
uma ferramenta poderosa para que esses alunos se
e do francês, apresentamos, brevemente, o contexto
engajem nas negociações discursivas, inclusive em escala
histórico de intercâmbio entre essas duas línguas,
global. Buscando dar os passos iniciais na construção
sobretudo a partir do século XI, cujo marco foi a
dessas prerrogativas linguísticas e educacionais na
conquista da Inglaterra pelos Normandos. Em seguida,
formação dos alunos de 6º ano do CAp-UFRJ, concebeu-
elegemos 12 grupos de palavras em inglês (temas) de
se, no 2º semestre de 2009, um trabalho interdisciplinar
aproximadamente 15 vocábulos, dos quais alguns eram
entre os setores de língua inglesa e francesa, sob a
cognatos com o francês. Para 11 desses 12 temas, adotou-
orientação das professoras Maria Aparecida Gomes
se como critério de seleção vocabular a existência de
Ferreira e Raquel Souza de Oliveira (setor de língua
um vínculo entre as palavras de cada grupo balizado a
inglesa) e os professores Eliane Cardoso Tibogue e João
partir de um significado mais abrangente em comum.
Carlos Teixeira de Mello (setor de língua francesa).
Assim sendo, os 11 temas foram os seguintes (com suas
denominações em inglês e francês, respectivamente):
Na realidade do CAp-UFRJ, ao ingressarem no 6º ano, os
1.animais (animals/animaux); 2.profissões (occupations/
alunos começam a ter aulas de duas línguas estrangeiras:
professions); 3. esportes (sports/sports); 4.membros da
inglês e francês. Trata-se, portanto, de duas expressivas
família (family/famille); 5.comida (food/nourriture);
novidades a um só tempo em sua grade escolar. É
6.formas geométricas (geometric shapes/ figures géométriques);
possível se verificar que, para alguns aprendizes (e
7.instrumentos musicais (musical instruments/instruments de
alguns de seus respectivos responsáveis), esse contato
musique); 8.meios de transporte (means of transportation/
formal com essas línguas estrangeiras se dá por meio de
moyens de transport); 9.edifícios (buildings/bâtiments);
certa ansiedade, não só porque o novo é frequentemente
10.nacionalidades (nacionalities/nationalités) e 11.matérias
visto como amedrontador, mas também porque se receia
escolares (school Subjects/matières du collège). Propusemos
que a aprendizagem concomitante de duas ou mais
que as duas turmas do 6º ano se organizassem em grupos
línguas estrangeiras possa embaraçar o aprendizado de
de 5 componentes e que os alunos buscassem as palavras
uma ou de ambas, em virtude das interferências. Com a
em francês equivalentes àquelas em inglês do tema pelo
finalidade de apresentar prontamente ao corpo discente
qual cada grupo estava responsável. Já quanto ao tema
ingressante no 6º ano algumas estratégias das quais
12, nomeado ‘outras palavras’ (other words / d’autres
um aprendiz de uma língua estrangeira pode se valer

20 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
construindo pontes
de aula para leitura de textos: o uso de pistas visuais para
a compreensão daqueles.

