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João Gilberto Parenti Couto

A Mensagem Codificada sobre


o Brasil nas Profecias
de Dom Bosco
e outros temas brasileiros e sul-americanos

BELO HORIZONTE
2009
1
“Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.”
Castro Alves

Copyright © 2009 by João Gilberto Parenti Couto


Todos os direitos reservados
Terceira Edição Revista e Ampliada

Diagramação:
Elizabeth Miranda

Revisão:
Ana Emília de Carvalho

Capa:
Túlio Oliveira

Produção Editorial:
Mazza Edições Ltda.
Rua Bragança, 101 – Bairro Pompeia – Telefax: (31) 3481-0591
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e-mail: edmazza@uai.com.br
www.mazzaedicoes.com.br

Proibida a reprodução total ou parcial.


Os infratores serão processados na forma da lei.

2
sumário

Prefácio..........................................................................................7

O BRASIL DAS PROFECIAS


A Nova Canaã...........................................................................9
Caraíbas – Os Profetas Primitivos............................................9
São Brandão – O Profeta do “Achamento”................................10
Os Portugueses – Os Descobridores do Paraíso.........................11
A Aliança Renovada................................................................12
AS PROFECIAS DE DOM BOSCO
Introdução..............................................................................15
Um Sonho de Dom Bosco......................................................16
Dom Bosco Sonhou Brasília?...................................................20
Outras Profecias sobre Brasília................................................24
A Realização das Profecias......................................................26

A MENSAGEM CODIFICADA
A Geração Excluída (1823/1883)............................................29
A Primeira Geração (1883/1943).............................................29
A Segunda Geração (1943/2003).............................................30
A Terceira Geração (2003/2063).............................................30
Identidade Cultural..................................................................32

A FERROVIA TRANSCONTINENTAL DOM BOSCO


O Eixo Central........................................................................39
A Defesa da América do Sul....................................................41
A Via Leste...............................................................................41
O Desenvolvimento Econômico e Social do Continente...........42
A Variante “A”.......................................................................43
3
A Preservação do Tríplice Ecossistema Sul-Americano............44
A Variante “B”........................................................................45
O Fortalecimento do Mercosul................................................46

A FESTA VAI COMEÇAR!


Cidadania................................................................................48
Saúde Pública de Qualidade................................................49
Sistema Prisional Federalizado.............................................49
Sistema Judiciário Federalizado..........................................50
Sistema de Transporte Organizado e Eficiente....................51
Moradia Decente e Saneamento Básico...............................51
Planejamento Estratégico para a Valorização da Cidadania.......52
Lotes Urbanizados e Erradicação de Favelas..............................55

AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010


Ditadura ou Democracia?......................................................58
A Opinião do Senador Marconi Perillo....................................66
A Opinião de Bernie Ecclestone...............................................68
A Síndrome de Eva Perón........................................................70
Reformas Políticas...................................................................72
A Candidatura Própria do PMDB...........................................74
Plano de Metas do Governo JK...............................................77

OS DESAFIOS DO PRÓXIMO PRESIDENTE


A Reforma do Sistema Judiciário.............................................83
A Hora e a Vez dos Ditadores...............................................85
A Escandalosa Situação Legal do Distrito Federal....................86
A Atualização do Plano Piloto de Brasília.............................87
O Melancólico Fim do Projeto Urbanístico de Belo Horizonte.....88
Os Malefícios da Atual Política de Tombamento..................89
A Moralização no Trato da Coisa Pública...............................91

O COLAPSO DAS INSTITUIÇÕES


A Falência Moral do Senado da República.............................94
O Culto à Personalidade..........................................................96
Entrevista do Senador Jarbas Vasconcelos..............................100
4
Pronunciamento do Senador Jarbas Vasconcelos...................104
A Hidra do Palácio do Planalto...............................................105
Lula tornou-se um presidente terceirizado do PMDB.............107
O Eixo do Poder....................................................................109

TEMPOS DE VIOLÊNCIA
A Raiz da Violência no Oriente Médio..................................112
Os Benefícios para a Humanidade da Destruição do
Templo de Jerusalém por Tito...........................................113
Armagedom - Um Processo em Andamento...........................113
A Visita do Presidente Iraniano ao Brasil
e as Reações da Comunidade Judaica...............................114
Telavive de Olho na América Latina......................................118
A Visita do Chanceler Israelense e a Participação do Brasil
no Processo de Paz no Oriente Médio...............................122

AS LIÇÕES DA HISTÓRIA
Flávio Josefo..........................................................................125
A Destruição de Jerusalém Pelos Romanos no Ano 70 d.C....126
As Profecias sobre a Destruição do Templo de Jerusalém.......127
O Testemunho de Flávio Josefo.............................................128
O Amargo Regresso..............................................................128
As Sementes da Destruição....................................................130

PREPARANDO-SE PARA A GUERRA


A Guerra de Canudos e a Realidade Atual...............................132
Censo da Juventude.............................................................137
Bases Militares Norte-Americanas na Colômbia...................140
Estratégia Nacional de Defesa...............................................144
O Processo de Seleção de Novos Aviões de Caça da FAB...........146
O Boi de Piranha e a Armadilha do Presidente Hugo Chavez..149
A Criação do Banco do Sul e a Ferrovia Transcontinental
Dom Bosco.......................................................................152

5
Os benfícios do Pré-sal e a Ganância do Governador
Sérgio Cabral....................................................................156
Transporte Alternativo de Óleo e Gás do Pré-Sal...................162
Hidro-Helicópteros.............................................................163
A Presença de Gás Hélio na Bacia do Rio São Francisco
em Minas Gerais...............................................................165
A Era do Pré-Sal e os Biocombustíveis ..................................167
As Novas Tecnologias e a Produção de Biodiesel...................168
A Síndrome do Sapo Fervido.................................................170

EDUCAÇÃO: O CALCANHAR DE AQUILES DA


SOCIEDADE BRASILEIRA
Introdução............................................................................172
Os Sabotadores da Escola Pública.....................................172
As Causas do Fracasso da Escola Pública no Brasil...............173
Uma Disputa de Poder e Prestígio..........................................174
A Ordem dos Templários......................................................176
A Ordem de Cristo................................................................177
O Poder da Igreja na América Latina....................................177
O Poder da Igreja no Brasil...................................................178
A Separação da Igreja do Estado...........................................179
A Reação do Clero Católico..................................................180
Uma Interpretação Tendenciosa............................................182
O Combate à Escola Pública na República Velha...................185
A Criação da Rede Particular de Ensino..................................188
Advento da Revolução de 30................................................189
A Capitulação de Vargas.......................................................190
A Vitória da Igreja e a Derrota da Escola Pública..................191

CARTAS CIDADÃS AOS POLÍTICOS E


GOVERNANTES......................................................................192

REFERÊNCIAS.........................................................................237
O Autor.................................................................................238

6
Prefácio

As profecias de Dom Bosco sobre a América do Sul são


interpretadas nesta obra à luz de uma mensagem codificada
sobre o Brasil, passada a esse santo, em seu sonho visionário,
por um ser etéreo “de beleza sobre-humana, todo radiante de
viva luz, mais clara que a do sol”. A decodificação dessa men-
sagem mostra que os anos de 2003/2063 serão decisivos para
o Brasil e a América do Sul, quando este continente se trans-
formará numa terra prometida onde mana leite e mel.
Esse presságio alvissareiro é confirmado por outras pro-
fecias sobre a Terra Brasilis, assunto abordado no primeiro
capítulo, O Brasil das Profecias. No capítulo seguinte, As Pro-
fecias de Dom Bosco, o sonho visionário desse santo é anali-
sado com base nos dados disponíveis em publicações diversas,
principalmente no trabalho do Padre José de Vasconcellos, O
Centenário de um sonho, publicado no Boletim Salesiano, em
1983.
No terceiro capítulo, A Mensagem Codificada, são reve-
lados os segredos confiados a Dom Bosco por um emissário
divino que o guiou em seu sonho premonitório. Essa interpre-
tação foi divulgada pela primeira vez em 2006 em um livro de
minha autoria, intitulado A Ferrovia de Dom Bosco, publica-
do pela Mazza Edições, Belo Horizonte - MG.
No quarto capítulo, A Ferrovia Transcontinental Dom
Bosco, são feitas algumas considerações sobre possíveis traça-
dos dessa ferrovia e as implicações econômicas, sociais e estra-
tégicas para o Brasil e para a América do Sul.
7
No quinto capítulo, A Festa Vai Começar!, o assunto tra-
tado diz respeito à cidadania, enfatizando os pontos chaves
para que esse direito possa ser exercido por todos os brasi-
leiros, nos novos tempos profetizados por Dom Bosco. Nos
sexto, sétimo e oitavo capítulos, são abordadas as seguintes
questões: As Eleições Presidenciais de 2010, Os Desafios do
Próximo Presidente e O Colapso das Instituições, que são fun-
damentais para que esses novos tempos se tornem realidade..
Nos capítulos nono (Tempos de Violência), décimo (As
Lições da História) e décimo primeiro (Preparando-se para a
Guerra), são analisados as raízes da violência no Oriente Mé-
dio e a participação dos judeus nesse processo, o significado
para a humanidade da destruição do templo de Jerusalém por
Tito no ano 70 d.C., e as consequências desses eventos profé-
ticos para o Brasil e a América do Sul.
No décimo segundo, e último capítulo, Educação – O
Calcanhar de Aquiles da sociedade brasileira, o assunto tra-
tado é a educação, objeto da vida e obra de Dom Bosco. Esta
abordagem é mais do que uma homenagem a este educador.
É um alerta para os professores e professoras, que devem re-
fletir sobre essa questão e analisar o porquê do fracasso da
escola pública em nosso País. Neste particular, a Igreja Ca-
tólica Apostólica Romana precisa fazer um mea-culpa e pro-
curar corrigir erros do passado, em que pese a contribuição
das congregações religiosas como os Salesianos de Dom Bos-
co. Igual procedimento deve ser adotado pela elite brasileira,
que também precisa refletir sobre sua responsabilidade nesse
assunto, principalmente os artistas, esportistas e os intelectu-
ais, letrados que tudo sabem e tudo podem, pois são mestres
na manipulação dos bastidores do poder, para disso tirarem a
melhor proveito para seus projetos pessoais, que rotulam de
incentivos e difusão da cultura entre os pobres.

8
O BRASIL DAS PROFECIAS

A Nova Canaã

O Brasil, se levarmos em conta os fatos ligados à sua


história, parece ser um país marcado para ser uma nova Ca-
naã, terra onde mana leite e mel, pois, além da bíblica terra
prometida, é o único território cuja ocupação foi precedida
de sinais e procurado por povos peregrinos que ansiavam por
uma terra abençoada e cuja posse foi assegurada por promes-
sas divinas. No caso da terra de Canaã, este compromisso está
no livro do Gênesis (Gn 12, 1-9) e, no que diz respeito à Terra
Brasilis, a partilha foi referendada pelo Tratado de Tordesilhas
e sacramentada pela bula do Papa Júlio II, investido de po-
deres celestiais (Mt 16, 18-19). Em ambos os casos, os novos
posseiros portavam bandeiras que os identificavam, como está
registrado no Livro dos Números (Nm 2) e nos anais da his-
tória do Brasil.

Caraíbas – Os Profetas Primitivos

Do livro A Viagem do Descobrimento (BUENO, 1998),


extraímos os seguintes trechos, para que tal colocação seja
bem compreendida:
Os indígenas, com os quais Nicolau Coelho travou o primeiro con-
tato, eram, se saberia mais tarde, da tribo tupiniquim. Pertenciam
à grande família Tupi-Guarani que, naquele início do século XVI,
9
ocupava praticamente todo o litoral do Brasil. Os tupiniquins eram
cerca de 85 mil e viviam em dois locais da costa brasileira: no sul da
Bahia, da altura de Ilhéus até a foz do rio Doce (já no atual estado
do Espírito Santo), e numa estreita faixa entre Santos e Bertioga, no
litoral norte de São Paulo. Como os demais tupis-guaranis, tinham
chegado às praias do Brasil, movidos não apenas por um impulso
nômade, mas por seu envolvimento em uma ampla migração de fun-
do religioso. Partindo de algum ponto da bacia do rio Paraná, no
território hoje ocupado pelo Paraguai (ainda que alguns estudiosos
acreditem que o movimento talvez tenha começado na Amazônia),
os tupis-guaranis iniciaram uma longa marcha em busca da Terra
Sem Males. Liderados por profetas – chamados de Caraíbas –, eles
haviam chegado à costa brasileira ao redor do ano 1000 da Era
Cristã. (p. 91).

São Brandão – O Profeta do “Achamento”

A ilha do Brasil, ou ilha de São Brandão, ou ainda Brasil de São


Brandão, era uma das inúmeras ilhas que povoam a imaginação e a
cartografia européias da Idade Média, desde o alvorecer do século
IX. Também chamada de “Hy Brazil”, essa ilha mitológica, “resso-
nante de sinos sobre o velho mar”, se “afastava” no horizonte sem-
pre que os marujos se aproximavam dela. Era, portanto, uma ilha
“movediça”, o que explica o fato de sua localização variar tanto de
mapa para mapa. Segundo a lenda, Hy Brazil teria sido descoberta
e colonizada por São Brandão, um monge irlandês que partiu da
Irlanda para alto-mar no ano de 565. Como São Brandão nasce-
ra em 460, ele teria 105 anos quando iniciou sua viagem. O nome
“Brazil” provém do celta bress, que deu origem ao verbo inglês to
bless (abençoar). Hy Brazil, portanto, significa “Terra Abençoada”.
Desde 1351 até pelo menos 1721 o nome Hy Brazil podia ser visto
em mapas e globos europeus, sempre indicando uma ilha localizada
no oceano Atlântico. Até 1624, expedições ainda eram enviadas à
sua procura. (p. 13).

10
Os Portugueses – Os Descobridores do Paraíso

Mas para todos os efeitos legais, essa mitológica ilha já


havia sido “achada” pelos portugueses em 1500, que a batiza-
ram de “Ilha de Vera Cruz” – Cabral, ao avistá-la, chamara-a
de “Terra de Vera Cruz” –, posteriormente rebatizada de “Ter-
ra de Santa Cruz”. O duplo nome atribuído à nova terra tem
ligação com sua dupla unção batismal, pois a primeira missa
foi celebrada numa ilha (Coroa Vermelha), no dia 26 de abril
(domingo da Pascoela), e a segunda, no continente no dia 1o
de maio. O rito de sagração da nova terra está descrito em
detalhes na carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de
Portugal. Este documento, único na literatura universal, e que
todo brasileiro deveria ter uma cópia, representa na verdade
a Certidão de Nascimento do Brasil, pois foi lavrada por um
funcionário público no desempenho de suas funções. Nela é
narrado, passo a passo, tudo o que se passou a partir de 21
de abril, quando se notou os primeiros sinais de terra, as algas
chamadas de botelho e rabo-de-asno, até o dia 1o de maio,
quando foi celebrada a missa no continente e encerrada a mis-
são do “achamento”. Pelos trechos seguintes, extraídos dessa
carta, pode-se notar o quanto o sagrado prevaleceu sobre o
profano nesses dias cerimoniosos, quando a deposição de ar-
mas e o desarmamento de espíritos assinalaram o encontro
pacífico entre povos belicosos, prenunciando assim a vocação
brasileira de integrar raças diferentes em um convívio harmo-
nioso, no qual a miscigenação será seu traço mais marcante.
A narrativa da segunda missa exemplifica o espírito de paz e
confiança mútua, reinantes nesse encontro entre povos de for-
mação e origens diferentes, e da própria humanidade com suas
raízes. Na realidade, o que os portugueses descobriam foi o
paraíso perdido, ainda intacto e habitado pelos filhos de Adão
e Eva sem vestígios da queda; portanto, um convite à miscige-
11
nação, a qual foi praticada sem muita hesitação, tornando o
Brasil um caso singular na história universal.

A Aliança Renovada

Narra Caminha (TUFANO, 1999):


Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primei-
ramente lhe pregaram, armaram um altar ao pé dela. Ali disse missa
o padre Henrique, a qual foi cantada e oficiada pelos religiosos e
sacerdotes. Ali na missa estiveram conosco cerca de cinqüenta ou
sessenta deles, que ficaram de joelhos, assim como nós. E quando se
chegou ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos
levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando
assim até que se acabasse; e então tornaram-se a assentar como nós.
E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se
puseram todos assim como nós estávamos, com as mãos levantadas
e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez
muita devoção. (p. 56).
Acabada a pregação, como Nicolau Coelho trouxesse muitas cruzes
de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra viagem
(alusão à viagem de Vasco da Gama às Índias, em 1498, da qual
Nicolau Coelho participara), decidimos colocar uma no pescoço de
cada um. Para isso, o padre frei Henrique se assentou ao pé da cruz
e ali passou a colocar no pescoço de cada um deles uma cruz atada
em um fio, fazendo que primeiro a beijassem e levantassem as mãos.
Muitos vieram e foram assim colocadas todas as cruzes, umas qua-
renta ou cinqüenta. (p.58).
Pelo que se deduz dessa cerimônia, não só a nova terra
foi consagrada a Deus, mas seus habitantes também o foram,
tudo sob um céu onde uma grande cruz presidia esse ritual
cheio de significado, a qual, nessa ocasião, fora batizada por
Mestre João, o astrônomo da missão, como informa Bueno
(1998, p. 105): “De fato, naquela noite, ao observar as estrelas
do Hemisfério Sul, Mestre João chamaria sua principal conste-
lação de Cruzeiro do Sul”.
12
Tais acontecimentos indicam, também, que tanto o con-
tinente como a plataforma continental brasileira foram aben-
çoados em nome de um Deus que presidiu a conquista dos
portugueses, congregados que estavam na Ordem de Cristo,
sob cujo pavilhão e símbolo tomaram posse da nova terra, em
uma ilha (Coroa Vermelha) situada na faixa de Dom Bosco
(15/20o S), onde foi celebrada a primeira missa.
De acordo com Pero Vaz de Caminha (TUFANO,
1999):
No domingo da Pascoela, pela manhã, determinou o Capitão de ir
ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capitães
que se arranjassem nos batéis e o acompanhassem. E assim foi feito
[...] Naquele ilhéu, mandou armar um pavilhão e, dentro dele, um
altar muito bem preparado. E ali, na presença de todos, mandou
rezar missa, a qual foi rezada pelo padre frei Henrique, em voz en-
toada, e acompanhada com aquela mesma voz pelos outros padres e
sacerdotes. A missa segundo meu parecer, foi ouvida por todos, com
muito prazer e devoção. O Capitão estava com a bandeira
da Ordem de Cristo, com a qual saiu de Belém. Ela esteve sempre
levantada, da parte do Evangelho. (p. 38-39).
Contrastando com essa estada tranquila e a perenidade
do símbolo que marcou o nascimento de uma nação predes-
tinada, a constelação do Cruzeiro do Sul, a continuação da
viagem dos portugueses ao Oriente foi atribulada e assinalada
pela fugaz passagem de um cometa, como informa um dos tri-
pulantes da esquadra cabralina (relação do piloto anônimo):
“Aos 12 dias do dito mês de maio, apareceu em nosso trajeto,
rumando em direção à Arábia, um cometa com uma cauda
muito comprida, que nos acompanhou durante oito ou dez
noites”.
A simbologia dos eventos que marcaram a rápida pas-
sagem (Páscoa) dos portugueses pela Terra Brasilis, que teve
início no Bairro de Belém em Lisboa, com um ritual de bên-
ção da bandeira da Ordem de Cristo, e término nas costas
13
brasileiras, após uma travessia que durou toda uma quaresma
(Tempo de Penitência – quarenta dias que representam os 40
anos da caminhada dos hebreus pelo deserto), pode ser resu-
mida num ato singelo: a distribuição aos nativos da nova terra
das “muitas cruzes de estanho com crucifixos”, portadas por
Nicolau Coelho. Se essas cruzes sobraram no Oriente, onde
não prosperaram, aqui, ao contrário, foram todas plantadas
e produziram abundantes frutos, tornando o Brasil a maior
nação cristã do mundo.
Concluindo, é bom lembrar que a primeira missa não
foi celebrada no continente e sim no seu vestíbulo, o Ilhéu de
Coroa Vermelha, onde foi desfraldada a bandeira da Ordem
de Cristo, e a segunda, no continente, onde foi plantada a Cruz
de Cristo, reproduzindo assim o ritual de sagração da Terra
de Canaã, ocorrida por ocasião da viagem dos israelitas pelo
deserto (Êxodo) e a parada que aí fizeram para serem purifica-
dos, antes de entrarem nessa Terra Prometida. Este ritual está
simbolizado nas duas tendas erguidas no deserto (Hb 9, 1-5),
onde um vestíbulo, “o Santo” (primeira tenda, onde se encon-
trava o candelabro), precedia “o Santo dos Santos” (segunda
tenda, abrigo da arca da aliança), e repetido com os mesmo
detalhes no Templo de Jerusalém e nas igrejas católicas. Esse
duplo ritual de sagração se repetiu também por ocasião da
construção de Brasília, quando foram celebradas duas missas.
A primeira, no “deserto”, a pedido de Bernardo Sayão (vide
capitulo seguinte), e a segunda, “oficial”, na inauguração da
cidade, a mando do seu construtor-mor, o Presidente Juscelino
Kubitschek.

14
AS PROFECIAS DE DOM BOSCO

Introdução

Embora mais de um século se tenha passado desde a che-


gada dos Salesianos ao Brasil e do sonho de Dom Bosco, no
qual vaticinou um futuro brilhante para a congregação que
fundou e para a terra que os acolheu, a Terra Brasilis, esta
secular ordem religiosa ainda não se dignou a brindar o povo
brasileiro com uma versão em português do texto integral des-
se sonho, anotado pelo Padre Lemoyne e corrigido pelo pró-
prio Dom Bosco. Na falta desse texto, e como diz o dito po-
pular – Quem não tem cão caça com gato –, vamos ao gato,
no caso, o econômico artigo do Padre José de Vasconcellos,
O Centenário de um sonho, publicado no Boletim Salesiano
(edição brasileira, ano 33, n. 4, jul./ago. 1983, p. 6-11). Neste
artigo, com cinco capítulos, o então Diretor do Centro Sale-
siano de Documentação e Pesquisa, de Barbacena-MG, dedica
os três primeiros para analisar esse Sonho no contexto dos So-
nhos de Dom Bosco e os últimos para o Sonho propriamente
dito. Estes dois capítulos finais – Um sonho de Dom Bosco e
Dom Bosco Sonhou Brasília? – estão a seguir reproduzidos na
íntegra com os mesmos títulos.
Dom Bosco – João Belchior Bosco – nasceu em Becchi
(Castelnuevo d’Asti), norte da Itália, a 16 de agosto de 1815.
Fundou a Ordem dos Salesianos (Sociedade Salesianos de Dom
Bosco e Filhas de Maria Auxiliadora). Faleceu em Turim, a 31
de janeiro de 1888, aos 72 anos. Foi canonizado em 1o de abril
de 1934, pelo Papa Pio XI.
15
Um Sonho de Dom Bosco

Na noite que precede a festa de Santa Rosa de Lima (30


de agosto) tive um sonho”. Assim começa Dom Bosco a narrar
um de seus sonhos mais famosos, tido em 1883, um mês e pou-
co depois da chegada dos primeiros Salesianos ao Brasil.
Cecília ROMERO publicou, em 1978, esplêndido estudo
sobre “Os Sonhos de Dom Bosco”. Porque se tratava de edi-
ção crítica, restringiu-se a estudar somente 10 sonhos, tidos
entre 1870 e 1887, porque deles poderia ter à mão versão ma-
nuscrita atribuível a Dom Bosco, por dois títulos: ou porque
inteiramente redigida de próprio punho, ou porque chegada
até nós em manuscritos de outrem, mas cuja revisão final é
garantida por apostilas da mão de Dom Bosco.
Esse é exatamente o caso do sonho de 30 de agosto: ma-
nuscrito do P. Lemoyne com correções do próprio punho de
Dom Bosco; e é sobre o texto crítico de Romero que nos base-
aremos para a tradução de alguns trechos do sonho. Porque é
quase impossível publicá-lo aqui na íntegra; ele sozinho ocu-
paria boa parte deste Boletim Salesiano: são quase dez páginas
das Memórias Biográficas, formato 210 x 140 mm, tipo 6 com
as linhas não intercaladas (Vol. XVI, p. 385-394).
Contou-o Dom Bosco numa reunião do Capítulo Geral
da Congregação, no dia 4 de setembro daquele ano. O Pe.
Lemoyne, que recolhia as memórias do Santo, transcreveu-o
imediatamente e submeteu-o à correção de Dom Bosco.
“Percebi que estava dormindo e parecia-me, ao mesmo
tempo, correr a toda velocidade, a ponto de me sentir cansado
de correr. (...) Enquanto hesitava se se tratava de sonho ou
realidade, pareceu-me entrar em um salão, onde se achavam
muitas pessoas, falando de assuntos vários”.
E o Santo reproduz profusamente o assunto da conver-
sa.
16
“Nesse ínterim, aproxima-se de mim um jovem de seus
dezesseis anos, amável e de beleza sobre-humana, todo radian-
te de viva luz, mais clara que a do sol”.
O misterioso guia o acompanhou durante toda a fantás-
tica viagem e se apresenta como amigo seu e dos Salesianos;
vem, em nome de Deus, dar-lhe um pouco de trabalho.
“Vejamos de que se trata. Que trabalho é este?”.
– Sente-se a esta mesa e puxe esta corda.
No meio do salão havia uma mesa, sobre a qual estava
enrolada uma corda. Vi que a corda estava marcada com li-
nhas e números, como se fôra uma fita métrica. Percebi mais
tarde que o salão estava situado na América do Sul, exata-
mente sobre a linha do Equador, correspondendo os números
impressos na corda aos graus geográficos de latitude”.
Segue a narração de uma vista de conjunto da América
do Sul, esclarecendo o Santo:
“Via tudo em conjunto, como em miniatura. Depois,
como direi, pude ver tudo em sua real grandeza e extensão. Fo-
ram os graus marcados na corda, correspondentes exatamente
aos graus geográficos de latitude, que me permitiram gravar
na memória os pontos sucessivos que visitei na segunda parte
do sonho.
Meu jovem amigo continuava: Pois bem, estas monta-
nhas são como balizas, são um limite. Entre elas e o mar está
a messe oferecida aos Salesianos. São milhares, são milhões de
habitantes que esperam o seu auxílio, aguardam a fé. Aquelas
montanhas eram as cordilheiras da América do Sul e o mar o
Oceano Atlântico.”
Prossegue o sonho mostrando a Dom Bosco como conse-
guiria guiar tantos povos ao rebanho de Cristo.
“Eu ia pensando: mas, para se conseguir isso, vai ser pre-
ciso muito tempo. Exclamei, então, em voz alta: não sei o que
pensar. Porem, o moço ajuntou, lendo meus pensamentos:
17
– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.
– E qual será a segunda geração, perguntei.
– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.
– E quantos anos compreendem cada geração?
– Sessenta anos.
– E depois?
– Quer ver o que sucederá depois?
Venha cá.
E, sem saber como, encontrei-me numa estação ferroviá-
ria.
Havia muita gente. Embarcamos.
Perguntei onde estávamos. Respondeu o jovem:
– Note bem! Observe! Viajaremos ao longo da cordilhei-
ra. O sr. tem estrada aberta também para leste, até ao mar. É
outro dom de N. Senhor. Assim dizendo, tirou do bolso um
mapa, onde vi assinalada a diocese de Cartagena. Era o ponto
de partida.
Enquanto olhava o mapa, a máquina apitou e o comboio
se pôs em movimento. Viajando, meu amigo falava muito, mas
nem tudo eu podia entender, por causa do barulho do trem.
Aprendi, no entanto, coisas belíssimas e inteiramente novas
sobre astronomia, náutica, meteorologia, sobre a fauna, a flo-
ra e a topografia daqueles lugares, que ele me explicava com
precisão maravilhosa.
Ia olhando através das janelas do vagão e descortinava
variadas e estupendas regiões. Bosques, montanhas, planícies,
rios tão grandes e majestosos que eu não era capaz de os crer
assim tão caudalosos, longe que estavam da foz. Por mais de
mil milhas, costeamos uma floresta virgem, inexplorada ainda
agora. Meus olhos tinham uma potência visual surpreendente,
não encontrando óbice que os detivesse de estender-se por to-
das aquelas regiões. Não só as cordilheiras, mas também as ca-
deias de montanhas isoladas naquelas planuras intermináveis
18
eram por mim contempladas (o brasil?) [Sic: com ponto de in-
terrogação e com inicial minúscula, no manuscrito original].
Tinha debaixo dos olhos as riquezas incomparáveis deste
solo que um dia serão descobertas. Via numerosas minas de
metais preciosos, filões inexauríveis de carvão, depósitos de
petróleo tão abundantes como nunca se encontraram em ou-
tros lugares.
Mas não era ainda tudo. Entre o grau 15 e o 20 havia
uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um
ponto onde se forma um lago. Disse então uma voz repetida-
mente: quando se vier cavar as minas escondidas no meio deste
montes (desta enseada), aparecerá aqui a terra prometida, que
jorra leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”.
Continua a viagem, ao longo da cordilheira, rumo ao
sul; continua a descrição das regiões da bacia do Prata, dos
Pampas e da Patagônia, até Punta Arenas e o Estreito de Ma-
galhães. “Eu olhava tudo. Descemos do trem”. Voltando-se
para o jovem guia, Dom Bosco lhe diz:
“Já vi bastante. Agora leva-me a ver os meus Salesianos
da Patagônia. Levou-me. Eu os vi. Eram muitos, mas eu não
os conhecia e entre eles não havia nenhum dos meus antigos
filhos. Todos me olhavam admirados e eu lhes dizia: “Não me
conheceis? Não conheceis Dom Bosco?
– Oh Dom Bosco! Nós o conhecemos, mas só de retrato.
Pessoalmente, é claro que não.
– E D. Fagnano, D. Lasagna, D. Costamagna, onde es-
tão?
– Não os conhecemos. São os que para cá vieram em
tempos passados, os primeiros Salesianos que vieram da Euro-
pa. Mas já morreram há muitos anos!
A esta resposta eu pensava cheio de espanto: – Mas isto
é um sonho ou uma realidade? E batia as mãos uma contra a
outra, tocava os braços, me sacudia todo, e ouvia o barulho
19
das mãos e sentia o meu corpo. Estava nesta agitação quando
me pareceu que Quirino tocasse às Ave-Marias da manhã; mas
tendo despertado, percebi que eram os sinos da paróquia de
São Benigno. O sonho tinha durado a noite toda.

Dom Bosco Sonhou Brasília?

Como podemos observar, no que possa aplicar-se a Bra-


sília, o sonho fixa, com clareza pouco freqüente nas chamadas
visões imaginárias, três pontos: tempo, lugar, evento anuncia-
do. Só para o terceiro a linguagem é simbólica:
a) Tempo
Recordemos o diálogo do sonho:
– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.
– Qual será a segunda geração?
– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.
(E Dom Bosco, querendo ainda mais clareza):
– Quantos anos compreendem cada geração?
– Sessenta anos.
Se a primeira destas gerações começou em 1883, ano do
sonho, a segunda teve início sessenta anos depois, em 1943,
e se estende até o ano 2003. A construção e consolidação de
Brasília estão assim bem dentro do período anunciado: entre
1943 e 2003.
b) Lugar
Dom Bosco localizou o evento na faixa compreendida
pelos paralelos 15 a 20, entre a Cordilheira dos Andes e o Oce-
ano Atlântico. Exatamente onde foi instalada a nova Capital
do Brasil.
c) Evento anunciado
Embora o Leit-motiv do sonho seja o futuro missionário
da Congregação na América do Sul, Dom Bosco viu incidental-
20
mente também outras coisas, tanto rios caudalosos e florestas
imensas, como minas de ouro, de pedras preciosas, depósitos
de petróleo. (Monteiro Lobato, a este respeito, cita o sonho
numa de suas obras). Creio, pois, poder afirmar que ele viu,
em 1883, o que hoje começamos a ver no Brasil.
Reforça a convicção o teor mesmo do texto, embora em
estilo simbólico; em nenhum outro ponto da referida faixa
continental um acontecimento como a construção de Brasília
obteve repercussão maior no progresso e na riqueza de um
país.
Convém, no entanto, recordar aqui, como elemento para
a História, o nascedouro desta interpretação do sonho. Não é
devida aos Salesianos, como poderia parecer.
No início da construção da nova Capital, quando a pro-
eza parecia estranha e temerária à maioria dos brasileiros, o
Dr. Segismundo Mello, Procurador do Estado de Goiás, e resi-
dente hoje em Brasília, bateu à porta do Ateneu Dom Bosco de
Goiânia com uma dúvida e um pedido: era verdade que Dom
Bosco, em sonho, havia antevisto Brasília? Onde obter o texto
do sonho?
Nenhum salesiano do Ateneu sabia de nada!
O fato é menos estranhável do que poderia parecer à pri-
meira vista: a biografia completa de Dom Bosco, com o título
de Memorie Biografiche, tem 16.130 páginas e ocupa 19 alen-
tados volumes escritos em italiano; não há tradução portu-
guesa. Nada de admirar, portanto, se a maior parte dos atuais
Salesianos não a tenha lido nunca por inteiro, ou por falta de
tempo ou (os das gerações mais novas) por já não dominarem
completamente a língua. As pequenas biografias escritas em
português não contam senão um ou outro dos sonhos de Dom
Bosco. Não este, que é muito grande.
Mas o Diretor do Ateneu, P. Cleto Caliman, pôs-se a vas-
culhar nas Memórias Biográficas e lá encontrou, no vol. XVI,
21
o texto integral do sonho de 1883. Nele, sob a guia de um jovem
amigo já falecido, Luiz Colle, Dom Bosco fez a fantástica via-
gem pela América do Sul, resumida no item 4 deste estudo.
Ao verificar que Brasília estava situada justamente entre
os paralelos 15 e 20 e que o tempo coincidia com o previsto no
sonho, os defensores de Brasília, com o Dr. Segismundo à fren-
te, encheram-se de entusiasmo e de certezas. Bernardo Sayão,
um dos pioneiros, logo arranjou ocasião e pretexto para uma
Missa, que os salesianos do Ateneu celebraram, sem alarde,
no desértico planalto entrevisto no sonho. Foi, na realidade, a
primeira Missa de Brasília.
Israel Pinheiro que, por intermédio de um tio Padre,
Mons. Pinheiro, Cooperador salesiano, tinha velhas afinida-
des com Dom Bosco, vibrou, e imediatamente comunicou a
descoberta ao Presidente Juscelino Kubitschek. Este, dramati-
camente necessitado de apoios para sua obra grandiosa, tratou
logo de fazer expor na sala principal do Catetinho o trecho do
Sonho possivelmente referente a Brasília, emoldurado em qua-
dro que ainda lá se acha e parece ter-se inspirado no texto para
a frase famosa que se encontra gravada no seu monumento da
Praça dos Três Poderes: “Deste Planalto central...”
A fim de colocar sob a proteção do Santo os trabalhos
da construção da nova Capital, Israel Pinheiro fez questão de
empregar o primeiro ferro e o primeiro cimento chegados ao
canteiro de obras na construção de uma ermida votiva a Dom
Bosco, desenhada por Niemeyer. Fé-la reproduzir, anos mais
tarde, em escala menor, na sua residência oficial de Prefeito de
Brasília, a Granja do Ipê. Bom mineiro, quis em seguida con-
ferir, com os próprios olhos, o manuscrito original do sonho,
cuja cópia xerox me fez requisitar à Casa Mãe dos Salesianos
na Itália.
Como conseqüência de tudo isto, a cidade nasceu embala-
da na certeza de ter sido sonhada por um santo e é por isso que
a devoção a Dom Bosco é tão popular entre os brasilienses.
22
Quando, em 1961, chegou a hora de escolher Patrono
litúrgico para ela, a Autoridade eclesiástica local, com muito
acerto, pensou em Nossa Senhora Aparecida. Mas, por coinci-
dência (ou “elegância da Divina Providência”, como costuma-
va dizer o Papa Pio XI), nesta data, eram ex-alunos salesianos
o Presidente da República, Jânio Quadros (ex-aluno do Colé-
gio S. Joaquim, de Lorena, SP), o Prefeito Paulo de Tarso (ex-
aluno do Colégio Dom Bosco, do Araxá, MG) e o Presidente
da Novacap Randall Espírito Santo Ferreira (ex-aluno do Gi-
násio Salesiano de Silvânia, GO). Os três ex-alunos, atendendo
também a apelo unânime da população em minuta preparada
por quem escreve este estudo, firmaram juntos petição à Santa
Sé para que S. João Bosco fosse declarado Co-Patrono da Ci-
dade, o que veio a acontecer.
Deste modo, no último domingo de agosto, dia festivo
mais próximo à data do famoso sonho, os brasilienses, tendo
à frente o seu Arcebispo, organizam, todos os anos, piedosa
romaria à ermida de Dom Bosco.
Em conclusão, se repetirmos a pergunta: “Dom Bosco
Sonhou Brasília?”, creio se possa responder:
1. É certo que o Santo, no “sonho” de 1883, pensou no
Brasil: lá está explicita a alusão, embora em forma inter-
rogativa, no manuscrito do sonho tido pelos entendidos
como o mais autêntico. (Há vários outros)
2. É igualmente certo que o lugar e o tempo coincidem ple-
namente, sem qualquer ginástica exegética, com os da
construção de Brasília.
3. Quanto ao evento anunciado (grande riqueza, progres-
so), estou atento à advertência da lógica escolástica sobre
a falácia possível no argumento: “depois disto, logo, por
causa disto”: Post hoc, ergo propter hoc. Mas há, inega-
velmente, relação de causa e efeito entre a transferência
23
da Capital e o surto de progresso que se deu no País a
partir daquela realização, não só na região Centro-Oes-
te, como seria de esperar, mas no Brasil como um todo.
Só não o vêem os que não querem ver; os dados e as es-
tatísticas estão aí, à vista de todos.
4. Seria indevido pedir maior clareza e mais especificação
num sonho-visão. Manifestações como estas, como as
dos profetas da Escritura, são de sua natureza imaginá-
rias, envoltas em expressões ora obscuras, ora simbólicas,
que se prestam a mais de uma interpretação. Mas ainda
assim, sobre o essencial, como vimos, há mais clareza
neste “sonho” do que em geral nas previsões deste tipo.
5. Convém ainda não esquecer que Dom Bosco nunca este-
ve na América, não tinha maiores estudos de Geografia,
e que os mapas da época, sobretudo os das regiões extra-
européias, eram bastante incompletos e vagos.

Em tempo:

a) Os representantes mais altos da Congregação Salesia-


na e seus melhores estudiosos jamais se pronunciaram sobre o
assunto e a reação de seus Superiores Maiores a este respeito
foi sempre de reticência. O escrito acima representa opinião
estritamente pessoal.
b) Uma advertência aos angustiados com a situação atual
do País: – a segunda geração, preanunciada no sonho para o
advento de uma era de prosperidade e riqueza, só termina no
ano 2003. Até lá... nada se perde em esperar para conferir.

Outras Profecias sobre Brasília


Sobre Brasília eis o que diz Eduardo Bueno, em seu livro
Brasil: Uma História:
24
Era uma cidade longamente profetizada. Já em 1883, ela aparece
reluzente, nas visões do santo italiano João Bosco. Um século an-
tes, fizera parte dos sonhos libertários dos inconfidentes, fulminados
em 1789. Em 1813, o jornalista Hipólito José da Costa, redator do
Correio Brasiliense, editado em Londres, deu novo alento à idéia
de transferir a capital do Brasil para o interior, “junto às cabeceiras
do Rio São Francisco”. No início de 1822 surgiria, em Lisboa, um
livreto, redigido nas Cortes, determinando que, “no centro do Bra-
sil, entre as nascentes dos confluentes do Paraguai e do Amazonas
fundar-se-á a capital do Brasil, com a denominação de Brasília”. No
mesmo ano, após a Independência, José Bonifácio defenderia, na
Constituinte, a idéia de erguer a nova capital “na latitude de 15o, em
sítio sadio, ameno, fértil e regado por um rio navegável”. Em 1852,
o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen tornou-se o principal
defensor de Brasília e, em 1877 seria o primeiro a viajar ao Planalto
Central tentando demarcar o ponto ideal.
Achou-o “no triângulo formado pelas lagoas Formosa, Feia e Mes-
tre d’Armas, pelo fato de fluírem para o Amazonas, o São Francisco
e o Prata”. Proclamada a República, o artigo 3o da nova Constitui-
ção estabeleceu que a capital de fato seria mudada para o Planalto
Central. Por isso, em 1892, à frente da recém-formada Comissão
Exploradora do Planalto Central, o cientista Luís Cruls demarcou
“um quadrilátero de 14.400 quilômetros para nele ser erguida a
nova cidade”. Em 1922, o presidente Epitácio Pessoa baixou um de-
creto determinando que no dia 7 de setembro daquele ano (centená-
rio da Independência) fosse assentada a pedra fundamental da nova
capital, na cidade de Planaltina (GO), localizada no “quadrilátero
Cruls”, hoje perímetro urbano de Brasília. A idéia de transferir a ca-
pital para os longínquos descampados do cerrado seria mantida nas
constituições de 1934 e de 1946. Mas só começou de fato a sair do
papel no dia 4 de abril de 1955, num comício em Jataí (GO), quando
o então candidato à Presidência Juscelino Kubitscheck decidiu fazer
a mais óbvia das promessas de campanha: jurou que iria “cumprir
a Constituição”. Então, como o próprio JK conta no livro Por que
construí Brasília, algo de surpreendente aconteceu – e mudou os des-
tinos do Brasil.
De acordo com JK, ao final do comício em Jataí, “uma voz forte se
impôs” e o interpelou. “O senhor disse que, se eleito, irá cumprir

25
rigorosamente a Constituição. Desejo saber se pretende pôr em prá-
tica a mudança da capital federal para o Planalto Central”. JK olhou
para a platéia e identificou o interpelante: era um certo Toquinho.
Embora considerasse a pergunta embaraçosa e já tivesse seu Plano
de Metas pronto, JK respondeu que construiria a nova capital. A
partir daí, Brasília virou a “meta-síntese” de seu governo. Ao as-
sumir a Presidência, apresentou o projeto ao Congresso como fato
consumado. Em setembro de 1956, foi aprovada a lei nº 2.874 que
criou a Cia. Urbanizadora da Nova Capital. As obras se iniciaram
em fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados
de “candangos”. Os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa fo-
ram encarregados de projetar a cidade “futurista”. (BUENO, 2002,
p. 352-353).

A Realização das Profecias

As visões de Dom Bosco sobre a Terra Brasilis, a exem-


plo de Brasília, parecem que já se estão tornando uma realida-
de, como indicam as descobertas de petróleo e gás natural do
pré-sal, e de gás na Bacia do São Francisco, e do maior reser-
vatório de água doce da América do Sul, na Bacia do Paraná,
o Aquífero Guarani.
Sobre as ocorrências de gás de petróleo da Bacia do São
Francisco, segue abaixo alguns trechos de interessante artigo
do ex-Ministro de Minas e Energia, Paulino Cícero de Vascon-
celos, publicado no Jornal Estado de Minas (4/6/2003, p.9)
sob o título O gás do São Francisco, que liga esse fato ao so-
nho de Dom Bosco:
Um dos maiores geólogos do País, Carlos Walter Marinho Campos,
que no ano passado recebeu post-mortem, a medalha Eschwege do
governo mineiro, foi o homem que levou a Petrobrás para o mar. [...]
Quando assumi a Secretaria de Minas do governo Itamar, já apo-
sentado da Petrobrás, Carlos Walter, com minha presença, instalou
em Ouro Preto o Núcleo de Engenharia de Petróleo (Nupetro), que

26
somava o notório potencial de duas renomadas instituições: a Escola
de Minas, na área de geologia, e a Escola Federal de Engenharia de
Itajubá (EFEI), em eletricidade e mecânica. Neste dia, com a simpli-
cidade que contrastava os títulos tantos que acumulara no Brasil e
no exterior, Carlos Walter me dizia que a bacia hidrográfica do São
Francisco pode esconder um oceano de gás. É uma unidade geotec-
tônica proterozóica – dizia-me. Não deve ter óleo, mas certamente
conterá muito gás natural de petróleo, exatamente como ocorre na
Sibéria e no Mar Amarelo da China, que são, também, bacias prote-
rozóicas, formada a mais de 500 milhões de anos. [...] É rezar para
que as coisas se apressem e aconteçam. Aliás, falando em rezar, isso
me lembra o jornalista Jorge Faria, como eu, ex-aluno salesiano.
Ele diz – e jura – que o verdadeiro sonho visionário de Dom Bosco
sobre o Centro-Oeste brasileiro não era Brasília. Era e é o gás do
São Francisco.
Para completar essas observações, poderíamos acrescen-
tar que, na faixa de Dom Bosco (15o / 20o S), existe outros sí-
tios que se encaixam nas descrições do sonho, como o Pantanal
Mato-Grossense e a região andina do Lago Titicaca, os quais,
se pesquisados, poderão apresentar surpresas agradáveis.
Mas é no litoral Atlântico brasileiro que as visões pro-
féticas de Dom Bosco – “Via numerosas minas de metais pre-
ciosos, filões inexauríveis de carvão, depósitos de petróleo tão
abundantes como nunca se encontraram em outros lugares” –
estão se realizando de forma espetacular, como informa o jor-
nalista Antônio Machado, em sua coluna Brasil S/A, no Jornal
Estado de Minas (9/11/2007, p. 14):
Ontem, a Petrobrás anunciou que os testes finais no campo de Tupi,
na Bacia de Santos, comprovaram a existência de reserva explorável
de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo de qualidade, além de
gás, o que alça o país no ranking dos grandes produtores no mundo.
[...] A descoberta faz parte de uma área de 800 quilômetros de ex-
tensão por 200 de largura, indo do litoral do Espírito Santo a Santa
Catarina, território no qual a Petrobrás começou a mapear sozinha
e em associação com sócios (em Tupi, por exemplo, está junto do

27
BG Group, da Inglaterra, dono de 25% da concessão, e da Petrogal/
Gap, de Portugal, com 10%). [...] A reserva encontrada em Tupi está
a 6 quilômetros de profundidade – com 1,5 a 3 km de lâmina d’água
e mais 3 a 4 km de uma espessa camada de sal.
Considerando os dados divulgados pelo governo federal,
segundo os quais o chamado Bloco de Tupi faz parte de um
conjunto de 41 blocos igualmente promissores, portanto em
condições de comportar reservas da ordem de 300 bilhões de
barris, e que blocos semelhantes podem ocorrer nas bacias si-
tuadas a norte e sul da Bacia de Santos, onde o nível de sal é
conhecido, é possível imaginar reservas da ordem de 1 trilhão
de barris, o que coloca o Brasil no topo do ranking dos deten-
tores de grandes reservas de petróleo e gás, pois o potencial
dessa faixa litorânea, de 800 km de extensão por 200 km de
largura, equivale às reservas totais hoje conhecidas em todo o
planeta. Isto sem contar os gigantescos domos de sal descober-
tos na foz do Rio Amazonas, cujo potencial petrolífero ainda
não foi pesquisado.
Essas descobertas provam que as profecias de Dom Bosco
são dignas de fé. E, mais, a localização das reservas de petróleo
e gás do pré-sal foram aí colocadas de forma providencial, pois
estão protegidas por um oceano, e longe da cobiça de outros
países, porém bem próximas do principal centro consumidor
do País, a Região Sudeste. Segundo o presidente da Petrobrás,
José Sergio Gabrielli, (entrevista ao Jornal Estado de Minas,
18/10/2008, p.16), 85% das reservas da companhia e 80% de
suas refinarias estão localizadas nessa região. É uma situação
privilegiada, em todos os sentidos, inclusive para montagem de
um sistema de defensivo contra quaisquer ameaças externas.

28
A MENSAGEM CODIFICADA

“Porém, o moço ajuntou, lendo em meus pensamentos:


– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.
– E qual será a segunda geração, perguntei.
– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.
– E quantos anos compreendem cada geração?
– Sessenta anos.
– E depois?
– Quer ver o que sucederá depois?
Venha cá.”

A Geração Excluída (1823/1883)


(“A presente não conta”)

“A colonização européia, iniciada no período imperial, respondia


a uma atitude comum da oligarquia das nações latino-americanas,
alçada ao poder com a independência: sua alienação cultural que a
fazia ver sua própria gente com olhos europeus.” (RIBEIRO, Darcy.
O Povo Brasileiro, 1995, p. 433.)

A Primeira Geração (1883/1943)


(“Será uma outra”)

“Há uma situação de contradição que é: os descendentes de imigran-


tes que vieram no fim do século, subvencionados, vieram no fundo
dos navios, como gado, porque não cabiam na economia da Europa,
que enfrentava uma crise de desemprego como a nossa hoje. Nós
absorvemos uma dezena de milhões desses imigrantes. Tem muitos

29
que são excelentes, mas outros acreditam que fizeram o Brasil. Eles
vieram subsidiados, o Brasil já existia com suas dimensões, já era
independente. Eles vieram outro dia, mas tinham uma atitude mui-
to besta e começam alguns problemas quando esses bestinhas, que
havia muito em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, começam a
falar dos baianos ou dos pernambucanos ou da gente antiga de sua
própria região. Então o Brasil está vivendo um momento de tensões
que vão dar em diferenças.” (Darcy Ribeiro, entrevista para o Jornal
do Brasil, 3/11/1996, Cad. B, p. 5.)

A Segunda Geração (1943/2003)


(“Depois outra”)

“Se a primeira destas gerações começou em 1883, ano do sonho, a


segunda teve início sessenta anos depois, em 1943, e se estende até o
ano 2003. A construção e consolidação de Brasília estão assim bem
dentro do período anunciado: entre 1943 e 2003.” (Padre José de
Vasconcellos).

A Terceira Geração (2003/2063)


(“Quer ver o que sucederá depois? – Venha cá.”)

O que se segue ao diálogo que abre este capítulo está


descrito no anterior, mas o que queremos ressaltar com essa
análise é o que está acontecendo no presente e o que está para
acontecer nos próximos anos. Segundo o Padre José de Vascon-
cellos, “se a primeira destas gerações começou em 1883, ano
do sonho, a segunda teve início sessenta anos depois, em 1943,
e se estende até o ano 2003”. Com base nessa interpretação,
podemos concluir que, quando o jovem guia de Dom Bosco,
“de beleza sobre-humana, todo radiante de viva luz, mais clara
que a do sol”, diz o que acontecerá depois da segunda geração
– “Quer ver o que sucederá depois? – Venha cá.” –, ou seja,
depois do ano 2003, é que a viagem ferroviária de Dom Bosco,
30
que se segue a esse diálogo, passa-se no tempo atual, época
da terceira geração (2003/2063), a escolhida para construir
essa ferrovia e ocupar o território onde, segundo as profecias,
“aparecerá a terra prometida, que jorra leite e mel”.
A escolha dessa geração não foi casual, pois, de acordo
com a narrativa de Dom Bosco, o emissário divino excluiu
uma geração – “a presente não conta” (1823/1883), ou seja, a
dos imigrantes que aqui chegaram quando o Brasil já era inde-
pendente, porém escravocrata. A partir desta geração, Impe-
rial, seguem-se outras três, Republicanas, cada uma com uma
missão: a primeira (1883/1943) a de fazer uma revolução para
mudar a face escravocrata do Brasil – a Revolução de 30 –; a
segunda (1943/2003), a de edificar Brasília e ocupar o Centro-
Oeste; e a terceira (2003/2063), com o encargo de construir
a ferrovia profetizada por Dom Bosco e povoar sua rota e a
Amazônia, cumprindo assim os desígnios de Deus.
Estas privilegiadas gerações já vêm atuando nesse senti-
do, como demonstra a presença de gaúchos, catarinenses e pa-
ranaenses no Centro-Oeste, no Brasil Central, na Amazônia,
no Nordeste, no Paraguai (brasiguaios) e na Bolívia, descen-
dentes dos imigrantes que não conheceram a escravidão e nem
foram responsáveis por suas mazelas, magistralmente descritas
por Gilberto Freire, em sua monumental obra Casa Grande &
Senzala. Por esta razão, estão livres do ranço escravocrata que
domina certas elites, principalmente as nordestinas, pois es-
tas, diferentemente das mineiras, paulistas e fluminenses, que
tiveram suas mentalidades escravistas modificadas pelas levas
de imigrantes que aportaram ao País no final do século XIX e
início do século XX, ainda adotam uma postura retrógrada no
quadro político nacional.
O Brasil, portanto, encontra-se num momento decisivo
de sua história, cabendo à terceira geração a missão de definir
os rumos do País e quem sairá vencedor nessa disputa: a Casa
31
Grande & Senzala, que se atém a um passado que não volta
mais, ou o Brasil dos Imigrantes, que marcha para frente em
busca de novos horizontes? Todavia, é bom frisar que fato-
res culturais negativos estão influenciando de forma nefasta a
postura de certos políticos do País no trato da coisa pública.
Trata-se da aliança entre os políticos nordestinos, liderados
pelos senadores José Sarney e Renan Calheiros, com os da Re-
gião Norte, para dominarem o Senado da República. A conse-
quência deste ato falho toda nação ficou sabendo no momento
em que foram descobertas um sem-número de falcatruas pra-
ticadas por esses pilantras, que transformaram essa casa do
Congresso num covil de ladrões, onde pontificavam, também,
funcionários desonestos, escolhidos a dedo por esses malfeito-
res para esconderem seus atos criminosos, eufemisticamente
chamados de “atos secretos”, fatos noticiados à exaustão pela
imprensa nacional a partir do primeiro semestre de 2009.

