BELO HORIZONTE
2009
1
“Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.”
Castro Alves
Diagramação:
Elizabeth Miranda
Revisão:
Ana Emília de Carvalho
Capa:
Túlio Oliveira
Produção Editorial:
Mazza Edições Ltda.
Rua Bragança, 101 – Bairro Pompeia – Telefax: (31) 3481-0591
30280-410 Belo Horizonte – MG
e-mail: edmazza@uai.com.br
www.mazzaedicoes.com.br
2
sumário
Prefácio..........................................................................................7
A MENSAGEM CODIFICADA
A Geração Excluída (1823/1883)............................................29
A Primeira Geração (1883/1943).............................................29
A Segunda Geração (1943/2003).............................................30
A Terceira Geração (2003/2063).............................................30
Identidade Cultural..................................................................32
TEMPOS DE VIOLÊNCIA
A Raiz da Violência no Oriente Médio..................................112
Os Benefícios para a Humanidade da Destruição do
Templo de Jerusalém por Tito...........................................113
Armagedom - Um Processo em Andamento...........................113
A Visita do Presidente Iraniano ao Brasil
e as Reações da Comunidade Judaica...............................114
Telavive de Olho na América Latina......................................118
A Visita do Chanceler Israelense e a Participação do Brasil
no Processo de Paz no Oriente Médio...............................122
AS LIÇÕES DA HISTÓRIA
Flávio Josefo..........................................................................125
A Destruição de Jerusalém Pelos Romanos no Ano 70 d.C....126
As Profecias sobre a Destruição do Templo de Jerusalém.......127
O Testemunho de Flávio Josefo.............................................128
O Amargo Regresso..............................................................128
As Sementes da Destruição....................................................130
5
Os benfícios do Pré-sal e a Ganância do Governador
Sérgio Cabral....................................................................156
Transporte Alternativo de Óleo e Gás do Pré-Sal...................162
Hidro-Helicópteros.............................................................163
A Presença de Gás Hélio na Bacia do Rio São Francisco
em Minas Gerais...............................................................165
A Era do Pré-Sal e os Biocombustíveis ..................................167
As Novas Tecnologias e a Produção de Biodiesel...................168
A Síndrome do Sapo Fervido.................................................170
REFERÊNCIAS.........................................................................237
O Autor.................................................................................238
6
Prefácio
8
O BRASIL DAS PROFECIAS
A Nova Canaã
10
Os Portugueses – Os Descobridores do Paraíso
A Aliança Renovada
14
AS PROFECIAS DE DOM BOSCO
Introdução
Em tempo:
25
rigorosamente a Constituição. Desejo saber se pretende pôr em prá-
tica a mudança da capital federal para o Planalto Central”. JK olhou
para a platéia e identificou o interpelante: era um certo Toquinho.
Embora considerasse a pergunta embaraçosa e já tivesse seu Plano
de Metas pronto, JK respondeu que construiria a nova capital. A
partir daí, Brasília virou a “meta-síntese” de seu governo. Ao as-
sumir a Presidência, apresentou o projeto ao Congresso como fato
consumado. Em setembro de 1956, foi aprovada a lei nº 2.874 que
criou a Cia. Urbanizadora da Nova Capital. As obras se iniciaram
em fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados
de “candangos”. Os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa fo-
ram encarregados de projetar a cidade “futurista”. (BUENO, 2002,
p. 352-353).
26
somava o notório potencial de duas renomadas instituições: a Escola
de Minas, na área de geologia, e a Escola Federal de Engenharia de
Itajubá (EFEI), em eletricidade e mecânica. Neste dia, com a simpli-
cidade que contrastava os títulos tantos que acumulara no Brasil e
no exterior, Carlos Walter me dizia que a bacia hidrográfica do São
Francisco pode esconder um oceano de gás. É uma unidade geotec-
tônica proterozóica – dizia-me. Não deve ter óleo, mas certamente
conterá muito gás natural de petróleo, exatamente como ocorre na
Sibéria e no Mar Amarelo da China, que são, também, bacias prote-
rozóicas, formada a mais de 500 milhões de anos. [...] É rezar para
que as coisas se apressem e aconteçam. Aliás, falando em rezar, isso
me lembra o jornalista Jorge Faria, como eu, ex-aluno salesiano.
Ele diz – e jura – que o verdadeiro sonho visionário de Dom Bosco
sobre o Centro-Oeste brasileiro não era Brasília. Era e é o gás do
São Francisco.
Para completar essas observações, poderíamos acrescen-
tar que, na faixa de Dom Bosco (15o / 20o S), existe outros sí-
tios que se encaixam nas descrições do sonho, como o Pantanal
Mato-Grossense e a região andina do Lago Titicaca, os quais,
se pesquisados, poderão apresentar surpresas agradáveis.
Mas é no litoral Atlântico brasileiro que as visões pro-
féticas de Dom Bosco – “Via numerosas minas de metais pre-
ciosos, filões inexauríveis de carvão, depósitos de petróleo tão
abundantes como nunca se encontraram em outros lugares” –
estão se realizando de forma espetacular, como informa o jor-
nalista Antônio Machado, em sua coluna Brasil S/A, no Jornal
Estado de Minas (9/11/2007, p. 14):
Ontem, a Petrobrás anunciou que os testes finais no campo de Tupi,
na Bacia de Santos, comprovaram a existência de reserva explorável
de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo de qualidade, além de
gás, o que alça o país no ranking dos grandes produtores no mundo.
[...] A descoberta faz parte de uma área de 800 quilômetros de ex-
tensão por 200 de largura, indo do litoral do Espírito Santo a Santa
Catarina, território no qual a Petrobrás começou a mapear sozinha
e em associação com sócios (em Tupi, por exemplo, está junto do
27
BG Group, da Inglaterra, dono de 25% da concessão, e da Petrogal/
Gap, de Portugal, com 10%). [...] A reserva encontrada em Tupi está
a 6 quilômetros de profundidade – com 1,5 a 3 km de lâmina d’água
e mais 3 a 4 km de uma espessa camada de sal.
Considerando os dados divulgados pelo governo federal,
segundo os quais o chamado Bloco de Tupi faz parte de um
conjunto de 41 blocos igualmente promissores, portanto em
condições de comportar reservas da ordem de 300 bilhões de
barris, e que blocos semelhantes podem ocorrer nas bacias si-
tuadas a norte e sul da Bacia de Santos, onde o nível de sal é
conhecido, é possível imaginar reservas da ordem de 1 trilhão
de barris, o que coloca o Brasil no topo do ranking dos deten-
tores de grandes reservas de petróleo e gás, pois o potencial
dessa faixa litorânea, de 800 km de extensão por 200 km de
largura, equivale às reservas totais hoje conhecidas em todo o
planeta. Isto sem contar os gigantescos domos de sal descober-
tos na foz do Rio Amazonas, cujo potencial petrolífero ainda
não foi pesquisado.
Essas descobertas provam que as profecias de Dom Bosco
são dignas de fé. E, mais, a localização das reservas de petróleo
e gás do pré-sal foram aí colocadas de forma providencial, pois
estão protegidas por um oceano, e longe da cobiça de outros
países, porém bem próximas do principal centro consumidor
do País, a Região Sudeste. Segundo o presidente da Petrobrás,
José Sergio Gabrielli, (entrevista ao Jornal Estado de Minas,
18/10/2008, p.16), 85% das reservas da companhia e 80% de
suas refinarias estão localizadas nessa região. É uma situação
privilegiada, em todos os sentidos, inclusive para montagem de
um sistema de defensivo contra quaisquer ameaças externas.
28
A MENSAGEM CODIFICADA
29
que são excelentes, mas outros acreditam que fizeram o Brasil. Eles
vieram subsidiados, o Brasil já existia com suas dimensões, já era
independente. Eles vieram outro dia, mas tinham uma atitude mui-
to besta e começam alguns problemas quando esses bestinhas, que
havia muito em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, começam a
falar dos baianos ou dos pernambucanos ou da gente antiga de sua
própria região. Então o Brasil está vivendo um momento de tensões
que vão dar em diferenças.” (Darcy Ribeiro, entrevista para o Jornal
do Brasil, 3/11/1996, Cad. B, p. 5.)
Identidade Cultural
35
IMIGRANTES
Família Parenti
(Fotografia tirada no início do século XX, em Pouso Alegre-MG)
Savério Parenti e Lucia Guigli Parenti (bisavós do autor) e seus filhos
Giovanni (avô, nascido em Riolunato-Modena), Beatrice e Elisabetta. A
família Parenti deixou a Itália pelo Porto de Gênova, viajando para o
Brasil no navio Les Alpes, chegando à Hospedaria dos Imigrantes em
Juiz de Fora-MG, em 20 de maio de 1897.
36
IMIGRANTES
Família Chiarini
(Fotografia tirada no início do século XX, em Pouso Alegre-MG)
Pietro Chiarini e Francesca Adreucci Chiarini (bisavós do autor) e
seus filhos Francesco, Ângelo e Giuseppe, com suas esposas, Alessandro,
sentado ao lado do pai, e Carolina (avó, nascida em Arezzo-Toscana),
sentada ao lado da mãe. A família Chiarini deixou a Itália pelo Porto de
Gênova, viajando para o Brasil no navio Aquitaine, chegando à
Hospedaria dos Imigrantes em Juiz de Fora-MG, em 3 de agosto de 1897.
37
FIGURA 1
38
A FERROVIA TRANSCONTINENTAL
DOM BOSCO
O Eixo Central
40
Brasil.................................................................................4.392 km
Paraguai.............................................................................. 340 km
Argentina......................................................................... 3.620 km
Chile................................................................................... 125 km
Total............................................................................... 10.777 km
A Via Leste
O Desenvolvimento Econômico e
Social do Continente
A Variante “A”
A Variante “B”
O Fortalecimento do Mercosul
47
A FESTA VAI COMEÇAR!
Cidadania
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,
para as entidades empresariais FIEMG e FIESP, e para os Ministros
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim.
Prezados(as) Senhores(as),
52
Hoje gostaria de abordar a necessidade de um planejamento estraté-
gico para pôr ordem no caos urbano das cidades e metrópoles brasi-
leiras e valorizar a cidadania. Este duplo objetivo pode ser alcançado
desde que se busque soluções para eliminar os aspectos negativos
envolvidos nessa questão: o crescimento desordenado dos centros
urbanos, a favelização das regiões metropolitanas, o saneamento bá-
sico deficiente, os péssimos serviços de utilidade pública – transporte
urbano, saúde e educação básica – e a proteção precária do meio
ambiente. Para isso é preciso em primeiro lugar ter em mãos, lite-
ralmente, um mapa da situação. Este instrumento existe e se chama
Geographic Information Systems (GIS), ou Sistema de Informação
Geográfica (SIG). Este sistema de informações georeferenciadas as-
socia o uso de imagens de satélites com dados computadorizados
de naturezas diversas, permitindo uma gama variada de estudos e
planejamentos, expressos na forma de mapas temáticos que podem
ser manipulados das mais variadas formas, em função da escala ado-
tada e dos objetivos visados.
Hoje em dia, esse instrumento, o SGI, é utilizado em grau variável
por diversos órgãos públicos, federais, estaduais e municipais, além
da iniciativa privada, que dele se beneficia em larga escala. Mas o
que está faltando ao setor público, relativamente ao assunto trata-
do nesta carta, é um maestro para reger essa orquestra, onde cada
músico toca a seu modo, resultando numa cacofania que incomoda
os ouvidos do povo, que não consegue entender a letra e o tom des-
sa música, chamada cidadania, que os políticos apregoam ter uma
melodia agradável. Os participantes desta orquestra, principalmen-
te os representantes do Governo Federal, como os Ministérios das
Cidades, dos Transportes, da Saúde, da Educação e do Meio Am-
biente, entre outros, precisam formar um comitê, à semelhança do
Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de De-
fesa, que foi presidido pelo Ministro da Defesa e coordenado pelo
Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos; dele fazendo
parte os Ministros da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Ges-
tão e da Ciência e Tecnologia, além dos Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica, assessorados pelos Estados-Maiores,
que formulou a atual Estratégia Nacional de Defesa para cobrir os
próximos cinquenta anos. Para formular uma Estratégia Nacional
para pôr Ordem no Caos Urbano e Valorizar a Cidadania, igual-
mente cobrindo os próximos cinquenta anos, seguindo esse modelo,
53
o primeiro passo é formar um comitê presidido pelo Ministro Chefe
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República,
assessorado pelos presidentes do Instituto Nacional de Pesquisas Es-
paciais (INPE), e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE); dele fazendo parte os ministros das Cidades, dos Transpor-
tes, da Saúde, da Educação e do Meio Ambiente.
Utilizando o SGI, as imagens de satélites do INPE e os dados do
IBGE, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Re-
pública montará um Banco de Dados para dar suporte a cada um
desses ministérios na formulação de suas políticas setoriais de forma
integrada. Para isso, cada ministério criará seu próprio Banco de
Dados e estimulará os Estados e Municípios a fazerem o mesmo, de
tal forma que se crie uma rede integrada em nível federal, estadual e
municipal operando um mesmo sistema georefenciado de informa-
ções. Com esse suporte básico, qualquer ator do processo poderá
visualizar a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo,
em toda a sua inteireza, como favelas, matas, localização das es-
colas publicas, saneamento básico, etc. Com esses dados em mãos,
os interessados podem planejar o remanejamento dos moradores de
determinada favela para conjuntos residenciais na própria área e o
replantio de árvores nos locais dos barracos desocupados, além de
traçar a nova rede de água tratada e esgotos sanitários, bem como a
construção de escolas e outros serviços públicos para atender à nova
disposição dos moradores. Esse tipo de exercício de planejamento
poder ser feito tanto para uma região metropolitana, respeitando
os limites de cada município, como para municípios isolados, ou
abrangendo uma determinada bacia hidrográfica, como a Bacia do
Rio das Velhas, que drena a Região Metropolitana de Belo Horizon-
te, por exemplo.
Em todos os casos, tanto em nível federal, como estadual ou muni-
cipal, os interessados, inclusive a população, podem acompanhar as
intervenções setoriais e opinar a respeito, pois esses dados devem ser
disponibilizados pela Internet. Tal facilidade permitirá também que,
nas conferências e discussões sobre determinada matéria, os pales-
trantes ilustrem suas exposições com imagens de satélites e mapas
temáticos, inclusive detalhes, como a de uma determina escola que
precisa de reformas, etc., simplesmente utilizando-se dos recursos
disponíveis nesse sistema. São muitas e variadas as formas de se uti-
54
lizar do SGI para planejar as ações do Estado, seja em escala global,
abrangendo numa só imagem o conjunto do País, ou do continente
sul-americano, seja em escalas métricas, precisas, utilizando do Sis-
tema de Posicionamento Global (GPS), permitindo ainda uma retro-
visão de um foco desejado e projeções desse ponto para o futuro,
simplesmente tratando as informações armazenadas em bancos de
dados. Portanto, ao se falar em planejamento estratégico, é preciso
utilizar as ferramentas que estão mudando o mundo, os satélites arti-
ficiais e os recursos da informática, combinados no SIG, e trabalhar
em equipe. Como lembra A Síndrome do Sapo Fervido (Rev. Tec. e
Treinamento, n.31, p. 45), “O desafio maior, nesse mundo de mu-
danças constantes, está na humildade de atuar de forma coletiva”.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília - DF
55
“O Senado Federal aprovou ontem a medida provisória que
criou o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Os
senadores mantiveram no texto alterações feitas pela Câma-
ra, como a inclusão da permissão da compra de lotes urba-
nizados dentro do programa. Agora, o texto final vai para a
sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a mu-
dança, ficou permitida a compra de lotes para que ganha até
seis salários mínimos. O projeto aprovado também permitiu
saque do FGTS para a compra de lotes urbanizados, também
limitada à faixa de até seis salários mínimos.”
A minha sugestão é no sentido de que a Caixa Econômica Federal,
ao financiar a compra de lotes urbanizados, entregue gratuitamente
ao tomador do empréstimo, cuja intenção é construir sua residência
nesse lote, uma planta devidamente assinada por técnico habilitado
e aprovada pelos órgãos públicos competentes que regem o assunto,
tudo sem ônus para o interessado. Essas medidas, além de baratear
o custo da construção, livrarão os interessados da via-crúcis que é a
legalização de uma construção e a obtenção do respectivo “Habite-
se”. Estas exigências, pela complexidade e entraves burocráticos,
acabam levando muitos pessoas a construírem, na surdina, estrutu-
ras precárias sem nenhuma segurança, comprometendo, inclusive,
todos os parâmetros de planejamento urbano.
Para evitar esses males, no caso dos lotes urbanizados, a concessão
do “Habite-se”, por exemplo, deve ser concedida em caráter precá-
rio, desde o momento em que o interessado entrar na posse do seu
lote. A explicação para esta antecipação reside no fato de que os
maiores interessados nesse tipo de aquisição serão os favelados, que,
por experiência própria, sabem muito bem os sacrifícios e o tempo
que serão necessários para construir uma residência habitável. Seu
maior desejo, como de todo cidadão, é ter um espaço próprio, le-
galizado, onde possa construir seus sonhos. O lote urbanizado é o
primeiro passo na realização desses sonhos.
Para dar início à construção da projetada casa, seguindo a planta
fornecida pelo agente financeiro, o Governo Federal permitirá ao in-
teressado, para facilitar sua vida, erguer no lote adquirido um barra-
co provisório, de madeira, ou armar uma tenda de lona, para morar
no local enquanto constrói, por conta própria, a morada definitiva.
Para isso, no entanto, o interessado deverá providenciar, previamen-
56
te, instalações hidráulicas e rede de esgoto sanitário conectadas à
rede urbana.
Como a compra de lotes urbanizados, dentro do programa habita-
cional, guarda características especiais (preço e prazo de entrega)
mais atrativas do que a aquisição de casas prontas, é previsível que
essa modalidade venha a tornar-se a preferida entre os favelados,
inclusive porque já sabem muito bem como trabalhar todo tipo de
material de construção para edificar uma casa, em qualquer tipo de
terreno, não importando o seu tamanho. Essa experiência é muito
valiosa dentro de uma filosofia empresarial do tipo “faça você mes-
mo”, a qual deve ser explorada, por meio de propaganda massiva,
para acelerar a venda de lotes urbanizados e, consequentemente, a
desfavelização das capitais brasileiras e suas regiões metropolita-
nas.
Além disso, essa propaganda deve mostrar aos interessados, princi-
palmente aos analfabetos, via TV, vídeos, etc., como interpretar uma
planta e os passos necessários à conclusão da obra. Daí a necessida-
de de um planejamento estratégico a curto, médio e longo prazos,
para explorar todas as possibilidades dessa vertente do programa
habitacional, pois, além de envolver milhões de pessoas, mudará
para sempre o aspecto desolador das cidades brasileiras e dará início
a um novo padrão de comportamento que tem, na iniciativa própria
e na manipulação de dados técnicos, o motor do desenvolvimento
econômico e social do País.
Agradecendo a atenção de V. Exa. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
57
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010
Ditadura ou Democracia?
Belo Horizonte, 24 de abril de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
Prezados(as) Senhores(as),
58
Ultimamente a imprensa tem denunciado uma série de irregulari-
dades nas duas casas do Congresso Nacional, resumida, com pro-
priedade, pelo jornalista Renato Scapolatempore, em sua coluna no
Jornal Estado de Minas (20/4/2009, p. 2):
“Para não perder o costume, Câmara e Senado foram palco
de mais um escândalo esta semana. Desta vez, o que começou
com um anúncio da redução de 20% dos gastos com passa-
gens aéreas pelos deputados e senadores – o que aparente-
mente seria uma medida moralizadora – acabou trazendo à
tona a informação de que parentes e amigos dos parlamenta-
res estão voando pelo mundo graças a passagens pagas pelo
Congresso. Turismo à custa do dinheiro do contribuinte. Pior:
turismo agora legalizado por atos das mesas da Câmara e do
Senado. Como se não bastasse, descobriram que existe ainda
uma verdadeira máfia atuando nos gabinetes. As primeiras
suspeitas dão conta de que passagens das cotas de deputados
tenham sido negociadas com agências de viagens por valores
mais baixos e depois revendidas a turistas comuns. Ninguém
vai ser preso por isso e certamente ninguém sofrerá qualquer
punição. Nas próximas semanas, com os próximos escânda-
los, a farra das passagens cairá no esquecimento, assim como
ocorreu com as irregularidades no uso das verbas indeniza-
tórias; com o pagamento de horas extras a funcionários nas
férias; com o uso ilegal de apartamentos funcionais; e com a
descoberta de que o diretor geral do Senado vive numa man-
são de R$ 5 milhões não declarada ao fisco. Por falar em es-
cândalos, alguém se lembra de algum projeto importante que
o Congresso tenha votado este ano?”
60
contemporânea. Nos anos 60 do século passado, por exemplo, o
general de Gaulle, durante seu governo, usou de poderes excepcio-
nais, concedidos pelo Parlamento, para salvar a França da anarquia,
submetendo suas decisões a referendos populares. Na atualidade os
presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia,
procedem da mesma maneira.
Uma outra solução para superar a falência moral do Congresso Na-
cional, e salvar o País da anarquia, seria a adoção da unicameralida-
de, sistema de representação política em que há somente uma Câma-
ra Legislativa. A vantagem deste sistema é que dispensa o Senado,
uma instituição retrógrada e supérflua, resquício do Império quando
era ocupado pela nobreza. Hoje em dia, esse tipo de apartheid social
não faz mais sentido.
Existe ainda a possibilidade de se reformar o atual modelo, para tor-
ná-lo mais representativo e democrático, mas para isso seria neces-
sário acabar com o sistema de três senadores por Estado e eliminar
a figura do “suplente”. No primeiro caso, o número de senadores
seria contado na base de um representante para cada milhão de ha-
bitante da Unidade Federada, o que daria um número total para o
País em torno de 190 senadores, considerando183,9 milhões de ha-
bitantes para o País em 2007, segundo dados do IBGE. No segundo
caso, para substituir algum senador, proceder-se-ia como a Câmara
dos Deputados, na qual nenhum parlamentar ocupa uma vaga sem
ter sido eleito pelo voto popular, pois, para isso, existe uma lista de
espera dos menos votados.
Quanto à Câmara dos Deputados, as modificações também devem
refletir a proporcionalidade dos cidadãos por Estado, distribuídos
de acordo com os dados do IBGE. Considerando a representativida-
de de um deputado para cada grupo de 500 mil habitantes (a metade
da proporção para o Senado), a Câmara teria 380 deputados. Esta
redução no número de parlamentares (atualmente são 513) seria
compensada pelo acréscimo de senadores que passariam dos atuais
81 para 190, totalizando então 570 congressistas. Este número di-
fere pouco da representação atual, cerca de 594. Mesmo com essa
redução, o número de congressistas ainda é grande, se comparado
com outros países mais populosos que o Brasil, como informa o
jornalista Mário Fontana, em sua coluna no Jornal Estado de Minas
(20/4/2009, p. 3):
61
“Com 1,2 bilhão de habitantes, a Índia tem o maior quadro
de eleitores do mundo. São 714 milhões, número espantoso
que só poderia ser superado pela China, onde o colégio elei-
toral não é contabilizado. Pois bem. Desde 16 de abril, india-
nos estão escolhendo 543 deputados, pleito que se arrastará
por duas semanas. No caso, vem à lembrança a comparação
com o Brasil: enquanto 714 milhões de cidadãos de lá foram
convocados para eleger 543 representantes, o Brasil, com 190
milhões de habitantes, conta com 513 deputados federais.
Pode-se chegar à conclusão de que o nosso país tem mais par-
lamentares do que deveria. Portanto, quem estava cheio de
razão é o falecido estilista Clodovil, que apresentou na Câma-
ra projeto para reduzir à metade as cadeiras do plenário da
Casa. Ele também pregava a extinção do Senado.”
Mas não são só os números de deputados que contam. No caso bra-
sileiro, existe uma grave distorção na distribuição dos deputados por
Estado que precisa ser corrigida para evitar que os pequenos, com
população reduzida, onde campeia a miséria e a ignorância, domina-
das por oligarquias retrógradas, utilizem dos parâmetros máximo e
mínimo para prevalecerem sobre os mais populosos e desenvolvidos.
Segundo o professor José Afonso da Silva (Curso de Direito Consti-
tucional Positivo, 1997, p. 483-484):
“A constituição não fixa o número total de Deputados Fede-
rais, deixando isso e a representação por Estado e pelo Dis-
trito Federal para serem estabelecidos por lei complementar,
que terá de fazê-lo em proporção à população, determinando
reajustes pela Justiça Eleitoral, em cada ano anterior às elei-
ções, de modo que nenhuma daquelas unidades da Federa-
ção tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados. Essa
regra que consta do art. 45, parágrafo primeiro, é fonte de
graves distorções do sistema de representação proporcional
nele mesmo previsto para a eleição de Deputados Federais,
porque, com a fixação de um mínimo de oito Deputados e o
máximo de setenta, não se encontrará meio de fazer uma pro-
porção que atenda o princípio do voto com valor igual para
todos, consubstanciado no art. 14, que é aplicação particular
do princípio democrático da igualdade em direitos de todos
perante a lei. É fácil ver que um Estado com quatrocentos mil
62
habitantes terá oito representantes enquanto um de trinta mi-
lhões terá apenas setenta, o que significa um Deputado para
cada cinqüenta mil habitantes [1:50.000] para o primeiro e
um para quatrocentos e vinte e oito mil e quinhentos e setenta
e um habitantes para o segundo [1:428.571]. Em qualquer
matemática, isso não é proporção; mas brutal desproporção,
tal fato constitui verdadeiro atentado ao princípio da repre-
sentação proporcional. A Câmara deve ser o espelho fiel das
forças demográficas de um povo; nada justifica que, a pretex-
to de existirem grandes e pequenos Estados, os grandes sejam
tolhidos e sacrificados em direitos fundamentais de represen-
tação.” (Cf. Miguel Reale).
Além desses problemas institucionais, o próximo presidente terá de
administrar uma pesada herança deixada pelo atual governo, repre-
sentada pelas regalias desfrutadas pelos sindicatos trabalhistas e pa-
tronais. É uma bomba-relógio que só um presidente-ditador poderá
desarmar, pois nenhum presidente eleito democraticamente, sem po-
deres excepcionais, será capaz de executar, com êxito, essa missão
kamikaze. Isto acontece porque o atual presidente não teve coragem
de tornar facultativo os impostos arrecadados pelos sindicatos traba-
lhistas (Imposto Sindical) e patronais (contribuições sociais), talvez
pressionado por essas entidades, ou porque tudo isso faz parte de
um plano maquiavélico para desestabilizar o governo do futuro pre-
sidente, caso o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) perca
as eleições. A contribuição social obrigatória, por exemplo, é inex-
plicável, pois os empresários vivem reclamando da carga tributária
do País, chegando, mesmo, um de seus líderes a dizer que “o sistema
tributário brasileiro é medieval”, classificando como irracional o pa-
gamento de imposto sobre um torno, empregado na produção (Jor-
nal Estado de Minas, 22/4/2009, p. 8). Quanto ao Imposto Sindical,
qual a justificativa para confiscar o salário dos trabalhadores, se a
maioria dos sindicatos, que se apropriam desses recursos, só existe
no papel, como a imprensa tem denunciado à exaustão?
O resultado de tudo isso é que os bilhões de Reais arrecadados por
essas instituições (isto sim é um sistema medieval!), sem fiscalização
e controle do poder público, são apropriados para se fortalecerem
e criarem um poder paralelo ao Estado organizado, fazendo valer
seus interesses sempre que são confrontados com os da sociedade, o
63
que facilita a corrupção dos costumes que contamina todos os Po-
deres da República. Para comprovar esta assertiva, basta verificar o
que se passa no Congresso Nacional e na distribuição de cargos no
Executivo e nas empresas estatais, hoje dominadas por sindicalistas.