Em sala de aula, passeando por momentos de maior


enfoque teórico e outros de maior enfoque prático e de
ludicidade, várias atividades foram desenvolvidas com
nossos alunos. Porém, partindo-se da premissa de que
a aprendizagem está longe de se restringir ao espaço
da sala de aula, e que ela se efetua na interação que
mantemos com o outro, a divulgação desse trabalho na
Semana de Arte, Ciência e Cultura, por um lado, possibilitou
a socialização dos nossos ganhos de aprendizagem
graças à integração dessas duas línguas estrangeiras.
Um saber, portanto, que procuramos compartilhar
com outros membros da comunidade escolar. Por outro
Um dos doze painéis expostos: tema “buildings/bâtiments”
lado, essa exposição buscou também explicitar que a
conjugação dos processos de ensino-aprendizagem
mots), o desafio ao grupo se mostrou ainda maior. Isso
de diferentes línguas estrangeiras pode convergir na
porque cabia às alunas que sortearam esse tema resgatar,
formação de uma maior consciência linguística e crítica
de suas aulas de inglês e francês até aquela data, palavras
do aprendiz diante das línguas que ele está aprendendo,
aleatórias que eram cognatas nessas duas línguas. Após
mesmo se tratando de um jovem aprendiz.
toda essa empreitada, os 12 grupos tiveram que sinalizar
quais eram os cognatos em inglês e francês daquele tema
Ao término desse trabalho integrado entre os setores
a que se dedicaram. Para a consecução dessa tarefa, o
de língua inglesa e língua francesa, ajuizamos, na
conhecimento sobre cognato teve que, outra vez, ser
qualidade de docentes, que houve o desenvolvimento de
mobilizado. Cabe ressaltar que alguns desses vocábulos
nossas práticas pedagógicas graças ao diálogo fecundo
representaram novo aprendizado para os alunos durante
mantido entre nós ao longo desse período. Tendo em
o processo, de forma que, antes de sinalizarem a relação
vista que essa atividade mobilizou vários saberes,
cognata dos vocábulos entre inglês e francês, houve
estratégias e aprendizagens, igualmente apreciamos que
também um momento de tradução desses vocábulos
os benefícios que os alunos poderiam dela depreender
para o português.
são os seguintes:
Por entender que os proveitos dessa integração entre os
1- o aprendizado de que as línguas estrangeiras podem
trabalhos dos setores de língua inglesa e de língua francesa
ter origens em comum e que os cognatos lançam luz
com o 6º ano não deveriam ficar restritos apenas a nós,
quanto a essa identidade entre elas;
professores e alunos dessa série, decidimos expor, sob a
2- o estudo dos vocábulos cognatos em inglês e francês
forma de painéis, o produto dessa nossa aprendizagem
– e, portanto, o próprio conceito de cognato – confirma
em um evento anual do colégio, intitulado Semana de
que a aprendizagem do inglês pode auxiliá-los na
Arte, Ciência e Cultura. No ano de 2009 – ano esse
aprendizagem do francês (e vice-versa);
quando tal evento completava sua 15º edição – os painéis
3- a compreensão de que o conceito de cognato é caro
foram apresentados sob o título Do you speak “français”
para o aprendizado de uma língua estrangeira (quer seja
ou parlez-vous “English”? Um estudo comparativo
comparando-a a outra língua estrangeira ou à língua
entre palavras francesas e inglesas. Para elaboração dos
materna);
painéis, os alunos foram orientados, então, a escolher
4- o exercício de desenvolver habilidades para trabalhar
6 das palavras descobertas cognatas (em inglês e
em conjunto, reconhecendo na interação o lugar fértil
francês) e buscar ilustrações que representassem aqueles
para a construção de conhecimento;
vocábulos. Outra estratégia muito usada na leitura em
5- o desenvolvimento de sua autonomia no uso dessas
língua estrangeira é a exploração de recursos visuais que
estratégias para leitura e construção de significado nos
possam compor o texto em questão. Sabendo, portanto,
dois idiomas.
que confeccionamos significados a partir das imagens e
que, para a construção de sentido em língua estrangeira,
Confiamos que um olhar mais primoroso que incida na
devemos extravasar o estritamente linguístico, nessa
educação multilíngue, sobretudo em uma escola pública
atividade, os alunos estariam colocando em prática,
brasileira, poderá enxergar ali uma diversidade de ganhos
mais uma vez, outro saber bastante trabalhado em sala

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 21


construindo pontes

Três dos sessenta alunos que participaram da elaboração do trabalho: Laura, Maria Clara e Isabella (turma 16A)

