br
Confiança no
cooperativismo
cooperativismo de crédito, que já tem mostrado sua força nas
Cooperativismo
de Crédito
Serviços financeiros mais 3
Presidente do Conselho Deliberativo Nacional acessíveis e com menores custos
Armando Monteiro
para os pequenos negócios.
Diretor-presidente
Silvano Gianni Páginas 4 a 7
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barbosa
Cenário de expansão
Gerente da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros Regime de livre adesão pode
Carlos Alberto dos Santos deslanchar de vez o
Gerente da Unidade de Marketing e Comunicação cooperativismo de crédito
Ijalmar Nogueira em todo país principalmente nas
Coordenadora da Agência Sebrae de Notícias regiões Centro-Oeste,
Cândida Bitrtencourt Norte e Nordeste. Conheça a
Edição trajetória dos cinco sistemas
Clara Favilla cooperativos do Brasil.
Consultoria Técnica Páginas 8 a 37
Éddi Yamamura
Colaboraram nesta edição
Cláudio Barboza, Patrícia Acioli e
Regina Xeyla de Oliveira e Silva
Produção Gráfica
ArteContexto Uma grande história
Revisão A primeira cooperativa de crédito brasileria
Chico Villela
nasceu em 1902 no Rio Grande do Sul e
Impresão funciona até hoje. Páginas 38 a 41
Gráfica Charbel
apoio ao associativismo e ao cooperativismo de crédito é priori-
Silvano Gianni
e Henrique Meirelles,
durante cerimônia
de assinatura do
convênio de
cooperação técnica
entre o Sebrae
Nacional e Banco
Central, em maio
deste ano
EUGÊNIO NOVAES
Lula e o
cooperativismo
O PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA RECOMEN-
DOU À POPULAÇÃO QUE FUJA DOS JUROS ALTOS DO MER-
CADO FINANCEIRO E SE ORGANIZE EM COOPERATIVAS DE
CRÉDITO PARA OBTER FINANCIAMENTOS COM CUSTOS
REDUZIDOS.
SEGUNDO O PRESIDENTE, O PROBLEMA DOS JUROS
ALTOS NÃO SE RESOLVE SÓ COM LEIS E SIM COM AÇÕES.
E ENTRE ESSAS AÇÕES ESTÃO O AUMENTO DO NÚMERO E
O FORTALECIMENTO DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO.
"EU NÃO CONSIGO COMPREENDER PORQUE ALGUÉM
❝
cos e comércio, há anos, por meio de um sofisticado sistema
operacional, em tempo real, on-line, pelos bancos e comér-
cio. Inaugurou-se, agora, uma via de mão dupla”, ressalta FAZ PARTE DA SUBSTÂNCIA
Carlos Alberto. DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO,
Outro caminho, além de medidas legislativas como a DA SUA NATUREZA, A CAPACIDADE DE
aprovação da nova Lei de Falências ou de redução dos APROXIMAR AS DUAS PONTAS,
encargos fiscais, é a proliferação cada vez maior das coope- A DA DEMANDA E A DA OFERTA POR
rativas de crédito, na esteira de regras mais flexíveis aprova- SERVIÇOS FINANCEIROS, TÃO LONGE UMA
das pelo Banco Central. DA OUTRA NO SISTEMA BANCÁRIO
A solução para os altos custos dos empréstimos não está TRADICIONAL NO CASO DOS
apenas em novas leis que têm todo um processo de aprova-
❞
PEQUENOS NEGÓCIOS. É ISSO O QUE
ção e de implementação. No caso específico da redução do
LHE CONFERE EFICIÊNCIA
spread, pela via da desoneração fiscal, existem restrições
impostas pela execução orçamentária. “Por isso, a impor-
tância de se trabalhar fortemente na disseminação do coo- Carlos Alberto dos Santos, Sebrae Nacional
Cenário de
expansão para
as cooperativas
de crédito
Regime de livre adesão pode deslanchar de vez
o cooperativismo de crédito em todo o país
8
cooperativismo de crédito brasileiro registrou, nos últimos oito anos, um crescimen-
❝
vado brasileiro, para que seus associados pudessem ter
acesso a produtos e serviços bancários. Em junho do ano
VEJO O FUTURO DO COOPERATIVISMO COM OTI-
seguinte foi inaugurada, em Porto Alegre (RS), a agên-
MISMO PORQUE, NA REALIDADE, HÁ UM ESPA-
cia matriz do Bansicredi. Em seguida, o Bansicredi torna-
ÇO ENORME PARA CRESCER.HOJE,CERCA DE 40 A 50 MILHÕES
se um banco interestadual, ao passar a atender, progres-
DE PESSOAS NÃO TÊM NEM CONTA BANCÁRIA. SOMOS NÓS
sivamente, às centrais Sicredi de outros estados. Atual-
QUE VAMOS OCUPAR ESSE ESPAÇO, E ATENDER AOS SEGMEN-
mente, o Bansicredi, por convênio, é também o banco do TOS DOS PEQUENOS NEGÓCIOS E DE PESSOAS COM MENOR
Sistema Unicredi. PODER AQUISITIVO. ISSO TUDO SEM PRECISAR DISPUTAR
O Banco Cooperativo do Brasil S/A (Bancoob) é o OU CONFRONTAR O SISTEMA BANCÁRIO TRADICIONAL. O
❞
banco das cooperativas de crédito do Sistema Sicoob, COOPERATIVISMO DEMONSTRA O PODER DE ORGANIZAÇÃO
que passaram a ter, a partir de sua entrada em operação, DE UMA SOCIEDADE EM VÁRIOS SETORES
produtos e serviços melhores e a custos mais baixos.