Identidade Cultural

A identidade cultural entre políticos do Nordeste e da


Região Norte do País tem suas raízes no processo de ocupação
da Amazônia pelos nordestinos, que se deu a partir da segunda
metade do século XIX, quando migraram, ou foram forçados
a migrar para essa região, para trabalharem na extração da
borracha silvestre. Esse êxodo se acentuou a partir de 1877
com a grande seca que afetou o Ceará e começou a declinar
após 1911, ano do apogeu do processo extrativista. Dois no-
vos surtos migratórios, induzidos, ocorreram no século passa-
do: nos anos 40, para produzirem borracha, num esforço de
guerra, e nos anos 70, para colonizar essa região e esvaziar o
Nordeste de miseráveis, o que foi tentado com a construção da
Rodovia Transamazônica. O resultado de tudo isso é que os
nordestinos levaram para essa região seus hábitos e costumes,
32
que hoje podem ser observados tanto no folclore, com o boi-
bumbá, como na política, com os desvios de comportamento.
Todavia, esse quadro começou a mudar a partir da Revo-
lução de 1964, quando os generais-presidentes Médici e Geisel,
gaúchos e descendentes de imigrantes, passaram a incentivar a
ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia, pelos sul-rio-gran-
denses, catarinenses e paranaenses. Esse processo migratório
eu pude constatar pessoalmente, quando, como geólogo da
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), em-
presa estatal encarregada de fazer o mapeamento geológico
básico do País, fiz parte da equipe executora do Projeto Alto
Guaporé (1972/1974). Este projeto cobria cerca de 120.000
km2 da região noroeste de Mato Grosso até a fronteira com
a Bolívia, incluindo Cáceres e Barra do Bugres, nas cabeceiras
dos Rios Paraguai e Vila Bela, no alto Guaporé, já na Bacia do
Amazonas.
Durante as campanhas de campo, dois aspectos, não ge-
ológicos, chamavam a nossa atenção: o som das motosserras,
e os povoados com casas de madeira, cobertas com telhas do
mesmo material. A ação dessas máquinas era mais notada na
abertura de fazendas para criação de gado, financiadas pela
Sudam, e em sua maioria propriedade de paulistas. Nos pe-
quenos povoados, a novidade era a presença de gaúchos, cata-
rinenses e paranaenses (a segunda geração – 1943/2003), que,
com suas casas típicas de madeira, tornavam esses centros ur-
banos diferentes dos antigos da região. Outra característica
desses colonos era a fartura da mesa, o que muito nos agrada-
va. A diferença cultural entre os novos povoados e os vilarejos
antigos era marcante, como também a integração que se pro-
cessava, hoje marcada pela presença dos Centros de Tradição
Gaúcha (CTG).
A preocupação dos militares com a integração política,
econômica e cultural do País tem suas raízes em nossa história,
33
como registra em seu livro 1808, o escritor Laurentino Gomes
(p. 328-329):
É preciso levar em conta que, dois séculos atrás, a unidade política
e territorial do Brasil era muito frágil. Uma prova dessa fragilidade
pôde ser medida na própria delegação brasileira enviada a Portugal
para participar das votações das Cortes entre 1821 e 1822. Embora
o Brasil tivesse direito a 65 deputados, só 46 compareceram as ses-
sões em Lisboa, o que os deixava em minoria diante da representa-
ção portuguesa, composta por cem delegados. Apesar da inferiorida-
de numérica, os brasileiros se dividiram nas votações. Os delegados
das províncias do Pará, Maranhão, Piauí e Bahia se mantiveram fiéis
à Coroa Portuguesa e votaram sistematicamente contra os interesses
brasileiros das demais regiões. Numa nova demonstração de falta
de consenso, em 1822 essas províncias do Norte e Nordeste não
aderiram à Independência. D. Pedro I teve de recorrer à força militar
para convencê-las a romper com Portugal. Mesmo assim, o ambien-
te político brasileiro continuaria instável ainda por muitas décadas,
sujeito a inúmeras rebeliões e movimentos separatistas regionais.
Um marco histórico que levará a bom termo o processo
de integração política, econômica e cultural do Brasil, iniciado
em 1500, e que foi acelerado com a construção de Brasília,
eliminando de vez com as diferenças regionais e culturais, será
a construção da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco. Esta
ferrovia, pelo seu traçado e ramificações, coloca-se também
como via de integração de toda a América do Sul, acabando,
consequentemente, com o isolamento histórico entre os países
do continente (Figura 1).
Essa integração, fundamentada na migração interna dos
habitantes de diferentes regiões e países do continente sul-ame-
ricano, será benéfica para todos, como prova a migração dos
descendentes dos imigrantes europeus da região Sul do Brasil,
para o Centro-Oeste, a Amazônia Ocidental, e mesmo para o
Nordeste, quando levaram novos hábitos e costumes, princi-
palmente o de usarem as próprias mãos para criarem rique-
zas, não dependendo de empregados, senão do próprio núcleo
34
familiar. A cultura da soja e a implantação da Escola Pública
de Tempo Integral, com qualidade, são exemplos significativos
que reforçam esses argumentos. Este parágrafo estou acrescen-
tando a esta segunda edição, revista e ampliada, para comentar
um artigo publicado na Revista Veja (7/10/2009, p. 94), sobre
o livro Um Adeus às Esmolas, do escocês Gregory Clark.
O pensamento desse escritor, pelo que foi publicado, tem
tudo a ver com os comentários sobre identidade cultural e ex-
plica, também, por que no Brasil existem três grandes grupos
sociais que se diferenciam pela produtividade e criatividade
nos negócios: os índios, os nordestinos e os descendentes dos
imigrantes europeus que aportaram ao País no final do século
XIX. Segundo esse escritor, como comenta o articulista, “o su-
cesso das nações depende mais das características da popula-
ção do que das instituições”; destacando ainda esse jornalista:
“Para o autor, é a escassez de indivíduos adaptados cultural e
geneticamente à economia de mercado que explica a pobreza
de regiões como a África e América do Sul”. Este é um assunto
aberto à discussão num país como o Brasil, que deve seu suces-
so à miscigenação e que pode contrariar muitas teorias. Como
observa o autor do artigo, Diogo Schelp: “À parte as derrapa-
das na biologia, o mérito de Um adeus às Esmolas está em não
se contentar com as explicações habituais para o sucesso das
nações”.

35
IMIGRANTES

Família Parenti
(Fotografia tirada no início do século XX, em Pouso Alegre-MG)
Savério Parenti e Lucia Guigli Parenti (bisavós do autor) e seus filhos
Giovanni (avô, nascido em Riolunato-Modena), Beatrice e Elisabetta. A
família Parenti deixou a Itália pelo Porto de Gênova, viajando para o
Brasil no navio Les Alpes, chegando à Hospedaria dos Imigrantes em
Juiz de Fora-MG, em 20 de maio de 1897.

36
IMIGRANTES

Família Chiarini
(Fotografia tirada no início do século XX, em Pouso Alegre-MG)
Pietro Chiarini e Francesca Adreucci Chiarini (bisavós do autor) e
seus filhos Francesco, Ângelo e Giuseppe, com suas esposas, Alessandro,
sentado ao lado do pai, e Carolina (avó, nascida em Arezzo-Toscana),
sentada ao lado da mãe. A família Chiarini deixou a Itália pelo Porto de
Gênova, viajando para o Brasil no navio Aquitaine, chegando à
Hospedaria dos Imigrantes em Juiz de Fora-MG, em 3 de agosto de 1897.

37
FIGURA 1

38
A FERROVIA TRANSCONTINENTAL
DOM BOSCO

O Eixo Central

O eixo central imaginado para a Ferrovia de Dom Bosco


(Figura 1), com base no sonho visionário, tem início na cidade
de Cartagena, na Colômbia, e a partir daí segue em direção
a Caracas, na Venezuela, de onde toma o rumo sul, passan-
do sucessivamente pelas cidades brasileiras de Boa Vista-RR,
Manaus-AM, Porto Velho-RO, Cuiabá-MT e Campo Grande-
MS. Desta cidade continua, rumo sul, para Assunção, no Pa-
raguai, e Buenos Aires, na Argentina, de onde prossegue até
atingir seu ponto final em Punta Arenas, no Chile. São cerca de
10.777 km de um percurso que, começando no Mar das Anti-
lhas, no extremo norte da América do Sul, termina no Estreito
de Magalhães, no seu extremo Sul, passando por um território
de topografia favorável, pois em Boa Vista, no extremo norte
da Bacia Amazônica, a altitude é de 85m; altitude que se repete
no extremo sul, em Porto Velho, distante cerca de 1.686 km.
Em Cuiabá, o centro geográfico da América do Sul e divisor de
águas das bacias do Amazonas e do Prata, distante 1.456 km
de Porto Velho, a altitude é de apenas 176m. De Cuiabá para
o Sul, a cota é descendente, pois a região a ser percorrida até
Buenos Aires situa-se na Bacia do Rio da Prata.
Não bastassem esses fatores extremamente importan-
tes para o traçado da ferrovia – fato notado por Dom Bosco:
“Não só as cordilheiras, mas também as cadeias de monta-
39
nhas isoladas naquelas planuras intermináveis eram por mim
contempladas (o brasil?)” –, acresce ainda que, em ambas as
extremidades, ela faz junção com os dois maiores oceanos do
globo, o Atlântico e o Pacífico. No extremo sul, esses ocea-
nos estão ligados pelo Estreito de Magalhães, onde se localiza
Punta Arenas. No extremo norte, em território colombiano,
está projetada a construção de um canal para ligar esses dois
oceanos ao nível do mar. O valor estratégico combinado des-
ses fatores, o Estreito de Magalhães, o Canal Colombiano e a
Ferrovia de Dom Bosco, faz crer que realmente esta ferrovia
transcontinental, que supera a famosa Transiberiana com seus
9.000 km (de Moscou a Vladivostok), é de inspiração divina
e foi concebida para colocar os países da América do Sul num
plano superior no concerto das nações, e protegê-los de amea-
ças externas, como a Quarta Frota americana, reativada para
patrulhar as águas latino-americanas, tornando-as inseguras
ao tráfico marítimo.
Quilometragens (aproximadas)
Cartagena / Fronteira Colômbia-Venezuela......................... 300 km
Fronteira Colômbia-Venezuela / Caracas............................. 800 km
Caracas / Fronteira Venezuela-Brasil................................... 200 km
Fronteira Venezuela-Brasil / Boa Vista-RR.......................... 220 km
Boa Vista / Manaus-AM...................................................... 785 km
Manaus/Porto Velho-RO..................................................... 901 km
Porto Velho/Cuiabá-MT................................................... 1.456 km
Cuiabá / Campo Grande-MS............................................... 694 km
Campo Grande / Ponta Porã-MS (Fronteira com o
Paraguai)............................................................................. 336 km
Ponta Porã (Fronteira com o Paraguai) / Assunçã.................340 km
Assunção / Buenos Aires................................................... 1.345 km
Buenos Aires /Punta Arenas.............................................. 2.400 km
RESUMO
Colômbia............................................................................ 300 km
Venezuela..........................................................................2.000 km

40
Brasil.................................................................................4.392 km
Paraguai.............................................................................. 340 km
Argentina......................................................................... 3.620 km
Chile................................................................................... 125 km
Total............................................................................... 10.777 km

A Defesa da América do Sul

Para evitar o cerco da Quarta Frota americana, e outros


mais, provocados por conflitos bélicos globais, que tornarão os
oceanos zonas de exclusão, a América do Sul tem na Ferrovia
de Dom Bosco, no seu Eixo Central, a principal peça de defesa,
pois, além de ligar o continente de norte a sul pela sua região
central, ela facilitará também o intercâmbio interoceânico, por
meio de conexões transversais ligando o Atlântico ao Pacífico.
Um exemplo dessa ligação é o sistema viário formado pela Inte-
roceânica Sul e a Via Leste, que, quando pronto, ligará os portos
peruano de Ilo, Matarani e San Juan de Marcona, na costa do
Pacífico, à cidade brasileira de Porto Velho, em Rondônia, e daí,
pela Via Leste, até o porto de Recife, no Atlântico. A Interoceâ-
nica Sul é uma rodovia com 2,6 mil km, projetada para atraves-
sar os Andes, passando por Juliaca, Cusco, Puerto Maldonado e
Rio Branco. Outras vias interoceânicas, transversais, como essa,
projetadas ou em construção, reforçarão as ligações entre os
paises sul-americanos, livrando-os de bloqueios de toda espécie
e estimulando a integração regional.

A Via Leste

A Via Leste, pelo que disse o jovem guia de Dom Bos-


co, faz parte do mesmo plano superior: “Note Bem! Observe!
Viajaremos ao longo da cordilheira. O sr. tem estrada aberta
41
também para leste, até o mar. É outro dom de N. Senhor”. Para
seguir para o mar, rumo ao leste, percorrendo em sua maior
extensão esse “outro dom de N. Senhor”, o ponto de partida
situa-se em Porto Velho, em Rondônia, a cidade mais a oeste
do eixo central, e o ponto final na cidade portuária do Recife,
em Pernambuco, no extremo leste do continente. Este trajeto,
praticamente em linha reta, tem cerca de 3.200 km e a topogra-
fia também é favorável, pois em Palmas, capital do Estado do
Tocantins, situada a meio caminho desses pontos extremos, a al-
titude gira em torno de 200m. A distância Porto Velho–Palmas
é de aproximadamente 1.700 km e de Palmas a Recife cerca de
1.500 km. Além disso, Palmas está situada no eixo da Ferrovia
Norte-Sul, a qual com seus 1.550 km, quando prontos, ligará os
Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás ao sistema ferroviário
sul. No seu extremo norte, no Estado do Maranhão, a conexão
se faz com a Estrada de Ferro Carajás, que termina no Porto
de Itaqui, em São Luís. A sinergia entre essas três importantes
ferrovias e seus terminais portuários, somada às demandas do
agronegócio, serão fatores determinantes para transformar o
Brasil Central e o Nordeste em regiões privilegiadas para pro-
duzirem alimentos para um mundo faminto. Como disse o guia
de Dom Bosco: “É outro dom de N. Senhor”.
Quilometragens (aproximadas)
PortoVelho/Palmas........................................................... 1.700 km
Palmas/Recife................................................................... 1.500 km
Total................................................................................. 3.200 km

O Desenvolvimento Econômico e
Social do Continente

Esse “outro dom de N. Senhor” será ainda mais forta-


lecido com a conexão Interoceanica Sul, via que ligará Porto
42
Velho, em Rondônia, ao litoral peruano do Pacífico, assunto
abordado anteriormente. Aqui é bom frisar que Porto Velho,
graças a esse sistema de transporte, mais o Eixo Central e a Va-
riante “A”, está fadada a tornar-se a cidade mais importante
do centro da América do Sul, rivalizando com Buenos Aires,
Brasília e Caracas como polo dinâmico do comércio do conti-
nente. É a nova Roma, para onde todos os caminhos conver-
gem e mercadores de todos os continentes virão para vender
seus produtos e comprar outros, oriundos dos países da costa
do Pacífico, dos Andes, da região subandina, dos Pampas, do
Pantanal Mato-Grossense, do Centro-Oeste e da Amazônia.
Será um entreposto sem rival em todos os continentes, fazen-
do jus às profecias de Dom Bosco, segundo a qual “aparecerá
aqui a terra prometida, que jorra leite e mel. Será uma riqueza
inconcebível”.

A Variante “A”

A Variante “A” é uma alternativa que possibilitará incluir a Bolívia e


norte da Argentina na área de influência da Ferrovia de Dom Bosco.
Essa ligação poderá ser feita a partir da cidade de Porto Velho, no
Estado de Rondônia, onde tem início a Via Leste, seguindo um
traçado que cortará de norte a sul a região subandina da Bolívia, sua
nova fronteira agrícola, passando por Santa Cruz de la Sierra até
atingir a cidade Argentina de Salta, onde fará ligação com o sistema
ferroviário desse país que demanda a Buenos Aires. É uma variante
importante, pois de Porto Velho a Santa Cruz são cerca de 1.000
km, e desta cidade até a divisa com a Argentina outros 600 km.
Desta divisa até Salta, deve-se acrescentar 300 km e, a partir daí, até
Buenos Aires, mais 1.800 km. No total são 3.700 km, sendo 1.900
km de novas ferrovias (625 km no Brasil, 975 km na Bolívia e 300
km na Argentina). Como fator adicional para valorizar a Variante
43
“A”, deve-se ressaltar que, em Santa Cruz de la Sierra, essa variante
fará junção com a ferrovia que, partindo desta cidade, liga o leste
boliviano ao sistema ferroviário brasileiro, em Corumbá, no Estado
de Mato Grosso do Sul, e com o Eixo Central, em Campo Grande,
no mesmo Estado. O percurso total até este ponto é de 1.000 km,
sendo 625 km na Bolívia e 375 km no Brasil.
Quilometragens (aproximadas)
Porto Velho (Brasil) /Santa Cruz (Bolívia)..........................1.000 km
Santa Cruz/Salta (Argentina)............................................... 900 km
Salta/Buenos Aires (Argentina) .........................................1.800 km
Total..................................................................................3.700 km
RESUMO
Brasil....................................................................................625 km
Bolívia..................................................................................975 km
Argentina..........................................................................2.100 km
Total..................................................................................3.700 km

A Preservação do Tríplice Ecossistema


Sul-Americano

O Sistema Ferroviário Dom Bosco, formado pelo Eixo


Central, a Via Leste e as Variantes “A” e “B”, mais as transver-
sais Este-Oeste, que cortarão o continente ligando o Atlântico
ao Pacífico, são de fundamental importância para preservar o
Tríplice Ecossistema Sul-Americano, formado pela América do
Sul, a Antártica e os oceanos adjacentes (Atlântico, Pacífico e
Antártico), particularmente o ecossistema América do Sul, que
compreende outros três com características próprias: os An-
des, a Amazônia Verde e o Complexo Continental; este forma-
do pelos Pampas, o Pantanal Mato-Grossense, a Mata Atlân-
tica, o Cerrado e a Caatinga Nordestina. A preservação destes
três ecossistemas continentais depende fundamentalmente de
44
como se processará, daqui para a frente, a montagem da infra-
estrutura de transporte de cargas e passageiros para fazer face
ao gigantesco desenvolvimento econômico e social dos países
do continente, que advirão com a implantação dos tratados de
integração regional, como o Mercosul.
Neste contexto a ferrovia aparece como a via de transpor-
te mais indicada para preservar o meio ambiente, pois impede
o acesso de pessoas ao longo de seu trajeto, o qual somente
poderá ser feito nos pontos de paradas, as estações, o que não
acontece com as rodovias, que permitem livre acesso ao longo
de todo o seu traçado, inviabilizando quaisquer tentativas de
preservar a natureza de danos de toda a ordem. Diante dessa
situação, já está na hora de os países sul-americanos se reuni-
rem para discutir a implantação de uma malha ferroviária co-
brindo todo o continente, tendo como base o Sistema Ferrovi-
ário Dom Bosco, bem como estabelecer normas operacionais e
padronização de equipamentos para que o tráfego ferroviário
funcione de maneira eficaz, garantido um padrão de qualidade
que supere aquele implantado pelos britânicos na Índia duran-
te o período colonial.

A Variante “B”

A Variante “B” é uma via que já está pronta. Formada


pelo sistema ferroviário brasileiro, ela parte de Campo Grande,
no Estado de Mato Grosso do Sul, rumo ao sul, atravessando
os Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul, até atingir a fronteira com a Argentina, em Uruguaia-
na/Passo de los Libres, num percurso de 2.832 km. Desta cida-
de, onde se conecta com o sistema ferroviário argentino, segue
para Buenos Aires cumprindo um trajeto de aproximadamente
900 km. A partir de Campo Grande, portanto, a Ferrovia de
Dom Bosco bifurca-se, seguindo o Eixo Central para Assun-
45
ção e Buenos Aires, num percurso de 2.021 km, e a variante
“B” pelo sistema ferroviário brasileiro/argentino até atingir o
mesmo destino, totalizando cerca de 3.732 km, onde voltam
a se encontrar para prosseguir numa só via até Punta Arenas,
no Chile. Um ramal adicional, com cerca de 890 km, ligando
Porto Alegre a Montevidéu, colocará também o Uruguai no
roteiro da Ferrovia de Dom Bosco, aumentando ainda mais o
poder de integração continental desta ferrovia e fortalecendo
os laços econômicos do Mercosul.
Quilometragens (aproximadas)
Campo Grande/São Paulo..................................................1.014km
São Paulo /Curitiba.............................................................. 408km
Curitiba /Florianópolis......................................................... 300km
Florianópolis /Porto Alegre................................................... 476km
Porto Alegre /Uruguaiana..................................................... 634km
Uruguaiana/Passo de los Libres /Buenos Aires...................... 900km
Porto Alegre/Montevidéu..................................................... 890km

O Fortalecimento do Mercosul

O Sistema Ferroviário Dom Bosco, em conexão com as


vias transversais Este-Oeste ligando o Atlântico ao Pacífico,
viabilizará de vez a implantação do Mercosul e de um sistema
de defesa continental, livrando os países do continente de toda
sorte de bloqueios e tornando-os livres para negociarem seus
produtos entre si e com o mercado global, sem interferência
de concorrentes de outros continentes. Será uma situação pri-
vilegiada, pois o Brasil, com sua extensa fronteira terrestre,
franqueada aos demais países do continente para livre trân-
sito de pessoas e mercadorias, possibilitará que os habitantes
da costa do Pacífico tenham acesso ao mercado brasileiro, de
onde, inclusive, podem exportar seus produtos para países de
outros continentes. Aqui é bom ressalta que o mercado andino
46
tem cerca de 140 milhões de consumidores. Os habitantes da
costa atlântica, por sua vez, podem fazer o mesmo no sentido
inverso. Além disso, o livre trânsito de sul-americanos pelo ter-
ritório brasileiro e de outros países do continente, possibilitará
não só a comercialização de seus produtos, como também a
chance de buscarem melhores condições de vida, o que evitará
tensões sociais onde a densidade demográfica e carência de
recursos incrementam a pobreza. Essa mobilidade, dentro do
continente, ensejará, também, uma troca de conhecimentos e
de modos de vida que enriquecerá os hábitos e costumes de
todos os povos do continente, realizando, na prática, a tão
desejada integração sul-americana.

47
A FESTA VAI COMEÇAR!

Sim. A festa vai começar. Os tempos de bonança chega-


ram como profetizou Dom Bosco e o verde- amarelo dos trigais
de hastes firmes anuncia que a época da ceifa está próxima e
o porco cevado abatido e esquartejado. Mas como pode haver
festa, se metade da população brasileira ainda vive à margem
da sociedade, por ser pobre e ignorante? Mudar esse quadro é
condição sine qua non para que as profecias se cumpram. Para
isso é necessária uma mudança de mentalidade dos políticos e
governantes, que devem encarar a cidadania como um direito
real e não uma mera manifestação de intenção expressa na
constituição.

Cidadania

Cidadania significa Escola Pública de Tempo Integral,


onde a infância e a juventude possam aprender a exercitá-la
integralmente, saindo daí cidadãos conscientes de seus direi-
tos e obrigações e realizando plenamente suas potencialidades
intelectuais. Se na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, por
exemplo, houvesse uma rede de escolas desse formato, aten-
dendo a toda a comunidade, nenhum governador retardado
ou truculento teria o topete de erguer muros para isolar essa
comunidade da natureza. Proteger a natureza é uma questão
de educação, mas o que o Estado deve proteger, em primeiro
lugar, e acima de tudo, são os cidadãos que não podem ser
48
cerceados em seu direito natural de buscar abrigo onde possa
encontrá-lo. O ser humano, desde os primórdios de sua cami-
nhada neste planeta, sempre buscou espaços para se proteger
e dar segurança à sua família, seja em cima das árvores ou em
cavernas. Graças a essa liberdade de escolha é que a humani-
dade existe e evoluiu. Se no Brasil, até agora, a sociedade não
foi capaz de garantir a todos os brasileiros condições de ha-
bitar com segurança e preservar a natureza, respeitando seus
direitos de cidadãos, já está na hora de refletir a respeito. Sem
educação de base, não é possível edificar um Estado organiza-
do. Esta visão estratégica os países europeus, os Estados Uni-
dos da América, o Canadá e o Japão tiveram no século XIX; a
Rússia, no século XX e, mais recentemente, a China. O Brasil
ainda não esquematizou um plano estratégico para preparar
a geração do pré-sal para administrar e usufruir dessa riqueza
de forma solidária. Já está na hora, portanto, de pôr na mesa
os pontos críticos que comprometem o exercício da cidadania
entre nós e trabalhar para resolvê-los, tais como os abaixo:
– Sistema público de saúde de qualidade, para que as pes-
soas sejam bem atendidas e sintam que têm algum valor, que
são gente, que são cidadãos. Isto implica a existência de hos-
pitais e clínicas padronizadas e bem administradas; de creches
comunitárias, para o atendimento de crianças de 0 a 3 anos de
idade; de clínicas especializadas para o atendimento de gestan-
tes, onde possam receber cuidados pré-natais e acompanha-
mento pós-parto. O descaso como são tratadas essas mulheres
se reflete nos índices de mortalidade das parturientes, que en-
tre nós é um escândalo que não pode mais continuar. Afinal
de contas, para que existe uma tal de “Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres” da Presidência da República? É só
para correr atrás de maridos espancadores?;
– Sistema prisional federalizado, com a criação da Guar-
da Carcerária Federal, para que todos aqueles que cometem
49
algum delito recebam, em qualquer ponto do País, um trata-
mento uniformizado que preserve a dignidade de cidadãos que
são, apesar de tudo. Aqui é bom lembrar o tratamento que São
Paulo apóstolo recebeu ao ser preso em Jerusalém e identificar-
se como cidadão romano perante as autoridades desse impé-
rio, e o pavor dessas autoridades em desrespeitar esse direito
considerado sagrado. Aliás, o próprio Cristo, guia espiritual
de São Paulo, já ressaltava esse direito ao ser questionado so-
bre qual era o maior Mandamento da Lei de Deus, responden-
do simplesmente que era amar a Deus sobre todas as coisas e
amar o próximo como a si mesmo, o que dava no mesmo. Ou
seja, respeitar o direito de cada um; isto, evidentemente, onde
os direitos humanos são respeitados, o que não é o caso do
Brasil. Claro! A propósito, para que existe uma tal “Secretaria
Especial de Direitos Humanos” da Presidência da República?
É só para pagar indenizações para a classe média que se meteu
com os militares? Se a causa para isso foi violação dos direitos
humanos, imaginem o que o Estado brasileiro terá de pagar
se essa secretaria aplicar os mesmos critérios com os presos
comuns que superlotam os presídios espalhados pelo País e
sofrem toda sorte de humilhações?;
– Sistema Judiciário federalizado e reestruturado de alto a
baixo, para acabar com a vergonhosa situação atual, onde mi-
lhões de processos, fala-se em cinquenta, estão parados na Jus-
tiça à espera de julgamento. Falar em direitos humanos numa
situação como essa é uma piada de mau gosto. Diante desse
quadro, os políticos e governantes ainda não se deram conta de
que é preciso fazer, rapidamente, uma mudança total no Sistema
Judiciário nacional? Por que não analisam o Sistema Judiciário
da Comunidade Europeia? Portugal, por exemplo, que nos legou
essa estrutura arcaica, foi obrigado a fazer uma reforma radical
no seu Sistema Judiciário para ser admitido nessa comunidade
de nações, principalmente, porque, lá como cá, havia processos
50
parados à espera de julgamentos por décadas. Pressionados, es-
vaziaram as prateleiras e passaram a respeitar os direitos dos
cidadãos, coisa que até então ignoraram;
– Sistema de transporte urbano organizado e eficiente,
para que cada cidadão exerça suas atividades com dignidade
e presteza, evitando ser tratado como gado, fato corriquei-
ro observado nos ônibus e trens urbanos das capitais e regi-
ões metropolitanas, isto sem contar a falta de um mínimo de
planejamento em escala nacional para unificar todos os proce-
dimentos e meios utilizados nesses tipos de transporte, como
ônibus padronizados, abrigos, também padronizados, para os
pontos de parada, mapas com trajetos das linhas nesses locais,
etc. Em Belo Horizonte, por exemplo, nos últimos vinte anos,
tenta-se colocar em circulação um tipo de ônibus padronizado,
de piso baixo e motor traseiro, para facilitar o acesso e maior
conforto dos usuários, principalmente das pessoas idosas, além,
é óbvio, dos próprios motoristas. Esta iniciativa não prosperou
por pressão das concessionárias, pois, segundo informações dos
motoristas, este tipo de chassi não se presta a uma reciclagem
para reaproveitá-los como caminhões de carga quando forem
retirados das linhas e tais ônibus são de manutenção mais cara.
A falta de compromisso das autoridades do município com os
direitos dos cidadãos liquidou com essa iniciativa, que agora só
serve para ser lembrada em épocas de eleição;
– Moradia decente e saneamento básico, para que todos
os brasileiros habitem em residências com espaço e o conforto
mínimos, situadas em bairros bem estruturados, com escolas,
hospitais, água tratada, esgoto sanitário, ruas pavimentadas,
sistema de coleta de lixo bem organizado, etc. Para isso, bas-
tam competência e recursos financeiros. Este, dentro de pouco
tempo, não irá faltar, pois o pré-sal já começa a mostrar seu
cacife, mudando as regras do jogo financeiro nacional. Aqui
podemos dizer que o porco cevado já está abatido e esquarte-
jado, falta servi-lo aos comensais que estão morrendo de fome
51
em favelas situadas nos morros, debaixo de viadutos, às mar-
gens das rodovias, enfim, alhures, e carentes de tudo. Quanto
à competência, o furo é mais embaixo, pois sem escolas não há
quadros suficientes para administrar o País com eficiência. Um
exemplo dessa lacuna é a atual geração de políticos. Mas há
tempo para isso, se as autoridades competentes investirem ma-
ciçamente recursos financeiros na educação, de tal forma que a
terceira geração de brasileiros esteja preparada para conduzir
o País nos novos tempos profetizados por Dom Bosco.

Planejamento Estratégico para


aValorização da Cidadania

Belo Horizonte, 28 de maio de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,
para as entidades empresariais FIEMG e FIESP, e para os Ministros
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim.

Assunto: As eleições presidenciais de 2010 e a necessidade de um


planejamento estratégico para pôr ordem no caos urbano e valorizar
a cidadania.

Prezados(as) Senhores(as),

Há poucos dias (23/5), enviei a V. Exas. uma carta tratando das


eleições presidenciais de 2010 e do Plano de Metas do Governo JK.

52
Hoje gostaria de abordar a necessidade de um planejamento estraté-
gico para pôr ordem no caos urbano das cidades e metrópoles brasi-
leiras e valorizar a cidadania. Este duplo objetivo pode ser alcançado
desde que se busque soluções para eliminar os aspectos negativos
envolvidos nessa questão: o crescimento desordenado dos centros
urbanos, a favelização das regiões metropolitanas, o saneamento bá-
sico deficiente, os péssimos serviços de utilidade pública – transporte
urbano, saúde e educação básica – e a proteção precária do meio
ambiente. Para isso é preciso em primeiro lugar ter em mãos, lite-
ralmente, um mapa da situação. Este instrumento existe e se chama
Geographic Information Systems (GIS), ou Sistema de Informação
Geográfica (SIG). Este sistema de informações georeferenciadas as-
socia o uso de imagens de satélites com dados computadorizados
de naturezas diversas, permitindo uma gama variada de estudos e
planejamentos, expressos na forma de mapas temáticos que podem
ser manipulados das mais variadas formas, em função da escala ado-
tada e dos objetivos visados.
Hoje em dia, esse instrumento, o SGI, é utilizado em grau variável
por diversos órgãos públicos, federais, estaduais e municipais, além
da iniciativa privada, que dele se beneficia em larga escala. Mas o
que está faltando ao setor público, relativamente ao assunto trata-
do nesta carta, é um maestro para reger essa orquestra, onde cada
músico toca a seu modo, resultando numa cacofania que incomoda
os ouvidos do povo, que não consegue entender a letra e o tom des-
sa música, chamada cidadania, que os políticos apregoam ter uma
melodia agradável. Os participantes desta orquestra, principalmen-
te os representantes do Governo Federal, como os Ministérios das
Cidades, dos Transportes, da Saúde, da Educação e do Meio Am-
biente, entre outros, precisam formar um comitê, à semelhança do
Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de De-
fesa, que foi presidido pelo Ministro da Defesa e coordenado pelo
Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos; dele fazendo
parte os Ministros da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Ges-
tão e da Ciência e Tecnologia, além dos Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica, assessorados pelos Estados-Maiores,
que formulou a atual Estratégia Nacional de Defesa para cobrir os
próximos cinquenta anos. Para formular uma Estratégia Nacional
para pôr Ordem no Caos Urbano e Valorizar a Cidadania, igual-
mente cobrindo os próximos cinquenta anos, seguindo esse modelo,

53
o primeiro passo é formar um comitê presidido pelo Ministro Chefe
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República,
assessorado pelos presidentes do Instituto Nacional de Pesquisas Es-
paciais (INPE), e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE); dele fazendo parte os ministros das Cidades, dos Transpor-
tes, da Saúde, da Educação e do Meio Ambiente.
Utilizando o SGI, as imagens de satélites do INPE e os dados do
IBGE, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Re-
pública montará um Banco de Dados para dar suporte a cada um
desses ministérios na formulação de suas políticas setoriais de forma
integrada. Para isso, cada ministério criará seu próprio Banco de
Dados e estimulará os Estados e Municípios a fazerem o mesmo, de
tal forma que se crie uma rede integrada em nível federal, estadual e
municipal operando um mesmo sistema georefenciado de informa-
ções. Com esse suporte básico, qualquer ator do processo poderá
visualizar a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo,
em toda a sua inteireza, como favelas, matas, localização das es-
colas publicas, saneamento básico, etc. Com esses dados em mãos,
os interessados podem planejar o remanejamento dos moradores de
determinada favela para conjuntos residenciais na própria área e o
replantio de árvores nos locais dos barracos desocupados, além de
traçar a nova rede de água tratada e esgotos sanitários, bem como a
construção de escolas e outros serviços públicos para atender à nova
disposição dos moradores. Esse tipo de exercício de planejamento
poder ser feito tanto para uma região metropolitana, respeitando
os limites de cada município, como para municípios isolados, ou
abrangendo uma determinada bacia hidrográfica, como a Bacia do
Rio das Velhas, que drena a Região Metropolitana de Belo Horizon-
te, por exemplo.
Em todos os casos, tanto em nível federal, como estadual ou muni-
cipal, os interessados, inclusive a população, podem acompanhar as
intervenções setoriais e opinar a respeito, pois esses dados devem ser
disponibilizados pela Internet. Tal facilidade permitirá também que,
nas conferências e discussões sobre determinada matéria, os pales-
trantes ilustrem suas exposições com imagens de satélites e mapas
temáticos, inclusive detalhes, como a de uma determina escola que
precisa de reformas, etc., simplesmente utilizando-se dos recursos
disponíveis nesse sistema. São muitas e variadas as formas de se uti-

54
lizar do SGI para planejar as ações do Estado, seja em escala global,
abrangendo numa só imagem o conjunto do País, ou do continente
sul-americano, seja em escalas métricas, precisas, utilizando do Sis-
tema de Posicionamento Global (GPS), permitindo ainda uma retro-
visão de um foco desejado e projeções desse ponto para o futuro,
simplesmente tratando as informações armazenadas em bancos de
dados. Portanto, ao se falar em planejamento estratégico, é preciso
utilizar as ferramentas que estão mudando o mundo, os satélites arti-
ficiais e os recursos da informática, combinados no SIG, e trabalhar
em equipe. Como lembra A Síndrome do Sapo Fervido (Rev. Tec. e
Treinamento, n.31, p. 45), “O desafio maior, nesse mundo de mu-
danças constantes, está na humildade de atuar de forma coletiva”.

Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-


zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Lotes Urbanizados e Erradicação de Favelas


Belo Horizonte, 18 de junho de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília - DF

Assunto: Lotes urbanizados do Programa “Minha Casa, Minha


Vida”. Com cópia para o Exmo. Sr. Ministro de Assuntos Estratégi-
cos, Mangabeira Unger.

Prezado Senhor Presidente,

O Jornal Estado de Minas, em sua edição de ontem, dia 17 (p.13),


traz a seguinte notícia sobre o assunto em epígrafe, a respeito da
qual gostaria de dar algumas sugestões:

55
“O Senado Federal aprovou ontem a medida provisória que
criou o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Os
senadores mantiveram no texto alterações feitas pela Câma-
ra, como a inclusão da permissão da compra de lotes urba-
nizados dentro do programa. Agora, o texto final vai para a
sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a mu-
dança, ficou permitida a compra de lotes para que ganha até
seis salários mínimos. O projeto aprovado também permitiu
saque do FGTS para a compra de lotes urbanizados, também
limitada à faixa de até seis salários mínimos.”
A minha sugestão é no sentido de que a Caixa Econômica Federal,
ao financiar a compra de lotes urbanizados, entregue gratuitamente
ao tomador do empréstimo, cuja intenção é construir sua residência
nesse lote, uma planta devidamente assinada por técnico habilitado
e aprovada pelos órgãos públicos competentes que regem o assunto,
tudo sem ônus para o interessado. Essas medidas, além de baratear
o custo da construção, livrarão os interessados da via-crúcis que é a
legalização de uma construção e a obtenção do respectivo “Habite-
se”. Estas exigências, pela complexidade e entraves burocráticos,
acabam levando muitos pessoas a construírem, na surdina, estrutu-
ras precárias sem nenhuma segurança, comprometendo, inclusive,
todos os parâmetros de planejamento urbano.
Para evitar esses males, no caso dos lotes urbanizados, a concessão
do “Habite-se”, por exemplo, deve ser concedida em caráter precá-
rio, desde o momento em que o interessado entrar na posse do seu
lote. A explicação para esta antecipação reside no fato de que os
maiores interessados nesse tipo de aquisição serão os favelados, que,
por experiência própria, sabem muito bem os sacrifícios e o tempo
que serão necessários para construir uma residência habitável. Seu
maior desejo, como de todo cidadão, é ter um espaço próprio, le-
galizado, onde possa construir seus sonhos. O lote urbanizado é o
primeiro passo na realização desses sonhos.
Para dar início à construção da projetada casa, seguindo a planta
fornecida pelo agente financeiro, o Governo Federal permitirá ao in-
teressado, para facilitar sua vida, erguer no lote adquirido um barra-
co provisório, de madeira, ou armar uma tenda de lona, para morar
no local enquanto constrói, por conta própria, a morada definitiva.
Para isso, no entanto, o interessado deverá providenciar, previamen-

56
te, instalações hidráulicas e rede de esgoto sanitário conectadas à
rede urbana.
Como a compra de lotes urbanizados, dentro do programa habita-
cional, guarda características especiais (preço e prazo de entrega)
mais atrativas do que a aquisição de casas prontas, é previsível que
essa modalidade venha a tornar-se a preferida entre os favelados,
inclusive porque já sabem muito bem como trabalhar todo tipo de
material de construção para edificar uma casa, em qualquer tipo de
terreno, não importando o seu tamanho. Essa experiência é muito
valiosa dentro de uma filosofia empresarial do tipo “faça você mes-
mo”, a qual deve ser explorada, por meio de propaganda massiva,
para acelerar a venda de lotes urbanizados e, consequentemente, a
desfavelização das capitais brasileiras e suas regiões metropolita-
nas.
Além disso, essa propaganda deve mostrar aos interessados, princi-
palmente aos analfabetos, via TV, vídeos, etc., como interpretar uma
planta e os passos necessários à conclusão da obra. Daí a necessida-
de de um planejamento estratégico a curto, médio e longo prazos,
para explorar todas as possibilidades dessa vertente do programa
habitacional, pois, além de envolver milhões de pessoas, mudará
para sempre o aspecto desolador das cidades brasileiras e dará início
a um novo padrão de comportamento que tem, na iniciativa própria
e na manipulação de dados técnicos, o motor do desenvolvimento
econômico e social do País.
Agradecendo a atenção de V. Exa. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.

Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

57
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010

A terceira geração de brasileiros tem a responsabilidade de


escolher um Presidente da República capaz de conduzir o Brasil,
nos próximos anos, para a realização de todas as suas potencia-
lidades como profetizou Dom Bosco; tema abordado em cartas
enviadas a políticos e governantes, a seguir transcritas.

Ditadura ou Democracia?
Belo Horizonte, 24 de abril de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF

Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,


para as entidades empresariais FIEMG e FIESP, e para os Ministros,
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger e da Defesa, Nelson
Jobim.

Assunto: Ditadura ou Democracia? Qual o melhor caminho para o


Brasil superar a crise de credibilidade que afeta os três Poderes da
República e se preparar para as eleições de 2010?

Prezados(as) Senhores(as),

58
Ultimamente a imprensa tem denunciado uma série de irregulari-
dades nas duas casas do Congresso Nacional, resumida, com pro-
priedade, pelo jornalista Renato Scapolatempore, em sua coluna no
Jornal Estado de Minas (20/4/2009, p. 2):
“Para não perder o costume, Câmara e Senado foram palco
de mais um escândalo esta semana. Desta vez, o que começou
com um anúncio da redução de 20% dos gastos com passa-
gens aéreas pelos deputados e senadores – o que aparente-
mente seria uma medida moralizadora – acabou trazendo à
tona a informação de que parentes e amigos dos parlamenta-
res estão voando pelo mundo graças a passagens pagas pelo
Congresso. Turismo à custa do dinheiro do contribuinte. Pior:
turismo agora legalizado por atos das mesas da Câmara e do
Senado. Como se não bastasse, descobriram que existe ainda
uma verdadeira máfia atuando nos gabinetes. As primeiras
suspeitas dão conta de que passagens das cotas de deputados
tenham sido negociadas com agências de viagens por valores
mais baixos e depois revendidas a turistas comuns. Ninguém
vai ser preso por isso e certamente ninguém sofrerá qualquer
punição. Nas próximas semanas, com os próximos escânda-
los, a farra das passagens cairá no esquecimento, assim como
ocorreu com as irregularidades no uso das verbas indeniza-
tórias; com o pagamento de horas extras a funcionários nas
férias; com o uso ilegal de apartamentos funcionais; e com a
descoberta de que o diretor geral do Senado vive numa man-
são de R$ 5 milhões não declarada ao fisco. Por falar em es-
cândalos, alguém se lembra de algum projeto importante que
o Congresso tenha votado este ano?”

Para arrematar esse balanço sinistro, como uma pá de cal, só mais


um comentário, o do colunista Baptista Chagas de Almeida (Jornal
Estado de Minas, 18/4/2009, p. 2): “Garibaldi Alves (PMDB-RN),
ex-presidente do Senado que autorizou o pagamento de R$ 118 mil
em passagens à viúva de Jefferson Peres (PDT-AM), diz estar ‘aflito’,
mas avisa que não vai pedir o dinheiro de volta. Então tá! Já a viúva
de Jefferson Peres é mais direta e sincera que os senadores. Diz, pura
e simplesmente, que o Senado é ‘um mar de lama’. Alguém discor-
da?”
59
Ante esse estado de coisas, a pergunta que se faz é: o Parlamento
atual, contaminado por escândalos de toda a ordem, inclusive no seu
quadro funcional, tem condições morais e operacionais de propor
medidas moralizantes no trato da coisa pública para si próprio e
para toda a nação e trabalhar para implantar as reformas estruturais
de que o País necessita? A resposta é não, por vários motivos. O
Senado, por exemplo, não mais representa a Nação, pois virou um
feudo nordestino, graças à esdrúxula escolha de seus representantes
– três por Estado –, o que garante a aliança Norte/Nordeste maioria
nessa Casa, que utilizam para atender a seus interesses paroquiais,
sem levar em conta os da Nação. Para agravar essa situação, cerca
de 1/3 dos senadores não foram eleitos pelo voto popular. São os
chamados “suplentes” que representam tão somente quem os esco-
lheu, quase sempre oligarcas regionais (manjados até no exterior),
a quem servem com fidelidade canina, fato sobejamente conhecido
por toda a sociedade.
Mas se o Congresso Nacional, particularmente o Senado, não é capaz
de representar a Nação e agir rapidamente em defesa dos interesses do
povo brasileiro, e o presidente da República, por sua vez, acomoda-se
diante desta situação, o que fazer? A resposta está em se adotar um re-
gime ditatorial, como faziam os romanos em casos de crises e perigos
iminentes: “Em Roma, a ditadura era confiada, em ocasiões excepcio-
nais e por seis meses, a um magistrado escolhido pelos cônsules por
indicação do senado. Detentor da totalidade dos poderes executivos,
o ditador governava só, uma vez que as outras magistraturas ficavam
suspensas” (Delta Larousse, 1979, p. 2.228).
Essa solução pode ser adotada entre nós com algumas modificações.
A primeira é esquecer o Senado e o atual presidente da República,
e procurar um ditador de outra maneira, nas eleições presidenciais
de 2010, por exemplo, que poderia ter caráter constituinte. Nesta
ocasião, ao presidente eleito para governar o País seria concedido
poderes ditatoriais por um ano, enquanto os congressistas, nesse
ano sabático, ficariam encarregados de elaborar uma nova Cons-
tituição para reestruturar o Estado brasileiro, adotando, se julga-
rem conveniente para os interesses da nação, as leis postas em vigor
pelo presidente-ditador. Tanto estas leis como a nova Constituição
seriam submetidas a um referendo popular para validá-las em defi-
nitivo. Medidas extremas como essas não são novidades na história

60
contemporânea. Nos anos 60 do século passado, por exemplo, o
general de Gaulle, durante seu governo, usou de poderes excepcio-
nais, concedidos pelo Parlamento, para salvar a França da anarquia,
submetendo suas decisões a referendos populares. Na atualidade os
presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia,
procedem da mesma maneira.
Uma outra solução para superar a falência moral do Congresso Na-
cional, e salvar o País da anarquia, seria a adoção da unicameralida-
de, sistema de representação política em que há somente uma Câma-
ra Legislativa. A vantagem deste sistema é que dispensa o Senado,
uma instituição retrógrada e supérflua, resquício do Império quando
era ocupado pela nobreza. Hoje em dia, esse tipo de apartheid social
não faz mais sentido.
Existe ainda a possibilidade de se reformar o atual modelo, para tor-
ná-lo mais representativo e democrático, mas para isso seria neces-
sário acabar com o sistema de três senadores por Estado e eliminar
a figura do “suplente”. No primeiro caso, o número de senadores
seria contado na base de um representante para cada milhão de ha-
bitante da Unidade Federada, o que daria um número total para o
País em torno de 190 senadores, considerando183,9 milhões de ha-
bitantes para o País em 2007, segundo dados do IBGE. No segundo
caso, para substituir algum senador, proceder-se-ia como a Câmara
dos Deputados, na qual nenhum parlamentar ocupa uma vaga sem
ter sido eleito pelo voto popular, pois, para isso, existe uma lista de
espera dos menos votados.
Quanto à Câmara dos Deputados, as modificações também devem
refletir a proporcionalidade dos cidadãos por Estado, distribuídos
de acordo com os dados do IBGE. Considerando a representativida-
de de um deputado para cada grupo de 500 mil habitantes (a metade
da proporção para o Senado), a Câmara teria 380 deputados. Esta
redução no número de parlamentares (atualmente são 513) seria
compensada pelo acréscimo de senadores que passariam dos atuais
81 para 190, totalizando então 570 congressistas. Este número di-
fere pouco da representação atual, cerca de 594. Mesmo com essa
redução, o número de congressistas ainda é grande, se comparado
com outros países mais populosos que o Brasil, como informa o
jornalista Mário Fontana, em sua coluna no Jornal Estado de Minas
(20/4/2009, p. 3):

61
“Com 1,2 bilhão de habitantes, a Índia tem o maior quadro
de eleitores do mundo. São 714 milhões, número espantoso
que só poderia ser superado pela China, onde o colégio elei-
toral não é contabilizado. Pois bem. Desde 16 de abril, india-
nos estão escolhendo 543 deputados, pleito que se arrastará
por duas semanas. No caso, vem à lembrança a comparação
com o Brasil: enquanto 714 milhões de cidadãos de lá foram
convocados para eleger 543 representantes, o Brasil, com 190
milhões de habitantes, conta com 513 deputados federais.
Pode-se chegar à conclusão de que o nosso país tem mais par-
lamentares do que deveria. Portanto, quem estava cheio de
razão é o falecido estilista Clodovil, que apresentou na Câma-
ra projeto para reduzir à metade as cadeiras do plenário da
Casa. Ele também pregava a extinção do Senado.”
Mas não são só os números de deputados que contam. No caso bra-
sileiro, existe uma grave distorção na distribuição dos deputados por
Estado que precisa ser corrigida para evitar que os pequenos, com
população reduzida, onde campeia a miséria e a ignorância, domina-
das por oligarquias retrógradas, utilizem dos parâmetros máximo e
mínimo para prevalecerem sobre os mais populosos e desenvolvidos.
Segundo o professor José Afonso da Silva (Curso de Direito Consti-
tucional Positivo, 1997, p. 483-484):
“A constituição não fixa o número total de Deputados Fede-
rais, deixando isso e a representação por Estado e pelo Dis-
trito Federal para serem estabelecidos por lei complementar,
que terá de fazê-lo em proporção à população, determinando
reajustes pela Justiça Eleitoral, em cada ano anterior às elei-
ções, de modo que nenhuma daquelas unidades da Federa-
ção tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados. Essa
regra que consta do art. 45, parágrafo primeiro, é fonte de
graves distorções do sistema de representação proporcional
nele mesmo previsto para a eleição de Deputados Federais,
porque, com a fixação de um mínimo de oito Deputados e o
máximo de setenta, não se encontrará meio de fazer uma pro-
porção que atenda o princípio do voto com valor igual para
todos, consubstanciado no art. 14, que é aplicação particular
do princípio democrático da igualdade em direitos de todos
perante a lei. É fácil ver que um Estado com quatrocentos mil

62
habitantes terá oito representantes enquanto um de trinta mi-
lhões terá apenas setenta, o que significa um Deputado para
cada cinqüenta mil habitantes [1:50.000] para o primeiro e
um para quatrocentos e vinte e oito mil e quinhentos e setenta
e um habitantes para o segundo [1:428.571]. Em qualquer
matemática, isso não é proporção; mas brutal desproporção,
tal fato constitui verdadeiro atentado ao princípio da repre-
sentação proporcional. A Câmara deve ser o espelho fiel das
forças demográficas de um povo; nada justifica que, a pretex-
to de existirem grandes e pequenos Estados, os grandes sejam
tolhidos e sacrificados em direitos fundamentais de represen-
tação.” (Cf. Miguel Reale).
Além desses problemas institucionais, o próximo presidente terá de
administrar uma pesada herança deixada pelo atual governo, repre-
sentada pelas regalias desfrutadas pelos sindicatos trabalhistas e pa-
tronais. É uma bomba-relógio que só um presidente-ditador poderá
desarmar, pois nenhum presidente eleito democraticamente, sem po-
deres excepcionais, será capaz de executar, com êxito, essa missão
kamikaze. Isto acontece porque o atual presidente não teve coragem
de tornar facultativo os impostos arrecadados pelos sindicatos traba-
lhistas (Imposto Sindical) e patronais (contribuições sociais), talvez
pressionado por essas entidades, ou porque tudo isso faz parte de
um plano maquiavélico para desestabilizar o governo do futuro pre-
sidente, caso o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) perca
as eleições. A contribuição social obrigatória, por exemplo, é inex-
plicável, pois os empresários vivem reclamando da carga tributária
do País, chegando, mesmo, um de seus líderes a dizer que “o sistema
tributário brasileiro é medieval”, classificando como irracional o pa-
gamento de imposto sobre um torno, empregado na produção (Jor-
nal Estado de Minas, 22/4/2009, p. 8). Quanto ao Imposto Sindical,
qual a justificativa para confiscar o salário dos trabalhadores, se a
maioria dos sindicatos, que se apropriam desses recursos, só existe
no papel, como a imprensa tem denunciado à exaustão?
O resultado de tudo isso é que os bilhões de Reais arrecadados por
essas instituições (isto sim é um sistema medieval!), sem fiscalização
e controle do poder público, são apropriados para se fortalecerem
e criarem um poder paralelo ao Estado organizado, fazendo valer
seus interesses sempre que são confrontados com os da sociedade, o

63
que facilita a corrupção dos costumes que contamina todos os Po-
deres da República. Para comprovar esta assertiva, basta verificar o
que se passa no Congresso Nacional e na distribuição de cargos no
Executivo e nas empresas estatais, hoje dominadas por sindicalistas.
Quando o atual presidente deixar o cargo, e essas pessoas forem
demitidas, o País viverá uma época de greves sob quaisquer pretex-
tos, pois não se conformarão com a perda desse poder paralelo. Isto
vale até para os sindicatos patronais, que também disputam essas
sinecuras. Portanto, é só esperar para ver o que vem por aí, pois um
diretor de uma empresa fortemente financiada pelo Governo Fede-
ral, ex-estatal, em uma entrevista na televisão passou a senha para
explicar a atual calmaria no setor sindical e porque não cobrava do
governo mais rigor nas invasões e obstruções de suas propriedades:
Se hoje a situação é essa, imagine o que seria sem o Lula! Seria essa,
então, a razão porque os patrões bajulam tanto o atual presidente?
Já teriam entendido o recado com o que se passa no Estado do Pará,
onde a governadora dá cobertura aos “sem-terra”? Seria esta atitude
uma advertência para os menos avisados? Diante de tudo isso é bom
que a sociedade se precavenha, pois a democracia entre nós pode
estar com os dias contados, dependendo do resultado das eleições
de 2010.
Mas outros desafios moralizantes se colocam para a sociedade, que
terá de buscar um líder para enfrentá-los, de preferência um presi-
dente-ditador, como a reestruturação do Poder Judiciário, que deve
começar com a fusão do Supremo Tribunal Federal (STF) com o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) para daí surgir uma Corte Fe-
deral de Apelação (CFA), cujos membros seriam eleitos pelo voto
popular, com mandato de cinco anos, acabando, consequentemente,
com a vitaliciedade de cargos no setor público. São medidas sane-
adoras que vão agilizar a aplicação das leis. Acompanhando essas
medidas, com esse mesmo propósito, seria também federalizada a
Justiça Estadual, com a criação de Juntas de Julgamentos composta
de vários magistrados, para substituir os todo-poderosos juízes, que
hoje, solitariamente, fazem o que bem entende nas suas searas, e Tri-
bunais Federais de Apelação nos Estados, para tornar mais rápidos
os julgamentos de recursos. Além disso, seria também federalizado
o sistema prisional e criada a Guarda Carcerária Federal para admi-
nistrar todos os presídios do País.

64
Além dessas medidas, um presidente com poderes ditatoriais poderá,
também, implantar as reformas hoje paralisadas no congresso, como
a tributária e a política. Outras ações ainda não cogitadas poderiam
também ser postas em prática, como a transformação de Brasília em
município neutro, acabando, consequentemente, com o escandaloso
“Estado” do Distrito Federal, bem como promover a criação do Mi-
nistério do Pessoal da União, para centralizar num só órgão os fun-
cionários dos três Poderes. Neste modelo caberia a esse ministério
admitir, demitir e transferir funcionários, bem como fornecer todo
o pessoal necessário ao funcionamento dos três Poderes da Repúbli-
ca, que neste particular perderiam sua tão preciosa “autonomia”,
pois se todos dependem do Tesouro Nacional para pagá-los, não há
como falar em independência.
Também seria possível criar o Ministério dos Bens Imóveis da União
para atender aos três Poderes em suas necessidades, evitando-se dis-
putas como ocorre no Itamarati. Segundo reportagem publicada no
Jornal Estado de Minas (20/4/2009, p.5), o Ministério das Relações
Exteriores tem apartamentos (524 imóveis) de todos os tipos para
seus servidores – mais luxuosos, de cinco ou quatro quartos; padrões
medianos, de três quartos; e menores, de dois e um dormitório –, os
quais são distribuídos sem qualquer critério, segundo denúncias da
Associação Nacional dos Oficiais de Chancelaria (ASOF). O inte-
ressante nesse fato é a existência desse tipo de regalia numa cidade
que neste mês comemora o seu 49º aniversário. É uma cidade já con-
solidada, onde os funcionários públicos podem encontrar moradias
para alugar, ou comprar, sem que o Estado fique responsável por
isso. Quando da implantação da capital federal, vá lá! Mas agora
isso soa como privilégio que deve ser combatido. Se já existisse o
Ministério dos Bens Imóveis da União, esse tipo de disputa não faria
sentido, pois o assunto seria tratado de forma global, incluindo as
necessidades do Congresso Nacional e de outros Poderes da Repú-
blica.
Outra questão que requer medidas radicais para moralizar o trato
da coisa pública e racionalizar a máquina administrativa do Estado
é a aposentadoria dos servidores públicos, civis e militares, federais,
estaduais e municipais, pertencentes aos três Poderes (Executivo, Le-
gislativo e Judiciário). Para este caso, a sugestão é a fusão de todos
os institutos de aposentadoria que atendem a esses segmentos da

65
administração pública com o Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), surgindo daí uma nova instituição: o Instituto Brasileiro de
Seguro Social (IBSS). Com tais medidas, será possível estabelecer um
teto máximo para as aposentadorias tanto no setor público como
do privado, evitando-se consequentemente as distorções hoje ob-
servadas. Para viabilizar financeiramente esse novo instituto, após
a fusão, cada beneficiário poderia receber tantas aposentadorias
quantas tivesse direito, desde que o somatório de seus valores não
ultrapassasse o teto máximo fixado em lei; teto este que poderia ser
variável em função dos recursos disponíveis, acima do qual nenhum
valor poderia ser pago, sob quaisquer pretextos.
Finalmente é bom frisar que a revisão da atual Constituição se impõe
não só para possibilitar uma reestruturação do Estado brasileiro,
mas também para derrubar tabus que inviabilizam a modernização
da administração pública, como as chamadas cláusulas pétreas, e
eliminar toda sorte de privilégios desfrutados pelos servidores pú-
blicos, principalmente aqueles pertencentes ao Poder Judiciário e às
funções ditas essenciais à Justiça. A erradicação dos privilégios que
permeiam os três Poderes da República somente será possível se a
atual Constituição sofrer uma revisão na sua forma e conteúdo. Para
isto, basta simplificar o texto constitucional, transferindo para o Es-
tatuto do Funcionalismo Público os pontos de interesse da categoria
e para o domínio das Leis Ordinárias as questões mais dinâmicas
que afetam a sociedade, deixando para o texto constitucional apenas
os conceitos fundamentais do Estado Democrático de Direito.
Agradecendo a atenção de V. Exa. para esta carta cidadã, subscre-
vo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

A Opinião do Senador Marconi Perillo

Com o ilustre Senador Marconi Perillo, Primeiro Vice-


Presidente do Senado Federal, tiver o prazer de trocar a seguinte
correspondência sobre as virtudes e defeitos do regime ditatorial,
66
que transcrevo a seguir por enriquecer esse debate, de vital im-
portância para o fortalecimento da democracia em nosso País.
Belo Horizonte, 30 de junho de 2009.