não só para os processos de ensino-aprendizagem


das línguas em tela, mas para a formação educacional
dos alunos como um todo. Ratificamos, assim, não
só a importância do ensino de línguas estrangeiras
no currículo escolar, como também a relevância de
trabalhos interdisciplinares que busquem a construção
de “pontes” entre as disciplinas, que favoreçam o
aprendizado de nossos alunos e que os levem à sua
autonomia como aprendizes. E, sob a perspectiva
docente, sublinhamos o grande valor profissional de,
por meio de projetos e trabalhos que atravessem as
Sugestões de leitura:
fronteiras disciplinares, aprendermos com os nossos
pares de outros setores.
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares
nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/
Maria Aparecida Gomes Ferreira é professora de SEF, 1998.
inglês do CAp-UFRJ. Graduou-se pela UFRJ e é
mestre em Linguística Aplicada pela UFRJ. MOITA LOPES, L. P. da. Oficina de Linguística
Aplicada: a natureza social e educacional dos
Raquel Souza de Oliveira é professora de inglês do processos de ensino/aprendizagem de línguas.
CAp-UFRJ. Graduou-se pela UFRJ e é mestre em Campinas, SP. Mercado de Letras, 1996.
Linguística Aplicada pela UFRJ.
PAIVA, V. L. M. O. A LDB e a legislação vigente
Eliane Cardoso Tibogue é professora de francês do sobre o ensino e a formação de professor de
CAp-UFRJ. Graduou-se pela UFRJ. língua inglesa. In: STEVENS, C. M. T. e CUNHA,
M. J. Caminhos e Colheitas: ensino e pesquisa na
João Carlos Teixeira de Mello é professor de francês área de inglês no Brasil. Brasília: UnB, 2003. p.
do CAp-UFRJ. Graduou-se pela UFRJ e é mestre 53-84. http://www.veramenezes.com/ensino.htm
em Literaturas Francófonas pela UFF. Acesso em: 06/11/2009.

22 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
opinião
Como e por que ler
José de Alencar Ana Crelia Dias
Antônio Carlos Secchin

Há muito se fala em dificuldade de atrair


os jovens para a leitura. Entretanto, hoje
essa dificuldade precisa ser analisada sob
outra perspectiva, uma vez que, ligados à
rede mundial de computadores, eles lêem
muito. Por isso, o impasse se deslocou para
a relação deles com a leitura de livros.
Outro senão se aponta: como afirmar que
os jovens não lêem livros, se as listas dos
mais vendidos mostra o contrário? Há
ou não uma juventude ávida por Harry
“este grande império, que a previdência Potter, Crepúsculo e tantos outros best-
rasga infindos horizontes, é uma nação oca; sellers? Delimitando ainda mais nossa
não tem poesia nativa, nem perfume seu.” questão, chegamos a um ponto talvez
ALENCAR, J. Edição crítica de Iracema.
mais preciso – lê-se muito pouco boa
literatura. Como aproximar esse público
dos grandes textos literários?

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 23


opinião
Se isso já é difícil quando se trata de autores Tratemos de José de Alencar. A leitura de suas obras,
contemporâneos, mais complexo se mostra o painel geralmente, representa um grande obstáculo para
quando tratamos dos clássicos. O encontro de alunos do os alunos; isso quando o projeto não é evitado pelo
Ensino Médio com textos do século XIX, por exemplo, próprio professor, que não sustenta a tarefa de defender
mostra-se quase sempre como “enfadonho”, “pouco a importância do escritor.
útil para a vida prática”, como argumentam eles. Essa
temática se torna mais passível de discussão quando O romancista foi dono de um dos maiores projetos
o aluno percebe que o vestibular vai fazer o acerto de político-ideológico-literários de nossa literatura. Em
contas, isto é, cobrará intimidade com a leitura de textos toda a Europa, o Romantismo – movimento em que ele
clássicos. Enfim, são muitas as variáveis a serem listadas se insere – lançou-se à busca das origens da nação, a fim
quando o assunto é aproximar leitores jovens de uma de exaltar-lhe um passado de glória. O crítico Silvio Elia
literatura tão distante temporalmente de seus valores e assim define esse movimento: “a generalização de um
expectativas. sentimento de fuga à realidade social, em busca de um
refúgio solitário, em colóquio com a natureza, capaz de
Entretanto, reconhecer essa dificuldade não significa nos conduzir às fontes puras que nos haviam gerado em
endossar a ausência de bons livros literários na formação nossa autenticidade primitiva.” O nacionalismo, aliado à
de nossa juventude. Entender a relação imediatista atitude romântica de idealização, requeria história a ser
deles com a informação não pode significar aderir à cantada. E nosso escritor, tomando para si a tarefa de
sistematização de uma cultura enlatada, pronta para o cantar o Brasil, encontra um país sem registro histórico,
consumo entre um reality show e outro. À escola – nem sem passado nem glória. Funda então o mito de nação
entremos no mérito das famílias – cabe o papel de tendo o índio como símbolo maior, para atender ao
formação. Apresentar o jovem aos textos que constituem propósito de busca nostálgica de um passado mítico.
o pilar de sua literatura é tarefa dela. A leitura de best- O conceito de brasilidade inaugura-se como sinônimo
sellers não precisa de promoção. da busca do realce da “cor local”, por meio do relevo
das peculiaridades e torna-se compromisso necessário à
projeção do país por meio da literatura.