As cooperativas de crédito do Sicoob utilizam, por
RAIMUNDO MARIANO,
10 meio de convênio, os serviços prestados pelo Bancoob,
PRESIDENTE DO BANCOOB
mas não são agências do banco que têm com o sistema
DIVULGAÇÃO
❝
não governamentais e entidades de representação dos
O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO HORIZONTAL,
interesses dos agricultores familiares, opera com o Banco
A FORMAÇÃO DE UMA REDE DE COOPERATI-
do Brasil.
VAS, E VERTICAL DO SICREDI, UNINDO COO-
Outro sistema cooperativo importante no país é o
PERATIVAS DE CRÉDITO SINGULARES, CENTRAIS,
Ecosol, Cooperativa Central de Crédito e Economia Soli-
CONFEDERAÇÃO E BANCO COOPERATIVO, É PRESSUPOSTO
dária, braço da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
❞
NECESSÁRIO PARA QUE OS ASSOCIADOS ATINJAM SEUS
Atua por intermédio do Bancredi, a cooperativa dos ban-
OBJETIVOS
cários da cidade de São Paulo e municí-
pios vizinhos. ADEMAR SCHARDONG,
PRESIDENTE DO BANSICREDI
CONHEÇA ALGUNS NÚMEROS SIGNIFICATIVOS APRESENTADOS PELOS CINCO MAIORES SISTEMAS COOPERATIVOS
DE CRÉDITO (SICOOB, SICRED, UNICRED, CRESOL E ECOSOL) COM BASE EM LEVANTAMENTO DE 2003.
COOPERATIVAS DE CRÉDITO
Fonte:
“Cooperativas de
Crédito – História da
Evolução Normativa”,
Banco Central
AS MPE E O NOVO
COOPERATIVISMO DE CRÉDITO
s micro e pequenas empresas brasileiras sempre enfren- chama de “microempreendedores”. Permitiu, além disso, a cria-
* Resumo do
Os desafios do documento
“A evolução normativa
recente do
cooperativismo de
crédito”, apresentado
por Sérgio Darcy
Marden Soares,
consultor do
Departamento de
Organização do
Sérgio Darcy
Sistema Financeiro
da Silva Alves,
do Banco Central
diretor de Normas
e Organização do
Sistema Financeiro
do Banco Central
s cooperativas de crédito fazem parte do sistema inicial de maturação. Sem esse estímulo, torna-se difícil
Nova parceria
D
As cooperativas não tra- IVULGAÇÃO
o cooperativismo te da Unidade
de Políticas Pú-
blicas do Se-
brae, Bruno Quick. Segundo ele, a formação
própria vida têm risco, mas estamos tomando todos os nesse tipo de cooperativis-
cuidados para garan- DIVULGAÇÃO
mo. Ajita foi um dos funda-
tir o sucesso.” dores da Sicoob Metropolita-
Desde o início de na de Maringá, a mais antiga
2003, as associações do sistema no estado.
comerciais do Para- Já consolidada, a Metro-
ná já apoiaram a politana recebe diariamente
criação de 12 coope- comitivas de todo o Brasil,
rativas de crédito, principalmente de integran-
uma ligada ao setor rural e as outras, ao comércio. E já se tes de associações comerciais, interessados em repli-
encontram, no Banco Central, propostas para a criação car a experiência. É realmente um caso de suces-
de outras dez entidades. Depois do sucesso no Paraná, a so. Em funcionamento desde novembro de
capacidade de indução das associações comerciais na 1999, conta com cerca de 6 mil associados e
criação de cooperativas de crédito está sendo também administra R$ 55 milhões/mês.
experimentada em Cuiabá, capital do Mato Grosso.
estado não recorrem a
empréstimos bancários.