Exmo. Sr. Senador


MARCONI PERILLO - PSDB/GO
Primeiro Vice-Presidente do Senado Federal
Senador Federal
Brasília - DF

Assunto: Carta no. 00741/2009-GSMP, datada de 19/6/2009.

Prezado Senhor Senador,

Foi com agradável surpresa que recebi sua atenciosa carta, em res-
posta a minha correspondência datada de 11/4/2009, na qual enfa-
tizo “a falta que faz um ditador para promover as reformas de que
o Brasil necessita, a começar pelo sistema carcerário, uma vergonha
nacional”.
Em primeiro lugar, quero parabenizá-lo pela afirmação: “Sou, por-
tanto, totalmente contra a ditadura”, o que demonstra que se trata
de um democrata convicto, empenhado, portanto, em fazer valer os
direitos de cidadania para todos os brasileiros, inclusive àqueles que,
por infelicidade, encontram-se presos ou encarcerados.
Mas, no anexo que acompanha vossa carta (Nota Informativa nr.
1.308, de 2009), o que notei foi o atavismo que mantém o Brasil na
situação em que está, e “a falta que faz um ditador para promover as
reformas de que o Brasil necessita, a começar pelo sistema carcerário,
uma vergonha nacional”, que reafirmo em todos os seus termos.
Explicando melhor essa falta, é que somente os ditadores são capa-
zes de quebrar cláusulas pétreas, que a elite sempre colocou no ca-
minho dos pobres para serem pedras de tropeço, e outras filigranas
jurídicas que engessam o Estado. Certos “verdadeiros democratas”
não são capazes de inovar, pois isso afetaria seus interesses, mas
são bastantes conservadores para se aterem a pareceres como o que
V. Exa. me enviou, quando diz: “Logo de início, vale registrar que
qualquer iniciativa tendente a federalizar o judiciário estadual es-

67
barraria em cláusula pétrea constitucional, na medida em que atenta
contra a forma federativa do Estado, nos termos do art. 60, § 4º, II,
da Constituição Federal”.
Ora bolas! As constituições são respeitadas quando atendem aos in-
teresses dos cidadãos. Quando isso não acontece, são mudadas. Esta
é a essência da democracia. A Constituição não é um bezerro de
ouro para ser idolatrada. É a expressão do desejo de uma maioria,
que pode modificá-la sempre que achar necessário.
Desejando que V. Exa. reflita melhor sobre os termos de minha
carta, e desejando sucesso no elevado cargo legislativo que ocupa,
aproveito o ensejo para enviar, também, um anexo para reflexão.
Trata-se da “Síndrome do Sapo Fervido”.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Em resposta, o ilustre senador teve a gentileza de enviar-me a seguin-


te mensagem eletrônica (e-mail- 1/7/2009 - RES: Resposta à Carta
nr. 00741/2009-GSMP, datada de 19/6/2009):

“Caro João Gilberto,

Agradeço o contato e parabenizo-lhe pelo ativismo, que demonstra


que Vossa Senhoria, certamente, não é indiferente às mudanças. De-
vemos estar atentos ao progresso e acreditar na possibilidade de trans-
formação, mas sempre dentro dos ditames legais e constitucionais.
Acreditar que podemos mudar o mundo para melhor, fazer a dife-
rença. Sempre acreditei nisso e assim procuro direcionar minha vida
como cidadão, como pai, como esposo e como homem público. 
Continuo à disposição para futuros contatos.
Um forte abraço,
Senador Marconi Perillo”

A Opinião de Bernie Ecclestone


Da Folha Online
Da Efe, em Londres (4/7/2009)

68
Chefe da F-1 elogia Adolf Hitler e regimes totalitários

O chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, 78, elogiou o ditador


Adolf Hitler e revelou sua preferência pelos regimes totalitários em
relação às democracias, em entrevista ao jornal britânico “The Ti-
mes”. Para ele, os políticos de hoje são fracos para conseguir coman-
dar e as democracias “não fazem muitas coisas boas para muitos
países”.

O multimilionário britânico, que detém os direitos comerciais da


F-1, elogiou as virtudes das lideranças consideradas “mais fortes”.
“Apesar de parecer terrível dizer isto, com exceção do fato de Hitler
ter se deixado levar em um determinado momento e de fazer coisas
que não sei se realmente queria fazer ou não, o certo é que ele estava
em uma posição de mandar em muitos e conseguir com que fizessem
as coisas”, afirmou.

“No final ele acabou se perdendo, e portanto não foi um bom dita-
dor, porque ou sabia o que estava acontecendo [sobre o Holocausto]
e insistiu nisso ou simplesmente foi condescendente”, disse o britâni-
co. “De qualquer maneira, não agiu como um ditador.”

Para ele, as democracias são um problema porque “os políticos es-


tão preocupados demais com as eleições”. Segundo Ecclestone, “há
gente morrendo de fome na África e ninguém faz nada, mas, no
entanto, se metem em coisas com as quais não deveriam se envolver
[como a Guerra do Iraque]”.

“Eliminar [o ditador] Saddam Hussein foi uma má ideia”, defendeu.


“Era o único que podia controlar aquele país. O mesmo acontece
com os talebans. Nós invadimos países sem ter qualquer ideia de
qual é sua cultura. Os americanos talvez acreditassem que a Bósnia
era uma Miami.”

As palavras de Ecclestone geraram protestos das organizações judai-


cas e de alguns políticos do Reino Unido.

69
A Síndrome de Eva Perón

Belo Horizonte, 29 de abril de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF
Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,
para as entidades empresariais FIEMG e FIESP e para os Ministros
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim.

Assunto: A síndrome de Eva Perón e a situação da Ministra Dilma


Rousseff.

Prezados (as) Senhores (as),

Há poucos dias (24/4/2009) enviei uma carta a V.Exas., tratando do


seguinte assunto: Ditadura ou Democracia? Qual o melhor caminho
para o Brasil superar a crise de credibilidade que afeta os três Po-
deres da República e se preparar para as eleições de 2010? Hoje o
assunto que me leva a redigir esta carta é um complemento ao que
tratei nessa correspondência, pois diz respeito às eleições presiden-
ciais de 2010. Trata-se da saúde da Ministra Dilma Rousseff, pré-
candidata a essas eleições, que pode repetir em nosso País o drama
vivido pelos argentinos com Eva Perón, como comenta o jornalista
Antônio Machado (Jornal Estado de Minas, 29/4/2006, p. 12):
“A perversão na política nacional não tem limites, e não se
resume à manipulação do mandato parlamentar para fins
particulares, como se descobre pela revelação dos podres do
Congresso. A exposição da doença da ministra Dilma Rous-
seff – um tumor no sistema linfático, felizmente diagnostica-
do em estágio inicial – foi um exemplo de desprendimento

70
pessoal. Mas deturpado por oportunismo dos outros. O con-
sultor de política externa do presidente Lula, Marco Aurélio
Garcia, declarou ‘isso’, referindo-se ao tumor, ‘vai reforçar a
candidatura dela’. Não se diz ‘isso’. É câncer. Outros aliados
disseram coisas assemelhadas. Fica implícita a visão utilitaris-
ta. Não se diz coisas assim sobre mal tão agressivo, que aba-
te, reduz a imunidade, provoca reações desagradáveis, dando
teor oportunista às manifestações espontâneas e sinceras de
solidariedade de todos. A corrida eleitoral é um detalhe, além
de distante, para daqui a 18 meses. Nem deveria já estar lan-
çada pelo presidente Lula à sua sucessão, embora informal-
mente.”
Diante desse quadro de instabilidade, que já provoca reações diver-
sas, o que se coloca para os políticos e governantes, diante de suas
responsabilidades para com o destino da Nação, é uma reflexão se-
rena, mas firme, de como exorcizar um perigo latente de desestabi-
lização do quadro político institucional, se aqui no Brasil se tentar
repetir o que fizeram na Argentina com Eva Perón. Naquela época,
como hoje, o mundo passava por crises e mudanças, mas agora o
Brasil deve estar preparado para enfrentá-las, pois o quadro é mais
grave, e jogar o pesado jogo das potências do século XXI, que se
digladiarão em busca da hegemonia universal e salvar seus próprios
interesses.
Passado o período carnavalesco, que precedeu o colapso do sistema
financeiro norte-americano, que arrastou o resto do mundo à ban-
carrota, época em que mestres-sala e porta-estandartes encantavam
plateias de deslumbrados com seus volteios delirantes, chegou a hora
da verdade. Agora o que vai predominar são os pugilistas pesos pe-
sados, capazes de abater dançarinos menos avisados das mudanças
das regras do jogo com golpes certeiros, diretos e precisos. Portanto,
o Brasil tem que estar preparado para eleger em 2010 um presidente
capaz de enfrentar esse pesado combate, desfrutando de boa saúde
física e mental, e evitar especulações financeiras que se nutrem de
boatos, principalmente sobre a saúde de seus governantes. Nosso
País não merece passar novamente pelo drama que abateu Tancredo
Neves, e muito menos vivenciar o endeusamento de uma vítima de
câncer, como fizeram os peronistas na Argentina, que sacrificaram
Eva Perón para se manterem no poder.

71
Agradecendo a atenção de V. Exas., e reafirmando os termos da car-
ta anterior, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Reformas Políticas
Belo Horizonte, 10 de maio de 2009.

Exmos.(as) Srs.(as)
Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF
Com cópia para o Exmo. Sr. Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva.

Assunto: Reformas políticas e eleições presidenciais de 2010.

Prezados (as) Senhores (as),

Mais uma vez, o Congresso Nacional, em descompasso com os an-


seios da nação, pisou na bola ao tentar ressuscitar um projeto de re-
forma política que estava engavetado, como denuncia, em editorial
(“A lei dos descarados”), o Jornal Folha de São Paulo (7/5/2009, p.
A2):
“A provocação é de tal ordem que se chega a suspeitar de al-
gum surto de insanidade coletiva. A simples falta de compos-
tura, o hábito de legislar em causa própria, o desapreço pela
opinião pública não são suficientes para explicar as articula-
ções em curso no Congresso a fim de aprovar os dois pontos
mais acintosos do projeto de reforma política elaborado pelo
governo Lula. Trata-se de impedir que o eleitor escolha nomi-
nalmente seus candidatos a deputado federal, deputado esta-
dual e vereador e ainda exigir que o contribuinte pague pelos
gastos da propaganda eleitoral. [...] É a lei dos descarados – e
uma das piores afrontas às instituições democráticas do país
desde que se encerrou o regime militar.”

72
Depois desse carão, anima saber que existem congressistas que sa-
bem das coisas e evitam cair em armadilhas, como informa o colu-
nista Elio Gaspari (Folha de São Paulo, 10/5/2009, p. A12):
“Um dos parlamentares mais experientes do país decidiu tra-
balhar para retardar a tramitação de qualquer reforma políti-
ca. Segundo ele, seja o que for, nada deve passar pelo Senado
antes de outubro. Até lá, há o risco de aparecer um projeto de
emenda constitucional que permita a candidatura de Nosso
Guia a um terceiro mandato. Com a experiência de quem viu
dois golpes e dezenas de reformas casuísticas, ele teme a jun-
ção de dois fatores. Num, a doença de Dilma Rousseff abala
sua campanha e lança incerteza sobre seu futuro. No lance
seguinte, sem candidato, o PT vai buscar na rua um movi-
mento semelhante ao do queremismo que, em 1945, defendia
a possibilidade de eleição de Getulio Vargas, no poder desde
1930.”
Já está na hora de os senhores congressistas refletirem sobre suas ati-
tudes e iniciativas ao elaborar as leis de que o País precisa, principal-
mente agora que o jogo político volta suas atenções para as eleições
presidenciais do próximo ano. A situação exige cautela e determi-
nação dos responsáveis pelos partidos políticos, principalmente os
peemedebistas que estão brincando com fogo, ao tentarem fugir de
suas responsabilidades para com a Nação – a de apresentar candida-
tura própria à presidência da República – e praticando uma política
menor para servirem a dois senhores, como informa o comentarista
Luiz. Carlos Azedo do Jornal Estado de Minas (10/5/2009, p. 7):
“O PMDB está com um pé em cada canoa. A doença da mi-
nistra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), levou a cúpu-
la da legenda a dar um tempo em relação à aproximação com
a candidata do PT a presidência da República e à retomada
das conversas com os governadores de São Paulo, José Serra,
e de Minas, Aécio Neves, que disputam a vaga de candidato
do PSDB. O ressurgimento da tese do terceiro mandato para
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre parlamentares da
base também serviu para fragilizar a candidatura de Dilma.
‘Ainda é cedo para tratar da sucessão’, avalia o presidente
da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), cotado para ser vice
de Dilma na chapa que está sendo articulada pelo presidente
73
Lula. [...] Volta e meia o presidente tem chamado ao Alvorada
Michel Temer e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-
AP). Lula sabe que Sarney é um interlocutor privilegiado do
governador Aécio Neves, juntamente com o líder da banca-
da do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e ten-
tam atraí-lo para o PMDB. E que Temer, o deputado Eliseu
Padilha (RS) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) são
antigos aliados do governador José Serra.”
Essa postura lembra a lenda de Sísifo, na mitologia grega, que en-
ganou a morte e por isso foi condenado à empurrar uma grande
pedra morro acima eternamente. Quando chegava ao topo, a pedra
voltava a rolar para baixo, e ele tinha que começar tudo de novo.
Esta sina representa o trabalho inútil, muito semelhante ao pratica-
do pelo PMDB, que luta em todas as eleições para sair vencedor, mas
não sabe o que fazer com suas conquistas, leiloando-as a quem der o
maior lance, para repetir o mesmo processo nas eleições seguintes.
Por que o PMDB não cria vergonha na cara, e procura em seus qua-
dros um político, que goze da confiança do presidente Lula, para
ser cabeça de chapa numa aliança com o PT? Estão aí os Ministros
Nelson Jobim, Hélio Costa, e muitos outros, inclusive governadores
com igual perfil, que podem exercer a presidência da República com
competência e dedicação. Esta aliança evitará a disputa de um ter-
ceiro mandato que poderá arruinar o País, que a muito custo se está
recuperando das ambições de FHC por um segundo mandato.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

A Candidatura Própria do PMDB


Belo Horizonte, 26 de maio de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República

74
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmo. Sr. Senador Pedro Simon
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF

Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,


para as entidades empresariais FIEMG e FIESP, e para os Ministros
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim.

Assunto: As eleições presidenciais de 2010 e a candidatura própria


do PMDB.

Prezados(as) Senhores(as),

Mais uma vez, como cidadão, tomo a liberdade de dirigir-me a V.


Exas. para tratar do assunto em epígrafe, agora abordando o discur-
so do Senador Pedro Simon, ontem, no Senado, quando anunciou à
nação que o PMDB do Rio Grande do Sul, Estado que representa
no Congresso Nacional e partido ao qual pertence, lançou um mani-
festo aos correligionários de todo o País pela candidatura própria à
Presidência da República.
É um fato significativo que merece ser comentado e difundido, ape-
sar do silêncio da mídia, que só foi quebrado por um jornal de Bra-
sília, segundo a fala do Senador, que se limitou a classificá-lo como
um porta-voz solitário dessa jornada; solidária para outros, como
o Senador Mão Santa, um de seus aparteantes que, nessa ocasião,
deu-lhe apoio formal.
Nesse discurso o Senador Pedro Simon apelou para que os diretó-
rios do PMDB, e todos os seus correligionários do País, além dos
cidadãos que querem ver o partido lançando candidato próprio à
Presidência da República, manifestem-se a respeito por todos os
meios possíveis, inclusive pela Internet. Esta é a razão desta carta.
Manifestar apoio a esta campanha, pois a história ensina que as
vozes solitárias que clamam no deserto são as vencedoras e as que
produzem efeitos duradouros.

75
Ao desatar o minuano para essa jornada gloriosa que varrerá a polí-
tica nacional com seu sopro renovador, os gaúchos repetem a Revo-
lução de 30, que desatou esse vento refrescante para arejar a política
nacional sufocada que estava pela elite escravocrata, que não queria
a libertação do povo brasileiro da miséria e da ignorância. Hoje, a
continuidade desse processo se faz necessária, pois naquela época
as montanhas de Minas barraram o avanço dessa frente fria rumo
ao Nordeste do País, impedindo que as elites escravocratas dessa
região, governada então por um vice-rei, fossem varridas da política
nacional. Consequentemente, elas remanescem em feudos regionais,
cevadas na miséria sufocante desses guetos, e em partidos como o
PMDB, onde atuam para mantê-lo preso aos seus interesses paro-
quiais, ignorando os maiores da Nação.
Felizmente, graças a JK, que construiu Brasília, e aos governantes
militares que ocuparam a Amazônia, as regiões Centro-Oeste e Nor-
te do País foram franqueadas às correntes refrescantes do minuano,
abrindo assim uma rota alternativa para que varra também o Nor-
deste e remova as elites retrógradas dessa região que impedem que
essa parte do território nacional seja incorporada ao processo de
desenvolvimento econômico e social do País. O primeiro passo nesse
sentindo, portanto, será o PMDB apresentar candidatura própria à
Presidência da República, como propõem os gaúchos. Mas para isso
será necessário apresentar um candidato que reúna qualidades de
liderança e firmeza de pulso para afastar da política nacional esses
líderes regionais retrógrados, que em todas as eleições sabotam as
iniciativas nesse sentido. Está aí o ex-Presidente Itamar Franco, que
pode testemunhar a respeito, apesar de se ter afastado, ou melhor,
ter sido expulso desse partido por tentar enfrentá-las.
Um candidato que reúne as qualidades necessárias para levar o
PMDB a uma vitória nas eleições presidenciais de 2010, com um
programa de governo que promova as reformas de que o País neces-
sita, principalmente a constitucional, e evite o confronto esterilizan-
te com o atual presidente, afastando, de vez, o espectro do terceiro
mandato, é o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, gaúcho de Santa
Maria, terra dos Minuanos, e um peemedebista que participou ati-
vamente da Assembléia Nacional Constituinte que redigiu a atual
Constituição. Além disso, tem dado provas, na pasta que dirige, de
competência administrava e respeito no trato da coisa pública, coisa
rara hoje em dia.

76
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, principalmente ao Senador Pedro Simon em sua empreitada
cheia de obstáculos, mas gratificante, pois toda frente fria muda o
clima por onde passa, às vezes provocando fortes tempestades, com
raios e trovões, mas sempre vivificadoras, pois como reza o dito
popular: “Depois da tempestade vem a bonança”. Isto, claro, para
os otimistas, pois para os pessimistas o que vem é a “enchente”,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Plano de Metas do Governo JK


Belo Horizonte, 23 de maio de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Exmo. Sr.
José Alencar Gomes da Silva
Vice-Presidente da República
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Brasília – DF

Com cópias para os jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,


para as entidades empresariais FIEMG e FIESP, e para os Ministros,
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim.

Assunto: As eleições presidenciais de 2010 e o Plano de Metas do


Governo JK.

Prezados (as) Senhores (as),

No dia 24 de abril p.p, enviei a V. Exas. uma carta tratando do


seguinte assunto: Ditadura ou Democracia? Qual o melhor cami-
nho para o Brasil superar a crise de credibilidade que afeta os três

77
Poderes da República e se preparar para as eleições de 2010? Agora
gostaria de complementá-la com alguns comentários sobre a neces-
sidade de um plano de governo para o próximo presidente, nos mol-
des do Plano de Metas de JK, que sistematizou as várias propostas
existentes naquela época para o desenvolvimento econômico e social
do País, resultando em 31 metas que privilegiavam cinco setores da
economia: energia, transporte, indústrias de base, alimentação e edu-
cação. A construção de Brasília, meta síntese desse plano, permitiu
a expansão rumo ao interior, que por sua vez estaria integrado com
o resto do Brasil por rodovias. O resultado desse plano estratégico -
“Crescer cinquenta anos em cinco” - foi o desencadeamento de um
processo desenvolvimentista que abriu os olhos dos brasileiros para
as potencialidades do País, e como usá-las em beneficio da socieda-
de. Foi um redescobrimento do Brasil pelos brasileiros.
Um balanço da situação atual mostra um quadro semelhante de in-
certezas, no qual várias opções para a continuidade do processo de
desenvolvimento econômico e social do País está à mesa, à espera de
definições, em função da crise financeira que embaralhou as cartas
do jogo de poder das potências dominantes.Virar esse jogo em nosso
favor é missão de todos os brasileiros que querem o progresso eco-
nômico e social do País. Para isso, a atual geração conta com um em-
basamento sólido montado pelos Presidentes Getúlio Vargas (Petro-
brás, Eletrobrás, BNDES) e Juscelino Kubitschek (Plano de Metas),
pelos governos militares (energia nuclear e ocupação da Amazônia)
e pela atual administração (Planejamento Estratégico). Os ganhos
obtidos com essas iniciativas podem ser medidos pela posição que
o Brasil ocupa no concerto das nações, em que pese o muito que se
tem pela frente para potencializar todas as suas riquezas naturais, es-
pecialmente os vastos depósitos de petróleo e gás natural do pré-sal,
recém-descobertos no litoral atlântico da Região Sudeste.
Para ordenar o leque de oportunidades hoje existente, e propor me-
didas práticas para a implantação de projetos de desenvolvimento
econômico e social, de forma racional e planejada, objetivando pôr
o Brasil definitivamente no “Primeiro Mundo”, deve-se mirar o
que foi feito no Governo JK, com a criação dos chamados Grupos
Executivos, e adequar uma experiência exitosa do Governo Lula: o
planejamento estratégico. A primeira missão da pioneira Secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, confiada ao

78
Ministro Mangabeira Unger, foi elaborar, em conjunto com o Minis-
tério da Defesa, chefiado pelo Ministro Nelson Jobim, um plano de
defesa para o País e, por extensão, para toda a América do Sul.
Para isso foi criado o Comitê Ministerial de Formulação da Estraté-
gia Nacional de Defesa, presidido pelo já referido Ministro da Defe-
sa e coordenado pelo atual Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos
Estratégicos. Fazem parte deste comitê os Ministros da Fazenda, do
Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência e Tecnologia, além
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, as-
sessorados pelos Estados-Maiores. A sintonia fina havida entre os
Ministros Mangabeira Unger e Nelson Jobim, que trabalharam de
forma discreta e eficiente, permitiu a formulação, em prazo relati-
vamente curto, da Estratégia Nacional de Defesa, que abrange um
horizonte de cinqüenta anos, como afirmou o Ministro da Defesa,
em recente palestra no Clube Militar do Rio de Janeiro.
Essa sinergia entre um órgão de planejamento estratégico, um mi-
nistério executivo das ações governamentais e outros órgãos direta-
mente envolvidos no assunto pode, e deve, ser repetida com outros
ministérios, onde assuntos polêmicos requerem uma ação coordena-
da para definir metas e objetivos a curto, médio e longo prazos, com
vistas a fortalecer a política de defesa nacional. É o caso da explo-
ração de minério de ferro, petróleo e gás natural, que está no centro
de uma disputa internacional para controle dessas matérias-primas.
A exploração dessas riquezas e a sua comercialização não podem ser
encaradas simplesmente como commodities, como soja, milho, etc.
São matérias-primas minerais que, como se diz em Minas Gerais,
não dão duas safras. São recursos finitos, escassos e estratégicos.
Portanto, há necessidade de se definir uma política estratégica para
a maximização de seu aproveitamento econômico em beneficio da
sociedade brasileira; política essa que deve contemplar outros mine-
rais igualmente estratégicos, como urânio, nióbio, potássio e fosfato,
isto sem contar o marco regulatório para a exploração do petróleo e
gás do pré-sal em discussão no governo.
Atualmente a exportação de minério de ferro, por exemplo, é feita
nos moldes dos tempos coloniais, ou seja, no seu estado bruto sem
nenhum processamento industrial, deixando no seu rastro todos os
ônus do processo, como buracos e contaminações de toda a ordem.
Esse passivo ambiental é permanente, enquanto os parcos lucros

79
obtidos são passageiros. O bônus fica com os países compradores,
como a China, que exporta aço e outros produtos industrializados
após processar um minério puríssimo importado do Brasil a preço
de banana, pois usam seu poder de compra para fixar preços e impor
condições, como informa o Jornal Folha de São Paulo (22/5/2009,
p.B3): “A secretária-geral da Associação Chinesa de Aço e Ferro ne-
gou que já exista um acordo com a Vale para a redução do preço do
minério de ferro e disse que vai exigir da companhia brasileira um
desconto de 40% no preço da matéria-prima utilizada na fabricação
de aço”. Para sair dessa camisa de força, a Vale, a maior produtora e
exportadora de minério de ferro do mundo, precisa mudar seu foco
empresarial de mera exportadora de minério bruto, para a maior
produtora e exportadora mundial de aço e seus derivados, a exem-
plo do que fizeram os chineses com seus sucessivos planos quinque-
nais e um planejamento estratégico que visa a dominar a siderurgia
em todos os seus segmentos importantes, como a indústria naval,
ferroviária, automobilística, etc.
Para começar a mudar este quadro, o primeiro passo é o Governo
Federal proibir, ou taxar pesadamente, a exportação de minério de
ferro em seu estado bruto, permitindo, num período de transição,
até que se consiga implantar usinas de aço para processar toda a
produção, a exportação de pellets. Esta política de valorização de
matérias-primas minerais já mobiliza o Governo Federal, no caso
do petróleo do pré-sal, o qual, segundo noticia a imprensa, será ex-
portado após ser refinado no País. Todavia, esta mentalidade pro-
gressista ainda não se faz presente no setor da mineração do ferro,
onde o espírito colonialista preside as decisões de empresas como a
Vale, na qual o Estado tem condições de influenciar essas decisões,
mas não o faz. Segundo o Jornal Folha de São Paulo (23/5/2009, p.
B7): “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com surpresa ao
anúncio de que Vale irá cortar 37% dos investimentos planejados
para 2009. Ele disse que não há motivos para a redução, já que a
empresa tem ‘muito dinheiro’ em caixa. [...] Lula criticou a política
da empresa de não construir siderúrgicas. ‘A Vale tem como norma
não construir siderúrgicas sob a alegação de que não pode competir
com seus clientes. Eu acho um erro histórico, porque, assim, ela iria
exportar valor agregado, e não apenas minério de ferro’.”
Se o Presidente da República acha essa política “um erro histórico”,
por que não a corrige? Para isso o Governo Federal tem poder de

80
mando nessa empresa, por meio das Goldens Shares e da participação
acionária majoritária da Previ que indica o presidente de seu conse-
lho, como informa o jornalista Pedro Soares da Folha (20/5/2009, p.
B3), tratando da questão da fusão Sadia/Perdigão: “Um especialista
que preferiu o anonimato diz que a Previ, em alguns casos, mantém
ou faz determinados investimentos para atender a interesses do go-
verno. [...] De um certo modo, diz, também é o caso da Vale, na qual
a Previ é maior acionista, indica o presidente do conselho e influen-
cia algumas decisões estratégicas da empresa”.
Para que os políticos, principalmente os Deputados Federais e Sena-
dores, avaliem o que significa, em termos de mineração, carregar um
dos novos supernavios com 500 mil toneladas de minério de ferro
tipo exportação, basta visitar uma das muitas minas existentes em
Minas Gerais e no Pará e acompanhar todo processo desde a lavra,
passando pelo tratamento do minério, até chegar as pilhas de carre-
gamento dos vagões. Nesta ocasião, com uma simples calculadora
de mão, poderão avaliar quantas montanhas terão de ser reduzidas a
pó, peneiradas e lavadas, para extrair e exportar 200 a 300 milhões
de toneladas de minério de ferro, por ano, como se faz atualmente, e
o impacto desse processo sobre o meio ambiente.
Para o país que importa esse puríssimo minério de ferro é uma be-
leza! Basta fundi-lo e vendê-lo. Não precisa preocupar-se com mais
nada. Isto, a preocupação com as consequências negativas, fica por
conta dos tolos que continuam removendo montanhas a troco de
nada! Os brasileiros, aliás, prestam-se muito bem a esse papel, pois
receberam esse apelido de tanto encher caravelas com pau-brasil,
até que essa madeira perdeu valor e foram dispensados dessa labu-
ta inútil. É um destino, ou bobeira mesmo? Estou com a segunda
opção; razão por que tenho a convicção de que já está na hora de a
Secretaria de Assuntos Estratégicos traçar um plano estratégico para
o setor mineral, juntamente com o Ministério de Minas e Energia,
como fez, com sucesso, com o Ministério da Defesa, na formulação
da Estratégia Nacional de Defesa.
Esse planejamento deve incluir, além da racionalização do uso dos
recursos minerais, hídricos e energéticos, da alçada desse ministério,
o emprego dessas matérias-primas no processo de industrialização
do País, com destaque para a indústria naval, ferroviária, portuária e

81
automobilista, visando a tornar estes produtos competitivos interna-
cionalmente, desbancando a China da posição privilegiada que hoje
ocupa. Para isso, o Brasil conta com um trunfo excepcional: a con-
centração na Região Sudeste, a mais rica e industrializada do País,
de vastas reservas de minério de ferro e outros insumos básicos para
produzir aço, imensas reservas de petróleo e gás natural em seu lito-
ral atlântico – as fabulosas reservas do pré-sal –, além de uma malha
ferroviária densa e renovada e um litoral que permite a construção
de excelentes portos para receber quaisquer tipos de navios.
O que falta é um planejamento estratégico que contemple cada seg-
mento desse vasto horizonte de possibilidades, como fez JK com os
seus “Grupos Executivos”. Além disso, como meta síntese desse pla-
nejamento estratégico, a exemplo de Brasília, o atual governo deve
lançar os fundamentos do Sistema Ferroviário Dom Bosco (assunto
tratado em três livros de minha autoria e disponíveis na Internet:
www.dominiopublico.gov.br), que será a mola mestra do desenvol-
vimento e integração da América do Sul, como foi a nova capital no
processo de integração e desenvolvimento de nosso País.
Na expectativa de que o Presidente Lula deixe como legado ao seu
sucessor, além da Estratégia Nacional de Defesa, uma estratégia
para a defesa de nossos recursos minerais, hídricos e energéticos, e as
bases do Sistema Ferroviário Dom Bosco, subscrevo-me desejando a
V. Exas. sucesso em seus afazeres.
Cordialmente,

João Gilberto Parenti Couto

82
OS DESAFIOS DO PRÓXIMO PRESIDENTE

Os desafios que o Brasil tem pela frente nos próximos


anos, vale dizer, para o próximo governo a ser eleito em 2010,
para vencer a miséria, a ignorância e, principalmente, a cor-
rupção e os desvios de comportamento no trato da coisa pu-
blica, nos três poderes da República, são gigantescos. Por isso
mesmo, a sociedade brasileira deve estar preparada para eleger
um presidente com perfil diferente do atual, ou seja, mais enér-
gico com atos ilegais, como a invasão de propriedades rurais e
prédios públicos pelos chamados “sem-terra” e outros movi-
mentos sociais; os sequestros de pessoas e atentados à proprie-
dade privada por parte de grupos indígenas para praticarem
chantagens de toda a espécie, com a cumplicidade da FUNAI,
testa de ferro de ONGs internacionais. Além disso, é preciso
que não admita, também, casos como o mensalão e a MP da
pilantropia, como batizaram os congressistas a Medida Pro-
visória editada pelo presidente Lula que anistiava entidades
filantrópicas corruptas.

A Reforma do Sistema Judiciário


Para mudar essa situação de frouxidão moral, é preciso
que o próximo presidente conheça os fundamentos do Estado
Democrático de Direito e tenha também uma visão bem clara
das reformas estruturais de que o País necessita para tornar-se
uma grande potência. A começar pela reforma da Constituição
de 1988, pois sem isso não será possível eliminar a corrupção,
83
principalmente no Sistema Judiciário, hoje desmoralizado pe-
los escândalos envolvendo seus integrantes, como informa o
Jornal Folha de São Paulo (13/12/2008, p. A8), em matéria
intitulada Justiça revoga prisão da cúpula do TJ-ES acusada
de vender sentenças:
“O STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu ontem revogar a prisão
de três desembargadores, um juiz, dois advogados e uma servidora
do Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Foram libertados, além do
desembargador Pimentel (presidente do TJ-ES), os desembargadores
Elpídio José Duque e Josenider Varejão Tavares, o juiz Frederico
Luiz Schaider Pimentel (filho do presidente do Tribunal de Justiça) e
a diretora de Distribuição do tribunal, Bárbara Pignaton Sarcinelli,
cunhada do presidente. [...] O grupo é investigado por transformar
o tribunal num ‘balcão de negócios’, segundo a PF, mantendo um
suposto esquema de venda e manipulação de sentenças em troca de
favores e vantagens pessoais”.
Para arrematar essa notícia, é bom frisar que um mem-
bro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que libertou esses
acusados, está respondendo, em liberdade, a processo por cri-
me semelhante, movido pela Polícia Federal (PF).
Essa fraqueza moral tem raízes na formação intelectu-
al desses magistrados, cujas escolas onde formaram não lhes
impuseram um rígido código de conduta profissional, facili-
tando assim toda sorte de desvios de comportamento, como,
por exemplo, o roubo de um patrimônio público, o sino da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por parte dos alu-
nos de Direito da turma de 1968, como informa o jornalista
Graciliano Rocha, do Jornal Folha de São Paulo (31/12/2008,
p. A6):
“Ao longo dos últimos 40 anos, ministros, juízes e advogados mi-
litam em uma confraria dedicada a esconder um sino furtado da
faculdade de direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Entre os membros da chamada Ordem do Sino estão o ex-presidente
do Supremo Tribunal Federal e atual ministro da Defesa, Nelson

84
Jobim, o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ari Pargen-
dler, e o corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Gilson Dipp.
O sino de bronze, cujas badaladas marcavam o início e o fim das
aulas, foi surrupiado pelos formandos da turma de 1968 e desde
então circula entre ex-alunos, que se recusam a devolvê-lo à univer-
sidade. Em 1978, dez anos após a formatura da turma, a Ordem do
Sino ganhou um estatuto – que considera o produto o furto ‘símbo-
lo da turma’. Todos os anos, durante um jantar comemorativo em
novembro, a peça troca de mãos. Segundo Maria Kramer, que faz
parte da ordem, o critério para ter o privilégio de esconder o sino
da faculdade é o maior número de participação nos jantares anuais.
Jobim furou a fila em 1997. Menos assíduo do que outros, recebeu
a ‘honraria’ após se tornar ministro do Supremo. Amigos de Jobim
contaram que ele guardava o sino no seu gabinete no STF. Pargen-
dler foi ‘agraciado’ em 1988. Dipp ainda aguarda sua vez. ‘Não de-
volveremos o sino até que haja um sobrevivente da nossa turma’, diz
o advogado Paulo Wainberg. Dos 93 formandos, 16 já morreram. O
sino de bronze, com cerca de 30 centímetros de altura e 10 quilos,
tem gravado os nomes dos que o esconderam. Pargendler se recusou
a comentar o caso. Jobim e Dipp não foram localizados”. MORAL
DA HISTÓRIA: como reza o dito popular, “quem faz um cesto, faz
um cento...”

A Hora e a Vez dos Ditadores

Dizem que Vargas foi um ditador e, por isso, não se can-


sam de apedrejá-lo, principalmente a elite paulista, escravo-
crata, embora até em Roma, onde surgiram legalmente por
força das circunstâncias, como soem acontecer com todos os
ditadores, eles sempre foram respeitados por desatarem nós,
atravessarem rubicons, ou amarrarem seus cavalos em obelis-
cos, para mudarem o curso da história e promoverem mudan-
ças radicais nas sociedades em que viviam, como “Alexandre,
o Grande”, Júlio César e Getúlio Vargas. Todavia, é bom que a
sociedade atente para o legado desses líderes, como: a ação dos
generais de Alexandre; a Pax Augusta imposta pelo herdeiro
85
de César; e o regime militar pós-Vargas; embora este líder, com
sua revolução nacionalista, tenha livrado o País de duas tira-
nias que, então, digladiavam-se pelo domínio do mundo, ou
seja, o Comunismo, em 1935, e o Nazismo, em 1937.
Se um líder desse quilate não aparecer, democraticamen-
te, para promover as mudanças de que o Brasil necessita, prin-
cipalmente a remoção da blindagem legal que protege a po-
dridão moral, a lentidão e ineficácia operacional do arrogante
Poder Judiciário, como as cláusulas pétreas e outras regalias,
inclusive salariais, o remédio será apelar para um novo ditador,
o qual pode estar sendo gestado nas favelas cariocas e paulis-
tas, ou alhures, pois a história é dinâmica e a insatisfação é a
levedura das revoluções, como o fermento que faz crescer as
massas. No Brasil de hoje, essas “massas”, já fermentadas, es-
tão no forno, como sabem muito bem os policiais que rodam
as favelas cariocas em “Caveirões” com ar-condicionado, e os
políticos, que sentiram de perto esse calor sufocante na eleição
de 2008, quando pediram água para as Forças Armadas. O
resultado dessa fornada não será um Lulinha Paz e Amor, que
se adapta ao meio ambiente como um camaleão, embora saído
do mesmo extrato social. O que se anuncia é algo bem dife-
rente: líderes políticos oriundos do crime organizado, ou das
tais “milícias” que infestam os guetos urbanos da ex-Cidade
Maravilhosa.

A Escandalosa Situação Legal do Distrito Federal

No campo da moralidade pública, por sua vez, outro nó


a ser desatado, para que a representatividade dos cidadãos seja
respeitada, é acabar com a escandalosa situação legal do Distri-
to Federal, um município que se tornou “Estado” para acomo-
dar uma estrutura parasitária, escancarada no site do Governo
do Distrito Federal, onde se pode ver uma relação de órgãos
86
inúteis (92 ao todo, de A a Z, sendo 1 banco, 17 secretarias
de Estado e 28 administrações regionais), isto sem contar a
Câmara Legislativa, com seus 24 deputados, e os eleitos para o
Congresso Nacional: 3 senadores e 8 deputados federais. Toda
essa estrutura pesada e inútil poderia, com muita propriedade,
ser substituída por uma Câmara de Vereadores e um prefei-
to, como todos os municípios brasileiros, inclusive as capitais
dos Estados. Para isso, basta considerar Brasília um município
neutro, como era a sede administrativa no tempo do Impé-
rio, e sujeitá-lo ao controle de uma comissão mista formada
por representantes dos três poderes da República (Executivo,
Legislativo e Judiciário), que, juntos, monitorarão com poder
de veto os atos do prefeito e da Câmara de Vereadores, pois a
capital federal foi criada para ser a sede desses poderes.

A Atualização do Plano Piloto de Brasília

Além disso, é necessário que se dê autonomia às chama-


das cidades-satélites de Brasília, que nada têm que ver com
a capital, devolvendo ao Estado de Goiás esses territórios,
sob cuja jurisdição voltariam a pertencer. Com essas medidas,
será possível redefinir os limites de Brasília, atualizar o Plano
Piloto e devolver à Capital da República o perfil de centro
administrativo da nação brasileira, e não um “Estado” que
procura imitar os demais da Federação na busca desenfreada
de “progresso” material, o que destoa totalmente dos objeti-
vos para o qual foi criada. Brasília foi idealizada, projetada e
construída para ser uma cidade administrativa com caracte-
rísticas próprias e, por isso mesmo, precisa evoluir no tempo
e no espaço para evitar o que está acontecendo com Belo Ho-
rizonte, nascida como o mesmo objetivo, mas que está com
os dias contados. Este atentado contra a capital dos mineiros
está sendo praticado pelo governador de plantão, que resolveu
87
substituí-la, por falta de visão ou amnésia histórica, por um
arremedo de centro administrativo em construção na periferia
da cidade. Neste local, pretende-se reunir todo o funcionalis-
mo público estadual para, juntos, lado a lado, trabalharem de
forma mais eficiente. Esse mano a mano na Era da Informática
não faz sentido, pois, com a Internet, as distâncias deixaram
de ser problema em escala global, quanto mais local. Este tipo
de pensamento concentrador teve seu momento de glória no
século XIX, quando Belo Horizonte foi construída e Brasília
sonhada, mas agora representa tão somente um arcaísmo de
imitadores sem imaginação, que, para parecerem modernos,
estão decretando um fim melancólico ao projeto urbanístico
de Belo Horizonte.

O Melancólico Fim do Projeto Urbanístico de


Belo Horizonte
Mas, melancólico mesmo, será o destino do Palácio da
Liberdade e dos demais prédios públicos construídos à sua
volta, na chamada Praça da Liberdade. Segundo matéria pu-
blicada pelo Jornal Estado de Minas (12/7/2009, p. 28-29), o
Palácio da Liberdade, inaugurado em 1897, será transformado
em museu aberto à visitação pública; a Secretaria de Estado de
Fazenda, em Memorial de Minas; a Secretaria de Educação,
em Museu das Minas e do Metal e, sem futuro definido, a
de Viação e Obras Públicas. Todas inauguradas em 1897. A
Secretaria de Segurança Pública, inaugurada em 1930, será a
sede do Centro Cultural Banco do Brasil e a Secretaria de Cul-
tura, inaugurada em 1915, ainda não tem futuro definido. Os
demais prédios públicos desse centro de poder, também, estão
condenados a se transformarem em “espaços culturais”, com-
pondo o que apelidaram de “Circuito Cultural da Praça da
Liberdade”. Toda a tradição política republicana e positivista
88
que esse conjunto encerra, e que ajudou a forjar os destinos do
País, será relegada a um segundo plano, por obra e graças de
um governador que desconhece o seu significado e as consequ-
ências de se mexer no centro de gravidade do eixo do poder,
assunto que será abordado no capítulo seguinte.

Os Malefícios da Atual Política de Tombamento

O que se passa em Belo Horizonte, na gestão do Go-


vernador Aécio Neves, é uma advertência aos brasilienses que
precisam repensar o modelo atual da cidade e as implicações
dos processos de tombamento que impedem a demolição de
construções envelhecidas, ou tecnologicamente superadas, que
precisam ser substituídas por construções mais novas e mais
adequadas a cada momento da vida evolutiva da cidade. A
seguinte reportagem do Jornal Folha de São Paulo (4/1/2009,
p. B1) exemplifica esta situação:
“Não há mais espaço na Esplanada dos Ministérios. Sem ter onde
encaixar o número crescente de funcionários, as pastas estão alu-
gando salas comerciais e espalhando a administração pública federal
além dos limites inicialmente pensados no planejamento urbano da
capital. Dos 27 ministérios do governo Luiz Inácio Lula da Silva,
17 alugam imóveis em Brasília. O custo mensal com pagamento de
aluguel é de aproximadamente R$ 2,4 milhões, mas deverá crescer
para pelo menos R$ 3,3 milhões neste ano. [...] Para contornar o
problema de falta de espaço na Esplanada dos Ministérios, o gover-
no federal quer trocar terrenos da União por prédios já construídos
pela iniciativa privada. [...] Outro plano do governo é construir mais
oito anexos nos ministérios. Os anexos estavam previstos no projeto
original, mas nem todos foram construídos. [...] Outra linha de ação
do governo para tentar contornar a falta de espaço é usar prédios
públicos do governo do Distrito Federal. A sede da administração
foi deslocada para a cidade-satélite de Taguatinga, subúrbio de Bra-
sília. Quando o governo local concluir a mudança, a União pretende

89
assumir o Palácio do Buriti (sede o governo) e outros prédios que
ficarem vazios.”
Imaginem só! Enquanto em Minas Gerais foram neces-
sários cem anos para mudar o centro administrativo do Esta-
do, do centro da capital para sua periferia, Brasília precisou
da metade do tempo! Nessa toada e diante desse noticiário,
o governo federal, logo, logo, estará de malas prontas para
mudar-se para um local mais adequado... Este estado de coisas
é o resultado da improvisação que caracteriza a administração
pública, pois os prédios dos ministérios, bem como os palá-
cios do governo federal, foram construídos a toque de caixa
por JK que desejava inaugurá-la em tempo recorde, antes do
término de seu mandato. Hoje, antes de completarem 50 anos,
esses prédios frágeis, precocemente envelhecidos, necessitam
de reformas ou um novo edifício para substituí-los, mas estão
legalmente intocáveis, pois foram transformados em elefan-
tes brancos por terem sido projetados por Niemeyer, a quem
se deve curvar e pagar o dízimo correspondente, caso se ne-
cessite tocá-los, como informa o Jornal Folha de São Paulo
(12/12/2008, p. A11):
“Ao receber ontem Oscar Niemeyer no Palácio do Planalto, o presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva explicou ao arquiteto porque decidiu
restaurar o prédio: ‘Isso aqui está uma favela’, disse. Niemeyer ouviu
o presidente reclamar dos carpetes antigos, das divisórias mal feitas
e das paredes e tetos mofados. [...] A presidência aguarda ainda o
projeto de restauração que está sendo produzido pelo escritório do
arquiteto.”
A pressa em inaugurar uma obra com fins políticos,
como aconteceu com Brasília, e que agora se está repetindo
em Belo Horizonte, tem seu preço para a sociedade, que banca
seus custos e arca com os prejuízos. O pior deles é o estado
de abandono relegado aos bens materiais deixados para trás
durante a mudança, representados pelos imóveis e tudo o que
90
nele foi colocado para funcionamento da máquina pública. O
que ficou para trás na mudança da capital federal do Rio de
Janeiro para Brasília, e o que se perdeu nesse processo, é uma
história que está para ser contada, a qual poderia começar
com o que se passou com o prédio do Ministério da Fazenda,
uma obra até hoje sem utilidade. Em Belo Horizonte não será
diferente, pois, no novo centro administrativo, tudo deverá ser
novo para se adequar ao novo ambiente, isto sem contar o des-
prezo de muitos elementos afoitos que, no afã de largar para
trás aquilo que julgam ultrapassado, apressarão sua destruição
de maneira direta ou indireta.
Digo isto porque, quando estudava Geologia no velho
prédio da Escola Politécnica do Largo do São Francisco, no
Rio de Janeiro, no final dos anos 60, tomei conhecimento, pelo
nosso professor de Química, de um fato lamentável. Mostra-
va-nos ele, numa de suas aulas práticas, no laboratório que
tanto estimava, um tesouro representado por cadinhos de pla-
tina que valiam uma fortuna. Disse-nos que esse acervo ele en-
controu entre escombros, resultante de um ato de vandalismo
praticado pelos alunos da Escola de Engenharia da UFRJ que
lá funcionava, pois, ao se mudarem para o novo prédio da Ilha
do Fundão, destruíram tudo o que existia naquele laboratório,
já que, segundo eles, para onde iam, tudo deveria ser novo.
Não sobrou nada de intacto, só os cadinhos que eram indes-
trutíveis e para os quais não deram nenhum valor!

A Moralização no Trato da Coisa Pública

Mas não é só esse tipo de comportamento irresponsável


que trava o desenvolvimento econômico e social do País, pelo
desperdício de recursos públicos. Na atualidade, esse desperdí-
cio está atingindo um ponto de saturação que está a exigir dos
políticos, governantes e da sociedade em geral uma posição
91
firme e decidida para moralizar o trato da coisa pública. Já
está mais do que na hora de se instalar uma “Comissão Parla-
mentar de Inquérito”, pelo Congresso Nacional, para avaliar
os gastos perdulários do poder público do Distrito Federal –
Executivo, Legislativo e Judiciário – e da conveniência de se
criar em seu lugar um município neutro para pôr fim a esse
festival de gastamento inútil, o que poderá ser feito por meio
de emenda constitucional.
A seguinte matéria, publicada pelo Jornal Folha de São
Paulo (10/1/2009, p. A6), intitulada Niemeyer projeta obras
para as comemorações dos 50 anos de Brasília, exemplifica
esse desperdício:
“Aos 101 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer dá sinais de que não
tem planos de se aposentar. O Idealizador de Brasília apresentou
ontem, ao governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda
(DEM), o projeto de um novo complexo, a Praça da Soberania, a ser
feita na Esplanada dos Ministérios. A praça contará com o Memo-
rial dos Presidentes da República e um monumento em homenagem
ao cinqüentenário da capital, que promete causar polêmica por seu
tamanho, que pode ter entre 60 e 80 metros. A idéia é inaugurar a
obra completa no dia 21 de abril de 2010, quando Brasília comple-
tará 50 anos [...] Arruda e Niemeyer aproveitaram a oportunidade
para conversar sobre outros projetos do arquiteto que já estão con-
firmados. A obra, que está em estágio mais avançado, é a Torre Di-
gital, que abrigará os equipamentos para implantação da TV digital
na capital, além de restaurante e biblioteca. A obra já foi licitada e
o governo aguarda a licença ambiental para começar construção. O
projeto custará R$ 64 milhões. Há ainda outras duas obras: a Praça
do Povo, ao lado do Teatro Nacional, e o sambódromo do DF.”
Esses gastos perdulários não são exclusividade do Poder
Executivo. Basta consultar o site da Câmara Legislativa do
Distrito Federal para tomar conhecimento da “grandiosida-
de” de sua nova sede, a ser inaugurada em 2010. É bom lem-
brar que 2010 é o ano de eleições, portanto é preciso mostrar
serviço. E que serviço! Melhor seria se os políticos estivessem
92
comprometidos em inaugurar novas escolas, redes de água tra-
tada e esgotos sanitários e conjuntos residenciais para acabar
com as favelas. Mas para isso, é preciso que, a exemplo da Lei
de Responsabilidade Fiscal, seja criada a Lei de Responsabili-
dade Social – assunto que vem merecendo a atenção de alguns
congressistas responsáveis –, priorizando esse tipo de investi-
mento em nível federal, estadual e municipal, envolvendo os
três poderes da República. Isto se os políticos e governantes
estiverem atentos para a dura realidade social do País e suas
consequências, senão...

93
O COLAPSO DAS INSTITUIÇÕES

A Falência Moral do Senado da República

Tendo em vista os atuais acontecimentos, a situação fica-


rá fora de controle e o caos porá fim à experiência brasileira
de um Estado organizado, a começar pelo colapso das insti-
tuições Republicanas. O primeiro passo nesse sentido já foi
dado, com a falência moral do Senado da República, sintetiza-
da na figura de seu presidente, o Senador José Sarney, um po-
lítico vaidoso e corrupto, como a imprensa tem noticiado. Este
quadro de decadência ética e moral tem sido agravado pelo
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que, para
controlar e dominar o Poder Legislativo, usa os mesmos mé-
todos praticados no sindicalismo para neutralizar adversários,
ou seja, um vale-tudo onde a ética e a moral não contam; o que
importa são os objetivos visados que devem ser alcançados a
qualquer custo. Este proceder foi utilizado no processo de sua
reeleição em 2006, quando neutralizou a candidatura própria
do PMDB, liquidando politicamente seu provável candidato,
o ex-Presidente Itamar Franco, ignorando, consequentemente,
um sábio conselho: “Para que tua luz brilhe, não é necessário
que outras se apaguem”.
Agora a história se repete para fazer sua sucessora, a
Ministra Dilma Rousseff, utilizando para tanto dos mesmos
paus-mandados do PMDB: os senadores José Sarney e Renan
Calheiros, mestres em traições. Este desvio de comportamen-
to faz lembrar um fato curioso, no caso de Itamar Franco e
94
Tancredo Neves, pois o traidor-mor de nossa independência,
Joaquim Silvério dos Reis Montenegro, encontrou sua última
morada na terra do Senador José Sarney, conhecido por suas
ligações atávicas com Portugal, e que erigiu, no histórico Con-
vento das Mercês, um mausoléu como sua obra capital. Se a
estratégia de traições funcionou bem para Lula no processo de
reeleição, inclusive com o descarte dos mensaleiros do PT, que
foram varridos para baixo dos tapetes do Palácio do Planalto,
a repetição desse jogo viciado na sua sucessão está fadado ao
fracasso, pois os tempos são outros e a banda podre do PMDB,
incrustada no Senado, peça-chave naquela ocasião, está enfra-
quecida e prestes a desaparecer. A jogada da sucessão que se
aproxima, portanto, será outra, e as regras do jogo e os parcei-
ros também outros. Essa situação faz lembrar o que aconteceu
com Hitler na Segunda Guerra Mundial, que, por ter em mãos
uma cabeça coroada do Império Britânico, apostou suas fichas
num jogo errado: a possibilidade de repetir com a Inglaterra o
mesmo pacto que fizera com a França, ou seja, utilizá-la como
instrumento de dominação. Essa ideia fixa acabou levando a
poderosa máquina de guerra alemã, que ganhava todas as ba-
talhas, a perder a Guerra.
Nas eleições presidenciais de 2010, quem vai ditar as
regras do jogo será o PMDB das regiões Sul e Sudeste, que
terão como bandeira a moralização no trato da coisa pública
e mudanças radicais nos poderes Legislativo e Judiciário, as
duas pernas infeccionadas que estão desestabilizando o tripé
de sustentação do Estado Democrático de Direito e travando
o desenvolvimento econômico e social do País. O candidato
natural dos quadros do PMDB, que pode sustentar essa ban-
deira, é o Ministro Nelson Jobim, constituinte de 1988 e re-
lator da revisão constitucional (1993/94), e ex-Presidente do
Supremo Tribunal Federal. Com esse perfil, mais a sua atuação
no Ministério da Defesa do Governo Lula, além de uma per-
95
sonalidade independente, o Ministro Jobim tem condições de
ser respeitado pela sociedade e fazer alianças, sem subordina-
ções, com todos os partidos políticos, inclusive com o PT, que
poderá indicar o vice em sua chapa eleitoral. Além disso, é um
político de confiança do Presidente Lula e do empresariado,
elementos fundamentais para garantir a governabilidade do
País nos próximos anos, num quadro de instabilidade global
que afeta não só a economia e as instituições democráticas de
todos os países, como também abre espaço para conflitos de
toda ordem, inclusive sociais, que poderão levar o mundo à
guerra, como saída para todos esses males. Haverá, portanto,
a necessidade de um presidente de pulso firme, com convicções
democráticas sólidas, e que saiba promover as reformas estru-
turais de que o País necessita.

O Culto à Personalidade

Belo Horizonte, 12 de julho de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores (as) da República
Congresso Nacional
Brasília – DF

Com cópias para os Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo.

Assunto: Reflexões sobre o culto à personalidade e a degeneração


dos costumes: os exemplos das famílias Sarney, no Maranhão, e dos
Kim, na Coréia do Norte (KimIl-sung e seu filho Kim Jong-il).