Quando o atual presidente deixar o cargo, e essas pessoas forem
demitidas, o País viverá uma época de greves sob quaisquer pretex-
tos, pois não se conformarão com a perda desse poder paralelo. Isto
vale até para os sindicatos patronais, que também disputam essas
sinecuras. Portanto, é só esperar para ver o que vem por aí, pois um
diretor de uma empresa fortemente financiada pelo Governo Fede-
ral, ex-estatal, em uma entrevista na televisão passou a senha para
explicar a atual calmaria no setor sindical e porque não cobrava do
governo mais rigor nas invasões e obstruções de suas propriedades:
Se hoje a situação é essa, imagine o que seria sem o Lula! Seria essa,
então, a razão porque os patrões bajulam tanto o atual presidente?
Já teriam entendido o recado com o que se passa no Estado do Pará,
onde a governadora dá cobertura aos “sem-terra”? Seria esta atitude
uma advertência para os menos avisados? Diante de tudo isso é bom
que a sociedade se precavenha, pois a democracia entre nós pode
estar com os dias contados, dependendo do resultado das eleições
de 2010.
Mas outros desafios moralizantes se colocam para a sociedade, que
terá de buscar um líder para enfrentá-los, de preferência um presi-
dente-ditador, como a reestruturação do Poder Judiciário, que deve
começar com a fusão do Supremo Tribunal Federal (STF) com o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) para daí surgir uma Corte Fe-
deral de Apelação (CFA), cujos membros seriam eleitos pelo voto
popular, com mandato de cinco anos, acabando, consequentemente,
com a vitaliciedade de cargos no setor público. São medidas sane-
adoras que vão agilizar a aplicação das leis. Acompanhando essas
medidas, com esse mesmo propósito, seria também federalizada a
Justiça Estadual, com a criação de Juntas de Julgamentos composta
de vários magistrados, para substituir os todo-poderosos juízes, que
hoje, solitariamente, fazem o que bem entende nas suas searas, e Tri-
bunais Federais de Apelação nos Estados, para tornar mais rápidos
os julgamentos de recursos. Além disso, seria também federalizado
o sistema prisional e criada a Guarda Carcerária Federal para admi-
nistrar todos os presídios do País.
64
Além dessas medidas, um presidente com poderes ditatoriais poderá,
também, implantar as reformas hoje paralisadas no congresso, como
a tributária e a política. Outras ações ainda não cogitadas poderiam
também ser postas em prática, como a transformação de Brasília em
município neutro, acabando, consequentemente, com o escandaloso
“Estado” do Distrito Federal, bem como promover a criação do Mi-
nistério do Pessoal da União, para centralizar num só órgão os fun-
cionários dos três Poderes. Neste modelo caberia a esse ministério
admitir, demitir e transferir funcionários, bem como fornecer todo
o pessoal necessário ao funcionamento dos três Poderes da Repúbli-
ca, que neste particular perderiam sua tão preciosa “autonomia”,
pois se todos dependem do Tesouro Nacional para pagá-los, não há
como falar em independência.
Também seria possível criar o Ministério dos Bens Imóveis da União
para atender aos três Poderes em suas necessidades, evitando-se dis-
putas como ocorre no Itamarati. Segundo reportagem publicada no
Jornal Estado de Minas (20/4/2009, p.5), o Ministério das Relações
Exteriores tem apartamentos (524 imóveis) de todos os tipos para
seus servidores – mais luxuosos, de cinco ou quatro quartos; padrões
medianos, de três quartos; e menores, de dois e um dormitório –, os
quais são distribuídos sem qualquer critério, segundo denúncias da
Associação Nacional dos Oficiais de Chancelaria (ASOF). O inte-
ressante nesse fato é a existência desse tipo de regalia numa cidade
que neste mês comemora o seu 49º aniversário. É uma cidade já con-
solidada, onde os funcionários públicos podem encontrar moradias
para alugar, ou comprar, sem que o Estado fique responsável por
isso. Quando da implantação da capital federal, vá lá! Mas agora
isso soa como privilégio que deve ser combatido. Se já existisse o
Ministério dos Bens Imóveis da União, esse tipo de disputa não faria
sentido, pois o assunto seria tratado de forma global, incluindo as
necessidades do Congresso Nacional e de outros Poderes da Repú-
blica.
Outra questão que requer medidas radicais para moralizar o trato
da coisa pública e racionalizar a máquina administrativa do Estado
é a aposentadoria dos servidores públicos, civis e militares, federais,
estaduais e municipais, pertencentes aos três Poderes (Executivo, Le-
gislativo e Judiciário). Para este caso, a sugestão é a fusão de todos
os institutos de aposentadoria que atendem a esses segmentos da
65
administração pública com o Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), surgindo daí uma nova instituição: o Instituto Brasileiro de
Seguro Social (IBSS). Com tais medidas, será possível estabelecer um
teto máximo para as aposentadorias tanto no setor público como
do privado, evitando-se consequentemente as distorções hoje ob-
servadas. Para viabilizar financeiramente esse novo instituto, após
a fusão, cada beneficiário poderia receber tantas aposentadorias
quantas tivesse direito, desde que o somatório de seus valores não
ultrapassasse o teto máximo fixado em lei; teto este que poderia ser
variável em função dos recursos disponíveis, acima do qual nenhum
valor poderia ser pago, sob quaisquer pretextos.
Finalmente é bom frisar que a revisão da atual Constituição se impõe
não só para possibilitar uma reestruturação do Estado brasileiro,
mas também para derrubar tabus que inviabilizam a modernização
da administração pública, como as chamadas cláusulas pétreas, e
eliminar toda sorte de privilégios desfrutados pelos servidores pú-
blicos, principalmente aqueles pertencentes ao Poder Judiciário e às
funções ditas essenciais à Justiça. A erradicação dos privilégios que
permeiam os três Poderes da República somente será possível se a
atual Constituição sofrer uma revisão na sua forma e conteúdo. Para
isto, basta simplificar o texto constitucional, transferindo para o Es-
tatuto do Funcionalismo Público os pontos de interesse da categoria
e para o domínio das Leis Ordinárias as questões mais dinâmicas
que afetam a sociedade, deixando para o texto constitucional apenas
os conceitos fundamentais do Estado Democrático de Direito.
Agradecendo a atenção de V. Exa. para esta carta cidadã, subscre-
vo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Foi com agradável surpresa que recebi sua atenciosa carta, em res-
posta a minha correspondência datada de 11/4/2009, na qual enfa-
tizo “a falta que faz um ditador para promover as reformas de que
o Brasil necessita, a começar pelo sistema carcerário, uma vergonha
nacional”.
Em primeiro lugar, quero parabenizá-lo pela afirmação: “Sou, por-
tanto, totalmente contra a ditadura”, o que demonstra que se trata
de um democrata convicto, empenhado, portanto, em fazer valer os
direitos de cidadania para todos os brasileiros, inclusive àqueles que,
por infelicidade, encontram-se presos ou encarcerados.
Mas, no anexo que acompanha vossa carta (Nota Informativa nr.
1.308, de 2009), o que notei foi o atavismo que mantém o Brasil na
situação em que está, e “a falta que faz um ditador para promover as
reformas de que o Brasil necessita, a começar pelo sistema carcerário,
uma vergonha nacional”, que reafirmo em todos os seus termos.
Explicando melhor essa falta, é que somente os ditadores são capa-
zes de quebrar cláusulas pétreas, que a elite sempre colocou no ca-
minho dos pobres para serem pedras de tropeço, e outras filigranas
jurídicas que engessam o Estado. Certos “verdadeiros democratas”
não são capazes de inovar, pois isso afetaria seus interesses, mas
são bastantes conservadores para se aterem a pareceres como o que
V. Exa. me enviou, quando diz: “Logo de início, vale registrar que
qualquer iniciativa tendente a federalizar o judiciário estadual es-
67
barraria em cláusula pétrea constitucional, na medida em que atenta
contra a forma federativa do Estado, nos termos do art. 60, § 4º, II,
da Constituição Federal”.
Ora bolas! As constituições são respeitadas quando atendem aos in-
teresses dos cidadãos. Quando isso não acontece, são mudadas. Esta
é a essência da democracia. A Constituição não é um bezerro de
ouro para ser idolatrada. É a expressão do desejo de uma maioria,
que pode modificá-la sempre que achar necessário.
Desejando que V. Exa. reflita melhor sobre os termos de minha
carta, e desejando sucesso no elevado cargo legislativo que ocupa,
aproveito o ensejo para enviar, também, um anexo para reflexão.
Trata-se da “Síndrome do Sapo Fervido”.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
68
Chefe da F-1 elogia Adolf Hitler e regimes totalitários
“No final ele acabou se perdendo, e portanto não foi um bom dita-
dor, porque ou sabia o que estava acontecendo [sobre o Holocausto]
e insistiu nisso ou simplesmente foi condescendente”, disse o britâni-
co. “De qualquer maneira, não agiu como um ditador.”
69
A Síndrome de Eva Perón
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,
para as entidades empresariais FIEMG e FIESP e para os Ministros
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim.
70
pessoal. Mas deturpado por oportunismo dos outros. O con-
sultor de política externa do presidente Lula, Marco Aurélio
Garcia, declarou ‘isso’, referindo-se ao tumor, ‘vai reforçar a
candidatura dela’. Não se diz ‘isso’. É câncer. Outros aliados
disseram coisas assemelhadas. Fica implícita a visão utilitaris-
ta. Não se diz coisas assim sobre mal tão agressivo, que aba-
te, reduz a imunidade, provoca reações desagradáveis, dando
teor oportunista às manifestações espontâneas e sinceras de
solidariedade de todos. A corrida eleitoral é um detalhe, além
de distante, para daqui a 18 meses. Nem deveria já estar lan-
çada pelo presidente Lula à sua sucessão, embora informal-
mente.”
Diante desse quadro de instabilidade, que já provoca reações diver-
sas, o que se coloca para os políticos e governantes, diante de suas
responsabilidades para com o destino da Nação, é uma reflexão se-
rena, mas firme, de como exorcizar um perigo latente de desestabi-
lização do quadro político institucional, se aqui no Brasil se tentar
repetir o que fizeram na Argentina com Eva Perón. Naquela época,
como hoje, o mundo passava por crises e mudanças, mas agora o
Brasil deve estar preparado para enfrentá-las, pois o quadro é mais
grave, e jogar o pesado jogo das potências do século XXI, que se
digladiarão em busca da hegemonia universal e salvar seus próprios
interesses.
Passado o período carnavalesco, que precedeu o colapso do sistema
financeiro norte-americano, que arrastou o resto do mundo à ban-
carrota, época em que mestres-sala e porta-estandartes encantavam
plateias de deslumbrados com seus volteios delirantes, chegou a hora
da verdade. Agora o que vai predominar são os pugilistas pesos pe-
sados, capazes de abater dançarinos menos avisados das mudanças
das regras do jogo com golpes certeiros, diretos e precisos. Portanto,
o Brasil tem que estar preparado para eleger em 2010 um presidente
capaz de enfrentar esse pesado combate, desfrutando de boa saúde
física e mental, e evitar especulações financeiras que se nutrem de
boatos, principalmente sobre a saúde de seus governantes. Nosso
País não merece passar novamente pelo drama que abateu Tancredo
Neves, e muito menos vivenciar o endeusamento de uma vítima de
câncer, como fizeram os peronistas na Argentina, que sacrificaram
Eva Perón para se manterem no poder.
71
Agradecendo a atenção de V. Exas., e reafirmando os termos da car-
ta anterior, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Reformas Políticas
Belo Horizonte, 10 de maio de 2009.
Exmos.(as) Srs.(as)
Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF
Com cópia para o Exmo. Sr. Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva.
72
Depois desse carão, anima saber que existem congressistas que sa-
bem das coisas e evitam cair em armadilhas, como informa o colu-
nista Elio Gaspari (Folha de São Paulo, 10/5/2009, p. A12):
“Um dos parlamentares mais experientes do país decidiu tra-
balhar para retardar a tramitação de qualquer reforma políti-
ca. Segundo ele, seja o que for, nada deve passar pelo Senado
antes de outubro. Até lá, há o risco de aparecer um projeto de
emenda constitucional que permita a candidatura de Nosso
Guia a um terceiro mandato. Com a experiência de quem viu
dois golpes e dezenas de reformas casuísticas, ele teme a jun-
ção de dois fatores. Num, a doença de Dilma Rousseff abala
sua campanha e lança incerteza sobre seu futuro. No lance
seguinte, sem candidato, o PT vai buscar na rua um movi-
mento semelhante ao do queremismo que, em 1945, defendia
a possibilidade de eleição de Getulio Vargas, no poder desde
1930.”
Já está na hora de os senhores congressistas refletirem sobre suas ati-
tudes e iniciativas ao elaborar as leis de que o País precisa, principal-
mente agora que o jogo político volta suas atenções para as eleições
presidenciais do próximo ano. A situação exige cautela e determi-
nação dos responsáveis pelos partidos políticos, principalmente os
peemedebistas que estão brincando com fogo, ao tentarem fugir de
suas responsabilidades para com a Nação – a de apresentar candida-
tura própria à presidência da República – e praticando uma política
menor para servirem a dois senhores, como informa o comentarista
Luiz. Carlos Azedo do Jornal Estado de Minas (10/5/2009, p. 7):
“O PMDB está com um pé em cada canoa. A doença da mi-
nistra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), levou a cúpu-
la da legenda a dar um tempo em relação à aproximação com
a candidata do PT a presidência da República e à retomada
das conversas com os governadores de São Paulo, José Serra,
e de Minas, Aécio Neves, que disputam a vaga de candidato
do PSDB. O ressurgimento da tese do terceiro mandato para
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre parlamentares da
base também serviu para fragilizar a candidatura de Dilma.
‘Ainda é cedo para tratar da sucessão’, avalia o presidente
da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), cotado para ser vice
de Dilma na chapa que está sendo articulada pelo presidente
73
Lula. [...] Volta e meia o presidente tem chamado ao Alvorada
Michel Temer e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-
AP). Lula sabe que Sarney é um interlocutor privilegiado do
governador Aécio Neves, juntamente com o líder da banca-
da do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e ten-
tam atraí-lo para o PMDB. E que Temer, o deputado Eliseu
Padilha (RS) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) são
antigos aliados do governador José Serra.”
Essa postura lembra a lenda de Sísifo, na mitologia grega, que en-
ganou a morte e por isso foi condenado à empurrar uma grande
pedra morro acima eternamente. Quando chegava ao topo, a pedra
voltava a rolar para baixo, e ele tinha que começar tudo de novo.
Esta sina representa o trabalho inútil, muito semelhante ao pratica-
do pelo PMDB, que luta em todas as eleições para sair vencedor, mas
não sabe o que fazer com suas conquistas, leiloando-as a quem der o
maior lance, para repetir o mesmo processo nas eleições seguintes.
Por que o PMDB não cria vergonha na cara, e procura em seus qua-
dros um político, que goze da confiança do presidente Lula, para
ser cabeça de chapa numa aliança com o PT? Estão aí os Ministros
Nelson Jobim, Hélio Costa, e muitos outros, inclusive governadores
com igual perfil, que podem exercer a presidência da República com
competência e dedicação. Esta aliança evitará a disputa de um ter-
ceiro mandato que poderá arruinar o País, que a muito custo se está
recuperando das ambições de FHC por um segundo mandato.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
74
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmo. Sr. Senador Pedro Simon
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
Prezados(as) Senhores(as),
75
Ao desatar o minuano para essa jornada gloriosa que varrerá a polí-
tica nacional com seu sopro renovador, os gaúchos repetem a Revo-
lução de 30, que desatou esse vento refrescante para arejar a política
nacional sufocada que estava pela elite escravocrata, que não queria
a libertação do povo brasileiro da miséria e da ignorância. Hoje, a
continuidade desse processo se faz necessária, pois naquela época
as montanhas de Minas barraram o avanço dessa frente fria rumo
ao Nordeste do País, impedindo que as elites escravocratas dessa
região, governada então por um vice-rei, fossem varridas da política
nacional. Consequentemente, elas remanescem em feudos regionais,
cevadas na miséria sufocante desses guetos, e em partidos como o
PMDB, onde atuam para mantê-lo preso aos seus interesses paro-
quiais, ignorando os maiores da Nação.
Felizmente, graças a JK, que construiu Brasília, e aos governantes
militares que ocuparam a Amazônia, as regiões Centro-Oeste e Nor-
te do País foram franqueadas às correntes refrescantes do minuano,
abrindo assim uma rota alternativa para que varra também o Nor-
deste e remova as elites retrógradas dessa região que impedem que
essa parte do território nacional seja incorporada ao processo de
desenvolvimento econômico e social do País. O primeiro passo nesse
sentindo, portanto, será o PMDB apresentar candidatura própria à
Presidência da República, como propõem os gaúchos. Mas para isso
será necessário apresentar um candidato que reúna qualidades de
liderança e firmeza de pulso para afastar da política nacional esses
líderes regionais retrógrados, que em todas as eleições sabotam as
iniciativas nesse sentido. Está aí o ex-Presidente Itamar Franco, que
pode testemunhar a respeito, apesar de se ter afastado, ou melhor,
ter sido expulso desse partido por tentar enfrentá-las.
Um candidato que reúne as qualidades necessárias para levar o
PMDB a uma vitória nas eleições presidenciais de 2010, com um
programa de governo que promova as reformas de que o País neces-
sita, principalmente a constitucional, e evite o confronto esterilizan-
te com o atual presidente, afastando, de vez, o espectro do terceiro
mandato, é o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, gaúcho de Santa
Maria, terra dos Minuanos, e um peemedebista que participou ati-
vamente da Assembléia Nacional Constituinte que redigiu a atual
Constituição. Além disso, tem dado provas, na pasta que dirige, de
competência administrava e respeito no trato da coisa pública, coisa
rara hoje em dia.
76
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, principalmente ao Senador Pedro Simon em sua empreitada
cheia de obstáculos, mas gratificante, pois toda frente fria muda o
clima por onde passa, às vezes provocando fortes tempestades, com
raios e trovões, mas sempre vivificadoras, pois como reza o dito
popular: “Depois da tempestade vem a bonança”. Isto, claro, para
os otimistas, pois para os pessimistas o que vem é a “enchente”,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
77
Poderes da República e se preparar para as eleições de 2010? Agora
gostaria de complementá-la com alguns comentários sobre a neces-
sidade de um plano de governo para o próximo presidente, nos mol-
des do Plano de Metas de JK, que sistematizou as várias propostas
existentes naquela época para o desenvolvimento econômico e social
do País, resultando em 31 metas que privilegiavam cinco setores da
economia: energia, transporte, indústrias de base, alimentação e edu-
cação. A construção de Brasília, meta síntese desse plano, permitiu
a expansão rumo ao interior, que por sua vez estaria integrado com
o resto do Brasil por rodovias. O resultado desse plano estratégico -
“Crescer cinquenta anos em cinco” - foi o desencadeamento de um
processo desenvolvimentista que abriu os olhos dos brasileiros para
as potencialidades do País, e como usá-las em beneficio da socieda-
de. Foi um redescobrimento do Brasil pelos brasileiros.
Um balanço da situação atual mostra um quadro semelhante de in-
certezas, no qual várias opções para a continuidade do processo de
desenvolvimento econômico e social do País está à mesa, à espera de
definições, em função da crise financeira que embaralhou as cartas
do jogo de poder das potências dominantes.Virar esse jogo em nosso
favor é missão de todos os brasileiros que querem o progresso eco-
nômico e social do País. Para isso, a atual geração conta com um em-
basamento sólido montado pelos Presidentes Getúlio Vargas (Petro-
brás, Eletrobrás, BNDES) e Juscelino Kubitschek (Plano de Metas),
pelos governos militares (energia nuclear e ocupação da Amazônia)
e pela atual administração (Planejamento Estratégico). Os ganhos
obtidos com essas iniciativas podem ser medidos pela posição que
o Brasil ocupa no concerto das nações, em que pese o muito que se
tem pela frente para potencializar todas as suas riquezas naturais, es-
pecialmente os vastos depósitos de petróleo e gás natural do pré-sal,
recém-descobertos no litoral atlântico da Região Sudeste.
Para ordenar o leque de oportunidades hoje existente, e propor me-
didas práticas para a implantação de projetos de desenvolvimento
econômico e social, de forma racional e planejada, objetivando pôr
o Brasil definitivamente no “Primeiro Mundo”, deve-se mirar o
que foi feito no Governo JK, com a criação dos chamados Grupos
Executivos, e adequar uma experiência exitosa do Governo Lula: o
planejamento estratégico. A primeira missão da pioneira Secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, confiada ao
78
Ministro Mangabeira Unger, foi elaborar, em conjunto com o Minis-
tério da Defesa, chefiado pelo Ministro Nelson Jobim, um plano de
defesa para o País e, por extensão, para toda a América do Sul.
Para isso foi criado o Comitê Ministerial de Formulação da Estraté-
gia Nacional de Defesa, presidido pelo já referido Ministro da Defe-
sa e coordenado pelo atual Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos
Estratégicos. Fazem parte deste comitê os Ministros da Fazenda, do
Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência e Tecnologia, além
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, as-
sessorados pelos Estados-Maiores. A sintonia fina havida entre os
Ministros Mangabeira Unger e Nelson Jobim, que trabalharam de
forma discreta e eficiente, permitiu a formulação, em prazo relati-
vamente curto, da Estratégia Nacional de Defesa, que abrange um
horizonte de cinqüenta anos, como afirmou o Ministro da Defesa,
em recente palestra no Clube Militar do Rio de Janeiro.
Essa sinergia entre um órgão de planejamento estratégico, um mi-
nistério executivo das ações governamentais e outros órgãos direta-
mente envolvidos no assunto pode, e deve, ser repetida com outros
ministérios, onde assuntos polêmicos requerem uma ação coordena-
da para definir metas e objetivos a curto, médio e longo prazos, com
vistas a fortalecer a política de defesa nacional. É o caso da explo-
ração de minério de ferro, petróleo e gás natural, que está no centro
de uma disputa internacional para controle dessas matérias-primas.
A exploração dessas riquezas e a sua comercialização não podem ser
encaradas simplesmente como commodities, como soja, milho, etc.
São matérias-primas minerais que, como se diz em Minas Gerais,
não dão duas safras. São recursos finitos, escassos e estratégicos.
Portanto, há necessidade de se definir uma política estratégica para
a maximização de seu aproveitamento econômico em beneficio da
sociedade brasileira; política essa que deve contemplar outros mine-
rais igualmente estratégicos, como urânio, nióbio, potássio e fosfato,
isto sem contar o marco regulatório para a exploração do petróleo e
gás do pré-sal em discussão no governo.
Atualmente a exportação de minério de ferro, por exemplo, é feita
nos moldes dos tempos coloniais, ou seja, no seu estado bruto sem
nenhum processamento industrial, deixando no seu rastro todos os
ônus do processo, como buracos e contaminações de toda a ordem.
Esse passivo ambiental é permanente, enquanto os parcos lucros
79
obtidos são passageiros. O bônus fica com os países compradores,
como a China, que exporta aço e outros produtos industrializados
após processar um minério puríssimo importado do Brasil a preço
de banana, pois usam seu poder de compra para fixar preços e impor
condições, como informa o Jornal Folha de São Paulo (22/5/2009,
p.B3): “A secretária-geral da Associação Chinesa de Aço e Ferro ne-
gou que já exista um acordo com a Vale para a redução do preço do
minério de ferro e disse que vai exigir da companhia brasileira um
desconto de 40% no preço da matéria-prima utilizada na fabricação
de aço”. Para sair dessa camisa de força, a Vale, a maior produtora e
exportadora de minério de ferro do mundo, precisa mudar seu foco
empresarial de mera exportadora de minério bruto, para a maior
produtora e exportadora mundial de aço e seus derivados, a exem-
plo do que fizeram os chineses com seus sucessivos planos quinque-
nais e um planejamento estratégico que visa a dominar a siderurgia
em todos os seus segmentos importantes, como a indústria naval,
ferroviária, automobilística, etc.
Para começar a mudar este quadro, o primeiro passo é o Governo
Federal proibir, ou taxar pesadamente, a exportação de minério de
ferro em seu estado bruto, permitindo, num período de transição,
até que se consiga implantar usinas de aço para processar toda a
produção, a exportação de pellets. Esta política de valorização de
matérias-primas minerais já mobiliza o Governo Federal, no caso
do petróleo do pré-sal, o qual, segundo noticia a imprensa, será ex-
portado após ser refinado no País. Todavia, esta mentalidade pro-
gressista ainda não se faz presente no setor da mineração do ferro,
onde o espírito colonialista preside as decisões de empresas como a
Vale, na qual o Estado tem condições de influenciar essas decisões,
mas não o faz. Segundo o Jornal Folha de São Paulo (23/5/2009, p.
B7): “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com surpresa ao
anúncio de que Vale irá cortar 37% dos investimentos planejados
para 2009. Ele disse que não há motivos para a redução, já que a
empresa tem ‘muito dinheiro’ em caixa. [...] Lula criticou a política
da empresa de não construir siderúrgicas. ‘A Vale tem como norma
não construir siderúrgicas sob a alegação de que não pode competir
com seus clientes. Eu acho um erro histórico, porque, assim, ela iria
exportar valor agregado, e não apenas minério de ferro’.”
Se o Presidente da República acha essa política “um erro histórico”,
por que não a corrige? Para isso o Governo Federal tem poder de
80
mando nessa empresa, por meio das Goldens Shares e da participação
acionária majoritária da Previ que indica o presidente de seu conse-
lho, como informa o jornalista Pedro Soares da Folha (20/5/2009, p.
B3), tratando da questão da fusão Sadia/Perdigão: “Um especialista
que preferiu o anonimato diz que a Previ, em alguns casos, mantém
ou faz determinados investimentos para atender a interesses do go-
verno. [...] De um certo modo, diz, também é o caso da Vale, na qual
a Previ é maior acionista, indica o presidente do conselho e influen-
cia algumas decisões estratégicas da empresa”.
Para que os políticos, principalmente os Deputados Federais e Sena-
dores, avaliem o que significa, em termos de mineração, carregar um
dos novos supernavios com 500 mil toneladas de minério de ferro
tipo exportação, basta visitar uma das muitas minas existentes em
Minas Gerais e no Pará e acompanhar todo processo desde a lavra,
passando pelo tratamento do minério, até chegar as pilhas de carre-
gamento dos vagões. Nesta ocasião, com uma simples calculadora
de mão, poderão avaliar quantas montanhas terão de ser reduzidas a
pó, peneiradas e lavadas, para extrair e exportar 200 a 300 milhões
de toneladas de minério de ferro, por ano, como se faz atualmente, e
o impacto desse processo sobre o meio ambiente.
Para o país que importa esse puríssimo minério de ferro é uma be-
leza! Basta fundi-lo e vendê-lo. Não precisa preocupar-se com mais
nada. Isto, a preocupação com as consequências negativas, fica por
conta dos tolos que continuam removendo montanhas a troco de
nada! Os brasileiros, aliás, prestam-se muito bem a esse papel, pois
receberam esse apelido de tanto encher caravelas com pau-brasil,
até que essa madeira perdeu valor e foram dispensados dessa labu-
ta inútil. É um destino, ou bobeira mesmo? Estou com a segunda
opção; razão por que tenho a convicção de que já está na hora de a
Secretaria de Assuntos Estratégicos traçar um plano estratégico para
o setor mineral, juntamente com o Ministério de Minas e Energia,
como fez, com sucesso, com o Ministério da Defesa, na formulação
da Estratégia Nacional de Defesa.
Esse planejamento deve incluir, além da racionalização do uso dos
recursos minerais, hídricos e energéticos, da alçada desse ministério,
o emprego dessas matérias-primas no processo de industrialização
do País, com destaque para a indústria naval, ferroviária, portuária e
81
automobilista, visando a tornar estes produtos competitivos interna-
cionalmente, desbancando a China da posição privilegiada que hoje
ocupa. Para isso, o Brasil conta com um trunfo excepcional: a con-
centração na Região Sudeste, a mais rica e industrializada do País,
de vastas reservas de minério de ferro e outros insumos básicos para
produzir aço, imensas reservas de petróleo e gás natural em seu lito-
ral atlântico – as fabulosas reservas do pré-sal –, além de uma malha
ferroviária densa e renovada e um litoral que permite a construção
de excelentes portos para receber quaisquer tipos de navios.