José Maria de Medeiros, A personagem Iracema do romance de José de Alencar, RJ, Museu Nacional e Belas Artes, 1881.

24 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
opinião
Os escritos alencarianos encontraram leitores ávidos e
seus textos espalhavam-se em folhetins nos salões de
leitura. Quando escreveu seu primeiro romance, Cinco
minutos, encontrou um público já costumado à leitura
de romances. O guarani, publicado inicialmente em
folhetim, conferiu-lhe grande notoriedade. Foi, assim,
considerado o fundador do romance nacional de caráter
“épico”. Seu percurso deixou, sem dúvidas, caminho
aberto para escritores como Machado de Assis, Aluísio
Azevedo, Artur Azevedo, entre tantos outros que o
sucederam.

Além disso, nosso romancista foi exímio contador de


histórias. Suas peripécias narrativas exibem inteligência
e excelente capacidade de imaginação. Os romances
urbanos encenam flashs da vida social da corte; os rurais
e indianistas trazem curiosidades dos viventes daquelas
localidades; os históricos capturam episódios do
passado para dar visibilidade a episódios que enaltecem
a heroicidade do nosso povo. Tudo isso composto de
modo a que, inesperadamente, os fatos tomem rumos
diferentes, prendendo o leitor ao texto.

Os alunos desgostam de Alencar porque não se


Fac-simile do Jornal do Comércio de 29 de setembro de 1865.
reconhecem nos seus romances, ou sequer entendem
o que ali é dito. Certos autores merecem tratamento
suplementar, para além do literário. Uma boa
O projeto indianista do escritor – composto da tríade compreensão do Brasil do século XIX facilitaria muito
O guarani, Iracema e Ubirajara, foi a experiência mais a aceitação do autor. Na falta desse referencial, todo
radical na tentativa de fundação do mito brasileiro, escritor é automaticamente lido como “contemporâneo”,
pois, ao retratar a paisagem, a alma e as lendas, o quando bem poucos o são.
escritor enfrentou muitas críticas, que se dirigiam,
principalmente, a uma suposta perspectiva colonizadora,
ignorando-lhe o primoroso trabalho linguístico e o
propósito de construção de identidade em uma nação
vazia, projeto que o autor declara ser sua “missão” na
obra Como e porque sou romancista.

A adesão do autor aos anseios românticos de rebeldia


e aos ideais libertários mostrou-se no projeto de
construção de contorno e identidade para um país
recente, e a promoção da natureza exuberante tornou-
se material para exaltar peculiaridades brasileiras em
contraponto com as características da metrópole.
Mapeou o Brasil em termos geográficos: escreveu obras
que têm como cenário diferentes realidades do país.

Vale ressaltar o apuradíssimo trabalho linguístico.


Alencar entendia que a defesa da língua era a mais José de Alencar, “O Guarani”, 1º edição, 1857 e Capa do livro “A Confederação
genuína forma de afirmação de identidade. Seus dos Tamoios”, da coleção imperial, com dedicatória de Gonçalves Magalhães,
romances empreenderam sofisticadas construções MG, Museu Mariano Procópio, 1836.
– Iracema, sem dúvida, é resultado de grande lavor
linguístico e literário, com forte veia poética.

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 25


opinião
O lapso temporal existente entre obra e leitores requer
mediação. É preciso que os professores leiam a obra
do nosso romancista e acompanhem seus alunos nesse
projeto de formação por meio da literatura. Associar a
obra ao contexto em que ela está inserida e ao projeto
do autor pode ser uma forma de diminuir essa distância
e promover um encontro com um escritor de grande
importância para a construção da história literária e
cultural do nosso país.

Na escola, a leitura dos clássicos torna-se obrigatória.


E como ler Alencar com alunos de Ensino Médio, em
tempos de era digital e leitura esquemática de blogs?
Ideal é que, em termos de leitura, nada fosse obrigatório,
ou, se o fosse, que ao menos não se seguisse a linearidade
cronológica. Intuir o momento (e o modo) de “lançar”
um autor em sala é qualidade do bom professor.

Ana Crelia Dias é professora do Colégio de


Aplicação da UFRJ; professora do Curso de
Especialização em Literatura Infantil e Juvenil
da UFRJ; doutora em Letras.