Prezados(as) Senhores(as),

96
Em 1994, morreu Kim Il-sung, que governara a Coreia do Norte
desde 1948. Seu filho, Kim Jong-il, assumiu o comando do Partido
dos Trabalhadores norte-coreano em 1997, e seguindo a linha do
pai, opõe-se à abertura econômica do país, inflando gastos com o
setor militar, possivelmente para barganhar algo dos inimigos polí-
ticos.
Essas informações, bem como as que tratam da familia Sarney, trans-
critas a seguir, estão disponíveis na Internet.
Com base nesses dados, a reflexão que se faz é que certos governan-
tes, que confundem o público com o privado e se apegam ao poder
como parasitas intestinais, perdem o sentido da realidade e passam
a viver num mundo de fantasias, onde o culto à propria personali-
dade representa um meio de sobressair sobre os demais e se projetar
para a posteridade. Para isso constroem pirâmides, como os faraós
do antigo Egito, munumentos extraordinários, como os dos Kim,
na Coreia do Norte, ou se apossam de bens públicos, como fez o
Senador José Sarney, no Estado do Maranhão, que não teve nenhum
escrúpulo de se apropriar do Convento das Mercês, um patrimônio
nacional, para aí expor sua vaidade e seus restos mortais, pois, como
os faraós, sua último morada tem que ser diferente dos comuns dos
mortais.
O resultado de tudo isso é que o povo arca com as consequências,
como bem exemplificam os miseráveis do antigo Egito, os famintos
da Coreia do Norte e os pobres do Estado do Maranhão; uma ver-
gonha nacional, mas um prêmio à família Sarney que o domina com
recursos públicos, tornados privados pela corrupção dos costumes,
como informa o noticiário a seguir (Folha Online, 11/07/2009):
Documento de Fundação Sarney derruba versão do presiden-
te do Senado, diz jornal
Reportagem publicada hoje no jornal “O Estado de S. Pau-
lo” informa que o estatuto da Fundação Sarney derruba a
versão apresentada pelo presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP) para se defender das denúncias de suposto desvio
de patrocínio dado pela Petrobras para projeto cultural da en-
tidade. Na quinta-feira, Sarney disse que não tinha “nenhuma
responsabilidade administrativa” na fundação que leva seu
nome, localizada no centro de São Luís. De acordo com a

97
reportagem, o estatuto da fundação diz que “compete” a Sar-
ney presidir reuniões do conselho curador, “orientar” ativida-
des e representá-la em juízo. Entre os membros do conselho
parentes de Sarney – como o filho Fernando, o irmão, Ro-
nald Sarney, e o genro Jorge Murad (marido da governadora
do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Entre as funções de
Sarney como presidente vitalício estão “assumir responsabi-
lidades financeiras” e o “poder de veto” sobre decisões do
conselho curador – que também é presidido pelo senador. A
reportagem diz que cabe ao conselho curador nomear os três
titulares do conselho fiscal – composto por Antônio Carlos
Lima, Joaquim Campello Marques e Jurandi de Castro Leite.
Lima é assessor do ministro Edison Lobão (Minas e Ener-
gia), aliado de Sarney. A reportagem da Folha Online não
conseguiu localizar a assessoria de Sarney e a fundação para
comentar a reportagem.
Inadimplente
A Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês, fun-
dada e controlada pela família Sarney, ainda se beneficia de
patrocínio estatal e repasse de incentivos fiscais, revela re-
portagem de Marta Salomon, Alan Gripp e Hudson Corrêa,
publicada hoje na Folha (a íntegra está disponível para assi-
nantes do jornal e do UOL). A entidade está impedida de re-
ceber recursos do Orçamento da União desde janeiro. Apesar
de não ter prestado contas de convênio de R$ 150 mil com
Ministério do Turismo, a associação recebeu na quarta-feira
R$ 600 mil da Caixa para quitar as despesas de sete dias de
festas juninas em São Luís. A associação recebeu pelo menos
R$ 3 milhões de estatais, e há outros projetos em análise. Os
recursos foram liberados com base na Lei Rouanet, que dá
incentivos fiscais a quem investe em projetos culturais.
Doação do Convento das Mercês à Fundação José Sarney é
anulada
Brasília – 15/06/2009 – A pedido do MPF/MA (Ministério
Público Federal no Maranhão), a Justiça Federal anulou a
doação do Convento das Mercês à Fundação José Sarney,
tornando inválida a legislação estadual que regulamentou o

98
registro da propriedade. Pela decisão, o imóvel será reincor-
porado ao patrimônio público do Estado. O episódio da doa-
ção aconteceu em 1990, quando o governo editou uma lei que
autorizava a incorporação do convento aos bens da fundação,
conhecida à época por Fundação da Memória Republicana.
Três anos depois, a Assembleia Legislativa do Maranhão
aprovaria uma lei ratificando a doação. Em agosto de 2004,
o MPF entrou com ação contestando a doação do Convento
das Mercês à Fundação José Sarney, pedindo a reintegração
do bem ao patrimônio do Estado do Maranhão com base em
um decreto-lei, assinado em 1937 – o decreto impede que
bens tombados pela União sejam doados a qualquer entidade
de direito privado.
Perpetuar
Notificada, a fundação alegou que é uma entidade pública
federal e que, por isso, seria válida a doação. No entanto,
entre os objetivos da entidade, registrados em cartório, está
o de “organizar e perpetuar a memória dos presidentes da
República tendo por base o acervo privado do presidente José
Sarney”, o que deixa evidente seu caráter de pessoa jurídica
de direito privado. Para a Justiça, é clara a incompatibilidade
das leis sobre as quais aconteceu a doação do imóvel. “A Lei
estadual 5.007, de abril de 1990, ratificada pela Lei 5.765,
em 1993, pela Assembleia Legislativa, autoriza a doação tra-
tada. Mas está em completa discordância com a lei federal
vigente (Decreto-lei 25/37) que proíbe a doação de bens tom-
bados a entidades privadas”, afirmou o juiz Nelson Loureiro
dos Santos. De acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional), a área do convento passou a
pertencer ao Estado do Maranhão em 1905. Em 1974 ela foi
tombada pelo Patrimônio Histórico da União. O Convento
da Mercês, que tem mais de cinco mil metros quadrados de
área construída e outros sete mil de área livre, é um dos prin-
cipais pontos turísticos do Centro Histórico de São Luís. Para
o MPF, a anulação da doação significa respeitar e resguardar
o patrimônio público e social. (Com informações da assesso-
ria de comunicação do MPF).

99
Na expectativa de que esses breves comentários estimulem V. Exas.
a refletirem sobre a necessidade de expurgarem do quadro político
nacional aqueles que confundem o público com o privado, e que são
desonestos no trato da coisa pública, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Entrevista do Senador Jarbas Vasconcelos

(Folha Online - Blog do Josias -18/7/2009)

– O recesso parlamentar vai atenuar a crise?


– Não. A crise é muito grave. Não é coisa que arrefe-
ça em duas semanas. Ao contrário. O azedume vai se
acentuar. Quando recomeçarem os trabalhos, em 3 de
agosto, a crise volta com toda a dureza.
– De onde vem essa convicção?
– Vem dos fatos que ocorreram antes do início do reces-
so. Houve muito deboche. Esse deboche vai ser exas-
perado, atiçando os ânimos.
– A que deboche se refere?
– Eu me refiro à representação governista, especialmente
a do PMDB, no Conselho de Ética e à pessoa escolhi-
da para presidir o colegiado [senador Paulo Duque].
– O que achou da escolha de Paulo Duque (PMDB-RJ)
para presidir o conselho?
– É parte do deboche. O fato de ele ser segundo suplen-
te diz muito sobre o que se passa no Senado. É um
homem limitado, figura inexpressiva. Não tinha atua-
ção nenhuma no Senado. Demonstrou todo o seu des-
preparo na sessão de instalação da CPI da Petrobras.
100
No Conselho de Ética será pior. Não há outra palavra
para definir o quadro. É um deboche.
– Quem está por trás do deboche?
– O Renan, mas não só ele. Essa composição do Conse-
lho de Ética tem o beneplácito de Sarney. Se ele tivesse
bom senso, teria evitado isso. Foge do razoável que o
Sarney queira ser protegido dessa forma.
– Renan e Sarney debocham de quem?
– Eles debocham do Senado e, por consequência, do país.
Até onde vai esse deboche eu não sei.
– Em entrevista à Veja, o sr. dissera que Sarney transfor-
maria o Senado num grande Maranhão. Achava que
chegaria a tanto?
– Não. Nunca imaginei que as denúncias fossem se avo-
lumar nessa proporção. Imaginava que não iríamos
progredir na reforma do Senado. Achava que a estru-
tura permaneceria a mesma, que teríamos de continu-
ar aturando o Agaciel [Maia]. As coisas que afloraram
são mais espantosas do que eu imaginava.
– Mantém as ressalvas que fazia ao PMDB?
– Minhas ressalvas se agravaram. Os atos praticados
agora são muito mais debochados do que os que ocor-
reram na crise do Renan, há dois anos.
– A crise Sarney é pior do que a crise Renan?
– Muito pior, mas muito mesmo.
– Por quê?
– Os fatos agora envolvem o presidente da Casa de ma-
neira mais avassaladora. E o exercício do deboche,
há dois anos, era mais contido. Agora, passamos do
deboche para o achincalhe. É como se eles quisessem
pagar para ver. Estão esquecendo que a crise exerce
efeitos sobre os senadores também durante o recesso.
101
– Que efeitos?
– Não vai ser fácil percorrer as ruas ouvindo gracejos.
Na antevéspera de uma eleição, isso obviamente terá
efeitos.
– A crise contamina todos os senadores?
– Sem dúvida. Todos pagam o pato. Mesmo os que não
têm responsabilidade nenhuma. A aversão ao Senado
e à classe política é transferida para todos.
– Quantos senadores vão às urnas?
– Dois terços do Senado – 54 senadores – estão na ante-
sala da eleição. O desgaste pode não grudar em Lula,
mas cola no PT e nos senadores governistas que de-
fendem Sarney. O receio de todo mundo é o de que o
eleitor decida não votar nos atuais detentores de man-
dato. Quanto maior o deboche, maiores as problemas
dessa gente.
– Acha que há mesmo uma indignação popular?
– Ela existe e é grande. Mas poderia ser muito maior.
A mídia tem exercido um papel mais contundente do
que qualquer partido ou parlamentar.
– Que desfecho prevê para a crise?
– Não vejo disposição no Sarney para se afastar. Ele ten-
ta atribuir normalidade a um quadro completamente
anormal.
– Qual será o desfecho da crise?
– A conjuntura aponta para o imponderável. Nada será
favorável a Sarney. Ele esteve na bica de renunciar.
Quem o segurou na cadeira foi o Lula.
 – O apoio de Lula salvou a presidência de Sarney?
– Não. Lula apenas deu uma sobrevida a Sarney. Não
acredito na permanência de Sarney na presidência do
Senado.
102
– Acha que a gestão Sarney não chega ao final?
– Não. Ele se desconectou da realidade. Acha que as de-
núncias chovem no molhado. Acredita que, por ter
sido presidente da República, está acima de tudo. Mas
não há ambiente para a continuidade dele no comando
da Casa. A presidência de Sarney não chega ao final.
– Como interromper a gestão de alguém que não se dis-
põe a renunciar?
– Vamos chegar a uma situação de impasse total. Sena-
dores independentes podem decidir não votar mais ne-
nhuma matéria sob a presidência dele. Partidos como
o DEM e o PSDB podem fazer o mesmo. Pode-se che-
gar a um impasse que tornará a saída de Sarney ine-
vitável.
– É coisa para logo?
– Não é possível dizer se ocorrerá logo. Mas vai acon-
tecer. Dias atrás, o desfecho parecia uma questão de
horas. O que ninguém esperava é que o Lula fosse fa-
zer uma defesa tão contundente do Sarney. Adiou-se o
problema. A presidência de Sarney será abreviada por
estrangulamento, não por vontade dele.
– Não está exagerando?
– Não creio. Vejo a perspectiva de chegarmos a um im-
passe tal que a saída dele será inevitável. Li no seu
blog que Sarney deu graças a Deus pelo início do re-
cesso. Imaginar que duas semanas vão amainar essa
crise é de uma infantilidade inacreditável.
– Como avalia o papel do PT na crise?
– O PT errou muito. Sua bancada convive com o incô-
modo de ter tomado a posição correta e depois ter
mudado de rumo por conta da interferência de Lula.
103
– Continua achando que o PMDB quer mesmo é cavar
negócios na máquina estatal?
– Sem dúvida. Utilizam-se os mandatos para abrir cami-
nho para negócios e safadezas no governo.
– Por que não deixa o partido?
Por falta de opção. Só posso pensar em mudar de partido
se tivermos uma reforma política séria e decente. Até
lá, prefiro ficar como dissidente no PMDB, sinalizan-
do para a minha base e para a opinião pública do país
que o meu PMDB não é esse. O meu PMDB é decente,
correto, sem safadezas.
PLENÁRIO / Pronunciamentos /06/07/2009:
Jarbas Vasconcelos defende afastamento imediato de Sarney e critica
interferência de Lula no Congresso.
Ao discursar nesta segunda-feira (6), o senador Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE) pediu o “afastamento imediato” do senador José Sarney
da Presidência do Senado e criticou o que ele chama de “interferên-
cia despudorada” do presidente Luiz Inácio lula da Silva em assun-
tos do Senado e do Congresso Nacional. Para Jarbas Vasconcelos, o
presidente da República não tem “pudor algum” e só age em benefí-
cio próprio, inclusive distorcendo a verdade.
A atual crise impõe uma tomada de posição, e a minha é estar ao
lado daqueles que defendem o afastamento imediato do presidente
desta Casa, para que possamos voltar a desempenhar o papel insti-
tucional para o qual fomos eleitos. Qualquer reforma administrativa
no Senado só poderá ser realizada se tiver o mínimo de apoio da opi-
nião pública e essa condição só será atingida a partir do afastamento
do presidente Sarney - afirmou.
Na opinião do senador, o apoio de Lula a Sarney tem por objetivo
único a viabilização da candidatura da ministra Dilma Rousseff à
Presidência da República. Ele acredita que o presidente Lula esteja
interessado especialmente “no tempo de televisão, na grande estru-
tura partidária e no apoio congressual” que o PMDB pode propor-
cionar durante e após as próximas eleições presidenciais. Não im-

104
porta ao presidente respeito às leis ou à Constituição, muito menos
consideração a quaisquer princípios éticos ou morais. Nosso presi-
dente não tem pudor algum. Tudo fará para permanecer no poder,
inclusive comprometer seus correligionários e destruir o que ainda
resta de dignidade ao Congresso Nacional, especialmente no Senado
Federal. Não tem compromisso com nada e com ninguém, a não ser
consigo mesmo. Deslumbrado pelo poder e pelos índices de apro-
vação de seu governo, considera-se acima das instituições – disse
Jarbas Vasconcelos sobre o presidente Lula.
O senador acredita que o presidente da República promoveu “uma
ingerência sem limites” ao intervir em assunto do Senado tentando
“impor a permanência do presidente Sarney”. Para isso, disse Jarbas
Vasconcelos, o presidente Lula constrangeu e ameaçou a bancada do
PT no Senado para conseguir a sustentação de Sarney.
Um presidente do Senado que não tem apoio interno para permane-
cer no cargo, um presidente que se transformou em uma rara unani-
midade negativa frente à opinião pública. Ainda assim, como Lula
intuiu que o afastamento pode frustrar seu projeto, vai impor ao
Senado e ao Brasil a permanência de Sarney - disse.
Da Redação / Agência Senado (reprodução autorizada mediante ci-
tação da Agência Senado).

A Hidra do Palácio do Planalto

Belo Horizonte, 15 de julho de 2009.

Ao Exmo. Sr. Senador


PEDRO SIMON
Senado Federal
Brasília - DF

Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) da República,


e para os Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo.

Assunto: A Hidra de Lerna e o Clone do Palácio do Planalto.


A Hidra de Lerna: na mitologia grega, uma serpente de sete cabeças

105
morta por Hércules. Hércules cortou, por várias vezes, suas cabeças
que renasciam. Só conseguiu terminar a tarefa quando seu sobrinho
Iolau começou a queimar as cabeças à medida que iam sendo cor-
tadas.
O Clone do Palácio do Planalto: No início do discurso, Lula elogiou
os Senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Renan Calheiros (PMDB-
AL), que pertencem a partidos da sua base aliada. “Eu quero aqui
fazer Justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Re-
nan, que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do
governo no Senado.” (Folha Online/14/07/2009).

Prezado Senhor Senador,

Tenho acompanhado pela TV-Senado alguns pronunciamentos de V.


Exa. sobre a crise que se abate sobre o Senado Federal, e o esforço
que faz para combater certas cabeças coroadas que dominam essa
casa do Congresso, responsáveis maiores por essa situação, como
bem frisou em seu pronunciamento de ontem, dia 14, do qual des-
taco os seguintes trechos para refletir melhor sobre esse assunto (da-
dos disponíveis na Internet):
– O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu hoje que o senador
José Sarney (PMDB-AP) renuncie à presidência da Casa;
– Simon reclamou ainda que Sarney e o líder do PMDB,
Renan Calheiros (AL), controlam o partido no Senado;
– Tenho vergonha. Estou pensando em ir para casa - disse o parla-
mentar gaúcho.
Ir para casa será uma confissão de derrota frente a uma batalha con-
tra pigmeus que simulam parecer gigantes posicionando-se frente
aos holofotes do Palácio do Planalto para que projetam suas som-
bras, agigantadas, nas paredes do Senado para meter medo aos mais
fracos; o que não é o caso de V. Exa., um gaúcho de boa têmpera que
não se arrepia ao primeiro entrevero com figuras fantasmagóricas.
O que V.Exa., e seus pares no Senado que querem mudar o quadro
atual, devem temer e se preparar para uma luta perigosa é com a
Hidra do Palácio do Planalto. Esta sim tem o poder. Como Hércules
percebeu a tempo, não basta cortar as cabeças da hidra. É preciso
queimá-las, senão estarão de volta, como tem acontecido com o Se-
nado da República.

106
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Lula tornou-se um presidente terceirizado do


PMDB
(Blog do Josias – Folha Online – 22/08/2009)

O PMDB, como se sabe, é um partido 100% feito de déficit público.


Está no poder para fazer negócios.
Exerce o comando à sua maneira, delegando tarefas. Introduziu na
política uma prática comum às empresas: a terceirização.
Hoje, confia os afazeres da Presidência da República a Lula. Reserva
para si apenas a tarefa de cobrar resultados.
Assim, o PMDB dispõe de mais tempo para mandar e desmandar no
país. A estratégia já havia funcionado bem com FHC.
Sob Lula, o PMDB alcançou a perfeição. O Planalto de fachada va-
gamente socialista resultou em ótimos negócios.
De olho no mercado futuro de 2010, o PMDB diversifica seus in-
vestimentos. O partido já não se contenta com tudo. Quer mais um
pouco.
Avessa ao risco, a legenda evita colocar todos os ovos num mesmo
cesto. Aplicou um Quércia na apólice Serra e um Temer em Dilma.
Qualquer que seja o resultado do empreendimento eleitoral, a pan-
tomima estará assegurada.
Ao expor os seus produtos na vitrine do horário eleitoral, PSDB e PT
atacarão o tipo de política que o PMDB personifica.
De certo modo, será o PMDB esculhambando, por meio de seus
terceirizados, o PMDB. Será o PMDB prometendo corrigir os erros
que o PMDB cometeu.
E o país elegerá uma nova encenação. Um executivo do PMDB, que
manterá tudo exatamente como está, com ares de quem muda ab-

107
solutamente tudo. Rendido à lógica negocial do PMDB, o PT pro-
tagoniza o caso mais dramático de flexibilização das fronteiras ide-
ológicas.
À medida que Lula foi atualizando o guarda-roupa -do macacão até
o Armani-, deslizou, quase sem sentir, para o outro lado.
Súbito, acordou de mãos dadas com Sarney e Renan. No princípio,
houve certo pejo. Agora, Lula parece confortável no papel de tercei-
rizado.
É como se o velho sindicalista tivesse se convencido de que quem ele
era no passado não estava preparado para o sucesso.
Não tendo escrito nada, Lula esqueceu do que falava. Virou mais
tucano que o próprio FHC. Mimetiza a edulcorada retórica do ar-
ranjo, do possível.
Lula abandonou as convicções que lhe emprestavam aquele ar de
sapo-cururu. Acha que não deve nada ao seu passado, muito menos
explicações.
Como administrador do balcão do PMDB, Lula barganhou a pró-
pria alma. Vendeu-a, sob a submissão do PT, aos ex-ladrões.
Lula esforça-se agora para aniquilar o que parecia restar de sua
maior virtude: a presunção da superioridade moral.
Aproveitando-se do pano de fundo da decomposição do Senado,
Lula integrou-se por inteiro à baixeza comum a todos os políticos.
Lula empenha-se para provar que é capaz de ceder a todas as abje-
ções políticas, inclusive a rendição às alianças esdrúxulas.
Além de aniquilar o PT, Lula vitimou a semântica. Deu à capitulação
o nome de “governabilidade”.
A afronta ao léxico é a prova insofismável de que, em política, o
cinismo também pode ser uma forma de resignação.
Lula tornou-se uma evidência viva de que, com o passar do tempo,
qualquer um pode atingir a perfeição da impudência.
No mensalão, Lula e o PT haviam perdido a virgindade. No “Fica
Sarney”, a ex-virtude prostituiu, no bordel do arcaísmo, o restinho
de castidade.

108
O presidente sem-história oferece aos com-nódoas a oportunidade
de limpar os prontuários. O passaporte para a remissão é a aliança
com Dilma.
Incorporando-se à caravana, o PMDB, um partido a favor de tudo e
visceralmente contra qualquer coisa, preservará os seus negócios.
Sobre a lápide do ex-PT, o velho PMDB manterá o acesso às verbas
e aos cargos. A presidência, evidentemente, será mantida como parte
da cota do Sarney.

O Eixo do Poder

A crise que se instalou no Senado Federal, no primeiro


semestre de 2009, foi profetizada desde o momento em que o
Presidente Lula e o arquiteto Oscar Niemeyer se encontraram
no final de 2008 para tratar da reforma do Palácio do Planal-
to (vide capítulo anterior) e consumada com a transferência do
eixo do poder desse palácio, sede do Governo Federal, para ou-
tro local do Distrito Federal. Esse tipo de movimento cabalístico
traz sempre consequências para quem o faz e para o País, como
mostra os seguintes dados extraídos de um livro de minha auto-
ria, disponível na Internet (www.dominiopublico.gov.br), inti-
tulado Decifrando um Enigma Chamado Brasil (p. 39):
A implantação do eixo do poder num determinado território é um
fato marcante e cercado de toda uma liturgia e sua remoção implica
em conseqüências nefastas, como bem exemplifica a transferência
do eixo do poder do Palácio da Liberdade para o Palácio dos Despa-
chos em 1967, evento que marcou a gestão do último governador de
Minas Gerais eleito democraticamente e início do período de trevas
dos interventores da ditadura militar. Além do mais, o Palácio da
Liberdade tem forças que assustam os menos avisados, enquanto
outros as respeitam, como o ex-Governador Itamar Franco, que dis-
se aos jornalistas: “Pode ser que eles não existam, mas há uma força
que faz bem a governantes que se sentam naquele lugar. Por isso,
nunca quis despachar no Palácio dos Despachos. São espíritos bons,

109
que estão no Palácio para ajudar” (Estado de Minas, 18/12/2002,
p. 5). Mas o melhor exemplo das conseqüências catastróficas que
advêm da remoção do eixo do poder de um lugar para outro é dado
pelo Império Romano, pois a partir do momento em que Constan-
tino transferiu o eixo do poder de Roma, cravado em 700 AC, para
Constantinopla, no ano 330 DC, o milenar império entrou em declí-
nio e desapareceu um século depois.
No Brasil não foi diferente, pois por duas vezes esse fato se repetiu e
deixou suas marcas. Tudo começou com a transferência do eixo do
poder da cidade de Salvador para o Rio de Janeiro, fato que marca
o início do fim do período colonial e o advento do Império e o con-
seqüente declínio do Nordeste e ascensão do Sudeste como centro
gerador de riquezas. Esse processo encontrou seu termo quando o
Rei de Portugal transferiu o eixo do poder de Portugal para o Brasil,
evento que assinala também o crepúsculo deste império colonial e a
ascensão de outro, o Império Britânico. Igualmente a transferência
do eixo do poder da cidade do Rio de Janeiro para Brasília, além
de referendar a queda do Império do Brasil e a consolidação da Re-
pública brasileira, assinala também o fim dos domínios regionais
litorâneos e o surgimento no planalto central de um centro de poder
verdadeiramente nacional, pois passou a incorporar neste núcleo de
decisões as regiões antes periféricas do Centro-Oeste e da Amazô-
nica.
Em Minas Gerais, a história registra fato semelhante, pois a transfe-
rência do eixo do poder da colonial, clerical e maçônica Ouro Preto,
para a republicana e positivista Belo Horizonte, marcou não só o fim
do período escravocrata, como também o nascimento de uma nova
ordem social. Aqui também a dicotomia queda/ascensão acompa-
nhou todo o processo, pois a velha capital mineira acabou virando
museu, enquanto a nova ampliava os horizontes das gerais, que, ao
transpor a muralha da Serra do Curral, deixou para trás as estreitas
trilhas da Estrada Real e passou a caminhar pelas largas veredas
do Grande Sertão, onde seria plantado o novo centro de poder do
Brasil: Brasília.
Em que pese esse passo importante rumo ao futuro, um outro, em
sentido contrário, ameaça essa caminhada. Trata-se do projeto do
Governador Aécio Neves, anunciado no início de seu governo em
2003, de transferir o eixo do poder da Praça da Liberdade para ou-

110
tro local da cidade. Como todas as mudanças feitas ao longo da
história, esta também traz consigo conseqüências nefastas, como fi-
cou demonstrado pelas denúncias de corrupção feitas pelo deputado
Roberto Jefferson, as quais, como um terremoto, com epicentro na
capital mineira, abalaram os alicerces do governo Lula, fazendo ruir
toda estrutura petista montada para sustentá-lo no poder, levando
conseqüentemente o Brasil para uma crise institucional.
Para complementar essas considerações, com dados de
2009, ano que esta obra está sendo redigida, é bom lembrar
que o Governador Aécio Neves programou essa mudança para
2010, seu ultimo ano de governo e início de sua caminhada
rumo à presidência da República...

111
TEMPOS DE VIOLÊNCIA

Os novos tempos profetizados por Dom Bosco para Bra-


sil, trazem consigo, além de promessas alvissareiras, alertas
para a violência que a humanidade sofrerá na primeira metade
deste século, em função da crise que se instalou no Oriente
Médio, vale dizer, no mundo mulçumano, desde a volta dos
judeus à Palestina, e para a qual o País precisa estar preparado
para se defender. Esse estado de coisas, que ameaça todos os
países sul-americanos e a paz mundial, resulta de um ato falho
– a criação, pela Organização das Nações Unidas (ONU), do
Estado de Israel à custa do povo palestino.

A Raiz da Violência no Oriente Médio

A raiz da violência que se instalou nessa região reside


fundamentalmente no comportamento dos judeus, que, por
não se conformarem com a destruição do segundo templo de
Jerusalém por Tito no ano 70 d.C., e sua expulsão desse ter-
ritório pelos romanos, procuram, de todas as maneiras pos-
síveis, manter-se fiéis à filosofia que os norteou até essa data
– a de povo eleito por Deus para dominarem todas as nações
–, inclusive sonhando com a reconstrução desse templo. Esse
atavismo traz consigo, como norma de conduta, a lei de talião
– “Olho por olho, dente por dente” –, ignorando que essa lei
foi revogada pelos cristãos, que, além disso, souberam valori-
zar o conceito de cidadania praticado pelos romanos, incorpo-
112
rando-o à sua própria filosofia humanista, a qual, a partir daí,
tornou-se a base moral da civilização cristã ocidental.

Os Benefícios para a Humanidade da Destruição do


Templo de Jerusalém por Tito

Os benefícios para a humanidade da destruição do tem-


plo de Jerusalém por Tito transcendem, portanto, a remoção
física desse edifício, pois eliminou, também, uma mensagem
filosófica racista, discriminatória e prenhe de violência que
agora estão tentando reinstalar na Palestina, à custa de mortes,
destruição e violências de toda ordem, contra os habitantes
dessa terra que durante séculos a povoaram. Este retrocesso é
um atentado aos direitos dos cidadãos e vai de encontro aos
princípios básicos da Carta das Nações Unidas, os quais, desde
meados do século XX, passaram a regular as relações entre po-
vos civilizados para evitar novas guerras e salvar o mundo da
destruição; com exceção de Israel, que, com seu atavismo di-
nossáurico, arrogância messiânica, arsenal atômico próprio e
apoio interesseiro dos norte-americanos, investe pesado no Ar-
magedom para apressar a vinda do seu Messias, que lhes dará,
acreditam, o domínio do mundo, ignorando que as promessas
divinas dizem respeito ao plano espiritual e não material.

Armagedom - Um Processo em Andamento

O Brasil, em face dessa realidade e do colapso do sistema


financeiro bancado pelos Estados Unidos da América, que bas-
culou o plano de relacionamento das potências dominantes,
deve encarar o Armagedom como um processo em andamen-
to, inevitável, com epicentro no Oriente Médio, cujo alcance
113
poderá ficar circunscrito ao chamado Velho Mundo, se, para
tanto, estiver armado com bombas atômicas e montar, com os
demais países sul-americanos, um sistema defensivo capaz de
desencorajar quaisquer nações portadoras de artefatos nucle-
ares a envolverem o continente nessa catástrofe apocalíptica
que se aproxima de forma acelerada.
Com esse objetivo, o Brasil deve, desde já, não se me-
ter nesse drama criado pelos europeus e norte-americanos. Os
primeiros, para se verem livres dos judeus, devido a seu au-
toisolamento mafioso, o que vêm tentando desde os tempos
do Império Romano, passando pelos reis cristãos, Fernando
e Isabel, até Hitler, que radicalizou o processo; e os segundos,
usando-os como testa de ferro para dominarem os campos pe-
trolíferos do Oriente Médio.

A Visita do Presidente Iraniano ao Brasil e as


Reações da Comunidade Judaica

Belo Horizonte, 13 de maio de 2009.


Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF

Com cópias para os Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,


e para os Ministros de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger; da
Defesa, Nelson Jobim; das Relações Exteriores, Celso Amorim; e da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.

Assunto: A abortada visita do presidente iraniano Mahmoud Ahma-


dinejad e as reações negativas da comunidade judaica no Brasil.

114
Prezados(as) Senhores(as),

O recente cancelamento da visita do presidente do Irã ao Brasil e


os protestos da colônia judaica pela sua presença entre nós, por se
tratar de um político que nega o holocausto, merece algumas refle-
xões pelas implicações com a segurança nacional, já que se trata
de grupos organizados e orquestrados do exterior, para atingir ob-
jetivos alheios aos interesses do País; mas em consonância com o
novo governo israelense que elegeu o presidente iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad, como alvo preferencial de seus ataques para justificar
sua política expansionista na Palestina e no Oriente Médio.
O tema escolhido para obstaculizar essa visita, o holocausto, é
assunto tabu em Israel, onde existe um memorial para lembrar o
genocídio de seis milhões de judeus nas mãos dos nazistas. Mas,
em outros países, como o Irã, ele é simplesmente negado, ou ques-
tionado em sua real extensão por alguns, com fez recentemente o
bispo britânico Richard Williamson, que reduziu o número de víti-
mas para trezentos mil, advertindo que só mudaria sua colocação se
fossem apresentados dados comprobatórios que contrariassem sua
estimativa. Além disso, dentro da própria comunidade judaica há
os que contestam essa tragédia coletiva, como um judeu radicado
nos Estados Unidos da América, que recentemente escreveu um livro
denunciando a existência de uma indústria do holocausto explorada
por seus membros.
Para o governo brasileiro, essa disputa não faz sentido, pois a defesa
dos interesses do País deve se sustentar em fatos, e não em dados
manipulados por terceiros para atingirem seus próprios objetivos.
A lógica dos fatos, portanto, impõe uma reflexão mais aprofundada
para encarar esse problema do ponto de vista do Brasil. Para isso,
nada melhor do que repassar o significado da palavra “lógica”, con-
sultando a enciclopédia livre Wikipédia:
“Ao procurarmos a solução de um problema quando dispo-
mos de dados como um ponto de partida e temos um objetivo
a estimularmos, mas não sabemos como chegar a esse obje-
tivo temos um problema. Mas se depois de examinarmos os
dados chegamos a uma conclusão que aceitamos como certa,
concluímos que estivemos raciocinando. Se a conclusão de-
corre dos dados, o raciocínio é dito lógico. A lógica (do grego

115
clássico λογική logos) é uma ciência de índole matemática e
fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a ma-
nifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a
verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que essa
meta possa ser atingida corretamente a fim de chegar a co-
nhecimentos verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica
trata dos argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos
através da apresentação de evidências que a sustentam. O
principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com
sua obra chamada Organon.”
Partindo do pressuposto básico de que “é preciso estabelecer algumas
regras para que essa meta possa ser atingida corretamente a fim de
chegar a conhecimentos verdadeiros”, o primeiro passo para clarifi-
car essa questão do holocausto, é saber se os fornos crematórios dos
nazistas tinham capacidade para incinerar seis milhões de pessoas,
ou mais, considerando que não só judeus foram sacrificados pelos
alemães, nos dois anos de duração desse processo; isto levando-se
em conta as fotos desses fornos divulgadas pela imprensa. Colocar
seres humanos, aos milhões, nesses fornos, que mais se parecem com
os de padaria, com uma só boca e de pequena dimensão, cremá-las,
e retirar suas cinzas, requer uma logística industrial.
Considerando apenas os judeus, seis milhões, e dando a cada um
peso de 50 kg, são, segundo simples cálculos aritméticos, cerca de
300 milhões de quilos de carne e ossos para serem queimados. Em
dois anos (730 dias), portanto, foram incinerados algo em torno de
82.190 indivíduos, por dia. Em turno de 24 horas, seriam 3.424
pessoas/hora. Aliás, todo esse processo teria que ser muito bem cal-
culado –cálculos matemáticos-, abrangendo logística, energia térmi-
ca – usaram o quê?, o descarte dos residuos – onde?, a poluição
ambiental – usaram filtros para disfarçar o mau cheiro?, e o apaga-
mento de pistas, pois não foram encontradas nenhuma prova mate-
rial, nem pedaços de ossos calcidados, além de galpões abandonados
com prisioneiros esquálidos, mortos ou vivos; fato que contraria a
mortandade em massa e sistemática dos judeus tão logo chegassem
a esses campos.
Como são muitas as perguntas que requerem respostas precisas,
como exige o bispo britânico, a posição do governo brasileiro deve
ser de cautela, pois quem deve mostrar essas provas são as três po-

116
tências vencedoras da Segunda Guerra Mundial – Estados Unidos
da América, Inglaterra e Rússia –que, em seus arquivos, possuem
documentos comprobatórios de todos os fatos ocorridos naquele
período, como fotografias aéreas e relatórios minuciosos de seus
serviços secretos, que sabiam tudo o que se passava em território
inimigo, inclusive nas instalações dos campos de concentração, pois
poderiam produzir armas, munições ou serem disfarces para outros
fins bélicos.
No entanto, essas potências, a quem Israel deveria recorrer para com-
provar sua assertiva, até hoje não mostraram ao mundo nada que
justificasse essa paranoia judaica – nem mesmo um documentário
com imagens da época, fato comum em se tratando daquela guerra
–, que agora querem impor ao mundo como verdade absoluta, um
dogma de fé, exigindo que se puna quem disso duvidar, ou constran-
gendo países, como o Brasil, a adotarem, na marra, seus questiona-
dos pontos de vistas. Neste particular é bom lembrar que os judeus
violam nossa Constituição (Art. 5o, IV e IX), quando apelam para
o antissemetismo toda vez que que seus interesses são contrariados,
pois espertamente misturam assuntos de Estado com questões de sua
religião, como estão fazendo agora com o Irã, a bola da vez de sua
estratégia de dominação da Palestina e do Oriente Médio, este em
parceria com os norte-americanos.
Esta conduta dúbia foi há tempos denunciada pelo falecido presiden-
te francês, De Gaulle, que exigiu que se decidissem a respeito, para
evitar contradições perniciosas à paz mundial; fato que se repete na
atualidade, como informa o Jornal Estado de Minas (12/5/2009, p.
17):
“Uma nova guerra entre Israel e países árabes ou islâmicos
poderá ocorrer em 12 a 18 meses se não houver progressos
nas negociações de paz para o Oriente Médio, afirmou o rei
Abdullah, da Jordânia, em entrevista publicada no jornal The
Times. Ele participa da elaboração de um plano de paz ame-
ricano para a região, que prevê uma ambiciosa ‘solução de
57 estados’, com o envolvimento de todos os membros da
Organização da Conferência Islâmica.”
Essa iniciativa, como tantas outras, está destinada ao fracasso, pois
os judeus tudo farão para sabotá-la, inclusive bombardeando o Irã.

117
A eles só interessa o Armagedom, prelúdio da vinda do seu Mes-
sias, como comentei em três livros de minha autoria, disponíveis na
Internet (www.dominiopublico.gov.br). É só esperar para ver, pois,
segundo diversas profecias, esse apocalipse ocorrerá em 2012, úl-
timo ano do primeiro mandato do presidente Barack Obama dos
Estados Unidos, que, como seus antecessores, tudo fará para con-
quistar um segundo mandato, inclusive ir à guerra total contra os
mulçumanos.
Diante desses fatos, é bom o governo brasileiro se precaver, evitando
qualquer tipo de envolvimento com os países dessa região e dedi-
cando seus recursos e energia para defender a América do Sul, único
continente que escapará ileso dessa conflagração mundial. Para isso
é necessário que nossos estratégistas elaborem um ambicioso plano
de defesa continental, envolvendo todos os países da região, que leve
em conta a ação de países nuclearmente armados dispostos a quais-
quer aventuras para atingirem seus objetivos.
Agradecendo a atenção de V. Exas., e desejando-lhes sucesso em seus
afazeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Constituição Federal – Artigo 5º.:


[...] IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado
o anonimato.
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cien-
tífica e de comunicação, independentemente de censura ou li-
cença.

Telavive de Olho na América Latina


Belo Horizonte, 2 de junho de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva

118
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília -DF

Com cópias para os Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,


e para os Ministros de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger; da
Defesa, Nelson Jobim; das Relações Exteriores, Celso Amorim; e da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.

Assunto: “Telavive de olho na América Latina”.

Prezados (as) Senhores (as),

No dia 13 de maio p.p., enviei a V.Exas. uma correspondência tra-


tando da abortada visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadi-
nejad e as reações negativas da comunidade judaica no Brasil; tema
este relacionado com assunto em epígrafe, que serviu de chamada
para uma notícia publicada pelo Jornal Estado de Minas (31/5/2009,
p. 21), que acrescenta o seguinte comentário a esta manchete: Estra-
tégia - Israel, como tem status de observador na OEA, quer maior
aproximação com países latino-americanos para afastar Irã.
O que chama a atenção neste artigo, é o fato de o Estado de Israel
tentar intrometer-se nos assuntos internos do Brasil e dos demais
países latino-americanos, trazendo para este continente as intrigas
que espalha no Oriente Médio, infernizando o mundo mulçumano
para atingir seus objetivos estratégicos, como se observa no seguinte
trecho deste artigo:
“Israel lançará na próxima assembléia da Organização dos
Estados Americanos (OEA) uma campanha para fortalecer a
relação com a América Latina e resistir à ‘influência’ do Irã
na região, disse ontem o vice-chanceler israelense, Dani Aya-
lon. Uma delegação liderada por Ayalon participará com essa
meta da Assembléia Geral da Organização dos Estados Ame-
ricanos (OEA) de terça-feira, em Honduras, onde buscará
restaurar a ‘histórica amizade’ entre o povo judeu e os países
latino-americanos, que, segundo ele, é anterior ao estabeleci-

119
mento do Estado de Israel, em 1948. ‘A América Latina é um
continente muito especial para nós. Nossos melhores amigos
e aliados estão lá. A maioria dos países que nos apoiaram na
votação da ONU em 1947 que aprovou a criação de Israel
foram da América Latina’, destacou Ayalon.”
Essas observações merecem alguns comentários, como preliminar a
esta carta e para complementar o que foi tratado na correspondência
de 13 de maio. O primeiro deles é que, na América Latina, os judeus
nunca foram bem recebidos, seguindo determinações da Espanha e
Portugal, fato histórico sobejamente conhecido, e razão por que não
criaram raízes nesta parte do continente americano. O segundo é
sobre a votação na ONU em 1947 sobre a criação de Israel. Esta vo-
tação, como muitas outras ocorridas no processo de fundação dessa
organização, foi presidida pelo Chanceler brasileiro Oswaldo Ara-
nha, que simplesmente bateu o martelo para confirmar uma decisão
da Assembleia. Nada de especial, portanto, nesse gesto mecânico.
O que valeu foi o voto dos países participantes que criaram não
apenas um Estado na Palestina, mas sim dois: um para os judeus e
outro para os palestinos. Assim sendo, a existência de um está ligada
umbilicalmente ao do outro. São, afinal de contas, irmãos siameses.
Esta solução, que os judeus aceitaram num primeiro momento, pois
lhes era favorável, passaram, com o correr do tempo, a renegar, tão
logo perceberam que poderiam manipular, em benefício próprio, os
conflitos existentes nessa região e dos advindos dessa partilha equi-
vocada. Desde então, o que fizeram foi espalhar intrigas de toda
ordem, tornando o Oriente Médio num caldeirão do diabo, onde a
paz não tem vez.
Esse proceder maléfico agora querem repetir na América Latina.
Portanto, é bom que os políticos e governantes deste continente se
precavenham dessa estratégia maligna, ainda mais que a bonança
bate às portas do Brasil e da América do Sul, um continente que cul-
tua a paz, com o início da exploração das reservas de petróleo e gás
natural do pré-sal, as quais se podem estender pela costa atlântica do
Uruguai e Argentina, inclusive das Malvinas. Essa possibilidade al-
vissareira aumentará a tensão entre os países de outros continentes,
que estão com suas reservas em declínio ou em fase final de explora-
ção, os quais passarão a cobiçar essas e outras riquezas da América
do Sul. É com esse objetivo que os judeus se estão movimentando

120
em direção à América Latina, ou seja, dominar o poder econômico
dos países dessa região, ou servir de testa de ferro para as potências
dominantes, como estão fazendo no Oriente Médio. O Irã, no caso
latino-americano, é apenas um pretexto para se posicionarem estra-
tegicamente na região e estarem preparados para eventos futuros.

É bom ter em mente que os judeus, como povo, esperam um Messias


que lhes dará o domínio da nações, o qual virá precedido pelo Arma-
gedon, apocalipse que os israelenses estão preparando para detonar
com suas armas atômicas, pretextando um conflito com o Irã, país
que sequer faz fronteira com o indefinido território de Israel. Este
Estado, criado artificialmente pela ONU, por pressão dos britânicos,
que queriam ficar livres dos judeus em seu território, transferindo-os
para a Palestina, pode desaparecer do mapa não por um ataque do
Irã, com suas inexistentes armas atômicas, mas sim por uma resolu-
ção da ONU, a pedido dos países árabes, tornando sem efeito o que
foi decidido na Assembleia de 1947, já que o que ficou acertado até
hoje não foi cumprido. O que a ONU decidiu naquela ocasião, pelo
voto de seus membros, inclusive do Brasil, atendendo a um pedido
da Grã-Bretanha, foi pela partilha da Palestina em dois Estados se-
parados, judeu e palestino, com estatuto internacional especial para
Jerusalém.
Esse acordo entre nações, que deu aos judeus, de mão beijada, esse
território, eles agora o sabotam de todas as formas possíveis, como
bem enfatizou em editorial – Israel persiste no erro – o Jornal Folha
de São Paulo (30/5/2009, p. A2):
“Há 42 anos, desde que derrotou vizinhos árabes na Guerra
dos Seis Dias e ocupou, entre outras áreas, o território pales-
tino na margem ocidental do rio Jordão, Israel deslancha ali
um programa de assentamentos injustificável, que agride o
direito internacional. Sob Barack Obama, a Casa Branca vol-
ta a insistir no óbvio: o abandono dessa anexação sorrateira
é crucial para a existência do Estado Palestino. [...] Para dar
segurança aos assentados, o Exército israelense ali sustenta
uma miríade de bloqueios rodoviários e postos de controle,
que transtornam o cotidiano dos palestinos. [...] O premiê
Binyamin Netanyahu, entretanto, afirma que vai permitir o

121
‘crescimento natural’ dessas colônias. Uma provocação irres-
ponsável, além de cinismo na perpetuação do esbulho.”
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

A Visita do Chanceler Israelense e a Participação


do Brasil no Processo de Paz no Oriente Médio

(GUILA FLINT - BBC Brasil, de Tel Aviv - 20/7/2009)

Em visita ao Brasil, chanceler israelense quer “alertar” país sobre o


Irã

As discussões sobre o Irã devem ser o principal assunto da visita


ao Brasil do chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, a partir desta
terça-feira.
O ministro israelense das Relações Exteriores deverá se encontrar
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chanceler Celso
Amorim.
Segundo a embaixadora Dorit Shavit, diretora-geral do departamen-
to de América do Sul do Ministério das Relações Exteriores de Isra-
el, “um dos assuntos mais importantes, que com certeza Lieberman
abordará, é o problema do Irã”.
“Queremos alertar o Brasil sobre a ameaça iraniana. O Irã exporta
o terrorismo para a América Latina e esteve por trás dos ataques à
embaixada israelense e ao centro judaico Amia, em Buenos Aires”,
disse a embaixadora à BBC Brasil.
“Estamos cientes de que o Brasil tem interesses econômicos no Irã,
mas é necessário abrir os olhos. O Irã não vem [ao Brasil] só por in-
teresses econômicos. Grupos terroristas como o Hamas e o Hizbollah,
sustentados pelo Irã, podem vir a se infiltrar na América Latina”,
afirmou.

122
Processo de paz
Sobre o interesse brasileiro de participar no processo de paz no
Oriente Médio, a embaixadora disse que “é difícil saber se, no fu-
turo, o Brasil terá uma maior participação no processo de paz, mas
esse assunto certamente será abordado durante as reuniões do minis-
tro Lieberman com os líderes brasileiros”.
Os representantes do Brasil e de Israel ouvidos pela BBC Brasil con-
cordam que, apesar das divergências politicas, a visita é sinal de uma
aproximação significativa entre os dois países.
A visita do ministro Avigdor Lieberman é a primeira de um chan-
celer israelense ao Brasil em 22 anos e ocorre pouco tempo depois
que o Ministério das Relações Exteriores de Israel adotou mudanças
estratégicas, que incluem a decisão de fortalecer a colaboração com
os países do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Além da visita do chanceler, o ministério israelense decidiu reabrir o
consulado do país em São Paulo, que foi fechado em 2002.
Também está programada uma visita ao Brasil do presidente de Isra-
el, Shimon Peres, em novembro, que deverá ser retribuída por uma
visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Israel em 2010.
De acordo com o diplomata Sidney Leon Romeiro, encarregado do
setor político da embaixada do Brasil em Tel Aviv, “existem diver-
gências políticas entre os dois países, mas é para isso que existe o
diálogo”.
Colaboração
Apesar de divergências no âmbito internacional, principalmente li-
gadas às relações com o Irã e ao conflito israelense-palestino, a cola-
boração bilateral Brasil-Israel cresceu significativamente nos últimos
anos.
O ministro Celso Amorim fez três visitas a Israel desde 2005, e o
total do comércio entre os dois países mais que triplicou nos últimos
quatro anos, crescendo de US$ 500 milhões para US$ 1,6 bilhão.
“O lado brasileiro deverá levantar a questão do conflito israelense-
palestino”, disse Romeiro à BBC Brasil.

123
“Consideramos que existe uma nova janela de oportunidade na re-
gião que deve ser explorada. Recentemente houve uma série de fatos
positivos que podem facilitar a retomada do processo de paz, como
a atitude do governo [de Barack] Obama, a aproximação entre os
Estados Unidos e a Síria e as últimas declarações do premiê israelen-
se Binyamin Netanyahu, reconhecendo a solução de dois Estados”,
acrescentou.
O Brasil vem sinalizando há anos que tem interesse em participar do
processo de paz no Oriente Médio.
No entanto, para o cientista político Jonathan Rynhold, da Univer-
sidade de Bar Ilan, “essa é uma ilusão”.
“As chances de que o Brasil possa se transformar em um fator im-
portante no processo de paz são praticamente nulas”, disse Rynhold
à BBC Brasil.
“O Brasil não tem os instrumentos necessários para exercer uma
influência real nesta questão, pois não tem uma cadeira permanente
no Conselho de Segurança da ONU, não está envolvido militarmen-
te no Oriente Médio e não tem um capital diplomático para que
possa se transformar em um agente importante no processo de paz”,
afirmou o analista.
Segundo Rynhold, “a colaboração bilateral pode amenizar o efeito
das divergências politicas”. “Boas relações bilaterais e econômicas
são uma receita para amenizar confrontos no âmbito diplomático.
Israel tem interesse em se aproximar de países importantes, como
o Brasil, que têm uma força econômica e política crescente e estão
distantes do conflito no Oriente Médio”, afirma.
“Para o ministro Lieberman, que está bastante enfraquecido tanto
internamente como no nível internacional, a visita ao Brasil confere
prestígio e legitimidade”, acrescentou o analista.
Avigdor Lieberman enfrenta uma investigação policial por suspeitas
de fraude e lavagem de dinheiro, e no âmbito internacional é consi-
derado uma figura polêmica por suas posições de extrema-direita e
por morar em um assentamento na Cisjordânia.

124
AS LIÇÕES DA HISTÓRIA

Para se ter uma ideia do que está em jogo na Palestina,


com reflexos no Oriente Médio e países da Ásia Menor, os
chamados “istão” (Afeganistão, Paquistão, etc.), e o que está
por vir em escala global, é preciso um retorno ao ano 70 do
século I, quando os romanos, comandados por Tito (Titus Fla-
vius Sabinus Vespasianus - Roma 39/Aquae Cutiliae, Sabina/81
d.C.), destruíram o segundo templo, arrasaram Jerusalém até
os alicerces, eliminando toda a sua população, inclusive os sa-
cerdotes que foram executados, acabando, consequentemente,
com os sacrifícios e rituais que tinham lugar na colina de Sião
(“Naquele tempo [...] se trará dons a Iahweh dos Exércitos, ao
lugar onde se invoca o nome de Iahweh, o monte Sião” - Isaías
18,7), razão de ser da religião que professavam. Esta tragédia
coletiva, a eliminação da face da terra prometida do chamado
povo eleito, o fim de uma religião milenar e dos símbolos que
a sustentavam, foi minuciosamente descrita por Flávio Josefo,
testemunha ocular da história, em sua obra A guerra dos ju-
deus (Juruá Editora, Curitiba- PR).

Flávio Josefo
Flávio Josefo (em latim, Flavius Josephus, ou Iossef ben
Matitah ha-Cohen, em hebraico), historiador de origem judai-
ca (Jerusalém 37/Roma 100 d.C), descendente de antiga famí-
lia de sacerdotes, lutou contra os romanos na fase inicial da
guerra, sendo por estes derrotado, a quem se entregou, e salvo
125
graças a uma profecia que proferiu na presença de Vespasiano,
general das legiões, segundo a qual este se tornaria impera-
dor de Roma. Protegido por Vespasiano, que viu cumprida
suas profecias, e por seus filhos Tito e Domiciano, mais tarde
também imperadores, recebeu a cidadania romana, o nome da
família do imperador, Flavius, e bens que lhe permitiram dedi-
car o resto da vida à atividade de historiador. Teve papel ativo
no cerco de Jerusalém por Tito, como assessor desse general
romano e profetizando em favor de seu povo, por inspiração
divina, a quem advertia das desgraças por vir, clamando para
que buscassem a paz com os romanos.

A Destruição de Jerusalém Pelos Romanos


no Ano 70 d.C.

Tito, por sua vez, não se cansava de apelar para as fac-


ções judaicas, que se digladiavam dentro das muralhas, numa
luta sangrenta pelo domínio do poder, matando seu próprio
povo pela fome e pela espada, e destruindo tudo que cons-
truíram durante séculos, inclusive o próprio templo, que não
respeitaram. Para evitar a destruição da cidade e do templo,
que queria preservar, pois aos romanos interessava mais domi-
nar sobre uma cidade viva do que sobre um território deserto,
Tito, mais de uma vez, retardou o avanço de suas legiões à
cidadela e ao templo na esperança de que os insurretos se en-
tregassem. Tudo em vão. Pesaroso, como narra Josefo, liberou
os legionários para o assalto final e agirem como mandavam
as leis da guerra: incendiar e saquear a cidade, matar todos
os seres vivos e arrasar tudo que encontrassem pela frente. O
que foi feito sem hesitação pelas disciplinadas legiões sob seu
comando, no que contaram com a ajuda dos próprios judeus,
que, desnorteados, acabaram pondo fogo no templo para se
defenderem. Como em Cartago, os romanos, após a luta, apli-
126
caram o que aprenderam ao longo do tempo: arrasar o terre-
no até os alicerces e escravizar os sobreviventes, não dando
chance para novas rebeliões na terra conquistada. O resultado
foi que os judeus não pisaram nesse local por quase dois mil
anos. Essa vitória arrasadora é lembrada no Arco do Triunfo
de Tito, ainda existente em Roma, onde se pode ver o cande-
labro de sete braços (menorah) utilizado pelos judeus como
uma das características mais importantes do Tabernáculo e do
Templo, sendo carregado no desfile triunfal.

As Profecias sobre a Destruição do Templo de


Jerusalém
Os fatos narrados por Flávio Josefo não deixam dúvi-
das de que todo o processo de destruição do segundo templo,
da cidade de Jerusalém e da eliminação ou expulsão do povo
judaico da terra prometida não se deveu apenas a uma das
muitas guerras de conquistas que os romanos levaram a cabo
com sucesso durante os mil anos de duração de seu império.
Foi o cumprimento de profecias conhecidas por Josefo e des-
critas nessa sua obra, como o incêndio que destruiu o Templo
(“Fazia tempo que Deus o havia condenado ao fogo, e havia
chegado, na sucessão dos séculos, o dia fixado pelo Destino,
dia dez do mês de Loos, data também em que outro templo
havia sido queimado pela obra do rei babilônico”) e outras
proferidas pelo próprio Messias, narradas nos Evangelhos (Mt
24, 1-2): Jesus saiu do templo e foi caminhando. Os discípulos
se aproximaram para lhe mostrar as construções do templo.
Ele, então, declarou: “Não estais vendo tudo isto? Em verdade
vos digo: não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
Todavia, os judeus que sobreviveram a essa catástrofe e os ou-
tros que viviam espalhados pelo Império Romano se apegaram
aos seus livros sagrados como se nada houvesse acontecido.
127
Traumatizados pelo que se passou, quedaram-se deslocados
no tempo e no espaço, alimentando a ilusão de que um dia
voltariam à terra prometida, revivendo os velhos tempos.

O Testemunho de Flávio Josefo

É bom frisar que o testemunho de Flávio Josefo sobre


os acontecimentos que redundaram na queda de Jerusalém e
na destruição do Templo não foi casual, mas obra da Divina
Providência, pois se tratava de um homem de fé. Foi criado na
melhor tradição judaica, dominando os textos tradicionais da
Tora e versado nos ensinamentos dos saduceus, fariseus e es-
sênios. Viveu, na qualidade de discípulo, três anos no deserto,
alimentando-se de frutas e lavando-se com água fria, várias
vezes, ao dia e à noite para purificar o espírito. Não era um ju-
deu comum, mas um praticante de sua religião, um visionário
que anteviu não só o destino de Vespasiano, mas sua própria
captura pelos romanos. Trata-se, portanto, de um testamento
digno de fé que os judeus não podem contestar, o que poderia
ser feito se outro fosse o historiador desses acontecimentos.
Diante de tudo isso, é pouco provável que um terceiro templo
seja construído no lugar do segundo, e um ressurgir do Judaís-
mo venha a se repetir na história da humanidade, pois, como
se diz, “a história não se repete, senão como farsa”.

