Quarta-f., Dezembro 27
Greve Geral e Greves COMO SE PROCESSA A PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO?
Parciais nos Correios Quanto à privatização da educação, ela tem ocorrido neste país, como em todos os países da área do
chamado 1º Mundo e muito para além deste, como uma das facetas fundamentais da globalização
capitalista.
Segunda-f., Dezembro 25, Os estados-maiores que comandam a política mundial não se enganaram ao proclamar que o ensino
Mineiros de Aljustrel deveria ser considerado como um serviço e sujeito às «leis do mercado» (ver acordo do GATS, Acordo
lutam por dignidade Geral sobre Tarifas e Serviços, da OMC). Eles estavam a franquear as portas para oportunidades de
negócios, por um lado, mas por outro, é questão estratégica saber-se quem ensina, a quem, como, em
que condições.
Terça-feira, Dezembro 19, O «desenvolvimento económico» é sempre tributário de uma determinada visão política da economia,
Trabalhadores do Metro que tenta passar sob silêncio a sua opção de classe, através da imposição do saber «conveniente», do
(100% em greve) «pensamento único», da ideologia do «consenso social». Estas seriam razões suficientes para
recusam destruição do repudiarmos essa política. Porém, além disto, o mercantilismo traz como consequência a acentuação
acordo de empresa das desigualdades no acesso à educação.
A educação de qualidade está hoje cada vez mais reservada a uma fina camada das classes médias-
altas e altas, num mundo onde os postos de trabalho interessantes, bem remunerados e com prestígio
Segunda-f., Dezembro 18,
Pilotos ameaçam fazer
social, escasseiam. Infelizmente, esta tendência de elitismo vai acentuar-se brutalmente nos próximos
greve de zelo anos, as políticas seguidas pelos governos apontam para aí, por mais que a propaganda serôdia dos
seus defensores o tente esconder.
Para a grande massa, está reservada uma pseudo educação, na realidade, a aculturação ao capitalismo
de hoje; uma pseudo formação, na realidade, um processo de aceitação da precariedade.
Domingo, Dezembro 17,
Privatização do parque
escolar: Seis escolas
passam a empresa
pública
VIDA DA
ASSOCIAÇÃO
No dia 29 de Novembro
de 2006, foram
publicados os Estatutos
da AC-Interpro no
Boletim do Trabalho e
Emprego nº44, sendo A VERDADE SOBRE BOLONHA
assim completado o
processo de legalização Desde há uns anos, o «processo de Bolonha» tem sido apresentado por governantes e políticos como
do nosso sindicato. um marco decisivo para o «progresso» do ensino superior europeu. Mas não dizem que foi inteiramente
concebido dentro dos parâmetros de uma satisfação plena da competitividade capitalista.
No dia 8 de Dezembro, O raciocínio dos que lançam tal processo de reforma do ensino superior na Europa é o seguinte: «os
realizou-se a primeira europeus devem copiar os anglo-saxónicos, se quiserem ser a primeira potência mundial no saber, na
Assembleia do Núcleo de investigação científica e logo em tudo o resto, pois são estes os motores que dinamizam a economia».
Base de Educação da AC- Segundo os apologistas de Bolonha, os sucessos dos anglo-saxónicos devem-se a uma determinada
Interpro, cuja organização do ensino, nomeadamente do superior, com uma estrutura de cursos que conduz à
canalização dos melhores alunos para uns poucos lugares altamente qualificados, onde irão usufruir
convocatória foi estendida
das melhores condições para a investigação.
aos membros do Colectivo Estas instituições são universidades privadas, muitas vezes, tendo o ensino sido baseado, desde há
Português da FESAL-E. longos anos, no investimento privado directo com parcerias universidade/indústria, fundações, bolsas
Entre as principais de estudo e de investigação fornecidas por grandes grupos, financiamentos privados preferenciais em
resoluções da referida certas áreas de investigação, etc.