Outras 29% acessam capi-
tal de giro por meio do
cartão de crédito (pessoa
física) de seus proprietários.
O não-acesso ao crédito
ou o acesso a custos altíssimos
comprometem a rentabilidade e a
expansão dos pequenos negócios. É a
este tipo de público, formal mas com dificul-
dades no relacionamento com os bancos, que a
Credindústria em Brasília e outras três cooperativas no
estado de São Paulo querem atender.
Ao darem os primeiros passos para criar alternativas
mais baratas de financiamento para investimentos ou capi-
tal de giro, as entidades empresariais começam a fazer o
que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
O movimento de abertura de novas chamou de “revolução do crédito no Brasil”.
18 cooperativas de crédito já contagia A maior proximidade com os empreendedores de
pesos pesados da indústria pequenos negócios e a capacidade de prestar o serviço com
mais rapidez são características que tornam as cooperativas
s entidades representativas da indústria no Brasil instrumentos eficazes no atendimento de varejo.
O
resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que autorizou, em 1995,
a constituição dos bancos cooperativos. Hoje, a mais forte organização do
segmento conta com quase 1 milhão de associados, em 800 municípios brasileiros.
Tudo começou com a união da Crediminas – Cooperativa Central de Crédito Rural de
Minas Gerais com cooperativas de 11 estados para a criação de um banco próprio.
Depois de ter se consolidado em todas as regiões do país, especialmente no Sul, o
novo desafio do sistema é se expandir no Nordeste. “Temos condições de trabalhar em
20
favor da transformação econômica e social de regiões mais carentes e isoladas do país. E
estamos, com esse propósito, cumprindo um dos princípios do cooperativismo que é o de os
mais fortes ajudarem os que estão apenas começando”, afirma o presidente da Confederação
Sicoob-Brasil, Heli Penido.
Ele conclama os brasileiros a participarem e a reconhecerem o cooperativismo de crédito como ins-
trumento de transformação social pela via econômica. “O tema é tão importante que deveria ser incluído
nas escolas de ensino fundamental e ser mais discutido pela sociedade”, diz.
O Sicoob, o maior sistema do país, nasceu da necessidade expressa pelas cooperativas de vários esta-
dos de ter um banco próprio que lhes ofertasse produtos e serviços financeiros em melhores condições
do que as instituições convencionais. A idéia concretiza-se, primeiro, com a criação do banco cooperativo
F :S
OTO C
ILVIO do Sistema Sicredi (Bancicredi), no Rio Grande do Sul. Em seguida, as coope-
OUTINHO
Novos avanços
No momento, o Sicoob Brasil está
concentrando esforços para aumen-
tar a prestação de serviços na região
Nordeste, começando por Pernambu-
nacional. Com o Bancoob, a co. Para tanto, terá o apoio financei-
liquidez do Sistema Sicoob pas- ro e tecnológico de instituições nacio-
sou a ser negociada no merca- nais e internacionais, como o Banco
do interfinanceiro com taxas Mundial (Bird) e o Sebrae.
mais atraentes, o que resultou em Na avaliação de Heli Penido, a aten-
ganhos para todos os associados. ção ao Nordeste vai significar mais desenvolvi-
mento local e regional. “Fizemos o mapeamento da atua-
Momentos difíceis ção de bancos e de cooperativas de crédito na região. Esse 21
A ascensão do Sistema Sicoob não aconteceu sem dificulda- trabalho vai nos ajudar a consolidar um cooperativismo de
des. Logo no início do seu funcionamento, problemas começa- crédito mais promissor no Nordeste”, ressaltou. A projeção
ram a aflorar. No Espírito Santo, houve, inclusive, a desfiliação é que a entidade passe a responder por 0,71% das opera-
de uma de suas centrais pioneiras. ções de crédito locais (R$ 112 milhões) e 0,39% dos depósi-
O Comitê de Controladores do Bancoob contratou, tos (R$ 99,3 milhões).
então, os serviços de consultoria especializada no setor fi- De acordo com a Análise da Capacidade Patrimonial e
nanceiro, para que elaborasse estudos visando à criação de Econômica do Sicoob no Nordeste, “o volume de atividades
uma entidade maior do sistema, a Confederação Nacional das instituições financeiras sugere haver espaço para o
das Cooperativas do Sicoob, o Sicoob Brasil, para operar a desenvolvimento de um cooperativismo de crédito dinâmico
representação política da instituição, acompanhar e contro- e auto-sustentado na região”.
lar o sistema por meio de 15 centrais de cooperativas. O documento reconhece que o Sicoob Nordeste tem
FOTO: SILVIO COUTINHO
pouca participação no mercado – apenas 0,05% das opera-
ções de crédito e somente 0,01% dos depósitos. “Com isso,
há muito mercado a ser explorado, havendo inclusive esta-
dos sem uma cooperativa singular associada ao Sicoob”.
