Quem são as crianças de hoje? Que momento elas estão vivendo? Quais são os seus interesses e necessidades? Qual é seu ambiente de desenvolvimento e aprendizado? Quem são os meus “alunos”? O PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Ao nos propormos a receber a criança de seis anos no ensino fundamental, tenha ela freqüentado, ou não, a educação infantil, devemos ter em mente que esse é o primeiro contato com o seu percurso no ensino fundamental. Pensar sobre a infância na escola e na sala de aula é um grande desafio para o ensino fundamental que, ao longo de sua história, não tem considerado o corpo, o universo lúdico, os jogos e as brincadeiras como prioridade. O 1º ANO
“Agora a brincadeira acabou!”
É importante ver, entender e lidar com as crianças como crianças e não apenas como estudantes. A inclusão de crianças de seis anos no ensino fundamental requer diálogo entre educação infantil e ensino fundamental, diálogo institucional e pedagógico. Educação infantil e ensino fundamental são indissociáveis: ambos envolvem conhecimentos e afetos; saberes e valores; cuidados e atenção; seriedade e riso. Os novos paradigmas englobam e transcendem a história, a antropologia, a sociologia e a própria psicologia
criança como ser competente para interagir e
produzir cultura no meio em que se encontra. As formas de ver as crianças vêm, aos poucos, se modificando
nova concepção de criança
criadora, capaz de estabelecer múltiplas
relações, sujeito de direitos, um ser sócio- histórico, produtor de cultura e nela inserido. Os seis primeiros anos de vida são anos cruciais para o indivíduo. As experiências que a criança tem durante este período determinarão, por grande extensão, que tipo de adulto ela se tornará. Infância = sucessão de etapas, sem limites nítidos ou precisos em relação à idade cronológica, funcionando de maneira global e indissociável. O desenvolvimento dos sentidos, da afetividade, da linguagem, da motricidade e da inteligência integram-se e completam-se num processo contínuo de interação. O período entre os 5 e os 9 anos de idade é marcado pelo desenvolvimento psicológico da criança. É nesta faixa etária que começam a se desenvolver os aspectos básicos de responsabilidade e de independência. Como é essa criança de seis anos? Tem muita energia, é altamente ativa, constantemente explorando o mundo à sua volta. Geralmente é criativa e tem uma boa convivência com amigos da mesma idade. Reconhece imagens, escreve seu nome, veste- se sozinha. Destreza e motricidade já bem definidas. Tem satisfação em tentar resultados diferentes e conseguir realizar trabalhos esteticamente bonitos. Torna-se mais sociável, descobrindo o prazer de brincar em grupo. Já compreende melhor o mundo à sua volta - tornando-se gradualmente menos egocêntrica - e melhor compreendendo que suas ações podem afetar as pessoas à sua volta. Também passa a compreender que outras pessoas também possuem seus próprios sentimentos. Gradualmente aprende sobre a existência de padrões de comportamentos - ações que podem ou devem ser feitas, e ações que não devem ser feitas. Passa a dar um crescente valor à amizade. Ênfase à capacidade de resolução de problemas, uma habilidade que é aperfeiçoada com o passar do tempo. Passa a procurar por diversas soluções, e a reconhecer a solução correta ou aquela que mais se aplica ao problema. Habilidade para compreender e utilizar linguagem com palavras novas, mesmo sem a devida compreensão de seu significado. Diferencia o real da fantasia. A dimensão da memória se expande e ela começa a fazer comparações. É contraditória, chora e ri alternadamente, exprime amor e aborrecimento pela mesma pessoa e sente prazer tanto em satisfazer o adulto como em decepcioná-lo. Sente ansiedade pelas novas tarefas, quer fazer tudo e fazer muito, não se incomodando em interromper algo para reiniciar outra atividade, sem preocupar-se em terminar o que inicia (tarefas diversificadas e curtas; o breve intervalo entre uma atividade e outra evita problemas de disciplina). Caracteriza-se por intensa curiosidade, uma avidez voltada para o mundo exterior. Entre os 6 e 8 anos a criança experimenta a transição para a fase do pensamento lógico. A lógica ainda é uma lógica concreta, ou seja, ligada à presença material dos objetos considerados. Ainda não é capaz de raciocinar com base em simples proposições verbais, desvinculadas da presença dos objetos aos quais se referem. A criança de seis anos está em processo de desenvolvimento da função simbólica. Neste período, são muito importantes as atividades que envolvam símbolos e significados, como desenhar, brincar de faz de conta, realizar brincadeiras infantis que envolvam personagens e ações imitativas, cantar, ouvir histórias, poesias. As crianças brincam. Isso é o que as caracteriza. BRINCANDO... ... as crianças acionam seus pensamentos para a resolução de problemas que lhe são importantes e significativos. ... experimentam o mundo e internalizam uma compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos. BRINCANDO... ... explora os próprios potenciais e limitações. ... as habilidades físicas e mentais podem ser praticadas e repetidas tantas vezes quanto for necessário para a confiança e o domínio. Em todas as idades: o brincar é realizado por puro prazer e diversão e cria uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem. O PROFESSOR Ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Organiza sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar. O PROFESSOR Pode observar e visualizar o desenvolvimento de cada criança, registrando suas capacidades e dificuldades, assim como seus recursos afetivos e emocionais. Intervenção intencional, com oferta de material adequado e espaço estruturado para brincar, favorecendo o desenvolvimento e enriquecimento das competências infantis. O PROFESSOR Cabe ao professor organizar situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada para propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar ou os jogos de regras e de construção, e assim elaborarem de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais. PROFESSOR Considerar que as crianças são diferentes entre si, implica propiciar uma educação baseada em condições de aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos individuais, visando a ampliar e a enriquecer as capacidades de cada criança, considerando-as como pessoas singulares e com características próprias. PROFESSOR Individualizar a educação não é marcar e estigmatizar as crianças pelo que diferem, mas levar em conta suas singularidades, respeitando-as e valorizando-as como fator de enriquecimento pessoal e cultural. Criar um ambiente escolar onde a infância possa ser vivida em toda sua plenitude. Ensino rico em afetividade e descobertas. Bibliografia Brasil. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove Anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006. Rappaport, Clara Regina. Psicologia do Desenvolvimento: A Idade Pré- Escolar - vol. 3, São Paulo: EPU Editora, 2005. Rappaport, Clara Regina. Psicologia do Desenvolvimento: Teorias do desenvolvimento: conceitos fundamentais - vol. 1, São Paulo: EPU Editora, 1981. Série Fundo do Milênio para a Primeira Infância: Cadernos Pedagógicos. Brasília: UNESCO, Banco Mundial, Fundação Maurício S. Sobrinho, 2005. Biaggio, Angela M. Brasil. Psicologia do Desenvolvimento. Editora Vozes: 2001.