Assembleia, contam-se a Em face do processo de Bolonha, qual vai ser o estatuto de Portugal, pais atrasado, com uma enorme
prioridade à organização falta de abertura ao exterior, sem desenvolvimento próprio, sem linhas próprias de investigação (as que
do Núcleo de base da existem são meros apêndices e encomendas feitas por grandes unidades de investigação doutros
educação, a manutenção países)? - Pois, vai continuar a ser o que é. Vai continuar a ser periférico, embora geograficamente
das relações fraternas com europeu.
Porém, vai haver mudanças, com a introdução da licenciatura em 3 anos e mestrado em 2 anos. Vai
a FESAL-E e a proposta
haver um acréscimo sensível nas propinas, sobretudo no curso de mestrado.
de realização no Porto, a Vão acentuar-se as dificuldades num grupo maioritário de estudantes, muitos dos quais ficarão com a
10 de Fevereiro de 2007 formação incompleta, incapazes de estudar a tempo pleno por razões económicas. Eles terão de
(sábado), da AGS trabalhar para subsistir e pagar os estudos simultaneamente, por não terem bolsa e por os seus pais
ordinária. Nesta, além do não poderem ajudá-los: ficarão com uma licenciatura de apenas três anos, que antes se chamava
relatório e contas de 2006 bacharelato. Não poderão ter a pretensão de alcançar postos de trabalho mais ou menos prestigiados.
e do plano e orçamento Serão condenados à precariedade para a vida inteira.
para 2007, vai Os poucos que acederão aos mestrados pagarão propinas muito elevadas para conseguir um diploma
desencadear-se o processo de mestrado que lhes dará (por quanto tempo ainda?) alguma hipótese de obter um posto de trabalho
decente nesta economia. Uma elite muito restrita irá fazer o doutoramento, sendo frequentemente
para as eleições, com a
atraída para outras paragens.
proposta de regulamento Vai perpetuar-se o padrão do brilhante cientista que vai para fora adquirir renome e dá o melhor de si
eleitoral e de calendário próprio em pesquisas com interesse, sobretudo, para o país de acolhimento. Continuará a fuga dos
eleitoral. cérebros.
As promessas de Bolonha enganam, sobretudo, devido à ausência de discurso crítico. As pessoas
sabem que este país não lhes oferece condições, sobretudo se forem jovens. Então, vendem-lhes
«Bolonha» como uma espécie de salvação, jogando com as suas esperanças. Custa, às vezes, as
pessoas despertarem para a realidade, mas isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, pois «Bolonha»
é mesmo uma miragem.
Vão os portugueses ter maior dificuldade em competir no mercado de trabalho globalizado? Sem dúvida
que sim! A ideia de que os estudantes podem ir para qualquer país, pois haverá um sistema integrado
de reconhecimento automático de graus académicos é realmente uma falácia: Primeiro, não haverá um
sistema de bolsas generalizado, que permita fazer face aos custos acrescidos no estrangeiro. Depois,
apenas por ingenuidade se pode pensar que um português será bem acolhido e fará brilhantes
(cont. p. 4)
Agradecimento
(cont. da p. 3) mestrados ou doutoramentos no estrangeiro, mormente quando isso tira emprego aos
Pelo apoio recebido ao nacionais desse país! Além disso, quantos estudantes portugueses dominam outras línguas de forma a
longo deste ano que poderem frequentar o ensino no mais elevado grau, nesses países? Só alguns raros indivíduos
acabou, desejamos bilingues.
Será bem mais fácil, pelo contrário, aos técnicos e investigadores doutros países da UE virem para
agradecer a todas as Portugal ocupar postos em empresas ou departamentos de investigação, onde se valoriza mais a
organizações sindicais e competência adquirida do que a língua e onde todos falam inglês, a língua universal dos negócios e da
outras entidades, assim ciência.
como a todos/as restantes A mudança do modelo é importante. De um modelo onde a Educação é da responsabilidade dos poderes
Companheiros/as, a sua públicos, e o seu acesso – a qualquer nível - é um direito de cidadania, portanto não dependente de
factores como a capacidade de auto financiamento do estudante, passa-se a um modelo (de acordo com
colaboração fraterna e os princípios do GATS) em que a educação é um serviço, como outro qualquer, seguindo a «lei da oferta
solidária: e da procura».