O que falta é um planejamento estratégico que contemple cada seg-
mento desse vasto horizonte de possibilidades, como fez JK com os
seus “Grupos Executivos”. Além disso, como meta síntese desse pla-
nejamento estratégico, a exemplo de Brasília, o atual governo deve
lançar os fundamentos do Sistema Ferroviário Dom Bosco (assunto
tratado em três livros de minha autoria e disponíveis na Internet:
www.dominiopublico.gov.br), que será a mola mestra do desenvol-
vimento e integração da América do Sul, como foi a nova capital no
processo de integração e desenvolvimento de nosso País.
Na expectativa de que o Presidente Lula deixe como legado ao seu
sucessor, além da Estratégia Nacional de Defesa, uma estratégia
para a defesa de nossos recursos minerais, hídricos e energéticos, e as
bases do Sistema Ferroviário Dom Bosco, subscrevo-me desejando a
V. Exas. sucesso em seus afazeres.
Cordialmente,
82
OS DESAFIOS DO PRÓXIMO PRESIDENTE
84
Jobim, o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ari Pargen-
dler, e o corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Gilson Dipp.
O sino de bronze, cujas badaladas marcavam o início e o fim das
aulas, foi surrupiado pelos formandos da turma de 1968 e desde
então circula entre ex-alunos, que se recusam a devolvê-lo à univer-
sidade. Em 1978, dez anos após a formatura da turma, a Ordem do
Sino ganhou um estatuto – que considera o produto o furto ‘símbo-
lo da turma’. Todos os anos, durante um jantar comemorativo em
novembro, a peça troca de mãos. Segundo Maria Kramer, que faz
parte da ordem, o critério para ter o privilégio de esconder o sino
da faculdade é o maior número de participação nos jantares anuais.
Jobim furou a fila em 1997. Menos assíduo do que outros, recebeu
a ‘honraria’ após se tornar ministro do Supremo. Amigos de Jobim
contaram que ele guardava o sino no seu gabinete no STF. Pargen-
dler foi ‘agraciado’ em 1988. Dipp ainda aguarda sua vez. ‘Não de-
volveremos o sino até que haja um sobrevivente da nossa turma’, diz
o advogado Paulo Wainberg. Dos 93 formandos, 16 já morreram. O
sino de bronze, com cerca de 30 centímetros de altura e 10 quilos,
tem gravado os nomes dos que o esconderam. Pargendler se recusou
a comentar o caso. Jobim e Dipp não foram localizados”. MORAL
DA HISTÓRIA: como reza o dito popular, “quem faz um cesto, faz
um cento...”
89
assumir o Palácio do Buriti (sede o governo) e outros prédios que
ficarem vazios.”
Imaginem só! Enquanto em Minas Gerais foram neces-
sários cem anos para mudar o centro administrativo do Esta-
do, do centro da capital para sua periferia, Brasília precisou
da metade do tempo! Nessa toada e diante desse noticiário,
o governo federal, logo, logo, estará de malas prontas para
mudar-se para um local mais adequado... Este estado de coisas
é o resultado da improvisação que caracteriza a administração
pública, pois os prédios dos ministérios, bem como os palá-
cios do governo federal, foram construídos a toque de caixa
por JK que desejava inaugurá-la em tempo recorde, antes do
término de seu mandato. Hoje, antes de completarem 50 anos,
esses prédios frágeis, precocemente envelhecidos, necessitam
de reformas ou um novo edifício para substituí-los, mas estão
legalmente intocáveis, pois foram transformados em elefan-
tes brancos por terem sido projetados por Niemeyer, a quem
se deve curvar e pagar o dízimo correspondente, caso se ne-
cessite tocá-los, como informa o Jornal Folha de São Paulo
(12/12/2008, p. A11):
“Ao receber ontem Oscar Niemeyer no Palácio do Planalto, o presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva explicou ao arquiteto porque decidiu
restaurar o prédio: ‘Isso aqui está uma favela’, disse. Niemeyer ouviu
o presidente reclamar dos carpetes antigos, das divisórias mal feitas
e das paredes e tetos mofados. [...] A presidência aguarda ainda o
projeto de restauração que está sendo produzido pelo escritório do
arquiteto.”
A pressa em inaugurar uma obra com fins políticos,
como aconteceu com Brasília, e que agora se está repetindo
em Belo Horizonte, tem seu preço para a sociedade, que banca
seus custos e arca com os prejuízos. O pior deles é o estado
de abandono relegado aos bens materiais deixados para trás
durante a mudança, representados pelos imóveis e tudo o que
90
nele foi colocado para funcionamento da máquina pública. O
que ficou para trás na mudança da capital federal do Rio de
Janeiro para Brasília, e o que se perdeu nesse processo, é uma
história que está para ser contada, a qual poderia começar
com o que se passou com o prédio do Ministério da Fazenda,
uma obra até hoje sem utilidade. Em Belo Horizonte não será
diferente, pois, no novo centro administrativo, tudo deverá ser
novo para se adequar ao novo ambiente, isto sem contar o des-
prezo de muitos elementos afoitos que, no afã de largar para
trás aquilo que julgam ultrapassado, apressarão sua destruição
de maneira direta ou indireta.
Digo isto porque, quando estudava Geologia no velho
prédio da Escola Politécnica do Largo do São Francisco, no
Rio de Janeiro, no final dos anos 60, tomei conhecimento, pelo
nosso professor de Química, de um fato lamentável. Mostra-
va-nos ele, numa de suas aulas práticas, no laboratório que
tanto estimava, um tesouro representado por cadinhos de pla-
tina que valiam uma fortuna. Disse-nos que esse acervo ele en-
controu entre escombros, resultante de um ato de vandalismo
praticado pelos alunos da Escola de Engenharia da UFRJ que
lá funcionava, pois, ao se mudarem para o novo prédio da Ilha
do Fundão, destruíram tudo o que existia naquele laboratório,
já que, segundo eles, para onde iam, tudo deveria ser novo.
Não sobrou nada de intacto, só os cadinhos que eram indes-
trutíveis e para os quais não deram nenhum valor!
93
O COLAPSO DAS INSTITUIÇÕES
O Culto à Personalidade
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores (as) da República
Congresso Nacional
Brasília – DF
Prezados(as) Senhores(as),
96
Em 1994, morreu Kim Il-sung, que governara a Coreia do Norte
desde 1948. Seu filho, Kim Jong-il, assumiu o comando do Partido
dos Trabalhadores norte-coreano em 1997, e seguindo a linha do
pai, opõe-se à abertura econômica do país, inflando gastos com o
setor militar, possivelmente para barganhar algo dos inimigos polí-
ticos.
Essas informações, bem como as que tratam da familia Sarney, trans-
critas a seguir, estão disponíveis na Internet.
Com base nesses dados, a reflexão que se faz é que certos governan-
tes, que confundem o público com o privado e se apegam ao poder
como parasitas intestinais, perdem o sentido da realidade e passam
a viver num mundo de fantasias, onde o culto à propria personali-
dade representa um meio de sobressair sobre os demais e se projetar
para a posteridade. Para isso constroem pirâmides, como os faraós
do antigo Egito, munumentos extraordinários, como os dos Kim,
na Coreia do Norte, ou se apossam de bens públicos, como fez o
Senador José Sarney, no Estado do Maranhão, que não teve nenhum
escrúpulo de se apropriar do Convento das Mercês, um patrimônio
nacional, para aí expor sua vaidade e seus restos mortais, pois, como
os faraós, sua último morada tem que ser diferente dos comuns dos
mortais.
O resultado de tudo isso é que o povo arca com as consequências,
como bem exemplificam os miseráveis do antigo Egito, os famintos
da Coreia do Norte e os pobres do Estado do Maranhão; uma ver-
gonha nacional, mas um prêmio à família Sarney que o domina com
recursos públicos, tornados privados pela corrupção dos costumes,
como informa o noticiário a seguir (Folha Online, 11/07/2009):
Documento de Fundação Sarney derruba versão do presiden-
te do Senado, diz jornal
Reportagem publicada hoje no jornal “O Estado de S. Pau-
lo” informa que o estatuto da Fundação Sarney derruba a
versão apresentada pelo presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP) para se defender das denúncias de suposto desvio
de patrocínio dado pela Petrobras para projeto cultural da en-
tidade. Na quinta-feira, Sarney disse que não tinha “nenhuma
responsabilidade administrativa” na fundação que leva seu
nome, localizada no centro de São Luís. De acordo com a
97
reportagem, o estatuto da fundação diz que “compete” a Sar-
ney presidir reuniões do conselho curador, “orientar” ativida-
des e representá-la em juízo. Entre os membros do conselho
parentes de Sarney – como o filho Fernando, o irmão, Ro-
nald Sarney, e o genro Jorge Murad (marido da governadora
do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Entre as funções de
Sarney como presidente vitalício estão “assumir responsabi-
lidades financeiras” e o “poder de veto” sobre decisões do
conselho curador – que também é presidido pelo senador. A
reportagem diz que cabe ao conselho curador nomear os três
titulares do conselho fiscal – composto por Antônio Carlos
Lima, Joaquim Campello Marques e Jurandi de Castro Leite.
Lima é assessor do ministro Edison Lobão (Minas e Ener-
gia), aliado de Sarney. A reportagem da Folha Online não
conseguiu localizar a assessoria de Sarney e a fundação para
comentar a reportagem.
Inadimplente
A Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês, fun-
dada e controlada pela família Sarney, ainda se beneficia de
patrocínio estatal e repasse de incentivos fiscais, revela re-
portagem de Marta Salomon, Alan Gripp e Hudson Corrêa,
publicada hoje na Folha (a íntegra está disponível para assi-
nantes do jornal e do UOL). A entidade está impedida de re-
ceber recursos do Orçamento da União desde janeiro. Apesar
de não ter prestado contas de convênio de R$ 150 mil com
Ministério do Turismo, a associação recebeu na quarta-feira
R$ 600 mil da Caixa para quitar as despesas de sete dias de
festas juninas em São Luís. A associação recebeu pelo menos
R$ 3 milhões de estatais, e há outros projetos em análise. Os
recursos foram liberados com base na Lei Rouanet, que dá
incentivos fiscais a quem investe em projetos culturais.
Doação do Convento das Mercês à Fundação José Sarney é
anulada
Brasília – 15/06/2009 – A pedido do MPF/MA (Ministério
Público Federal no Maranhão), a Justiça Federal anulou a
doação do Convento das Mercês à Fundação José Sarney,
tornando inválida a legislação estadual que regulamentou o
98
registro da propriedade. Pela decisão, o imóvel será reincor-
porado ao patrimônio público do Estado. O episódio da doa-
ção aconteceu em 1990, quando o governo editou uma lei que
autorizava a incorporação do convento aos bens da fundação,
conhecida à época por Fundação da Memória Republicana.
Três anos depois, a Assembleia Legislativa do Maranhão
aprovaria uma lei ratificando a doação. Em agosto de 2004,
o MPF entrou com ação contestando a doação do Convento
das Mercês à Fundação José Sarney, pedindo a reintegração
do bem ao patrimônio do Estado do Maranhão com base em
um decreto-lei, assinado em 1937 – o decreto impede que
bens tombados pela União sejam doados a qualquer entidade
de direito privado.
Perpetuar
Notificada, a fundação alegou que é uma entidade pública
federal e que, por isso, seria válida a doação. No entanto,
entre os objetivos da entidade, registrados em cartório, está
o de “organizar e perpetuar a memória dos presidentes da
República tendo por base o acervo privado do presidente José
Sarney”, o que deixa evidente seu caráter de pessoa jurídica
de direito privado. Para a Justiça, é clara a incompatibilidade
das leis sobre as quais aconteceu a doação do imóvel. “A Lei
estadual 5.007, de abril de 1990, ratificada pela Lei 5.765,
em 1993, pela Assembleia Legislativa, autoriza a doação tra-
tada. Mas está em completa discordância com a lei federal
vigente (Decreto-lei 25/37) que proíbe a doação de bens tom-
bados a entidades privadas”, afirmou o juiz Nelson Loureiro
dos Santos. De acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional), a área do convento passou a
pertencer ao Estado do Maranhão em 1905. Em 1974 ela foi
tombada pelo Patrimônio Histórico da União. O Convento
da Mercês, que tem mais de cinco mil metros quadrados de
área construída e outros sete mil de área livre, é um dos prin-
cipais pontos turísticos do Centro Histórico de São Luís. Para
o MPF, a anulação da doação significa respeitar e resguardar
o patrimônio público e social. (Com informações da assesso-
ria de comunicação do MPF).
99
Na expectativa de que esses breves comentários estimulem V. Exas.
a refletirem sobre a necessidade de expurgarem do quadro político
nacional aqueles que confundem o público com o privado, e que são
desonestos no trato da coisa pública, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
104
porta ao presidente respeito às leis ou à Constituição, muito menos
consideração a quaisquer princípios éticos ou morais. Nosso presi-
dente não tem pudor algum. Tudo fará para permanecer no poder,
inclusive comprometer seus correligionários e destruir o que ainda
resta de dignidade ao Congresso Nacional, especialmente no Senado
Federal. Não tem compromisso com nada e com ninguém, a não ser
consigo mesmo. Deslumbrado pelo poder e pelos índices de apro-
vação de seu governo, considera-se acima das instituições – disse
Jarbas Vasconcelos sobre o presidente Lula.
O senador acredita que o presidente da República promoveu “uma
ingerência sem limites” ao intervir em assunto do Senado tentando
“impor a permanência do presidente Sarney”. Para isso, disse Jarbas
Vasconcelos, o presidente Lula constrangeu e ameaçou a bancada do
PT no Senado para conseguir a sustentação de Sarney.
Um presidente do Senado que não tem apoio interno para permane-
cer no cargo, um presidente que se transformou em uma rara unani-
midade negativa frente à opinião pública. Ainda assim, como Lula
intuiu que o afastamento pode frustrar seu projeto, vai impor ao
Senado e ao Brasil a permanência de Sarney - disse.
Da Redação / Agência Senado (reprodução autorizada mediante ci-
tação da Agência Senado).
105
morta por Hércules. Hércules cortou, por várias vezes, suas cabeças
que renasciam. Só conseguiu terminar a tarefa quando seu sobrinho
Iolau começou a queimar as cabeças à medida que iam sendo cor-
tadas.
O Clone do Palácio do Planalto: No início do discurso, Lula elogiou
os Senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Renan Calheiros (PMDB-
AL), que pertencem a partidos da sua base aliada. “Eu quero aqui
fazer Justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Re-
nan, que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do
governo no Senado.” (Folha Online/14/07/2009).
106
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
107
solutamente tudo. Rendido à lógica negocial do PMDB, o PT pro-
tagoniza o caso mais dramático de flexibilização das fronteiras ide-
ológicas.
À medida que Lula foi atualizando o guarda-roupa -do macacão até
o Armani-, deslizou, quase sem sentir, para o outro lado.
Súbito, acordou de mãos dadas com Sarney e Renan. No princípio,
houve certo pejo. Agora, Lula parece confortável no papel de tercei-
rizado.
É como se o velho sindicalista tivesse se convencido de que quem ele
era no passado não estava preparado para o sucesso.
Não tendo escrito nada, Lula esqueceu do que falava. Virou mais
tucano que o próprio FHC. Mimetiza a edulcorada retórica do ar-
ranjo, do possível.
Lula abandonou as convicções que lhe emprestavam aquele ar de
sapo-cururu. Acha que não deve nada ao seu passado, muito menos
explicações.
Como administrador do balcão do PMDB, Lula barganhou a pró-
pria alma. Vendeu-a, sob a submissão do PT, aos ex-ladrões.
Lula esforça-se agora para aniquilar o que parecia restar de sua
maior virtude: a presunção da superioridade moral.
Aproveitando-se do pano de fundo da decomposição do Senado,
Lula integrou-se por inteiro à baixeza comum a todos os políticos.
Lula empenha-se para provar que é capaz de ceder a todas as abje-
ções políticas, inclusive a rendição às alianças esdrúxulas.
Além de aniquilar o PT, Lula vitimou a semântica. Deu à capitulação
o nome de “governabilidade”.
A afronta ao léxico é a prova insofismável de que, em política, o
cinismo também pode ser uma forma de resignação.
Lula tornou-se uma evidência viva de que, com o passar do tempo,
qualquer um pode atingir a perfeição da impudência.
No mensalão, Lula e o PT haviam perdido a virgindade. No “Fica
Sarney”, a ex-virtude prostituiu, no bordel do arcaísmo, o restinho
de castidade.
108
O presidente sem-história oferece aos com-nódoas a oportunidade
de limpar os prontuários. O passaporte para a remissão é a aliança
com Dilma.
Incorporando-se à caravana, o PMDB, um partido a favor de tudo e
visceralmente contra qualquer coisa, preservará os seus negócios.
Sobre a lápide do ex-PT, o velho PMDB manterá o acesso às verbas
e aos cargos. A presidência, evidentemente, será mantida como parte
da cota do Sarney.
O Eixo do Poder
109
que estão no Palácio para ajudar” (Estado de Minas, 18/12/2002,
p. 5). Mas o melhor exemplo das conseqüências catastróficas que
advêm da remoção do eixo do poder de um lugar para outro é dado
pelo Império Romano, pois a partir do momento em que Constan-
tino transferiu o eixo do poder de Roma, cravado em 700 AC, para
Constantinopla, no ano 330 DC, o milenar império entrou em declí-
nio e desapareceu um século depois.
No Brasil não foi diferente, pois por duas vezes esse fato se repetiu e
deixou suas marcas. Tudo começou com a transferência do eixo do
poder da cidade de Salvador para o Rio de Janeiro, fato que marca
o início do fim do período colonial e o advento do Império e o con-
seqüente declínio do Nordeste e ascensão do Sudeste como centro
gerador de riquezas. Esse processo encontrou seu termo quando o
Rei de Portugal transferiu o eixo do poder de Portugal para o Brasil,
evento que assinala também o crepúsculo deste império colonial e a
ascensão de outro, o Império Britânico. Igualmente a transferência
do eixo do poder da cidade do Rio de Janeiro para Brasília, além
de referendar a queda do Império do Brasil e a consolidação da Re-
pública brasileira, assinala também o fim dos domínios regionais
litorâneos e o surgimento no planalto central de um centro de poder
verdadeiramente nacional, pois passou a incorporar neste núcleo de
decisões as regiões antes periféricas do Centro-Oeste e da Amazô-
nica.
Em Minas Gerais, a história registra fato semelhante, pois a transfe-
rência do eixo do poder da colonial, clerical e maçônica Ouro Preto,
para a republicana e positivista Belo Horizonte, marcou não só o fim
do período escravocrata, como também o nascimento de uma nova
ordem social. Aqui também a dicotomia queda/ascensão acompa-
nhou todo o processo, pois a velha capital mineira acabou virando
museu, enquanto a nova ampliava os horizontes das gerais, que, ao
transpor a muralha da Serra do Curral, deixou para trás as estreitas
trilhas da Estrada Real e passou a caminhar pelas largas veredas
do Grande Sertão, onde seria plantado o novo centro de poder do
Brasil: Brasília.
Em que pese esse passo importante rumo ao futuro, um outro, em
sentido contrário, ameaça essa caminhada. Trata-se do projeto do
Governador Aécio Neves, anunciado no início de seu governo em
2003, de transferir o eixo do poder da Praça da Liberdade para ou-
110
tro local da cidade. Como todas as mudanças feitas ao longo da
história, esta também traz consigo conseqüências nefastas, como fi-
cou demonstrado pelas denúncias de corrupção feitas pelo deputado
Roberto Jefferson, as quais, como um terremoto, com epicentro na
capital mineira, abalaram os alicerces do governo Lula, fazendo ruir
toda estrutura petista montada para sustentá-lo no poder, levando
conseqüentemente o Brasil para uma crise institucional.
Para complementar essas considerações, com dados de
2009, ano que esta obra está sendo redigida, é bom lembrar
que o Governador Aécio Neves programou essa mudança para
2010, seu ultimo ano de governo e início de sua caminhada
rumo à presidência da República...
111
TEMPOS DE VIOLÊNCIA
114
Prezados(as) Senhores(as),
115
clássico λογική logos) é uma ciência de índole matemática e
fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a ma-
nifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a
verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que essa
meta possa ser atingida corretamente a fim de chegar a co-
nhecimentos verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica
trata dos argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos
através da apresentação de evidências que a sustentam. O
principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com
sua obra chamada Organon.”
Partindo do pressuposto básico de que “é preciso estabelecer algumas
regras para que essa meta possa ser atingida corretamente a fim de
chegar a conhecimentos verdadeiros”, o primeiro passo para clarifi-
car essa questão do holocausto, é saber se os fornos crematórios dos
nazistas tinham capacidade para incinerar seis milhões de pessoas,
ou mais, considerando que não só judeus foram sacrificados pelos
alemães, nos dois anos de duração desse processo; isto levando-se
em conta as fotos desses fornos divulgadas pela imprensa. Colocar
seres humanos, aos milhões, nesses fornos, que mais se parecem com
os de padaria, com uma só boca e de pequena dimensão, cremá-las,
e retirar suas cinzas, requer uma logística industrial.
Considerando apenas os judeus, seis milhões, e dando a cada um
peso de 50 kg, são, segundo simples cálculos aritméticos, cerca de
300 milhões de quilos de carne e ossos para serem queimados. Em
dois anos (730 dias), portanto, foram incinerados algo em torno de
82.190 indivíduos, por dia. Em turno de 24 horas, seriam 3.424
pessoas/hora. Aliás, todo esse processo teria que ser muito bem cal-
culado –cálculos matemáticos-, abrangendo logística, energia térmi-
ca – usaram o quê?, o descarte dos residuos – onde?, a poluição
ambiental – usaram filtros para disfarçar o mau cheiro?, e o apaga-
mento de pistas, pois não foram encontradas nenhuma prova mate-
rial, nem pedaços de ossos calcidados, além de galpões abandonados
com prisioneiros esquálidos, mortos ou vivos; fato que contraria a
mortandade em massa e sistemática dos judeus tão logo chegassem
a esses campos.
Como são muitas as perguntas que requerem respostas precisas,
como exige o bispo britânico, a posição do governo brasileiro deve
ser de cautela, pois quem deve mostrar essas provas são as três po-
116
tências vencedoras da Segunda Guerra Mundial – Estados Unidos
da América, Inglaterra e Rússia –que, em seus arquivos, possuem
documentos comprobatórios de todos os fatos ocorridos naquele
período, como fotografias aéreas e relatórios minuciosos de seus
serviços secretos, que sabiam tudo o que se passava em território
inimigo, inclusive nas instalações dos campos de concentração, pois
poderiam produzir armas, munições ou serem disfarces para outros
fins bélicos.
No entanto, essas potências, a quem Israel deveria recorrer para com-
provar sua assertiva, até hoje não mostraram ao mundo nada que
justificasse essa paranoia judaica – nem mesmo um documentário
com imagens da época, fato comum em se tratando daquela guerra
–, que agora querem impor ao mundo como verdade absoluta, um
dogma de fé, exigindo que se puna quem disso duvidar, ou constran-
gendo países, como o Brasil, a adotarem, na marra, seus questiona-
dos pontos de vistas. Neste particular é bom lembrar que os judeus
violam nossa Constituição (Art. 5o, IV e IX), quando apelam para
o antissemetismo toda vez que que seus interesses são contrariados,
pois espertamente misturam assuntos de Estado com questões de sua
religião, como estão fazendo agora com o Irã, a bola da vez de sua
estratégia de dominação da Palestina e do Oriente Médio, este em
parceria com os norte-americanos.
Esta conduta dúbia foi há tempos denunciada pelo falecido presiden-
te francês, De Gaulle, que exigiu que se decidissem a respeito, para
evitar contradições perniciosas à paz mundial; fato que se repete na
atualidade, como informa o Jornal Estado de Minas (12/5/2009, p.
17):
“Uma nova guerra entre Israel e países árabes ou islâmicos
poderá ocorrer em 12 a 18 meses se não houver progressos
nas negociações de paz para o Oriente Médio, afirmou o rei
Abdullah, da Jordânia, em entrevista publicada no jornal The
Times. Ele participa da elaboração de um plano de paz ame-
ricano para a região, que prevê uma ambiciosa ‘solução de
57 estados’, com o envolvimento de todos os membros da
Organização da Conferência Islâmica.”
Essa iniciativa, como tantas outras, está destinada ao fracasso, pois
os judeus tudo farão para sabotá-la, inclusive bombardeando o Irã.
117
A eles só interessa o Armagedom, prelúdio da vinda do seu Mes-
sias, como comentei em três livros de minha autoria, disponíveis na
Internet (www.dominiopublico.gov.br). É só esperar para ver, pois,
segundo diversas profecias, esse apocalipse ocorrerá em 2012, úl-
timo ano do primeiro mandato do presidente Barack Obama dos
Estados Unidos, que, como seus antecessores, tudo fará para con-
quistar um segundo mandato, inclusive ir à guerra total contra os
mulçumanos.
Diante desses fatos, é bom o governo brasileiro se precaver, evitando
qualquer tipo de envolvimento com os países dessa região e dedi-
cando seus recursos e energia para defender a América do Sul, único
continente que escapará ileso dessa conflagração mundial. Para isso
é necessário que nossos estratégistas elaborem um ambicioso plano
de defesa continental, envolvendo todos os países da região, que leve
em conta a ação de países nuclearmente armados dispostos a quais-
quer aventuras para atingirem seus objetivos.
Agradecendo a atenção de V. Exas., e desejando-lhes sucesso em seus
afazeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
118
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília -DF
119
mento do Estado de Israel, em 1948. ‘A América Latina é um
continente muito especial para nós. Nossos melhores amigos
e aliados estão lá. A maioria dos países que nos apoiaram na
votação da ONU em 1947 que aprovou a criação de Israel
foram da América Latina’, destacou Ayalon.”
Essas observações merecem alguns comentários, como preliminar a
esta carta e para complementar o que foi tratado na correspondência
de 13 de maio. O primeiro deles é que, na América Latina, os judeus
nunca foram bem recebidos, seguindo determinações da Espanha e
Portugal, fato histórico sobejamente conhecido, e razão por que não
criaram raízes nesta parte do continente americano. O segundo é
sobre a votação na ONU em 1947 sobre a criação de Israel. Esta vo-
tação, como muitas outras ocorridas no processo de fundação dessa
organização, foi presidida pelo Chanceler brasileiro Oswaldo Ara-
nha, que simplesmente bateu o martelo para confirmar uma decisão
da Assembleia. Nada de especial, portanto, nesse gesto mecânico.
O que valeu foi o voto dos países participantes que criaram não
apenas um Estado na Palestina, mas sim dois: um para os judeus e
outro para os palestinos. Assim sendo, a existência de um está ligada
umbilicalmente ao do outro. São, afinal de contas, irmãos siameses.
Esta solução, que os judeus aceitaram num primeiro momento, pois
lhes era favorável, passaram, com o correr do tempo, a renegar, tão
logo perceberam que poderiam manipular, em benefício próprio, os
conflitos existentes nessa região e dos advindos dessa partilha equi-
vocada. Desde então, o que fizeram foi espalhar intrigas de toda
ordem, tornando o Oriente Médio num caldeirão do diabo, onde a
paz não tem vez.
Esse proceder maléfico agora querem repetir na América Latina.