Também segundo o documento, para ampliar suas ope-
rações no Nordeste, o Sicoob-Brasil deverá usar a mesma
estratégia empregada com sucesso em outros estados – bus-
car o apoio de entidades que tenham interesse no surgimen-
to de cooperativas de crédito, como associações comerciais,
sindicatos e clubes de dirigentes lojistas.
Hoje, a movimentação financeira do município e arredo-
RAIO X res está sendo feita pela Cooperativa de Crédito Rural de
O Sicoob é o maior sistema de crédito cooperativo do Brasil, São Roque de Minas (Saromcredi); criada há 13 anos por 27
formado por cooperativas singulares urbanas e rurais, localizadas fundadores, tem atualmente 4 mil associados. A entidade é
em todas as regiões. Suas respectivas centrais são coordenadas e um exemplo da concorrência saudável que as cooperativas
supervisionadas pela Confederação Sicoob Brasil e têm no fazem dentro do sistema financeiro, aumentando-lhes a
Bancoob o seu braço financeiro. Está presente em 19 estados da competitividade. Esse tipo de concorrência começa a ganhar
Federação e no Distrito Federal (SC, PR, SP, RJ, ES, MG, DF, MT, MS, mais visibilidade nas cidades de diferentes portes e em todos
GO, TO, PA, AC, RO, RN, PB, PI, MA, PE e BA) e apresenta os os segmentos da economia.
seguintes dados, com base em junho de 2003: Hoje, as ruas de São Roque exibem aumento de tráfego
de veículos de paragens vizinhas e mesmo distantes com
1,035 milhão de associados passageiros interessados nos negócios que se expandem cada
15 Centrais de Crédito vez mais no município. O aumento do tráfego fez surgir o
735 Cooperativas Singulares posto de gasolina Rio Peixe, que se viabilizou com emprésti-
758 Postos de Atendimento Cooperativo - PACs mos concedidos pela Saromcredi.
“Um banco carimba um cheque de R$ 200, enquanto a
R$ 1,5 bilhão de Patrimônio Líquido Ajustado
cooperativa jamais fará isso porque conhece a gente”, afirma
R$ 2,8 bilhões de empréstimos
o ex-caminhoneiro Antônio Gualberto de Faria, hoje um dos
R$ 2,3 bilhões em depósitos
proprietários do Posto Rio Peixe.
R$ 283 milhões de resultado Histórias semelhantes podem ser contadas por donos de
22
pousadas, queijeiros, fabricantes de vinho, produtores de uvas,
plantadores de milho e café. A maioria dos empreendedores
A cooperativa a serviço da cidade e entorno tem um pé fincado na Saromcredi.
do desenvolvimento local
No início da década passada, a cidade de São
Roque de Minas perdeu sua única agência
bancária tradicional. Distante 325 km de
Belo Horizonte, os seus 6 mil habitantes
passaram a enfrentar os 64 km de estrada
de terra que os separam da agência mais pró-
xima na vizinha Piumhi.
Sem banco, o município perdia recursos. Com a
economia local parada, houve um declínio populacio-
nal durante a metade dos anos 90. Mais tarde, outra
agência bancária aberta na cidade também fechou as
portas. Não era rentável pelos critérios dos grandes
bancos. A diferença é que, com a nova cooperativa,
ninguém teve de sair do município para honrar seus
pagamentos e garantir recebimentos.
FOTOS: SILVIO COUTINHO
26
RAIO – X
O Sicredi atua com foco no desenvolvimento local. Surgiu em
julho de 1992, quando as cooperativas da Cocecrer (RS) e suas
filiadas unificaram-se. Em 1995, autorizadas pelo Conselho Mone-
tário Nacional, as cooperativas filiadas à Central do Sicredi - RS
constituíram o Banco Cooperativo Sicredi S.A. (Bansicredi), o pri-
meiro banco cooperativo privado brasileiro. Presente em cinco
estados da Federação (RS, PR, MS, MT e SP), o Sistema Sicredi
apresenta os seguintes dados estatísticos, com base em dezembro
de 2003.
Sistema solidário
O Ecosol é o primeiro sistema cooperativo que se formalizou após as novas regras do Banco Central.
Sua criação foi endossada pelos parceiros da ADS no projeto, a Cooperativa de Crédito dos Bancários
de São Paulo (Bancredi), a Agência Administrativa de Seguros do Cooperativismo Brasileiro (Ascoob) e
sindicatos filiados à CUT. Do sistema podem também participar cooperativas de produção e outras pes-
A
RQUIVO soas jurídicas, desde que mantido o foco de atuação do sistema.
