Faculdade de Ciências
Campus de Bauru
BAURU
2007
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Faculdade de Ciências
Campus de Bauru
BAURU
2007
3
Agradecimentos
pela dedicação em auxiliar a todos os alunos em suas dificuldades e também por participar
Às minhas amigas,
.
4
Dedicatória
RESUMO
PALAVRAS CHAVES: Jean Piaget, Paulo Freire, pedagogia tradicional, pedagogia ativa
e pedagogia progressista.
6
Sumário
Introdução 7
1. Metodologia 9
5. Considerações Finais 50
REFERÊNCIAS 52
7
INTRODUÇÃO:
Os educadores necessitam ser conhecedores das teorias que norteiam sua prática.
pesquisa que realizamos estudou as teorias de Jean Piaget e Paulo Freire. O objetivo da
escolha dos autores foi analisar as semelhanças que podem existir entre ambos.
pensarmos a aprendizagem. No entanto, Jean Piaget e Paulo Freire são criticados (de forma
superficial e ingênua) por suprimir o papel do professor, evidenciar o aluno como centro de
acadêmicos. Segundo essa leitura, o aluno estuda quando quer, o que quer e como quer.
Além disso, aparece a crítica política frente às concepções sobre a educação dos piagetianos
e dos freirianos.
Piaget e de Paulo Freire e também textos que fazem referências a estes teóricos da
educação, com o intuito de desmistificar as idéias que não condizem com a real tese destes
pensadores.
possíveis semelhanças existentes entre as teorias de Jean Piaget e Paulo Freire frente a
1. METODOLOGIA
análise de textos. Optamos por uma maneira clássica de interpretação de textos, que busca a
ordem interna das razões levantadas pelo autor. Na análise do texto, busca-se atingir as
justificações que um autor dá de seu próprio sistema (ordem das razões levantadas por ele).
conforme a intenção do autor, a ordem das razões e sem jamais separar as teses dos
uma maior compreensão de sua tese. Por conseqüência estas leituras originaram o primeiro
No segundo momento realizamos a leitura das obras de Paulo Freire. Com o mesmo
sites de conteúdo acadêmico e cientifico para aprofundarmos nossos estudos. Por tanto,
descrevemos nossos estudos sobre este pensador no segundo capítulo denominado A noção
referência.
Aproximações entre a teoria de Piaget e Paulo Freire. Neste momento nos atemos a
comparar ambas as teses, que é um de nossos objetivos. Realizamos esta análise com o
10
de Fernando Becker, filosofo que se dedica a estudar as semelhanças entre Piaget e Freire.
11
sobre aprendizagem, como esta ocorre e quais são os pressupostos que devemos considerar,
conhecimento. Além disso, devemos considerar que este teórico não desenvolveu nenhuma
teoria da educação, como muito se afirma, mas suas idéias embasaram a teoria
construtivista pela qual defendia, devido suas experiências, um método que valorizasse o
ser humano e suas faculdades intelectuais. Elaborou a epistemologia genética, que entende
Para discutir a questão do conhecimento propõe uma regressão aos estados mais primitivos
Podemos perceber nas leituras realizadas sobre este autor uma característica muito
Dada a abrangência dos trabalhos de Jean Piaget1, podemos afirmar que este
investigou e explorou a mente humana. Muitos de seus trabalhos foram importantes para
Encontramos, também, objeções a sua teoria, por vezes as críticas dizem respeito à
1
A produção de Jean Piaget é extensa e complexa. Escreveu 96 livros (ele e colaboradores) e uma centena de
artigos e textos.
12
que o sujeito sem o social não teria a mínima condição de se constituir; Piaget2 apud La
devemos compreender é que, para que haja socialização é necessário que haja equilíbrio
entre os sujeitos, entretanto o que há é uma diferenciação do ser social em fases distintas de
pensamento deste epistemólogo. Outro enfoque de crítica são as afirmações de que este
Piaget. Negando esta questão da consideração apenas da maturação, Piaget (1974, p. 34)
2
Piaget, Jean. Biologia e conhecimento: ensaio sobre as relações entre as regulações orgânicas e os processos
cognoscitivos. Petrópolis: Vozes, 1973.
13
no entanto, nossas ações que se elaboram a partir do estofo inicial biológico se constitui
experiências físicas ou sociais, que resultam na aprendizagem, ou seja, este último não se
resume somente em desenvolvimento. Seria muito superficial uma teoria que admitisse a
primeiro precisa desenvolver para depois aprender (essa foi uma má leitura de Piaget).