Obras de José de Alencar:


Antônio Carlos Secchin é membro da Academia
Brasileira de Letras, professor titular de
I Romances urbanos:
literatura brasileira da UFRJ, doutor em letras,
Cinco minutos (1857);
poeta e ensaísta, com dez livros publicados.
A viuvinha (1860);
Lucíola (1862);
Diva (1864);
A pata da gazela (1870);
Sonhos d’ouro (1872);
Senhora (1875);
Encarnação (1893, póstumo).

II Romances históricos e/ou indianistas:


O Guarani (1857);
Iracema (1865);
As minas de prata (1865);
Alfarrábios (1873);
Ubirajara (1874);
Guerra dos mascates (1873).

III Romances regionalistas:


O gaúcho (1870);
O tronco do ipê (1871);
Til (1872);
O sertanejo (1875).

26 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
memória
Memórias
de um colégio
Teócrito Abritta

Ao abrir o jornal, lá estava a fotografia e


reportagem. Guilhermino parecia esquecido
e perdido, saindo da fotografia no canto
esquerdo. Mas ele foi lembrado pelos seus
colegas (ver Figuras 1 e 2). A última vez
que vi aquela turma, tinha dezessete anos e
foi para levar a triste notícia do falecimento
de meu irmão, na noite anterior, por coma
diabético, quando cursava o 1º Clássico (ver
Figura 3).
Figura 1 – Ginasial B. O Globo, 27 de julho de 2008
Para falar de Guilhermino Abritta, com
sua vida tão breve, falarei um pouco de seu
tempo e de seu colégio, como incentivo,
não só aos jovens estudantes de hoje,
como aos professores que continuam
trabalhando por um melhor ensino e
educação em nosso país

A década de 60 testemunhou uma das


mais fantásticas experiências educacionais
brasileira, que foi o Colégio de Aplicação,
da antiga Faculdade Nacional de Filosofia
da Universidade do Brasil. Neste colégio,
conhecido como CAp, os estudantes não
só tinham um ensino de qualidade, como
eram despertados para a democracia
e cidadania com grande independência intelectual. Figura 2 – Ginasial B. O Globo, 27 de julho de 2008
Para isto, eram incentivados a participar de clubes

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 27


memória

Figura 3 – Estudantes do Colégio de Aplicação. Guilhermino Abritta é o primeiro aluno em pé à esquerda.

de ciências, história e geografia. Tinham o apoio conceitual (Alzira Alves de Abreu, Intelectuais e Guerreiros:
de excursões culturais, contavam com serviço de O Colégio de Aplicação da UFRJ de 1948 a 1968 – Editora
orientação educacional com psicólogos que os assistiam, da UFRJ, Rio de Janeiro – 1992, ver Figura 4).
participavam de palestras com personalidades de nossa
cultura, recebendo uma educação a mais completa Infelizmente experiências educacionais como esta,
possível neste colégio público. juntamente com o plano de alfabetização de adultos de
Paulo Freire e todas as contribuições e experiências desde
Neste ambiente intelectualmente estimulante, Clarice Anísio Teixeira a Darcy Ribeiro, foram abortadas pela
Lispector falava sobre o conto moderno e apresentou ditadura e mantidas soterradas por muitos governos, que
seu livro, ainda inédito, A Maçã no Escuro. Adonias preferem uma geração passiva, obedecendo as palavras
Filho falou sobre seu livro recém lançado na época, de ordem dos partidos de sua chamada base política, e
Corpo Vivo. Outros escritores e pessoas
atuantes em nossa cultura sempre
davam sua colaboração a estes jovens,
como Fernando Sabino, Jorge Amado,
Manuel Bandeira, jornalistas como
Jânio de Freitas e Zuenir Ventura e
vários músicos, artistas, cientistas e
historiadores da época.

Esta efervescência cultural lhes dava


grande independência intelectual,
com os estudantes se manifestando
em seu jornal A Forja. Isto fazia com
que estes jovens não se filiassem
facilmente a partidos ou grupos
políticos, por considerarem as análises
e interpretações da sociedade brasileira
por eles produzidas, insuficientes e
fracas do ponto de vista teórico e
Figura 4 – Celeiro de Rebeldes

28 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
memória
um povo comandado pelos big brothers televisivos.