Como clientes preferenciais do Ecosol estão trabalhadores da agricultura familiar, da pro-
dução industrial, da comercialização, de serviços e de reciclagem (beneficiamento de garrafas
plásticas e papelão). “A gente procura formar uma rede cooperativa, na qual se potencializa a
qualidade de vida, de renda e de meio ambiente, tudo discutido antecipadamente com a pró-
pria comunidade interessada”, explica Gilmar Carneiro.
RAIO X
O Sistema Cresol foi criado para atender a agricultores
36 familiares e assentados de reforma agrária. Tem como princípios
fundamentais a interação solidária, a democratização do crédi-
Enfim, a casa própria digna
to, a descentralização, a ampliação do acesso aos serviços
O agricultor Doélio da Silva Rosa, 39 anos, tem duas
bancários, a transparência e, ainda, contribuir para o desen-
casas que simbolizam as etapas da vida da sua família, antes
volvimento socialmente justo e ambientalmente correto. Desde
e depois de ter feito um curso sobre cooperativa de crédito
os anos 90, quando surgem os programas oficiais de financia-
no Município de Salgado Filho, sudoeste do Paraná. Desde
mento da agricultura familiar, o sistema vem se aprimorando.
então, Rosa passou a ser associado do Sistema Cresol de
Presente em três estados da Federação (PR, SC e RS), o Cresol
Cooperativas de Crédito Rural e Interação Solidária.
apresenta os seguintes dados, com base em dezembro de 2003:
A mais antiga é um casebre de dois cômodos, que o abri-
gava junto com a mulher e quatro filhos. Sem pintura, é
45 mil associados
revestido de madeiras toscas com a mesma qualidade das
1 Cooperativa Central
que são usadas em andaimes da construção civil. Já a mais
7 Bases de Apoio
nova, de alvenaria, com cinco cômodos, inaugurada há cin-
78 Cooperativas Singulares
co meses, mostra como o agricultor passou a fazer parte da
R$ 21,6 milhões de Patrimônio Líquido Ajustado
classe média rural do município.
R$ 98,4 milhões de empréstimos
Rosa realizou o sonho da casa própria digna graças à
R$ 41 milhões de depósitos
contrapartida oferecida pelo Sistema Cresol no Programa
R$ 542 mil de resultados
de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH), do
Ministério das Cidades. Ao todo, serão financiadas 1.280
casas em 240 municípios dos três estados do Sul (Santa
Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul).
❝ O COOPERATIVISMO DE CRÉDITO NO BRASIL
VIVE UM MOMENTO ÍMPAR. CONTA COM O APOIO DO GOVER-
NO E O ENTUSIASMO DO PRESIDENTE LULA. E NENHUMA
OUTRA VEZ HOUVE UM AMBIENTE TÃO FAVORÁVEL AO SEU
tema Cresol. O ministro das Cidades, Olívio Dutra,
esteve presente durante a inauguração das primeiras
casas.
São nove tipos diferentes de casas, que possuem
FORTALECIMENTO. E ISSO TEM QUE SER APROVEITADO. dois ou três quartos, sala, cozinha e banheiro, em
NA REGIÃO SUL A CRIAÇÃO DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO
área construída que varia de 45 a 60 m2, destina-
das a famílias de pequenos agricultores rurais
ENCONTRA MAIOR RECEPTIVIDADE PELA PRÓPRIA HISTÓRIA
com renda de até três salários mínimos. Essas
DE COLONIZAÇÃO DA MAIORIA DOS AGRICULTORES. PRECISA-
unidades são parte das primeiras 6.300
MOS FAZER QUE ESSE MOVIMENTO CHEGUE TAMBÉM COM
garantidas com recursos de 2003.
FORÇA AO NORTE E NORDESTE DO PAÍS.
Pela cooperativa, nos primeiros meses, o
A LIVRE ADESÃO NÃO PODE FULMINAR OS PRINCÍPIOS
produtor rural Rosa pagou R$ 48,00 por mês
BÁSICOS DO COOPERATIVISMO. AO MESMO TEMPO EM QUE pela sua casa nova e se manteve em dia com
PERMITE A SUA EXPANSÃO E COMPETITIVIDADE PODE, CASO as prestações. Agora ele está pagando cerca
NÃO SE TENHA OS DEVIDOS CUIDADOS, DESVIRTUAR PRINCÍ- de R$ 47,00, valor que pode cair, a cada cin-
PIOS COMO O DA AJUDA MÚTUA E DA SOLIDARIEDADE. AS co meses, se não houver atraso nos paga-
COOPERATIVAS NASCEM COM UM FOCO EM UM PÚBLICO ESPE- mentos.