Portanto, é bom que os políticos e governantes deste continente se
precavenham dessa estratégia maligna, ainda mais que a bonança
bate às portas do Brasil e da América do Sul, um continente que cul-
tua a paz, com o início da exploração das reservas de petróleo e gás
natural do pré-sal, as quais se podem estender pela costa atlântica do
Uruguai e Argentina, inclusive das Malvinas. Essa possibilidade al-
vissareira aumentará a tensão entre os países de outros continentes,
que estão com suas reservas em declínio ou em fase final de explora-
ção, os quais passarão a cobiçar essas e outras riquezas da América
do Sul. É com esse objetivo que os judeus se estão movimentando
120
em direção à América Latina, ou seja, dominar o poder econômico
dos países dessa região, ou servir de testa de ferro para as potências
dominantes, como estão fazendo no Oriente Médio. O Irã, no caso
latino-americano, é apenas um pretexto para se posicionarem estra-
tegicamente na região e estarem preparados para eventos futuros.
121
‘crescimento natural’ dessas colônias. Uma provocação irres-
ponsável, além de cinismo na perpetuação do esbulho.”
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
122
Processo de paz
Sobre o interesse brasileiro de participar no processo de paz no
Oriente Médio, a embaixadora disse que “é difícil saber se, no fu-
turo, o Brasil terá uma maior participação no processo de paz, mas
esse assunto certamente será abordado durante as reuniões do minis-
tro Lieberman com os líderes brasileiros”.
Os representantes do Brasil e de Israel ouvidos pela BBC Brasil con-
cordam que, apesar das divergências politicas, a visita é sinal de uma
aproximação significativa entre os dois países.
A visita do ministro Avigdor Lieberman é a primeira de um chan-
celer israelense ao Brasil em 22 anos e ocorre pouco tempo depois
que o Ministério das Relações Exteriores de Israel adotou mudanças
estratégicas, que incluem a decisão de fortalecer a colaboração com
os países do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Além da visita do chanceler, o ministério israelense decidiu reabrir o
consulado do país em São Paulo, que foi fechado em 2002.
Também está programada uma visita ao Brasil do presidente de Isra-
el, Shimon Peres, em novembro, que deverá ser retribuída por uma
visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Israel em 2010.
De acordo com o diplomata Sidney Leon Romeiro, encarregado do
setor político da embaixada do Brasil em Tel Aviv, “existem diver-
gências políticas entre os dois países, mas é para isso que existe o
diálogo”.
Colaboração
Apesar de divergências no âmbito internacional, principalmente li-
gadas às relações com o Irã e ao conflito israelense-palestino, a cola-
boração bilateral Brasil-Israel cresceu significativamente nos últimos
anos.
O ministro Celso Amorim fez três visitas a Israel desde 2005, e o
total do comércio entre os dois países mais que triplicou nos últimos
quatro anos, crescendo de US$ 500 milhões para US$ 1,6 bilhão.
“O lado brasileiro deverá levantar a questão do conflito israelense-
palestino”, disse Romeiro à BBC Brasil.
123
“Consideramos que existe uma nova janela de oportunidade na re-
gião que deve ser explorada. Recentemente houve uma série de fatos
positivos que podem facilitar a retomada do processo de paz, como
a atitude do governo [de Barack] Obama, a aproximação entre os
Estados Unidos e a Síria e as últimas declarações do premiê israelen-
se Binyamin Netanyahu, reconhecendo a solução de dois Estados”,
acrescentou.
O Brasil vem sinalizando há anos que tem interesse em participar do
processo de paz no Oriente Médio.
No entanto, para o cientista político Jonathan Rynhold, da Univer-
sidade de Bar Ilan, “essa é uma ilusão”.
“As chances de que o Brasil possa se transformar em um fator im-
portante no processo de paz são praticamente nulas”, disse Rynhold
à BBC Brasil.
“O Brasil não tem os instrumentos necessários para exercer uma
influência real nesta questão, pois não tem uma cadeira permanente
no Conselho de Segurança da ONU, não está envolvido militarmen-
te no Oriente Médio e não tem um capital diplomático para que
possa se transformar em um agente importante no processo de paz”,
afirmou o analista.
Segundo Rynhold, “a colaboração bilateral pode amenizar o efeito
das divergências politicas”. “Boas relações bilaterais e econômicas
são uma receita para amenizar confrontos no âmbito diplomático.
Israel tem interesse em se aproximar de países importantes, como
o Brasil, que têm uma força econômica e política crescente e estão
distantes do conflito no Oriente Médio”, afirma.
“Para o ministro Lieberman, que está bastante enfraquecido tanto
internamente como no nível internacional, a visita ao Brasil confere
prestígio e legitimidade”, acrescentou o analista.
Avigdor Lieberman enfrenta uma investigação policial por suspeitas
de fraude e lavagem de dinheiro, e no âmbito internacional é consi-
derado uma figura polêmica por suas posições de extrema-direita e
por morar em um assentamento na Cisjordânia.
124
AS LIÇÕES DA HISTÓRIA
Flávio Josefo
Flávio Josefo (em latim, Flavius Josephus, ou Iossef ben
Matitah ha-Cohen, em hebraico), historiador de origem judai-
ca (Jerusalém 37/Roma 100 d.C), descendente de antiga famí-
lia de sacerdotes, lutou contra os romanos na fase inicial da
guerra, sendo por estes derrotado, a quem se entregou, e salvo
125
graças a uma profecia que proferiu na presença de Vespasiano,
general das legiões, segundo a qual este se tornaria impera-
dor de Roma. Protegido por Vespasiano, que viu cumprida
suas profecias, e por seus filhos Tito e Domiciano, mais tarde
também imperadores, recebeu a cidadania romana, o nome da
família do imperador, Flavius, e bens que lhe permitiram dedi-
car o resto da vida à atividade de historiador. Teve papel ativo
no cerco de Jerusalém por Tito, como assessor desse general
romano e profetizando em favor de seu povo, por inspiração
divina, a quem advertia das desgraças por vir, clamando para
que buscassem a paz com os romanos.
O Amargo Regresso
As Sementes da Destruição
131
PREPARANDO-SE PARA A GUERRA
Prezados(as) Senhores(as),
Como registra a história, os primeiros habitantes do Morro da Pro-
vidência foram os combatentes desmobilizados da Guerra de Canu-
dos, apelidados de favelados, nome tirado de uma planta comum
nos campos de batalha daquela região, o qual, a partir desse primei-
ro aglomerado de excluídos da sociedade, serviu para nomear outros
guetos urbanos que permeiam a “Cidade Maravilhosa”. Favelado,
desde então, passou a ser sinônimo de marginal, e as favelas, valha-
couto de ladrões, assassinos e traficantes de drogas.
Para combater esses favelados, a sociedade vem aplicando o mesmo
método usado em Canudos, no alvorecer da República, ainda no
século XIX, quer dizer, a força policial estadual e, quando esta se
132
mostrar incompetente, apelar para o Exército. Por uma ironia da
história, os mesmos elementos que levaram o Exército brasileiro a se
macular em Canudos, há mais de um século, repetem-se na atualida-
de, ou seja, um oportunista com verniz religioso manipulando uma
comunidade de excluídos para disso tirar o melhor proveito, e os
governantes, atentos a sua manobra, para também se beneficiarem.
Na favela do sertão baiano, toda população foi dizimada, cerca de
25.000 habitantes, e na carioca, por enquanto, as vítimas foram três
jovens indefesos. Em ambos os casos, prevaleceu a estratégia militar:
naquela época erradicar um mal pela raiz; agora dividir para domi-
nar, como fez o jovem tenente ao jogar uma favela contra a outra.
Cento e onze anos, portanto, não foram suficientes para que os polí-
ticos, governantes, militares e a sociedade se libertassem do axioma
de que a questão social é caso de polícia, como verbalizou um líder
da República Velha; e mais do que isso, que a força bruta deve pre-
valecer sobre supostos direitos dos cidadãos, como aconteceu com
os três favelados do Morro da Providência, que foram executados
por marginais de outra favela a mando do Exército brasileiro, num
serviço terceirizado, do tipo blackwater, que pode virar moda, se a
sociedade não reagir com soluções práticas e eficientes para o res-
gate da cidadania dos excluídos, em sua maioria ainda sofrendo
da síndrome das senzalas: a submissão sem contestação, que gera
o conformismo paralisante. Aqui é bom lembrar o exemplo do ex-
Governador de Minas Gerais, Milton Campos, que, tendo de en-
frentar uma greve de ferroviários, devido ao atraso no pagamento de
salários, deixou de lado conselhos para reprimir os grevistas com a
polícia estadual, dizendo que o melhor seria mandar o trem pagador,
o que foi feito restabelecendo a ordem sem violência.
Considerando que, para solucionar o problema social criado pela
minifavela de Canudos, com seus 25.000 habitantes, foi necessário
empregar todo Exército brasileiro, é fácil imaginar o quanto será ne-
cessário de força bruta para dominar os favelados da Região Metro-
politana do Rio de Janeiro, acima de 2 milhões e meio, em caso de
uma rebelião qualquer, que pode ser detonada por fatores aleatórios,
seja por desvio de comportamento de elementos da força repressora,
como a atitude impensada do jovem oficial, ou uma fatalidade qual-
quer que foge ao controle das autoridades. Diante de um quadro
instável como esse, é bom que as autoridades competentes, políti-
133
cos, governantes, militares e a sociedade em geral reflitam sobre a
necessidade de mudar o enfoque dessa questão social representada
pelas favelas que sufocam as metrópoles brasileiras, principalmente
as da Região Sudeste, onde se concentram a maioria dos libertos das
senzalas e dos migrantes nordestinos.
A minifavela de Canudos foi erradicada, mas as sementes trazidas
nas botas de seus algozes germinaram em solo carioca, onde renasceu
cem vezes maior. A solução, portanto, não passa pela força bruta,
mas sim por um planejamento estratégico que contemple medidas a
curto, médio e longo prazos, envolvendo os cidadãos e os espaços
onde habitam. Em boa hora, o Presidente Lula criou a Secretaria
de Assuntos Estratégicos, pois ela poderá, com as ferramentas hoje
disponíveis, como a informática as imagens de satélites, planejar o
reordenamento do espaço urbano das regiões metropolitanas, erra-
dicando as favelas em situação de riscos ou insalubres, com a cria-
ção de novos bairros para abrigar os favelados, ou reurbanizando
as existentes, quando possível. Em todos os casos, o saneamento
básico deve acompanhar todo o processo, inclusive medidas de pre-
servação do meio ambiente que, no caso da “Cidade Maravilhosa”,
está a exigir ação imediata para que as florestas que recobrem suas
montanhas não sejam derrubadas para dar lugar a barracos, como
ocorre atualmente.
Além disso, é necessário, também, a criação de pólos de desenvolvi-
mento fora das regiões metropolitanas, para atrair a população flu-
tuante que procura as capitais dos Estados em busca de oportunida-
des de trabalho. Um exemplo de sucesso nesta estratégia descentrali-
zadora é dado pelo Estado de Minas Gerais, que em passado recente
criou uma companhia estatal para implantar distritos industriais
fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Este é um exemplo
que a Secretaria de Assuntos Estratégicos pode analisar para elabo-
ração de um plano de ação para todo o País. Neste planejamento,
inclusive, pode ser analisado também o impacto econômico e social
que trará a implantação da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco,
que pode criar um novo eixo de desenvolvimento no centro do Brasil
e da América do Sul, aliviando a pressão demográfica nas capitais
do litoral atlântico. Este imã poderoso é fundamental também para
contrabalançar o desenvolvimento das regiões Sul e Sudeste, em fun-
ção da exploração das gigantescas reservas de petróleo e gás de seu
134
litoral, a qual pode acentuar ainda mais os desequilíbrios regionais,
se não houver um planejamento a curto, médio e longo prazos, pois
essa riqueza irá atrair pessoas e investimento em buscas de oportuni-
dades, gerando uma explosão populacional e, conseqüentemente, a
favelização generalizada dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo, o Vale do Paraíba no eixo Rio-São Paulo, e o litoral paulista,
neste caso à custa da Mata Atlântica.
Para encerrar esta carta cidadã, é bom lembrar que todas essas me-
didas só fazem sentindo se o ser humano for o centro das atenções.
Resgatar os favelados da marginalidade em que se encontram e inse-
ri-los na sociedade organizada é uma prioridade de governo que se
impõe num planejamento estratégico que vise transformar o Brasil
numa potência em escala global, pois é impossível imaginar que essa
pretensão se concretize com o atual quadro de desigualdade social.
O primeiro passo nesse sentido é implantar a Escola Pública de Tem-
po Integral, a começar pelos grandes centros urbanos onde os brasi-
leiros residentes em favelas não têm nenhuma chance de exercer ple-
namente os seus direitos de cidadania, hoje reservados aos filhos da
elite e da classe média, dada a precariedade do ensino aí ministrado.
Nas favelas, é bom lembrar, o limite de idade para os rapazes mais
espertos, portanto, os mais rebeldes, é de 30 anos, pois serão mortos
antes de completarem essa idade, já que a educação que receberam,
se a receberam, não permite que usem a inteligência em atividades
produtivas, restando como ferramenta de libertação a arma de fogo
que os condenam à morte prematura.
A mudança deste quadro só pode ocorrer com a implantação da
Escola Pública de Tempo Integral, funcionando das 7 às 17 horas,
abrangendo creches comunitárias, pré-escola e ciclo básico infan-
to-juvenil (Ensino Fundamental e Médio), período suficiente para
ministrar um curso abrangente que contemple todos os aspectos
necessários à formação de cidadãos conscientes de seus direitos e
obrigações. Com esta medida, nenhuma criança ou jovem ficarão
soltos na rua à mercê de criminosos. Esse resgate social as libertará
também das garras das ONGs e outras entidades assistencialistas,
públicas ou privadas, que fazem desses brasileiros marginalizados
um meio de vida muito rentável, pois todas suas ações são custeadas
com dinheiro público, via deduções do imposto de renda, ou verbas
públicas repassadas a fundo perdido. Acabar com essa farsa é tarefa
135
de um órgão governamental como a Secretaria de Assuntos Estraté-
gicos da Presidência da República, a qual deve também considerar
a transferência do Ensino Superior para o Ministério de Ciência e
Tecnologia, como ocorre no Estado de Minas Gerais, ficando o Mi-
nistério da Educação com o encargo de monitorar e ditar as normas
de funcionamento do ensino básico em todo o País, o qual passará
a ser de competência exclusiva dos Estados, ficando as prefeituras
com o encargo de administrar as creches comunitárias.
Finalmente é bom lembrar que o trato da questão das favelas não
deve limitar-se a iniciativas pontuais e demagógicas, como o tal “Ci-
mento Social”, do Morro da Providência, ou outras, como instalar
teleféricos aqui, ou pintar as casas de branco acolá. O que interessa
para a sociedade brasileira é uma proposta inteligente para acabar
com esses guetos urbanos, e não maquiá-los para esconder essa ver-
gonha nacional. Afinal de contas, será a elite pensante tão burra
que ainda não sacou que toda a violência que sofre se deve ao grau
de miseralibilidade de metade da população do País?! Como pode
haver respeito à cidadania numa cidade onde bairros bem estrutu-
rados disputam espaço com favelas? A ficha ainda não caiu? Que
civilização cretina é essa, a nossa, onde se sai em passeatas levando
pombinhas de papel para pedir paz e, no seu horizonte visível, estão
as favelas carentes de tudo? E o Partido dos Trabalhadores, o PT,
e o Presidente Lula, um ex-favelado, que até agora não mostraram
para que vieram? E os militares, que no passado se recusavam a
exercer as funções de Capitães-do-Mato, para caçar negros fugidos,
mas agora discutem filigranas jurídicas para participarem do esporte
predileto de governantes sanguinários: a caça de perigosos narco-
traficantes calçados de havaianas, ou descalços mesmo. Alguns des-
ses pé-de-chinelo, seminus e desarmados, são abatidos por militares
transportados em helicópteros de última geração, para deleite das
autoridades competentes e enredo de filmes premiados. O resultado
de tudo isso é que a cidadania tem medo de subir os morros cariocas,
preferindo as areias de Copacabana, onde se dedica a espetar balõe-
zinhos e pequenas cruzes na tentativa de sensibilizar uma sociedade
corrompida pela escravidão.
Agradecendo-lhes a atenção, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
136
Censo da Juventude
137
para minimizar essa situação, tanto na área da educação, como na
da saúde, inclusive no reforço alimentar da população, com a me-
renda escolar e o bolsa família. Todavia, na Era do pré-sal, que se
anuncia, quando teremos recursos financeiros suficientes para co-
locar o Brasil num patamar de país desenvolvido, como os do G-7,
é preciso fazer mais, muito mais, e mirar mais alto. O objetivo a
ser alcançado é que o país tenha uma juventude educada, sadia, e
pronta para o exercício pleno da cidadania, aí incluídos direitos e
obrigações.
Para isso é necessário um planejamento estratégico que contemple
medidas a curto, médio e longo prazos, envolvendo os ministérios
de Assuntos Estratégicos, da Defesa, da Educação, e da Saúde, o
qual terá como ponto de partida um levantamento censitário do es-
tado atual da juventude brasileira. O caminho mais indicado para
executar esse trabalho é fazê-lo por ocasião do alistamento militar
e durante os exames de seleção dos conscritos para incorporação às
Forças armadas, inclusive as jovens que passarão a prestar o servi-
ço militar obrigatório. Esse censo juvenil poderá ser feito em duas
etapas. Na primeira, durante o alistamento militar, os rapazes e mo-
ças com idade entre 16 e 17 anos, preencherão questionários elabo-
rados por esses ministérios para atender suas demandas especificas
e orientar os trabalhos da fase seguinte: o exame de seleção para
prestação do serviço militar. Nesta primeira etapa o objetivo princi-
pal é levantar dados pessoais, examinando certidões de nascimento,
escolaridade, etc.
Com base nessas informações o Ministério da Defesa emitirá uma
Carteira de Identidade Nacional, cujo número será obrigatoriamen-
te utilizado em todos os documentos de fé pública, como passapor-
tes, títulos de eleitor, carteiras de motorista, CPF, etc. Esses dados,
armazenados num Banco de Dados do Ministério da Defesa, serão
repassados às Polícias Federal, que passará a emitir segundas vias,
e Estaduais, aos Tribunais Eleitorais, e ao Ministério da Fazenda.
Com base nessas informações essas instituições poderão criar seus
próprios Bancos de Dados, para emitir seus documentos ou acres-
centar outras informações de seus interesses, não podendo, todavia,
modificar os dados originais, os quais só poderão ser alterados pelo
Ministério da Defesa mediante decisão judicial.
138
Na segunda etapa, a seleção para incorporação às Forças Armadas,
o enfoque principal será o exame de saúde de todos os alistados, o
qual será formatado pelo Ministério da Defesa em conjunto com
o Ministério da Saúde, pois os resultados poderão ser amplamente
utilizados por esses ministérios para os mais variados fins. Por isso
mesmo, as informações sobre cada conscrito serão confidenciais, de
uso restrito das Forças Armadas, liberando-as, para uso público, so-
mente na forma de números estatísticos. As análises laboratoriais,
por exemplo, que deverão incluir obrigatoriamente exames de san-
gue, urina e fezes, poderão também fornecer o tipo sanguíneo e o
DNA dos reservistas; dados que serão repassados a eles mediante
solicitação por escrito. Alem disso, em comum acordo, esses ministé-
rios poderão criar também Bancos de Sangue no país todo para aten-
der a população, os quais serão abastecidos com doações daqueles
dispensados do serviço militar.
Finalmente é bom esclarecer que esse processo de avaliação da ju-
ventude brasileira, feito num momento crucial de seu desenvolvi-
mento físico, e formação intelectual, é de fundamental importância
para o País, que assim terá em mãos dados consistentes para avaliar
as políticas públicas voltadas para as crianças e adolescentes, e o
potencial dos jovens para sustentar seu desenvolvimento econômico
e participar da defesa nacional. Alem disso, deve-se ter em mente,
que essa avaliação evoluirá com o tempo, para responder as necessi-
dades da sociedade, acompanhamento que será feito pelo Ministério
de Assuntos Estratégicos, que ficará encarregado de integrar todos
os dados e relatórios, para, em conjunto com esses ministérios, tra-
çarem uma política nacional de valorização da juventude, a curto,
médio e longo prazos. É, portanto, um serviço de cidadania prestado
pelo Estado num momento mágico na vida de cada jovem: a passa-
gem da adolescência para a vida adulta. Dinheiro – para implantar
esse censo juvenil, mensal, semestral, ou anual, de vital importância
para um planejamento estratégico, que vise colocar o Brasil no gru-
po de nações desenvolvidas –, não irá faltar na Era do pré-sal, pois
se propala por aí que é de tal magnitude que no Brasil não há espaço
para ele (sic).
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V.Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
139
Com cópias para os Exmos. Srs. Ministros, de Assuntos Estratégi-
cos, Mangabeira Unger, da Defesa, Nelson Jobim, da Educação, Fer-
nando Haddad, e da Saúde, José Gomes Temporão
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
140
Como nenhum país da América do Sul está preparado para enfren-
tar, de imediato, essa ameaça externa, muito menos o Brasil, que só
agora está pondo em prática uma Estratégia Nacional de Defesa, é
preciso ter em mente o que outros países continentais fizeram, ao
longo de sua história, para enfrentar ameaças semelhantes. A Rús-
sia, por exemplo, só saiu vencedora na Segunda Guerra Mundial,
quando derrotou a Alemanha Nazista, no Ocidente, e o Império Ja-
ponês, no Oriente, por ter-se preparado internamente, construindo
uma infraestrutura operacional que tinha na Ferrovia Transiberiana
a viga mestra. Por essa, e por outras, é que os russos saíram ven-
cedores dessa guerra, pois, como dizem, estrategicamente jogavam
xadrez, enquanto seus adversários jogavam damas.
Para o Brasil, e a América do Sul, a viga mestra da defesa continen-
tal, inclusive da Antártida, para enfrentar com êxito essas e outras
ameaças que surgirão no futuro, ainda está para ser construída, mas
já foi profetizada. Trata-se da Ferrovia Transcontinental Dom Bos-
co. Esta estratégica ferrovia e suas ramificações poderão ser constru-
ídas em perfeita sintonia com os demais países sul-americanos, pois
o objetivo maior será a integração econômica e social do continente,
sem nenhuma implicação de ameaça a quem quer que seja. Seu uso,
como arma de defesa, será feito em casos de conflitos bélicos glo-
bais ou bloqueio marítimo continental. Trata-se, portanto, de uma
proposta que visa, acima de tudo, ao desenvolvimento econômico e
social da América do Sul como um todo, sem exclusões, eliminando
os bolsões de miséria onde grupos guerrilheiros estabelecem suas
bases em busca de justiça social.
Para combater esses conflitos sociais, o caminho mais indicado é
investir em projetos que gerem empregos e promovam o comércio
entres os países do continente, e não na construção de bases milita-
res para intimidar guerrilheiros ou narcotraficantes. Um exemplo
da ineficácia deste tipo de confronto é dado pela própria Colômbia,
“fonte de 80% da cocaína que os EUA consomem”, e que passou
os últimos dez anos erradicando plantações ilícitas, inclusive extra-
ditando mais de 600 colombianos para os EUA (Folha de São Pau-
lo, 16/8/2009, p.A22). Segundo um colunista desse jornal (p. B2),
“mais de US$ 6 bilhões foram já despendidos no Plano Colômbia e
Bogotá se tornou o terceiro maior beneficiário da assistência militar
dos EUA, após Israel e o Egito”. É bom lembrar que estes dois países
141
se situam numa região de conflitos bélicos seculares; ao contrário
da América do Sul, que sempre cultivou a paz. A paz no continente
sempre foi mantida na base da confiança mútua entre os países da
região, e não por meio de intimidações militares.
Mas essa paz pode estar com seus dias contados, dependendo do
tipo de jogo que os Norte-Americanos estão pondo na mesa: Da-
mas ou Xadrez. No primeiro caso, o combate ao narcotráfico pode
ser o objetivo, pois busca-se resultados imediatos, mas, na segunda
opção, os alvos visados são mais complexos e de longa maturação.
Neste caso, mais do que no primeiro, insere-se a notícia de que “o
presidente mexicano, Felipe Calderón, acertou com seu colega Álva-
ro Uribe intensificar a cooperação entre os dois países na luta contra
o narcotráfico. A Colômbia vai treinar 10 mil agentes federais mexi-
canos em táticas de combate ao crime organizado - muitíssimo mais,
portanto, do que os 800 militares americanos que terão acesso às
bases na Colômbia”. (Folha de São Paulo, 16/8/2009, p.A22). Esta
jogada - tentar colocar tropas na América do Sul e treiná-las nas
condições locais - os EUA vêm tentando há longo tempo.
A novidade é que agora parece que resolveram terceirizar essa ma-
nobra, utilizando, para isso, da prata da casa, os latino-americanos:
mexicanos (existem muitos, também, em seu território e falando in-
glês), como tropas de assalto, e os colombianos como suporte para
lances mais ousados. As sete bases previstas no novo acordo militar
Colômbia-USA e o número reduzido de militares norte-americanos
para operar essas cabeças de ponte, nesse caso, faz sentido, pois vi-
sam dar suporte operacional para o transporte aéreo de longa dis-
tância (do México e dos Estados Unidos) das tropas de ocupação
de pontos estratégicos na América do Sul, como, por exemplo, a
Cabeça do Cachorro, no Estado do Amazonas, na fronteira com a
Colômbia, onde existe uma gigantesca jazida de nióbio, ainda in-
tacta. O que não faz sentido é deslocar 10.000 militares dos deser-
tos mexicanos para treiná-los nas selvas colombianas, quando seria
mais lógico deslocar os instrutores colombianos, em menor número,
para o México, como fazem os Norte-Americanos com os colombia-
nos. Além disso, se o objetivo é o combate ao narcotráfico, não seria
melhor que os próprios norte-americanos treinassem os mexicanos
em seu território, muito semelhante ao do México, onde também se
consome 80% da cocaína produzida na Colômbia?
142
Nesse contexto de dúvidas e desconfianças, a construção da Ferrovia
Transcontinental Dom Bosco se coloca como um instrumento privi-
legiado para a manutenção da paz no continente e desarmar os espí-
ritos mais belicosos. Além disso, para evitar o cerco da Quarta Frota
americana, e outros mais, provocados por conflitos bélicos globais,
que tornarão os oceanos zonas de exclusão, a América do Sul tem
nessa ferrovia, no seu Eixo Central, a principal peça de defesa, pois,
além de ligar o continente de norte a sul pela sua região central, ela
facilitará também o intercambio interoceânico, por meio de cone-
xões transversais ligando o Atlântico ao Pacifico. Um exemplo dessa
ligação é o sistema viário formado pela Interoceanica Sul e a Via
Leste, que, quando pronto, ligará os portos peruano de Ilo, Matara-
ni e San Juan de Marcona, na costa do Pacifico, à cidade brasileira
de Porto Velho, em Rondônia, e daí, pela Via Leste, até o porto de
Recife, no Atlântico. A Interoceanica Sul é uma rodovia com 2,6
mil quilômetros, projetada para atravessar os Andes, passando por
Juliaca, Cusco, Puerto Maldonado e Rio Branco. Outras vias inte-
roceanicas, transversais, como essa, projetadas ou em construção,
reforçarão as ligações entre os paises sul-americanos, livrando-os de
bloqueios de toda espécie e neutralizando movimentos bélicos que
podem compromete a segurança do continente. Quanto aos recursos
financeiros para implantação dessa ferrovia, poderia vir do fundo
soberano a ser criado com a exploração das gigantescas reservas de
petróleo e gás natural do pré-sal.
Outras considerações sobre a defesa do Brasil, e da América do Sul,
podem ser encontradas em dois livros de minha autoria disponíveis
na Biblioteca Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.
gov.br), e em um terceiro que acaba de ser publicado pelo Clube
de Autores (www.clubedeautores.com.br), intitulado “A Mensagem
Codificada sobre o Brasil nas Profecias de Dom Bosco”.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
143
Estratégia Nacional de Defesa
Belo Horizonte, 20 de setembro de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
144
tudo, à sociedade como um todo e aos trabalhadores em particular,
principalmente os que irão construir os estaleiros e outras obras civis
para garantir a segurança nacional, trabalho que nada tem de inte-
lectual, mas sim braçal, mas nem por isso menos importante.