- C.G.T. de Espanha Neste contexto, o Estado deixa de ser o garante do acesso. Pelo contrário, deve apagar-se e apenas ter
- C.N.T. de Espanha um papel supletivo. O Estado poderá ser fornecedor de educação para aqueles segmentos da população
- S.A.C. da Suécia
que, de outro modo, seriam incapazes de lhe aceder, mas não se poderá colocar como «concorrente» de
negócios privados, não poderá «falsear» o jogo do mercado. É a lógica do liberalismo aplicada ao
- CNT-F de França ensino e à cultura.
- E.S.E. da Grécia Além do aspecto da justiça no acesso ao ensino, existe outro aspecto - muitas vezes esquecido - da
- UNICOBAS de Itália importância decisiva que as grandes corporações passarão a ter na definição da estrutura dos cursos,
- FdCA de Itália dos «perfis» dos formandos, sobre quais devem ser as áreas prioritárias na investigação, etc. Note-se
que este acentuar da influência directa já começou a fazer-se sentir: as universidades são fortemente
- FESAL-E ( Fed. Eur. Sind.
pressionadas pelo governo a obterem parte significativa do seu financiamento através de parcerias com
Alternativo - Educação) empresas. Isto traz como consequência que estudos sobre questões sensíveis, incómodos, por serem
- A-Infos / www.ainfos.ca fonte potencial de crítica, tais como estudos sociais, políticos, ambientais ou simplesmente
- Anarkismo.net considerados com «fraco interesse» para o tal perfil de tecnocratas que se pretende formar, serão
- pt.indymedia.org marginalizados, sub financiados e - por fim - retirados dos currículos.
Temos de denunciar. Mas não basta denunciar, é necessário mostrar que outro tipo de educação e de
(Indymedia Português)
organização nos estudos superiores se pode contrapor a este modelo.
- Jornal «A Batalha» / Sabemos que o saber é poder. É evidente que os poderes, económico e estatal, sempre querem
Centro de Estudos monopolizar o saber para melhor controlar os diversos aspectos da sociedade, incluindo a própria
Libertários (Lisboa) gestão do estado e das empresas.
- Biblioteca-Museu da Tudo o que seja no sentido de uma abertura, de arrancar o monopólio ao pensamento único, tudo o que
seja pensamento crítico, toda a crítica ao modelo capitalista imperante, é visto (com razão) como
República e Resistência
perigoso para a gestão de classe desta sociedade.
(C.M.L) Os modelos concorrentes, o livre pensamento, a livre crítica, sempre foram apanágio dos melhores
- Biblioteca dos Operários centros universitários, produtores de novos saberes e ideias, de novas correntes e estéticas.
(BOESG) (Lisboa) Esta diversidade vai decrescer exponencialmente com este modelo, onde as regras são ditadas
- Centro de Cultura directamente pela grande indústria, pelos grandes grupos económicos. A médio prazo, irá haver
empobrecimento, perda de competitividade das universidades europeias face às dos EUA. Lembremos
Libertária (Almada)
que a este país têm afluído os melhores cientistas do Terceiro Mundo, aliciados pelas boas condições
- Musas Atlético Clube de investigação, os bons ordenados e um ambiente aberto, não xenófobo; os meios académicos nos
(Porto) EUA, formam um microcosmo diverso da restante sociedade.
- e todos os indivíduos e Assim, a Europa arrisca-se a empobrecer, desprezando a sua diversidade cultural, sob a batuta dos
grupos anti-autoritários e tecnocratas das grandes multinacionais, dos burocratas e políticos da UE.
Pior que tudo, os jovens serão os grandes sacrificados, ser-lhes-ão negados o acesso ao estudo e à
anti-capitalistas, que formação técnico-científica, voltando a prevalecer um nítido critério de selecção económica, depois de
partilham as nossas alguns decénios de relativa «democratização».
aspirações e as nossas
lutas.