A união destes fatores originará um terceiro fator que não pode ser caracterizado
nem como uma estrutura inata (hereditária) nem como resultante da experiência do meio, é
3
Piaget, Jean. A teoria de Piaget. In: Carmichael, Leonard. Manual de Psicologia da criança;
desenvolvimento cognitivo. São Paulo: EDUSP, 1977. v. 4, p. 70-115.
14
garantir objetivos desejados que necessite de operação, da atividade produtiva que o sujeito
idéias sobre assimilação, acomodação e equilibração das estruturas. Estes termos biológicos
são de grande importância na teoria de Piaget, pois é através deste que este estudioso
possuímos esquemas para realizá-las com sucesso, quando nos deparamos com situações
jamais vistas não ignoramos estes esquemas, utilizamo-os como base para solucionarmos o
novo. Piaget4 apud Becker (1997, p. 34) explica o que são os esquemas: “Os esquemas são
a situações ou objetos diversos.” Ou seja, são estruturas que norteiam nossas ações,
desenvolver tarefas.
meio. Ocorre assimilação quando o sujeito incorpora os dados externos aos esquemas que
Diante de uma situação nova o sujeito utilizará esquemas já formados para explorar
o novo, ou seja, assimilar o objeto. Por exemplo, diante de uma situação problema que
nunca fora conhecida o indivíduo utilizará seus conhecimentos prévios para reconhecê-lo.
4
Piaget, Jean. Biologia e conhecimento: ensaios sobre as relações entre as regulações orgânicas e os
processos gognoscitivos. Petrópolis: Vozes, 1973.
15
pendente. Esta assimilação está longe de ser associação como diria os associacionistas.
Assimilar não é apenas associar situações que se cruzam é incluir nesta associação a
significação e incorporação dos dados. É um ato que possui significado para o sujeito, pois
suas obras. Já copiar, memorizar e associar não envolvem a atividade do sujeito, pois estão
(1973, p.14) expõe a necessidade da assimilação como um dos processos fundamentais para
o desenvolvimento cognitivo:
modo assimilação e acomodação são inseparáveis, assim, Piaget 5 e Dolle6 apud Becker
5
Piaget, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 389.
6
Dolle, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p. 202.
16
defende.
aprendizagem que envolve a mediação entre sujeito e objeto são dadas através dos sentidos,
que o indivíduo ao nascer não possui estruturas inatas, sendo que a criança é definida
nesses termos como tabula rasa. Será através das experiências perceptivas que se moldará a
nos outros pressupostos há diversas concepções, sendo que dentre as relações educativas
temos aquelas que são resumidas pelo verbo transmitir, fundamental para a visão empirista,
informações.
perceber através de nossas análises a posição de Piaget (1976, p.98) frente aos métodos
tradicionais:
Os empiristas crêem que todos podem aprender neste formato de educação, aqueles
que fogem a regra são considerados anormais. Consideram que a inteligência é como um
dispositivo que sendo pressionado através da memorização se efetivará e dará seus frutos,
entretanto, não é por este caminho que desejamos desenhar a educação. A educação neste
método que é denominado tradicional somente marginaliza e molda o indivíduo para que
na ignorância por séculos, entre estes estão a concepção de que a linguagem, a lógica e
moral são inatas no ser humano. Deste modo, a lógica permaneceu por séculos como sendo
natural ao homem. Este equívoco norteou idéias da escola tradicional, Piaget (1988 p.31):
conteúdos das disciplinas através de memorizações que serão verificadas (medidas) com as
avaliações. Ou seja, não há abertura para que o aluno explore, manipule, formule e exponha
7
Hull, C. L. Knowledge and Purpose as Habit Mechanismus, Psycol. Ver., 1930, 37, pp. 511-525.
19
que este não possa assimilar, inferir, interagir com o conhecimento que fora transmitido.
