ESTUDO DE FACTIBILIDADE
Este estudo vem sendo desenvolvido pela Divisão de Meio Ambiente do Centro de Vigilância
Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – Brasil, em parceria com o Departamento de
Patologia da Faculdade de Medicima da Universidade de São Paulo e com a CETESB.
Introdução
O Sistema de Vigilância
Entendendo que em sua essência Vigilância é informação para ação, o sistema proposto
busca acoplar as informações produzidas pelos órgãos de controle ambiental às informações de saúde e
aplicar técnicas análise que permitam sumarizar a relação entre poluentes e morbi-mortalidade,
acompanhando esta relação no tempo, com os seguintes objetivos:
Dados de Mortalidade
O Município de São Paulo conta com um excelente sistema de registro de mortes (PRO-
AIM) onde são recebidos todos os atestados dos óbitos ocorridos na jurisdição. Estes atestados são revistos
quanto à qualidade do preenchimento de itens estabelecidos. Quando não preenchem os critérios de qualidade
busca-se corrigir as informações através do contato com o médico responsável pelo atendimento ou o
nosocômio de ocorrência do óbito. A partir dos dados produzidos pelo sistema são elaborados e divulgados
boletins periódicos. O PRO-AIM disponibiliza as informações para as instituições interessadas em analisá-
las, inclusive para o sistema de vigilância. A agilidade do sistema permite o conhecimento dos óbitos
ocorridos na semana anterior. Vários municípios do estado de São Paulo contam com sistema de informações
de mortes semelhante.
Dados de Clima
Definição de Caso
Metodologia
O tipo de estudo utilizado foi ecológico de séries temporais. Na medida em que trabalhamos
com contagens diárias de dados de morbi-mortalidade, julgamos mais adequado analisar os dados com
técnicas que pressupõem a distribuição de Poisson a partir de modelos generalizados aditivos e lineares.
Foram obtidos praticamente os mesmos resultados a partir das duas abordagens. Apresentamos os resultados
do modelo linear generalizado, utilizando distribuição de Poisson, assim definida:
ln λ t = α + Σ β i xit
Onde lnλλ t é o logarítmo natural da variável dependente; xit são variáveis independentes; αeβ são os
parâmetros a serem estimados.
- modelização das variações temporais como a tendência secular, variações sazonais e diárias
- controle das variações devidas a ocorrências relacionadas ao próprio sistema de atenção à saúde, como
greves e dificuldade de acesso.
- modelização da temperatura e umidade enquanto possivelmente relacionadas com as ocorrências mórbidas.
Os critérios de ajustamento do modelo foram a análise dos resíduos totais e de temperatura
e da Autocorrelação Parcial residual.
O modelo final cujos resultados são aqui apresentados contou com as seguintes variáveis:
Dependentes:
Internações por doenças respiratórias em crianças
Mortes em idosos
Independentes:
Material Particulado (medido no dia ou suas médias móveis até 7 dias)
Temperatura mínima do dia
Umidade mínima do dia
Meses do ano
Dias da semana
Anos de estudo
Internações por doenças não respiratórias (quando se analisou as doenças respiratórias)
Quartis de temperatura
As estimativas de Risco Relativo (RR) e Intervalo de confiança de 95% (IC) foram feitas
utilizando-se os melhores coeficientes de regressão do poluente no dia ou suas médias móveis segundo:
RR = eβ
exponencial de β, calculado para 1µg/m3 do poluente
IC95% = e [β ± 1,96 ep (ββ )]]
Onde ep é erro padrão de β
Na medida em que toda a população está exposta à poluição, o número de casos atribuíveis
para o período considerado pode ser calculado a partir de:
NA = (RR – 1)xN
RR
Onde N é o número médio de internações por doenças respiratórias na infância ou mortes em idosos no
período.