O Amargo Regresso

Reza o dito popular que “quem foi ao vento perde o as-


sento”. No caso dos judeus, quando voltaram, quase dois mil
anos depois, encontraram os primitivos donos da “terra pro-
metida”, os palestinos, de posse de seu patrimônio ancestral,
que agora querem expulsar. É aí que mora o perigo, pois sobre
128
os alicerces do templo arrasado pelos romanos, outra religião,
a mulçumana, construiu seu próprio templo; além disso, é bem
provável que essa mesquita foi colocada sobre as ruínas do se-
gundo templo como uma pedra para encerrar o assunto, uma
pedra de tropeço para os mais afoitos. Portanto, é somente
pela força que serão removidos, no que os judeus da atuali-
dade se empenham; preliminarmente com astúcia, ao proibir
os jovens de frequentarem esse templo, para assim fazê-los es-
quecer as tradições de seus pais, mas, num segundo momento,
aproveitando uma rebelião ou guerra, destruí-lo de vez.
Todo o processo em andamento na Palestina, posto em
prática pelos judeus desde o seu retorno à Palestina na década
de 40 do século passado, visa à reconstrução do templo e
restauração do Império de Salomão. Para isso, acreditam, é
preciso desencadear o Armagedom, que antecederá a vinda de
seu Messias que lhes dará o domínio de todas as nações da
terra. É um projeto messiânico, esse. Só que o Messias já veio
e ficaram a ver navios por falta de discernimento, como rezam
as Escrituras; além disso é bom ter em mente que as promessas
divinas dizem respeito ao plano espiritual e não material.
A terra prometida, bem como o domínio das nações, são
elementos simbólicos de uma promessa já cumprida, não pelos
judeus, mas pelos cristãos, que receberam prazerosamente o
Messias prometido.
Deve-se recordar, ainda, de que o reino universal pro-
metido pelo Messias se tornou realidade para a humanidade
desde o momento em que os romanos se tornaram herdeiros
dessa promessa, e a civilização ocidental por extensão, como
profetizou o próprio Cristo, e dela tomaram posse no ano 70,
ao transformarem a Judeia em província imperial, confiada ao
legado da décima legião aquartelada em Jerusalém. Essa pro-
fecia está explicitada na parábola dos vinhateiros homicidas,
como consta da Bíblia Sagrada (Mateus 21, 33-46):
129
Escutai outra parábola. Havia um proprietário que plantou uma vi-
nha, cercou-a com uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma
torre. Depois disso, arrendou-a a vinhateiros e partiu para o es-
trangeiro. Chegada a época da colheita, enviou os seus servos aos
vinhateiros, para receberem os seus frutos. Os vinhateiros, porém,
agarraram os servos, espancaram um, mataram outro e apedreja-
ram o terceiro. Enviou de novo outros servos, em maior número do
que os primeiros, mas eles os trataram da mesma forma. Por fim,
enviou-lhes o seu filho, imaginando: “Irão poupar o meu filho”. Os
vinhateiros, porém, vendo o filho, confabularam: “Este é o herdeiro:
vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança.” Agarrando-o,
lançaram-no para fora da vinha e o mataram. Pois bem, quando vier
o dono da vinha, que irá fazer com esses vinhateiros?” Responde-
ram-lhe: “Certamente destruirá de maneira horrível esses infames e
arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos
no tempo devido. Disse-lhes então Jesus: “Nunca lestes nas Escritu-
ras: A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angu-
lar; pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos olhos? Por
isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um
povo que produza frutos.” Os Chefes dos sacerdotes e os fariseus,
ouvindo as suas parábolas, perceberam que se referia a eles. Procu-
ravam prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois que
elas o consideravam um profeta.

As Sementes da Destruição

Analisando essas lições da história, a conclusão a que


se chega é que os judeus estão plantando as sementes de sua
própria destruição, pois se a diáspora escapou dos romanos
por astúcia ou sorte, agora o mundo todo está de olho nos seus
propósitos, já que o Cristianismo vem repassando essa história
de geração em geração nos últimos vinte séculos. E, neste mun-
do de Deus, tem de tudo, principalmente oportunistas à espera
de despojos dos derrotados. Cristo veio ao mundo para pregar
a paz e o mataram. Ainda há tempo de refletirem a respeito e
evitarem o apocalipse. Para uma nação pequena, de território
130
diminuto, densamente povoado, como Israel, a posse de armas
nucleares não significa segurança, mas vulnerabilidade, pois
em caso de guerra nuclear, toda sua população e instalações
vitais estarão expostas a ataques semelhantes por parte de ou-
tros países possuidores de tais armas. Um fato que pôs em
evidência essa fraqueza foi o recente anúncio feito pelo Irã,
de que havia testado com êxito um foguete capaz de atingir o
território de Israel. Bastou essa notícia para que a população
judaica entrasse em pânico e os mais prevenidos já falavam
em deixar esse território, como mostrou pesquisa de opinião
pública, temendo o dia em que os iranianos também venham
a possuir a tão temida bomba atômica. Quanto ao Brasil e à
América do Sul, é melhor se prevenirem, pois, como diziam os
romanos, “se querem a paz, preparem-se para a guerra”.

131
PREPARANDO-SE PARA A GUERRA

A Guerra de Canudos e a Realidade Atual

Belo Horizonte, 29 de junho de 2008.


Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Exmos. Srs. Ministros
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e da Defesa, Nelson
Jobim
Exmos.(as) Srs.(as)
Senadores(as) e Deputados(as) Federais

Assunto: Reflexões sobre o simbolismo e lições que encerram a tra-


gédia do Morro da Providência (Rio de Janeiro/junho de 2008) e a
Guerra de Canudos (Bahia-1896/1897).

Prezados(as) Senhores(as),
Como registra a história, os primeiros habitantes do Morro da Pro-
vidência foram os combatentes desmobilizados da Guerra de Canu-
dos, apelidados de favelados, nome tirado de uma planta comum
nos campos de batalha daquela região, o qual, a partir desse primei-
ro aglomerado de excluídos da sociedade, serviu para nomear outros
guetos urbanos que permeiam a “Cidade Maravilhosa”. Favelado,
desde então, passou a ser sinônimo de marginal, e as favelas, valha-
couto de ladrões, assassinos e traficantes de drogas.
Para combater esses favelados, a sociedade vem aplicando o mesmo
método usado em Canudos, no alvorecer da República, ainda no
século XIX, quer dizer, a força policial estadual e, quando esta se

132
mostrar incompetente, apelar para o Exército. Por uma ironia da
história, os mesmos elementos que levaram o Exército brasileiro a se
macular em Canudos, há mais de um século, repetem-se na atualida-
de, ou seja, um oportunista com verniz religioso manipulando uma
comunidade de excluídos para disso tirar o melhor proveito, e os
governantes, atentos a sua manobra, para também se beneficiarem.
Na favela do sertão baiano, toda população foi dizimada, cerca de
25.000 habitantes, e na carioca, por enquanto, as vítimas foram três
jovens indefesos. Em ambos os casos, prevaleceu a estratégia militar:
naquela época erradicar um mal pela raiz; agora dividir para domi-
nar, como fez o jovem tenente ao jogar uma favela contra a outra.
Cento e onze anos, portanto, não foram suficientes para que os polí-
ticos, governantes, militares e a sociedade se libertassem do axioma
de que a questão social é caso de polícia, como verbalizou um líder
da República Velha; e mais do que isso, que a força bruta deve pre-
valecer sobre supostos direitos dos cidadãos, como aconteceu com
os três favelados do Morro da Providência, que foram executados
por marginais de outra favela a mando do Exército brasileiro, num
serviço terceirizado, do tipo blackwater, que pode virar moda, se a
sociedade não reagir com soluções práticas e eficientes para o res-
gate da cidadania dos excluídos, em sua maioria ainda sofrendo
da síndrome das senzalas: a submissão sem contestação, que gera
o conformismo paralisante. Aqui é bom lembrar o exemplo do ex-
Governador de Minas Gerais, Milton Campos, que, tendo de en-
frentar uma greve de ferroviários, devido ao atraso no pagamento de
salários, deixou de lado conselhos para reprimir os grevistas com a
polícia estadual, dizendo que o melhor seria mandar o trem pagador,
o que foi feito restabelecendo a ordem sem violência.
Considerando que, para solucionar o problema social criado pela
minifavela de Canudos, com seus 25.000 habitantes, foi necessário
empregar todo Exército brasileiro, é fácil imaginar o quanto será ne-
cessário de força bruta para dominar os favelados da Região Metro-
politana do Rio de Janeiro, acima de 2 milhões e meio, em caso de
uma rebelião qualquer, que pode ser detonada por fatores aleatórios,
seja por desvio de comportamento de elementos da força repressora,
como a atitude impensada do jovem oficial, ou uma fatalidade qual-
quer que foge ao controle das autoridades. Diante de um quadro
instável como esse, é bom que as autoridades competentes, políti-

133
cos, governantes, militares e a sociedade em geral reflitam sobre a
necessidade de mudar o enfoque dessa questão social representada
pelas favelas que sufocam as metrópoles brasileiras, principalmente
as da Região Sudeste, onde se concentram a maioria dos libertos das
senzalas e dos migrantes nordestinos.
A minifavela de Canudos foi erradicada, mas as sementes trazidas
nas botas de seus algozes germinaram em solo carioca, onde renasceu
cem vezes maior. A solução, portanto, não passa pela força bruta,
mas sim por um planejamento estratégico que contemple medidas a
curto, médio e longo prazos, envolvendo os cidadãos e os espaços
onde habitam. Em boa hora, o Presidente Lula criou a Secretaria
de Assuntos Estratégicos, pois ela poderá, com as ferramentas hoje
disponíveis, como a informática as imagens de satélites, planejar o
reordenamento do espaço urbano das regiões metropolitanas, erra-
dicando as favelas em situação de riscos ou insalubres, com a cria-
ção de novos bairros para abrigar os favelados, ou reurbanizando
as existentes, quando possível. Em todos os casos, o saneamento
básico deve acompanhar todo o processo, inclusive medidas de pre-
servação do meio ambiente que, no caso da “Cidade Maravilhosa”,
está a exigir ação imediata para que as florestas que recobrem suas
montanhas não sejam derrubadas para dar lugar a barracos, como
ocorre atualmente.
Além disso, é necessário, também, a criação de pólos de desenvolvi-
mento fora das regiões metropolitanas, para atrair a população flu-
tuante que procura as capitais dos Estados em busca de oportunida-
des de trabalho. Um exemplo de sucesso nesta estratégia descentrali-
zadora é dado pelo Estado de Minas Gerais, que em passado recente
criou uma companhia estatal para implantar distritos industriais
fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Este é um exemplo
que a Secretaria de Assuntos Estratégicos pode analisar para elabo-
ração de um plano de ação para todo o País. Neste planejamento,
inclusive, pode ser analisado também o impacto econômico e social
que trará a implantação da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco,
que pode criar um novo eixo de desenvolvimento no centro do Brasil
e da América do Sul, aliviando a pressão demográfica nas capitais
do litoral atlântico. Este imã poderoso é fundamental também para
contrabalançar o desenvolvimento das regiões Sul e Sudeste, em fun-
ção da exploração das gigantescas reservas de petróleo e gás de seu

134
litoral, a qual pode acentuar ainda mais os desequilíbrios regionais,
se não houver um planejamento a curto, médio e longo prazos, pois
essa riqueza irá atrair pessoas e investimento em buscas de oportuni-
dades, gerando uma explosão populacional e, conseqüentemente, a
favelização generalizada dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo, o Vale do Paraíba no eixo Rio-São Paulo, e o litoral paulista,
neste caso à custa da Mata Atlântica.
Para encerrar esta carta cidadã, é bom lembrar que todas essas me-
didas só fazem sentindo se o ser humano for o centro das atenções.
Resgatar os favelados da marginalidade em que se encontram e inse-
ri-los na sociedade organizada é uma prioridade de governo que se
impõe num planejamento estratégico que vise transformar o Brasil
numa potência em escala global, pois é impossível imaginar que essa
pretensão se concretize com o atual quadro de desigualdade social.
O primeiro passo nesse sentido é implantar a Escola Pública de Tem-
po Integral, a começar pelos grandes centros urbanos onde os brasi-
leiros residentes em favelas não têm nenhuma chance de exercer ple-
namente os seus direitos de cidadania, hoje reservados aos filhos da
elite e da classe média, dada a precariedade do ensino aí ministrado.
Nas favelas, é bom lembrar, o limite de idade para os rapazes mais
espertos, portanto, os mais rebeldes, é de 30 anos, pois serão mortos
antes de completarem essa idade, já que a educação que receberam,
se a receberam, não permite que usem a inteligência em atividades
produtivas, restando como ferramenta de libertação a arma de fogo
que os condenam à morte prematura.
A mudança deste quadro só pode ocorrer com a implantação da
Escola Pública de Tempo Integral, funcionando das 7 às 17 horas,
abrangendo creches comunitárias, pré-escola e ciclo básico infan-
to-juvenil (Ensino Fundamental e Médio), período suficiente para
ministrar um curso abrangente que contemple todos os aspectos
necessários à formação de cidadãos conscientes de seus direitos e
obrigações. Com esta medida, nenhuma criança ou jovem ficarão
soltos na rua à mercê de criminosos. Esse resgate social as libertará
também das garras das ONGs e outras entidades assistencialistas,
públicas ou privadas, que fazem desses brasileiros marginalizados
um meio de vida muito rentável, pois todas suas ações são custeadas
com dinheiro público, via deduções do imposto de renda, ou verbas
públicas repassadas a fundo perdido. Acabar com essa farsa é tarefa

135
de um órgão governamental como a Secretaria de Assuntos Estraté-
gicos da Presidência da República, a qual deve também considerar
a transferência do Ensino Superior para o Ministério de Ciência e
Tecnologia, como ocorre no Estado de Minas Gerais, ficando o Mi-
nistério da Educação com o encargo de monitorar e ditar as normas
de funcionamento do ensino básico em todo o País, o qual passará
a ser de competência exclusiva dos Estados, ficando as prefeituras
com o encargo de administrar as creches comunitárias.
Finalmente é bom lembrar que o trato da questão das favelas não
deve limitar-se a iniciativas pontuais e demagógicas, como o tal “Ci-
mento Social”, do Morro da Providência, ou outras, como instalar
teleféricos aqui, ou pintar as casas de branco acolá. O que interessa
para a sociedade brasileira é uma proposta inteligente para acabar
com esses guetos urbanos, e não maquiá-los para esconder essa ver-
gonha nacional. Afinal de contas, será a elite pensante tão burra
que ainda não sacou que toda a violência que sofre se deve ao grau
de miseralibilidade de metade da população do País?! Como pode
haver respeito à cidadania numa cidade onde bairros bem estrutu-
rados disputam espaço com favelas? A ficha ainda não caiu? Que
civilização cretina é essa, a nossa, onde se sai em passeatas levando
pombinhas de papel para pedir paz e, no seu horizonte visível, estão
as favelas carentes de tudo? E o Partido dos Trabalhadores, o PT,
e o Presidente Lula, um ex-favelado, que até agora não mostraram
para que vieram? E os militares, que no passado se recusavam a
exercer as funções de Capitães-do-Mato, para caçar negros fugidos,
mas agora discutem filigranas jurídicas para participarem do esporte
predileto de governantes sanguinários: a caça de perigosos narco-
traficantes calçados de havaianas, ou descalços mesmo. Alguns des-
ses pé-de-chinelo, seminus e desarmados, são abatidos por militares
transportados em helicópteros de última geração, para deleite das
autoridades competentes e enredo de filmes premiados. O resultado
de tudo isso é que a cidadania tem medo de subir os morros cariocas,
preferindo as areias de Copacabana, onde se dedica a espetar balõe-
zinhos e pequenas cruzes na tentativa de sensibilizar uma sociedade
corrompida pela escravidão.
Agradecendo-lhes a atenção, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

136
Censo da Juventude

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2008.


Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: Censo da Juventude

Prezado Senhor Presidente,


O Jornal Estado de Minas, do dia 25 do corrente mês, traz uma re-
portagem sobre o drama vivido pelo Exército brasileiro para recru-
tar soldados para lutarem na 2ª Guerra Mundial, diante da precarie-
dade das condições de saúde e educação da juventude, numa época
em que a população do país era de 42 milhões de habitantes.
Essas informações, constantes de relatórios secretos do Ministério
da Guerra, revelam que “Foi grande o trabalho de preparar homens
para a guerra, a fim de que o Brasil cumprisse sua palavra empenha-
da. Os esforços despendidos por nós para preparar 5 mil homens,
é (sic) bem maior do que outra nação adiantada para organizar um
contingente de 25 mil homens. A subnutrição, a falta de higiene e
a sífilis, as três em ação combinada com o analfabetismo, são ele-
mentos negativantes na formação de qualquer tropa em terras bra-
sileiras”. (...) “Há necessidade de uma ação governamental incisi-
va para combater os males sociais que afligem nossa população: o
analfabetismo, o baixo estalão de vida, a alimentação parca e pouco
nutritiva, a higiene precária, a sífilis, a lepra e as doenças venéreas”,
recomendou Dutra a Vargas.
Esse estado de coisas ainda está presente na sociedade brasileira,
agora levantada pelos empresários que encontram dificuldades para
contratar mão de obra para seus empreendimentos, fato que V. Exa.
não desconhece, pois tem anunciado muitos projetos emergenciais

137
para minimizar essa situação, tanto na área da educação, como na
da saúde, inclusive no reforço alimentar da população, com a me-
renda escolar e o bolsa família. Todavia, na Era do pré-sal, que se
anuncia, quando teremos recursos financeiros suficientes para co-
locar o Brasil num patamar de país desenvolvido, como os do G-7,
é preciso fazer mais, muito mais, e mirar mais alto. O objetivo a
ser alcançado é que o país tenha uma juventude educada, sadia, e
pronta para o exercício pleno da cidadania, aí incluídos direitos e
obrigações.
Para isso é necessário um planejamento estratégico que contemple
medidas a curto, médio e longo prazos, envolvendo os ministérios
de Assuntos Estratégicos, da Defesa, da Educação, e da Saúde, o
qual terá como ponto de partida um levantamento censitário do es-
tado atual da juventude brasileira. O caminho mais indicado para
executar esse trabalho é fazê-lo por ocasião do alistamento militar
e durante os exames de seleção dos conscritos para incorporação às
Forças armadas, inclusive as jovens que passarão a prestar o servi-
ço militar obrigatório. Esse censo juvenil poderá ser feito em duas
etapas. Na primeira, durante o alistamento militar, os rapazes e mo-
ças com idade entre 16 e 17 anos, preencherão questionários elabo-
rados por esses ministérios para atender suas demandas especificas
e orientar os trabalhos da fase seguinte: o exame de seleção para
prestação do serviço militar. Nesta primeira etapa o objetivo princi-
pal é levantar dados pessoais, examinando certidões de nascimento,
escolaridade, etc.
Com base nessas informações o Ministério da Defesa emitirá uma
Carteira de Identidade Nacional, cujo número será obrigatoriamen-
te utilizado em todos os documentos de fé pública, como passapor-
tes, títulos de eleitor, carteiras de motorista, CPF, etc. Esses dados,
armazenados num Banco de Dados do Ministério da Defesa, serão
repassados às Polícias Federal, que passará a emitir segundas vias,
e Estaduais, aos Tribunais Eleitorais, e ao Ministério da Fazenda.
Com base nessas informações essas instituições poderão criar seus
próprios Bancos de Dados, para emitir seus documentos ou acres-
centar outras informações de seus interesses, não podendo, todavia,
modificar os dados originais, os quais só poderão ser alterados pelo
Ministério da Defesa mediante decisão judicial.

138
Na segunda etapa, a seleção para incorporação às Forças Armadas,
o enfoque principal será o exame de saúde de todos os alistados, o
qual será formatado pelo Ministério da Defesa em conjunto com
o Ministério da Saúde, pois os resultados poderão ser amplamente
utilizados por esses ministérios para os mais variados fins. Por isso
mesmo, as informações sobre cada conscrito serão confidenciais, de
uso restrito das Forças Armadas, liberando-as, para uso público, so-
mente na forma de números estatísticos. As análises laboratoriais,
por exemplo, que deverão incluir obrigatoriamente exames de san-
gue, urina e fezes, poderão também fornecer o tipo sanguíneo e o
DNA dos reservistas; dados que serão repassados a eles mediante
solicitação por escrito. Alem disso, em comum acordo, esses ministé-
rios poderão criar também Bancos de Sangue no país todo para aten-
der a população, os quais serão abastecidos com doações daqueles
dispensados do serviço militar.
Finalmente é bom esclarecer que esse processo de avaliação da ju-
ventude brasileira, feito num momento crucial de seu desenvolvi-
mento físico, e formação intelectual, é de fundamental importância
para o País, que assim terá em mãos dados consistentes para avaliar
as políticas públicas voltadas para as crianças e adolescentes, e o
potencial dos jovens para sustentar seu desenvolvimento econômico
e participar da defesa nacional. Alem disso, deve-se ter em mente,
que essa avaliação evoluirá com o tempo, para responder as necessi-
dades da sociedade, acompanhamento que será feito pelo Ministério
de Assuntos Estratégicos, que ficará encarregado de integrar todos
os dados e relatórios, para, em conjunto com esses ministérios, tra-
çarem uma política nacional de valorização da juventude, a curto,
médio e longo prazos. É, portanto, um serviço de cidadania prestado
pelo Estado num momento mágico na vida de cada jovem: a passa-
gem da adolescência para a vida adulta. Dinheiro – para implantar
esse censo juvenil, mensal, semestral, ou anual, de vital importância
para um planejamento estratégico, que vise colocar o Brasil no gru-
po de nações desenvolvidas –, não irá faltar na Era do pré-sal, pois
se propala por aí que é de tal magnitude que no Brasil não há espaço
para ele (sic).
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V.Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
139
Com cópias para os Exmos. Srs. Ministros, de Assuntos Estratégi-
cos, Mangabeira Unger, da Defesa, Nelson Jobim, da Educação, Fer-
nando Haddad, e da Saúde, José Gomes Temporão

Bases Militares Norte-Americanas na Colômbia


Belo Horizonte, 29 de agosto de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: Bases militares norte-americanas na Colômbia.

Com cópias para Exmos. Srs. Ministros Nelson Jobim, da Defesa, e


Celso Amorim, das Relações Exteriores.

Prezado Senhor Presidente,

O Jornal Folha de São Paulo, em sua edição de hoje, na coluna Aná-


lise (p.A 12), informa, a propósito da reunião de Bariloche: “Mais
do que um encontro político, parecia uma terapia em grupo. E o
Brasil errou na previsão de que a Unasul marcaria uma ‘disten-
ção’ dos países da região, especialmente entre a Colômbia e o trio
Venezuela-Equador-Bolívia. Ao contrário, a tensão segue, e não há
acordo à vista quanto à polêmica questão das tropas americanas em
bases colombianas. [...] A chance de haver consenso sobre as bases
é praticamente nula, o que projeta o seguinte cenário: a Unasul vai
pular de reunião em reunião até que o assunto canse e saia da pau-
ta. Nem mesmo as tais ‘garantias jurídicas’ que o ministro Nelson
Jobim (Defesa) previu que Uribe apresentaria foram dadas. O Brasil
falou disso com Colômbia e com os EUA, mas nada acontece. Tam-
bém não andou a proposta de uma reunião dos 12 presidentes com
Barack Obama, dos EUA. Raramente as propostas brasileiras caem
tão evidentemente no vazio”.

140
Como nenhum país da América do Sul está preparado para enfren-
tar, de imediato, essa ameaça externa, muito menos o Brasil, que só
agora está pondo em prática uma Estratégia Nacional de Defesa, é
preciso ter em mente o que outros países continentais fizeram, ao
longo de sua história, para enfrentar ameaças semelhantes. A Rús-
sia, por exemplo, só saiu vencedora na Segunda Guerra Mundial,
quando derrotou a Alemanha Nazista, no Ocidente, e o Império Ja-
ponês, no Oriente, por ter-se preparado internamente, construindo
uma infraestrutura operacional que tinha na Ferrovia Transiberiana
a viga mestra. Por essa, e por outras, é que os russos saíram ven-
cedores dessa guerra, pois, como dizem, estrategicamente jogavam
xadrez, enquanto seus adversários jogavam damas.
Para o Brasil, e a América do Sul, a viga mestra da defesa continen-
tal, inclusive da Antártida, para enfrentar com êxito essas e outras
ameaças que surgirão no futuro, ainda está para ser construída, mas
já foi profetizada. Trata-se da Ferrovia Transcontinental Dom Bos-
co. Esta estratégica ferrovia e suas ramificações poderão ser constru-
ídas em perfeita sintonia com os demais países sul-americanos, pois
o objetivo maior será a integração econômica e social do continente,
sem nenhuma implicação de ameaça a quem quer que seja. Seu uso,
como arma de defesa, será feito em casos de conflitos bélicos glo-
bais ou bloqueio marítimo continental. Trata-se, portanto, de uma
proposta que visa, acima de tudo, ao desenvolvimento econômico e
social da América do Sul como um todo, sem exclusões, eliminando
os bolsões de miséria onde grupos guerrilheiros estabelecem suas
bases em busca de justiça social.
Para combater esses conflitos sociais, o caminho mais indicado é
investir em projetos que gerem empregos e promovam o comércio
entres os países do continente, e não na construção de bases milita-
res para intimidar guerrilheiros ou narcotraficantes. Um exemplo
da ineficácia deste tipo de confronto é dado pela própria Colômbia,
“fonte de 80% da cocaína que os EUA consomem”, e que passou
os últimos dez anos erradicando plantações ilícitas, inclusive extra-
ditando mais de 600 colombianos para os EUA (Folha de São Pau-
lo, 16/8/2009, p.A22). Segundo um colunista desse jornal (p. B2),
“mais de US$ 6 bilhões foram já despendidos no Plano Colômbia e
Bogotá se tornou o terceiro maior beneficiário da assistência militar
dos EUA, após Israel e o Egito”. É bom lembrar que estes dois países

141
se situam numa região de conflitos bélicos seculares; ao contrário
da América do Sul, que sempre cultivou a paz. A paz no continente
sempre foi mantida na base da confiança mútua entre os países da
região, e não por meio de intimidações militares.
Mas essa paz pode estar com seus dias contados, dependendo do
tipo de jogo que os Norte-Americanos estão pondo na mesa: Da-
mas ou Xadrez. No primeiro caso, o combate ao narcotráfico pode
ser o objetivo, pois busca-se resultados imediatos, mas, na segunda
opção, os alvos visados são mais complexos e de longa maturação.
Neste caso, mais do que no primeiro, insere-se a notícia de que “o
presidente mexicano, Felipe Calderón, acertou com seu colega Álva-
ro Uribe intensificar a cooperação entre os dois países na luta contra
o narcotráfico. A Colômbia vai treinar 10 mil agentes federais mexi-
canos em táticas de combate ao crime organizado - muitíssimo mais,
portanto, do que os 800 militares americanos que terão acesso às
bases na Colômbia”. (Folha de São Paulo, 16/8/2009, p.A22). Esta
jogada - tentar colocar tropas na América do Sul e treiná-las nas
condições locais - os EUA vêm tentando há longo tempo.
A novidade é que agora parece que resolveram terceirizar essa ma-
nobra, utilizando, para isso, da prata da casa, os latino-americanos:
mexicanos (existem muitos, também, em seu território e falando in-
glês), como tropas de assalto, e os colombianos como suporte para
lances mais ousados. As sete bases previstas no novo acordo militar
Colômbia-USA e o número reduzido de militares norte-americanos
para operar essas cabeças de ponte, nesse caso, faz sentido, pois vi-
sam dar suporte operacional para o transporte aéreo de longa dis-
tância (do México e dos Estados Unidos) das tropas de ocupação
de pontos estratégicos na América do Sul, como, por exemplo, a
Cabeça do Cachorro, no Estado do Amazonas, na fronteira com a
Colômbia, onde existe uma gigantesca jazida de nióbio, ainda in-
tacta. O que não faz sentido é deslocar 10.000 militares dos deser-
tos mexicanos para treiná-los nas selvas colombianas, quando seria
mais lógico deslocar os instrutores colombianos, em menor número,
para o México, como fazem os Norte-Americanos com os colombia-
nos. Além disso, se o objetivo é o combate ao narcotráfico, não seria
melhor que os próprios norte-americanos treinassem os mexicanos
em seu território, muito semelhante ao do México, onde também se
consome 80% da cocaína produzida na Colômbia?

142
Nesse contexto de dúvidas e desconfianças, a construção da Ferrovia
Transcontinental Dom Bosco se coloca como um instrumento privi-
legiado para a manutenção da paz no continente e desarmar os espí-
ritos mais belicosos. Além disso, para evitar o cerco da Quarta Frota
americana, e outros mais, provocados por conflitos bélicos globais,
que tornarão os oceanos zonas de exclusão, a América do Sul tem
nessa ferrovia, no seu Eixo Central, a principal peça de defesa, pois,
além de ligar o continente de norte a sul pela sua região central, ela
facilitará também o intercambio interoceânico, por meio de cone-
xões transversais ligando o Atlântico ao Pacifico. Um exemplo dessa
ligação é o sistema viário formado pela Interoceanica Sul e a Via
Leste, que, quando pronto, ligará os portos peruano de Ilo, Matara-
ni e San Juan de Marcona, na costa do Pacifico, à cidade brasileira
de Porto Velho, em Rondônia, e daí, pela Via Leste, até o porto de
Recife, no Atlântico. A Interoceanica Sul é uma rodovia com 2,6
mil quilômetros, projetada para atravessar os Andes, passando por
Juliaca, Cusco, Puerto Maldonado e Rio Branco. Outras vias inte-
roceanicas, transversais, como essa, projetadas ou em construção,
reforçarão as ligações entre os paises sul-americanos, livrando-os de
bloqueios de toda espécie e neutralizando movimentos bélicos que
podem compromete a segurança do continente. Quanto aos recursos
financeiros para implantação dessa ferrovia, poderia vir do fundo
soberano a ser criado com a exploração das gigantescas reservas de
petróleo e gás natural do pré-sal.
Outras considerações sobre a defesa do Brasil, e da América do Sul,
podem ser encontradas em dois livros de minha autoria disponíveis
na Biblioteca Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.
gov.br), e em um terceiro que acaba de ser publicado pelo Clube
de Autores (www.clubedeautores.com.br), intitulado “A Mensagem
Codificada sobre o Brasil nas Profecias de Dom Bosco”.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

143
Estratégia Nacional de Defesa
Belo Horizonte, 20 de setembro de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: A apresentação do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, na


Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

Com cópia para o Exmo. Sr. Ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Prezado Senhor Presidente,

Na última quarta-feira, dia 16, tive a oportunidade de assistir, pela


TV-Senado, à transmissão ao vivo de parte da audiência pública do
Exmo. Sr. Ministro Nelson Jobim no Senado Federal, abordando
alguns aspectos da aquisição de modernos aviões de combate para
a FAB, submarinos para a Marinha e Helicópteros para as Forças
Armadas. A palestra do Exmo. Sr. Ministro foi ilustrada com alguns
comentários sobre potenciais conflitos envolvendo a exploração de
recursos minerais da plataforma continental e do fundo dos oceanos,
particularmente do Atlântico Sul, e dos direitos de navegação, e da
Estratégia Nacional de Defesa do Brasil para resguardar a soberania
do País nessas questões. Posteriormente, pude acompanhar pela TV-
NBR do Governo Federal outros trechos gravados dessa palestra.
Mas do pouco a que pude assistir, um fato chamou minha atenção e
gostaria de tecer algumas considerações e fazer sugestões a respeito.
Trata-se da ignorância, total ou parcial, de alguns senadores dos
aspectos estratégicos que estão em jogo, não só com o rearmamen-
to das Forças Armadas, mas, principalmente, com os fundamentos
da Estratégia Nacional de Defesa e sua razão de ser, em que pese
as informações disponibilizadas no portal do Ministério da Defe-
sa, que podem, minimamente, ajudar os interessados nesse assunto.
Todavia, minha sugestão não trata dos políticos que tem, por dever
de ofício, a obrigação de dominarem essas questões. Ela visa, sobre-

144
tudo, à sociedade como um todo e aos trabalhadores em particular,
principalmente os que irão construir os estaleiros e outras obras civis
para garantir a segurança nacional, trabalho que nada tem de inte-
lectual, mas sim braçal, mas nem por isso menos importante.
O que sugiro é que o Exmo. Sr. Ministro da Defesa, Nelson Jobim,
apresente em rede nacional de televisão a mesma palestra que fez
para os senhores senadores, e com a mesma naturalidade e descon-
tração, porém ilustrada com mapas, etc., próprios para esse meio de
comunicação, pois, na apresentação no Senado, não tive uma visão
clara do que estava sendo mostrado. Esta sugestão visa também a
alertar os meios de comunicação, que ainda não se deram conta de
que algo de novo está ocorrendo no Brasil com a formulação da
Estratégia Nacional de Defesa. Para constatar este fato, basta ler
o que se escreve na imprensa e o que se debate na televisão sobre
o assunto. Todos parecem que estão diante de um fato totalmente
novo e não sabem sequer como abordar essa questão ou formular
perguntas aos entrevistados em programas que procuram debater
questões nacionais. Quando muito, conseguem discutir temas estra-
tégicos relacionados às grandes potências, mas nunca tratam com
objetividade de assuntos de interesse do Brasil, e seu relacionamento
com a América do Sul, a Antártida e os oceanos adjacentes.
Esse tipo de alienação é que possibilitou às ONGs estrangeiras do-
minarem as questões indígenas e hoje serem as verdadeiras formula-
doras da política indigenista do País, atuando a FUNAI como mera
testa de ferro de interesses alienígenas. Este fato ficou demonstrado
no Estado de Roraima, e com todos os agrupamentos indígenas que
as procuram, ignorando o governo brasileiro, sempre que querem
alguma coisa, pois sabem muito bem que, se mostrarem suas caras
na mídia internacional e na Internet, seus pedidos serão atendidos,
mesmo os mais absurdos. Isto só acontece porque o Brasil não sou-
be valorizar sua experiência de miscigenação, única no mundo, que
transformou povos indígenas em brasileiros que desconhecem o sig-
nificado da palavra racismo, discriminação que essas ONGs estão
introduzindo no País a título de avanço civilizatório.
Como disse o “Velho Guerreiro” – Chacrinha –, “Quem não se co-
munica, se trumbica”! Para evitar que o Brasil “trumbique” e en-
tregue de mão beijada para as ONGs internacionais e as potências
estrangeiras a discussão e a condução do processo de rearmamento
145
das Forças Armadas e da implantação da Estratégia Nacional de
Defesa, é preciso que o governo federal coloque de maneira clara e
objetiva à Nação brasileira, pela palavra do Presidente da Republica
e exposição do seu Ministro da Defesa, os objetivos visados e a ne-
cessidade de selecionar um determinado país para firmar uma par-
ceira estratégica. A conclusão do processo de escolha dos aviões de
combate, anunciado para breve, seria uma boa oportunidade para
que a sociedade tomasse conhecimento, em detalhes, desses fatos
que vão mudar os rumos da civilização e da vida dos brasileiros por
séculos.
Além disso, seria apropriado também que o Governo Federal to-
masse providências para inserir nos currículos escolares, do Ensino
Médio à Universidade, temas relevantes para a nação, como o re-
armamento das Forças Armadas, as riquezas da Amazônia Azul - o
pré-sal, o fundo dos oceanos e o domínio da plataforma continental
-, a Estratégia Nacional de Defesa e a importância para o Brasil do
continente sul-americano, a Antártida e os oceanos adjacentes e as
implicações estratégicas dessas questões vitais para o País. A difu-
são desses conhecimentos entre a juventude será a garantia de que,
quando chegarem ao Senado da Republica, por exemplo, estarão
familiarizados com assuntos que afetam diretamente a vida de cada
brasileiro e não ficarão de boca aberta, sem saber o que dizer, quan-
do abordarem esses assuntos onde quer que estejam ou façam.
Agradecendo a atenção e desejando a V. Exa. sucesso em sua nobre
missão, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

O processo de seleção de novos aviões


de caça para a Fab.

Belo Horizonte, 23 de setembro de 2009.


Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva

146
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: O processo de seleção de novos aviões de caça para a


FAB.

Com cópia para o Exmo. Sr. Ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Prezado Senhor Presidente,

Consultando o portal do Governo Federal via Internet, encontrei,


no site do Ministério da Defesa, o comunicado abaixo a respeito do
assunto em epígrafe, sobre o qual gostaria de tecer alguns comentá-
rios e fazer sugestões:
“O Comando da Aeronáutica informa que a Comissão Gerencial do
Projeto do Projeto F-X2 resolveu estender, até o dia 2 de outubro
de 2009, o prazo para que os três competidores (Boeing, Dassault
e SAAB) apresentem propostas de melhorias em suas ofertas para o
processo de seleção dos novos aviões de caça da Força Aérea Brasi-
leira”.
Embora não seja especialista no assunto, mas um cidadão que acom-
panha com interesse todos os assuntos relacionados ao nosso País,
particularmente essa disputa que envolve, além de interesses comer-
ciais imediatos, questões estratégicas a curto, médio e longo prazos,
vitais para o nosso País, e disputas geopolíticas por parte das gran-
des potências, tomo a liberdade de sugerir que, ao invés de escolher
um vencedor entre os dois competidores mais bem posicionados nes-
sa disputa, a Boing e a Dassault, como noticia a imprensa, a escolha
recaia igualmente sobre essas duas empresas; estratégia que evitará
os perigos da exclusividade, ou seja, colocar todos os ovos numa só
cesta. Como diziam os romanos, dividir oponentes é a melhor polí-
tica para dominá-los.
Explicando melhor, se o governo brasileiro pretende adquirir 36
caças da empresa vencedora, por que não premiar igualmente as
duas concorrentes favoritas, com um contrato de fornecimento de
18 caças cada uma, envolvendo todas as garantias e tecnologias ofe-
recidas, que dizem estarem dispostas a cumprir? Com essa medida
147
salomônica, o governo brasileiro não só atenderá dois parceiros es-
tratégicos, evitando confrontos desnecessários de ordem política e
comercial, como poderá obter inúmeras vantagens extras, tanto no
financiamento para execução das propostas, como, também, preca-
ver-se de eventuais falhas no cumprimento dos contratos por parte
de um ou de outro desses parceiros, e conhecer o que têm de melhor
em tecnologia na produção desses aviões, as quais serão absorvi-
das pela indústria brasileira. Como ensina a sabedoria popular, para
engordar um porco para abate, é necessário que se coloque outro
no mesmo chiqueiro, pois a disputa pela comida os fará comedores
insaciáveis, e, consequentemente, engordarão mais rápido.
Para reforçar essa oferta, o governo brasileiro exigirá, em contra-
partida, a assinatura de um termo adicional para o desenvolvimento
conjunto de um programa aeroespacial envolvendo a construção de
satélites para múltiplas funções e os respectivos foguetes lançadores,
favorecendo, quem aceitar essa proposta, com compras adicionais
de mais 18 caças, tão logo o contrato aeroespacial seja assinado.
Essa contraproposta do governo brasileiro, para definir o vencedor,
ou vencedores, na disputa do F-X2, servirá não só para testar as
intenções desses novos parceiros nesse projeto, mas também para
turbinar a corrida espacial brasileira, ainda em fase embrionária, e
atrair outros parceiros que querem entrar nessa disputa, inclusive na
montagem de um sistema GPS brasileiro, como a Rússia e a China.
O sistema GPS é um assunto que interessa diretamente ao Brasil, não
só pela sua extensão territorial, mas, também, pela necessidade de
montar um sistema eficaz de defesa de nosso espaço aéreo. Essa cor-
rida, para implantar um sistema GPS próprio, interessa a outros pa-
íses, como França, pois a União Europeia trabalha na montagem de
um sistema próprio, para se livrar do monopólio norte-americano.
Uma associação com a França, no campo aeroespacial, poderá ser
tão positiva como está sendo no setor marítimo, com a construção
do submarino atômico. É um parceiro providencial, pois o equilíbrio
estratégico entre as grandes potências, e emergentes como a China e
a Índia, limita o campo de ação para o governo brasileiro ter acesso
a tecnologias sensíveis. É preciso agir rápido, e com cautela, para
não perder o bonde da história e a oportunidade proporcionada
pelo alinhamento planetário, no espaço sideral das grandes potên-
cias, que no momento abre uma janela de calmaria no conturbado
firmamento dessas estrelas de primeira grandeza.
148
A compra dos aviões de caça, ora em discussão, é uma oportunidade
única para atrair parceiros para um projeto aeroespacial brasileiro
mais ambicioso, a exemplo do que está ocorrendo com a compra de
submarinos para desenvolver o programa nuclear do País. Seguin-
do este exemplo bem arquitetado, a compra desses aviões não deve
limitar-se ao reaparelhamento da FAB e transferência setorial de tec-
nologia, mas servir de isca para implantar um programa aeroespa-
cial envolvendo o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, para atender
a suas demandas específicas, e entidades civis, como o Instituto Na-
cional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Agência Espacial Brasileira
(AEB). Esta associação, comandada pelo Ministério da Defesa, fa-
cilitará a criação de uma Agência Espacial Sul-Americana para en-
volver os países do continente no programa espacial brasileiro, com
vistas à implantação de um sistema GPS comum, iniciativa que dará
conteúdo estratégico ao Conselho de Defesa Sul-Americano, órgão
da UNASUL; à criação de uma rede de satélites comerciais, para for-
talecer os laços econômicos do Mercosul; e à participação dos países
sul-americanos na exploração do espaço exterior, objetivo estratégi-
co das grandes potências e de países engajados nessa corrida, como
a China, o Japão e a Índia.
Agradecendo a atenção e desejando a V. Exa. sucesso em sua nobre
missão, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

O Boi de Piranha e a armadilha do


Presidente Hugo Chávez
Belo Horizonte, 27 de setembro de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

149
Assunto: A armadilha do Presidente Hugo Chávez e o Boi de Pira-
nha.

Com cópias para os Exmos. Srs. Ministros Nelson Jobim, da Defesa,


e Celso Amorim, das Relações Exteriores.

Prezado Senhor Presidente,

O Jornal Folha de São Paulo, em sua edição de ontem, noticiou que


“A Embaixada do Brasil em Honduras, que abriga desde segunda-
feira o presidente deposto do país, Manuel Zelaya, foi atingida por
um tipo de gás não identificado, segundo constatou a reportagem da
Folha, que teve acesso ao prédio da representação isolada há quatro
dias por forças militares fiéis, ao governo golpista. [...] O governo
brasileiro ficou decepcionado com os termos da declaração da presi-
dente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas
sobre a situação em Honduras. O Itamaraty esperava uma linguagem
mais dura da principal instância da ONU, atualmente presidida pela
embaixadora dos EUA, Susan Rice, e queria que esta mencionasse a
volta de Manuel Zelaya ao poder. A frustração colocou o Brasil de
um lado e os EUA e a Organização dos Estados Americanos (OEA)
de outro quanto à melhor maneira para se lidar com a crise”.
Essa situação constrangedora está ocorrendo porque o Brasil caiu
numa armadilha preparada pelo Presidente da Venezuela, Hugo Chá-
vez, que patrocinou essa invasão sorrateira da Embaixada Brasileira
pelo Sr. Zelaya & Cia., como declarou à imprensa em Nova Iorque.
Com essa atitude hostil, feita à revelia do governo brasileiro, segundo
noticiário da imprensa, o presidente venezuelano pretendia, e conse-
guiu, colocar nosso País diante de um fato consumado, e em confron-
to direto com os norte-americanos, com os quais vem disputando o
domínio do Mar das Antilhas. Como um boi de piranha, preso pelas
narinas com a argola da vaidade, o Presidente Lula está sendo condu-
zido nesse processo para atender aos interesses estratégicos dos vene-
zuelanos e norte-americanos; interesses esses com os quais o Brasil não
tem nenhuma afinidade. Como dizia um presidente norte-americano:
“Entre países não existe amigos, existe interesses”.
Para não sair humilhado desse imbróglio, pois como ensina o dito
caipira, “Em festa de nhambu, jacu não entra”, o Brasil tem um

150
coringa na manga, que deve colocar à mesa para virar esse jogo de
poder a nosso favor. Trata-se de nossa presença militar no Haiti,
patrocinada pela ONU, a pedido dos Estados Unidos da América,
para salvar a democracia nesse país do colapso total e do surgimento
de uma ditadura; tal como ocorre agora em Honduras e que estão
tirando o corpo fora, para atender a seus interesses, como demons-
trou, por palavras e ações, a Presidente do Conselho de Segurança
da ONU, a norte-americana Susan Rice, que desprezou os apelos
do chanceler brasileiro por uma intervenção nesse país. É o jogo do
toma lá, dá cá. Se a ONU não se envolver para resolver o impasse em
Honduras, o Brasil retira suas tropas do Haiti e fecha sua embaixada
em Tegucigalpa, lavando as mãos para essa questão, como Pilatos
no credo, pois somente por bobeira é que o Brasil está metido nessa
enrascada de quinta categoria.
O que interessa de fato para o Brasil é estreitar seus laços estratégi-
cos com os países da América do Sul, pois, entre este continente e
o do Norte, existem dois vazios para atenuar a pressão dos norte-
americanos sobre os sul-americanos: O Golfo do México e o Mar das
Antilhas. Estas zonas de instabilidade – tectônica, climática e política
– funcionam como amortecedores de choques entre os interesses do
Norte e do Sul. Nesse contexto, a América Central deve ser consi-
derada como uma região tampão, secundária na estratégia brasileira
para a defesa do continente sul-americano. Esta deve concentrar-se
nos seus vizinhos e na defesa de suas riquezas naturais, bem como nas
de nosso próprio País. Ontem mesmo, a imprensa noticiou (Jornal
Estado de Minas, p.11) que o Presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, confirmou que essa empresa está pesquisando a existência
de petróleo na camada pré-sal na Bahia, entre Ilhéus e Belmonte, na
desembocadura do Rio Jequitinhonha. Esta notícia é muito importan-
te, pois a extensão para norte da camada de pré-sal, já identificada
no litoral da Região Sudeste/Sul, desde o Estado de Santa Catarina
até o Espírito Santo, mostra que outras bacias terrestres situadas mais
ao norte, como as do Recôncavo Baiano (Recôncavo/Tucano/Jatobá),
exploradas comercialmente no passado, podem apresentar surpresas
agradáveis, mudando radicalmente o cronograma e a economicidade
da exploração desse horizonte petrolífero.
Por essas, e por outras, é que o Brasil deve concentrar seus esfor-
ços diplomáticos na defesa de seus interesses mais diretos, deixando

151
para segundo plano os de outras nações. Essa ideia de que amplian-
do o leque de ação diplomática pelo mundo afora, relacionando-se
com alhos com bugalhos, possibilitará ao País ganhar, de mão beijada,
uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU é con-
versa para boi dormir. Os titulares desses assentos conquistaram-nos
à custa de guerras e milhões de mortos, e são todos possuidores de
armas atômicas. É uma ilusão o Brasil pretender se juntar a esse seleto
grupo de potências, sem antes produzir armas atômicas e os meios de
usá-las em escala mundial. É bom ter em mente que o Brasil, por não
possuir essas armas para se defender, é um país considerado como re-
serva de caça para quem as possui, pois poderão facilmente saqueá-lo
sem medo de represálias. É um porco cevado pronto para ser abatido.
As riquezas do pré-sal estão aí para confirmar essa assertiva.
Agradecendo a atenção e desejando a V. Exa. sucesso em sua nobre
missão, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

A Criação do Banco do Sul e a Ferrovia


Transcontinental Dom Bosco
Belo Horizonte, 01 de outubro de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: A criação do Banco do Sul e a oportunidade de se construir


a estratégica Ferrovia Transcontinental Dom Bosco para fortalecer
a Unasul, o Mercosul e a defesa do continente sul-americano, assim
como incrementar a produção de material ferroviário nacional.
Com cópias para o Exmo. Sr. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Srs. Ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Celso Amorim,

152
das Relações Exteriores; Aécio Neves, Governador de Minas Gerais;
Robson de Andrade, Presidente da FIEMG; Luciano Coutinho, Pre-
sidente do BNDES; e Deputados (as) Federais membros da Comis-
são de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.

Prezado Senhor Presidente,

A finalidade desta carta é a de fazer algumas sugestões sobre o assun-


to em epígrafe, motivada por três notícias publicadas pela imprensa,
que se relacionam entre sí, as quais, se analisadas em conjunto, pro-
jetam uma variada gama de oportunidades de negócios que fortale-
cerão economicamente o Mercosul, politicamente a Unasul, estrate-
gicamente o Conselho de Defesa Sul-Americano e, principalmente,
a indústria pesada de material ferroviário nacional, particularmen-
te a de Minas Gerais, Estado vocacionado para esta atividade, em
função de sua produção mínero-metalúrgica, e onde se concentra o
principal parque industrial especializado do País.
A primeira dessas notícias, publicada pelo Jornal Folha de São Paulo
(27/9/2009, p. B6), sob o título Brasil faz obras nos vizinhos temen-
do China, diz, resumidamente, o seguinte: “Com medo de perder
espaço para a China na exportação de serviços de engenharia na
América Latina, o governo está turbinando a concessão de financia-
mentos para empresas de construção com projetos na região. Líder
nas Américas do Sul e Central, o Brasil praticamente multiplicou por
3.000% os valores liberados nos últimos sete anos para aumentar a
competitividade das companhias nacionais nas grandes licitações da
região. [...] Segundo estudo da Valora, cada projeto executado no
exterior beneficia uma cadeia de até 1.500 fornecedores, a maioria
pequenas e microempresas. A estimativa é que, para cada US$ 100
milhões em serviços exportados, outros US$ 400 milhões em bens
seguem para fora do país pelo mesmo canal. [...] Para o diretor de
estruturação financeira da Andrade Gutierrez, Luiz Cláudio Jordão,
o grande papel das construtoras é identificar oportunidades de ne-
gócios no exterior e transformá-las em projetos – que dificilmente
seriam executados sem o suporte do BNDES para as com-
pras de suprimentos no país. Ele cita os dois gasodutos construídos
pela empresa na Argentina, que tiveram 80% dos US$ 300 milhões
do custo da obra financiados pelo banco”.

153
A segunda notícia, publicada pelo Jornal Folha de São Paulo
(28/9/2009, p. B8), diz respeito à criação do Banco do Sul, uma
instituição multilateral e continental para projetos de infraestrutura,
com capital de US$ 20 bilhões, a ser formado a partir da contri-
buição do Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e
Venezuela. O escritório central ficará em Caracas (Venezuela), com
sedes regionais na Bolívia e na Argentina. O evento de lançamento
ocorreu durante a segunda cúpula entre países africanos e sul-ameri-
canos, em Isla Margarita (Venezuela).
A terceira notícia foi publicada pelo Jornal Estado de Minas
(28/9/2009, p.12), sob o título Brasil é Bola da Vez – Vigor contra
a crise põe país na rota das missões de investidores estrangeiros:
“Apontado entre os países que menos sofreram com a crise finan-
ceira mundial, o Brasil se tornou uma espécie de terra das missões,
alvo do interesse do capital estrangeiro que busca oportunidade de
investir no setor produtivo. [...] A Federação das Indústrias do Esta-
do de Minas Gerais (Fiemg) deve fechar o ano com a visita de mais
de 20 missões entre empresários e delegações governamentais, de
diversos países, dispostos a investir em Minas Gerais em setores que
variam da mineração, logística, infraestrutara e meio ambiente ao
agronegócio”.
O catalizador que permitirá conter o avanço chinês na implanta-
ção de projetos de infraestrura na América do Sul, reservando esse
mercado para os países do continente, especialmente o Brasil, bem
como viabilizar o Banco do Sul, como financiador desses projetos,
em associação com o BNDES, e oferecer aos empresários estrangei-
ros que procuram oportunidades de investimentos, principalmente
na indústria de base localizada em Minas Gerais, chama-se Ferrovia
Transcontinental Dom Bosco. Esta ferrovia, sonhada por este santo,
se construída, ligará a cidade de Cartagena, na Colômbia, à Punta
Arenas no Chile, passando por: Caracas, na Venezuela; Boa Vista,
Manaus, Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande, no Brasil; Assun-
ção, no Paraguai; e Buenos Aires, na Argentina, num percurso de
cerca de 10.777 km, superando assim a famosa Transiberiana, con-
siderada a ferrovia mais extensa do mundo.
O traçado da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco - seu eixo cen-
tral e ramificações, que aumentarão sua abrangência por todo o

154
continente sul-americano -, está detalhado em um livro de minha
autoria, intitulado O Brasil das Profecias – 2003/2063- Os Anos
Decisivos (Figura 2), disponível, via Internet, na Biblioteca Digital
do Governo Federal, no qual, inclusive, são feitos alguns comentá-
rios sobre as implicações políticas, econômicas, sociais e estratégicas
dessa ferrovia. Outras considerações sobre estes assuntos podem,
também, ser encontradas em outro livro disponível nesse mesmo
site, bem como em um terceiro publicado recentemente pelo Clube
de Autores, todos de minha autoria.
Para enfatizar a importância desse projeto ferroviário, para barrar
a penetração chinesa na América do Sul, e evitar que dominem as
fontes de financiamento para obras de infraestrutura, inclusive as
do recém-criado Banco do Sul, deslocando para segundo plano o
BNDES, transcrevo mais alguns trechos do citado artigo do Jornal
Folha de São Paulo (27/9/2009, p. B6):
[...] “Pode-se dizer que os serviços propriamente ditos representam
só 20% das obras. E, como o BNDES obriga as construtoras a com-
prar o máximo no país, se não houvesse condições para competir
nos projetos, esses equipamentos nunca seriam exportados”, disse
Castro. Para ele, o Brasil ainda leva vantagem na região devido à
possibilidade de fechar contratos por meio do CCR (convênio de
créditos recíprocos), que funciona como uma câmara de compen-
sação multilateral entre os membros da Aladi (Associação Latino-
Americana de Integração). No entanto, a China, que em 2007 de-
tinha apenas 4,5% do mercado no subcontinente, já começa a in-
comodar a posição brasileira. “Os chineses já dominam a África,
inclusive em mercados que nos eram cativos, como Angola, e agora
estão cada vez mais presentes por aqui. A competição fica acirrada
porque a China consegue financiar a preços e juros quase absurdos
pois precisa gerar empregos”.
[...] Apesar da boa penetração da companhia na região, Jordão já
sentiu na pele o peso da concorrência asiática. A Andrade Gutierrez
foi responsável pela construção do primeiro trecho de uma ponte
em Guayaquil (Equador), mas perdeu para uma empresa da China
o contrato restante da obra. “Os chineses têm incomodado muito a
gente. Se eles são pré-qualificados para disputar o projeto, geralmen-
te ganham, porque são imbatíveis no preço”, completa o executivo.

155
Na expectativa de que esses comentários estimulem uma análise mais
aprofundada das implicações desse projeto ferroviário, a construção
da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, na consolidação da lide-
rança do Brasil na América do Sul, na abertura de novos mercados
no continente, e acesso a outros tantos, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Os benefícios do pré-sal e a ganância do


Governador Sérgio Cabral.
Belo Horizonte, 30 de agosto de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: Os benefícios do pré-sal e a ganância do Governador Sér-


gio Cabral.

Com cópias para os Exmos. (as) Srs.(as) Governadores (as) dos Es-
tados da União, Deputados (as) Federais, e jornais Estado de Minas
e Folha de São Paulo.

Prezado Senhor Presidente,

O Jornal Folha de São Paulo, em sua edição de ontem, dia 29 (p.B4),


informa que “o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou
que o presidente Lula ‘está sendo induzido a uma maluquice’ nas
discussões sobre royalties provenientes do pré-sal. Ele classificou de
‘covardia’ com os Estados produtores a forma como o assunto vem
sendo tratado. [...] Cabral classificou como um ‘carnaval nacionalis-
ta’ as afirmações de que as receitas do pré-sal seriam a solução para
a distribuição de renda do País”.