Com este tipo de transmissão só cabe ao sujeito registrá-la, sendo amputado o direito de
das respostas, cuja contribuição para o desenvolvimento intelectual será mínimo. Piaget
(2003) critica a perspectiva empirista e a natureza deste conhecimento que provêm somente
das experiências e da percepção. Como podemos perceber em várias análises das leituras
educação.
empirista, pois a aprendizagem das diversas disciplinas parecem estar encaixotadas, como
se houvesse um lacre que não poderíamos retirar, este lacre é a metodologia que
natureza. Piaget (1988) evidencia que para cada aprendizagem há esquemas diferenciados
20
sobre: O quê ensinar? Para quem? E ao refletir sobre tais questões devemos pensar: Como
ensinar? Neste momento de reflexão deve-se considerar a idade das crianças, os objetivos a
conhecimento, para que haja o movimento reflexivo de ação – reflexão – ação. Piaget
(1988) afirma que muitos dos problemas de aprendizagem são de ordem metodológica, ou
sua metodologia, o educador que considera a idade de seus educandos deve pensar o
conteúdo de modo concreto e abstrato, sendo que em cada fase as crianças possuem
estruturas lógicas:
Muitos dos problemas existentes no cotidiano escolar podem ser encaminhados com
práticas ativas, que desenvolvam espíritos inventivos e criativos, mas para termos práticas
mais coesas com a necessidade infantil é necessário que a formação dos professores se
adapte a esta demanda, Piaget (1976, p.130): “Portanto, sob todos os ângulos, o problema
21
conhecimentos prévios de cada indivíduo. Através deles teremos as primeiras noções sobre
o que a criança conhece mesmo que sejam idéias remotas, frágeis e sem argumento. O
necessário é que cada educador realizasse uma pesquisa para conhecer as formulações e
justificativas de cada criança sob o conteúdo a ser adquirido. Entretanto, no método que
estamos estudando o aluno é concebido como tábula rasa, sendo que este nada sabe
Não somente uma aprendizagem não parte jamais do zero, quer dizer que a
formação de um novo hábito consiste sempre numa diferenciação a partir
de esquemas anteriores; mas ainda, se essa diferenciação é função de todo o
passado desses esquemas, isso significa que o conhecimento adquirido por
aprendizagem não é jamais nem puro registro, nem cópia, mas o resultado
de uma organização na qual intervém em graus diversos o sistema total dos
esquemas de que o sujeito dispõe.
norteia o trabalho pedagógico é um processo de indução, pois o sujeito realiza o que fora
pedido mediante um exemplo a ser seguido em todas as atividades, mas não compreende o
que fez e o porquê de estar fazendo tal tarefa, que a torna insignificante. Piaget (1974, p.53)
afirma:
Como podemos analisar no que dissemos antes, Piaget nega que no método
pois memorizar não significa assimilar ativamente. Esta indução não passa de uma
compreensão instantânea para que o aluno possa ser capaz de solucionar aquilo que lhe fora
proposto no momento da tarefa. O que ocorre é que, passado algum tempo, quando refaz o
de modo assimétrico, cuja educação é baseada no respeito unilateral, ou seja, cabe ao aluno
apenas receber e respeitar as ordens vindas de seus superiores, como no caso estamos
falando em educação estes superiores são os professores. Este respeito é caracterizado pelas
coações, sendo que o aluno respeita porque tem medo das punições que poderá receber.
fornecidas ao sujeito de caráter indeterminado, ou seja, uma conduta que este deve seguir
por toda vida ou até mesmo um valor (não mentir, por exemplo) e consecutivamente a
nada mais é que um misto de afeição e temor. Mas Piaget (2003, p.111) questiona esta
conceituação:
Entretanto, o respeito descrito por Bovet constitui apenas uma das duas
formas possíveis de respeito. Nós lhe chamaremos “unilateral”, porque liga
um inferior a um superior considerado como tal, e o distinguiremos do
“respeito mútuo” fundado na reciprocidade da estimação.
8
Bovet, P. Les conditions de l’obligation de conscience. Anne psychologique, 1912.
23
Como resultante desta relação unilateral, La Taille (1992, p. 19) expõe sobre a
Nesta condição, podemos afirmar que a educação tradicional age como mantedora
aluno, pois se este indivíduo tem a possibilidade de uma mobilidade social atingindo uma
classe de nível econômico melhor, continuará a agir do mesmo modo que fizeram com ele,
ou seja, será autoritário e exercerá a coerção para obter fins desejados. Caso isso não ocorra
9
Marx e Engels (1974 p. 55-56) contextualizam o conceito de ideologia relacionado ao homem e ao trabalho
dentro da sociedade. Expõe sobre as relações de trabalho entre os homens na história e a produção de idéias
ligadas à atividade material: “O pensamento da classe dominante são também, em todas as épocas, os
pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é
também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe
igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados
os meios de produção intelectual estão submetidos a classe dominante. Os pensamentos dominantes são
apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de idéias e, portanto, a
expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as idéias de
seu domínio. Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem entre outras coisas uma consciência,
e é em conseqüência disso que pensam; na medida em que dominam enquanto classe e determinam uma
época histórica em toda a sua extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, que
tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que
regulamentam a produção e a distribuição dos pensamentos de sua época; as suas idéias são, portanto, as
idéias dominantes de sua época.”