O que sugiro é que o Exmo. Sr. Ministro da Defesa, Nelson Jobim,
apresente em rede nacional de televisão a mesma palestra que fez
para os senhores senadores, e com a mesma naturalidade e descon-
tração, porém ilustrada com mapas, etc., próprios para esse meio de
comunicação, pois, na apresentação no Senado, não tive uma visão
clara do que estava sendo mostrado. Esta sugestão visa também a
alertar os meios de comunicação, que ainda não se deram conta de
que algo de novo está ocorrendo no Brasil com a formulação da
Estratégia Nacional de Defesa. Para constatar este fato, basta ler
o que se escreve na imprensa e o que se debate na televisão sobre
o assunto. Todos parecem que estão diante de um fato totalmente
novo e não sabem sequer como abordar essa questão ou formular
perguntas aos entrevistados em programas que procuram debater
questões nacionais. Quando muito, conseguem discutir temas estra-
tégicos relacionados às grandes potências, mas nunca tratam com
objetividade de assuntos de interesse do Brasil, e seu relacionamento
com a América do Sul, a Antártida e os oceanos adjacentes.
Esse tipo de alienação é que possibilitou às ONGs estrangeiras do-
minarem as questões indígenas e hoje serem as verdadeiras formula-
doras da política indigenista do País, atuando a FUNAI como mera
testa de ferro de interesses alienígenas. Este fato ficou demonstrado
no Estado de Roraima, e com todos os agrupamentos indígenas que
as procuram, ignorando o governo brasileiro, sempre que querem
alguma coisa, pois sabem muito bem que, se mostrarem suas caras
na mídia internacional e na Internet, seus pedidos serão atendidos,
mesmo os mais absurdos. Isto só acontece porque o Brasil não sou-
be valorizar sua experiência de miscigenação, única no mundo, que
transformou povos indígenas em brasileiros que desconhecem o sig-
nificado da palavra racismo, discriminação que essas ONGs estão
introduzindo no País a título de avanço civilizatório.
Como disse o “Velho Guerreiro” – Chacrinha –, “Quem não se co-
munica, se trumbica”! Para evitar que o Brasil “trumbique” e en-
tregue de mão beijada para as ONGs internacionais e as potências
estrangeiras a discussão e a condução do processo de rearmamento
145
das Forças Armadas e da implantação da Estratégia Nacional de
Defesa, é preciso que o governo federal coloque de maneira clara e
objetiva à Nação brasileira, pela palavra do Presidente da Republica
e exposição do seu Ministro da Defesa, os objetivos visados e a ne-
cessidade de selecionar um determinado país para firmar uma par-
ceira estratégica. A conclusão do processo de escolha dos aviões de
combate, anunciado para breve, seria uma boa oportunidade para
que a sociedade tomasse conhecimento, em detalhes, desses fatos
que vão mudar os rumos da civilização e da vida dos brasileiros por
séculos.
Além disso, seria apropriado também que o Governo Federal to-
masse providências para inserir nos currículos escolares, do Ensino
Médio à Universidade, temas relevantes para a nação, como o re-
armamento das Forças Armadas, as riquezas da Amazônia Azul - o
pré-sal, o fundo dos oceanos e o domínio da plataforma continental
-, a Estratégia Nacional de Defesa e a importância para o Brasil do
continente sul-americano, a Antártida e os oceanos adjacentes e as
implicações estratégicas dessas questões vitais para o País. A difu-
são desses conhecimentos entre a juventude será a garantia de que,
quando chegarem ao Senado da Republica, por exemplo, estarão
familiarizados com assuntos que afetam diretamente a vida de cada
brasileiro e não ficarão de boca aberta, sem saber o que dizer, quan-
do abordarem esses assuntos onde quer que estejam ou façam.
Agradecendo a atenção e desejando a V. Exa. sucesso em sua nobre
missão, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
146
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
149
Assunto: A armadilha do Presidente Hugo Chávez e o Boi de Pira-
nha.
150
coringa na manga, que deve colocar à mesa para virar esse jogo de
poder a nosso favor. Trata-se de nossa presença militar no Haiti,
patrocinada pela ONU, a pedido dos Estados Unidos da América,
para salvar a democracia nesse país do colapso total e do surgimento
de uma ditadura; tal como ocorre agora em Honduras e que estão
tirando o corpo fora, para atender a seus interesses, como demons-
trou, por palavras e ações, a Presidente do Conselho de Segurança
da ONU, a norte-americana Susan Rice, que desprezou os apelos
do chanceler brasileiro por uma intervenção nesse país. É o jogo do
toma lá, dá cá. Se a ONU não se envolver para resolver o impasse em
Honduras, o Brasil retira suas tropas do Haiti e fecha sua embaixada
em Tegucigalpa, lavando as mãos para essa questão, como Pilatos
no credo, pois somente por bobeira é que o Brasil está metido nessa
enrascada de quinta categoria.
O que interessa de fato para o Brasil é estreitar seus laços estratégi-
cos com os países da América do Sul, pois, entre este continente e
o do Norte, existem dois vazios para atenuar a pressão dos norte-
americanos sobre os sul-americanos: O Golfo do México e o Mar das
Antilhas. Estas zonas de instabilidade – tectônica, climática e política
– funcionam como amortecedores de choques entre os interesses do
Norte e do Sul. Nesse contexto, a América Central deve ser consi-
derada como uma região tampão, secundária na estratégia brasileira
para a defesa do continente sul-americano. Esta deve concentrar-se
nos seus vizinhos e na defesa de suas riquezas naturais, bem como nas
de nosso próprio País. Ontem mesmo, a imprensa noticiou (Jornal
Estado de Minas, p.11) que o Presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, confirmou que essa empresa está pesquisando a existência
de petróleo na camada pré-sal na Bahia, entre Ilhéus e Belmonte, na
desembocadura do Rio Jequitinhonha. Esta notícia é muito importan-
te, pois a extensão para norte da camada de pré-sal, já identificada
no litoral da Região Sudeste/Sul, desde o Estado de Santa Catarina
até o Espírito Santo, mostra que outras bacias terrestres situadas mais
ao norte, como as do Recôncavo Baiano (Recôncavo/Tucano/Jatobá),
exploradas comercialmente no passado, podem apresentar surpresas
agradáveis, mudando radicalmente o cronograma e a economicidade
da exploração desse horizonte petrolífero.
Por essas, e por outras, é que o Brasil deve concentrar seus esfor-
ços diplomáticos na defesa de seus interesses mais diretos, deixando
151
para segundo plano os de outras nações. Essa ideia de que amplian-
do o leque de ação diplomática pelo mundo afora, relacionando-se
com alhos com bugalhos, possibilitará ao País ganhar, de mão beijada,
uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU é con-
versa para boi dormir. Os titulares desses assentos conquistaram-nos
à custa de guerras e milhões de mortos, e são todos possuidores de
armas atômicas. É uma ilusão o Brasil pretender se juntar a esse seleto
grupo de potências, sem antes produzir armas atômicas e os meios de
usá-las em escala mundial. É bom ter em mente que o Brasil, por não
possuir essas armas para se defender, é um país considerado como re-
serva de caça para quem as possui, pois poderão facilmente saqueá-lo
sem medo de represálias. É um porco cevado pronto para ser abatido.
As riquezas do pré-sal estão aí para confirmar essa assertiva.
Agradecendo a atenção e desejando a V. Exa. sucesso em sua nobre
missão, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
152
das Relações Exteriores; Aécio Neves, Governador de Minas Gerais;
Robson de Andrade, Presidente da FIEMG; Luciano Coutinho, Pre-
sidente do BNDES; e Deputados (as) Federais membros da Comis-
são de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.
153
A segunda notícia, publicada pelo Jornal Folha de São Paulo
(28/9/2009, p. B8), diz respeito à criação do Banco do Sul, uma
instituição multilateral e continental para projetos de infraestrutura,
com capital de US$ 20 bilhões, a ser formado a partir da contri-
buição do Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e
Venezuela. O escritório central ficará em Caracas (Venezuela), com
sedes regionais na Bolívia e na Argentina. O evento de lançamento
ocorreu durante a segunda cúpula entre países africanos e sul-ameri-
canos, em Isla Margarita (Venezuela).
A terceira notícia foi publicada pelo Jornal Estado de Minas
(28/9/2009, p.12), sob o título Brasil é Bola da Vez – Vigor contra
a crise põe país na rota das missões de investidores estrangeiros:
“Apontado entre os países que menos sofreram com a crise finan-
ceira mundial, o Brasil se tornou uma espécie de terra das missões,
alvo do interesse do capital estrangeiro que busca oportunidade de
investir no setor produtivo. [...] A Federação das Indústrias do Esta-
do de Minas Gerais (Fiemg) deve fechar o ano com a visita de mais
de 20 missões entre empresários e delegações governamentais, de
diversos países, dispostos a investir em Minas Gerais em setores que
variam da mineração, logística, infraestrutara e meio ambiente ao
agronegócio”.
O catalizador que permitirá conter o avanço chinês na implanta-
ção de projetos de infraestrura na América do Sul, reservando esse
mercado para os países do continente, especialmente o Brasil, bem
como viabilizar o Banco do Sul, como financiador desses projetos,
em associação com o BNDES, e oferecer aos empresários estrangei-
ros que procuram oportunidades de investimentos, principalmente
na indústria de base localizada em Minas Gerais, chama-se Ferrovia
Transcontinental Dom Bosco. Esta ferrovia, sonhada por este santo,
se construída, ligará a cidade de Cartagena, na Colômbia, à Punta
Arenas no Chile, passando por: Caracas, na Venezuela; Boa Vista,
Manaus, Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande, no Brasil; Assun-
ção, no Paraguai; e Buenos Aires, na Argentina, num percurso de
cerca de 10.777 km, superando assim a famosa Transiberiana, con-
siderada a ferrovia mais extensa do mundo.
O traçado da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco - seu eixo cen-
tral e ramificações, que aumentarão sua abrangência por todo o
154
continente sul-americano -, está detalhado em um livro de minha
autoria, intitulado O Brasil das Profecias – 2003/2063- Os Anos
Decisivos (Figura 2), disponível, via Internet, na Biblioteca Digital
do Governo Federal, no qual, inclusive, são feitos alguns comentá-
rios sobre as implicações políticas, econômicas, sociais e estratégicas
dessa ferrovia. Outras considerações sobre estes assuntos podem,
também, ser encontradas em outro livro disponível nesse mesmo
site, bem como em um terceiro publicado recentemente pelo Clube
de Autores, todos de minha autoria.
Para enfatizar a importância desse projeto ferroviário, para barrar
a penetração chinesa na América do Sul, e evitar que dominem as
fontes de financiamento para obras de infraestrutura, inclusive as
do recém-criado Banco do Sul, deslocando para segundo plano o
BNDES, transcrevo mais alguns trechos do citado artigo do Jornal
Folha de São Paulo (27/9/2009, p. B6):
[...] “Pode-se dizer que os serviços propriamente ditos representam
só 20% das obras. E, como o BNDES obriga as construtoras a com-
prar o máximo no país, se não houvesse condições para competir
nos projetos, esses equipamentos nunca seriam exportados”, disse
Castro. Para ele, o Brasil ainda leva vantagem na região devido à
possibilidade de fechar contratos por meio do CCR (convênio de
créditos recíprocos), que funciona como uma câmara de compen-
sação multilateral entre os membros da Aladi (Associação Latino-
Americana de Integração). No entanto, a China, que em 2007 de-
tinha apenas 4,5% do mercado no subcontinente, já começa a in-
comodar a posição brasileira. “Os chineses já dominam a África,
inclusive em mercados que nos eram cativos, como Angola, e agora
estão cada vez mais presentes por aqui. A competição fica acirrada
porque a China consegue financiar a preços e juros quase absurdos
pois precisa gerar empregos”.
[...] Apesar da boa penetração da companhia na região, Jordão já
sentiu na pele o peso da concorrência asiática. A Andrade Gutierrez
foi responsável pela construção do primeiro trecho de uma ponte
em Guayaquil (Equador), mas perdeu para uma empresa da China
o contrato restante da obra. “Os chineses têm incomodado muito a
gente. Se eles são pré-qualificados para disputar o projeto, geralmen-
te ganham, porque são imbatíveis no preço”, completa o executivo.
155
Na expectativa de que esses comentários estimulem uma análise mais
aprofundada das implicações desse projeto ferroviário, a construção
da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, na consolidação da lide-
rança do Brasil na América do Sul, na abertura de novos mercados
no continente, e acesso a outros tantos, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. (as) Srs.(as) Governadores (as) dos Es-
tados da União, Deputados (as) Federais, e jornais Estado de Minas
e Folha de São Paulo.
156
Para contrapor a essa colocação egoísta, nada melhor recordar as
lições da história e fatos econômicos ocorridos ao longo do tempo
em nosso País, envolvendo interesses, também egoístas, de outros
governadores, no que tange à exploração mineral e seus benefícios,
e a posição do povo mineiro e seus governantes a respeito.
No caso específico do Estado do Rio de Janeiro, temos a Companhia
Siderúrgica Nacional, que, contrariando os mineiros, foi construída
pelo Presidente Vargas, em Volta Redonda, atendendo aos interesses
nacionais. Os mineiros, então, ficaram calados, como sempre. Menos
nobre, e muito invejosa, porém, foi a posição do ex-Governador da
Bahia, Antônio Carlos Magalhães, que ameaçou levar para a Bahia,
onde naquela época se concentrava o principal da produção petróleo
do País, a sede da Petrobras, se o presidente Juscelino Kubitschek
insistisse em transferir para Minas Gerais a sede da Cia. Vale do Rio
Doce, que se nutria exclusivamente das riquezas minerais do Estado.
Neste caso, os cariocas não deram nenhum pio, pois receberam de
mão beijada esse prêmio, como haviam recebido a siderúrgica que
processava o minério de ferro, também, de Minas Gerais.
Hoje em dia, essa história se repete, pois, sem o minério de ferro
das Gerais, o Governador Sérgio Cabral não estaria tão contente
com a construção de gigantescas siderúrgicas programadas para seu
Estado, e inúmeros portos projetados para escoar, para o exterior,
essa riqueza fabulosa. Este fato se repete, também, com o Estado do
Espírito Santo, que, sem o minério de ferro de Minas Gerais, seria
muito mais pobre do que é, e com São Paulo. Este Estado, além
disso, recebeu de Juscelino Kubitschek um prêmio extra: a indústria
automobilística que multiplicou o poder industrial dos paulistas em
níveis internacionais.
Esses lembretes são feitos para pôr essas questões nos devidos ter-
mos, considerando os interesses da Nação, que são permanentes,
em contraposição aos regionais, que são passageiros. Ao se colocar
numa posição radical, o Governador Sérgio Cabral está abrindo um
flanco na defesa dos interesses do País, e na integridade territorial
da Nação, pois, por essa brecha, é que se infiltrarão os interesses
alienígenas, como fazem no Oriente Médio. Se a política para explo-
ração do petróleo e gás natural da Plataforma Continental, seja no
pré-sal ou pós-sal, como dizem, não atender aos interesses de todos
157
os Estados da Federação, e comportar controvérsias, será apenas
uma questão de tempo para que surjam em nosso território muitos
Iraques, Omãs, Catars, Kuwaits, Dubais, etc., pois, a partir de dis-
putas nos tribunais, com base na Constituição Federal, ela estimu-
lará movimentos separatistas em regiões onde o petróleo poderá ser
encontrado, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e mesmo no
norte do País, onde os indícios apontam para reservas gigantescas,
tanto na foz do Rio Amazonas, como nas suas cabeceiras, na fron-
teira com a Bolívia, Peru e Colômbia.
Para finalizar, gostaria, como cidadão e geólogo, de sugerir uma sa-
ída para esta questão controversa:
1)Todas as reservas de petróleo e gás natural da Plataforma Con-
tinental, sejam do pré-sal ou pós-sal, abaixo da linha das marés,
serão consideradas domínio exclusivo da União, não cabendo ne-
nhum tipo de indenização, ou regalias, aos Estados litorâneos. Os
benefícios com sua exploração serão distribuídos equitativamente
entre todos os Estados da Federação;
2) Todas as reservas de petróleo e gás natural no continente, acima
da linha das marés, serão exploradas em parceria com os Estados e
municípios, cabendo a eles exclusivamente os benefícios com essa
exploração em seu território, como ocorre com outros bens mine-
rais.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto.
Exmo. Sr.
Michel Temer
Presidente da Câmara dos Deputados e
Exmos.(as) Srs. (as) Deputados (as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF
158
Com cópias para o Exmo. Sr. Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva; Srs.(as) Governadores (as) dos Estados da União; Mi-
nistro da Defesa, Nelson Jobim; e jornais Estado de Minas e Folha
de São Paulo.
159
exemplificar, basta ter em mente que o domínio do pré-sal se situa
longe da costa, cerca de 300 km de distância do litoral, área onde
nenhum desses Estados ou Municípios prestam quaisquer serviços
ou exercem algum tipo de soberania, como ocorre em terra firme, e
muito menos sabem sequer onde estão seus limites. Estes limites são
definidos pelo IBGE, a partir de projeções amarradas no continente,
utilizando para isso de um modelo cartográfico complexo, tomando
como base de cálculo a faixa litorânea de Estados e Municípios. Isto,
inclusive, abre a chance para que os municípios do interior, situa-
dos, portanto, longe do mar, possam, também abocanhar uma fatia
dos royalties, bastando para isso redefinirem seus limites territoriais,
adotando o modelo das capitanias hereditárias, ou seja, linhas per-
pendiculares à costa rumo ao interior. Assim, fatiando esses Esta-
dos, todos os Municípios cariocas, capixabas e paulistas poderiam
beneficiar-se dessa regalia, ficando os demais municípios brasileiros
a verem navios, ou, melhor, miragem de navios, pois estão longe do
mar e de seus benefícios.
O pagamento de royalties, ou outros tipos de compensações finan-
ceiras, para os Estados e os Municípios, pela exploração de recur-
sos minerais, inclusive petróleo e gás natural, que ocorrem em seus
limites territoriais faz sentido, pois os danos ao meio ambiente e
exaustão de suas riquezas são visíveis e precisam ser reparados por
esses entes federados. Mas adotar essa mesma política na exploração
de recursos petrolíferos em alto-mar não faz sentido, por vários mo-
tivos. O primeiro foi exposto acima, ou seja, no mar não há limites
físicos e a soberania de um País sobre esse território é garantida pela
presença de suas Forças Armadas, razão por que o governo federal
está investindo pesado na renovação de sua frota marítima, inclusi-
ve na construção de submarinos nucleares, com recursos financei-
ros arrecadados de todos os brasileiros, e não somente dos Estados
litorâneos que se arvoram donos das ocorrências petrolíferas. Em
segundo lugar, alegar danos ao meio ambiente ou reparações pela
exaustão desse bem mineral também não faz sentido, pois todo dano
ao meio ambiente é reparado pelas petrolíferas por imposição legal,
e quando esses Estados querem algo mais, é o governo federal que se
apressa em socorrê-los bancando os custos adicionais. Nunca usam
do dinheiro dos royalties para isso, ou para financiar o desenvolvi-
mento industrial. O BNDES, o Tesouro Nacional e outros órgãos
160
federais é que estão financiando a montagem de portos, siderúrgi-
cas, estaleiros, etc. para dar suporte à exploração petrolífera, com
dinheiro arrecadado de toda a nação para beneficiar somente esses
três Estados. Então, como falar em compensações?
Além disso, os limites das áreas de ocorrência de petróleo ou gás de
cada bloco a ser explorado não obedece a limites geográficos, mas
sim geológicos, o que torna impossível controlar, pela vazão de cada
poço, a origem do material que está sendo retirado. Esta drenagem
pode estar contribuindo para diminuir a vazão de outros poços ou
exaurir as reservas em seu conjunto se estiverem conectadas, o que
parece indicar as pesquisas do pré-sal. Portanto, haverá disputas não
só entre as companhias petrolíferas pelas reservas, como também en-
tre os Estados pelo recebimento de royalties. Outro tipo de disputa
que ocorrerá fatalmente: a corrida dos Estados de Santa Catarina e
Paraná para forçar a exploração do pré-sal nas áreas em que, pelo
regime atual, tem direito a receber royalties. Por que ficar esperan-
do o esgotamento das reservas do Estado do Rio de Janeiro, que
hoje recebe 70,12 % dos royalties, para faturar o seu? E o Estado
de São Paulo, que hoje recebe somente 0,17 %, vai ficar de braços
cruzados? Quando a política partidária entrar nesse circuito, na fase
de produção, adeus planejamento. Vai ser uma guerra sem tréguas.
A superprodução acabará com a alegria dos brasileiros. Tudo por
causa do pagamento de royalties aos Estados e Municípios, artifi-
cialmente considerados produtores de petróleo.
A oportunidade de reparar esse erro histórico, a premiação dos Esta-
dos litorâneos pela exploração dos recursos petrolíferos ocorrentes
em alto-mar, um patrimônio da Nação, em detrimento dos demais
Estados da Federação, está nas mãos de V. Exas.; como também está
a responsabilidade de evitar que um governador insensato e trucu-
lento, que não é capaz de controlar os morros que rodeiam seu pa-
lácio, queira dominar o oceano que nos cerca. Além disso, é preciso
ter em mente que a integridade territorial da nação foi conquistada
a duras penas, e o perigo de fragmentação do País, como ocorreu
com a América espanhola, ainda não foi exorcizado completamente.
É bom lembrar que há pouco tempo, em 1964, os militares golpistas
se viram diante de um quadro aterrorizante: a anexação do Estado
do Espírito Santo pelo Governador de Minas, Magalhães Pinto, para
dar abrigo à frota americana que se preparava para intervir na depo-
161
sição do Presidente João Goulart. Quem garante que amanhã o Esta-
do de Minas Gerais não tente novamente anexar, não só o Estado do
Espírito Santo, mas, também, o do Rio de Janeiro, para formar um
país de Primeiro Mundo? Condições materiais, estratégicas e opera-
cionais e apoio externo, não faltam aos mineiros. É só querer. Como
diz o ditado, prevenir é melhor do que remediar!
Para finalizar, repetindo os termos de encerramento da carta ante-
rior, gostaria, como cidadão e geólogo, de sugerir uma saída para
esta questão controversa:
1)Todas as reservas de petróleo e gás natural da Plataforma Con-
tinental, sejam do pré-sal ou pós-sal, abaixo da linha das marés,
serão consideradas domínio exclusivo da União, não cabendo ne-
nhum tipo de indenização, ou regalias, aos Estados litorâneos. Os
benefícios com sua exploração serão distribuídos equitativamente
entre todos os Estados da Federação;
2) Todas as reservas de petróleo e gás natural no continente, acima
da linha das marés, serão exploradas em parceria com os Estados
e os Municípios, cabendo a eles exclusivamente os benefícios com
essa exploração em seu território, como ocorre com outros bens mi-
nerais.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
162
Assunto: Sugestões sobre o transporte de óleo e gás do pré-sal para
o continente.
Com cópias para o Exmo. Sr. Presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, e para os Srs. Ministros da Defesa, Nelson Jobim, e de
Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger.
Hidro-Helicópteros
Belo Horizonte, 16 de junho de 2009.
Exmo. Sr.
163
Ministro Nelson Jobim
Ministério da Defesa
Brasília – DF
Prezado Senhor,
164
Os hidro-helicopteros também podem ser úteis na Amazônia Verde,
utilizando, neste caso, como plataforma, embarcações de pequeno
porte projetadas ou adaptadas para esse fim, tanto para uso militar
como civil. Nesta dupla função, podem ajudar na fiscalização e no
controle das embarcações que trafegam pelos rios da Amazônia, seja
pela Marinha do Brasil, Policia Federal, ou instituições interessadas,
bem como em missões de salvamentos ou assistência médica às po-
pulações ribeirinhas.
Por último, é bom lembrar que, hoje em dia, o turismo em larga
escala, utilizando grandes navios de cruzeiros, com milhares de pes-
soas a bordo, está desenvolvendo-se rapidamente ao longo da costa
brasileira, onde, por sua vez, situam-se grandes cidades, razão por
que é necessário estar sempre alerta e dispor de meios rápidos e efi-
cazes para fazer face a emergências de toda a ordem, tanto no mar
como em terra.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
165
Prezado Senhor Presidente,
O Jornal Estado de Minas, em sua edição de ontem (2/7/2009, p.
13), informa que “A exploração de gás natural na porção mineira da
Bacia do Rio São Francisco começa em setembro, com a construção
do primeiro poço para estudos da vazão e da qualidade do combus-
tível pelo consórcio de empresas que reúne a Companhia de Desen-
volvimento de Minas Gerais (Codemig), Delp Engenharia, Orteng
Equipamentos e Com.”.
Esse fato alvissareiro me fez lembrar de uma conversa com colegas
da Petrobrás, geólogos como eu, que na época da descoberta dessas
ocorrências procuraram a empresa em trabalhava, a METAMIG,
antecessora da CODEMIG, para obter informações sobre a geologia
da região, quando, então, tomei conhecimento de que a Petrobrás,
ao analisar esse gás, constatara a presença de hélio entre seus com-
ponentes.
Como esse gás nobre é estratégico para a defesa nacional, achei por
bem comunicar esse fato à V. Exa., que acredito vem merecendo da
Petrobrás e do Governo Federal a atenção que merece. Para enfati-
zar a importância desse elemento - os Estados Unidos da América o
consideram estratégico-, transcrevo abaixo alguns dados disponíveis
na Internet.
As reservas mundiais de hélio estão estimadas em 40 mil milhões de
metros cúbicos, concentrados nos EUA, Qatar, Rússia e Argélia (que
sozinhos detêm 80% das reservas).O consumo mundial de hélio tem
crescido com a multiplicação aplicações técnicas e do número de
instalações especializadas, a uma taxa anual à volta de 5% ao longo
das duas últimas décadas. O consumo atingiu 200 milhões de m3
em 2005, o equivalente a 90 toneladas por dia. Actualmente, a uti-
lização maior e mais específica do hélio é como agente criogénico e,
particularmente em máquinas de ressonância magnética para efeitos
de Imagiologia Médica. Nos EUA, o stock de hélio atingiu o seu
máximo em 1980, e o ritmo de produção passou o seu máximo em
1997. O Qatar e a Argélia arrancaram com duas novas unidades de
extracção de hélio, no fim de 2005, para tentar colmatar a continu-
ada quebra de produção nos EUA. Contudo as reservas mundiais
vão sendo exauridas. O limite da capacidade de produção de hélio à
escala mundial poderá anteceder o próprio pico de produção de gás
natural. Sabendo que grande parte do hélio utilizado não é reciclado,
166
é urgente passar a fazê-lo sempre que exequível. De qualquer forma,
caminhamos para um futuro em que o stock de hélio na esfera tecno-
económica atingirá um limite. E temos de ter presente que o hélio
detém um conjunto de propriedades únicas, pelo que não é de todo
substituível em diversas e importantíssimas aplicações técnicas.
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
169
sistema de cultivo, além de um zoneamento agroclimático e,
principalmente, a obtenção de infra-estrutura para produção
de sementes. ‘Sem isso, não se pode prometer produção cons-
tante para atender à demanda que está sendo criada’, disse.”
170
O desafio maior, nesse mundo de mudanças constantes, está na hu-
mildade de atuar de forma coletiva. Precisamos estar atentos para
que não sejamos como os Sapos Fervidos. Pulemos fora, antes que a
água ferva. O mundo precisa de nós, meio chamuscados, mas vivos,
abertos para mudanças e prontos para agir.