156
Para contrapor a essa colocação egoísta, nada melhor recordar as
lições da história e fatos econômicos ocorridos ao longo do tempo
em nosso País, envolvendo interesses, também egoístas, de outros
governadores, no que tange à exploração mineral e seus benefícios,
e a posição do povo mineiro e seus governantes a respeito.
No caso específico do Estado do Rio de Janeiro, temos a Companhia
Siderúrgica Nacional, que, contrariando os mineiros, foi construída
pelo Presidente Vargas, em Volta Redonda, atendendo aos interesses
nacionais. Os mineiros, então, ficaram calados, como sempre. Menos
nobre, e muito invejosa, porém, foi a posição do ex-Governador da
Bahia, Antônio Carlos Magalhães, que ameaçou levar para a Bahia,
onde naquela época se concentrava o principal da produção petróleo
do País, a sede da Petrobras, se o presidente Juscelino Kubitschek
insistisse em transferir para Minas Gerais a sede da Cia. Vale do Rio
Doce, que se nutria exclusivamente das riquezas minerais do Estado.
Neste caso, os cariocas não deram nenhum pio, pois receberam de
mão beijada esse prêmio, como haviam recebido a siderúrgica que
processava o minério de ferro, também, de Minas Gerais.
Hoje em dia, essa história se repete, pois, sem o minério de ferro
das Gerais, o Governador Sérgio Cabral não estaria tão contente
com a construção de gigantescas siderúrgicas programadas para seu
Estado, e inúmeros portos projetados para escoar, para o exterior,
essa riqueza fabulosa. Este fato se repete, também, com o Estado do
Espírito Santo, que, sem o minério de ferro de Minas Gerais, seria
muito mais pobre do que é, e com São Paulo. Este Estado, além
disso, recebeu de Juscelino Kubitschek um prêmio extra: a indústria
automobilística que multiplicou o poder industrial dos paulistas em
níveis internacionais.
Esses lembretes são feitos para pôr essas questões nos devidos ter-
mos, considerando os interesses da Nação, que são permanentes,
em contraposição aos regionais, que são passageiros. Ao se colocar
numa posição radical, o Governador Sérgio Cabral está abrindo um
flanco na defesa dos interesses do País, e na integridade territorial
da Nação, pois, por essa brecha, é que se infiltrarão os interesses
alienígenas, como fazem no Oriente Médio. Se a política para explo-
ração do petróleo e gás natural da Plataforma Continental, seja no
pré-sal ou pós-sal, como dizem, não atender aos interesses de todos

157
os Estados da Federação, e comportar controvérsias, será apenas
uma questão de tempo para que surjam em nosso território muitos
Iraques, Omãs, Catars, Kuwaits, Dubais, etc., pois, a partir de dis-
putas nos tribunais, com base na Constituição Federal, ela estimu-
lará movimentos separatistas em regiões onde o petróleo poderá ser
encontrado, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e mesmo no
norte do País, onde os indícios apontam para reservas gigantescas,
tanto na foz do Rio Amazonas, como nas suas cabeceiras, na fron-
teira com a Bolívia, Peru e Colômbia.
Para finalizar, gostaria, como cidadão e geólogo, de sugerir uma sa-
ída para esta questão controversa:
1)Todas as reservas de petróleo e gás natural da Plataforma Con-
tinental, sejam do pré-sal ou pós-sal, abaixo da linha das marés,
serão consideradas domínio exclusivo da União, não cabendo ne-
nhum tipo de indenização, ou regalias, aos Estados litorâneos. Os
benefícios com sua exploração serão distribuídos equitativamente
entre todos os Estados da Federação;
2) Todas as reservas de petróleo e gás natural no continente, acima
da linha das marés, serão exploradas em parceria com os Estados e
municípios, cabendo a eles exclusivamente os benefícios com essa
exploração em seu território, como ocorre com outros bens mine-
rais.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto.

Belo Horizonte, 1º de setembro de 2009.

Exmo. Sr.
Michel Temer
Presidente da Câmara dos Deputados e
Exmos.(as) Srs. (as) Deputados (as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF

Assunto: Os benefícios do pré-sal e a ganância do Governador Sér-


gio Cabral.

158
Com cópias para o Exmo. Sr. Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva; Srs.(as) Governadores (as) dos Estados da União; Mi-
nistro da Defesa, Nelson Jobim; e jornais Estado de Minas e Folha
de São Paulo.

Prezado Senhor Presidente,

Anteontem, dia 30, escrevi ao Exmo. Sr. Presidente da República


uma carta, anexa à presente, tratando do assunto em epígrafe; as-
sunto este sobre o qual gostaria de adicionar mais alguns comentá-
rios, tendo em vista a capitulação do Presidente Lula às pressões do
Governador Sergio Cabral, e dos governadores dos Estados do Espí-
rito Santo e de São Paulo. Segundo noticiário da imprensa, estes três
falsos reis magos foram convidados para um jantar, na noite desse
dia, onde o prato principal era degustar royalties, e outras regalias
petrolíferas, e estudar a melhor maneira de passar para trás os vinte
e quatro governadores que não foram convidados a esse banquete da
traição, mas que esperavam algumas migalhas para matar a fome de
seus coestaduanos. A reunião foi um sucesso, pois, ao contrário dos
verdadeiros reis magos, os atuais saíram com suas burras cheias de
ouro, incenso e mirra, acondicionados em barris de petróleo e bujões
de gás, não dando nenhum bocado aos seus colegas governadores
que, do lado de fora do palácio presidencial, no sereno, esperavam
ansiosos por alguma recompensa.
Essa alegoria, Senhor Presidente, e ilustres senhores (as) deputados
(as), retrata uma situação de fato e que pode trazer sérias consequên-
cias para a Nação, se V. Exas. não agirem prontamente para corrigir
esse ato falho do Exmo. Sr. Presidente da República, que deixou de
lado a regulamentação do pagamento de royalties e outras regalias
aos Estados e Municípios ditos produtores de petróleo, ao enviar ao
Congresso Nacional o novo marco regulatório para a exploração de
petróleo e gás natural no País.
O primeiro passo neste sentido é esclarecer, a toda a Nação, de uma
vez por todas, que não existem Estados ou Municípios produtores
de petróleo em alto-mar, pois seus limites territoriais situam-se em
terra firme, acima da linha das marés, a partir da qual tudo, rumo
ao mar, é domínio da União, portanto do povo brasileiro, e não
simplesmente patrimônio de cariocas, capixabas ou paulistas. Para

159
exemplificar, basta ter em mente que o domínio do pré-sal se situa
longe da costa, cerca de 300 km de distância do litoral, área onde
nenhum desses Estados ou Municípios prestam quaisquer serviços
ou exercem algum tipo de soberania, como ocorre em terra firme, e
muito menos sabem sequer onde estão seus limites. Estes limites são
definidos pelo IBGE, a partir de projeções amarradas no continente,
utilizando para isso de um modelo cartográfico complexo, tomando
como base de cálculo a faixa litorânea de Estados e Municípios. Isto,
inclusive, abre a chance para que os municípios do interior, situa-
dos, portanto, longe do mar, possam, também abocanhar uma fatia
dos royalties, bastando para isso redefinirem seus limites territoriais,
adotando o modelo das capitanias hereditárias, ou seja, linhas per-
pendiculares à costa rumo ao interior. Assim, fatiando esses Esta-
dos, todos os Municípios cariocas, capixabas e paulistas poderiam
beneficiar-se dessa regalia, ficando os demais municípios brasileiros
a verem navios, ou, melhor, miragem de navios, pois estão longe do
mar e de seus benefícios.
O pagamento de royalties, ou outros tipos de compensações finan-
ceiras, para os Estados e os Municípios, pela exploração de recur-
sos minerais, inclusive petróleo e gás natural, que ocorrem em seus
limites territoriais faz sentido, pois os danos ao meio ambiente e
exaustão de suas riquezas são visíveis e precisam ser reparados por
esses entes federados. Mas adotar essa mesma política na exploração
de recursos petrolíferos em alto-mar não faz sentido, por vários mo-
tivos. O primeiro foi exposto acima, ou seja, no mar não há limites
físicos e a soberania de um País sobre esse território é garantida pela
presença de suas Forças Armadas, razão por que o governo federal
está investindo pesado na renovação de sua frota marítima, inclusi-
ve na construção de submarinos nucleares, com recursos financei-
ros arrecadados de todos os brasileiros, e não somente dos Estados
litorâneos que se arvoram donos das ocorrências petrolíferas. Em
segundo lugar, alegar danos ao meio ambiente ou reparações pela
exaustão desse bem mineral também não faz sentido, pois todo dano
ao meio ambiente é reparado pelas petrolíferas por imposição legal,
e quando esses Estados querem algo mais, é o governo federal que se
apressa em socorrê-los bancando os custos adicionais. Nunca usam
do dinheiro dos royalties para isso, ou para financiar o desenvolvi-
mento industrial. O BNDES, o Tesouro Nacional e outros órgãos

160
federais é que estão financiando a montagem de portos, siderúrgi-
cas, estaleiros, etc. para dar suporte à exploração petrolífera, com
dinheiro arrecadado de toda a nação para beneficiar somente esses
três Estados. Então, como falar em compensações?
Além disso, os limites das áreas de ocorrência de petróleo ou gás de
cada bloco a ser explorado não obedece a limites geográficos, mas
sim geológicos, o que torna impossível controlar, pela vazão de cada
poço, a origem do material que está sendo retirado. Esta drenagem
pode estar contribuindo para diminuir a vazão de outros poços ou
exaurir as reservas em seu conjunto se estiverem conectadas, o que
parece indicar as pesquisas do pré-sal. Portanto, haverá disputas não
só entre as companhias petrolíferas pelas reservas, como também en-
tre os Estados pelo recebimento de royalties. Outro tipo de disputa
que ocorrerá fatalmente: a corrida dos Estados de Santa Catarina e
Paraná para forçar a exploração do pré-sal nas áreas em que, pelo
regime atual, tem direito a receber royalties. Por que ficar esperan-
do o esgotamento das reservas do Estado do Rio de Janeiro, que
hoje recebe 70,12 % dos royalties, para faturar o seu? E o Estado
de São Paulo, que hoje recebe somente 0,17 %, vai ficar de braços
cruzados? Quando a política partidária entrar nesse circuito, na fase
de produção, adeus planejamento. Vai ser uma guerra sem tréguas.
A superprodução acabará com a alegria dos brasileiros. Tudo por
causa do pagamento de royalties aos Estados e Municípios, artifi-
cialmente considerados produtores de petróleo.
A oportunidade de reparar esse erro histórico, a premiação dos Esta-
dos litorâneos pela exploração dos recursos petrolíferos ocorrentes
em alto-mar, um patrimônio da Nação, em detrimento dos demais
Estados da Federação, está nas mãos de V. Exas.; como também está
a responsabilidade de evitar que um governador insensato e trucu-
lento, que não é capaz de controlar os morros que rodeiam seu pa-
lácio, queira dominar o oceano que nos cerca. Além disso, é preciso
ter em mente que a integridade territorial da nação foi conquistada
a duras penas, e o perigo de fragmentação do País, como ocorreu
com a América espanhola, ainda não foi exorcizado completamente.
É bom lembrar que há pouco tempo, em 1964, os militares golpistas
se viram diante de um quadro aterrorizante: a anexação do Estado
do Espírito Santo pelo Governador de Minas, Magalhães Pinto, para
dar abrigo à frota americana que se preparava para intervir na depo-

161
sição do Presidente João Goulart. Quem garante que amanhã o Esta-
do de Minas Gerais não tente novamente anexar, não só o Estado do
Espírito Santo, mas, também, o do Rio de Janeiro, para formar um
país de Primeiro Mundo? Condições materiais, estratégicas e opera-
cionais e apoio externo, não faltam aos mineiros. É só querer. Como
diz o ditado, prevenir é melhor do que remediar!
Para finalizar, repetindo os termos de encerramento da carta ante-
rior, gostaria, como cidadão e geólogo, de sugerir uma saída para
esta questão controversa:
1)Todas as reservas de petróleo e gás natural da Plataforma Con-
tinental, sejam do pré-sal ou pós-sal, abaixo da linha das marés,
serão consideradas domínio exclusivo da União, não cabendo ne-
nhum tipo de indenização, ou regalias, aos Estados litorâneos. Os
benefícios com sua exploração serão distribuídos equitativamente
entre todos os Estados da Federação;
2) Todas as reservas de petróleo e gás natural no continente, acima
da linha das marés, serão exploradas em parceria com os Estados
e os Municípios, cabendo a eles exclusivamente os benefícios com
essa exploração em seu território, como ocorre com outros bens mi-
nerais.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto.

Transporte Alternativo de Óleo e


Gás do Pré-Sal
Belo Horizonte, 17 de junho de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

162
Assunto: Sugestões sobre o transporte de óleo e gás do pré-sal para
o continente.
Com cópias para o Exmo. Sr. Presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, e para os Srs. Ministros da Defesa, Nelson Jobim, e de
Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger.

Prezado Senhor Presidente,

Como cidadão interessado nos destinos de nosso País, tenho acom-


panhado o noticiário sobre a exploração de petróleo e gás natural da
Plataforma Continental, particularmente quando trata das gigantes-
cas reservas do pré-sal. Neste caso, o que chamou a minha atenção
foi a logística para transporte desses bens minerais, dos poços em
alto-mar para as refinarias no continente.
A razão desta carta é dar uma sugestão, que talvez possa ser estu-
dada pelas partes interessadas. A sugestão que faço, embora leigo
no assunto, é que o transporte do óleo e do gás sejam feitos juntos,
em salsichões de material plástico. A mistura óleo/gás permitirá que
esses salsichões flutuem, como os icebergs, facilitando seu arrasto
por rebocadores. No continente, nas refinarias, seriam esvaziados e
levados de volta para serem enchidos novamente.
É claro que, para isso, haverá necessidade de pesquisas variadas,
mas o que importa é testar alternativas de transporte para esses pro-
dutos, em substituição ao método tradicional, por meio de navios ou
dutos, não só para agilizar a exploração do pré-sal, mas, também,
para fazê-la de forma mais econômica e com menos riscos para o
meio ambiente.
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

Hidro-Helicópteros
Belo Horizonte, 16 de junho de 2009.
Exmo. Sr.

163
Ministro Nelson Jobim
Ministério da Defesa
Brasília – DF

Assunto: O uso de Hidro-helicópteros e Navios Porta Hidro-heli-


cópteros pela Marinha.

Prezado Senhor,

Os trabalhos de resgate, em alto-mar, das vítimas do recente aci-


dente do avião da Air France, e dos destroços desse aparelho, pelas
Forças Armadas brasileiras, põe em evidência a necessidade de uma
estrutura ágil e apropriada para esse tipo de trabalho por parte da
Marinha do Brasil. No meu entendimento, de leigo no assunto, mas
atento como cidadão, a solução seria a utilização de um navio Porta
Hidro-helicópteros, sendo estes aparelhos especialmente projetados
para pousar na água. Mas, como tal acontecimento, felizmente, ra-
ramente acontece, e tais aparelhos, ao que me consta, ainda não
existem, aqui vai algumas sugestões.
A primeira delas diz respeito à construção dos hidro-helicópeteros.
Estes aparelhos poderiam ser projetados utilizando a tecnologia em-
pregada na construção de helicópteros e dos hovercrafts. Estes veí-
culos anfíbios, que se apoiam num colchão de ar pressurizado, pro-
duzido por um ventilador que força o ar abaixo do casco, utilizados
para fins militares ou civis, podem servir de base para a sustentação
dos helicópteros. Neste caso um sistema propulsor turbo-hélice teria
a dupla função de elevar o aparelho híbrido da superfície da água,
como nos hovercrafts, e mantê-lo no ar para suas operações rotinei-
ras, como nos helicópteros.
As pesquisa para desenvolver esse tipo de aparelho poderiam ser
conduzidas pelas Forças Armadas em parceria com empresas interes-
sadas no seu emprego, como as companhias petrolíferas que operam
em alto-mar, em águas territoriais brasileiras, pois estas vão necessi-
tar de apoio aos seus trabalhos e aquelas para garantir a defesa desse
patrimônio nacional e de toda a Amazônia Azul. Com a exploração
das gigantescas reservas petrolíferas do pré-sal, essa associação será
extremamente útil, pois tornará viável não só as pesquisas, como,
também, o emprego em larga escala dos hidro-helicópteros e de seu
navio transporte, os Porta-Hidro-helicópteros.

164
Os hidro-helicopteros também podem ser úteis na Amazônia Verde,
utilizando, neste caso, como plataforma, embarcações de pequeno
porte projetadas ou adaptadas para esse fim, tanto para uso militar
como civil. Nesta dupla função, podem ajudar na fiscalização e no
controle das embarcações que trafegam pelos rios da Amazônia, seja
pela Marinha do Brasil, Policia Federal, ou instituições interessadas,
bem como em missões de salvamentos ou assistência médica às po-
pulações ribeirinhas.
Por último, é bom lembrar que, hoje em dia, o turismo em larga
escala, utilizando grandes navios de cruzeiros, com milhares de pes-
soas a bordo, está desenvolvendo-se rapidamente ao longo da costa
brasileira, onde, por sua vez, situam-se grandes cidades, razão por
que é necessário estar sempre alerta e dispor de meios rápidos e efi-
cazes para fazer face a emergências de toda a ordem, tanto no mar
como em terra.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

A Presença de Gás Hélio na Bacia do


São Francisco em Minas Gerais
Belo Horizonte, 3 de julho de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: A presença de gás hélio nas ocorrências de gás de petróleo


na Bacia do São Francisco em Minas Gerais.

Com cópias para o Exmo. Sr. Presidente da Petrobras, José Sérgio


Gabrielli, e para Exmo. Sr. Ministro da Defesa, Nelson Jobim.

165
Prezado Senhor Presidente,
O Jornal Estado de Minas, em sua edição de ontem (2/7/2009, p.
13), informa que “A exploração de gás natural na porção mineira da
Bacia do Rio São Francisco começa em setembro, com a construção
do primeiro poço para estudos da vazão e da qualidade do combus-
tível pelo consórcio de empresas que reúne a Companhia de Desen-
volvimento de Minas Gerais (Codemig), Delp Engenharia, Orteng
Equipamentos e Com.”.
Esse fato alvissareiro me fez lembrar de uma conversa com colegas
da Petrobrás, geólogos como eu, que na época da descoberta dessas
ocorrências procuraram a empresa em trabalhava, a METAMIG,
antecessora da CODEMIG, para obter informações sobre a geologia
da região, quando, então, tomei conhecimento de que a Petrobrás,
ao analisar esse gás, constatara a presença de hélio entre seus com-
ponentes.
Como esse gás nobre é estratégico para a defesa nacional, achei por
bem comunicar esse fato à V. Exa., que acredito vem merecendo da
Petrobrás e do Governo Federal a atenção que merece. Para enfati-
zar a importância desse elemento - os Estados Unidos da América o
consideram estratégico-, transcrevo abaixo alguns dados disponíveis
na Internet.
As reservas mundiais de hélio estão estimadas em 40 mil milhões de
metros cúbicos, concentrados nos EUA, Qatar, Rússia e Argélia (que
sozinhos detêm 80% das reservas).O consumo mundial de hélio tem
crescido com a multiplicação aplicações técnicas e do número de
instalações especializadas, a uma taxa anual à volta de 5% ao longo
das duas últimas décadas. O consumo atingiu 200 milhões de m3
em 2005, o equivalente a 90 toneladas por dia. Actualmente, a uti-
lização maior e mais específica do hélio é como agente criogénico e,
particularmente em máquinas de ressonância magnética para efeitos
de Imagiologia Médica. Nos EUA, o stock de hélio atingiu o seu
máximo em 1980, e o ritmo de produção passou o seu máximo em
1997. O Qatar e a Argélia arrancaram com duas novas unidades de
extracção de hélio, no fim de 2005, para tentar colmatar a continu-
ada quebra de produção nos EUA. Contudo as reservas mundiais
vão sendo exauridas. O limite da capacidade de produção de hélio à
escala mundial poderá anteceder o próprio pico de produção de gás
natural. Sabendo que grande parte do hélio utilizado não é reciclado,
166
é urgente passar a fazê-lo sempre que exequível. De qualquer forma,
caminhamos para um futuro em que o stock de hélio na esfera tecno-
económica atingirá um limite. E temos de ter presente que o hélio
detém um conjunto de propriedades únicas, pelo que não é de todo
substituível em diversas e importantíssimas aplicações técnicas.
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

A Era do Pré-Sal e os Biocombustíveis

O Brasil, na Era do Pré-Sal que se avizinha, e diante dos


conflitos bélicos mundiais que as profecias anunciam, deve
investir pesado em pesquisas tecnológicas para maximizar o
uso do petróleo leve, de ótima qualidade, do Pré-Sal, no setor
automobilístico e na industria petroquímica, e deslocar, para
segundo plano, os investimentos nos chamados biocombus-
tiveis, pois, segundo noticiário da imprensa, a China está se
preparando para lançar no mercado, em 2010, um carro elétri-
co para competir com vantagem com os movidos a etanol ou
biodiesel. Esta solução é alvo, também, de pesquisas intensas
por parte da nações mais desenvolvidas, que estão investindo
bilhões de dólares para viabiliza-la a curto prazo. Enquanto
isso, o Brasil, insiste nos biocombusitiveis, mesmo após as des-
cobertas das gigantescas reservas de petróleo e gás do Pré-Sal,
fato que mudará as regras do jogo da exploração e comercia-
lização desses combustíveis fósseis no Século XXI. Além dis-
so, é preciso considerar que o elemento estratégico máximo,
que norteará a política de poder no terceiro milênio, será a
produção de alimentos, e, consequentemente, o domínio de
terras agriculturáveis e fontes de água doce. Só para lembrar, é
bom ter em mente o que aconteceu com a crise dos alimentos,
167
artificialmente provocada pelos especuladores em commodi-
ties, que precedeu o colapso do sistema financeiro internacio-
nal. Por oportuno, transcrevo a seguir um capítulo (As Novas
Tecnologias e a Produção de Biodiesel - p.91/92), extraído de
um livro de minha autoria, intitulado O Brasil das Profecias
- 2003/2063 - Os Anos Decisivos, publicado pela Mazza Edi-
ções - Belo Horizonte - MG, em 2008, também disponível na
Internet, que trata desses assuntos.

As Novas Tecnologias e a Produção de Biodiesel

Além dessas providências, o Governo Federal deve exigir


das montadoras, e incentivar as universidades e os institutos de
pesquisas brasileiros, a investirem em pesquisas de tecnologias
não relacionadas aos biocombustíveis, pois esta fonte de ener-
gia tornar-se-á obsoleta antes mesmo de dominar o mercado,
como informa o Jornal Estado de Minas (3/9/2007, Cultura,
p. 3):
O empresário mineiro Ozires Silva, fundador da Embra-
er, ex-presidente da Petrobrás, ex-ministro, craque no setor
siderúrgico e muito mais, em recente visita a Belo Horizonte
como convidado do 12º Congresso Mineiro de Transportado-
res de Cargas fez previsão envolvendo hipótese já conhecida,
mas que chamou a atenção pela segurança da afirmação. Disse
que, dentro de 10 anos, a eletricidade vai substituir a gasolina
e o álcool no transporte de veículos. Acrescentou que, mesmo
com as barreiras impostas pelos produtores de petróleo, a pro-
pulsão elétrica vencerá a parada. É mais poderosa e, para o
meio ambiente, é a solução ideal. Mas há quem ache o prazo
de 10 anos muito pequeno para a benéfica mudança. Orações
é que não faltam.
Esse mesmo prazo é fixado pelos pesquisadores do bio-
diesel, para se colocar no mercado esse produto em escala co-
168
mercial, como informa o Jornal Estado de Minas (15/10/2007,
Caderno Agropecuário, p. 5):
“A produção de biodiesel no Brasil somente conseguirá
independência da plantação de soja daqui a cinco ou 10 anos.
A previsão foi apresentada pelo chefe-geral da Empresa Bra-
sileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agroenergia), Fre-
derico Ozanan Machado Durães, durante a Conferência Inter-
nacional dos Biocombustíveis (Enerbio), em Brasília. Segundo
ele, o projeto do combustível a partir do grão no país precisa
desse período para se consolidar, pelo fato de ser uma commo-
dity com produção estabilizada na agricultura. ‘Embora ou-
tras oleaginosas tenham teor de óleo muito superior, elas ainda
precisam de pesquisa e de oferta em escala, o que não existe
nesse momento’, afirmou. [...] Entre as plantas com potencial
de ocuparem destaque na produção futura de biocombustíveis
no Brasil está o pinhão-manso. ‘Muitas empresas estão inves-
tindo nessa planta, mas por sua conta e risco’, disse Durães.
Segundo o pesquisador, a Embrapa não tem ainda nem todas
as informações básicas sobre a oleaginosa. ‘Sabemos que é
uma espécie que tem alto teor de óleo, mas não é uma espécie
de alta adaptabilidade e não apresenta a mesma produtividade
nas várias regiões do país’, comentou. Segundo ele, uma nova
cultivar demora, às vezes, até 15 anos para ter sua produção
em escala e a pesquisa sobre pinhão-manso ainda é incipiente.
[...] Para Durães, muito provavelmente o biodiesel de soja será
usado na entrada em vigor da obrigatoriedade da mistura de
2% ao óleo mineral, a partir de janeiro de 2008. Segundo ele,
85% do biodiesel em produção atualmente no Brasil tem a
soja como matéria-prima. ‘Vamos precisar deste produto para
dar início ao projeto, mas será um risco nos apoiarmos apenas
nessa commodity durante muito tempo’, avaliou. Segundo ele,
para que outro produto possa ser incorporado à produção de
forma segura, existe a necessidade de um mapeamento de seu

169
sistema de cultivo, além de um zoneamento agroclimático e,
principalmente, a obtenção de infra-estrutura para produção
de sementes. ‘Sem isso, não se pode prometer produção cons-
tante para atender à demanda que está sendo criada’, disse.”

A Síndrome do Sapo Fervido


(Revista Tecnologia e Treinamento, n. 31, p. 45)

Vários estudos biológicos provaram que um sapo colocado num re-


cipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durante todo
o tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. O sapo não
reage ao gradual aumento da temperatura (mudanças do ambiente)
e morre quando a água ferve. Inchadinho e feliz. No entanto, outro
sapo, jogado nesse mesmo recipiente já com água fervendo, salta
imediatamente para fora, meio chamuscado, porém, vivo!
Existem pessoas que têm comportamento similar ao do SAPO FER-
VIDO. Não percebem as mudanças, acham que está tudo bem, que
vai passar, que é só dar um tempo... e, muitas vezes, fazem um gran-
de estrago em si mesmas, “morrendo” inchadinhas e felizes, sem, ao
menos, ter percebido as mudanças. Outras, ao serem confrontadas
com as transformações, pulam, saltam, em ações para implementar
as mudanças necessárias. Encorajam-se diante dos desafios, buscam
a melhor saída para a solução dos problemas, tomam atitudes.
Há muitos “sapos fervidos” que não percebem a constante mudança
do ambiente a sua volta e se acomodam, à espera de que alguém re-
solva tudo por eles; esquecem-se de que mudar é preciso, principal-
mente se essa mudança beneficia toda uma coletividade. Essa teoria
se encaixa em todas as situações de nossa vida: pessoal, afetiva e
profissional.
Devemos ter a consciência de que, além de sermos eficientes (fa-
zer certo as coisas), precisamos ser eficazes (fazer as coisas certas),
criando espaços para o diálogo, o compartilhamento, o planejamen-
to, o espírito de equipe, delegando, sabendo ouvir, favorecendo o
nosso próprio crescimento e o daqueles com quem convivemos, seja
na família, no trabalho ou na comunidade em geral.

170
O desafio maior, nesse mundo de mudanças constantes, está na hu-
mildade de atuar de forma coletiva. Precisamos estar atentos para
que não sejamos como os Sapos Fervidos. Pulemos fora, antes que a
água ferva. O mundo precisa de nós, meio chamuscados, mas vivos,
abertos para mudanças e prontos para agir.

171
EDUCAÇÃO: O CALCANHAR DE AQUILES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA

Introdução
A perenização da miséria no Brasil é fruto de um pro-
cesso de exclusão social que tem na educação as raízes mais
profundas. Esta tragédia coletiva é o resultado de um passado
escravocrata e da opção da elite republicana de priorizar as
questões econômicas em detrimento do social. Neste particu-
lar é bom lembrar que a última reforma substancial no ensino
brasileiro ocorreu há mais de sessenta anos, no período revolu-
cionário de Vargas, com a Lei Capanema, que mudou o ensino
no País, como informa Joaquim Panini (Caminhos Novos na
Educação, 1995, p. 286):
Realmente, até 1940, praticamente qualquer pessoa podia ensinar,
mesmo sem o credenciamento de títulos. O mesmo acontecendo com
as escolas. Com a lei Capanema, publicada em 1942, – a primeira
grande lei de ensino no Brasil – as coisas mudaram substancialmen-
te. As escolas e, sobretudo os professores, tiveram que legalizar sua
situação frente às exigências da lei, o magistério deixou de ser consi-
derado sacerdócio e passou a ser tido somente como uma profissão,
exigindo interesse, aptidão, e habilitação legal.

Os Sabotadores da Escola Pública


Mas, se tão grande avanço ocorreu em 1942, por que a
Escola Pública de Tempo Integral, gestada desde 1932 pelos
pioneiros da Escola Nova, foi abortada? A resposta está na

172
luta surda travada contra a escola pública pela elite conserva-
dora liderada pelo clero católico, como mostra o seguinte tre-
cho extraído da obra Caminhos Novos na Educação (LIMA,
1995, p. 161):
Entendeu a AEC – Associação de Educação Católica –, desde o pri-
meiro momento, que não basta ficar na oposição. Há necessidade de
penetrar e atuar em todos os órgãos do poder. Fazer ouvir a nossa
voz, colaborando, honradamente, com a independência de opinião,
de nossa filosofia e crença.
Nasceram, assim, os chamados “comandos” no legislativo e no exe-
cutivo. Era a estratégia que se impunha: estar presente, lá onde se
decidiam as orientações políticas e administrativas do ensino nacio-
nal. Os primeiros comandos tiveram, no Senado, o catarinense Ne-
reu Ramos. Na Câmara, o deputado gaúcho, Tarso Dutra. Traço
de união entre os comandos, em caráter permanente, e a diretoria
nacional, foi naqueles 20 primeiro anos, o ex-constituinte de 1934,
Dr. Carlos Thompson Flores. As reuniões eram, geralmente, no pa-
lácio São Joaquim, sede do arcebispado do Rio. Havia também a
colaboração da imprensa, com o conde Pereira Carneiro, no Jornal
do Brasil, e o Dr. Roberto Marinho, em O Globo. Rara era a semana
em que não publicassem algum artigo elaborado na AEC. Outros
jornais como o Diário de Notícias e o Correio da Manhã, colabora-
ram, também. A AEC visava formar opinião.
Não houve o mesmo acolhimento, por parte de O Estado de São
Paulo. Às repetidas audiências solicitadas pela AEC, acudia o Dr.
Júlio de Mesquita Filho, declarando, com toda cortesia, que a linha
do jornal era outra. O mentor, naquela época, era o diretor da Re-
vista Anhembi, Anísio Teixeira, nada favorável à Igreja, e ardoroso
defensor do ensino estatal. Hoje – como mudam os tempos! – o Es-
tado está publicando artigos, na nossa linha. O atual diretor, Júlio de
Mesquita Neto, é antigo aluno do colégio São Luís, de São Paulo.

As Causas do Fracasso da Escola Pública no Brasil

Os fundamentos dessa conspiração contra a escola pú-


blica e a capitulação de Vargas, que trocou os ideais da Escola

173
Nova pela Lei Capanema, descritos a seguir, foram levantados
de trechos selecionados das seguintes obras: Caminhos novos
na educação, sob a coordenação de Irmã Severina Alves de
Lima (1995); Um estudo histórico sobre o catolicismo militan-
te em Minas, entre 1922 e 1936, de Frei Henrique Cristiano
José Matos (1990); Introdução à história da Igreja, de Frei
Henrique Cristiano José Matos (1997); e Os Templários, de
Piers Paul Read (2001).

Uma Disputa de Poder e Prestígio

O nó górdio que mantém o Brasil atado à miséria e à ig-


norância e que o impede de sair do atraso em que se encontra
e realizar suas potencialidades se situa na escola pública. O
fracasso da escola pública no Brasil é o resultado de uma surda
disputa de poder e prestígio entre a Igreja Católica Apostólica
Romana e o Estado brasileiro, tornada manifesta por ocasião
da queda do Império e a consequente Proclamação da Repú-
blica, quando então se processou a separação da Igreja do Es-
tado. Essa disputa, Igreja/Estado, tem suas raízes nos primór-
dios do Cristianismo, por obra e graça do Imperador romano
Constantino (306-337).
Constantino acreditava que havia chegado ao poder com a ajuda do
Deus dos cristãos. Às vésperas da crucial batalha com o imperador
rival Maxêncio na Ponte Mílvio, junto dos muros de Roma, fora-
lhe dito num sonho (ou possivelmente numa visão) que pintasse um
monograma cristão nos escudos de seus soldados com as palavras In
hoc signo vinces (Com este sinal vencerás). (READ, p. 9).
Constantino sucessivamente adotou outras medidas favoráveis aos
cristãos, como se quisesse fazer da religiã3o cristã um instrumen-
to de fortalecimento e unidade do Estado, que também procurava
robustecer por outros meios (reforma da burocracia civil e dos co-
174
mandos militares; medidas econômicas e fiscais; etc.). Em particular,
Constantino parece ter visto no monoteísmo uma forma de legitimar
a monarquia: a um só Deus do universo corresponde um só sobera-
no ou monarca para o Império. Também a transformação da antiga
Bizâncio numa nova cidade, Constantinopla, inaugurada em 330,
pareceu significar o abandono, por parte do imperador, da Roma
pagã e a substituição por uma nova Capital cristã. (MATOS, 1997,
v. 1, p. 97).
Entre os atos de Constantino em favor da Igreja, podem ser cita-
dos: + A concessão de imunidades ou isenção de obrigações pessoais
para com o Estado (impostos, etc.), tanto para os sacerdotes pagãos,
como para o clero católico. + Reconhecimento jurídico das decisões
episcopais: os bispos podem arbitrar causas também de pagãos. +
Abolição da crucificação e proibição das lutas de gladiadores, que,
no entanto, continuarão ainda por um século. + Permissão à Igreja
de receber heranças e doação de grandes igrejas ou basílicas (Basílica
do Latrão e de São Pedro, em Roma; Santo Sepulcro, em Jerusalém;
Natividade, em Belém...). + Reconhecimento do domingo como fe-
riado e progressiva redução das festas pagãs. (MATOS, 1997, v. 1,
p. 97-98).
A propósito deste período e de imperadores com Constantino, Cons-
tâncio e, mais tarde, Justiniano (527-565), falou-se em cesaropa-
pismo. O termo é moderno e indica uma teoria segundo a qual o
poder civil e o poder religioso se reuniriam numa só pessoa, a do
imperador, que exerceria conjuntamente as funções de imperador e
de papa. (MATOS, 1997, v. 1, p. 102-103).
A Igreja assumiu mais do que as funções do extinto Império: era o
Império Romano na mente do povo. Ser romano era ser cristão; ser
cristão era ser romano. Depois de Justiniano, o mundo mediterrâ-
neo passou a considerar a si mesmo não mais como uma sociedade
na qual o cristianismo era apenas a religião dominante, mas uma
sociedade totalmente cristã. Os pagãos desapareceram nas classes
mais elevadas, e mesmo no campo [...] o não-cristão constatava que
era um fora-da-lei num Estado unificado. Num sentido real e cons-
ciente, os bispos da Igreja Católica assumiram as responsabilidades
da classe senatorial romana: essa foi a hipótese básica por trás da
retórica e do cerimonial do papado medieval. (READ, p. 46).

175
Por volta de 1300, deu-se um desentendimento entre o Papa Bo-
nifácio VIII (1294-1303) e o rei Felipe IV, o Belo (1285-1314), da
França. Conflitos semelhantes, surgidos, via de regra, por motivos
de delimitação de poderes, já haviam ocorrido em épocas anteriores,
como conseqüência natural da fusão de competências entre o poder
espiritual e temporal. Por maiores que tivessem sido os choques, até
então uma coisa ficara incontestável: a união inquebrantável de Igre-
ja e Estado, sob a dupla autoridade de papa e monarca. A novidade
estava exatamente em não mais se tratar de uma simples questão
de rivalidade, mas de um profundo questionamento sobre a origem
do poder. Felipe sustentava que sua autoridade régia derivava dire-
tamente de Deus e, conseqüentemente, não se submetia a nenhuma
restrição por parte do Papa. Como monarca, era inteiramente inde-
pendente e somente em questões de fé teria de obedecer ao pontífice.
Em outras palavras: o rei subtraiu toda vida política à direção da
Igreja. (MATOS, 1997, v.1, p. 286-287).
O ano de 1300 marcou o ponto alto do pontificado de Bonifácio
VIII e na época pareceu o auge das reivindicações pontifícias à ju-
risdição universal. [...] O papa Bonifácio, exultante, apareceu diante
dos peregrinos sentado no trono de Constantino, segurando espada,
coroa e cetro e gritando: Eu sou César! (READ, p. 276-277).

A Ordem dos Templários

A morte de Bonifácio não pôs fim ao conflito entre o Papa e a Fran-


ça. [...] Finalmente, a escolha recaiu sobre Clemente V (1305-1314),
arcebispo de Bordéus. Este se mantivera neutro na luta partidária,
sendo figura bem vista por Felipe. Não foi uma eleição muito feliz.
A fim de restabelecer a paz o mais breve possível, fez grandes con-
cessões a Felipe, que não seriam benéficas para a Igreja. Apoiou um
processo contra a Ordem dos Templários, que o rei queria aniquilar,
provavelmente para se apoderar de suas riquezas. O processo reali-
zou-se de forma completamente arbitrária e as atitudes autocráticas
de Felipe provam que o prestígio do Papa diminuíra notavelmente.
Embora as acusações feitas não fossem comprovadas, Clemente sus-
pendeu a Instituição dos Templários (1307). A vontade de Felipe
prevaleceu. (MATOS, 1997, v. 1, p. 289).

176
A Ordem de Cristo

Em Portugal, a Ordem do Templo, com permissão do papa, tinha


sido reorganizada como Ordem de Cristo. Aí, também, era contro-
lada pelos reis portugueses, que conseguiram instalar príncipes reais
ou outros favoritos como mestres. Seus feitos mais significativos se
deram sob seu mestre, o príncipe Henrique, nomeado em 1418, o
qual usou a riqueza da ordem para financiar expedições explorató-
rias à costa da África, ao redor do cabo da Boa Esperança e por fim
à Ásia. No século XVI, o controle das ordens passou para a Coroa,
e, como as sucessivas bulas papais atenuaram os votos de pobreza,
castidade e obediência, a qualidade de membro transformou-se me-
ramente numa questão de honra e prestígio. (READ, p. 338).

O Poder da Igreja na América Latina

A partir da segunda metade do século XV, Espanha e Portugal as-


sumem, progressivamente, a hegemonia da expansão colonial euro-
péia, sob a égide da incipiente política econômica do mercantilismo.
Dilatar a fé e o império, impor-se pela cruz e espada, são diferentes
maneiras de exprimir a implantação dos impérios ibéricos, ao mesmo
tempo mercantis e salvacionista. (MATOS, 1997, v. 2, p. 89-90).
Na Península Ibérica existia a mentalidade, amplamente difundida,
segundo a qual Portugal e Espanha foram escolhidos por Deus para
difundir a fé cristã nas novas terras já descobertas ou a serem conhe-
cidas. Trata-se de um messianismo que ressoa, inclusive, nas obras
de Las Casas quando afirma que Deus havia eleito o povo espanhol
como ministro da fé (As vinte razões). Também Antônio Vieira SJ
[1608-1697] se faz porta-voz dessa convicção, afirmando que nesses
tempos surge um novo império, o reino de Cristo na terra, governa-
do pelo Papa (poder espiritual) e pelo rei de Portugal (poder tempo-
ral). (MATOS, 1997, v. 2, p. 95-97).
Cinco séculos de luta contra os Mouros na Península Ibérica [c.750-
1492], movimento conhecido como Reconquista Cristã, inculcou nos
ibéricos um espírito de cruzada: usar a força das armas como meio

177
legítimo na defesa da fé! Imbuídos desta mesma mentalidade, os con-
quistadores declaram justa a guerra, caso os indígenas negarem a acei-
tar pacificamente a fé. O grito Crê ou morre dos cruzados medievais
recebe aqui uma nova aplicação. (MATOS, 1997, v. 2, p. 97).
Quanto à implantação da Igreja-Instituição e à organização eclesiás-
tica, constatamos que em 1511 foram criadas as três primeiras sedes
episcopais, entre elas a de Santo Domingo (arquidiocese em 1546).
A Igreja no Brasil dependia inicialmente do Bispado de Funchal, nas
Ilhas Açores. Em 1551 erigiu-se a diocese de São Salvador da Bahia.
De 1551 a 1676, houve um só bispo para toda a América portuguesa
e somente em 1707, com as Constituições Primeiras do Arcebispo
da Bahia, é que surge uma estrutura eclesiástica mais definida. (MA-
TOS, 1997, v. 2, p. 95).
Através de sucessivas concessões pontifícias que confiavam aos mo-
narcas ibéricos o cuidado da Igreja em terras ultramarinas, por eles
descobertas e conquistadas, a evangelização da América Latina esta-
va, de fato, nas mãos da Coroa, e, conseqüentemente, era integrada
ao projeto colonial de dominação. Eram, de fato, os reis de Espanha
e Portugal que enviavam os missionários e que tinham o direito de
receber os dízimos, para financiar a catequese e o culto. Pertencia-
lhes, igualmente, a faculdade de criar novas dioceses, nomear bispos
e outros dignitários eclesiásticos. Toda a comunicação com Roma
era sujeita ao controle do monarca. O funcionamento do padroado
foi, igualmente, bem além da legislação escrita e o poder colonial
chegou a dominar por completo a instituição eclesiástica, cerceando,
de forma abusiva, sua vida interna e seus representantes, entre eles
particularmente as Ordens Religiosas. Um dos aspectos práticos do
padroado era que ninguém podia tornar-se cristão sem, ao mesmo
tempo, passar a ser súdito do rei da Espanha ou de Portugal. Efeti-
vamente, expansão imperialista e conversão cristã caminhavam de
mãos dadas! (MATOS, 1997, v. 2, p. 100).

O Poder da Igreja no Brasil


A colônia portuguesa nas Américas segue um itinerário sui gene-
ris. A 7 de setembro de 1822 um príncipe da casa real portuguesa,

178
Dom Pedro I, rompe os laços políticos com a Metrópole, tornando
o Brasil um país independente. É instituído o regime monárquico e
proclamado o Império do Brasil, com constituição outorgada em 24
de fevereiro de 1824, na qual a religião católica é declarada oficial
(artigo 5o) e o Imperador considerado o protetor natural da Igreja,
com todas as prerrogativas do antigo Padroado luso (artigo 102).
(MATOS, 1997, v. 2, p. 119).
No Brasil verificamos, no período em questão, vários choques entre
o poder imperial e a Igreja por causa do regalismo. Após o posicio-
namento das autoridades políticas em relação ao direito inalienável
do padroado, ora transferido naturalmente para a pessoa do Im-
perador (1827), e o episódio de quase ruptura com Roma (1833)
devido às atitudes de Diogo Antônio Feijó (1784-1843), as tensões
entre a Igreja e Estado não cessam. Assim, em 1855 é proibida a
admissão de noviços às antigas Ordens Religiosas do Império, me-
dida que provoca uma drástica diminuição numérica desses institu-
tos, levando-os à beira da extinção em fins do período monárquico.
Famosa foi a Questão Religiosa (1872-1875), ligada à infiltração
maçônica em irmandades de Belém e Olinda, cidades que viram seus
bispos aprisionados e condenados a trabalhos forçados. (MATOS,
1997, v. 2, p. 123).

A Separação da Igreja do Estado


Proclamada a República, em 15 de novembro de 1889, logo aos 7
de janeiro de 1890, o Governo Provisório publicou o Decreto da
separação da Igreja e do Estado. Antes de chegar à publicação desse
revolucionário Estatuto, de tão decisiva importância sócio-política,
houve várias tentativas de impedi-lo ou, pelo menos, amenizar suas
conseqüências. Os líderes católicos continuavam a defender em tese
o ideal de união entre Igreja e Estado, aceitando a separação como
situação de fato, após a promulgação do Decreto nr. 119-A, de 7
de janeiro de 1890. Obviamente ninguém desejava um simples re-
torno à política imperial referente à Igreja, aquela falsa união e es-
cravizamento, aquele regime de privilégios e subsídios com que se
mascarava a opressão (Pe. Júlio Maria, CSSR), mas seria inaceitável
confundir a separação com a hostilidade ou com a indiferença. (MA-
TOS, 1990, p.12).

179
Não se pode negar que o documento de 7/1/1890 é sereno, discreto
e preciso; não contém excessos e nem esconde ódios. Não deixa de
ser a carta de alforria do catolicismo no Brasil, abolindo no art. 4o
o padroado com todas as suas instituições, recursos e prerrogativas;
proibindo no art. 1o ao governo federal leis, regulamentos ou atos
administrativos sobre a religião; declarando no art. 2o o direito de
todas as confissões religiosas ao exercício de seu culto, sem obstá-
culos aos seus atos particulares ou públicos; assegurando no art. 3o
a liberdade religiosa, não só aos indivíduos isoladamente considera-
dos, mas ainda às Igrejas que os unem numa mesma comunhão; es-
tabelecendo no art. 5o a personalidade jurídica para todas as Igrejas
e comunhões religiosas, e mantendo a cada uma o domínio de seus
bens. (MATOS, 1990, p.13).

A Reação do Clero Católico

Apesar das intervenções e apelos da Hierarquia católica, a Consti-


tuição republicana de 24 de fevereiro de 1891 adotou uma filoso-
fia a-religiosa e nitidamente laicista, eliminando – como vimos – a
evocação do nome de Deus na Carta Magna, proibindo o ensino
religioso nas escolas públicas e não reconhecendo o matrimônio reli-
gioso para efeitos civis. Essa mesma política de laicização do Estado,
no entanto, não foi seguida pelo Congresso Constituinte de Minas
Gerais que, no dia 15 de junho de 1891, decretou e promulgou a
Constituição Mineira em nome de Deus Todo Poderoso. Comenta
Mons. Carlos de Vasconcellos, no seu discurso de instalação do 1o
Congresso Catequístico Brasileiro de 1928: Minas repudiava assim
a apostasia oficial da Constituição atéia da República Brasileira, ins-
pirada pelo positivismo. Se esta não foi ainda batizada, como dizia
Júlio Maria, e conserva o pecado original de apostasia, o Estado de
Minas, desde o berço, recebeu ao menos a graça do batismo de dese-
jo! (MATOS, 1990, p.16).
Apesar da separação oficial de Igreja e Estado no Brasil, consagrada
pelo Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, e incorporada na cons-
tituição de 1891, assistimos, na Primeira República, a um curioso
processo de reaproximação dos dois poderes. A Igreja não se con-

180
forma com uma posição secundária na vida nacional, apelando aos
sentimentos religiosos da absoluta maioria da população. Já nos pri-
meiros anos da República, os bispos mostram claramente que não
aceitam a opinião que entre a Igreja e o Estado deve ter pouco ou
quase nenhum contato, nenhuma cooperação, em suma, legalmente
têm que se ignorar mutuamente. Independência não quer dizer se-
paração, afirma o Episcopado em sua Carta Pastoral de 1890. (MA-
TOS, 1990, p. 45).
O processo de reaproximação entre a Igreja e Estado, nas primeiras
quatro décadas do regime republicano, não é retilíneo e conhece um
vai-e-vem, que revela os interesses em jogo naquela etapa histórica.
[...] Em 1905 o Brasil foi agraciado com o primeiro cardinalato da
América Latina, na pessoa de Dom Joaquim Arcoverde de Albu-
querque Cavalcanti (1897-1930), arcebispo do Rio de Janeiro. [...]
Em 1919 a representação diplomática junto à Santa Sé foi elevada à
categoria de Embaixada, enquanto, no Brasil, a Nunciatura recebeu
o status de primeira classe. [...] Em maio de 1924 foi celebrado,
com grandes festividades, o jubileu de ouro sacerdotal do Cardeal
Arcoverde. Além da impressionante Missa Campal, especialmente
organizada pelos nossos militares, em que tomaram parte mais de
dez mil soldados de terra e mar e a comunhão dos intelectuais, quan-
do das mãos de S. Ex. Rvdma., o Snr. D. Sebastião Leme, mais de
500 homens de letras, professores, cientistas, acadêmicos, artistas,
etc. receberam a Sagrada Comunhão, o que mais chamou a aten-
ção foi o fato de o governo da República ter tomado parte conspí-
cua nessas festividades. No dia 4 de maio de 1924, compareceu ao
Palácio São Joaquim, no Rio de Janeiro, o próprio Presidente da
República, Dr. Arthur Bernardes (1922-1926), acompanhado do Sr.
Dr. Estácio Coimbra, vice-presidente, das casas civil e militar e de
todo o Ministério, para homenagear o purpurado. Era a primeira
vez, depois da separação da Igreja e do Estado, que uma autoridade
eclesiástica recebia tais honras por parte do Chefe da Nação. Houve
20 minutos de conversação amistosa. Trocaram-se discursos e foram
tiradas fotografias, em que, ao lado do Cardeal e de outros prelados,
aparecem o Presidente da República e seu séqüito. Uma hora depois,
Dom Arcoverde e todos os Bispos presentes foram agradecer a dis-
tinção do Governo Brasileiro. À saudação de Dom Joaquim Silvério
de Souza (1905-1933), Arcebispo de Diamantina, respondeu o Presi-

181
dente com um discurso que foi uma verdadeira apologia da ação da
Igreja Católica no Brasil. Mas o ponto alto constituiu, sem dúvida, do
banquete no Itamarati, oferecido à noite daquele dia 4 de maio, pelo
Chanceler Félix Pacheco. Ainda muitos anos depois, este evento será
lembrado pela imprensa católica como um manifesto congraçamento
da República com a consciência católica da universidade dos brasilei-
ros. Fala-se, na ocasião, de um verdadeiro batismo da República no
Brasil. (MATOS, 1990, p. 47-49).

Uma Interpretação Tendenciosa


A proclamação da República, em novembro de 1889, trouxe como
conseqüência a abolição do Padroado, deixando o catolicismo de ser
religião oficial do estado. À semelhança do que já vinha ocorrendo
na Europa, a constituição republicana decretou a implantação do
estado leigo, com as respectivas conseqüências na área da família e
da educação.
Com a mesma força de repúdio à laicização do Estado e ao casamen-
to civil, os bispos passaram a condenar o ensino leigo nas escolas.
Segundo a hierarquia eclesiástica, a laicização do ensino era conside-
rada como uma forma prática de ateísmo e causa de profundos ma-
les para o país. Já na reclamação feita pelo episcopado ao governo
provisório, datada de 6 de agosto de 1890, existe uma condenação
explícita do ensino leigo; numa interpretação tendenciosa, afirma-
se que o governo havia optado pelo ateísmo oficial: Que há de ser,
dentro de poucos anos, quando as funestas doutrinas do ateísmo nas
escola públicas, houverem produzido entre nós os deploráveis frutos
de dissolução e imoralidade que a experiência de outros países já
deixou tristemente evidenciados?
Nas pastorais coletivas de 1900, na comemoração do 4o centenário
da descoberta do Brasil, os bispos voltam a insistir nessa mesma po-
sição, extremamente polêmica, com relação ao ensino leigo: Decre-
tou-se que nossas escolas primárias e superiores fossem seminários
de ateísmo, onde nada se ensinasse de religião, nada de Deus. Este
nome adorável poderão os mestres proferir para o insulto ou negar;

182
não terão liberdade de infundir na inteligência e no coração dos alu-
nos conhecimento e amor de Deus criador deles e do universo.
É evidente que os bispos manipulam, em defesa de sua tese, o pró-
prio texto do decreto, estabelecendo uma equivalência indébita en-
tre ensino leigo e ensino ateu. O fato de se prescindir, nas escolas
públicas, do ensino da fé católica, de forma alguma significava que
houvesse na mente dos legisladores uma intenção declarada de pro-
mover o ateísmo entre a juventude. O ensino religioso continuava a
ser mantido livremente nas escolas confessionais das diferentes de-
nominações religiosas.
Apesar do clamor do episcopado, o governo republicano deixava
plena liberdade para que a instituição eclesiástica se expandisse e se
fortalecesse nesse período, o que não ocorria na época imperial. A
convite dos bispos e, sob o estímulo da Santa Sé, inúmeros institutos
religiosos europeus se estabeleceram no país nas primeiras décadas
do regime republicano.
A celebração do concílio plenário latino-americano, em Roma, em
1898, permitiu que a cúria romana confirmasse de forma definitiva
seu domínio sobre as Igrejas oriundas do colonialismo ibérico. O
concílio foi elaborado e conduzido pelos peritos da Santa Sé, ca-
bendo aos prelados apenas ratificar as diretrizes romanas. Um dos
pontos mais enfatizados, pelo concílio, era a necessidade de promo-
ção das escolas católicas, como forma de se contrapor à perspecti-
va leiga dos estados modernos. A fim de levar avante esse projeto,
recomendava-se que os prelados latino-americanos continuassem a
obter a colaboração de religiosos da Europa.
O tema escola católica passou a constituir um enfoque importante
da conferência dos bispos do centro-sul do país, reunidos em São
Paulo, em 1910.
A escola pública, desprovida do seu caráter sacral, era condenada
explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiástica, afirmando
que a Igreja Católica “detesta e condena as escolas neutras, mistas e
leigas, em que se suprime todo o ensino da doutrina cristã”. E acres-
centavam em seguida, fiéis às orientações do concílio latino-ame-
ricano: “Esforcem-se, portanto, os reverendos párocos, pregadores

183
e catequistas, por dissuadir aos pais de família, que não poderão
prestar pior serviço aos filhos, à pátria e ao catolicismo, que colocar
seus filhos em tais escolas, expostos a perigos tão grandes”.
O contraponto era a necessidade de escolas de confissão católica. O
clero diocesano foi incentivado a que patrocinasse essas fundações,
no âmbito de suas paróquias: “Nas circunstâncias em que se acha
a Igreja diante do ensino leigo, é de necessidade inadiável que em
todas as paróquias, haja escolas primárias católicas, a que chamam
paroquiais, nas quais a mocidade nascente encontre o pasto espiritu-
al da doutrina cristã, e de outros conhecimentos para a vida prática.
Ordenamos, portanto, aos reverendos párocos que envidem todos
os esforços para fundá-las o quanto antes, onde as não houver; e
não descansem, enquanto não conseguirem, por si ou por outrem, a
realização deste ideal, em suas paróquias, custe o que custar”.
A finalidade básica da escola paroquial era oferecer aos meninos
uma instrução elementar que lhes permitisse assimilar melhor os
conceitos da doutrina católica, preparando-se assim de forma ade-
quada para a recepção dos sacramentos da penitência e da eucaris-
tia. Foi, sobretudo, nas regiões de imigração européia no sul do país
onde esse apelo foi atendido de forma mais plena.
Instalados no Rio Grande do Sul, em 1900, os Irmãos maristas
tornaram-se valiosos colaboradores dos párocos na promoção das
escolas católicas. Em Santa Catarina foi fundada em 1913 a congre-
gação das Irmãs Catequistas Franciscanas cuja finalidade específica
era o magistério nas escolas paroquiais.
Não obstante, na medida em que se ampliava a rede escolar pública,
muitas famílias católicas passaram a optar por ela pelo aspecto da
gratuidade, tanto mais que freqüentemente eram os mesmos profes-
sores que lecionavam tanto nas escolas municipais como nas escolas
paroquiais.
Nesse período, intensificou-se no país o ensino secundário, e os reli-
giosos passaram a ocupar lugar significativo nessa área, com a fun-
dação dos colégios, nas diversas regiões do país.
Três razões principais podem ser indicadas para essa opção de ativi-
dade, dentro da Igreja do Brasil.
Em primeiro lugar, a maioria das congregações européias, já se dedi-

184
cavam anteriormente a esse tipo de atividade; o que fizeram foi sim-
plesmente transplantar para o país métodos e obras que já haviam
dado bons resultados em outras regiões.
Além disso, a fundação de escolas passou a constituir o meio princi-
pal de prover o sustento econômico das novas fundações religiosas,
sobretudo quando o governo republicano, recém-instalado no Bra-
sil, se negava a amparar as obras de cunho religioso.
Por último, a criação das escolas católicas era uma das grandes me-
tas do episcopado, sobretudo após o decreto de separação entre a
Igreja e Estado. (LIMA, p. 30-33).