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tornará mais difícil desenvolvê-la na vida adulta, não terá autonomia para decidir por si
também as fases do desenvolvimento moral da criança, definidas também por Piaget 10 apud
La Taille (1992), sendo que ambos se relacionam e são semelhantes. No caso de uma
acomete apenas a receber ordens e respeitá-las, não tendo a autonomia para realizar suas
tarefas. Ou seja, a criança se caracteriza por atitudes passivas, pela qual respeita de forma
considerar é que esta categoria das fases do desenvolvimento moral e afetivo, que se
Além de todas estas questões que envolvem a Educação Tradicional temos que
10
Piaget, Jean. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973.
25
Observa-se então que a avaliação tem caráter discriminatório, punitivo e seletivo. Separa-se
Percebemos que Piaget tem um posicionamento contrário diante desta avaliação que
exclui o indivíduo, pois esta não examina de fato toda aprendizagem, o desenvolvimento do
aluno, mesmo que não seja o desejável ou ao nível do currículo de determinada série,
também podemos afirmar que este defende a avaliação que considera o cotidiano escolar, as
estimulam o pensamento e o raciocínio, entre elas o jogo. É através do jogo que a criança
assimila o real ao eu. Piaget (1976, p.158) expõe sobre a concepção de jogo à metodologia
empírica: “O jogo é um caso típico das condutas negligenciadas pela escola tradicional,
educação e conscientes de sua função social devêm se questionar sobre: quais cidadãos
desejamos formar? Aliás, qual é conceito de cidadania dentro de nossa sociedade? E para
quê ou para quem estes serão educados? Piaget (1976, p. 61) expõe o objetivo central da
educação:
.Para Hutchins11 apud Piaget (1976) o ensino tem como objetivo fundamental
desenvolver a inteligência, esta afirmação é muito aceita por várias linhas de pensamento.
Entretanto Piaget nos apresenta que é necessário definir o que é inteligência e quais são
suas funções, sendo que estas se resumem nos verbos compreender e inventar. Nas diversas
pedagogias estas duas ações são colocadas como subordinadas entre si, nas antigas teorias,
1976, p.36).
esses objetivos serão alcançados ou qual é melhor método para se atingir o desejado. Piaget
11
Hutchins, R. M. Enciclopédia Britânica.
27
Piaget defende um ensino que seja experimental, que mobilize o indivíduo a pensar
a experiência que expõe não é aquela colocada pelo empirismo clássico, mas as de natureza
necessário que o indivíduo reconstrua e faça que este conhecimento se torne significativo.
Os métodos ativos são criticados por “estereótipos” que não condizem com a real
teoria. Piaget (1976) apresenta equívocos que foram cometidos na interpretação do método
ativo: primeiro a idéia que nesse método os trabalhos escolares são todos manuais.
atividades que motivem as sensações e percepções, entretanto, Piaget sempre ressalta que a
aprendizagem a contatos manuais, a atividade sob o objeto de estudo; a esse respeito Piaget
(1976, p. 104) afirma: “Ora sabemos hoje que a inteligência procede antes de mais nada
propriamente dita”.
28
Outra idéia de princípios errados é a afirmação de que neste método de trabalho não
há regras, que cada um faz o que bem entende e no momento que deseja, entretanto Piaget
Piaget (1988) aponta alguns princípios que nortearão uma aprendizagem bem
transmissão e passividade, mas que haja atividade e ação sobre o conhecimento a ser
assimilado. Também é preciso que haja um trabalho unificado com equipes escolares
motivadas por objetivos e finalidades coerentes com o que às crianças necessitam sendo
Porém, Piaget (1988, p.15) nega uma afirmação que muitos pedagogos julgam ser
inteligência e suas capacidades e limitações em cada fase. Estes pressupostos nortearão sua
Em sua defesa ao método ativo, Piaget fala sobre a questão das disciplinas
buscar nas ciências as explicações dos fenômenos, ou seja, enfatiza que a metodologia ideal
é aquela que possibilita que o sujeito se motive a buscar respostas a suas dúvidas, com um
ativo devido o alto nível de compreensão que a criança adquire a respeito de um fenômeno.