❞
CÍFICO E A LIVRE ADESÃO NÃO PODE FAZER QUE ELAS DEIXEM O Município de Salgado Filho é conheci-
DE LADO ESSE PÚBLICO. do nacionalmente pela produção de queijos e
vinhos, consolidada pela Festa do Vinho e a Fei- 37
Vanderley Ziger,
ra do Queijo, que acontece anualmente nos dias
Cresol 3 e 4 de julho, reunindo cerca de 30 mil pessoas,
entre moradores e turistas. Nos eventos são comer-
cializados queijos e mais de dez marcas de vinhos arte-
sanais diferentes, entre eles as marcas Belli, Sugari e o Sal-
O programa que beneficiou Rosa foi lançado em dezem- gado Filho, este último fabricado numa agroindústria pró-
bro de 2003 e é uma parceria entre os Ministérios das Cida- xima à casa de Doélio Rosa.
des e do Desenvolvimento Agrário para garantir financia- “Sou associado desde 1996. Se não fosse a Cresol, não
mento habitacional próprio para os trabalhadores rurais, os estaria mais trabalhando no meio rural”, afirma Rosa. Hoje
sem-terra e os pequenos agricultores brasileiros, com apoio o agricultor trabalha na produção de milho, soja, e cria
dos estados e das cooperativas de crédito. “As outras insti- gado leiteiro, em uma área de 30 mil m2 (três hectares). Para
tuições financeiras vieram de fora, mas a Cresol é da terra, sua subsistência e de sua família, ainda planta arroz e man-
é nossa, da classe dos agricultores familiares”, elogia Rosa. dioca, além da criação de suínos. Com isso, tem uma ren-
O programa, no total de R$ 7,04 milhões, destinará R$ da média mensal de R$ 500,00 por mês.
5,5 mil por unidade, sendo R$ 4,5 mil pela casa e R$ 1 mil
de taxas de administração (subsidiados pelo governo fede-
ral). Em contrapartida, os governos estaduais participaram
com R$ 1,5 mil por casa no Paraná e no Rio Grande do Sul
e com R$ 3 mil em Santa Catarina.
Como cada casa tem valor estimado de R$ 9 mil
a R$ 13 mil, o restante será financiado pelo Sis-
As “Luz As primeiras cooperativas de livre adesão do país,
bastante populares nas décadas de 40 a 60. A primeira surgiu
em Lajeado (RS) em 1906 e permanece em atividade até hoje.
s cooperativas de crédito de livre adesão, conhecidas como “Luzzattis”, não são novidades trazidas
A pela flexibilização das regras do cooperativismo. Fazem parte da história econômica brasileira, e o
nome é uma homenagem ao italiano Luigi Luzzatti, que, em 1865, organizou , na cidade de Milão,
a primeira cooperativa desse tipo.
38 Nas décadas de 40 a 60, as “Luzzattis” eram bastante populares no Brasil, como atesta a publica-
ção “Cooperativas de Crédito – História da evolução normativa no Brasil”, por Marcos Antonio
Rodrigues Pinheiro, do Banco Central.
Tinham como principais características a não-exigência de vínculo para a associação, exceto
limitação geográfica por bairro ou município, quotas de capital de pequeno valor, concessão de
crédito, tamém de pequeno valor, sem garantias reais, não-remuneração dos dirigentes e respon-
sabilidade limitada ao valor do capital subscrito.
Atualmente, apenas dez “Luzzattis” atuam no país. Em 1965, a criação desse tipo de socie-
dade cooperativa deixou de ser autorizada e, em 1999, elas foram obrigadas a se converter em
entidades mais fechadas à adesão de associados.
A primeira surgiu em 1906, em Lajeado (RS), onde funciona até hoje. Outras existem em Ito-
roró (BA); Barbalha (CE); Caixeiral do Crato (Crato, CE); Sul Riograndense (Porto Alegre, RS);
Hering (Blumenau, SC); Mirassol (SP); Olímpia (SP); Mendes (RJ); e Guarulhos (SP).