Resultados
RISCO RELATIVO E INTERVALO DE CONFIANÇA DE 95% PARA INTERNAÇÕES RISCO RELATIVO E INTERVALO DE CONFIANÇA DE 95% PARA MORTES
POR DOENÇAS RESPIRATÓRIAS EM MENORES DE 15 ANOS E CONCENTRAÇÕES EM MAIORES DE 64 ANOS E CONCENTRAÇÕES CRESCENTES DE
CRESCENTES DE MATERIAL PARTICULADO - 1993 A 1997 MATERIAL PARTICULADO – 1993 A 1997
1,15 1,05
1,04
1,1 1,03
1,02
1,05 1,01
LS LS
RR 1 RR
LI LI
1 0,99
0,98
0,95 0,97
0,96
0,9 0,95
27,34 a 49,07 49,08 a 59,66 59,67 a 78,17 78,18 a 198,88 16 a 45 46 a 58 59 a 80 81 a 220
3 3
PM10:ug/m PM10:ug/m
Vale salientar que os estudos acerca de morbi-mortalidade e poluentes atmosféricos não tem
encontrado níveis de material particulado seguros para a saúde. Teoricamente, a ausência de poluição seria o
recomendável, objetivo este impraticável tecnicamente levando-se em consideração os conhecimentos
acumulados mundialmente.
30 150 PM10-OBS
20
100
10
50
0
0
L
V
O
N
EZ
R
UT
AI
R
V
JU
FE
SE
NO
JA
JU
B
G
A
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
M
D
O
A
M
Entendendo vigilância como informação para ação, os dados obtidos foram apresentados
aos gestores de Saúde e Ambiente dos diversos níveis (estadual e municipal) e atualmente vem sendo
discutida proposta de seminário envolvendo toda a região metropolitana da cidade de São Paulo para
discussão de medidas de melhoria da qualidade do ar e acompanhamento dos indicadores de saúde.
Conclusões
Apesar de linkage de dados ter sido apontado como caminho para a construção de
Indicadores de Saúde Ambiental pela OMS, pouco se produziu em termos de modelo quando se estuda a
vigilância de efeitos na saúde decorrentes da poluição atmosférica. O sistema de Vigilância francês utiliza os
resultados obtidos nos estudos ecológicos de séries temporais para discutir e subsidiar a implementação de
medidas de controle (Quénel et al, 1999). Mais recentemente estes estudos vêm avançando, no sentido da
construção de uma memória de dados que permita não só recolocar a importância dos riscos sanitários
decorrentes da o poluição atmosférica, como também construir modelos de dose- resposta para subsidiar
ações frente a ocorrência de picos de poluentes (RNSP,1999). Apesar destes avanços, e do uso de técnicas
bastante sofisticadas, não se logrou ainda a construção de indicadores capazes de avaliar o impacto de
medidas de controle da poluição na morbi-mortalidade.
Os estudos ecológicos de séries temporais fornecem uma relação geral entre os níveis de
poluentes e riscos sanitários, o que em si já se constitui em grande subsídio para a tomada de decisão.
Tomando como exemplo o município de São Paulo, observamos que a média anual de 50µg/m3 foi
ultrapassada em todos os anos estudados. Considerando apenas as doenças respiratórias na infância, ocorreu
no período um acúmulo de 12.400 internações tendo-se como base apenas aquelas registradas no Sistema
Único de Saúde. No mesmo período contamos com 2.925 hospitalizações devidas a meningite e 7.562 a
tuberculose, o que evidência a importância da questão da poluição atmosférica e seus efeitos na comunidade
como um problema de Saúde Pública.
Em resumo, o estudo de factibilidade do estabelecimento de vigilância dos efeitos de curto
prazo na saúde decorrentes da poluição atmosférica nos indica que:
40.000 40.000
1 hora (1) 35 ppm 35 ppm Infravermelho
monóxido de carbono 8 horas (1) 10.000 10.000 não dispersivo
9 ppm 9 ppm
0,08 ppm
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