seja, para que o homem não seja um ser técnico somente em dada área, mas que seja
conhecedor dos mais diversos campos que diretamente ou indiretamente influenciem sua
a verdade. Piaget (1988, p. 21) menciona que esta fragmentação das disciplinas tem origem
sujeito o senso crítico e eliminando a visão sincrética dos conteúdos. Neste mundo
que tornem os sujeitos construtores de sua própria história é preciso que haja uma
Piaget (1988, p.32) faz uma releitura do art. 26 da Declaração Universal do Direito
do Homem que diz “Toda pessoa tem direito a educação” expondo que: “Todo ser humano
tem o direito de ser colocado, durante a sua formação, em um meio escolar de tal ordem
que lhe seja possível chegar ao ponto de elaborar até à conclusão, os instrumentos
Se a educação é direito de todos, para que seja direito de todos é necessário que esta
seja gratuita e de qualidade. Para que seja de qualidade é preciso como afirmamos
31
Enfim, Piaget revolucionou a educação, implantou uma nova visão aos problemas
metodológicos, “explorou” a infância por meio do método clínico e apresentou uma criança
que jamais tínhamos visto. Aposta que a através da educação podemos chegar à cidadania e
a democracia. Democracia dos direitos, dos métodos, dos recursos, dos acessos, do
da ação para as mais distintas áreas que envolvem nossa vida social, cultural, política e
reciprocidade entre ambas, pois o trato com uma destas partes reflete também em formação
para outra. Direcionando o trabalho educativo nestes nortes apresentados, teremos um vasto
visão global dos problemas que envolvem a nossa sociedade, interativo e consciente de sua
da realidade opressora em realidade igualitária, sua luta é a favor dos menos favorecidos, os
marginalizados da sociedade.
do pensar autêntico como menciona Freire (2005). Freire coloca a Humanização como algo
direito de o ser mais como vocação dos dominadores e o ser menos como a vocação dos
dominados.
relações de poder existente na sociedade, isto para que o indivíduo possa transformar,
modificar o que lhe é oferecido como se fosse o máximo que poderíamos ter e muitas vezes
ver o dominador como um sujeito generoso, porque sua ideologia já corrompeu e alienou o
cidadão.
por ser dialógica e também dialética, dialética porque não podemos dicotomizar os
fundamentos da educação que são: ação – reflexão, subjetivo – objetivo, homem –mundo,
via de mão única, mas via de mão dupla, não é assimétrica, mas é simétrica. Dialógica
porque é através da comunicação que estabelecemos relações com o outro, que edificamos
quando o indivíduo entende isto que fora mencionado, um grande e vasto caminho se abre e
passamos a entender muitos fatos ou condições que nunca fora compreendido por nós.
Na visão de Freire, para que haja equilíbrio na sociedade não é necessário que os
papéis sejam trocados, ou seja, que opressores se tornem oprimidos e oprimidos se tornem
opressores, se isto ocorresse teríamos um grande equívoco e uma grande contradição. Sua
luta é para equalizar com qualidade e quantidade. Defende uma Pedagogia que liberte os
agir e pensar.
O que podemos analisar nesta citação é que Freire também nega as práticas que se
necessário uma postura frente esta realidade, uma subjetividade que seja coesa e que tenha
Em outros estudiosos da educação podemos perceber que eles negam esta postura
política da educação, entre eles, Saviani (2000) explica que em cada prática social temos
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder
ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de
posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto ou aquilo.
Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não
importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem
ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a
concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência contra o
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra
a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda.