Os golpistas de 1964 também lançaram suas campanhas


populares, como “Ouro Para o Bem do Brasil”. Como
em um filme de piratas, os organizadores desta coleta,
achando-se mais necessitados do que o Brasil, sumiram
com o ouro arrecadado, inclusive com as alianças do
Marechal Castelo Branco, doadas como um grande
exemplo de patriotismo. Guilhermino preparou uma
sátira a esta campanha, que não chegou a ser enviada ao
jornal A Forja (ver Figura 5).

Com estas poucas palavras, deixando as imagens falarem


mais, avivo as pegadas de Guilhermino, lembrando-me
também deste colégio, que de uma maneira ou outra
muito me influenciou.

Figura 5 “Ouro para o bem do Brasil”


Teócrita Abritta é Físico e
Escritor, Professor aposentado do
Instituto de Física da UFRJ
Arquivo pessoal família Abritta

Figura 6 - foto do dia de formatura da turma no ginásio em 1963

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 29


resenha

A mitologia
africana em
sala de aula
Claudio Lourenço de Oliveira

Resenha dos livros, Ifá, o adivinho (2002), Xangô, o Trovão


(2003) e Oxumarê, o Arco-Íris (2005), de Reginaldo Prandi
Companhia das Letrinhas.

os personagens. Assim, a narrativa que relata as aventuras


do rei de Oió, Xangô, recebem como fundo de página a
cor vermelha, que representa simbolicamente o orixá, e
“O rei que punha fogo pela boca” é apenas uma de tantas sua imagem, que é transportada do imaginário oralizado
outras narrativas da mitologia africana encontradas das histórias para uma forma concreta. No que se refere
na trilogia para crianças e jovens leitores do escritor à ilustração de Xangô, além da figura imponente, há
Reginaldo Prandi, também sociólogo que estuda a outros elementos que a compõem, como vestimenta,
preservação da memória cultural afro-brasileira, com cores e os adereços. O principal símbolo do deus do
ilustrações de Pedro Rafael, artista plástico e restaurador. trovão é o machado de dupla ponta, o oxé, que, segundo
Ifá, o adivinho (2002), Xangô, o Trovão (2003) e Oxumarê, o próprio autor, representa a justiça. Dessa forma, esses
o Arco-Íris (2005) fazem parte dessa trilogia publicada elementos passam a fazer parte da construção narrativa
pela Companhia das Letrinhas com média de R$ 39,00 de maneira a acrescentar informações.
cada livro. As duas primeiras obras foram laureadas
com o certificado do “Livro Altamente Recomendável” O autor da trilogia para a literatura infantil e juvenil,
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em Prandi, no final da obra, apresenta aos leitores um
2003, entre outras premiações. glossário. Nele, o autor, explicita todas as características
dos orixás citados na obra, como o elemento
Todas as histórias presentes nessas obras são adaptações representativo (terra, fogo, água, etc.), arquétipo,
para o jovem leitor do livro Mitologia dos Orixás (2001), cor, símbolo, saudação, dia da semana e o número de
também de Prandi, voltado para o público adulto. Essas cada um dos deuses africanos. Esse aspecto textual,
narrativas fazem parte do patrimônio cultural que o sem dúvida, colabora para um melhor entendimento
Brasil herdou de África. Embora possam ser lidos como das histórias, principalmente para aqueles leitores que
livros independentes, esses três volumes apresentam, estão tendo pela primeira vez contato com a cultura e a
no conjunto, a mitologia básica dos principais orixás tradição africana.
cultuados no Brasil.
Todos os livros da trilogia retratam de maneira bem
Nos contos, apesar de um mesmo tema ser tratado, sistematizada o povo e a cultura afro-brasileira.
ou seja, os orixás e a relação deles com o humano Abordam e resgatam a identidade cultural de uma
e o universo, há quebra de narrativa de uma história minoria marcada pela desvalorização de sua etnia e
para outra. Dessa maneira, os textos podem ser lidos sempre vista por um olhar europeizante. Esses contos,
separadamente em sala de aula e, assim, como uma além de serem recheados de elementos que mexem com
possível proposta de trabalho, dividir a turma em a imaginação do pequeno leitor, conduzem ao resgate e
grupos, cada grupo com um conto. Os alunos poderão registro da tradição oral de contar histórias. Além disso,
apresentar trabalhos, exposições e pesquisas sobre cada é importante ressaltar o papel da literatura infantil e
um dos orixás, aproximando-os, dessa forma, da cultura juvenil nesse caso, pois, de certa forma, alicerça e
e das tradições do povo yorubá. ratifica, com obras que retratam o povo africano, um
momento histórico e a preservação cultural de África.
Além de o texto se dividir em partes unitárias, o autor Assim, essas narrativas míticas adaptadas para o público
utiliza o texto imagético, ou seja, a recurso não-verbal, infanto-juvenil são uma maneira de manter viva a
como forma de criar uma coerência textual e referenciar memória, cultura e identidade afro-brasileira.