OS PRECURSORES
➊ Friedrich Raiffeisen – Nasceu em 1818, na Romênia. Para Owen, a idéia de trabalho como fonte de felicidade e medi- ➏ Luigi Luzzatti – Nasceu em 1841, em Veneza, Itália. Foi
Durante os anos difíceis de 1847 e 1848, organizou cooperativas da de valor era o principal alicerce do cooperativismo. É conheci- político, professor universitário. Estudou em Berlim, Alemanha,
de crédito na Alemanha para atender a agricultores. Inspirou o do como o "Pai do Cooperativismo Moderno". onde conheceu Herman Schultze e adquiriu conhecimentos sobre
modelo da primeira cooperativa de crédito no Brasil, fundada em o cooperativismo de crédito urbano. Em 1863 publicou "A difu-
1902 pelo Padre Teodoro Amstadt, em Nova Petrópolis (RS), que ❹ Alphonse Desjardins – Nasceu no povoado de Levis, provín- são do crédito e o Banco Popular".
funciona até hoje. cia de Quebec, Canadá, em 1854. Foi o criador do cooperativismo
de economia e crédito mútuo. Estudou o sistema de cooperativis- ➐ Teodoro Amstadt – Padre jesuíta suíço, desembarcou em
❷ Herman Schultze – Nasceu em Delitzsch, Alemanha, em mo de crédito desenvolvido na Alemanha (Raiffeisen) e na Itália Porto Alegre em 1885. Foi designado para atividades pastorais
1808. Organizou bancos populares, entre artesãos. Em 1863 pre- (Luzzatti). Criou as Caixas Populares, abertas à comunidade. entre colonos e tornou-se importante líder rural e cooperativista.
parou um projeto de auxílio mútuo e, com base nele, foi promul- Fundador da primeira cooperativa de crédito no Brasil, em 1902.
gado o primeiro Código Cooperativo da Alemanha e do mundo. ➎ Charles Gide – Nasceu em Uzès, França, em 1847. Foi um
dos principais sistematizadores da doutrina cooperativa, o mais ➑ Maria Thereza Teixeira Mendes – Fundou em 1960 a
❸ Robert Owen – Nasceu em Newton, Inglaterra, em 1771. destacado líder do cooperativismo de consumo. primeira cooperativa de crédito mútuo do p aís, a Cooperativa
zattis”
Os princípios que norteiam hoje o cooperativismo moderno surgiram em 1844, na cida-
de inglesa de Rochdale, quando 28 tecelões fundaram uma cooperativa de consumo.
Pouco depois, em 1848, Friedrich Wilhelm Raiffeisen fundava na Alemanha a pri-
1
19/12/1932 - Decreto do Poder Legislativo 22.239 reforma as 11/12/1961 - Portaria 1.098 do Ministério da Agricultura rea-
disposições do Decreto 1.637 e define como cooperativas de cré- firma que as cooperativas de crédito estão sujeitas à prévia auto-
dito as entidades que proporcionam crédito e moeda, por meio rização do governo para se constituírem, exceto: a) as caixas
da mutualidade, para apoio do pequeno negócio agrícola, indus- rurais Raiffeisen; b) as cooperativas de crédito agrícolas; c) as
trial, comercial ou profissional. cooperativas mistas com seção de crédito agrícola; d) as centrais
de crédito agrícola; e) as cooperativas de crédito mútuo.
10/07/1934 - Decreto 24.647 revoga o Decreto 22.239.
Todas as cooperativas de crédito passam a precisar, obrigatoria- 12/11/1962 - Decreto do Conselho de Ministros nº 1.503
mente, de autorização do governo para funcionar. Começam as suspende autorizações e registros de novas cooperativas de cré-
restrições de acesso às cooperativas de crédito. dito ou com seções de crédito.
19/10/1943 - Decreto-Lei 5.893 revoga o Decreto 22.239, 31/12/1964 - Lei 4.595 equipara as cooperativas de crédito
assim como o Decreto-Lei 581. Retorna ao Ministério da Agricul- às demais instituições financeiras, que passam a ser fiscalizadas
tura a tarefa de fiscalizar todas as cooperativas, independen- pelo Banco Central.
20/12/1965 - Resolução 11 do Conselho Monetário Nacional 30/11/2000 - Resolução 2.788 permite a constituição de
(CMN) veda o surgimento de novas cooperativas de crédito de bancos múltiplos cooperativos.
livre adesão. Permite a criação de apenas dois tipos de coopera-
tivas de crédito: a de produção rural e aquelas formadas unica- 10/01/2002 - Os artigos 1.093 a 1.096 da Lei 10.406 do novo
mente por empregados de determinada empresa ou entidade Código Civil estabelecem as características básicas da sociedade
pública ou privada. cooperativa, remetendo a regulamentação do tipo jurídico das
cooperativas à lei específica, atualmente Lei 5.764, de 1971.
28/01/1966 - Resolução 15 do Banco Central estabelece que
as cooperativas de crédito e as seções de crédito das cooperati- 20/12/2002 - Resolução 3.058 permite a constituição de coo-
vas mistas somente podem captar depósitos à vista de seus asso- perativas de crédito mútuo formadas por pequenos empresários,
ciados. Fica vedada a não-distribuição de sobras. microempresários e microempreendedores.