realidade. Por isso que suas obras são uma denúncia aos modos que constituem a educação
35
oferecida aos homens das camadas populares. Diz Freire (2005, p. 46) sobre a pedagogia
que defende:
conscientização crítica que conduz a uma pedagogia libertadora, um dos argumentos é que
Freire (1983) expõe que dentro de uma sociedade fechada teremos nos oprimidos
uma consciência intransitiva, estática, imutável, uma consciência que não compreende a
pertencentes a esfera biológica, não tem domínio histórico cultural de sua própria vida e
36
não entende sua situação dentro da sociedade. Esta consciência também é denominada
sociedades abertas. Como o próprio nome diz o homem é transitivo, ele pensa e age neste
sociedade temos um estado de consciência transitiva ingênua que significa que o homem
um modo simplista. Não encontra a verdadeira origem destes problemas, utiliza ainda de
argumentos mágicos para fenômenos que não entende. Nesta fase de desenvolvimento da
consciência é necessário muita cautela, pois Freire (1983) explica que é neste fase que se
atrocidades. Vieira12 apud Freire (1983) explica “A consciência ingênua (…) se crê
superior aos fatos, dominado-os de fora e, por isso, se julga livre para entendê-los
Por superação desta fase teremos numa sociedade aberta à consciência transitiva
crítica. É esta consciência que Freire deseja alcançar com métodos educativos que
preconizem o ser humano em sua totalidade. Freire (1983, p. 61) explica detalhadamente
esta fase:
12
Vieira, Álvaro Pinto. Consciência e realidade nacional. Rio de janeiro: ISEB, M.E.C., 1961.
37
educação bancária que Freire (2005) descreve trabalha com a consciência ingênua, esta
apenas uma educação de despejo de conteúdos alheios a ele. O objetivo desta educação é
manter o status quo e formar uma parcela de trabalhadores alienados, que desconhecem a
apenas a um dos lados, quem exerce o poder da palavra é o professor e sua fala é
A educação bancária caracteriza-se pela relação entre o educador (que tudo sabe) e
o educando (que não sabe). O educador por ser aquele que tudo sabe deposita seus
conhecimentos.
38
baseado na fala temos uma cristalização da realidade, pois o aluno não participa do
processo, pelo qual deveria ser sujeito ativo. Freire (2005, p. 65), explica a condição do
professor:
[...] o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real
sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos conteúdos de
sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da
totalidade em que se engendram e me cuja visão ganhariam significação. A
palavra, nestas dissertações, se esvazia da dimensão concreta que deveria
ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante.
Daí que seja mais som que significação, assim, melhor seria dizê–la.
alunos, como são recipientes devem cumprir a tríade receber, memorizar e arquivar. Esta
das avaliações. Entretanto, este conhecimento insignificante não serve para ser utilizado no
cotidiano dos alunos, assim, há uma dicotomia entre a escola e a vida cotidiana.
grandes, mas além disso, transfere valores, comportamento, modos de agir e de aceitar
identidade, nem opinião, acrítica. A escola nesta dimensão é uma extensão da sociedade
Segundo Paulo Freire os oprimidos, neste panorama, são vistos como os “anormais”
da sociedade. Freire (2005, p. 69) expõe o pensamento desta pedagogia bancária: “Os
oprimidos, como casos individuais, são patologia, da sociedade sã, que precisa, por isto
está dentro da sociedade, manter a classe dos pobres que servem como mão de obra barata e
a classe dos ricos que dirigem os negócios e governam estes trabalhadores. Estes primeiros
já incorporaram que são incapazes e desajustados a sociedade, por tanto ouvir de seus
superiores, e crêem que esta sociedade que os marginaliza é boa. Então Freire (2005, p.70)
conclui que “Daí que a educação bancária, que a eles serve, jamais possa orientar-se no
quem precisa se ajustar é o homem. Ele está imerso nela, é como se não estivesse presente
dentro dela, é “puramente espectador do processo”, o que ocorre é que entende que as
relações sociais são inerentes a ele e não há nada que possa ser feito. Este panorama dá
margem a outra questão que Freire (2005, p.72) conceitua: “Sugere uma dicotomia
como algo espacializado neles e não aos homens como ‘corpos conscientes’.”.
Assim tudo caminha a favor do dominador, os homens se tornam cada vez mais
passivos graças a educação imposta pelo dominador. Quanto mais passivos mais adaptados
ao mundo capitalista. Mas isto não ocorre por acaso, há um objetivo que norteia esta prática
[...] um dos seus objetivos fundamentais, mesmo que dele não estejam
advertidos muitos do que realizam, seja dificultar, em tudo, o pensar
autêntico. Nas aulas verbalistas, nos métodos de avaliação dos
‘conhecimentos’, nos chamado ‘controle de leitura’, na distancia entre
educador e os educandos, os critérios de promoção, na indicação
bibliográfica, em tudo, há sempre a conotação ‘digestiva’ e a proibição ao
pensar verdadeiro.
Freire e sua defesa por um ensino que valorize o homem, desenvolva suas capacidades e
corresponda com a própria natureza do ser humano que é de se humanizar e ser mais dentro
injusta e discriminatória. Freire (1977, p.40 e 41) expõe a natureza e condição do homem
na sociedade:
relações sociais existentes nesta prática, sendo elas definidas no educando e no educador.