30 www.cap.ufrj.br/perspectiva.html
notas
Aconteceu
no 1º semestre de 2009

Aconteceu no NIC Jr.

I Foi realizada no CAp nos dias 01 e 02 de abril de 2009


a IX Jornada de Iniciação Científica Jr. Neste evento,
24 trabalhos (painéis) foram apresentados por 38 alunos
que desenvolveram atividade de iniciação científica
júnior em 2008.

II Neste semestre, 48 (quarenta e oito) alunos foram


selecionados e encaminhados pelo Núcleo para
realizarem atividades iniciação científica júnior nos CESPEB
laboratórios de diversas Unidades da UFRJ. Também No 1º semestre 2009, aconteceu o fechamento do
foram selecionados 2 (dois) alunos para realizarem curso de Educação Física Escolar, e eles defenderam
estágio na Fiocruz e 1 (um) para o CBPF. monografia de conclusão em dezembro de 2009. Todos
os outros cursos terminaram no 2º semestre houve
III Foram inscritos na sessão “O Jovem e a Ciência no defesa de monografia em fevereiro de 2010. No 2º
Futuro” da XXIV Reunião Anual da FeSBE 15 (quinze) semestre também começou o CESPEB-EJA no Fundão.
painéis, resultados da pesquisa de 25 (vinte e cinco)
alunos.
NIC Jr.
No 1º semestre tem sempre a jornadinha, que este ano
aconteceu em abril; no 2º semestre, tem sempre a ida à
Festa Junina FeSBE, que acontece em agosto.
No dia 4 de julho, houve a tradicional festa
junina do CAp UFRJ.
SACC
Aconteceu no 1º semestre de 2009 o concurso de
logotipo para a SACC.

Minicurso de grafos
O setor curricular de Matemática convidou professores,
servidores tecnico-administrativos a participarem de um
minicurso de grafos, os dias 6 e 8 de julho no Auditório
com o professor Msc. Ivail Muniz (FAETEC - CPII -
Zaccaria)

março de 2010 Perspectiva CApiana nº6 31


notas Aconteceu no Ensino Fundamental Festa no Olimpo – 13/7

I Na 1ª semana de aula (fev./09), o 2º ano trabalhou Atividade desenvolvida com as turmas do 4º ano
com o tema Carnaval. Conversou-se com as crianças do Ensino Fundamental. O evento marcou o ponto
sobre o que conheciam dessa grande festa popular. culminante da Unidade de Trabalho sobre Mitologia
Grega, oferecendo vários ambientes: jogos tradicionais,
Foram resgatadas as marchinhas antigas que alguns já um espaço reservado para dança, mesa com comidas
ouviram e produziram-se máscaras com o formato de típicas gregas e outra com elementos representando os
mãos. No final da semana, aconteceu o grande baile deuses olímpicos.
e todo mundo caiu na folia: alunos, professores, direção
e funcionários. Esta atividade foi realizada pelo professor de Oficina da
Palavra, a bibliotecária do Colégio e com a colaboração
I I O 2o ano escolheu trabalhar com o livro “O tesouro de bolsistas (PIBIAC).
do pirata pão-duro” para a atividade de integração com
o 1º ano. O livro permitiu explorar conteúdos em
Matemática como o espaço, identificação de posições
e noções de lateralidade e em História e Geografia
como a localização orientada por mapas e legendas.

A proposta em seguida, foi a dramatização da história.


As professoras Ana Letícia, Carmen e Lucia Fernanda
dividiram os papéis entre as crianças, criaram o cenário
e ensaiaram até chegar o grande dia da apresentação.
Finalizaram a atividade com os grupos (1º e 2º ano)
integrados na caça aos tesouros pelo CAp, encaminhada
por uma série de pistas e enigmas.