171
EDUCAÇÃO: O CALCANHAR DE AQUILES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA
Introdução
A perenização da miséria no Brasil é fruto de um pro-
cesso de exclusão social que tem na educação as raízes mais
profundas. Esta tragédia coletiva é o resultado de um passado
escravocrata e da opção da elite republicana de priorizar as
questões econômicas em detrimento do social. Neste particu-
lar é bom lembrar que a última reforma substancial no ensino
brasileiro ocorreu há mais de sessenta anos, no período revolu-
cionário de Vargas, com a Lei Capanema, que mudou o ensino
no País, como informa Joaquim Panini (Caminhos Novos na
Educação, 1995, p. 286):
Realmente, até 1940, praticamente qualquer pessoa podia ensinar,
mesmo sem o credenciamento de títulos. O mesmo acontecendo com
as escolas. Com a lei Capanema, publicada em 1942, – a primeira
grande lei de ensino no Brasil – as coisas mudaram substancialmen-
te. As escolas e, sobretudo os professores, tiveram que legalizar sua
situação frente às exigências da lei, o magistério deixou de ser consi-
derado sacerdócio e passou a ser tido somente como uma profissão,
exigindo interesse, aptidão, e habilitação legal.
172
luta surda travada contra a escola pública pela elite conserva-
dora liderada pelo clero católico, como mostra o seguinte tre-
cho extraído da obra Caminhos Novos na Educação (LIMA,
1995, p. 161):
Entendeu a AEC – Associação de Educação Católica –, desde o pri-
meiro momento, que não basta ficar na oposição. Há necessidade de
penetrar e atuar em todos os órgãos do poder. Fazer ouvir a nossa
voz, colaborando, honradamente, com a independência de opinião,
de nossa filosofia e crença.
Nasceram, assim, os chamados “comandos” no legislativo e no exe-
cutivo. Era a estratégia que se impunha: estar presente, lá onde se
decidiam as orientações políticas e administrativas do ensino nacio-
nal. Os primeiros comandos tiveram, no Senado, o catarinense Ne-
reu Ramos. Na Câmara, o deputado gaúcho, Tarso Dutra. Traço
de união entre os comandos, em caráter permanente, e a diretoria
nacional, foi naqueles 20 primeiro anos, o ex-constituinte de 1934,
Dr. Carlos Thompson Flores. As reuniões eram, geralmente, no pa-
lácio São Joaquim, sede do arcebispado do Rio. Havia também a
colaboração da imprensa, com o conde Pereira Carneiro, no Jornal
do Brasil, e o Dr. Roberto Marinho, em O Globo. Rara era a semana
em que não publicassem algum artigo elaborado na AEC. Outros
jornais como o Diário de Notícias e o Correio da Manhã, colabora-
ram, também. A AEC visava formar opinião.
Não houve o mesmo acolhimento, por parte de O Estado de São
Paulo. Às repetidas audiências solicitadas pela AEC, acudia o Dr.
Júlio de Mesquita Filho, declarando, com toda cortesia, que a linha
do jornal era outra. O mentor, naquela época, era o diretor da Re-
vista Anhembi, Anísio Teixeira, nada favorável à Igreja, e ardoroso
defensor do ensino estatal. Hoje – como mudam os tempos! – o Es-
tado está publicando artigos, na nossa linha. O atual diretor, Júlio de
Mesquita Neto, é antigo aluno do colégio São Luís, de São Paulo.
173
Nova pela Lei Capanema, descritos a seguir, foram levantados
de trechos selecionados das seguintes obras: Caminhos novos
na educação, sob a coordenação de Irmã Severina Alves de
Lima (1995); Um estudo histórico sobre o catolicismo militan-
te em Minas, entre 1922 e 1936, de Frei Henrique Cristiano
José Matos (1990); Introdução à história da Igreja, de Frei
Henrique Cristiano José Matos (1997); e Os Templários, de
Piers Paul Read (2001).
175
Por volta de 1300, deu-se um desentendimento entre o Papa Bo-
nifácio VIII (1294-1303) e o rei Felipe IV, o Belo (1285-1314), da
França. Conflitos semelhantes, surgidos, via de regra, por motivos
de delimitação de poderes, já haviam ocorrido em épocas anteriores,
como conseqüência natural da fusão de competências entre o poder
espiritual e temporal. Por maiores que tivessem sido os choques, até
então uma coisa ficara incontestável: a união inquebrantável de Igre-
ja e Estado, sob a dupla autoridade de papa e monarca. A novidade
estava exatamente em não mais se tratar de uma simples questão
de rivalidade, mas de um profundo questionamento sobre a origem
do poder. Felipe sustentava que sua autoridade régia derivava dire-
tamente de Deus e, conseqüentemente, não se submetia a nenhuma
restrição por parte do Papa. Como monarca, era inteiramente inde-
pendente e somente em questões de fé teria de obedecer ao pontífice.
Em outras palavras: o rei subtraiu toda vida política à direção da
Igreja. (MATOS, 1997, v.1, p. 286-287).
O ano de 1300 marcou o ponto alto do pontificado de Bonifácio
VIII e na época pareceu o auge das reivindicações pontifícias à ju-
risdição universal. [...] O papa Bonifácio, exultante, apareceu diante
dos peregrinos sentado no trono de Constantino, segurando espada,
coroa e cetro e gritando: Eu sou César! (READ, p. 276-277).
176
A Ordem de Cristo
177
legítimo na defesa da fé! Imbuídos desta mesma mentalidade, os con-
quistadores declaram justa a guerra, caso os indígenas negarem a acei-
tar pacificamente a fé. O grito Crê ou morre dos cruzados medievais
recebe aqui uma nova aplicação. (MATOS, 1997, v. 2, p. 97).
Quanto à implantação da Igreja-Instituição e à organização eclesiás-
tica, constatamos que em 1511 foram criadas as três primeiras sedes
episcopais, entre elas a de Santo Domingo (arquidiocese em 1546).
A Igreja no Brasil dependia inicialmente do Bispado de Funchal, nas
Ilhas Açores. Em 1551 erigiu-se a diocese de São Salvador da Bahia.
De 1551 a 1676, houve um só bispo para toda a América portuguesa
e somente em 1707, com as Constituições Primeiras do Arcebispo
da Bahia, é que surge uma estrutura eclesiástica mais definida. (MA-
TOS, 1997, v. 2, p. 95).
Através de sucessivas concessões pontifícias que confiavam aos mo-
narcas ibéricos o cuidado da Igreja em terras ultramarinas, por eles
descobertas e conquistadas, a evangelização da América Latina esta-
va, de fato, nas mãos da Coroa, e, conseqüentemente, era integrada
ao projeto colonial de dominação. Eram, de fato, os reis de Espanha
e Portugal que enviavam os missionários e que tinham o direito de
receber os dízimos, para financiar a catequese e o culto. Pertencia-
lhes, igualmente, a faculdade de criar novas dioceses, nomear bispos
e outros dignitários eclesiásticos. Toda a comunicação com Roma
era sujeita ao controle do monarca. O funcionamento do padroado
foi, igualmente, bem além da legislação escrita e o poder colonial
chegou a dominar por completo a instituição eclesiástica, cerceando,
de forma abusiva, sua vida interna e seus representantes, entre eles
particularmente as Ordens Religiosas. Um dos aspectos práticos do
padroado era que ninguém podia tornar-se cristão sem, ao mesmo
tempo, passar a ser súdito do rei da Espanha ou de Portugal. Efeti-
vamente, expansão imperialista e conversão cristã caminhavam de
mãos dadas! (MATOS, 1997, v. 2, p. 100).
178
Dom Pedro I, rompe os laços políticos com a Metrópole, tornando
o Brasil um país independente. É instituído o regime monárquico e
proclamado o Império do Brasil, com constituição outorgada em 24
de fevereiro de 1824, na qual a religião católica é declarada oficial
(artigo 5o) e o Imperador considerado o protetor natural da Igreja,
com todas as prerrogativas do antigo Padroado luso (artigo 102).
(MATOS, 1997, v. 2, p. 119).
No Brasil verificamos, no período em questão, vários choques entre
o poder imperial e a Igreja por causa do regalismo. Após o posicio-
namento das autoridades políticas em relação ao direito inalienável
do padroado, ora transferido naturalmente para a pessoa do Im-
perador (1827), e o episódio de quase ruptura com Roma (1833)
devido às atitudes de Diogo Antônio Feijó (1784-1843), as tensões
entre a Igreja e Estado não cessam. Assim, em 1855 é proibida a
admissão de noviços às antigas Ordens Religiosas do Império, me-
dida que provoca uma drástica diminuição numérica desses institu-
tos, levando-os à beira da extinção em fins do período monárquico.
Famosa foi a Questão Religiosa (1872-1875), ligada à infiltração
maçônica em irmandades de Belém e Olinda, cidades que viram seus
bispos aprisionados e condenados a trabalhos forçados. (MATOS,
1997, v. 2, p. 123).
179
Não se pode negar que o documento de 7/1/1890 é sereno, discreto
e preciso; não contém excessos e nem esconde ódios. Não deixa de
ser a carta de alforria do catolicismo no Brasil, abolindo no art. 4o
o padroado com todas as suas instituições, recursos e prerrogativas;
proibindo no art. 1o ao governo federal leis, regulamentos ou atos
administrativos sobre a religião; declarando no art. 2o o direito de
todas as confissões religiosas ao exercício de seu culto, sem obstá-
culos aos seus atos particulares ou públicos; assegurando no art. 3o
a liberdade religiosa, não só aos indivíduos isoladamente considera-
dos, mas ainda às Igrejas que os unem numa mesma comunhão; es-
tabelecendo no art. 5o a personalidade jurídica para todas as Igrejas
e comunhões religiosas, e mantendo a cada uma o domínio de seus
bens. (MATOS, 1990, p.13).
180
forma com uma posição secundária na vida nacional, apelando aos
sentimentos religiosos da absoluta maioria da população. Já nos pri-
meiros anos da República, os bispos mostram claramente que não
aceitam a opinião que entre a Igreja e o Estado deve ter pouco ou
quase nenhum contato, nenhuma cooperação, em suma, legalmente
têm que se ignorar mutuamente. Independência não quer dizer se-
paração, afirma o Episcopado em sua Carta Pastoral de 1890. (MA-
TOS, 1990, p. 45).
O processo de reaproximação entre a Igreja e Estado, nas primeiras
quatro décadas do regime republicano, não é retilíneo e conhece um
vai-e-vem, que revela os interesses em jogo naquela etapa histórica.
[...] Em 1905 o Brasil foi agraciado com o primeiro cardinalato da
América Latina, na pessoa de Dom Joaquim Arcoverde de Albu-
querque Cavalcanti (1897-1930), arcebispo do Rio de Janeiro. [...]
Em 1919 a representação diplomática junto à Santa Sé foi elevada à
categoria de Embaixada, enquanto, no Brasil, a Nunciatura recebeu
o status de primeira classe. [...] Em maio de 1924 foi celebrado,
com grandes festividades, o jubileu de ouro sacerdotal do Cardeal
Arcoverde. Além da impressionante Missa Campal, especialmente
organizada pelos nossos militares, em que tomaram parte mais de
dez mil soldados de terra e mar e a comunhão dos intelectuais, quan-
do das mãos de S. Ex. Rvdma., o Snr. D. Sebastião Leme, mais de
500 homens de letras, professores, cientistas, acadêmicos, artistas,
etc. receberam a Sagrada Comunhão, o que mais chamou a aten-
ção foi o fato de o governo da República ter tomado parte conspí-
cua nessas festividades. No dia 4 de maio de 1924, compareceu ao
Palácio São Joaquim, no Rio de Janeiro, o próprio Presidente da
República, Dr. Arthur Bernardes (1922-1926), acompanhado do Sr.
Dr. Estácio Coimbra, vice-presidente, das casas civil e militar e de
todo o Ministério, para homenagear o purpurado. Era a primeira
vez, depois da separação da Igreja e do Estado, que uma autoridade
eclesiástica recebia tais honras por parte do Chefe da Nação. Houve
20 minutos de conversação amistosa. Trocaram-se discursos e foram
tiradas fotografias, em que, ao lado do Cardeal e de outros prelados,
aparecem o Presidente da República e seu séqüito. Uma hora depois,
Dom Arcoverde e todos os Bispos presentes foram agradecer a dis-
tinção do Governo Brasileiro. À saudação de Dom Joaquim Silvério
de Souza (1905-1933), Arcebispo de Diamantina, respondeu o Presi-
181
dente com um discurso que foi uma verdadeira apologia da ação da
Igreja Católica no Brasil. Mas o ponto alto constituiu, sem dúvida, do
banquete no Itamarati, oferecido à noite daquele dia 4 de maio, pelo
Chanceler Félix Pacheco. Ainda muitos anos depois, este evento será
lembrado pela imprensa católica como um manifesto congraçamento
da República com a consciência católica da universidade dos brasilei-
ros. Fala-se, na ocasião, de um verdadeiro batismo da República no
Brasil. (MATOS, 1990, p. 47-49).
182
não terão liberdade de infundir na inteligência e no coração dos alu-
nos conhecimento e amor de Deus criador deles e do universo.
É evidente que os bispos manipulam, em defesa de sua tese, o pró-
prio texto do decreto, estabelecendo uma equivalência indébita en-
tre ensino leigo e ensino ateu. O fato de se prescindir, nas escolas
públicas, do ensino da fé católica, de forma alguma significava que
houvesse na mente dos legisladores uma intenção declarada de pro-
mover o ateísmo entre a juventude. O ensino religioso continuava a
ser mantido livremente nas escolas confessionais das diferentes de-
nominações religiosas.
Apesar do clamor do episcopado, o governo republicano deixava
plena liberdade para que a instituição eclesiástica se expandisse e se
fortalecesse nesse período, o que não ocorria na época imperial. A
convite dos bispos e, sob o estímulo da Santa Sé, inúmeros institutos
religiosos europeus se estabeleceram no país nas primeiras décadas
do regime republicano.
A celebração do concílio plenário latino-americano, em Roma, em
1898, permitiu que a cúria romana confirmasse de forma definitiva
seu domínio sobre as Igrejas oriundas do colonialismo ibérico. O
concílio foi elaborado e conduzido pelos peritos da Santa Sé, ca-
bendo aos prelados apenas ratificar as diretrizes romanas. Um dos
pontos mais enfatizados, pelo concílio, era a necessidade de promo-
ção das escolas católicas, como forma de se contrapor à perspecti-
va leiga dos estados modernos. A fim de levar avante esse projeto,
recomendava-se que os prelados latino-americanos continuassem a
obter a colaboração de religiosos da Europa.
O tema escola católica passou a constituir um enfoque importante
da conferência dos bispos do centro-sul do país, reunidos em São
Paulo, em 1910.
A escola pública, desprovida do seu caráter sacral, era condenada
explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiástica, afirmando
que a Igreja Católica “detesta e condena as escolas neutras, mistas e
leigas, em que se suprime todo o ensino da doutrina cristã”. E acres-
centavam em seguida, fiéis às orientações do concílio latino-ame-
ricano: “Esforcem-se, portanto, os reverendos párocos, pregadores
183
e catequistas, por dissuadir aos pais de família, que não poderão
prestar pior serviço aos filhos, à pátria e ao catolicismo, que colocar
seus filhos em tais escolas, expostos a perigos tão grandes”.
O contraponto era a necessidade de escolas de confissão católica. O
clero diocesano foi incentivado a que patrocinasse essas fundações,
no âmbito de suas paróquias: “Nas circunstâncias em que se acha
a Igreja diante do ensino leigo, é de necessidade inadiável que em
todas as paróquias, haja escolas primárias católicas, a que chamam
paroquiais, nas quais a mocidade nascente encontre o pasto espiritu-
al da doutrina cristã, e de outros conhecimentos para a vida prática.
Ordenamos, portanto, aos reverendos párocos que envidem todos
os esforços para fundá-las o quanto antes, onde as não houver; e
não descansem, enquanto não conseguirem, por si ou por outrem, a
realização deste ideal, em suas paróquias, custe o que custar”.
A finalidade básica da escola paroquial era oferecer aos meninos
uma instrução elementar que lhes permitisse assimilar melhor os
conceitos da doutrina católica, preparando-se assim de forma ade-
quada para a recepção dos sacramentos da penitência e da eucaris-
tia. Foi, sobretudo, nas regiões de imigração européia no sul do país
onde esse apelo foi atendido de forma mais plena.
Instalados no Rio Grande do Sul, em 1900, os Irmãos maristas
tornaram-se valiosos colaboradores dos párocos na promoção das
escolas católicas. Em Santa Catarina foi fundada em 1913 a congre-
gação das Irmãs Catequistas Franciscanas cuja finalidade específica
era o magistério nas escolas paroquiais.
Não obstante, na medida em que se ampliava a rede escolar pública,
muitas famílias católicas passaram a optar por ela pelo aspecto da
gratuidade, tanto mais que freqüentemente eram os mesmos profes-
sores que lecionavam tanto nas escolas municipais como nas escolas
paroquiais.
Nesse período, intensificou-se no país o ensino secundário, e os reli-
giosos passaram a ocupar lugar significativo nessa área, com a fun-
dação dos colégios, nas diversas regiões do país.
Três razões principais podem ser indicadas para essa opção de ativi-
dade, dentro da Igreja do Brasil.
Em primeiro lugar, a maioria das congregações européias, já se dedi-
184
cavam anteriormente a esse tipo de atividade; o que fizeram foi sim-
plesmente transplantar para o país métodos e obras que já haviam
dado bons resultados em outras regiões.
Além disso, a fundação de escolas passou a constituir o meio princi-
pal de prover o sustento econômico das novas fundações religiosas,
sobretudo quando o governo republicano, recém-instalado no Bra-
sil, se negava a amparar as obras de cunho religioso.
Por último, a criação das escolas católicas era uma das grandes me-
tas do episcopado, sobretudo após o decreto de separação entre a
Igreja e Estado. (LIMA, p. 30-33).
185
ao Continente. Interessante também é o ingente esforço da hierar-
quia para conquistar um lugar para a Igreja na escola pública, com
campanhas a favor do ensino religioso na rede educacional oficial.
(MATOS, 1997, v. 2, p. 125).
A escola neutra é uma calamidade, um sistema mentiroso, escrevia
Leão XIII. Em face de Cristo, senhores, não há meio termo; a alter-
nativa é a da estrada de Damasco: ou com Paulo se o segue ou com
Saulo se o persegue. A escola sem Deus é contra Deus. (MATOS,
1990, p. 76).
Na sua Carta Pastoral de 29-3-1912, já escrevera Dom Silvério Go-
mes Pimenta, Arcebispo de Mariana:
Escolas chamadas neutra, ou atéias, são perniciosíssima invenção
para arrancar do coração da infância, e depois da sociedade, a fé e os
sentimentos religiosos. Este nefando empenho se acoberta e se pro-
cura defender com a capa de liberdade de consciência, de civilização,
de progresso, quando na realidade não é senão uma guerra nutrida
contra a fé católica, alvejada principalmente com tais medidas”. Ou-
tros falam da “monstruosidade perversa do ensino leigo” e do “mais
violento vírus que se possa inocular a uma nação para corrompê-la.
(MATOS, 1990, p. 75).
A lição da história nos ensina que o grupo ou partido que tiver o
monopólio da escola, cedo ou tarde, triunfará. É indispensável que
os católicos sinceros e esclarecidos, seguindo um plano bem traçado,
iniciem uma luta sem tréguas contra o princípio da laicidade do ensi-
no. Urge uma propaganda intensa, ardente, contra a violação odiosa
da vontade popular pela imposição iníqua – a um povo inteiramente
católico! – de um ensino que ele não quer. O grito de guerra de todo
o exército católico deve ser: Queremos Deus nas escolas! As escolas
são nossas, somos nós que as pagamos e sustentamos, não as quere-
mos sem o ensino da Religião! Fora o ensino leigo! Para nós, como
para nossos irmãos de crença de todos os países não há escolher o
campo de batalha: só poder ser o da salvação da infância e da mo-
cidade pela destruição do ensino leigo, ou ao menos pela subtração
dos filhos dos católicos à sua mortífera influência. Unindo as imensas
forças católicas em todo o território nacional, fazendo pressão sobre
as autoridades municipais, estaduais e federais, a Igreja conseguirá,
em breve, que Jesus Cristo e a Religião dos nossos ancestrais voltem
a ocupar, no ensino, o lugar de honra que lhe compete e que, só pela
186
mais tirânica e criminosa imposição de uma ínfima minoria de falsos
democratas lhes havia sido arrancado. Desse recobrar de esforços
pelo ensino religioso – afirmam os bispos da Província Eclesiástica
de Mariana, no Apelo dirigido ao Clero, aos chefes de família e aos
professores, Pouso Alegre, 7 de maio de 1927 – há de surgir uma
nova floração de energias e virtudes, a pontearem de esperanças os
horizontes da Pátria e a atraírem sobre vós as mais preciosas recom-
pensas do céu. (MATOS, 1990, p. 76-77).
A campanha pelo ensino religioso teve em Minas contornos especí-
ficos. Aí a luta foi mais intensa e conseguiram-se vitórias, que servi-
ram de estímulo para os católicos de outras regiões do país. [...] As
coisas mudaram quando o Governador positivista João Pinheiro da
Silva e seus secretário de Interior, Carvalho Brito, em 1906, proibi-
ram o ensino religioso na escola oficial, deixando, igualmente, de
subvencionar os seminários católicos. (MATOS, 1990, p. 77-78).
Já em 1890, na sua Carta Pastoral Coletiva, o episcopado brasileiro
dizia: “Nós vemos nas escolas, desde as ínfimas até as superiores,
erguerem-se cátedras de pestilência a exalar os seus miasmas deleté-
rios, e enquanto nesses santuários poluídos da ciência os professores
do ateísmo perverterem a incauta mocidade sedenta de saber...”
É convicção profunda entre os católicos “esclarecidos” da época,
que a escola neutra, ou seja, nas suas respectivas paróquias. (MA-
TOS, 1990, p. 88).
Um dos aspectos mais importantes na obra de “recristianização” do
Brasil, durante o período da “Primeira República”, é, sem sombra
de dúvida, a campanha desenvolvida pela Igreja para reintroduzir
o ensino religioso nas escolas da rede pública. Na opinião católica
da época, trata-se “sem Deus”, não educa, porque “não forma o
caráter, nem o homem, cuja vida espiritual não pode abstrair da
religião”.
Encontramos semelhante argumentação nas próprias diretrizes ofi-
ciais da Igreja, desde pronunciamentos pontifícios, posicionamento
do episcopado nacional e local, até simples orientações de uma ques-
tão de vida ou morte: sem bases cristãs na mocidade, não haverá
futuro para o Brasil. A questão se enquadra numa perspectiva mais
ampla: a implantação da “ordem cristã” na sociedade brasileira.
(MATOS, 1990, p.73).
187
A “questão escolar” no Brasil não é fenômeno isolado no conjunto
da Igreja Universal. Amplamente conhecidos sãos os ingentes esfor-
ços, por exemplo, dos católicos franceses em defesa da escola cató-
lica, como demonstra, entre outros, o famoso discurso de Charles
de Montalembert (1810-1870) perante a “Chambre des Pairs”, em
1831. Particularmente instrutiva é também a ação dos católicos ho-
landeses quanto à escola confessional cristã, na qual se destaca a
figura de Herman Schaepiman (1844-1903) que conseguiu a colabo-
ração política do partido protestante, para garantir o reconhecimen-
to, e, mais tarde, a plena subvenção do ensino cristão particular (em
1920, já depois de sua morte). (MATOS, 1990, p. 75).
188
campo de batalha em que se decide o caráter cristão da sociedade”.
(MATOS, 1990, p. 91).
Uma das maiores desgraças que atingiu o Brasil no período da Primeira
República é, segundo muitos católicos da época, a difusão dos “colégios
protestantes ou americanos”, na Terra de Santa Cruz. Na sua “Circular
de 3-4-1906”, o Arcebispo de Mariana declara sem rodeios:
Falo de meninos de ambos os sexos, que os pais não temem confiar a
colégios e mestres protestantes, heterodoxos, ou ainda sem religião.
Não vêem esses pais que com semelhante procedimento impelem
seus filhos para a apostasia, fazendo-os perder no colégio, ou nas
aulas, as verdades católicas que aprenderam, ou deviam aprender
em casa. País que assim tratam seus filhos são diante de Deus réus de
um crime, que o Apóstolo classifica de apostasia, mais grave que a
mesma infidelidade: “Si quis suorum máxime domesticorum curam
no habet, fidem negavit, et est infideli deterior” (I Tim.5,8). [...]
(MATOS, 1990, p. 92-93).
O Advento da Revolução de 30
189
o Estado Novo (1937-1945) – na realidade o regime ditatorial de
Vargas –, realizar-se-á um pacto moral entre a Igreja e o Estado, ga-
rantia de uma posição privilegiada do catolicismo no Brasil. Notável
foi a bem-sucedida campanha da Igreja para conseguir a implanta-
ção do ensino religioso na escola pública, em nível regional (Minas
Gerais, 1928) e, pouco depois, em nível nacional (Decreto do Gover-
no Federal de 1931). (MATOS, 1997, v. 2, p. 129).
A Capitulação de Vargas
190
ampla foi de reservas, quando não de franca oposição, destacando-
se nessa linha Alceu Amoroso Lima. (LIMA, p. 41-42).
191
Cartas cidadãs aos políticos e
governantes
CARTA 01
Belo Horizonte, 5 de outubro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
192
Veja (7.10.2009, Especial, p.44), chamou minha atenção pelo sig-
nificado que encerra, pois mostra claramente o descaso das auto-
ridades públicas com um dos pilares da cidadania, a educação, e a
preocupação em maquiar essa mazela social para mostrar um país
falso aos visitantes, ao invés de propor medidas efetivas para mudar
o quadro atual. A notícia diz o seguinte:
“Se os ventos continuarem soprando a favor do Rio, o prefeito
Eduardo Paes terá mais facilidade de tirar do papel o planejamen-
to preparado por uma equipe de jovens consultores recrutados na
iniciativa privada para pensar a cidade. São profissionais saídos de
empresas como McKinsey, Shell e Vale, encarregados de trazer para
a administração pública os conceitos e as práticas das grandes em-
presas. O planejamento municipal, ainda não anunciado oficialmen-
te, foi apresentado pelo prefeito a VEJA. Se for mesmo executado,
atacará problemas em áreas essenciais, como saúde, educação, meio
ambiente, transportes e ordem pública. Entre eles estão a redução
da evasão escolar em 50% e da emissão de gases do efeito estufa em
8% até 2012”.
Imagine só! Reduzir a evasão escolar em 50% até 2012! Isto que é
uma meta olímpica! O vencedor de tão grande façanha merece uma
medalha de ouro: a da mediocridade! É para isto que o Brasil vai
gastar bilhões? Por que não propor a implantação da Escola Pública
de Tempo Integral, para que os visitantes não sejam pungados, cons-
trangidos ou assassinados por bandos de crianças e jovens infantes
soltos pelas ruas, que formam os famosos arrastões tão comuns na
Cidade Maravilhosa? Afinal de contas, esse evento ocorrerá daqui a
sete anos e até lá há tempo suficiente para planejar e executar a im-
plantação da Escola Pública de Tempo Integral, não só na sede dos
Jogos Olímpicos, a cidade do Rio de Janeiro, mas em toda sua região
metropolitana, inclusive a baixada fluminense e a grande Niterói,
para que essas crianças, segregadas da sociedade, perambulando a
esmo ou confinadas em prisões, disfarçadas ou assumidas, frequen-
tem escolas públicas de qualidade, em tempo integral, que as prepa-
rem para o exercício pleno da cidadania. Aproveitando o espírito
olímpico que entusiasma toda a sociedade, por que não anistiá-las,
libertando-as dessas prisões, e dando-lhes condições de viverem com
dignidade no seio de suas família, se existirem?