Nesta nova práxis haverá uma relação dialética através do diálogo, que será à base desta
proposta. Com o diálogo o professor dominará o que o aluno conhece os seus argumentos
conhece, pelo contrário, é preciso superar por incorporação para compreender melhor o
diálogo o professor investigará seus alunos a fim de estruturar um trabalho pedagógico que
que é o que nos diferencia dos animais, esta ação é um dos primeiros momentos para a
relações entre eu–mundo–outro. É perceber que estas relações são mediadas pelo mundo, e
o mundo é o objeto cognoscente que se deseja desvendar, é o olhar crítico e clínico sob o
a campo, dialogar com a comunidade para que futuramente possam ser estabelecidos os
não quer dizer que Freire nega a ciência, pelo contrário, ao elencar os temas, é necessário
causalidade e etc.
Podemos perceber que há uma globalidade nos estudos dos temas, ou seja, a
Diante desta explanação, podemos analisar que Freire não estabelece a construção
do conhecimento como uma receita muito bem elaborada, muito pelo contrário, Freire
formato de educação inserida nesta sociedade que apenas advoga a favor dos dominadores.
educador, define as características de sua pedagogia para obter resultados que possibilitem
aos marginalizados das sociedade o direito de SER e também de TER, pois na sociedade
capitalista o que mais importa é o verbo TER, ter posses, ter status, ter dinheiro.
43
com este tipo de educação e implantarmos um ensino que possua a dialética entre
porém não estamos falando num Ter no sentido mais profundo, é um Ter que, no mínimo,
emprego e etc. É a possibilidade de orientar o homem a voltar a suas origens, que é o de ser
mais e ser humano, é o direito de transformar, mas acima de tudo ser consciente do que faz,
é ser solidário com o outro e enxergar no outro o próprio eu, é viver a práxis. Freire (2005
p.141):
[...] os homens são seres da práxis. [...] como seres do quefazer ‘emergem’
dele e, objetivando-o podem conhecê-lo e transformá-lo com seu trabalho.
[...] Mas, se os homens são seres do quefazer é exatamente porque seu fazer
é ação e reflexão. É práxis. É transformação do mundo. E, na razão mesma
em que o quefazer é práxis, todo fazer do quefazer tem de ter uma teoria
que necessariamente o ilumine. Oquefazer é teoria e prática. É reflexão e
ação.”
Assim, Freire nos conduz à reflexão crítica da sociedade, do mundo, nos faz pensar
sobre as relações de poder, para a construção de uma nova práxis pedagógica que valoriza o
Nesse capítulo buscamos as semelhanças existentes nas teses elaboradas por Jean
O que nos é mais visível é que ambos negam o modelo tradicional de educação.
portanto a essência é a mesma. A crítica que fazem a educação tradicional é devida ao seu
coloca na posição de vítima frente os problemas e transfere a culpa aos alunos, que se
Na defesa por uma educação de qualidade, percebemos que ambos embasam suas
a reestruturação está em implantar uma pedagogia ativa na educação das crianças, incluindo
conhecerá mais as crianças e poderá melhorar a sua prática, pois poderá estruturar
Freire e Piaget advogam, também, por uma boa formação de professores, formação
esta crítica e dialógica. Com educadores conscientes e conhecedores profundos das relações
e realidades sociais, poderemos construir novas relações, que possibilitarão aos educandos
da cultura, o mundo social e orientar para que o educando se descubra como ser histórico e
Piaget não nega os conteúdos como muito se afirma. Defende que o educador utilize
conhecimentos prévios do aluno, para contextualizar aquilo que se ensina. Freire também se
importa com estas questões. Contextualizando seu trabalho com a realidade do educando, o
criança adquire nas relações sociais e no cotidiano, e superará este nível por incorporação
os rumos da educação, não são livres para estruturar o currículo com seus alunos, pois
dentro das relações hierárquicas são cobrados de seus superiores a contemplação de todos
46
com que Piaget e Freire defendem que é a necessidade de buscar na prática social de seus
De modo intrínseco, Piaget e Freire expõem uma das capacidades do professor que
dinâmico e ativo. Negando deste modo qualquer forma de conteúdo que apenas aliena e
educação sejam reestruturadas. Na perspectiva de Freire temos a defesa por uma educação
modelo tradicional que coloca o professor como o grande sábio e o aluno como ignorante,
aos seres ignorantes. Educador e educando são sujeitos da educação, aprendem e ensinam
É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do
que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina
e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal
maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um
conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira
como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-
se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas,
acertos, equívocos.