O tesouro, porém, não estava vazio como o do pirata


pão-duro, mas continha surpresa: alegria, carinho
e muitas balas.

III O 2º ano trabalhou com a história do João e Maria.


Ouviu mais de uma versão, conheceu o conto peruano
“Achiqué” e comparou as histórias. Depois produziu
o texto, recontando a história. E quanta história rendeu!

Encerrou-se o 1º semestre, aproveitando esse contexto,


com uma festa surpresa. As professoras Ana Letícia,
Carmen e Lucia Fernanda prepararam para as crianças
uma mesa farta de guloseimas e um bolo coberto de
chocolate e jujubas. Nessa história, não podia faltar
a bruxa que foi tão bem representada pela querida
inspetora do 2º ano, a Bárbara.

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COMO PUBLICAR EM PERSPECTIVA CAPIANA

Perspectiva capiana é uma revista de divulgação que publica ilustrações e pequena apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo
prioritariamente resultados de projetos de ensino, de pesquisa e de de 11.000 caracteres com espaço (~1.800 palavras).
extensão feitos no Colégio de Aplicação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ), em todas as disciplinas, para Opinião: considerações pessoais sobre temas relacionados à educação
um público amplo e heterogêneo. Os leitores da revista são, em ou com o ensino na escola. É importante que os fatos e argumentos
geral, professores de ensino fundamental e médio da instituição; sejam descritos com objetividade, permitindo ao leitor contrastar e
professores de outras escolas; licenciandos e alunos de graduação; evoluir sua própria opinião sobre o assunto. Os textos devem conter
professores universitários; pessoas que se interessam por educação abertura (resumo), título, nome e breve apresentação do(s) autor(es).
e pelas disciplinas escolares, mas não dominam necessariamente Tamanho máximo de 11.000 caracteres com espaço (~1.800
conceitos básicos de todas as áreas. Os textos da revista exigem, palavras).
portanto, clareza e simplicidade.
Sem Fronteiras: textos encomendados pelos editores a autores de fora
Os textos submetidos à publicação como artigos devem conter a do CAp-UFRJ para enriquecer as reflexões em curso na escola.
contribuição original do(s) autor(es) para o tema tratado e devem Devem conter título, abertura (resumo) e nome, foto e pequena
ser inéditos – não podem ter sido publicados anteriormente em apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo de 11.000 caracteres
outro veículo de divulgação para o público em geral (mas podem com espaço (~1.800 palavras).
ter sido veiculados em revistas especializadas, por exemplo). Sempre
que possível, os resultados de pesquisa ou do projeto do(s) autor(es) Memória: textos sobre aspectos pouco difundidos da história
devem ser expostos no texto. do CAp-UFRJ ou da educação. Devem ser pouco técnicos,
destacando o contexto da época e as personagens envolvidas.
AVALIAÇÃO Devem conter abertura (resumo), nome e breve apresentação
do(s) autor(es), título e ilustrações. Tamanho ideal: 7.500
Consultores técnicos indicados pelos setores curriculares são caracteres com espaço (~1.200 palavras).
consultados quando da submissão de um texto e orientam a equipe
editorial da revista quanto ao que sugerir aos autores para corrigir Resenhas: apresentação crítica de um livro ou outro produto cultural
ou adequar o texto do ponto de vista técnico, quanto à qualidade do de interesse. Não deve descrever a obra em detalhes, mas apontar
trabalho, à linguagem adotada e à conveniência de sua publicação. sua relevância no contexto do ensino. Os textos devem conter os
Os textos aprovados são selecionados para publicação de acordo dados da obra analisada (título, autor, custo, etc.), bem como o nome
com a avaliação dos editores, levando em conta a programação e ocupação do(s) autor(es). Tamanho ideal: 3.800 caracteres com
editorial e as especificidades de cada edição da revista. Os textos espaço (~600 palavras).
enviados pelos autores são ainda concomitantemente editados pela
redação para adequá-los à linha editorial da revista e devolvidos Notas: eventos de interesse ocorridos ao longo dos seis
aos autores para aprovação. Em caso de não-aprovação, os editores meses prévios à edição da revista. Devem ser sintéticas e
buscarão atender às solicitações dos autores, dentro do razoável do informativas (~90 palavras).
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aprovado por seus autores em sua forma final. Títulos, subtítulos e OUTRAS INFORMAÇÕES
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