193
Considerando que V. Exa., Sr. Presidente, vive apregoando que a
educação será a prioridade número um do governo na Era do Pré-
Sal, para aplicação dos lucros com a exploração do petróleo e do gás
natural da Plataforma Continental; e que V. Exas., Srs. Deputados e
Sras. Deputadas, também estão trabalhando na elaboração das leis
com esse objetivo, nada mais oportuno do que aproveitar a realiza-
ção das Olimpíadas na Cidade Maravilhosa para porem em prática
tão nobre propósito, implantando a Escola Pública de Tempo Inte-
gral, sonho dos pioneiros da Escola Nova, na década de 30 do século
passado, e pesadelo de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, que tentaram
e fracassaram na sua realização com os abandonados CIEPS. Essa
questão tratei numa carta dirigida ao ex-Ministro Mangabeira Un-
ger, há um ano, que transcrevo abaixo pois acredito possa conter
subsídios às decisões de V. Exas., sobre como aplicar os ganhos com
a exploração do pré-sal e equacionar o problema do ensino público
do País, com vistas a colocá-lo em igualdade de condições com os
países da União Europeia, a China, Rússia, Coreia, Japão e Estados
Unidos da América, com os quais queremos competir com êxito em
diversas modalidades nas próximas olimpíadas, principalmente na
de 2016, exceto no campo educacional, dada nossas deficiências es-
truturais congênitas.
Prezado Senhor,
196
triunvirato foi o General Ernesto Geisel. Essa mudança tam-
bém reforçará o sentimento de democracia nos altos escalões
das Forças Armadas, beneficiando toda a sociedade.
197
cardápio para essas refeições, próprio para a faixa etária de
cada ciclo, será elaborado por nutricionistas, e preparado na
cantina da escola. Além disso, cada aluno terá um armário
privativo para guardar seus pertences escolares, devidamente
protegidos por um sistema de segurança eletrônico.
198
ço”, razão porque a ele se deve dedicar especial atenção. Os
cuidados que as crianças de 0 a 3 anos de idade receberem
nessa faixa etária é que definirão seu desempenho na escola
e seu lugar na sociedade quando adulto, pois é nessa ocasião
que todos os sinais vitais do ser humano são formados. An-
tecedendo essa fase, igualmente importante, é a sua gestação.
Portanto, os cuidados com o pré-natal estão ligados à pri-
meira infância, e assim tanto a assistência às gestantes, quan-
to aos recém-nascidos, e seu crescimento até 3 anos, devem
ser acompanhados como se fosse uma só etapa da vida. Para
isso é preciso que as Creches Comunitárias sejam projetadas
para comportarem também uma clinica médica para atender
as gestantes durante a gravidez e conduzirem o processo pré-
natal com os cuidados devidos e acompanharem o período
pós-parto e a amamentação. Este tipo de atendimento facilita-
rá as futuras e jovens mamães a se familiarizarem com o trato
dos recém-nascidos, evitando problemas futuros.
199
Mas não basta a implantação pura e simples da Escola Pública de
Tempo Integral, e das creches comunitárias, ambas universais e obri-
gatórias, para que todos os brasileiros exerçam seus direitos à cida-
dania e a violência urbana não prevaleça sobre as práticas civilizadas
de comportamento coletivo. É necessário mais do que isso, é preciso
que a implantação dessa escola se faça no bojo de uma reforma ra-
dical do sistema educacional brasileiro, a começar pela separação
da educação básica do ensino universitário, cabendo ao Ministério
da Educação o monitoramento do ensino básico, e ao Ministério da
Ciência e Tecnologia o gerenciamento do universitário. Nesse novo
modelo, como foi sugerido nessa carta, os Estados se responsabili-
zariam pelo Ensino Fundamental e Médio, os municípios pela ad-
ministração das Creches Comunitárias e o Governo Federal pelas
Universidades.
Acompanhando essa revolução estrutural, é imperioso que se faça,
também, uma revolução pedagógica, que deve apoiar-se numa nova
arquitetura dos prédios escolares, de tal forma que as escolas pú-
blicas se tornem espaços acolhedores para a infância e a juventude,
estimulando-as a valorizarem esse espaço de cidadania, no qual seu
futuro estará sendo construído, e do País também. Além disso, é
preciso que esse espaço seja enriquecido com todos os recursos da
informática, laboratórios para experimentos científicos, salão de jo-
gos, como xadrez, baralho, bingos, etc., ligados a uma orientação
pedagógica para estimular o desenvolvimento intelectual dos alu-
nos, e, também, quadras esportivas para educação física, consultó-
rios para médicos, dentistas, oculistas e outros meios para cuidar da
saúde dos alunos, e, se necessário, para seus familiares, como forma
de integração família-aluno-escola.
Para encerrar este capítulo trágico, que é a história da educação pú-
blica no Brasil, sujeita a vicissitudes de toda ordem, é preciso fazer
mais alguns comentários. O primeiro deles é sobre a capacidade da
intelectualidade brasileira de diagnosticar, com precisão, os males
do ensino público e sua total incapacidade de propor um modelo
de ensino padronizado para todo o território nacional, inclusive um
programa pedagógico moderno. Diante da incapacidade da elite
pensante brasileira, formada por muitos pedagogos e demagogos, de
propor um novo modelo para a escola pública, os políticos e gover-
nantes devem assumir a vanguarda dessa empreitada e elaborar leis
200
que deem à infância e juventude de nosso País a chance de sonharem
e realizarem seus sonhos de dias melhores, ou alguma liderança ca-
rismática assumirá esse papel. A revolução educacional de que o País
precisa não virá do eixo Rio-São Paulo, pólos de saber do passado,
hoje suportes podres de um eixo enferrujado que serve de poleiro
para intelectuais acomodados e sem idéias, que mais se parecem com
eunucos estéreis, mas sim por meio de congressistas ágeis e compe-
tentes, com visão de futuro.
Portanto, senhores políticos e governantes, mãos à obra, pois há
muito o que fazer pela educação pública, principalmente pela im-
plantação da Escola Integral. E, mais uma vez, é bom lembrar:
Educação é assunto de Estado, é um direito do cidadão, e não uma
questão menor a ser tratada por Organizações Não-Governamentais
(ONGs) e entidades empresariais ou filantrópicas, as quais transfor-
maram esse direito em caridade, cujos beneficiados, agradecidos e
submissos, passam a lhes dever esse favor, pois, por falta de escola,
desconhecem o significado da palavra cidadania.
Agradecendo a atenção de V. Exas., e desejando sucesso em seus
afazeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 02
Belo Horizonte, 18 de outubro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
201
Com cópia para o Exmo. Sr. José Alencar, Vice-Presidente da Repú-
blica.
202
submarinos telecomandados, como os utilizados pela Petrobras para
monitorar suas plataformas marítimas, ou utilizados em pesquisas
submarinas, para operarem em volta dos submarinos atômicos,
formando anéis concêntricos, cuja amplitude seria estabelecida em
função dos objetivos visados. Neste caso, a nave mãe comandaria
seus movimentos. Minissubmarinos desse tipo, de controle remoto,
poderiam também ser operados de cada plataforma, formando um
cinturão subaquático de proteção. Na superfície, em volta dessas
plataformas, robôs flutuantes, como aranhas aquáticas, dispostos
também em cinturões, reforçariam esse sistema de defesa. Além dis-
so, essa estrutura serviria também para delimitar zonas de exclusão
para o tráfego marítimo e de corredores de livre circulação. Todos
esses sensores poderiam ser monitorados tanto pelos submarinos,
como em terra pelas bases navais. Os investimentos para pesquisa
desses equipamentos, e sua manutenção, poderiam ser compartilha-
dos pelo Ministério da Defesa e por petrolíferas, principalmente a
Petrobras.
Além dessas pesquisas tecnológicas, que podem ser desenvolvidas
enquanto se prepara os submarinos atômicos, e se desenvolve os
campos petrolíferos do pré-sal, outras medidas preventivas para a
defesa do Tríplice Ecossistema Sul-Americano, formado pelo Amé-
rica do Sul, Antártida e oceanos adjacentes (Atlântico, Pacífico, An-
tártico), devem ser implementadas. Entre estas destacam-se, como
prioridades estratégicas absolutas, a construção da Ferrovia Trans-
continental Dom Bosco, assunto abordado em duas cartas que enviei
a V. Exa., nos dias 29 de agosto e 1º de outubro do corrente ano,
anexadas à presente (inseridas nesta obra – vide páginas 140 e 152),
e o levantamento de todas as reservas de petróleo e gás natural ocor-
rentes no continente sul-americano, inclusive o potencial a ser explo-
rado. Esta medida é necessária para garantir ao País um suprimento
confiável, na eventualidade de um conflito bélico global, pois as re-
servas marítimas, nesse caso, tornam-se extremamente vulneráveis
e alvos preferenciais para ataques de todos os tipos. Diante desse
quadro, é necessário também que se priorize, em tempo de paz, a ex-
ploração da plataforma continental, administrando com prudência
as reservas terrestres, para que estas não se esgotem prematuramen-
te. Esta medida os norte-americanos já adotam, por considerarem
estratégicas as reservas em seu território.
203
Agradecendo a atenção de V.Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 03
Belo Horizonte, 23 de outubro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para Exmos. Srs. Ministros, Carlos Minc, do Meio Am-
biente; Reinhold Stephanes, da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to; Márcio Fortes, das Cidades; e Deputados (as) Federais.
205
prazer de conhecer um?” Em caso positivo, é um privilegiado, pois
raros são os brasileiros que podem gabar-se desse feito. Em caso
negativo, deve fazê-lo imediatamente, pois é inadmissível que um
presidente da República não saiba identificar a árvore símbolo do
País que governa!
Mas não é por falta de iniciativas, das mais variadas, que a arbori-
zação urbana ainda não foi utilizada em todo o seu potencial, como
mecanismo de educação ambiental e recomposição do meio ambien-
te. O que está faltando é um instrumento legal para nortear as ações
da União, dos Estados e dos Municipios, hoje dispersas num cipoal
de medidas desarticuladas, conforme mostra a “Enciclopédia Livre
Wikipédia”:
“O Dia Mundial da Árvore ou Dia Mundial da Floresta festeja-se
em 21 de Março. A comemoração oficial do Dia da Árvore teve
lugar pela primeira vez no estado norte-americano do Nebraska, em
1782. Nos EUA, é comemorado no dia 23 de Setembro, junto do
aniversário de Julius Sterling Morton, morador da Nebraska, que
incentivou a plantação de árvores naquele estado. No hemisfério sul,
o dia 22 de Setembro marca a chegada da primavera, estação onde a
natureza parece recuperar toda a vida que estava adormecida pelos
dias frios de inverno. O Brasil carrega fortes laços com a cultura in-
dígena que deu origem a este país, um deles é o amor e respeito pelas
árvores como representantes maiores da imensa riqueza natural que
o Brasil possui. Confirmando o carinho e respeito pela natureza, no
Brasil, há 30 anos, formalizou-se então o dia 21 de Setembro como
o Dia da Árvore – o dia que marca um novo ciclo para o meio am-
biente e o tempo para se reforçar os apelos para a conscientização de
todos em favor do meio ambiente. De acordo com o Decreto Federal
nº 55.795, de 24 de Fevereiro de 1965, foi instituída em todo o ter-
ritório nacional a Festa Anual das Árvores, em substituição ao cha-
mado Dia da Árvore, na época comemorado no dia 21 de Setembro.
Conforme previsto no Art. 3º, a Festa Anual das Árvores, em razão
das diferentes características fisiográfico-climáticas do Brasil, será
comemorada durante a última semana do mês de Março nos Estados
do Acre, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia; Territórios
Federais do Amapá, Roraima, Fernando de Noronha e Rondônia.
Na semana com início no dia 21 de setembro, nos Estados do Espí-
206
rito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Em algumas regiões do Brasil, por força do costume, muitas pessoas
não observam que não existe mais a comemoração do Dia da Árvo-
re. O correto é observar qual a semana adequada para a comemo-
ração da Festa Anual das Árvores, de acordo com a localização do
Estado: última semana do mês de março ou semana com início no
dia 21 de setembro”.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 04
Belo Horizonte, 27 de outubro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para Exmos. (as) Srs.(as) Deputados (as) Federais, e Jor-
nais Estado de Minas e Folha de São Paulo.
207
O seguinte noticiário da Folha Online (24/10/2009) e a tragédia
ocorrida com o coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva,
fruto da interação de marginais com policiais, evidencia a necessi-
dade de um planejamento estratégico de âmbito federal o para com-
bate à violência urbana, principalmente na região metropolitana da
Cidade Maravilhosa, palco desses acontecimentos e onde a situação
está fora de controle, pelo despreparo do aparelho policial e das au-
toridades locais no equacionamento e na resolução desse problema,
basicamente de origem social:
Pelo menos 42 pessoas morreram desde o sábado passado
(17) em decorrência dos confrontos entre traficantes de qua-
drilhas rivais e a polícia no Rio. Até este sábado, a Polícia
Militar contabilizava 41mortes, sendo que três pessoas eram
policiais militares e três moradores. Porém, no início da tar-
de, um morador atingido por uma bala perdida durante um
tiroteio ocorrido na sexta-feira (23) morreu no início da tarde
no hospital.
210
Para isso é necessário, em primeiro lugar, a criação de uma nova
polícia, formada dentro de princípios éticos e morais de valoriza-
ção da vida e respeito aos direitos dos cidadãos. O primeiro passo
nesse sentido será a fusão das polícias militares e civis, eliminan-
do os comandos baseados em uma hierarquia escalonada como nas
Forças Armadas. A nova polícia deverá apenas ter duas classes: a
dos oficiais e a dos praças. Oficiais e Praças serão promovidos por
mérito segundo sua atuação no respeito à vida e à cidadania, numa
classificação de pontos em seu currículo. Portanto, nada de patentes.
Estas devem ser usadas apenas pelas Forças Armadas, por necessida-
des operacionais, como acontece no mundo todo. O segundo passo
será a da obrigatoriedade de todas as polícias estaduais terem em
seus quadros operacionais formado de 50% de mulheres e 50% de
homens, tanto de oficiais como de praças. Esta medida visa humani-
zar essas polícias, pois a presença feminina impedirá a formação de
esquadrões da morte, já que são portadoras da vida e, consequente-
mente, sabem valorizá-las.
Outra medida fundamental será a eliminação das armas pesadas,
como fuzis e metralhadores, no policiamento e nas ações em áreas
urbanas, principalmente nas favelas. A desculpa de que tal pessoa foi
morta por “balas perdidas” deve acabar de uma vez por todas. Cada
pessoa morta nas ações policiais deve ser identificada e seus parentes
indenizados adequadamente, inclusive investigando como ocorreu
tal acontecimento, para evitar repetições e punir os responsáveis. A
vida é um bem precioso que precisa ser valorizado e não desprezado
como está ocorrendo entre nós. Aliás, já está passando da hora de se
fazer leis diferenciadas para os chamados crimes de sangue, evitando
que assassinos sejam soltos beneficiados por dispositivos legais de
caráter generalista.
Outras sugestões, para colocar ordem no caos que virou a segurança
pública em nosso País, a ponto de toda a sociedade se sentir insegu-
ra, tanto nas suas casas como nas vias públicas, podem ser encon-
tradas em dois livros de minha autoria, intitulados: Decifrando um
enigma chamado Brasil, disponível na Biblioteca Digital do Governo
Federal (www.dominiopublico.gov.br) e A mensagem codificada so-
bre o Brasil nas profecias de Dom Bosco, publicado pelo Clube de
Autores (www.clubedeautores.com.br).
211
Agradecendo a atenção de V. Exa., e desejando sucesso ao seu go-
verno, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 05
Belo Horizonte, 30 de outubro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
214
açúcar e álcool e outras empresas brasileiras ligadas ao agronegócio,
e os especuladores de todos os matizes sempre à procura de ganhos
fáceis. O resultado é que o valor das terras produtivas no mundo
todo, especialmente em nosso País, que as possui em larga escala,
vão atingir patamares que inviabilizarão a existência de pequenos
e médios produtores rurais, base de sustentação de nossa produção
agroindustrial e da fartura de alimentos.
Para se ter uma ideia de como em nosso País a questão fundiária
ainda é confundida com a reforma agrária, misturando alhos com
bugalhos, basta atentar para a seguinte palestra do Presidente do
Ipea, Márcio Pochmannn, disponibilizada no portal do Incra na In-
ternet (22/10/2009):
215
cidade é mesmo o prefeito, democraticamente eleito, ou o pre-
sidente da siderurgia”.
Para Pochmann, a mudança na estrutura fundiária é funda-
mental para o projeto de soberania nacional, porque é uma
decisão sobre o poder econômico das corporações no País. Ele
denunciou um processo de internacionalização da proprieda-
de da terra no Brasil, que ganha corpo no cenário de crescente
escassez de terras férteis, água doce e minerais.
Além disso, Pochmann avaliou a reforma agrária como es-
tratégica para a defesa do meio ambiente. “A reforma agrá-
ria ganha outra dimensão, que é a defesa da sustentabilidade
do planeta. A produção definida exclusivamente pelo poder
econômico será cada vez mais insustentável. Portanto, a al-
teração fundiária ganha dimensões adicionais, não apenas o
princípio da justiça, econômico e da política, mas, sobretudo,
da estratégia de soberania de uma nação e da sustentabilidade
ambiental”, destacou.
Ainda segundo o palestrante, que também é professor de eco-
nomia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
a história do Brasil foi marcada pelas sociedades agrária e
urbanoindustrial até o fim do século passado sem que fosse
alterada sua estrutura agrária. Ele condenou o processo de
concentração de terras e afirmou ser preciso reocupar o cam-
po. “A reforma agrária está no contexto de um novo padrão
econômico que defendemos para o país. O campo sofreu uma
trajetória de esvaziamento que aumentou a pobreza e a exclu-
são nas cidades”, finalizou.
Ao contrário do que diz o autor desta palestra, a distribuição de
terras como instrumento de justiça social não tem mais o mesmo
peso específico que tinha no passado. Agora, numa sociedade cada
vez mais urbanizada, justiça social implica dar condições dignas de
sobrevivência para todo cidadão, esteja onde estiver. Assim, caso se
dê uma data de terra para um trabalhador rural, a título de reforma
agrária, seria justo que se dê também uma casa digna desse nome
para um trabalhador da cidade, a título de reforma urbana. Afinal
de contas, por que uns poucos podem receber um naco de terra para
morar no campo, e outros, em muito maior número, não podem
216
ganhar um pequeno lote para construir sua moradia na cidade? Que
justiça social é essa que premia invasores de propriedade rurais e
pune severamente quem se atreve a fazer o mesmo nas cidades? Ima-
gine como seria tratado um “Sem-Teto”, se invadisse o apartamento
que V. Exa. possui no Estado de São Paulo, alegando que está ocio-
so, já que Sua Exa. dispõe de vários palácios para morar na Capital
da República? Seria tratado com a mesma benevolência com que
foram tratados os invasores da fazenda da Cutrale?
Já está na hora de se separar o joio do trigo: justiça social é uma
coisa, questão fundiária, patrimonial, é outra. Assim, é preciso que
se crie o Ministério de Assuntos Fundiários e Terras da União para
cuidar da questão da posse da terra, seja ela pública ou privada, e
transferir para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to todas as demais atribuições do Ministério do Desenvolvimento
Agrário e do Incra, órgãos públicos que seriam extintos para evitar
duplicidade de atribuições. Quanto à “Reforma Agrária”, como po-
lítica social de distribuição de terra, deixaria de existir. Em seu lugar,
uma nova lei passaria a regulamentar o uso das terras públicas e
privadas. Essa nova lei visaria, a um só tempo, acabar com a escan-
dalosa concentração fundiária, hoje existente, e aumentar substan-
cialmente o número de pequenos e médios proprietários rurais. Para
isso, várias medidas seriam tomadas. A primeira delas seria proibir
pessoas físicas e jurídicas de possuírem mais de um imóvel rural por
Estado da federação, e o tamanho máximo de cada propriedade ru-
ral seria estabelecido em função das características regionais, apti-
dão do solo e preservação do meio ambiente.
Assim, para o Pantanal Mato-Grossense, o tamanho das proprieda-
des, quando voltada para a criação extensiva de gado, seria maior
do que se destinada a outras atividades, pois esse animal se integrou
muito bem a esse ecossistema. O mesmo procedimento poderia ser
adotado com a criação de búfalos na Ilha de Marajó. Cada região do
País teria seus parâmetros definidos por lei. A segunda medida seria
facilitar a compra das terras desmembradas das grandes proprieda-
des, ou postas à venda por força dessa lei, por parte dos pequenos e
médios arrendatários, por meio de estímulos fiscais e creditícios. As
terras públicas, por sua vez, somente poderiam ser alienadas por lei-
lões, sendo vedado as doações, para evitar que uns poucos ganhem
terras em detrimento de muitos, pois os direitos são iguais para to-
217
dos os brasileiros, segundo a Constituição Federal. Além disso, para
baixar os custos dos imóveis rurais, a aquisição de terras públicas ou
privadas somente seria permitida a brasileiros natos ou naturaliza-
dos residentes no País, ou empresas brasileiras sem vinculo associa-
tivo com multinacionais.
Finalmente é bom lembrar que a criação do Ministério de Assuntos
Fundiários e Terras da União facilitará o controle das terras públi-
cas, da União, Estados e Municípios, em todo o território nacional,
aí incluídas as da Amazônia legal, a faixa de fronteira, as terras da
Marinha no litoral atlântico, inclusive as ilhas oceânicas, hoje tudo
isso sem um órgão controlador especializado e apto a formular po-
líticas públicas para enfrentar os novos tempos e a nova realidade
do País num mundo cheio de conflitos e disputas territoriais. Um
exemplo desse estado de coisas foi a necessidade da criação do Terra
Legal, que está longe de atender a todas as demandas relacionadas
com a questão fundiária da Amazônia, a qual, por si só, já justifica-
ria a criação desse ministério.
Além disso, esse ministério cuidará também das questões fundiárias
relacionadas às comunidades indígenas e quilombolas, parques flo-
restais, áreas de proteção ambiental, principalmente na demarcação
de seus limites. Será, portanto, um órgão com amplos poderes, inclu-
sive para fiscalizar a atuação dos cartórios de registros de imóveis, a
fim de evitar fraudes e dirimir dúvidas sobre limites de propriedades
públicas ou privadas. Para tanto, o Ministério de Assuntos Fundiá-
rios e Terras da União contará com o apoio do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) para utilizar em larga escala imagens de
satélites, com as quais poderá agilizar seus procedimentos e garantir
maior confiabilidade às suas decisões de arbitragem.
Outras sugestões sobre os assuntos tratados nesta carta V. Exa. po-
derá encontrar em dois livros de minha autoria, disponíveis na Bi-
blioteca Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br),
intitulados Decifrando um enigma chamado Brasil e O Brasil das
Profecias – 2003/2063 – Os Anos Decisivos.
Agradecendo a atenção de V. Exa. e desejando sucesso ao seu gover-
no, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
218
CARTA 06
Belo Horizonte, 01 de novembro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Assunto: Hidro-helicópteros.
219
Agradecendo a atenção de V. Exa. e desejando sucesso ao seu gover-
no, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 07
Belo Horizonte, 10 de novembro de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
220
bilionários. Como a empresa não tem essa dinheirama toda, de al-
gum lugar ele sairá: de empréstimos ou alienação de seu patrimônio
ou, ainda, por meio de impostos arrecadados pelo Estado. O gover-
no mineiro alardeia que economizará cerca de 80 milhões de reais de
aluguel com o novo centro, mas, em contrapartida, quanto custará
a essa estatal esse empreendimento? Alega, ainda, que os recursos
dessa estatal não podem ser aplicados em educação, ou em outras
demandas sociais, por força de seus estatutos, razão por que está
bancando essa construção. Ora bolas! Quem redigiu esse estatuto
não foi o Estado? Então, por que não mudá-lo para cumprir funções
sociais, principalmente as voltadas para a educação?
Mas existem outras facetas relacionadas a esse empreendimento que
precisam ser comentadas, como a redução da jornada de trabalho,
de 8 para 6 horas diárias, dos funcionários que passarão a trabalhar
no novo centro administrativo, “para melhor adaptação”, como in-
forma o jornal Estado de Minas (4/11/2009, p.3), que acrescenta:
“Sindicalistas e representantes do funcionalismo fizeram ontem uma
série de reivindicações ao Executivo e reclamaram de não terem sido
ouvidos sobre a criação da nova sede”. Mas não só o funcionalismo
público está nessa situação. Toda a sociedade mineira também não
foi consultada a respeito; sequer foi convocado um referendo para
que a população decidisse sobre a conveniência ou não de se cons-
truir um novo centro administrativo, em substituição a cidade de
Belo Horizonte, projetada com essa finalidade, após intenso debate
naquela época. O que preocupa esses sindicalistas são assuntos im-
portantes para eles, como creches para os filhos dos funcionários;
quanto vão gastar com alimentação e transporte, enfim as consequ-
ências dessa mudança radical que deixará sequelas, pois não estão
preparados para isso.
No entanto, para tudo o governo do Estado tem solução, segundo
diz, pois haverá verba pública para todas as demandas, a começar
pela implantação de ônibus especiais, gratuitos ou subsidiados, para
transportá-los até a nova sede. Essa gastança ainda não foi calcula-
da, mas superará de muito os 80 milhões de reais que alega deixará
de pagar de aluguéis; isto sem contar que, quaisquer que sejam os
benefícios concedidos a alguns funcionários, mais cedo ou mais tar-
de, todo o funcionalismo público estadual pleiteará, na Justiça, com
sucesso, idênticas regalias, e então o orçamento do Estado irá para o
221
espaço. Aqui uma observação. Além dos prédios públicos que fica-
rão vazios, inclusive todos os da Praça da Liberdade e adjacências,
os quais serão transformados em museus e outras sinecuras elitistas,
genericamente batizadas de “espaços culturais”, não existem outros
bens públicos no chamado hipercentro, o coração de Belo Horizon-
te, para se construir edifícios próprios evitando pagar aluguéis? Foi
feito algum estudo a respeito? Em caso positivo, por que não foi
divulgado para conhecimento da sociedade que paga os impostos
para sustentar a máquina pública?
Na verdade nunca houve estudo algum, e muito menos justificativa
para a construção do novo centro, pois o Governador Aécio Neves
anunciou sua criação no início do seu primeiro mandato, em 2003.
Portanto, já assumiu de caso pensado, como jogada política, tentan-
do imitar JK, que partiu para a construção de Brasília tão logo foi
empossado. Até o local de construção do novo centro administrativo
era desconhecido quando anunciou sua construção, pois, no início,
o local cogitado foi o Aeroporto Carlos Prates, deixado de lado por
falta de consenso com outros interessados, e a oportuna oferta dos
donos do Hipódromo Serra Verde, local afinal escolhido. A impro-
visação e o afã de inaugurar essa obra, projetada por Oscar Nie-
meyer, antes do término de seu segundo mandato, como plataforma
de lançamento de sua candidatura à Presidência da República, está
expressa no convite que fez ao Presidente Lula, como informa o jor-
nalista Baptista Chagas de Almeida, em sua coluna no Jornal Estado
de Minas (6/11/2009, p. 2): “O governador Aécio Neves (PSDB)
ligou para o presidente Lula, para convidá-lo para a inauguração
do centro administrativo do estado, que está marcada para 15 de
janeiro. Lula disse que faz questão de comparecer, o que mostra as
boas relações entre os dois, apesar de estarem em campos opostos na
política partidária. O governador de São Paulo, José serra (PSDB),
apesar de também receber elogios do presidente, deve ficar roxo de
inveja”.
Essa pressa toda para inaugurar uma obra incompleta, de ousadia
arquitetônica sem par, pois a nova sede do governo mineiro terá o
maior vão livre do mundo, três vezes maior do que o do Museu de
Arte de São Paulo, o MASP, faz lembrar fato semelhante ocorrido
com o ex-Governador Israel Pinheiro, como registra a enciclopédia
livre Wikipédia: “Em fevereiro de 1971, 69 operários morreram e
222
mais de 50 ficaram feridos no desabamento do que seria o Pavilhão
de Expoições da Gameleira, tido como o maior acidente da cons-
trução civil brasileira. Israel Pinheiro era o governador de Minas
Gerais à época da tragédia. Centenas de operários trabalhavam em
ritmo acelerado para concluir a obra, projetada pelo arquiteto Oscar
Niemeyer. Israel tinha pressa, segundo testemunho de sobreviventes
e jornalistas, pois pretendia entregar a obra antes do término de seu
mandato, em 15 de março daquele ano”.