O Combate à Escola Pública na República Velha


Após a proclamação da República, a Igreja iniciou um movimento
de reação contra o novo regime, em vista de seu caráter leigo; ha-
via ainda muitos prelados e clérigos saudosistas da época imperial,
quando a instituição eclesiástica gozava de uma série de privilégios,
por ser o catolicismo religião.
A legitimação do governo republicano foi promovida, sobretudo,
pelos positivistas, cuja doutrina teve grande aceitação no exército,
através do incentivo ao espírito cívico.
A partir das comemorações do centenário da independência, regis-
tra-se uma mudança de estratégia por parte da Igreja: a ênfase do
discurso eclesiástico passa a ser a união entre fé católica e pátria
brasileira. Na concepção do episcopado, era necessário recuperar
a influência junto ao poder político. De fato, a partir da década de
20, iniciou-se uma etapa que pode ser designada como Restauração
católica ou neo-Cristandade brasileira. (LIMA, p. 37).
Diante desta situação a Igreja procura reforçar seus quadros inter-
nos e também sua organização externa. Excluída da vida pública,
quer aumentar sua influência e prestígio na sociedade civil, median-
te uma atuação mais destacada na educação (com colégios católi-
cos, geralmente destinados à elite), nas obras sociais, na imprensa e
nas pias associações de leigos. Nesta tarefa recebe enorme apoio de
Congregações religiosas européias que afluem, em grande número,

185
ao Continente. Interessante também é o ingente esforço da hierar-
quia para conquistar um lugar para a Igreja na escola pública, com
campanhas a favor do ensino religioso na rede educacional oficial.
(MATOS, 1997, v. 2, p. 125).
A escola neutra é uma calamidade, um sistema mentiroso, escrevia
Leão XIII. Em face de Cristo, senhores, não há meio termo; a alter-
nativa é a da estrada de Damasco: ou com Paulo se o segue ou com
Saulo se o persegue. A escola sem Deus é contra Deus. (MATOS,
1990, p. 76).
Na sua Carta Pastoral de 29-3-1912, já escrevera Dom Silvério Go-
mes Pimenta, Arcebispo de Mariana:
Escolas chamadas neutra, ou atéias, são perniciosíssima invenção
para arrancar do coração da infância, e depois da sociedade, a fé e os
sentimentos religiosos. Este nefando empenho se acoberta e se pro-
cura defender com a capa de liberdade de consciência, de civilização,
de progresso, quando na realidade não é senão uma guerra nutrida
contra a fé católica, alvejada principalmente com tais medidas”. Ou-
tros falam da “monstruosidade perversa do ensino leigo” e do “mais
violento vírus que se possa inocular a uma nação para corrompê-la.
(MATOS, 1990, p. 75).
A lição da história nos ensina que o grupo ou partido que tiver o
monopólio da escola, cedo ou tarde, triunfará. É indispensável que
os católicos sinceros e esclarecidos, seguindo um plano bem traçado,
iniciem uma luta sem tréguas contra o princípio da laicidade do ensi-
no. Urge uma propaganda intensa, ardente, contra a violação odiosa
da vontade popular pela imposição iníqua – a um povo inteiramente
católico! – de um ensino que ele não quer. O grito de guerra de todo
o exército católico deve ser: Queremos Deus nas escolas! As escolas
são nossas, somos nós que as pagamos e sustentamos, não as quere-
mos sem o ensino da Religião! Fora o ensino leigo! Para nós, como
para nossos irmãos de crença de todos os países não há escolher o
campo de batalha: só poder ser o da salvação da infância e da mo-
cidade pela destruição do ensino leigo, ou ao menos pela subtração
dos filhos dos católicos à sua mortífera influência. Unindo as imensas
forças católicas em todo o território nacional, fazendo pressão sobre
as autoridades municipais, estaduais e federais, a Igreja conseguirá,
em breve, que Jesus Cristo e a Religião dos nossos ancestrais voltem
a ocupar, no ensino, o lugar de honra que lhe compete e que, só pela
186
mais tirânica e criminosa imposição de uma ínfima minoria de falsos
democratas lhes havia sido arrancado. Desse recobrar de esforços
pelo ensino religioso – afirmam os bispos da Província Eclesiástica
de Mariana, no Apelo dirigido ao Clero, aos chefes de família e aos
professores, Pouso Alegre, 7 de maio de 1927 – há de surgir uma
nova floração de energias e virtudes, a pontearem de esperanças os
horizontes da Pátria e a atraírem sobre vós as mais preciosas recom-
pensas do céu. (MATOS, 1990, p. 76-77).
A campanha pelo ensino religioso teve em Minas contornos especí-
ficos. Aí a luta foi mais intensa e conseguiram-se vitórias, que servi-
ram de estímulo para os católicos de outras regiões do país. [...] As
coisas mudaram quando o Governador positivista João Pinheiro da
Silva e seus secretário de Interior, Carvalho Brito, em 1906, proibi-
ram o ensino religioso na escola oficial, deixando, igualmente, de
subvencionar os seminários católicos. (MATOS, 1990, p. 77-78).
Já em 1890, na sua Carta Pastoral Coletiva, o episcopado brasileiro
dizia: “Nós vemos nas escolas, desde as ínfimas até as superiores,
erguerem-se cátedras de pestilência a exalar os seus miasmas deleté-
rios, e enquanto nesses santuários poluídos da ciência os professores
do ateísmo perverterem a incauta mocidade sedenta de saber...”
É convicção profunda entre os católicos “esclarecidos” da época,
que a escola neutra, ou seja, nas suas respectivas paróquias. (MA-
TOS, 1990, p. 88).
Um dos aspectos mais importantes na obra de “recristianização” do
Brasil, durante o período da “Primeira República”, é, sem sombra
de dúvida, a campanha desenvolvida pela Igreja para reintroduzir
o ensino religioso nas escolas da rede pública. Na opinião católica
da época, trata-se “sem Deus”, não educa, porque “não forma o
caráter, nem o homem, cuja vida espiritual não pode abstrair da
religião”.
Encontramos semelhante argumentação nas próprias diretrizes ofi-
ciais da Igreja, desde pronunciamentos pontifícios, posicionamento
do episcopado nacional e local, até simples orientações de uma ques-
tão de vida ou morte: sem bases cristãs na mocidade, não haverá
futuro para o Brasil. A questão se enquadra numa perspectiva mais
ampla: a implantação da “ordem cristã” na sociedade brasileira.
(MATOS, 1990, p.73).

187
A “questão escolar” no Brasil não é fenômeno isolado no conjunto
da Igreja Universal. Amplamente conhecidos sãos os ingentes esfor-
ços, por exemplo, dos católicos franceses em defesa da escola cató-
lica, como demonstra, entre outros, o famoso discurso de Charles
de Montalembert (1810-1870) perante a “Chambre des Pairs”, em
1831. Particularmente instrutiva é também a ação dos católicos ho-
landeses quanto à escola confessional cristã, na qual se destaca a
figura de Herman Schaepiman (1844-1903) que conseguiu a colabo-
ração política do partido protestante, para garantir o reconhecimen-
to, e, mais tarde, a plena subvenção do ensino cristão particular (em
1920, já depois de sua morte). (MATOS, 1990, p. 75).

A Criação da Rede Particular de Ensino

As orientações de Roma a respeito da “escola católica” servem de es-


tímulo e apoio aos católicos brasileiros em construir sua própria “rede
particular de ensino”. Em sua Pastoral Coletiva de 1922, os Bispos
recordam aos fiéis a exortação de Leão XIII, quando escrevem:
Pelo que ao nosso país concerne, o Papa Leão XIII, na Carta “Litte-
ras a vobis” diz: “Estabeleçam-se também escolas para instrução dos
meninos, a fim de não suceder que, com grande detrimento da fé e
dos costumes, recorram, como sói acontecer, às escolas dos hereges
ou freqüentem colégios onde não se faz menção nenhuma da doutri-
na católica, exceto talvez para caluniá-lo.” Escusado é encarecer a
importância das palavras pontifícias. À sua luz rasga-se o caminho
que devemos trilhar, sob pena de perderem a fé verdadeira não pou-
cos dos que têm a ventura de nascer no generoso grêmio da Igreja”.
Pio XI – na sua Encíclica “Divini Illius Magistri”, de 1929, pondera:
“... é indispensável que todo o ensino e toda a organização da escola:
mestres, programas, livros, em todas as disciplinas, sejam regidos
pelo espírito cristão, sob a direção e vigilância maternal da Igreja
Católica, de modo que a Religião seja verdadeiramente fundamento
e coroa de toda a instrução, em todos os graus, não só elementar,
mas também média e superior”. Dom Leme já tocara o ideal da
escola “integralmente católica”, na sua Pastoral de 1916: “Nós que-
remos escolas francamente religiosas. Nesse intuito não mediremos
trabalhos. [...] A escola – repete Dom Leme, citando Leão XIII – é o

188
campo de batalha em que se decide o caráter cristão da sociedade”.
(MATOS, 1990, p. 91).
Uma das maiores desgraças que atingiu o Brasil no período da Primeira
República é, segundo muitos católicos da época, a difusão dos “colégios
protestantes ou americanos”, na Terra de Santa Cruz. Na sua “Circular
de 3-4-1906”, o Arcebispo de Mariana declara sem rodeios:
Falo de meninos de ambos os sexos, que os pais não temem confiar a
colégios e mestres protestantes, heterodoxos, ou ainda sem religião.
Não vêem esses pais que com semelhante procedimento impelem
seus filhos para a apostasia, fazendo-os perder no colégio, ou nas
aulas, as verdades católicas que aprenderam, ou deviam aprender
em casa. País que assim tratam seus filhos são diante de Deus réus de
um crime, que o Apóstolo classifica de apostasia, mais grave que a
mesma infidelidade: “Si quis suorum máxime domesticorum curam
no habet, fidem negavit, et est infideli deterior” (I Tim.5,8). [...]
(MATOS, 1990, p. 92-93).

O Advento da Revolução de 30

A partir da década de 20, portanto, a Igreja procura uma reapro-


ximação com o Estado, não em termos de subordinação, mas de
colaboração. A hierarquia eclesiástica mostra-se disposta a colabo-
rar com o governo na manutenção da ordem pública, mas exige em
troca que o Estado atenda às suas reivindicações de ordem religiosa.
Essa aliança passou a ser mantida após a revolução de 1930, com
a ascensão dos novos líderes políticos. Para conquistar o apoio da
Igreja, não faltaram concessões explícitas do governo revolucioná-
rio, como a autorização para o ensino religioso nas escolas públicas.
(LIMA, p. 38-39).
Getúlio Vargas (1883-1954), que dirigirá os destinos da Nação a
partir da Revolução de 1930, primeiro como chefe do Governo Pro-
visório (1930-1934), depois como Presidente Constitucional (1934-
1937) e ditador (1937-1945), ficará eternamente grato a Dom Leme,
que evitou o derramamento de sangue na deposição de Washington
Luiz (1870-1957) como presidente da República em 1930. Durante

189
o Estado Novo (1937-1945) – na realidade o regime ditatorial de
Vargas –, realizar-se-á um pacto moral entre a Igreja e o Estado, ga-
rantia de uma posição privilegiada do catolicismo no Brasil. Notável
foi a bem-sucedida campanha da Igreja para conseguir a implanta-
ção do ensino religioso na escola pública, em nível regional (Minas
Gerais, 1928) e, pouco depois, em nível nacional (Decreto do Gover-
no Federal de 1931). (MATOS, 1997, v. 2, p. 129).

A Capitulação de Vargas

Para José Oscar Beozzo, 1935 é o “ano chave” da década


de 30.
A Revolução de 1930 permite o desbloqueio de inúmeras forças so-
ciais que se radicalizam mais profundamente em 1935, quando co-
meça a se fechar o espaço, para estas forças populares emergentes,
ocupado cada vez pelo reagrupamento das classes dominantes e pela
intervenção do Estado. [...] A Igreja se adapta ao “projeto populis-
ta” de Vargas, apresentando-se como força moderadora nas tensões
e conflitos sociais da época. Defende a ordem social vigente, agora
“batizada” pela Carta Magna de 34, e o princípio de “obediência à
Autoridade estabelecida”. Vê no comunismo o grande inimigo a ser
combatido, devido à sua inspiração materialista e espírito revolucio-
nário. Neste contexto nascem as simpatias de significativos setores
da Igreja no Brasil pelo movimento integralista, que trazia em seu
programa o tríplice lema: Deus, Pátria e Família, valores extrema-
mente caros ao catolicismo da época.” (MATOS, 1990, p. 261).

Esse período é também marcado por importantes reformas educati-


vas promovidas tanto em nível federal como estadual. Esse interesse
e entusiasmo pela educação foi provocado pelo movimento da escola
nova, tendo com principais líderes Fernando de Azevedo, Sampaio
Dória, Lourenço Filho e Anísio Teixeira.
Alguns líderes católicos manifestaram-se, desde o início, favoráveis
a esse movimento renovador da escola, como Mário Casassanta, Jô-
natas Serrano e Everardo Backheuser. Mas a posição católica mais

190
ampla foi de reservas, quando não de franca oposição, destacando-
se nessa linha Alceu Amoroso Lima. (LIMA, p. 41-42).

A Vitória da Igreja e a Derrota da Escola Pública

O período de um século que antecede à fundação da AEC (1844-


1944) é marcado inicialmente por um forte atrelamento da educação
católica às diretrizes eclesiásticas romanas, tendo como finalidade
promover prioritariamente o ensino da doutrina cristã. Essa postura
autoritária e antiliberal da Igreja assumiu força no Brasil a partir de
1844, quando Dom Antônio Ferreira Viçoso tomava posse da dio-
cese de Mariana, iniciando o movimento dos Bispos reformadores e
com a fundação do colégio jesuíta, do Desterro, nesse mesmo ano.
A grande meta da educação era a formação da classe dirigente do
país, por isso a maioria dos colégios destinava-se tanto aos filhos da
tradicional aristocracia rural como da burguesia emergente.
A derrocada dos regimes autoritários, ao final da Segunda Guerra
Mundial, marca o início de uma nova era, abrindo-se também a es-
cola católica para as idéias da escola nova e para os novos projetos
de uma sociedade liberal e democrática.
Em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, a tradicional
perspectiva eclesiástica começou a ser abalada. O avanço das idéias
democráticas na Europa, com profundas repercussões na política e
na sociedade brasileira, obrigaram a Igreja a rever suas posições.
(LIMA, p. 21-23).

191
Cartas cidadãs aos políticos e
governantes

CARTA 01
Belo Horizonte, 5 de outubro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Exmos. (as) Srs. (as)


Deputados (as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF

Assunto: Os Jogos Olímpicos de 2016 e a Escola Pública de Tempo


Integral.

Prezado Sr. Presidente e prezados (as) Srs.(as) Deputados (as):

Os jornais e revistas publicados neste fim de semana destacam a


auspiciosa notícia da escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede
da Olimpíada de 2016, adiantando alguns projetos e propostas go-
vernamentais para adequar essa cidade para tão importante evento
cívico esportivo, o qual marcará um novo tempo para os destinos
do País, como V. Exa. não cansa de repetir. Uma dessas propostas,
da lavra do prefeito da Cidade Maravilhosa, publicada pela Revista

192
Veja (7.10.2009, Especial, p.44), chamou minha atenção pelo sig-
nificado que encerra, pois mostra claramente o descaso das auto-
ridades públicas com um dos pilares da cidadania, a educação, e a
preocupação em maquiar essa mazela social para mostrar um país
falso aos visitantes, ao invés de propor medidas efetivas para mudar
o quadro atual. A notícia diz o seguinte:
“Se os ventos continuarem soprando a favor do Rio, o prefeito
Eduardo Paes terá mais facilidade de tirar do papel o planejamen-
to preparado por uma equipe de jovens consultores recrutados na
iniciativa privada para pensar a cidade. São profissionais saídos de
empresas como McKinsey, Shell e Vale, encarregados de trazer para
a administração pública os conceitos e as práticas das grandes em-
presas. O planejamento municipal, ainda não anunciado oficialmen-
te, foi apresentado pelo prefeito a VEJA. Se for mesmo executado,
atacará problemas em áreas essenciais, como saúde, educação, meio
ambiente, transportes e ordem pública. Entre eles estão a redução
da evasão escolar em 50% e da emissão de gases do efeito estufa em
8% até 2012”.
Imagine só! Reduzir a evasão escolar em 50% até 2012! Isto que é
uma meta olímpica! O vencedor de tão grande façanha merece uma
medalha de ouro: a da mediocridade! É para isto que o Brasil vai
gastar bilhões? Por que não propor a implantação da Escola Pública
de Tempo Integral, para que os visitantes não sejam pungados, cons-
trangidos ou assassinados por bandos de crianças e jovens infantes
soltos pelas ruas, que formam os famosos arrastões tão comuns na
Cidade Maravilhosa? Afinal de contas, esse evento ocorrerá daqui a
sete anos e até lá há tempo suficiente para planejar e executar a im-
plantação da Escola Pública de Tempo Integral, não só na sede dos
Jogos Olímpicos, a cidade do Rio de Janeiro, mas em toda sua região
metropolitana, inclusive a baixada fluminense e a grande Niterói,
para que essas crianças, segregadas da sociedade, perambulando a
esmo ou confinadas em prisões, disfarçadas ou assumidas, frequen-
tem escolas públicas de qualidade, em tempo integral, que as prepa-
rem para o exercício pleno da cidadania. Aproveitando o espírito
olímpico que entusiasma toda a sociedade, por que não anistiá-las,
libertando-as dessas prisões, e dando-lhes condições de viverem com
dignidade no seio de suas família, se existirem?

193
Considerando que V. Exa., Sr. Presidente, vive apregoando que a
educação será a prioridade número um do governo na Era do Pré-
Sal, para aplicação dos lucros com a exploração do petróleo e do gás
natural da Plataforma Continental; e que V. Exas., Srs. Deputados e
Sras. Deputadas, também estão trabalhando na elaboração das leis
com esse objetivo, nada mais oportuno do que aproveitar a realiza-
ção das Olimpíadas na Cidade Maravilhosa para porem em prática
tão nobre propósito, implantando a Escola Pública de Tempo Inte-
gral, sonho dos pioneiros da Escola Nova, na década de 30 do século
passado, e pesadelo de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, que tentaram
e fracassaram na sua realização com os abandonados CIEPS. Essa
questão tratei numa carta dirigida ao ex-Ministro Mangabeira Un-
ger, há um ano, que transcrevo abaixo pois acredito possa conter
subsídios às decisões de V. Exas., sobre como aplicar os ganhos com
a exploração do pré-sal e equacionar o problema do ensino público
do País, com vistas a colocá-lo em igualdade de condições com os
países da União Europeia, a China, Rússia, Coreia, Japão e Estados
Unidos da América, com os quais queremos competir com êxito em
diversas modalidades nas próximas olimpíadas, principalmente na
de 2016, exceto no campo educacional, dada nossas deficiências es-
truturais congênitas.

Belo Horizonte, 3 de setembro de 2008.


Exmo. Sr. Ministro
Roberto Mangabeira Unger
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Repú-
blica
Brasília – DF

Prezado Senhor,

Estimulado pela compreensão de V. Exa., que agradeço desde


já, às minhas manifestações sobre a realidade de nosso País,
na forma de críticas e sugestões, tomo a liberdade de, mais
uma vez, voltar com alguns comentários, agora sobre o sis-
tema educacional, assunto que tenho procurado sensibilizar
políticos e governantes por meio de livros e cartas. O foco
principal dessas mensagens tem sido a Escola Pública de Tem-
po Integral, tema que gostaria de aprofundar nesta correspon-
194
dência, pois a implantação dessa escola colocará a sociedade
brasileira num patamar educacional mais elevado, habilitan-
do a infância e a juventude com ferramentas apropriadas para
exercitarem, em sua plenitude, os direitos de cidadania.
O primeiro passo para implantar a Escola Pública de Tempo
Integral, funcionando das 7 às 17 horas, abrangendo a Pré-
Escola, e o ciclo básico infanto-juvenil (Ensino Fundamental
e Médio), será de caráter político-administrativo, pois algu-
mas medidas fundamentais e estruturais terão de ser tomadas.
A primeira delas será transferir do Ministério da Educação,
para o Ministério de Ciência e Tecnologia, a administração
das universidades e tudo o que se relacionar com o ensino
superior. Com esta medida, o País ficará sabendo exatamente
quanto o governo federal investe em Ciência & Tecnologia,
e quanto gasta com o ensino básico, pois hoje em dia essas
despesas são englobadas na rubrica “educação”, dificultando
uma análise mais aprofundada das deficiências setoriais.

Com essa medida, o Ministério da Educação passará a cuidar


exclusivamente do ensino básico, monitorando e dando apoio,
o qual passará a ser de competência exclusiva dos Estados, fi-
cando os municípios com a responsabilidade de administrar
as Creches Comunitárias, para crianças de 0 até 3 anos de
idade, e o Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse novo modelo,
o ensino básico será dividido em quatro ciclos: Pré-Escola (4 a
6 anos), Infantil (7 a 10 anos), Adolescente (11 a 14) e Juvenil
(15 a 18), totalizando quinze anos de escolaridade de tempo
integral, tempo suficiente para prepará-las para a vida adulta
como cidadãos conscientes de seus deveres e obrigações.

Para a implantação desse novo modelo, é preciso um planeja-


mento cuidadoso, com metas a curto, médio e longo prazos, a
fim de que a improvisação não venha a comprometer o proje-
to antes mesmo de ele ser iniciado. Para isso, é necessário que
sua implantação comece pelas capitais dos Estados, inclusive
suas regiões metropolitanas, expandindo a seguir para os cen-
tros mais populosos e, finalmente, para todas as cidades e
vilas rurais do País. Durante esse período de transição, o mo-
delo atual continuará existindo, mas dentro de uma progra-
195
mação que vise à sua extinção num determinado prazo. Além
disso, é preciso também que todas as outras escolas de Ensino
Fundamental e Médio, mantidas com o dinheiro público, em
nível federal, estadual e municipal, como os CEFETs, o Co-
légio Pedro II, os colégios militares, as escolas preparatórias
de cadetes do Exército, Marinha e Aeronáutica, e também os
estabelecimentos escolares vinculados às polícias estaduais,
sejam incorporados à Escola Integral, que será a única escola
mantida com o dinheiro público para atender toda a popula-
ção, sem discriminações ou exceções.

Nessa fase de transição, os colégios e demais escolas militares


adotarão o currículo da Escola Pública de Tempo Integral, e
substituirão seus uniformes por Abadás, que passarão a ser
de uso obrigatório na Escola Integral para diferenciá-la dos
estabelecimentos hoje existentes. Para que os alunos saibam
que pertencem a um grupo, mantendo sua individualidade,
cada um terá seu nome estampado no Abadá. Além disso,
esses estabelecimentos militares de ensino abrirão suas portas
à população em geral e se desvincularão das Forças Armadas,
passando para o controle dos Estados onde se situarem. Essa
mudança será benéfica para a escola pública, hoje reservada
aos pobres, pois, ao matricular seus filhos na escola integral,
a classe média exigirá, como sempre fez, ensino de qualidade.
Este fato contribuirá também para eliminar discriminações e
privilégios, fortalecendo, conseqüentemente, a democracia.

As Forças Armadas, por sua vez, a partir dessa transformação


escolar, administrarão apenas as academias para formação de
oficiais, as quais selecionarão seus alunos por meio de ves-
tibular, aberto a todos os jovens, de ambos os sexos, elimi-
nando quaisquer privilégios para filhos de militares. Isto deve
ser obrigatório, pois hoje em dia, segundo a imprensa, cerca
de 60% dos oficiais têm parentescos entre si, gerando uma
casta separada da sociedade e propiciando a formação de clãs
familiares dominantes dentro das corporações, como os Gei-
sel, que, entre três irmãos generais, sendo um deles Ministro
do Exército, escolheram por conta própria, durante o regime
militar, qual seria o Presidente da República. O eleito por esse

196
triunvirato foi o General Ernesto Geisel. Essa mudança tam-
bém reforçará o sentimento de democracia nos altos escalões
das Forças Armadas, beneficiando toda a sociedade.

Para que a Escola Pública de Tempo Integral passe a ser res-


peitada pelos alunos e pela sociedade, é necessário também
que sejam traçadas diretrizes básicas para a sua implantação
e funcionamento, regulando desde os projetos arquitetônicos
das escolas, passando pelos currículos, até um sistema de ma-
nutenção e segurança de suas instalações. Neste planejamen-
to, em que tudo deverá ser padronizado, devem ser levadas em
conta as características de cada ciclo educacional (Pré-Escola,
Infantil, Adolescente e Juvenil), os quais deverão funcionar
em unidades escolares separadas e especialmente projetadas
para os fins a que se destinam, inclusive dotadas de cantinas,
banheiros, áreas de recreação e de esportes, bibliotecas, labo-
ratórios, administração, etc.

Quanto ao currículo, o ponto a destacar na Escola Integral


será o Ciclo Juvenil (15-18 anos), que passará a ser profissio-
nalizante, absorvendo o Sistema S e os CEFETs, que serão re-
formulados para se integrarem ao novo modelo. Além disso, a
critério de cada Unidade de Ensino, como poderão ser chama-
das as Escolas de Tempo Integral, terá a liberdade de escolher,
em função da demanda, quais os cursos profissionalizantes
que oferecerão aos alunos. Neste caso, uma lei especial criará
cursos técnicos para atender às demandas da sociedade, como
auxiliares de enfermagem, laboratoristas, monitores educati-
vos, etc. Assim, todo aluno que freqüentar, e concluir, o Ciclo
Juvenil estará apto não só a concorrer aos vestibulares para
entrar nas universidades, como também para exercer a profis-
são para o qual foi treinado.

Além dos Abadás, que substituirão os uniformes, os alunos da


Escola Integral receberão gratuitamente todo o material esco-
lar, não gastando nada para seu aprendizado. Tudo será for-
necido pelo Estado, inclusive três alimentações diárias: café
da manhã, ao chegar à escola; almoço, ao meio-dia; e lanche
reforçado ao final da jornada, antes de serem liberados. O

197
cardápio para essas refeições, próprio para a faixa etária de
cada ciclo, será elaborado por nutricionistas, e preparado na
cantina da escola. Além disso, cada aluno terá um armário
privativo para guardar seus pertences escolares, devidamente
protegidos por um sistema de segurança eletrônico.

Para cuidar da saúde dos alunos, dos professores e dos funcio-


nários administrativos, cada escola terá consultório médico,
clínica dentária e uma enfermaria para ocorrências rotineiras,
cujos serviços poderão ser prestados por clínicas especializa-
das mediante contrato de prestação de serviços, o que tam-
bém poderá ocorrer com os serviços de limpeza e segurança.
Com isso haverá um maior controle dos gastos, da qualidade
e da regularidade dos serviços prestados.

Na Era do Pré-sal, segundo o Presidente Lula, não haverá falta


de recursos para a educação, mas, até que esse tempo chegue,
há necessidade de se tomar algumas medidas para possibilitar
a implantação da Escola Pública de Tempo Integral no menor
tempo possível. A primeira delas será construir uma unida-
de para cada ciclo de ensino nas capitais dos Estados, para
servir de modelo-padrão para novas construções e adaptação
das existentes, como os CIEPs do Rio de Janeiro. A segunda
será fazer um levantamento de todos os recursos financeiros
destinados à educação, em nível federal, estadual e munici-
pal, inclusive as renúncias e incentivos fiscais, loterias, ver-
bas destinadas a ONGs, etc., que hoje são aplicadas de forma
aleatória sem nenhuma vinculação com um projeto básico de
educação. Um exemplo dessa situação foram os gastos do Co-
mitê Olímpico Brasileiro (COB), na última Olimpíada, cuja
performance dos atletas foi considera pífia pelo Jornal Estado
de Minas (1-9-2008, p.6), que informa: “Nos quatro anos do
ciclo olímpico, os patrocínios de empresas estatais e os recur-
sos da Lei Piva despejaram cerca de R$ 692 milhões nesse
investimento esportivo, o que fez cada uma das 13 medalhas
conquistadas – as duas de futebol estão excluídas, pois o es-
porte não recebe dinheiro público – custar R$ 53 milhões”.

Para finalizar, gostaria de abordar a questão das Creches Co-


munitárias, pois, como diz o ditado, “a educação vem do ber-

198
ço”, razão porque a ele se deve dedicar especial atenção. Os
cuidados que as crianças de 0 a 3 anos de idade receberem
nessa faixa etária é que definirão seu desempenho na escola
e seu lugar na sociedade quando adulto, pois é nessa ocasião
que todos os sinais vitais do ser humano são formados. An-
tecedendo essa fase, igualmente importante, é a sua gestação.
Portanto, os cuidados com o pré-natal estão ligados à pri-
meira infância, e assim tanto a assistência às gestantes, quan-
to aos recém-nascidos, e seu crescimento até 3 anos, devem
ser acompanhados como se fosse uma só etapa da vida. Para
isso é preciso que as Creches Comunitárias sejam projetadas
para comportarem também uma clinica médica para atender
as gestantes durante a gravidez e conduzirem o processo pré-
natal com os cuidados devidos e acompanharem o período
pós-parto e a amamentação. Este tipo de atendimento facilita-
rá as futuras e jovens mamães a se familiarizarem com o trato
dos recém-nascidos, evitando problemas futuros.

Esses Centros de Atendimento Materno-Infantil, se assim po-


demos chamá-los, devem ser projetados para atender a um
número limitado de gestantes e crianças, a fim de se evitar
contaminações de doenças próprias dessa fase, principalmen-
te durante a amamentação. Esses centros também devem ser
padronizados, como sugerido para as Escolas de Tempo Inte-
gral, bem como seu sistema operacional, o qual poderá em-
pregar as próprias mães com tempo disponível para cuidarem
das crianças, após, evidentemente, serem treinadas para isso.
Para disseminar esse tipo de unidade padrão, o governo fede-
ral financiará um projeto piloto em cada capital, para que as
prefeituras de cada Estado copiem seu modelo e o adotem em
seus municípios. A verba para financiar a disseminação des-
ses centros virá do Pré-sal, como prometeu o presidente Lula.
Mas, se até lá faltar, a solução será remanejar as mal aplicadas
no setor de saúde.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

199
Mas não basta a implantação pura e simples da Escola Pública de
Tempo Integral, e das creches comunitárias, ambas universais e obri-
gatórias, para que todos os brasileiros exerçam seus direitos à cida-
dania e a violência urbana não prevaleça sobre as práticas civilizadas
de comportamento coletivo. É necessário mais do que isso, é preciso
que a implantação dessa escola se faça no bojo de uma reforma ra-
dical do sistema educacional brasileiro, a começar pela separação
da educação básica do ensino universitário, cabendo ao Ministério
da Educação o monitoramento do ensino básico, e ao Ministério da
Ciência e Tecnologia o gerenciamento do universitário. Nesse novo
modelo, como foi sugerido nessa carta, os Estados se responsabili-
zariam pelo Ensino Fundamental e Médio, os municípios pela ad-
ministração das Creches Comunitárias e o Governo Federal pelas
Universidades.
Acompanhando essa revolução estrutural, é imperioso que se faça,
também, uma revolução pedagógica, que deve apoiar-se numa nova
arquitetura dos prédios escolares, de tal forma que as escolas pú-
blicas se tornem espaços acolhedores para a infância e a juventude,
estimulando-as a valorizarem esse espaço de cidadania, no qual seu
futuro estará sendo construído, e do País também. Além disso, é
preciso que esse espaço seja enriquecido com todos os recursos da
informática, laboratórios para experimentos científicos, salão de jo-
gos, como xadrez, baralho, bingos, etc., ligados a uma orientação
pedagógica para estimular o desenvolvimento intelectual dos alu-
nos, e, também, quadras esportivas para educação física, consultó-
rios para médicos, dentistas, oculistas e outros meios para cuidar da
saúde dos alunos, e, se necessário, para seus familiares, como forma
de integração família-aluno-escola.
Para encerrar este capítulo trágico, que é a história da educação pú-
blica no Brasil, sujeita a vicissitudes de toda ordem, é preciso fazer
mais alguns comentários. O primeiro deles é sobre a capacidade da
intelectualidade brasileira de diagnosticar, com precisão, os males
do ensino público e sua total incapacidade de propor um modelo
de ensino padronizado para todo o território nacional, inclusive um
programa pedagógico moderno. Diante da incapacidade da elite
pensante brasileira, formada por muitos pedagogos e demagogos, de
propor um novo modelo para a escola pública, os políticos e gover-
nantes devem assumir a vanguarda dessa empreitada e elaborar leis

200
que deem à infância e juventude de nosso País a chance de sonharem
e realizarem seus sonhos de dias melhores, ou alguma liderança ca-
rismática assumirá esse papel. A revolução educacional de que o País
precisa não virá do eixo Rio-São Paulo, pólos de saber do passado,
hoje suportes podres de um eixo enferrujado que serve de poleiro
para intelectuais acomodados e sem idéias, que mais se parecem com
eunucos estéreis, mas sim por meio de congressistas ágeis e compe-
tentes, com visão de futuro.
Portanto, senhores políticos e governantes, mãos à obra, pois há
muito o que fazer pela educação pública, principalmente pela im-
plantação da Escola Integral. E, mais uma vez, é bom lembrar:
Educação é assunto de Estado, é um direito do cidadão, e não uma
questão menor a ser tratada por Organizações Não-Governamentais
(ONGs) e entidades empresariais ou filantrópicas, as quais transfor-
maram esse direito em caridade, cujos beneficiados, agradecidos e
submissos, passam a lhes dever esse favor, pois, por falta de escola,
desconhecem o significado da palavra cidadania.
Agradecendo a atenção de V. Exas., e desejando sucesso em seus
afazeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 02
Belo Horizonte, 18 de outubro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: A defesa do Atlântico Sul e de suas reservas de petróleo e


gás natural.

201
Com cópia para o Exmo. Sr. José Alencar, Vice-Presidente da Repú-
blica.

Prezado Senhor Presidente,

A seguinte nota, do jornalista Mário Fontana, publicada em sua co-


luna no Jornal Estado de Minas (17/10/2009), motivou-me a escre-
ver esta carta com alguns comentários, e sugestões, a respeito do as-
sunto em epígrafe: “A propósito da novelesca compra de caças para
a Força Aérea Brasileira, os argentinos não ficaram nada satisfeitos
com a decisão da Inglaterra de reforçar a defesa militar das Ilhas
Malvinas, que os britânicos chamam de Falklands. Mandaram para
lá uma esquadrilha do supercaça Thyphoon, mais avançado do que
o Rafalle e os outros oferecidos ao Brasil. Vão monitorar o espaço
aéreo do Atlântico Sul. O Brasil não quis nem pensar em adquirir o
Thyphoon, muito caro. Com a Inglaterra, não houve nada disso”.
Esse movimento bélico, por parte dos britânicos, é mais uma peça do
jogo de xadrez que as grandes potências estão armando na América
do Sul, com vistas a dominar a exploração das gigantescas reservas
de petróleo e gás natural descobertas no litoral atlântico do Brasil
e da África, incluindo aí o potencial das Malvinas e da Antártida,
e de outras províncias petrolíferas sul-americanas, em exploração
ou em pesquisa, no continente. Nesse jogo, os norte-americanos já
reativaram a IV Frota e avançam seus peões em direção à Colômbia.
Outros lances virão. Diante disso, o Brasil precisa investir em tec-
nologia e informação, pois saber com antecedência o que pretendem
nossos adversários, e estar preparado para anular suas jogadas, é
questão estratégica de vida ou morte.
No que tange à tecnologia, seria de bom alvitre se pensar em solu-
ções inovadoras, no campo civil e militar, para defender não só o
Atlântico Sul como também os campos petrolíferos marítimos, prin-
cipalmente os do pré-sal. Aqui gostaria de fazer algumas sugestões,
tomando os porta-aviões como exemplo. Neste caso, além dos seus
aviões, essas belonaves contam com outros tipos de navios de escolta
e sensores que os protegem de ataques inimigos. No caso dos subma-
rinos atômicos, que o Brasil pretende construir, sua única defesa são
seus sensores de bordo, de alcance limitado, que rastreiam o ambien-
te em volta. A sugestão que faço é no sentido de se construir minis-

202
submarinos telecomandados, como os utilizados pela Petrobras para
monitorar suas plataformas marítimas, ou utilizados em pesquisas
submarinas, para operarem em volta dos submarinos atômicos,
formando anéis concêntricos, cuja amplitude seria estabelecida em
função dos objetivos visados. Neste caso, a nave mãe comandaria
seus movimentos. Minissubmarinos desse tipo, de controle remoto,
poderiam também ser operados de cada plataforma, formando um
cinturão subaquático de proteção. Na superfície, em volta dessas
plataformas, robôs flutuantes, como aranhas aquáticas, dispostos
também em cinturões, reforçariam esse sistema de defesa. Além dis-
so, essa estrutura serviria também para delimitar zonas de exclusão
para o tráfego marítimo e de corredores de livre circulação. Todos
esses sensores poderiam ser monitorados tanto pelos submarinos,
como em terra pelas bases navais. Os investimentos para pesquisa
desses equipamentos, e sua manutenção, poderiam ser compartilha-
dos pelo Ministério da Defesa e por petrolíferas, principalmente a
Petrobras.
Além dessas pesquisas tecnológicas, que podem ser desenvolvidas
enquanto se prepara os submarinos atômicos, e se desenvolve os
campos petrolíferos do pré-sal, outras medidas preventivas para a
defesa do Tríplice Ecossistema Sul-Americano, formado pelo Amé-
rica do Sul, Antártida e oceanos adjacentes (Atlântico, Pacífico, An-
tártico), devem ser implementadas. Entre estas destacam-se, como
prioridades estratégicas absolutas, a construção da Ferrovia Trans-
continental Dom Bosco, assunto abordado em duas cartas que enviei
a V. Exa., nos dias 29 de agosto e 1º de outubro do corrente ano,
anexadas à presente (inseridas nesta obra – vide páginas 140 e 152),
e o levantamento de todas as reservas de petróleo e gás natural ocor-
rentes no continente sul-americano, inclusive o potencial a ser explo-
rado. Esta medida é necessária para garantir ao País um suprimento
confiável, na eventualidade de um conflito bélico global, pois as re-
servas marítimas, nesse caso, tornam-se extremamente vulneráveis
e alvos preferenciais para ataques de todos os tipos. Diante desse
quadro, é necessário também que se priorize, em tempo de paz, a ex-
ploração da plataforma continental, administrando com prudência
as reservas terrestres, para que estas não se esgotem prematuramen-
te. Esta medida os norte-americanos já adotam, por considerarem
estratégicas as reservas em seu território.

203
Agradecendo a atenção de V.Exa., subscrevo-me.

Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 03
Belo Horizonte, 23 de outubro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: Projeto Ecológico Sombra e Água Fresca.

Com cópias para Exmos. Srs. Ministros, Carlos Minc, do Meio Am-
biente; Reinhold Stephanes, da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to; Márcio Fortes, das Cidades; e Deputados (as) Federais.

Prezado Senhor Presidente,

A finalidade da presente é a de sugerir três medidas práticas para


combater o aquecimento global e recompor o meio ambiente em áre-
as cruciais da ecologia. Trata-se da arborização dos centros urbanos,
a recomposição das matas ciliares e a preservação das nascentes. Es-
tas três medidas, se adotadas em conjunto, no âmbito de um projeto
patrocinado pelo governo federal e monitorado pelos ministérios
diretamente envolvidos nesses assuntos, colocará o Brasil na van-
guarda da defesa do meio ambiente, tendo por base o envolvimento
de toda a sociedade para preservar esses bens essenciais à vida: os
recursos hídricos e a cobertura arbórea.
No que diz respeito à recomposição das matas ciliares e à proteção
das nascentes, algumas sugestões podem ser encontradas em um li-
vro de minha autoria, intitulado O Brasil das Profecias – 2003/2063
– Os Anos Decisivos, disponível na Biblioteca Digital do Governo
204
Federal (www.dominiopublico.gov.br). A essas sugestões, gostaria
de acrescentar outras, para que as políticas públicas, tratando desses
temas, funcionem à contento e elimine os atritos que estão ocorren-
do entre a União, os Estados, os Municípios, os ambientalistas e os
produtores rurais, exemplificado no caso do Estado de Santa Catari-
na, que adotou legislação própria para proteger sua estrutura social,
baseada no minifúndio.
A primeira delas é que sejam elaboradas leis que levem em conta as
peculiaridades de cada região do País, pois não precisa ser especia-
lista no assunto para concluir que não é possível aplicar as mesmas
regras para proteção das matas ciliares e das nascentes em regiões
com características distintas, como são as do Sul, Sudeste, Nordeste
e Centro-Oeste, e a Amazônia Legal. É preciso elaborar leis que le-
vem em conta a história da ocupação de cada uma dessas regiões e
o passivo ambiental deixado por gerações de brasileiros. Tudo isso
deve ser pensado na elaboração de políticas públicas, para que sejam
exequíveis e tragam reais benefícios para a sociedade. Além disso, é
preciso que se difunda, entre os órgãos públicos federais, estaduais
e municipais, o uso intensivo de imagens de satélites, as quais po-
dem fornecer, em diversas escalas, todas as informações necessárias
e suficientes para um bom monitoramento e gerenciamento de cada
segmento de uma bacia hidrográfica, principalmente os relacionados
às matas ciliares e às nascentes.
Quanto à arborização das cidades, principalmente daquelas situa-
das no polígono das secas, o que é preciso fazer são coisas práticas,
como exigir que cada prefeitura crie um parque florestal no períme-
tro urbano, como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por exem-
plo, ou arborize intensamente as ruas, praças e avenidas, para que
a população do município conheça espécies nobres, exóticas, ou em
processo de extinção, como o Pau-Brasil, a Araputanga, o Jequitibá-
Rosa, o Pau-d’alho, o Pau-Ferro, etc. Além disso, cada prefeitura
deve plantar, na frente de sua sede, um exemplar de Pau-Brasil, o
mesmo ocorrendo com as câmaras de vereadores, assembléias le-
gislativas, palácios dos governadores, escolas públicas ou privadas,
inclusive universidades, para que cada brasileiro ou brasileira saiba
identificar um Pau-Brasil. Eu, por exemplo, somente como adulto
conheci essa árvore, em uma visita ao Jardim Botânico do Rio de
Janeiro. Aqui uma pergunta: “V. Exa., Senhor Presidente, já teve o

205
prazer de conhecer um?” Em caso positivo, é um privilegiado, pois
raros são os brasileiros que podem gabar-se desse feito. Em caso
negativo, deve fazê-lo imediatamente, pois é inadmissível que um
presidente da República não saiba identificar a árvore símbolo do
País que governa!
Mas não é por falta de iniciativas, das mais variadas, que a arbori-
zação urbana ainda não foi utilizada em todo o seu potencial, como
mecanismo de educação ambiental e recomposição do meio ambien-
te. O que está faltando é um instrumento legal para nortear as ações
da União, dos Estados e dos Municipios, hoje dispersas num cipoal
de medidas desarticuladas, conforme mostra a “Enciclopédia Livre
Wikipédia”:
“O Dia Mundial da Árvore ou Dia Mundial da Floresta festeja-se
em 21 de Março. A comemoração oficial do Dia da Árvore teve
lugar pela primeira vez no estado norte-americano do Nebraska, em
1782. Nos EUA, é comemorado no dia 23 de Setembro, junto do
aniversário de Julius Sterling Morton, morador da Nebraska, que
incentivou a plantação de árvores naquele estado. No hemisfério sul,
o dia 22 de Setembro marca a chegada da primavera, estação onde a
natureza parece recuperar toda a vida que estava adormecida pelos
dias frios de inverno. O Brasil carrega fortes laços com a cultura in-
dígena que deu origem a este país, um deles é o amor e respeito pelas
árvores como representantes maiores da imensa riqueza natural que
o Brasil possui. Confirmando o carinho e respeito pela natureza, no
Brasil, há 30 anos, formalizou-se então o dia 21 de Setembro como
o Dia da Árvore – o dia que marca um novo ciclo para o meio am-
biente e o tempo para se reforçar os apelos para a conscientização de
todos em favor do meio ambiente. De acordo com o Decreto Federal
nº 55.795, de 24 de Fevereiro de 1965, foi instituída em todo o ter-
ritório nacional a Festa Anual das Árvores, em substituição ao cha-
mado Dia da Árvore, na época comemorado no dia 21 de Setembro.
Conforme previsto no Art. 3º, a Festa Anual das Árvores, em razão
das diferentes características fisiográfico-climáticas do Brasil, será
comemorada durante a última semana do mês de Março nos Estados
do Acre, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia; Territórios
Federais do Amapá, Roraima, Fernando de Noronha e Rondônia.
Na semana com início no dia 21 de setembro, nos Estados do Espí-

206
rito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Em algumas regiões do Brasil, por força do costume, muitas pessoas
não observam que não existe mais a comemoração do Dia da Árvo-
re. O correto é observar qual a semana adequada para a comemo-
ração da Festa Anual das Árvores, de acordo com a localização do
Estado: última semana do mês de março ou semana com início no
dia 21 de setembro”.

Na expectativa de que, ainda no governo de V. Exa., as diversas leis


que tratam da arborização dos centros urbanos, a recomposição das
matas ciliares e a preservação das nascentes sejam consolidadas num
único instrumento legal, de facil aplicação e aeitação pacifica pela
sociedade, subscrevo-me.

Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 04
Belo Horizonte, 27 de outubro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: A necessidade de um planejamento estratégico para com-


bater à violência urbana, principalmente na região metropolitana da
Cidade Maravilhosa.

Com cópias para Exmos. (as) Srs.(as) Deputados (as) Federais, e Jor-
nais Estado de Minas e Folha de São Paulo.

Prezado Senhor Presidente,

207
O seguinte noticiário da Folha Online (24/10/2009) e a tragédia
ocorrida com o coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva,
fruto da interação de marginais com policiais, evidencia a necessi-
dade de um planejamento estratégico de âmbito federal o para com-
bate à violência urbana, principalmente na região metropolitana da
Cidade Maravilhosa, palco desses acontecimentos e onde a situação
está fora de controle, pelo despreparo do aparelho policial e das au-
toridades locais no equacionamento e na resolução desse problema,
basicamente de origem social:
Pelo menos 42 pessoas morreram desde o sábado passado
(17) em decorrência dos confrontos entre traficantes de qua-
drilhas rivais e a polícia no Rio. Até este sábado, a Polícia
Militar contabilizava 41mortes, sendo que três pessoas eram
policiais militares e três moradores. Porém, no início da tar-
de, um morador atingido por uma bala perdida durante um
tiroteio ocorrido na sexta-feira (23) morreu no início da tarde
no hospital.

Os confrontos na zona norte do Rio começaram na madru-


gada de sábado passado. Em disputa pelos pontos de venda
de drogas, traficantes do morro São João --controlado pelo
Comando Vermelho-- e aliados invadiram o morro dos Ma-
cacos, controlado pela ADA (Amigos dos Amigos).
Desde então, as polícias Civil e Militar realizam operações
diárias nas favelas do Rio para procurar os traficantes respon-
sáveis pela articulação dos ataques criminosos.
Neste sábado, dez detentos apontados como líderes do trá-
fico do Rio foram transferidos para a penitenciária federal
de segurança máxima de Campo Grande (MS), onde deverão
permanecer isolados dos demais presos por 20 dias.
O pedido de transferência foi feito à Justiça pela Secretária
Estadual de Segurança Pública em resposta aos confrontos
entre traficantes e policiais militares.
Entre os detentos transferidos do Rio para o Mato Grosso do
Sul há oito integrantes do Comando Vermelho, um da facção
criminosa ADA (Amigos dos Amigos), e um do TCP (Terceiro
Comando Puro). Eles foram deslocados em um avião da Po-
lícia Federal.
208
Para o governador Sérgio Cabral (PMDB), a troca mostra que
o Estado não dará “trégua” para a criminalidade. “A crimi-
nalidade tem que saber que nós estamos atuando e que não
tem trégua do nosso lado. Não tem acordo, não tem trégua,
não tem mudança de rumo. O embarque desses presos, hoje,
para o presídio de segurança máxima é mais uma demonstra-
ção da nossa política”, disse.
Pela manhã, manifestantes do movimento Rio de Paz realiza-
ram um protesto contra a violência, na praia de Copacabana.
De acordo com o movimento, de janeiro de 2007 a setembro
de 2009 – período que compreende 1.000 dias – 20 mil pesso-
as morreram assassinadas no Estado.
O que se deduz dessa tragédia toda é que o governo federal e os con-
gressistas ainda não atinaram para a gravidade da situação, e muito
menos trabalham no sentido de formular um projeto para estudar as
causas dessa violência, o que está em jogo nesse processo, quais são
os atores e os fatos determinantes na sua dinâmica e, finalmente, o
porquê do fracasso das políticas públicas no seu combate, e como
equacioná-lo e resolvê-lo racionalmente, ao invés de adotar medidas
paliativas, repetitivas e inócuas ligadas a um suposto “narcotráfi-
co”. Narcotráfico existe no mundo todo, e nem por isso se usa táti-
cas de guerra de guerrilha para combatê-lo. Então, como explicar o
uso, nos morros cariocas, de carros e helicópteros blindados, tropa
de choque com armamento pesado, para combater meia dúzia de
pés de chinelos, formado por jovens e adolescentes semi-analfabetos,
vestindo shorts e sandálias havaianas, que mal sabem se juntar em
bandos, quanto mais formar brigadas organizadas para sustentar
essa tal de “guerra ao narcotráfico”. Um serviço de inteligência bem
organizado, facilmente, levantará a ficha de todos esses traficantes e
poderá prendê-los sem dar um tiro, bastando para isso serem com-
petentes e agirem segundo uma estratégia bem arquitetada.
O que se passa na cidade do Rio de Janeiro não uma “guerra ao
narcotráfico”, é um processo de intimidação coletiva, com ações pu-
nitivas, típicas do nazismo, para manter os favelados confinados,
calados e amedrontados nos seus guetos, e não saírem às ruas para
reivindicarem seus direitos de cidadãos, como moradia digna, escola
pública de qualidade, sistema de saúde decente e transporte urbano
eficiente. Tudo isso lhes é negado, inclusive o direito à privacida-
209
de, pois seus barracos são invadidos e depredados ao bel-prazer das
forças policiais, que agem à luz do dia ou na calada da noite sem
o acompanhamento da imprensa para registrar suas ações, como
deveria acontecer num regime democrático. A mídia, por sua vez,
como instrumento da elite, e acovardada, também se omite, pois não
se faz presente nem para conferir se os mortos nessas ações são de
fato “marginais”, ou cidadãos comuns. Quando muito se limitam
a noticiar, “que segundo a polícia, os mortos eram traficantes ou
marginais”. Aqui é preciso que se façam leis obrigando a publicação,
pela polícia, da foto desses “traficantes” ou “marginais”, do seu
prontuário, do Boletim de Ocorrência e do laudo do IML. Queiram
ou não, esses mortos são cidadãos, e como tal merecem respeito. O
que não pode continuar é ver esses corpos expostos à curiosidade
pública em carrinhos de supermercado, como verificado durante os
fatos noticiados pela Folha. É uma afronta que mostra até onde a so-
ciedade brasileira está anestesiada pela violência. A imprensa, para
cumprir seu papel, deve entrevistar os parentes desses mortos, reve-
lando sua identidade, informando como viviam e o porquê de suas
mortes. O histórico dessas pessoas mortas pode ajudar a sociedade
a compreender o que se passa entre nós, e não aceitar passivamente
tantas mortes que ocorrem a título de “combate ao narcotráfico”.
Para equacionar racionalmente o combate à violência urbana, prin-
cipalmente nos grandes centros, o primeiro passo é estabelecer um
planejamento estratégico de âmbito nacional, envolvendo os apa-
relhos policial, federal, estadual, municipal e particular; este ape-
lidado de “segurança privada”, mas que usam uniformes e agem
sem regras em todos os ambientes, portando armas leves e pesadas.
O número de indivíduos que compõem esse exército privado, bem
como a quantidade de armamentos que possuem ninguém sabe, pois
o controle é frouxo, como a imprensa tem noticiado. Sua existência
mostra o fracasso do Estado em garantir a segurança pública, e o co-
lapso do atual modelo policial. O principal alvo desse planejamento
estratégico deve ser o aparelho policial dos Estados, pois como bem
exemplifica o caso do coordenador do AfroReggae, tanto os oficiais
como os praças não estão em condições de exercerem suas funções
com dignidade, pois lhes falta o principal: uma filosofia de trabalho
que valorize o ser humano, estimulando-os a lutarem pela vida e não
se portarem como emissários da morte como parecem entender.

210
Para isso é necessário, em primeiro lugar, a criação de uma nova
polícia, formada dentro de princípios éticos e morais de valoriza-
ção da vida e respeito aos direitos dos cidadãos. O primeiro passo
nesse sentido será a fusão das polícias militares e civis, eliminan-
do os comandos baseados em uma hierarquia escalonada como nas
Forças Armadas. A nova polícia deverá apenas ter duas classes: a
dos oficiais e a dos praças. Oficiais e Praças serão promovidos por
mérito segundo sua atuação no respeito à vida e à cidadania, numa
classificação de pontos em seu currículo. Portanto, nada de patentes.
Estas devem ser usadas apenas pelas Forças Armadas, por necessida-
des operacionais, como acontece no mundo todo. O segundo passo
será a da obrigatoriedade de todas as polícias estaduais terem em
seus quadros operacionais formado de 50% de mulheres e 50% de
homens, tanto de oficiais como de praças. Esta medida visa humani-
zar essas polícias, pois a presença feminina impedirá a formação de
esquadrões da morte, já que são portadoras da vida e, consequente-
mente, sabem valorizá-las.
Outra medida fundamental será a eliminação das armas pesadas,
como fuzis e metralhadores, no policiamento e nas ações em áreas
urbanas, principalmente nas favelas. A desculpa de que tal pessoa foi
morta por “balas perdidas” deve acabar de uma vez por todas. Cada
pessoa morta nas ações policiais deve ser identificada e seus parentes
indenizados adequadamente, inclusive investigando como ocorreu
tal acontecimento, para evitar repetições e punir os responsáveis. A
vida é um bem precioso que precisa ser valorizado e não desprezado
como está ocorrendo entre nós. Aliás, já está passando da hora de se
fazer leis diferenciadas para os chamados crimes de sangue, evitando
que assassinos sejam soltos beneficiados por dispositivos legais de
caráter generalista.
Outras sugestões, para colocar ordem no caos que virou a segurança
pública em nosso País, a ponto de toda a sociedade se sentir insegu-
ra, tanto nas suas casas como nas vias públicas, podem ser encon-
tradas em dois livros de minha autoria, intitulados: Decifrando um
enigma chamado Brasil, disponível na Biblioteca Digital do Governo
Federal (www.dominiopublico.gov.br) e A mensagem codificada so-
bre o Brasil nas profecias de Dom Bosco, publicado pelo Clube de
Autores (www.clubedeautores.com.br).

211
Agradecendo a atenção de V. Exa., e desejando sucesso ao seu go-
verno, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 05
Belo Horizonte, 30 de outubro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: Criação do Ministério de Assuntos Fundiários e Terras da


União.

Com cópias para os Exmos. Srs. Ministros Reinhold Stephanes, da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Samuel Pinheiro Guimarães,
da Secretaria de Assuntos Estratégicos; Deputados (as) Federais e
Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo.