30/06/1966 - Resolução do Banco Central 27 estabelece que 25/06/2003 - Resolução 3.106 revoga as Resoluções 2.771 e
as cooperativas de crédito e as seções de crédito das cooperati- 3.058, permitindo a constituição de cooperativas de livre admis-
vas mistas devem receber depósitos exclusivamente de associa- são de associados em localidades com menos de 100 mil habi-
dos, pessoas físicas, funcionários da própria cooperativa e de ins- tantes, e a transformação de cooperativas existentes em coope-
tituições de caridade, religiosas, científicas, educativas e culturais, rativas de livre admissão de associados em localidades com
beneficentes ou recreativas, das quais participem associados ou menos de 750 mil habitantes. Exige, no mínimo, três anos de fun-
funcionários da própria cooperativa. cionamento e patrimônio referente a, no mínimo, R$ 600 mil nas
regiões Sul e Sudeste, R$ 500 mil na região Centro-Oeste e R$
21/11/1966 - Decreto-Lei 59 revoga definitivamente o Decre- 400 mil nas regiões Norte e Nordeste. Permite a continuidade de
to 22.239, assim como o Decreto-Lei 5.154/42, e determina que operação das cooperativas de livre admissão conhecidas como
as atividades creditórias das cooperativas somente podem ser cooperativas do tipo Luzzatti.
exercidas em entidades constituídas exclusivamente com essa
finalidade. 17/07/2003 - Circular 3.196 dispõe sobre o calculo do Patri-
mônio Líquido Exigido (PLE) das cooperativas de crédito e dos
19/09/1968 - Resolução 99 disciplina a autorização para fun- bancos cooperativos. Reduz para os bancos cooperativos, coope-
cionamento de cooperativas de crédito rural. rativas centrais e cooperativas singulares filiadas às centrais as
exigências de patrimônio em relação ao risco das operações.
16/12/1971 - Lei 5.764 revoga o Decreto-Lei 59, assim como Mantém maior exigência de PLE para as cooperativas de crédito
o Decreto 60.597, instituindo o regime jurídico vigente das socie- não filiadas a centrais. 41
dades cooperativas. Define a cooperativa como sociedade de
pessoas, de natureza civil. Mantém a fiscalização e o controle das 20/08/2003 - Circular 3.201 dispõe sobre procedimentos
cooperativas de crédito e das seções de crédito das agrícolas complementares a serem observados pelas cooperativas de crédi-
mistas pelo Banco Central. to relativamente à instrução de processos.
05/10/1988 - As cooperativas de crédito continuam depen- 27/11/2003 - Resolução 3.140 permite a constituição de coo-
dentes de prévia aprovação do governo para funcionar, por força perativas de crédito de empresários em empresas vinculadas dire-
do disposto no artigo 192 da Constituição. tamente a um mesmo sindicato patronal ou à associação patro-
nal de grau superior, em funcionamento, no mínimo, há três anos.
21/03/1990 - Decreto 99.192 extingue o BNCC.
17/12/2003 - Resolução 3.156 autoriza as cooperativas de
11/03/1992 - Resolução 1.914 do Banco Central revoga as crédito a contratarem correspondentes no país.
resoluções 11, 27 e 99, veda a constituição de cooperativas de
crédito do tipo Luzzatti, assim compreendidas aquelas sem res- 18/02/2004 - Circular 3.226 dispõe sobre a prestação de ser-
trição de associados. viços por parte de bancos múltiplos, bancos comerciais e Caixa
Econômica Federal para cooperativas de crédito.
31/08/1995 - Resolução 2.193 permite a constituição de
bancos comerciais controlados por cooperativas de crédito, os 29/03/2004 - Resolução 3.188 autoriza aos ban-
bancos cooperativos. Surgem o Bansicredi e o Bancoob. cos cooperativos o recebimento de depósitos
de poupança rural.
27/05/1999 - Resolução 2.608 revoga a Resolução 1.914.
Determina prazo para que as cooperativas do tipo Luzzatti, se
convertam em cooperativas de crédito mútuo ou de crédito rural. Fonte:
“Cooperativas de Crédito
30/08/2000 - Resolução 2.771 revoga a Resolução 2.608, – História da evolução
mas mantém a proibição da criação de novas cooperativas do normativa no Brasil”,
tipo Luzzattis. Reduz os limites mínimos de patrimônio líquido Marcos Antonio Hen-
para as cooperativas de crédito, substituindo pelo critério de riques Pinheiro, do
patrimônio líquido ponderado pelo grau de risco do ativo, passi- Banco Central.
vo e contas de compensação.
Nova face para o
Sistema Financeiro
O Sebrae aposta e acredita no cooperativismo de crédito
como ferramenta de fortalecimento dos pequenos negócios