Mas não é só o Governador Aécio Neves que foi afetado pela febre
mudancista; os deputados estaduais, igualmente contaminados pelo
vírus JK-55, já querem pegar carona neste trem de alegria e se movem
nesse sentido, como informa o jornal Estado de Minas (5/11/2009,
p. 8): “Puxadinho na nova sede – Os deputados estaduais querem
acompanhar a mudança da sede do governo mineiro para a nova
Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, Região Norte da ca-
pital. Diariamente em audiências com os secretários de estado para
tratar de demandas de prefeitos do interior, eles pleiteiam a constru-
ção de uma estrutura própria para dar suporte às visitas e reuniões,
demanda que já foi levada ao Executivo. Nos corredores da Casa
há quem aposte que, em um ou dois anos, o Legislativo inteiro se
mudará para o complexo construído”.
Mas as despesas com a construção do novo centro administrativo,
custeada com dinheiro público, direta ou indiretamente, vão mais
longe, pois drenam recursos da União, Estados e Municípios, que
deveriam ser aplicados na reestruturação de todo o sistema educa-
cional brasileiro, da pré-escola à universidade, hoje em situação caó-
tica, como a imprensa vem denunciando à exaustão, isto sem contar
o falido sistema de saúde e a falta de creches para toda a população.
Essa drenagem se faz de várias formas, principalmente na dedução
do imposto de renda, para aplicação em atividades ditas culturais,
especialidade da elite para se apropriar de recursos públicos. Esses
recursos são captados junto às grandes empresas, como a Vale, que
pagou cerca de 3 milhões de reais, ao escritório do arquiteto Oscar
Niemeyer, pelo projeto do centro administrativo, uma gentileza ao
Governador Aécio Neves. Resta saber a troco de quê? E mais, se esse
dinheiro saiu dos cofres da empresa com autorização dos acionistas,
ou foi deduzido do imposto de renda, o que na prática significa que
todos os brasileiros pagaram esse mimo. O que se passa na Praça da
223
Liberdade é um exemplo acabado desse processo, que comentei em
um livro de minha autoria intitulado A Mensagem Codificada sobre
o Brasil nas Profecias de Dom Bosco, publicado pelo Clube de Au-
tores (www.clubedeautores.com.br), no capítulo O Melancólico Fim
do Projeto Urbanístico de Belo Horizonte, a seguir transcrito:
“Mas, melancólico mesmo, será o destino do Palácio da Liberdade
e demais prédios públicos construídos à sua volta, na chamada Pra-
ça da Liberdade. Segundo matéria publicada pelo jornal Estado de
Minas (12/7/2009, p. 28-29), o Palácio da Liberdade, inaugurado
em 1897, será transformado em museu aberto à visitação pública;
a Secretaria de Estado de Fazenda, em Memorial de Minas; a Se-
cretaria de Educação, em Museu das Minas e do Metal e, sem fu-
turo definido, a de Viação e Obras Públicas. Todas inauguradas em
1897. A Secretaria de Segurança Pública, inaugurada em 1930, será
a sede do Centro Cultural Banco do Brasil e a Secretaria de Cultura,
inaugurada em 1915, ainda não tem futuro definido. Os demais pré-
dios públicos desse centro de poder, também, estão condenados a se
transformarem em ‘espaços culturais’, compondo o que apelidaram
de ‘Circuito Cultural da Praça da Liberdade’. Toda a tradição políti-
ca republicana e positivista que esse conjunto encerra, e que ajudou
a forjar os destinos do País, será relegada a um segundo plano, por
obra e graças de um governador que desconhece seu significado e as
consequências de se mexer no centro de gravidade do eixo do poder,
assunto que será abordado no capítulo seguinte”.
Mas essa atividade vampiresca, de drenar recursos públicos para
atividades culturais, para beneficiar uma minoria de iluminados,
não é uma exclusividade mineira, como informa o Jornal Folha de
São Paulo (6/11/2009, p. E8): “Um grupo de arquitetos ingressa na
Justiça na próxima semana com uma ação popular que visa parali-
sar o maior projeto cultural do governo do Estado de São Paulo: a
construção de um centro cultural na Luz, na região central, a partir
de um projeto dos suíços Herzog & De Meuron. A dupla ganhou
projeção com obras inusitadas como o Ninho de Pássaro, o estádio
olímpico de Pequim. [...] O centro cultural, chamado inicialmente
de teatro de dança, está orçado em R$ 311,8 milhões, mas esse va-
lor pode subir, segundo a Secretaria de Cultura. Os suíços devem
receber entre R$ 20 e 26,5 milhões pelo projeto arquitetônico – eles
ganharam R$ 3 milhões pelo pré-projeto, revelado pela Folha em
224
junho último. Com uma área de 95 mil m2, o equivalente a quatro
vezes o Pavilhão da Bienal (25mil m2), o complexo terá teatro de
dança e ópera com 1.750 lugares, outro para peças e recitais com
600 lugares e uma sala experimental de 400 lugares. Abrigará ainda
a Escola de Música Tom Jobim. Ficará em frente à Sala São Paulo,
no lugar em que funcionava a antiga rodoviária. [...] Ele reclama que
o secretário da Cultura, João sayad, tomou uma ‘decisão imperial,
sem discutir com ninguém’ ao estabelecer que o teatro será na Luz.
‘Quem disse que a Luz é a melhor área para um centro cultural? Lá
já tem a Sala São Paulo, a Pinacoteca, a Estação Pinacoteca e o Mu-
seu da Língua Portuguesa. Eu acho que seria melhor fazer algo na
Mooca ou na zona leste’”.
Enquanto isso... o governo do Estado de São Paulo procura atalhos,
via terceirização, ou privatização do ensino público, um dos piores
do País, para fugir de suas responsabilidades constitucionais, como
informa a Folha (5/11/2009, p. C1): “O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), determinou que o Estado poderá terceirizar aulas
extracurriculares de línguas para alunos da rede estadual a partir do
ano que vem. Hoje, essas aulas opcionais são em centros de línguas
da própria Secretaria da Educação e atendem a 50 mil alunos – teo-
ricamente, os cerca de 3 milhões de estudantes entre a sexta série do
ensino fundamental e o terceiro ano do médio, público do progra-
ma, poderiam usufruir do benefício. [...] Professores questionam a
qualidade das escolas que serão contratadas e afirmam que o texto
da norma abre a possibilidade de o Estado terceirizar também as
aulas obrigatórias de línguas – inglês e, a partir de 2010, também o
espanhol”.
225
encarar de frente a questão da educação pública como um direito de
cidadania, uma questão de Estado, e não assunto secundário a ser
tratado por entidades particulares. Para eles, esse tipo de educação
é coisa de pobre, portanto, relegada a segundo plano. Cultura, no
entanto, é coisa para bem-nascidos, e por isso deve receber toda a
atenção. Para esses intelectuais, com ranço escravocrata, e gover-
nantes da mesma laia, a aplicação maciça de dinheiro público em es-
colas modernas e funcionais, como os CIEPS construídos por Leonel
Brizola e Darcy Ribeiro, nem pensar. Mal conservam as existentes,
em sua maioria adaptadas ou reformadas. Em contrapartida, não
faltam recursos para construir moderníssimos “Centros Culturais”,
ou prédios governamentais de ultima geração, como a nova sede da
Assembléia do Distrito Federal, obra de deixar qualquer um de boca
aberta e queixo caído.
Mas não é só esse tipo de descaso que conta, como informa o jornal
Folha de São Paulo (6/11/2009, p. C1) sobre a situação da educa-
ção na capital mais rica do País, do Estado igualmente rico, a qual
sintetiza o que se passa em nível nacional: “Kassab corta vagas no
ensino infantil; há 28 mil na espera. [...] Desde 2007, a gestão Gil-
berto Kassb (DEM) exige que as entidades transfiram suas vagas da
pré-escola (4 a 6 anos) para as creches (0 a 3 anos), onde o déficit e
a pressão por novas vagas são maiores. A mudança de atendimento
ocorre na renovação do acordo, a cada dois anos. Com isso, hoje
há 17 mil matrículas a menos do que dois anos atrás na pré-escola
(queda de 5%), segundo dados do próprio governo. E existem 28,5
mil crianças na fila de espera. Faltam vagas em 92 dos 96 distritos
da cidade”.
Nesse quadro de carências múltiplas, os gastos milionários com ati-
vidades culturais, em detrimento da educação básica, via dedução
do imposto de renda, só faz aumentar, como informa o jornal Folha
de São Paulo (6/11/209, p.E8): “Ao ruidoso debate sobre a reforma
da Lei Rouanet, base da produção cultural brasileira, seguiu-se o
silêncio. Enviado à Casa Civil há três meses, com a promessa de
que, em agosto, seguiria para o Congresso, o projeto de lei (PL) que
altera o mecanismo de renúncia fiscal segue de mesa em mesa. Fon-
tes ligadas ao governo afirmaram à Folha que a demora se deve, em
parte, ao pé atrás da área econômica, ainda não plenamente conven-
cida da necessidade de se aumentar a fatia da cultura no orçamento
226
federal. [...] O que chamou a atenção da Fazenda foi o fato de que,
sob as asas do MinC, dono de um orçamento de R$ 600 milhões,
ficarão também os recursos do Vale-Cultura e do Fundo Nacional
de Cultura (FNC), que deve ser turbinado em 2010. Há, além disso,
o dinheiro da renúncia fiscal, que ultrapassa a casa do R$ 1 bilhão.
O Vale-Cultura, que foi aprovado pela Câmara e já tem relatores no
Senado, nasceu com a estimativa – para lá de otimista, diga-se – de
que pode movimentar R$ 7 bilhões por ano”.
A tudo isso, deve ajuntar-se os recursos oriundos da exploração do
pré-sal, pois espertamente a elite incluiu, além da cultura, seu feu-
do particular, também o meio ambiente, como beneficiárias dessa
verba, em pé de igualdade com a educação. Portanto, a educação
que se cuide, pois a elite vai abocanhar a maior parcela desses recur-
sos para aplicá-los em ONGs ecológicas e em espetaculares projetos
culturais, para deleite de uma minoria, pois o povão, dada a sua
miserabilidade, não tem condições de frequentá-los, e muito menos
apreciar sua arte, analfabetos que são, pois não tiveram escolas para
se educarem. Nesse contexto, falar em distribuir R$50,00 para a
compra de livros, como forma de inserção cultural desses brasileiros
e brasileiras, é uma afronta não só ao bom senso como também à
moral e à ética. Não adianta buscar atalhos ou dar saltos de galinha
para, de uma hora para outra, transformar brasileiros semianalfabe-
tos em leitores assíduos de livros encalhados, que a elite produz com
incentivos fiscais. É preciso seriedade para mudar esse quadro. Pri-
meiro se educa para depois usufruir dos conhecimentos adquiridos.
Não é assim que a elite faz com seus pimpolhos? Tentar transfor-
mar o Brasil analfabeto em um País de Primeiro Mundo, de cultura
avançada, faz lembrar as observações depreciativas de Lévi-Strauss,
recentemente falecido, sobre os brasileiros, feitas no século passado,
como informa Fernando de Barros e Silva, em sua coluna no jornal
Folha de São Paulo (4/11/2009, p. A2): “Um espírito malicioso defi-
niu a América como uma terra que passou da barbárie à decrepitude
sem conhecer a civilização”.
Para preencher esse vazio cultural e recuperar o tempo perdido, o
caminho indicado é investir maciçamente na educação, evitando
maquiar o problema com iniciativas demagógicas de cunho cultu-
ral. Neste caso, é preciso pôr um freio nos patrocínios das empresas
estatais que estão abusando do direito que têm de investir em publi-
227
cidades ligadas às suas atividades, transformando o que seria uma
questão de marketing empresarial numa atividade política vergo-
nhosa de desperdício de dinheiro público, ao dar suporte a todo tipo
de demanda dos políticos para promoção pessoal, como a imprensa
tem denunciado. Isto vale também para todos os órgãos públicos
da União, Estados e Municípios. Essa drenagem já atingiu tal ponto
que, para tentar controlar a situação, alguns ministérios ensaiam
algumas medidas emergenciais, como informa o jornal Estado de
Minas (6/11/2009, p. 3):
“O Ministério do Turismo baixou portaria com novas regras para
promoção de festas no interior do país patrocinadas com recursos
de emendas parlamentares, como limitação de valor para cachês de
artistas. A intenção é evitar fraudes na aplicação desses recursos,
como as que foram denunciadas há cerca de três meses por uma
série de reportagens exclusivas do Estado de Minas, que motivou a
criação de uma força-tarefa com a participação da Controladoria-
Geral da União (CGU) e da Procuradoria-Geral da República para
auditar todos os convênios alvos de denúncias de fraudes em Minas
Gerais. As investigações, segundo a CGU, ainda estão em curso. Os
inquéritos abertos pelo Ministério Público também não foram con-
cluídos. No orçamento deste ano estão previstos cerca de R$ 430
milhões para patrocínios de festas e eventos em todo o país. [...]
Entre as mudanças estabelecidas pela Portaria 153 do Ministério
do Turismo, estão o estabelecimento de um teto de R$ 80 mil para
o pagamento de cachês para artistas, bandas ou grupo e de R$ 300
mil para patrocínio de festas promovidas com emendas parlamen-
tares individuais. No entanto, o mesmo evento pode ter o apoio de
mais de um parlamentar, desde que não ultrapasse o teto de R$ 1,2
milhão. Acima desse valor as festas só poderão ser patrocinadas com
emendas de bancada. Novas mudanças deverão ser divulgadas ainda
este mês, segundo o Ministério do Turismo”.
As poucos, como estamos vendo, um levantamento baseado em
notícias de jornais, dos últimos dias, permite montar um quebra-
cabeça, cujo painel revela a falta de austeridade dos políticos e dos
governantes na aplicação de recursos públicos. No caso, acima ci-
tado, cabe uma pergunta: “Por que os parlamentares, ao invés de
patrocinar festas e eventos diversos, não direcionam esses recursos
para construir novas escolas, ou reformar as que precisam de repa-
228
ros, procurando saber o que as comunidades onde têm suas bases
mais precisam para elevar o nível educacional de seus concidadãos?
As festas são passageiras e o dinheiro nelas gastos evaporam-se sem
deixar rastros, ao contrário dos investimentos feitos na educação,
que são duradouros, servindo inclusive de testemunho em favor de
políticos que souberam bem aplicar as verbas que abocanharam do
orçamento da União para promoção pessoal; prática que nada tem
de democrática, mas tem tudo a ver com hábitos dos coronéis do
passado.
Uma dica para mudar esse comportamento, talvez, esteja contida na
seguinte nota do jornalista Baptista Chagas de Almeida, em sua co-
luna no jornal Estado de Minas (7/11/2009, p. 2): “O DEM, o PSDB
e o PPS vão abrir a página Acorda Brasil na internet, para recolher
sugestões para a elaboração do programa de governo do candidato
que for apoiado pela coligação à Presidência da República. Apesar
do sugestivo nome, os organizadores garantem que a intenção não
é criar um fórum de ataques ao governo Lula. Até porque serão
debatidos temas específicos. O material recolhido será organizado e
entregue ao candidato, seja ele Aécio Neves ou José Serra”. Diante
dessa disposição toda, para receber sugestões, aqui vai a uma delas:
por que os deputados e senadores desses partidos não tomam a ini-
ciativa de aprovar uma lei acabando com emendas parlamentares
destinadas ao patrocínio de festas e eventos culturais, limitando-as
e direcionando-as à construção ou reforma de escolas públicas nas
suas áreas de atuação?
Os parlamentares cariocas, por exemplo, têm bons motivos para
isso, como informa o jornal Folha de São Paulo (4/11/2009, p. C4):
“Projeto do Maracanã para a Copa prevê a destruição de escola-
modelo. A reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014
inclui a demolição de uma escola modelo, quarta colocada no Ideb
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Rio, com 6,3
pontos. [...] Fundada em 1965, o colégio oferece até o 5º ano do
ensino fundamental, tem 400 alunos e foi um dos primeiros no Rio
a adotar o “smart board” (quadro negro computadorizado). Conta
ainda com sala de leitura e de informática, quadra de esportes re-
cém-construída e parquinho com grama sintética. Todas as salas de
aula têm ar-condicionado. [....] A Secretaria Municipal de Educação
confirma que o prédio e as instalações serão destruídas, mas informa
229
que os alunos serão transferidos provisoriamente para a Escola Ma-
drid, em Vila Isabel, com estrutura separada [...] O Prefeito Eduardo
Paes afirmou que será construída uma nova escola, com instalações
melhores e o mesmo nível de ensino”. Então, por que não construir
a nova escola, antes de demolir a antiga?. Afinal de contas, se para
a Copa do Mundo de 2014 tudo está sendo feito a toque de caixa,
por que não proceder da mesma forma com essa escola, para não
prejudicar seus alunos?
As dificuldades enfrentadas pelos prefeitos do Rio de Janeiro e de
São Paulo, para administrar o caos no ensino, por falta de verba, ou
má administração dos recursos disponíveis, é um problema comum
a todos os outros prefeitos do País, como a imprensa tem noticiado.
Esta situação também afeta os governadores dos Estados e o próprio
governo federal. Tudo isso poderia mudar da água para o vinho,
como se diz, se fosse feita uma redistribuição de responsabilidades,
no âmbito de uma reestruturação de alto a baixo do ensino público
do País, ou seja, da universidade à pré-escola. O primeiro passo nes-
se sentido seria transferir para o Ministério de Ciência e Tecnologia,
tudo o que se relacionar com as universidades públicas e privadas, fi-
cando o Ministério da Educação com o encargo de gerenciar apenas
o ensino básico (Pré-Escola, Ensino Fundamental e Médio), o qual
passaria a ser de responsabilidade exclusiva dos Estados.
Os municípios, a partir daí, ficariam responsáveis pelas creches co-
munitárias e o Sistema Único de Saúde (SUS). Outra questão que
gostaria de comentar é que, para equacionar os problemas que afe-
tam o sistema escolar brasileiro, é preciso decompô-lo em partes
para analisar cada uma delas separadamente e, depois, juntá-las no-
vamente como na montagem de um quebra-cabeça. Para começar
é preciso abordar a questão dos prédios escolares, até hoje cons-
truídos sem um projeto arquitetônico adequado, exceto a experi-
ência pioneira de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro com os CIEPS do
Rio de Janeiro, projetados e construídos para atender a um projeto
pedagógico bem definido: a Escola Pública de Tempo Integral. A
este respeito escrevi uma carta ao ex-Ministro Mangabeira Unger, a
seguir transcrita -(trata-se da correspondência datada de 3 de setem-
bro de 2008, reproduzida na cidadã número 1)-, a qual considero a
última peça deste quebra-cabeça que tentei montar para responder
à pergunta inicial: “Por que falta dinheiro para a escola pública em
230
nosso País e sobra para projetos culturais patrocinados pelas elites
e para obras faraônicas construídas pelos governantes? O que fazer
a respeito?”
Finalmente é bom frisar que o Congresso Nacional tem sido mais
ágil do que o governo federal no sentido de propor medidas práti-
cas para mudar os rumos da escola pública em nosso País, dentre
as quais se destaca a Proposta de Emenda Constitucional, (PEC)
96A/2003, que exclui a educação dos efeitos da Desvinculação dos
Recursos da União (DRU), como informa o jornal Estado de Minas
(4/11/2009, p. 8): “As verbas federais para a educação, atualmente
em torno de R$ 40 bilhões por ano, acabam de ganhar um reforço.
[...] A desvinculação será gradual. Para este ano, a DRU da educação
será reduzida de 20% para 12,5%. Cairá mais ainda, para 5%, no
ano que vem, e estará eliminada no Orçamento de 2011, quando o
Ministério da Educação vai passar a contar com acréscimo R$ 9 bi-
lhões por ano em relação às dotações atuais. Resultará na expansão
de 25% do valor das atuais aplicações federais na área. [...] A reti-
rada da educação das limitações orçamentárias da DRU – com tudo
o que isso significa para a gestão das contas do país – representa um
avanço na priorização da educação. Mas a sociedade não pode dei-
xar de cobrar, como resposta, a contínua e consistente redução dessa
constrangedora inferioridade”.
Agradecendo a atenção de V.Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 08
Belo Horizonte, 14 de novembro de 2009.
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
231
Assunto: Por que os holandeses, e os asiáticos, são mais capazes que
os brasileiros no domínio das águas?
Com cópias para Exmos. (as) Srs. (as) Deputados Federais, e jornais
Estado de Minas e Folha de São Paulo.
232
com objetividade os problemas que afetam a população pobre. Não
seria o caso de confiar a administração do Brasil a um Mauricio
de Nassau redivivo, importado da Holanda, pois o que ele fez em
Recife V. Exa. deve saber muito bem. Outros exemplos desse povo
dinâmico e empreendedor não faltam, como os imigrantes que se
estabeleceram em Holambra, no Estado de São Paulo, onde dão aula
de como plantar flores, comercializá-las e ganhar dinheiro. Já está
na hora de tentar caminhos novos para o Brasil. Toda grande firma
não contrata gerentes capazes para tocar seus negócios, não impor-
tando sua origem? Não seria o caso de fazer o mesmo com o nosso
País, que está carente de administradores competentes?
Desejando sucesso ao governo de V. Exa., e que reflita a respeito,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
CARTA 09
Belo Horizonte, 18 de novembro de 2009.
233
No momento em que V. Exas. discutem um novo marco regulató-
rio para a exploração de petróleo e gás natural no País, inclusive
a participação da União, Estados e Municípios nos royalties pagos
pelas empresas petrolíferas, gostaria, como cidadão, de dar algumas
sugestões a respeito.A primeira delas é sobre o assunto em epígrafe,
pois, sem esse controle, o que poderá ocorrer é que essa dinheirama
toda, caída do céu, venha a ser dissipada em aplicações aleatórias
sem nenhuma relação com as demandas mais urgentes da sociedade,
as quais vêm sendo postergadas por falta de recursos financeiros, ou
no custeio da máquina pública, inchada na expectativa do recebi-
mento desses royalties.
Um exemplo bem significativo é o que se passa com a capital do
Estado do Rio de Janeiro, e sua Região Metropolitana, que está mer-
gulhada no caos social, urbano e ambiental, por falta de recursos
financeiros, e um planejamento bem estruturado que contemple me-
tas a curto, médio e longo prazos para mudar o quadro observado.
Neste contexto é que se insere a aplicação da cota-parte desse Esta-
do, nos royalties petrolíferos, em projetos prioritários previamente
aprovados pelo Congresso Nacional, pois se trata de uma regalia,
um privilégio concedido pela União em caráter excepcional, e não
um imposto arrecadado pelo Estado e aplicado de forma tradicio-
nal.
Uma série de projetos integrados, para mudar radicalmente a situa-
ção caótica da Cidade Maravilhosa, da Baía da Guanabara e de seu
entorno, e da Baixada Fluminense, deve ser proposto pelo Estado do
Rio de Janeiro, e aprovado pelo Congresso Nacional, no âmbito de
um planejamento estratégico a curto, médio e longo prazos. Até que
isto aconteça, os royalties recebidos pelo Estado devem ser aplicados
em títulos do Tesouro Nacional, para serem liberados à medida que
os seguintes projetos sejam implantados:
a) Despoluição da Baía da Guanabara e redefinição de seu perfil
socioeconômico e ambiental, inclusive a recuperação e preservação
dos manguezais;
234
c) Drenagem da Baixada Fluminense e, consequentemente, o sanea-
mento básico de toda a região;
235
São muitos os aspectos a serem abordados num planejamento de
uma área gigantesca: a Baía da Guanabara e seu entorno; a Cidade
Maravilhosa e sua região metropolitana; e a Baixada Fluminense.
Neste espaço privilegiado pela natureza, sem par em todo o litoral
atlântico, de polo a polo, onde se concentra uma atividade econômi-
ca dinâmica, geradora de riqueza para todo o País, não cabe a me-
diocridade no trato de seus problemas. É preciso arrojo, inteligência,
tecnologia e recursos financeiros que só a riqueza do petróleo e do
gás natural pode aportar.
Por último é bom destacar que, com os recursos da informática e da
Internet, hoje disponíveis, todos esses projetos podem ser acompa-
nhados pela sociedade brasileira, no seu conjunto ou em detalhes, em
todas as etapas de execução, inclusive fazendo críticas e sugestões.
Assim, os moradores de uma determinada favela podem saber de
antemão onde irão morar, o tamanho do espaço que irão habitar, e
o que será feito no local de seus antigos barracos. Da mesma forma,
os cariocas e fluminenses saberão como será aplicado a cota-parte
que o Estado tem direito na exploração do petróleo e gás natural da
Plataforma Continental.
Agradecendo a atenção de V.Exas., e desejando que usem o man-
dato que conquistaram democraticamente nas urnas, para dar ao
Brasil uma oportunidade de aplicar com propriedade os recursos
advindos da exploração de nossas reservas de petróleo e gás natural,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
236
REFERÊNCIAS
237
O Autor
João Gilberto Parenti Couto nasceu em Pedrão, município de
Maria da Fé-MG, em 1o de maio de 1937. Geólogo pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), turma de 1971, executou traba-
lhos de mapeamento geológico básico nos Estados de Mato Grosso
e Minas Gerais para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(CPRM) e de prospecção mineral, no Estado de Minas Gerais, para
a empresa Metais de Minas Gerais S/A (METAMIG) e sua sucesso-
ra, a Companhia Mineradora de Minas Gerais (COMIG). Viajou
pela África do Sul e Zâmbia a fim de estabelecer critérios litoestra-
tigráficos e metalogenéticos de comparação Brasil-África. Cursou o
Centre d’Enseignement Supérieur en Exploration e Valorisation de
Ressources Minerales (CESEV), em Nancy-França. Exerceu o cargo
de Diretor de Geologia e Recursos Minerais na Secretaria de Esta-
do de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos de Minas Gerais
(SEME). Atuou como representante da SEME na Comissão Técnica
Intergovernamental encarregada de elaborar a proposta de zonea-
mento ecológico-econômico e o sistema de gestão colegiado da Área
de Proteção Ambiental Sul – Região Metropolitana de Belo Horizon-
te (APA-SUL-RMBH).
Apresentou trabalhos em congressos e simpósios de geologia,
possui artigos publicados em revistas especializadas e tese defendida
no exterior. Fora do campo da geologia, publicou pela Mazza Edi-
ções, de Belo Horizonte-MG, os livros: Projeto Brasil (duas edições-
1996/2000); Os 7 Pecados da Capital (2003); A Revolução que Var-
gas não Fez (2004); Brasil país do presente – o futuro chegou (2004);
Operação Senzala (2004); Acorda Brasil (2004); Decifrando um
enigma chamado Brasil (duas edições-2005/6); A Ferrovia de Dom
Bosco – A viga mestra da comunidade sul-americana de nações (duas
edições-2006/7), O Brasil das Profecias – 2003/2063 – Os Anos Deci-
sivos (2008) e A Realização das Profecias de Dom Bosco - 2003/2063
- Os Anos Decisivos (2009). Obras disponíveis na Internet (www.do-
miniopublico.gov.br): Decifrando um enigma chamado Brasil (2006)
e O Brasil das Profecias – 2003/2063 – Os Anos Decisivos (2008).
238
<a rel=”license” href=”http://creativecommons.org/licen-
ses/by-nc-nd/2.5/br/”><img alt=”Creative Commons Li-
cense” style=”border-width:0” src=”http://i.creativecom-
mons.org/l/by-nc-nd/2.5/br/88x31.png” /></a><br /><span
xmlns:dc=”http://purl.org/dc/elements/1.1/” href=”http://purl.
org/dc/dcmitype/Text” property=”dc:title” rel=”dc:type”>A
Mensagem Codificada sobre o Brasil nas Profecias de Dom
Bosco e outros temas brasileiros e sul-americanos</span> is
licensed under a <a rel=”license” href=”http://creativecom-
mons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/”>Creative Commons
Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a
Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License</
a>.
239