47
condição necessária a uma educação que tem como objetivo a qualidade, a transformação, a
crítico. Este conhecimento significativo é exposto por Freire13 apud Becker (1997, p. 104):
Freire coloca como necessário para a educação o diálogo, que pressupõe trocas
entre sujeitos. Através do diálogo, os sujeitos podem pensar juntos e recriar a realidade,
desde que este diálogo tenha como fundamento a verdade. Diz Freire (2005, p. 90): “(...) a
palavra verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo, dizer a palavra
educação problematizadora.
possibilitar ao educando a ação sobre o objeto de estudo. Por meio da tecnologia o aluno
conceberá novas visões de mundo, pois não assimila passivamente o conteúdo, mas
trabalha com ele de diversos modos. Assim Gadotti (1997) caracteriza Freire como um
construtivista crítico:
13
Freire, Paulo. Conscientizar para libertar. In. : Torres, Novoa, Carlos Alberto. A práxis educativa de Paulo
Freire. São Paulo: Loyola, 1979, p. 105-180.
48
Para Piaget também é através das ações que o sujeito extrai o conhecimento. Pela
assimilação, que esta em ter consciência do que se faz através da ação, operação e
manuseio por parte do sujeito sobre o conhecimento. Esta significação está em trazer para a
Piaget defende a escola que seja inovadora, que seja ativa, que motive o sujeito a
realizar suas descobertas. Que faça com que educando possa se ver dentro da educação,
mudança social. Por isso, este epistemólogo elogia a escola nova. Diz Piaget (1974, p. 48):
educação, pois vêem nela a chave para a resolução de muitos problemas de ordem social e
econômica. Concordamos com esta visão de que uma educação que mobiliza os
educandos, que os faça sentir sujeitos históricos e autônomos, pelo qual sentimentos de
respeito mútuo e afeição envolvem as relações interpessoais são valores necessários para
49
transformação do mundo capitalista. Também não pactuam com as mazelas que a educação
idealista. Pois a posição idealista pressupõe que seja necessária a mudança da estrutura
educacional, social e econômica. Freire14 apud Becker (1997, p. 103) define a utopia: “[...]
necessário uma mudança na postura do educador e na sua formação. Para que ele possa
condição que o capitalismo nos oferece que são as diferenças sociais e o preconceito sobre
os menos favorecidos.
14
Freire, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo
Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979, p. 97.
50
Freire era desmistificar ou confirmar as críticas que sofrem estes teóricos. Concluímos
através de nosso estudo que ambos se assemelham e as críticas não passam de uma má
leitura de suas obras. Já que propõem uma nova metodologia para superar o modelo de
sua essência é a mesma. Piaget utiliza os termos biológicos para explicar os processos
circular, ou seja, não tem fim em si mesma. O sujeito age, pensa o que fez e novamente age
de modo reflexivo.
Esses autores procuram uma nova prática para a Educação, baseada na crítica dos
Mas, principalmente inserir nesta nova educação o ato criativo, a ação cultural para
transformador, do humanismo.
Foi extremamente válido realizar este trabalho, pois pude estudar a teoria de Jean Piaget
(desconhecida até o inicio desta monografia) e aprofundar as idéias de Paulo Freire, pois
proporam uma educação que evidenciasse a ação e a reflexão como forma de democratizar
REFERÊNCIAS:
FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores. Estud. av., São Paulo, v. 15, n.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 43° edição, 2005.
GADOTTI, Moacir. LIÇÕES DE FREIRE. Rev. Fac. Educ., São Paulo, v. 23, n. 1-2,
teoria e prática da libertação. Tradução de José Viale Moutinho. Porto: Editora Nova
Crítica, 1977.
LA TAILLE, Yves de. O lugar da interação social na concepção de Jean Piaget. In:. Piaget,
PIAGET, J. Para Onde Vai a Educação? Rio de Janeiro: José Olympo , 9ª edição, 1988.
Tradução Equipe da Livraria Freitas Bastos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974.
Vozes, 1973.
Accioly Lindoso e Rosa Maria Ribeiro da Silva. Rio de Janeira: Forense Universitária,
1976.