Prezado Senhor Presidente,

Neste alvorecer do terceiro milênio, dois assuntos têm ocupado a


agenda dos governantes, por serem estratégicos para o bem-estar
da sociedade e da paz social. Trata-se da produção de alimentos e
a posse da terra. Entre nós este assunto ainda não foi equacionado
em virtude de não ter sido realizada, no século passado, a reforma
agrária, que agora está fora de moda, por força do êxodo rural, da
revolução das técnicas agrícolas e dos hábitos alimentares da socie-
dade, que passaram a consumir mais alimentos, de forma variada,
em sua maioria industrializados. Hoje em dia, para produzir alimen-
tos e comercializá-los, não basta possuir um quinhão de terra, mas
pertencer a uma cadeia produtiva que leve em conta o preço final
dos produtos nas gôndolas dos supermercados.
212
Nesse contexto, só sobrevive quem pertence ao chamado Agrone-
gócio, que envolve grandes proprietários, ou cooperativas agrícolas
formadas por pequenos e médios produtores. Portanto, não basta
sair por aí confiscando terras a torto e a direito, simplesmente para
dá-las de mão beijada a uma meia dúzia de desocupados que se agru-
pam em bandos para promover vandalismo em terras alheias para
atingir seus objetivos. De posse dessas terras, esses vândalos não
formam associações produtivas, mas quadrilhas, pois vendem seus
lotes para prosseguirem nessa aventura criminosa, como informa o
INCRA, em seu portal na Internet (“Incra/RS retoma 23 lotes em
Viamão -21 de outubro de 2009”):

A Superintendência Regional do Incra no Rio Grande do Sul


iniciou, na manhã desta terça-feira (20), uma ação para reto-
mada de 23 lotes no assentamento Viamão (RS), no município
de mesmo nome. A medida, que deve ser concluída até o final
de semana, segue decisões da Justiça Federal favoráveis à rein-
tegração de posse das parcelas destinadas à reforma agrária. 
Os beneficiários perderam seus lotes por vários motivos: há
casos de arrendamento, compra e venda de lote, porte ilegal
de arma, cárcere privado de servidores, entre outros. O plan-
tio irregular de arroz - em desconformidade com as normas
dos Editais de Safra -, também foi considerado nos processos,
em adição aos outros fatores. Todos os casos têm origem em
apurações de irregularidades realizadas pelo Incra/RS desde
2004 que passaram por instâncias administrativas e judiciais,
com acompanhamento do Ministério Público Federal.
A reforma agrária, como estabelecida em lei, que criou o INCRA,
está ultrapassada, pois mistura conceitos distintos que precisam ser
tratados separadamente, ou seja, confiscar e distribuir terras, cadas-
trar imóveis rurais e administrar terras públicas, como informa o
Incra em seu portal na Internet: “O Instituto Nacional de Coloniza-
ção e Reforma Agrária (Incra) é uma autarquia federal criada pelo
Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970 com a missão prioritária de
realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis
rurais e administrar as terras públicas da União”.
Além disso, cuida também da regularização fundiária da Amazônia,
administrando o Terra Legal, que está apresentado sérios problemas
de gestão, como informa o Folha Online (28/10/2009):
213
Relatório elaborado pela rede de inteligência fundiária do go-
verno aponta que o programa federal Terra Legal detectou
tentativas de uso de laranjas, falta de estrutura e boicotes de
fazendeiros e prefeitos, informa reportagem de João Carlos
Magalhães para a Folha [...] O Terra Legal, cuja proposta
é regularizar cerca de 67,4 milhões de hectares da União na
Amazônia, foi criticado por ambientalistas por supostamente
permitir a legalização de terras públicas griladas. [...] De acor-
do com o procurador Antonio Delfino, que faz a fiscalização
do programa, o governo está subdimensionando as dificulda-
des da regularização fundiária na Amazônia. Para o coorde-
nador do Terra Legal, Carlos Guedes, os problemas citados
estão em sua maioria resolvidos. [...] O Terra Legal foi criado
a partir da medida provisória 458, apelidada de “MP da gri-
lagem”, e começou a ser implantado em 19 de junho. [...] Seu
objetivo é aumentar o conhecimento estatal sobre a ocupação
da região amazônica, dando títulos de posse a quem está so-
bre áreas da União. De acordo com o MDA (Ministério do
Desenvolvimento Agrário), ele é uma “estratégia de combate
ao desmatamento na Amazônia”.
A mistura de assuntos fundiários, envolvendo terras da União e de
particulares, cadastramento agrícola, atividades sociais, como assen-
tamento dos chamados “Sem- Terra”, e outras ligadas ao campo;
além da formulação de políticas públicas conflitantes, para cuidar
desses assuntos, por parte de dois ministérios, que se sobrepõem – o
do Desenvolvimento Agrário e o da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento –, e seus órgãos operacionais, como o INCRA e a EM-
BRAPA, está levando as atividades rurais a um beco sem saída, que
pode comprometer o desenvolvimento econômico e social do País,
num século que será marcado pela fome e disputas por recursos na-
turais.
A esse quadro apocalíptico, deve-se ajuntar a corrida pela posse de
terras produtivas no mundo todo, por parte de países com excesso
de capital e falta de alimentos, como a Arábia Saudita e a China,
os quais já assediam o Brasil com propostas nesse sentido. A esses
países devem-se acrescentar as grandes corporações multinacionais,
que já definiram a posse dessas terras como objetivo estratégico para
sua existência, o que vem fazendo, comprando grandes usinas de

214
açúcar e álcool e outras empresas brasileiras ligadas ao agronegócio,
e os especuladores de todos os matizes sempre à procura de ganhos
fáceis. O resultado é que o valor das terras produtivas no mundo
todo, especialmente em nosso País, que as possui em larga escala,
vão atingir patamares que inviabilizarão a existência de pequenos
e médios produtores rurais, base de sustentação de nossa produção
agroindustrial e da fartura de alimentos.
Para se ter uma ideia de como em nosso País a questão fundiária
ainda é confundida com a reforma agrária, misturando alhos com
bugalhos, basta atentar para a seguinte palestra do Presidente do
Ipea, Márcio Pochmannn, disponibilizada no portal do Incra na In-
ternet (22/10/2009):

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


(Ipea), Márcio Pochmann, defendeu a reforma agrária como
elemento central na configuração de um novo padrão eco-
nômico de soberania nacional. O economista participou do
seminário Incra 40 anos: Reforma Agrária, Direito e Justiça,
na sexta-feira (16), em Recife (PE). 
Ele afirmou que o programa de reforma agrária é um antí-
doto contra a desnacionalização da propriedade da terra no
Brasil que está ameaçada pela imposição econômica das gran-
des corporações multinacionais. Segundo o economista, essas
corporações governam a economia no mundo.
Pochmann explicou que o faturamento dos 500 maiores gru-
pos econômicos representa metade de tudo o que é produzido
no planeta, sob hegemonia do poder privado. “Nós estamos
em um contexto onde não há mais países que tem empresas,
mas empresas que tem países. As 50 maiores corporações do
mundo têm um faturamento que equivale ao PIB [Produto
Interno Bruto] de 120 países”, apontou.
Em relação ao capital estrangeiro atuando sobre o poder polí-
tico, o presidente do Ipea exemplificou: “é um contexto pare-
cido com aquela pequena cidade de cinco mil habitantes que,
de repente, vê lá instalada uma siderurgia, que contrata mais
de três mil pessoas e até viabiliza o orçamento da prefeitura.
Mas ao fim e ao cabo vamos questionar se quem manda na

215
cidade é mesmo o prefeito, democraticamente eleito, ou o pre-
sidente da siderurgia”.
Para Pochmann, a mudança na estrutura fundiária é funda-
mental para o projeto de soberania nacional, porque é uma
decisão sobre o poder econômico das corporações no País. Ele
denunciou um processo de internacionalização da proprieda-
de da terra no Brasil, que ganha corpo no cenário de crescente
escassez de terras férteis, água doce e minerais.
Além disso, Pochmann avaliou a reforma agrária como es-
tratégica para a defesa do meio ambiente. “A reforma agrá-
ria ganha outra dimensão, que é a defesa da sustentabilidade
do planeta. A produção definida exclusivamente pelo poder
econômico será cada vez mais insustentável. Portanto, a al-
teração fundiária ganha dimensões adicionais, não apenas o
princípio da justiça, econômico e da política, mas, sobretudo,
da estratégia de soberania de uma nação e da sustentabilidade
ambiental”, destacou.
Ainda segundo o palestrante, que também é professor de eco-
nomia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
a história do Brasil foi marcada pelas sociedades agrária e
urbanoindustrial até o fim do século passado sem que fosse
alterada sua estrutura agrária. Ele condenou o processo de
concentração de terras e afirmou ser preciso reocupar o cam-
po. “A reforma agrária está no contexto de um novo padrão
econômico que defendemos para o país. O campo sofreu uma
trajetória de esvaziamento que aumentou a pobreza e a exclu-
são nas cidades”, finalizou.
Ao contrário do que diz o autor desta palestra, a distribuição de
terras como instrumento de justiça social não tem mais o mesmo
peso específico que tinha no passado. Agora, numa sociedade cada
vez mais urbanizada, justiça social implica dar condições dignas de
sobrevivência para todo cidadão, esteja onde estiver. Assim, caso se
dê uma data de terra para um trabalhador rural, a título de reforma
agrária, seria justo que se dê também uma casa digna desse nome
para um trabalhador da cidade, a título de reforma urbana. Afinal
de contas, por que uns poucos podem receber um naco de terra para
morar no campo, e outros, em muito maior número, não podem

216
ganhar um pequeno lote para construir sua moradia na cidade? Que
justiça social é essa que premia invasores de propriedade rurais e
pune severamente quem se atreve a fazer o mesmo nas cidades? Ima-
gine como seria tratado um “Sem-Teto”, se invadisse o apartamento
que V. Exa. possui no Estado de São Paulo, alegando que está ocio-
so, já que Sua Exa. dispõe de vários palácios para morar na Capital
da República? Seria tratado com a mesma benevolência com que
foram tratados os invasores da fazenda da Cutrale?
Já está na hora de se separar o joio do trigo: justiça social é uma
coisa, questão fundiária, patrimonial, é outra. Assim, é preciso que
se crie o Ministério de Assuntos Fundiários e Terras da União para
cuidar da questão da posse da terra, seja ela pública ou privada, e
transferir para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to todas as demais atribuições do Ministério do Desenvolvimento
Agrário e do Incra, órgãos públicos que seriam extintos para evitar
duplicidade de atribuições. Quanto à “Reforma Agrária”, como po-
lítica social de distribuição de terra, deixaria de existir. Em seu lugar,
uma nova lei passaria a regulamentar o uso das terras públicas e
privadas. Essa nova lei visaria, a um só tempo, acabar com a escan-
dalosa concentração fundiária, hoje existente, e aumentar substan-
cialmente o número de pequenos e médios proprietários rurais. Para
isso, várias medidas seriam tomadas. A primeira delas seria proibir
pessoas físicas e jurídicas de possuírem mais de um imóvel rural por
Estado da federação, e o tamanho máximo de cada propriedade ru-
ral seria estabelecido em função das características regionais, apti-
dão do solo e preservação do meio ambiente.
Assim, para o Pantanal Mato-Grossense, o tamanho das proprieda-
des, quando voltada para a criação extensiva de gado, seria maior
do que se destinada a outras atividades, pois esse animal se integrou
muito bem a esse ecossistema. O mesmo procedimento poderia ser
adotado com a criação de búfalos na Ilha de Marajó. Cada região do
País teria seus parâmetros definidos por lei. A segunda medida seria
facilitar a compra das terras desmembradas das grandes proprieda-
des, ou postas à venda por força dessa lei, por parte dos pequenos e
médios arrendatários, por meio de estímulos fiscais e creditícios. As
terras públicas, por sua vez, somente poderiam ser alienadas por lei-
lões, sendo vedado as doações, para evitar que uns poucos ganhem
terras em detrimento de muitos, pois os direitos são iguais para to-

217
dos os brasileiros, segundo a Constituição Federal. Além disso, para
baixar os custos dos imóveis rurais, a aquisição de terras públicas ou
privadas somente seria permitida a brasileiros natos ou naturaliza-
dos residentes no País, ou empresas brasileiras sem vinculo associa-
tivo com multinacionais.
Finalmente é bom lembrar que a criação do Ministério de Assuntos
Fundiários e Terras da União facilitará o controle das terras públi-
cas, da União, Estados e Municípios, em todo o território nacional,
aí incluídas as da Amazônia legal, a faixa de fronteira, as terras da
Marinha no litoral atlântico, inclusive as ilhas oceânicas, hoje tudo
isso sem um órgão controlador especializado e apto a formular po-
líticas públicas para enfrentar os novos tempos e a nova realidade
do País num mundo cheio de conflitos e disputas territoriais. Um
exemplo desse estado de coisas foi a necessidade da criação do Terra
Legal, que está longe de atender a todas as demandas relacionadas
com a questão fundiária da Amazônia, a qual, por si só, já justifica-
ria a criação desse ministério.
Além disso, esse ministério cuidará também das questões fundiárias
relacionadas às comunidades indígenas e quilombolas, parques flo-
restais, áreas de proteção ambiental, principalmente na demarcação
de seus limites. Será, portanto, um órgão com amplos poderes, inclu-
sive para fiscalizar a atuação dos cartórios de registros de imóveis, a
fim de evitar fraudes e dirimir dúvidas sobre limites de propriedades
públicas ou privadas. Para tanto, o Ministério de Assuntos Fundiá-
rios e Terras da União contará com o apoio do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) para utilizar em larga escala imagens de
satélites, com as quais poderá agilizar seus procedimentos e garantir
maior confiabilidade às suas decisões de arbitragem.
Outras sugestões sobre os assuntos tratados nesta carta V. Exa. po-
derá encontrar em dois livros de minha autoria, disponíveis na Bi-
blioteca Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br),
intitulados Decifrando um enigma chamado Brasil e O Brasil das
Profecias – 2003/2063 – Os Anos Decisivos.
Agradecendo a atenção de V. Exa. e desejando sucesso ao seu gover-
no, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

218
CARTA 06
Belo Horizonte, 01 de novembro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Assunto: Hidro-helicópteros.

Prezado Senhor Presidente,

No mês de junho p.p., enviei ao Exmo. Sr. Ministro da Defesa, Nel-


son Jobim, a carta abaixo (inserida nesta obra – vide página 163),
com algumas sugestões para construção de helicópteros capazes de
pousar na água, motivado pela queda do avião da Air France no
Atlântico. Agora dirijo-me a V. Exa. para acrescentar mais algumas
sugestões, devido ao acidente ocorrido com um avião monomotor
da Força Aérea Brasileira, na manhã de quinta-feira, quando foi
obrigado a fazer um pouso forçado no rio Ituí, na selva amazônica.
A sugestão, é no sentido de se adaptar, em baixo da fuselagem dos
pequenos aviões que sobrevoam a selva amazônica, um colchão de
ar inflável, do tipo usado nos carros (air-bags), para facilitar a flutu-
ação em caso de acidentes, como aconteceu com esse avião da FAB.
Segundo a imprensa, as equipes de salvamento tiveram dificuldades
para resgatar os sobreviventes, dada a falta de áreas livres em terra
firme para pouso dos helicópteros de salvamento. Para prossegui-
mento desses trabalhos, segundo esse noticiário, foi preciso abrir
clareiras na selva, o que poderia ter sido evitado se esses helicópte-
ros, também, tivessem sido adaptados com esse tipo de colchão de
ar inflável. Além disso, seria de bom alvitre que o Governo Federal
patrocinasse a volta dos hidroaviões para operarem na região ama-
zônica, os quais, pelas suas características, podem enfrentar com
mais segurança algum imprevisto operacional. No passado, os Cata-
linas americanos prestaram excelentes serviços aos habitantes dessa
região, onde a água joga um importante papel no seu dia a dia.

219
Agradecendo a atenção de V. Exa. e desejando sucesso ao seu gover-
no, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 07
Belo Horizonte, 10 de novembro de 2009.

Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF

Com cópias para o Exmo. Sr. Vice-Presidente da República, José


Alencar; Governadores (as) dos Estados da União; Prefeitos das Ca-
pitais; Deputados (as) Federais; Deputados (as) Estaduais de Minas
Gerais; e jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo.
Assunto: Juntando as peças de um quebra-cabeça intrigante: Por que
falta dinheiro para a escola pública em nosso País e sobra para pro-
jetos culturais patrocinados pelas elites e obras faraônicas construí-
das pelos governantes? O que fazer a respeito?

Prezado Senhor Presidente,

Para partilhar com V. Exa. essa preocupação, e buscar respostas à


esses questionamentos, resolvi, como cidadão, comentar alguns ca-
sos, tendo por base o noticiário da imprensa. O primeiro deles diz
respeito à construção, pelo Governador de Minas Gerais, Aécio Ne-
ves, de um novo centro administrativo na periferia da Capital. Este
centro, apelidado de Cidade Administrativa, está sendo construído
com recursos de uma estatal mineira, a CODEMIG - cerca de um
bilhão e meio de reais -, cuja principal fonte de renda são os royalties
pagos pela CBMM, alguns milhões de dólares por ano, pela explora-
ção do nióbio de Araxá. Portanto, é pouco para bancar esses gastos

220
bilionários. Como a empresa não tem essa dinheirama toda, de al-
gum lugar ele sairá: de empréstimos ou alienação de seu patrimônio
ou, ainda, por meio de impostos arrecadados pelo Estado. O gover-
no mineiro alardeia que economizará cerca de 80 milhões de reais de
aluguel com o novo centro, mas, em contrapartida, quanto custará
a essa estatal esse empreendimento? Alega, ainda, que os recursos
dessa estatal não podem ser aplicados em educação, ou em outras
demandas sociais, por força de seus estatutos, razão por que está
bancando essa construção. Ora bolas! Quem redigiu esse estatuto
não foi o Estado? Então, por que não mudá-lo para cumprir funções
sociais, principalmente as voltadas para a educação?
Mas existem outras facetas relacionadas a esse empreendimento que
precisam ser comentadas, como a redução da jornada de trabalho,
de 8 para 6 horas diárias, dos funcionários que passarão a trabalhar
no novo centro administrativo, “para melhor adaptação”, como in-
forma o jornal Estado de Minas (4/11/2009, p.3), que acrescenta:
“Sindicalistas e representantes do funcionalismo fizeram ontem uma
série de reivindicações ao Executivo e reclamaram de não terem sido
ouvidos sobre a criação da nova sede”. Mas não só o funcionalismo
público está nessa situação. Toda a sociedade mineira também não
foi consultada a respeito; sequer foi convocado um referendo para
que a população decidisse sobre a conveniência ou não de se cons-
truir um novo centro administrativo, em substituição a cidade de
Belo Horizonte, projetada com essa finalidade, após intenso debate
naquela época. O que preocupa esses sindicalistas são assuntos im-
portantes para eles, como creches para os filhos dos funcionários;
quanto vão gastar com alimentação e transporte, enfim as consequ-
ências dessa mudança radical que deixará sequelas, pois não estão
preparados para isso.
No entanto, para tudo o governo do Estado tem solução, segundo
diz, pois haverá verba pública para todas as demandas, a começar
pela implantação de ônibus especiais, gratuitos ou subsidiados, para
transportá-los até a nova sede. Essa gastança ainda não foi calcula-
da, mas superará de muito os 80 milhões de reais que alega deixará
de pagar de aluguéis; isto sem contar que, quaisquer que sejam os
benefícios concedidos a alguns funcionários, mais cedo ou mais tar-
de, todo o funcionalismo público estadual pleiteará, na Justiça, com
sucesso, idênticas regalias, e então o orçamento do Estado irá para o

221
espaço. Aqui uma observação. Além dos prédios públicos que fica-
rão vazios, inclusive todos os da Praça da Liberdade e adjacências,
os quais serão transformados em museus e outras sinecuras elitistas,
genericamente batizadas de “espaços culturais”, não existem outros
bens públicos no chamado hipercentro, o coração de Belo Horizon-
te, para se construir edifícios próprios evitando pagar aluguéis? Foi
feito algum estudo a respeito? Em caso positivo, por que não foi
divulgado para conhecimento da sociedade que paga os impostos
para sustentar a máquina pública?
Na verdade nunca houve estudo algum, e muito menos justificativa
para a construção do novo centro, pois o Governador Aécio Neves
anunciou sua criação no início do seu primeiro mandato, em 2003.
Portanto, já assumiu de caso pensado, como jogada política, tentan-
do imitar JK, que partiu para a construção de Brasília tão logo foi
empossado. Até o local de construção do novo centro administrativo
era desconhecido quando anunciou sua construção, pois, no início,
o local cogitado foi o Aeroporto Carlos Prates, deixado de lado por
falta de consenso com outros interessados, e a oportuna oferta dos
donos do Hipódromo Serra Verde, local afinal escolhido. A impro-
visação e o afã de inaugurar essa obra, projetada por Oscar Nie-
meyer, antes do término de seu segundo mandato, como plataforma
de lançamento de sua candidatura à Presidência da República, está
expressa no convite que fez ao Presidente Lula, como informa o jor-
nalista Baptista Chagas de Almeida, em sua coluna no Jornal Estado
de Minas (6/11/2009, p. 2): “O governador Aécio Neves (PSDB)
ligou para o presidente Lula, para convidá-lo para a inauguração
do centro administrativo do estado, que está marcada para 15 de
janeiro. Lula disse que faz questão de comparecer, o que mostra as
boas relações entre os dois, apesar de estarem em campos opostos na
política partidária. O governador de São Paulo, José serra (PSDB),
apesar de também receber elogios do presidente, deve ficar roxo de
inveja”.
Essa pressa toda para inaugurar uma obra incompleta, de ousadia
arquitetônica sem par, pois a nova sede do governo mineiro terá o
maior vão livre do mundo, três vezes maior do que o do Museu de
Arte de São Paulo, o MASP, faz lembrar fato semelhante ocorrido
com o ex-Governador Israel Pinheiro, como registra a enciclopédia
livre Wikipédia: “Em fevereiro de 1971, 69 operários morreram e

222
mais de 50 ficaram feridos no desabamento do que seria o Pavilhão
de Expoições da Gameleira, tido como o maior acidente da cons-
trução civil brasileira. Israel Pinheiro era o governador de Minas
Gerais à época da tragédia. Centenas de operários trabalhavam em
ritmo acelerado para concluir a obra, projetada pelo arquiteto Oscar
Niemeyer. Israel tinha pressa, segundo testemunho de sobreviventes
e jornalistas, pois pretendia entregar a obra antes do término de seu
mandato, em 15 de março daquele ano”.
Mas não é só o Governador Aécio Neves que foi afetado pela febre
mudancista; os deputados estaduais, igualmente contaminados pelo
vírus JK-55, já querem pegar carona neste trem de alegria e se movem
nesse sentido, como informa o jornal Estado de Minas (5/11/2009,
p. 8): “Puxadinho na nova sede – Os deputados estaduais querem
acompanhar a mudança da sede do governo mineiro para a nova
Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, Região Norte da ca-
pital. Diariamente em audiências com os secretários de estado para
tratar de demandas de prefeitos do interior, eles pleiteiam a constru-
ção de uma estrutura própria para dar suporte às visitas e reuniões,
demanda que já foi levada ao Executivo. Nos corredores da Casa
há quem aposte que, em um ou dois anos, o Legislativo inteiro se
mudará para o complexo construído”.
Mas as despesas com a construção do novo centro administrativo,
custeada com dinheiro público, direta ou indiretamente, vão mais
longe, pois drenam recursos da União, Estados e Municípios, que
deveriam ser aplicados na reestruturação de todo o sistema educa-
cional brasileiro, da pré-escola à universidade, hoje em situação caó-
tica, como a imprensa vem denunciando à exaustão, isto sem contar
o falido sistema de saúde e a falta de creches para toda a população.
Essa drenagem se faz de várias formas, principalmente na dedução
do imposto de renda, para aplicação em atividades ditas culturais,
especialidade da elite para se apropriar de recursos públicos. Esses
recursos são captados junto às grandes empresas, como a Vale, que
pagou cerca de 3 milhões de reais, ao escritório do arquiteto Oscar
Niemeyer, pelo projeto do centro administrativo, uma gentileza ao
Governador Aécio Neves. Resta saber a troco de quê? E mais, se esse
dinheiro saiu dos cofres da empresa com autorização dos acionistas,
ou foi deduzido do imposto de renda, o que na prática significa que
todos os brasileiros pagaram esse mimo. O que se passa na Praça da

223
Liberdade é um exemplo acabado desse processo, que comentei em
um livro de minha autoria intitulado A Mensagem Codificada sobre
o Brasil nas Profecias de Dom Bosco, publicado pelo Clube de Au-
tores (www.clubedeautores.com.br), no capítulo O Melancólico Fim
do Projeto Urbanístico de Belo Horizonte, a seguir transcrito:
“Mas, melancólico mesmo, será o destino do Palácio da Liberdade
e demais prédios públicos construídos à sua volta, na chamada Pra-
ça da Liberdade. Segundo matéria publicada pelo jornal Estado de
Minas (12/7/2009, p. 28-29), o Palácio da Liberdade, inaugurado
em 1897, será transformado em museu aberto à visitação pública;
a Secretaria de Estado de Fazenda, em Memorial de Minas; a Se-
cretaria de Educação, em Museu das Minas e do Metal e, sem fu-
turo definido, a de Viação e Obras Públicas. Todas inauguradas em
1897. A Secretaria de Segurança Pública, inaugurada em 1930, será
a sede do Centro Cultural Banco do Brasil e a Secretaria de Cultura,
inaugurada em 1915, ainda não tem futuro definido. Os demais pré-
dios públicos desse centro de poder, também, estão condenados a se
transformarem em ‘espaços culturais’, compondo o que apelidaram
de ‘Circuito Cultural da Praça da Liberdade’. Toda a tradição políti-
ca republicana e positivista que esse conjunto encerra, e que ajudou
a forjar os destinos do País, será relegada a um segundo plano, por
obra e graças de um governador que desconhece seu significado e as
consequências de se mexer no centro de gravidade do eixo do poder,
assunto que será abordado no capítulo seguinte”.
Mas essa atividade vampiresca, de drenar recursos públicos para
atividades culturais, para beneficiar uma minoria de iluminados,
não é uma exclusividade mineira, como informa o Jornal Folha de
São Paulo (6/11/2009, p. E8): “Um grupo de arquitetos ingressa na
Justiça na próxima semana com uma ação popular que visa parali-
sar o maior projeto cultural do governo do Estado de São Paulo: a
construção de um centro cultural na Luz, na região central, a partir
de um projeto dos suíços Herzog & De Meuron. A dupla ganhou
projeção com obras inusitadas como o Ninho de Pássaro, o estádio
olímpico de Pequim. [...] O centro cultural, chamado inicialmente
de teatro de dança, está orçado em R$ 311,8 milhões, mas esse va-
lor pode subir, segundo a Secretaria de Cultura. Os suíços devem
receber entre R$ 20 e 26,5 milhões pelo projeto arquitetônico – eles
ganharam R$ 3 milhões pelo pré-projeto, revelado pela Folha em

224
junho último. Com uma área de 95 mil m2, o equivalente a quatro
vezes o Pavilhão da Bienal (25mil m2), o complexo terá teatro de
dança e ópera com 1.750 lugares, outro para peças e recitais com
600 lugares e uma sala experimental de 400 lugares. Abrigará ainda
a Escola de Música Tom Jobim. Ficará em frente à Sala São Paulo,
no lugar em que funcionava a antiga rodoviária. [...] Ele reclama que
o secretário da Cultura, João sayad, tomou uma ‘decisão imperial,
sem discutir com ninguém’ ao estabelecer que o teatro será na Luz.
‘Quem disse que a Luz é a melhor área para um centro cultural? Lá
já tem a Sala São Paulo, a Pinacoteca, a Estação Pinacoteca e o Mu-
seu da Língua Portuguesa. Eu acho que seria melhor fazer algo na
Mooca ou na zona leste’”.
Enquanto isso... o governo do Estado de São Paulo procura atalhos,
via terceirização, ou privatização do ensino público, um dos piores
do País, para fugir de suas responsabilidades constitucionais, como
informa a Folha (5/11/2009, p. C1): “O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), determinou que o Estado poderá terceirizar aulas
extracurriculares de línguas para alunos da rede estadual a partir do
ano que vem. Hoje, essas aulas opcionais são em centros de línguas
da própria Secretaria da Educação e atendem a 50 mil alunos – teo-
ricamente, os cerca de 3 milhões de estudantes entre a sexta série do
ensino fundamental e o terceiro ano do médio, público do progra-
ma, poderiam usufruir do benefício. [...] Professores questionam a
qualidade das escolas que serão contratadas e afirmam que o texto
da norma abre a possibilidade de o Estado terceirizar também as
aulas obrigatórias de línguas – inglês e, a partir de 2010, também o
espanhol”.

A esse respeito é bom lembrar que os políticos pertencentes ao par-


tido do governador de São Paulo são especialistas em privatizações,
como bem exemplifica a gestão do ex-Presidente Fernando Henrique
Cardoso que quase liquidou com a Petrobras e o Banco do Brasil,
só não o fazendo por que a sociedade reagiu em tempo, embora,
no primeiro caso, ainda restem assuntos pendentes que só com a
regulamentação do pré-sal será possível corrigir. Agora, mais do que
nunca, é bom estar atento a essas manobras, ainda mais partindo
do núcleo paulista, onde intelectuais ainda pensam como na década
de 30 do século passado, com viés escravocrata, pois não admitem

225
encarar de frente a questão da educação pública como um direito de
cidadania, uma questão de Estado, e não assunto secundário a ser
tratado por entidades particulares. Para eles, esse tipo de educação
é coisa de pobre, portanto, relegada a segundo plano. Cultura, no
entanto, é coisa para bem-nascidos, e por isso deve receber toda a
atenção. Para esses intelectuais, com ranço escravocrata, e gover-
nantes da mesma laia, a aplicação maciça de dinheiro público em es-
colas modernas e funcionais, como os CIEPS construídos por Leonel
Brizola e Darcy Ribeiro, nem pensar. Mal conservam as existentes,
em sua maioria adaptadas ou reformadas. Em contrapartida, não
faltam recursos para construir moderníssimos “Centros Culturais”,
ou prédios governamentais de ultima geração, como a nova sede da
Assembléia do Distrito Federal, obra de deixar qualquer um de boca
aberta e queixo caído.
Mas não é só esse tipo de descaso que conta, como informa o jornal
Folha de São Paulo (6/11/2009, p. C1) sobre a situação da educa-
ção na capital mais rica do País, do Estado igualmente rico, a qual
sintetiza o que se passa em nível nacional: “Kassab corta vagas no
ensino infantil; há 28 mil na espera. [...] Desde 2007, a gestão Gil-
berto Kassb (DEM) exige que as entidades transfiram suas vagas da
pré-escola (4 a 6 anos) para as creches (0 a 3 anos), onde o déficit e
a pressão por novas vagas são maiores. A mudança de atendimento
ocorre na renovação do acordo, a cada dois anos. Com isso, hoje
há 17 mil matrículas a menos do que dois anos atrás na pré-escola
(queda de 5%), segundo dados do próprio governo. E existem 28,5
mil crianças na fila de espera. Faltam vagas em 92 dos 96 distritos
da cidade”.
Nesse quadro de carências múltiplas, os gastos milionários com ati-
vidades culturais, em detrimento da educação básica, via dedução
do imposto de renda, só faz aumentar, como informa o jornal Folha
de São Paulo (6/11/209, p.E8): “Ao ruidoso debate sobre a reforma
da Lei Rouanet, base da produção cultural brasileira, seguiu-se o
silêncio. Enviado à Casa Civil há três meses, com a promessa de
que, em agosto, seguiria para o Congresso, o projeto de lei (PL) que
altera o mecanismo de renúncia fiscal segue de mesa em mesa. Fon-
tes ligadas ao governo afirmaram à Folha que a demora se deve, em
parte, ao pé atrás da área econômica, ainda não plenamente conven-
cida da necessidade de se aumentar a fatia da cultura no orçamento

226
federal. [...] O que chamou a atenção da Fazenda foi o fato de que,
sob as asas do MinC, dono de um orçamento de R$ 600 milhões,
ficarão também os recursos do Vale-Cultura e do Fundo Nacional
de Cultura (FNC), que deve ser turbinado em 2010. Há, além disso,
o dinheiro da renúncia fiscal, que ultrapassa a casa do R$ 1 bilhão.
O Vale-Cultura, que foi aprovado pela Câmara e já tem relatores no
Senado, nasceu com a estimativa – para lá de otimista, diga-se – de
que pode movimentar R$ 7 bilhões por ano”.
A tudo isso, deve ajuntar-se os recursos oriundos da exploração do
pré-sal, pois espertamente a elite incluiu, além da cultura, seu feu-
do particular, também o meio ambiente, como beneficiárias dessa
verba, em pé de igualdade com a educação. Portanto, a educação
que se cuide, pois a elite vai abocanhar a maior parcela desses recur-
sos para aplicá-los em ONGs ecológicas e em espetaculares projetos
culturais, para deleite de uma minoria, pois o povão, dada a sua
miserabilidade, não tem condições de frequentá-los, e muito menos
apreciar sua arte, analfabetos que são, pois não tiveram escolas para
se educarem. Nesse contexto, falar em distribuir R$50,00 para a
compra de livros, como forma de inserção cultural desses brasileiros
e brasileiras, é uma afronta não só ao bom senso como também à
moral e à ética. Não adianta buscar atalhos ou dar saltos de galinha
para, de uma hora para outra, transformar brasileiros semianalfabe-
tos em leitores assíduos de livros encalhados, que a elite produz com
incentivos fiscais. É preciso seriedade para mudar esse quadro. Pri-
meiro se educa para depois usufruir dos conhecimentos adquiridos.
Não é assim que a elite faz com seus pimpolhos? Tentar transfor-
mar o Brasil analfabeto em um País de Primeiro Mundo, de cultura
avançada, faz lembrar as observações depreciativas de Lévi-Strauss,
recentemente falecido, sobre os brasileiros, feitas no século passado,
como informa Fernando de Barros e Silva, em sua coluna no jornal
Folha de São Paulo (4/11/2009, p. A2): “Um espírito malicioso defi-
niu a América como uma terra que passou da barbárie à decrepitude
sem conhecer a civilização”.
Para preencher esse vazio cultural e recuperar o tempo perdido, o
caminho indicado é investir maciçamente na educação, evitando
maquiar o problema com iniciativas demagógicas de cunho cultu-
ral. Neste caso, é preciso pôr um freio nos patrocínios das empresas
estatais que estão abusando do direito que têm de investir em publi-

227
cidades ligadas às suas atividades, transformando o que seria uma
questão de marketing empresarial numa atividade política vergo-
nhosa de desperdício de dinheiro público, ao dar suporte a todo tipo
de demanda dos políticos para promoção pessoal, como a imprensa
tem denunciado. Isto vale também para todos os órgãos públicos
da União, Estados e Municípios. Essa drenagem já atingiu tal ponto
que, para tentar controlar a situação, alguns ministérios ensaiam
algumas medidas emergenciais, como informa o jornal Estado de
Minas (6/11/2009, p. 3):
“O Ministério do Turismo baixou portaria com novas regras para
promoção de festas no interior do país patrocinadas com recursos
de emendas parlamentares, como limitação de valor para cachês de
artistas. A intenção é evitar fraudes na aplicação desses recursos,
como as que foram denunciadas há cerca de três meses por uma
série de reportagens exclusivas do Estado de Minas, que motivou a
criação de uma força-tarefa com a participação da Controladoria-
Geral da União (CGU) e da Procuradoria-Geral da República para
auditar todos os convênios alvos de denúncias de fraudes em Minas
Gerais. As investigações, segundo a CGU, ainda estão em curso. Os
inquéritos abertos pelo Ministério Público também não foram con-
cluídos. No orçamento deste ano estão previstos cerca de R$ 430
milhões para patrocínios de festas e eventos em todo o país. [...]
Entre as mudanças estabelecidas pela Portaria 153 do Ministério
do Turismo, estão o estabelecimento de um teto de R$ 80 mil para
o pagamento de cachês para artistas, bandas ou grupo e de R$ 300
mil para patrocínio de festas promovidas com emendas parlamen-
tares individuais. No entanto, o mesmo evento pode ter o apoio de
mais de um parlamentar, desde que não ultrapasse o teto de R$ 1,2
milhão. Acima desse valor as festas só poderão ser patrocinadas com
emendas de bancada. Novas mudanças deverão ser divulgadas ainda
este mês, segundo o Ministério do Turismo”.
As poucos, como estamos vendo, um levantamento baseado em
notícias de jornais, dos últimos dias, permite montar um quebra-
cabeça, cujo painel revela a falta de austeridade dos políticos e dos
governantes na aplicação de recursos públicos. No caso, acima ci-
tado, cabe uma pergunta: “Por que os parlamentares, ao invés de
patrocinar festas e eventos diversos, não direcionam esses recursos
para construir novas escolas, ou reformar as que precisam de repa-

228
ros, procurando saber o que as comunidades onde têm suas bases
mais precisam para elevar o nível educacional de seus concidadãos?
As festas são passageiras e o dinheiro nelas gastos evaporam-se sem
deixar rastros, ao contrário dos investimentos feitos na educação,
que são duradouros, servindo inclusive de testemunho em favor de
políticos que souberam bem aplicar as verbas que abocanharam do
orçamento da União para promoção pessoal; prática que nada tem
de democrática, mas tem tudo a ver com hábitos dos coronéis do
passado.
Uma dica para mudar esse comportamento, talvez, esteja contida na
seguinte nota do jornalista Baptista Chagas de Almeida, em sua co-
luna no jornal Estado de Minas (7/11/2009, p. 2): “O DEM, o PSDB
e o PPS vão abrir a página Acorda Brasil na internet, para recolher
sugestões para a elaboração do programa de governo do candidato
que for apoiado pela coligação à Presidência da República. Apesar
do sugestivo nome, os organizadores garantem que a intenção não
é criar um fórum de ataques ao governo Lula. Até porque serão
debatidos temas específicos. O material recolhido será organizado e
entregue ao candidato, seja ele Aécio Neves ou José Serra”. Diante
dessa disposição toda, para receber sugestões, aqui vai a uma delas:
por que os deputados e senadores desses partidos não tomam a ini-
ciativa de aprovar uma lei acabando com emendas parlamentares
destinadas ao patrocínio de festas e eventos culturais, limitando-as
e direcionando-as à construção ou reforma de escolas públicas nas
suas áreas de atuação?
Os parlamentares cariocas, por exemplo, têm bons motivos para
isso, como informa o jornal Folha de São Paulo (4/11/2009, p. C4):
“Projeto do Maracanã para a Copa prevê a destruição de escola-
modelo. A reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014
inclui a demolição de uma escola modelo, quarta colocada no Ideb
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Rio, com 6,3
pontos. [...] Fundada em 1965, o colégio oferece até o 5º ano do
ensino fundamental, tem 400 alunos e foi um dos primeiros no Rio
a adotar o “smart board” (quadro negro computadorizado). Conta
ainda com sala de leitura e de informática, quadra de esportes re-
cém-construída e parquinho com grama sintética. Todas as salas de
aula têm ar-condicionado. [....] A Secretaria Municipal de Educação
confirma que o prédio e as instalações serão destruídas, mas informa

229
que os alunos serão transferidos provisoriamente para a Escola Ma-
drid, em Vila Isabel, com estrutura separada [...] O Prefeito Eduardo
Paes afirmou que será construída uma nova escola, com instalações
melhores e o mesmo nível de ensino”. Então, por que não construir
a nova escola, antes de demolir a antiga?. Afinal de contas, se para
a Copa do Mundo de 2014 tudo está sendo feito a toque de caixa,
por que não proceder da mesma forma com essa escola, para não
prejudicar seus alunos?
As dificuldades enfrentadas pelos prefeitos do Rio de Janeiro e de
São Paulo, para administrar o caos no ensino, por falta de verba, ou
má administração dos recursos disponíveis, é um problema comum
a todos os outros prefeitos do País, como a imprensa tem noticiado.
Esta situação também afeta os governadores dos Estados e o próprio
governo federal. Tudo isso poderia mudar da água para o vinho,
como se diz, se fosse feita uma redistribuição de responsabilidades,
no âmbito de uma reestruturação de alto a baixo do ensino público
do País, ou seja, da universidade à pré-escola. O primeiro passo nes-
se sentido seria transferir para o Ministério de Ciência e Tecnologia,
tudo o que se relacionar com as universidades públicas e privadas, fi-
cando o Ministério da Educação com o encargo de gerenciar apenas
o ensino básico (Pré-Escola, Ensino Fundamental e Médio), o qual
passaria a ser de responsabilidade exclusiva dos Estados.
Os municípios, a partir daí, ficariam responsáveis pelas creches co-
munitárias e o Sistema Único de Saúde (SUS). Outra questão que
gostaria de comentar é que, para equacionar os problemas que afe-
tam o sistema escolar brasileiro, é preciso decompô-lo em partes
para analisar cada uma delas separadamente e, depois, juntá-las no-
vamente como na montagem de um quebra-cabeça. Para começar
é preciso abordar a questão dos prédios escolares, até hoje cons-
truídos sem um projeto arquitetônico adequado, exceto a experi-
ência pioneira de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro com os CIEPS do
Rio de Janeiro, projetados e construídos para atender a um projeto
pedagógico bem definido: a Escola Pública de Tempo Integral. A
este respeito escrevi uma carta ao ex-Ministro Mangabeira Unger, a
seguir transcrita -(trata-se da correspondência datada de 3 de setem-
bro de 2008, reproduzida na cidadã número 1)-, a qual considero a
última peça deste quebra-cabeça que tentei montar para responder
à pergunta inicial: “Por que falta dinheiro para a escola pública em

230
nosso País e sobra para projetos culturais patrocinados pelas elites
e para obras faraônicas construídas pelos governantes? O que fazer
a respeito?”
Finalmente é bom frisar que o Congresso Nacional tem sido mais
ágil do que o governo federal no sentido de propor medidas práti-
cas para mudar os rumos da escola pública em nosso País, dentre
as quais se destaca a Proposta de Emenda Constitucional, (PEC)
96A/2003, que exclui a educação dos efeitos da Desvinculação dos
Recursos da União (DRU), como informa o jornal Estado de Minas
(4/11/2009, p. 8): “As verbas federais para a educação, atualmente
em torno de R$ 40 bilhões por ano, acabam de ganhar um reforço.
[...] A desvinculação será gradual. Para este ano, a DRU da educação
será reduzida de 20% para 12,5%. Cairá mais ainda, para 5%, no
ano que vem, e estará eliminada no Orçamento de 2011, quando o
Ministério da Educação vai passar a contar com acréscimo R$ 9 bi-
lhões por ano em relação às dotações atuais. Resultará na expansão
de 25% do valor das atuais aplicações federais na área. [...] A reti-
rada da educação das limitações orçamentárias da DRU – com tudo
o que isso significa para a gestão das contas do país – representa um
avanço na priorização da educação. Mas a sociedade não pode dei-
xar de cobrar, como resposta, a contínua e consistente redução dessa
constrangedora inferioridade”.
Agradecendo a atenção de V.Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 08
Belo Horizonte, 14 de novembro de 2009.

Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF

231
Assunto: Por que os holandeses, e os asiáticos, são mais capazes que
os brasileiros no domínio das águas?
Com cópias para Exmos. (as) Srs. (as) Deputados Federais, e jornais
Estado de Minas e Folha de São Paulo.

Prezado Senhor Presidente,

Dizem que Deus criou a Terra, mas os holandeses fizeram a Ho-


landa. Este dito popular retrata uma realidade que serve de lição
aos brasileiros que até agora não foram capazes de domar as águas
que, sazonalmente, assolam a capital paulista e a Baixada Fluminen-
se; esta sob a influência das marés que agrava esse problema, fato
observado esta semana com as chuvas torrenciais que se abateram
sobre Belford Roxo, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, provocando
uma tragédia entre a população de baixa renda.
Se os holandeses aprenderam, a duras penas, controlar o mar que os
ameaça desde sempre, obrigando-os a viver em permanente estado
de alerta para não serem engolidos pelo oceano que os cerca, por
que os paulistas e os fluminenses não se mexem para controlar as
cheias que, ano após ano, causam destruição e danos à população?
Na capital paulista, onde o problema é mais grave pela extensão
dos prejuízos, a engenharia para solucioná-lo é mais simples, pois
se resume em domar dois rios de porte médio, o Tietê e o Pinheiros,
coisa que qualquer empresa de engenharia asiática soluciona com
as mãos nas costas, pela experiência que têm em resolver proble-
mas mais sérios. No caso da Baixada Fluminense, onde os prejuízos
não são menores, o problema é mais complexo, pois os trabalhos
de drenagem devem levar em conta o regime das marés da Baía da
Guanabara. Neste caso o melhor caminho é pedir socorro às firmas
de engenharia da Holanda, para quem resolver esse problema é café
pequeno, as quais, inclusive, podem solucionar, de vez, a questão do
saneamento dessa baía, dando-lhe um novo perfil e recuperando-a
para múltiplas finalidades.
Problemão mesmo é para os brasileiros que, até agora, não desco-
briram como resolver estes desafios. Seria falta de inteligência? Seria
falta de conhecimentos técnicos? Seria falta de recursos financeiros?
Seria falta de vergonha na cara? Ou é tudo isso, mais a proverbial
incompetência dos políticos e governantes brasileiros de abordarem

232
com objetividade os problemas que afetam a população pobre. Não
seria o caso de confiar a administração do Brasil a um Mauricio
de Nassau redivivo, importado da Holanda, pois o que ele fez em
Recife V. Exa. deve saber muito bem. Outros exemplos desse povo
dinâmico e empreendedor não faltam, como os imigrantes que se
estabeleceram em Holambra, no Estado de São Paulo, onde dão aula
de como plantar flores, comercializá-las e ganhar dinheiro. Já está
na hora de tentar caminhos novos para o Brasil. Toda grande firma
não contrata gerentes capazes para tocar seus negócios, não impor-
tando sua origem? Não seria o caso de fazer o mesmo com o nosso
País, que está carente de administradores competentes?
Desejando sucesso ao governo de V. Exa., e que reflita a respeito,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

CARTA 09
Belo Horizonte, 18 de novembro de 2009.

Exmos. (as) Srs. (as)


Deputados Federais
Câmara dos Deputados
Brasília – DF

Assunto: A necessidade de o Congresso Nacional controlar a aplica-


ção, por parte dos entes federados – União, Estados e Municípios -,
da cota-parte a que têm direito nos royalties pagos pelas empresas
petrolíferas, pela exploração das reservas de petróleo e gás natural
da União, ocorrentes em terra e no mar.

Com cópias para o Exmo. Sr. Presidente da República, Luiz Inácio


Lula da Silva, e Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo.

Prezados (as) Senhores (as) Deputados (as) Federais,

233
No momento em que V. Exas. discutem um novo marco regulató-
rio para a exploração de petróleo e gás natural no País, inclusive
a participação da União, Estados e Municípios nos royalties pagos
pelas empresas petrolíferas, gostaria, como cidadão, de dar algumas
sugestões a respeito.A primeira delas é sobre o assunto em epígrafe,
pois, sem esse controle, o que poderá ocorrer é que essa dinheirama
toda, caída do céu, venha a ser dissipada em aplicações aleatórias
sem nenhuma relação com as demandas mais urgentes da sociedade,
as quais vêm sendo postergadas por falta de recursos financeiros, ou
no custeio da máquina pública, inchada na expectativa do recebi-
mento desses royalties.
Um exemplo bem significativo é o que se passa com a capital do
Estado do Rio de Janeiro, e sua Região Metropolitana, que está mer-
gulhada no caos social, urbano e ambiental, por falta de recursos
financeiros, e um planejamento bem estruturado que contemple me-
tas a curto, médio e longo prazos para mudar o quadro observado.
Neste contexto é que se insere a aplicação da cota-parte desse Esta-
do, nos royalties petrolíferos, em projetos prioritários previamente
aprovados pelo Congresso Nacional, pois se trata de uma regalia,
um privilégio concedido pela União em caráter excepcional, e não
um imposto arrecadado pelo Estado e aplicado de forma tradicio-
nal.
Uma série de projetos integrados, para mudar radicalmente a situa-
ção caótica da Cidade Maravilhosa, da Baía da Guanabara e de seu
entorno, e da Baixada Fluminense, deve ser proposto pelo Estado do
Rio de Janeiro, e aprovado pelo Congresso Nacional, no âmbito de
um planejamento estratégico a curto, médio e longo prazos. Até que
isto aconteça, os royalties recebidos pelo Estado devem ser aplicados
em títulos do Tesouro Nacional, para serem liberados à medida que
os seguintes projetos sejam implantados:
a) Despoluição da Baía da Guanabara e redefinição de seu perfil
socioeconômico e ambiental, inclusive a recuperação e preservação
dos manguezais;

b) Reordenamento do espaço urbano do entorno da Baía - de Nite-


rói à cidade do Rio de Janeiro;

234
c) Drenagem da Baixada Fluminense e, consequentemente, o sanea-
mento básico de toda a região;

d) Transferência dos favelados de seus barracos nas encostas dos


morros cariocas, para conjuntos habitacionais no sopé desses mor-
ros, e o reflorestamento das áreas liberadas com a remoção dos bar-
racos.
Esse planejamento deve ser confiado a uma empresa especializada
que vencer uma concorrência internacional, pois a engenharia brasi-
leira não está à altura desse desafio, pois, se o tivesse, já teria apre-
sentado projetos nesse sentido. Neste caso o que se vê são projetos
pontuais, como os programados para a Copa do Mundo de 2014 e
para as Olimpíadas de 2016, ou ainda projetos de maquiagem, para
inglês ver, como os levados a cabo em algumas favelas cariocas, os
quais servem também para as inglesas verem, como ocorreu recente-
mente com a pop star Madonna.
Hoje em dia, com os recursos da Informática e do Geoprocessamen-
to, que envolve a utilização de imagens de satélites e outros recursos
de sensoriamento remoto, como o Sistema de Posicionamento Glo-
bal (GPS) e a Cartografia Digital, é possível executar um planeja-
mento desse porte em tempo relativamente curto, abrangendo todos
os aspectos envolvidos no processo, mesmo os de pequena monta,
como a localização de cada barraco de uma determinada favela e o
número de seus habitantes, permitindo programar a transferência de
toda uma população favelada para conjuntos habitacionais projeta-
dos para recebê-los, sem nenhum transtorno ou improvisação.
Idêntico procedimento pode ser adotado no reordenamento do es-
paço urbano do entorno da Baía da Guanabara, com vistas a evitar
um adensamento populacional em áreas impróprias, na preservação
do meio ambiente, na definição de áreas para atividades industriais
e comerciais, na implantação da infraestrutura de transporte para
atender a novas demandas, etc. Além disso, pode-se também, com
essas ferramentas, planejar a despoluição da Baía da Guanabara, a
definição de áreas próprias para atividades marítimas, como portos,
estaleiros, colônias de pescadores, áreas de lazer e de preservação
ambiental, principalmente dos manguezais, hoje ameaçados de ex-
tinção pelas atividades humanas.

235
São muitos os aspectos a serem abordados num planejamento de
uma área gigantesca: a Baía da Guanabara e seu entorno; a Cidade
Maravilhosa e sua região metropolitana; e a Baixada Fluminense.
Neste espaço privilegiado pela natureza, sem par em todo o litoral
atlântico, de polo a polo, onde se concentra uma atividade econômi-
ca dinâmica, geradora de riqueza para todo o País, não cabe a me-
diocridade no trato de seus problemas. É preciso arrojo, inteligência,
tecnologia e recursos financeiros que só a riqueza do petróleo e do
gás natural pode aportar.
Por último é bom destacar que, com os recursos da informática e da
Internet, hoje disponíveis, todos esses projetos podem ser acompa-
nhados pela sociedade brasileira, no seu conjunto ou em detalhes, em
todas as etapas de execução, inclusive fazendo críticas e sugestões.
Assim, os moradores de uma determinada favela podem saber de
antemão onde irão morar, o tamanho do espaço que irão habitar, e
o que será feito no local de seus antigos barracos. Da mesma forma,
os cariocas e fluminenses saberão como será aplicado a cota-parte
que o Estado tem direito na exploração do petróleo e gás natural da
Plataforma Continental.
Agradecendo a atenção de V.Exas., e desejando que usem o man-
dato que conquistaram democraticamente nas urnas, para dar ao
Brasil uma oportunidade de aplicar com propriedade os recursos
advindos da exploração de nossas reservas de petróleo e gás natural,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto

236
REFERÊNCIAS

A BÍBLIA DE JERUSALEM. São Paulo: Paulinas, 1981.


BUENO, Eduardo. Viagem do descobrimento – A verdadeira histó-
ria da expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002.
LIMA, Severina Alves de (Coord.). Caminhos novos na educação.
São Paulo: FTD, 1995.
MATOS, Henrique Cristiano José. Um estudo histórico sobre o ca-
tolicismo militante em Minas, entre 1922 e 1936. Belo Horizonte:
O Lutador, 1990.
MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à história da Igreja.
5. ed. Belo Horizonte: O Lutador, 1997. v. 1 e 2.
PANINI, Joaquim. Caminhos Novos na Educação. São Paulo: FTD,
1995.
READ, Piers Paul. Os Templários. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995. p. 433.
TUFANO, Douglas. A carta de Pero Vaz de Caminha – Comentá-
rios e notas de. São Paulo: Moderna, 1999.

237
O Autor
João Gilberto Parenti Couto nasceu em Pedrão, município de
Maria da Fé-MG, em 1o de maio de 1937. Geólogo pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), turma de 1971, executou traba-
lhos de mapeamento geológico básico nos Estados de Mato Grosso
e Minas Gerais para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(CPRM) e de prospecção mineral, no Estado de Minas Gerais, para
a empresa Metais de Minas Gerais S/A (METAMIG) e sua sucesso-
ra, a Companhia Mineradora de Minas Gerais (COMIG). Viajou
pela África do Sul e Zâmbia a fim de estabelecer critérios litoestra-
tigráficos e metalogenéticos de comparação Brasil-África. Cursou o
Centre d’Enseignement Supérieur en Exploration e Valorisation de
Ressources Minerales (CESEV), em Nancy-França. Exerceu o cargo
de Diretor de Geologia e Recursos Minerais na Secretaria de Esta-
do de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos de Minas Gerais
(SEME). Atuou como representante da SEME na Comissão Técnica
Intergovernamental encarregada de elaborar a proposta de zonea-
mento ecológico-econômico e o sistema de gestão colegiado da Área
de Proteção Ambiental Sul – Região Metropolitana de Belo Horizon-
te (APA-SUL-RMBH).
Apresentou trabalhos em congressos e simpósios de geologia,
possui artigos publicados em revistas especializadas e tese defendida
no exterior. Fora do campo da geologia, publicou pela Mazza Edi-
ções, de Belo Horizonte-MG, os livros: Projeto Brasil (duas edições-
1996/2000); Os 7 Pecados da Capital (2003); A Revolução que Var-
gas não Fez (2004); Brasil país do presente – o futuro chegou (2004);
Operação Senzala (2004); Acorda Brasil (2004); Decifrando um
enigma chamado Brasil (duas edições-2005/6); A Ferrovia de Dom
Bosco – A viga mestra da comunidade sul-americana de nações (duas
edições-2006/7), O Brasil das Profecias – 2003/2063 – Os Anos Deci-
sivos (2008) e A Realização das Profecias de Dom Bosco - 2003/2063
- Os Anos Decisivos (2009). Obras disponíveis na Internet (www.do-
miniopublico.gov.br): Decifrando um enigma chamado Brasil (2006)
e O Brasil das Profecias – 2003/2063 – Os Anos Decisivos (2008).

238
<a rel=”license” href=”http://creativecommons.org/licen-
ses/by-nc-nd/2.5/br/”><img alt=”Creative Commons Li-
cense” style=”border-width:0” src=”http://i.creativecom-
mons.org/l/by-nc-nd/2.5/br/88x31.png” /></a><br /><span
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org/dc/dcmitype/Text” property=”dc:title” rel=”dc:type”>A
Mensagem Codificada sobre o Brasil nas Profecias de Dom
Bosco e outros temas brasileiros e sul-americanos</span> is
licensed under a <a rel=”license” href=”http://creativecom-
mons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/”>Creative Commons
Atribui&#231;&#227;o-Uso N&#227;o-Comercial-Vedada a
Cria&#231;&#227;o de Obras Derivadas 2.5 Brasil License</
a>.
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