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A Prosperidade em Cristo

Por: Douglas Naegele

O século XIX, nos Estados Unidos da América, foi um período muito curioso
para o campo reformado do cristianismo. Digo isso, não no intuito de traçar
uma crítica sobre valores cristãos, ou algo que o valha, mas apenas atentando
para o detalhe de que foi o período da história do cristianismo em que surgiu
uma gama de novas interpretações do Evangelho, comparável apenas aos quatro
primeiros séculos de nossa Era, quando as inúmeras comunidades cristãs
gnósticas, espalhadas pelo império romano, fazia cada uma sua própria
interpretação das “boas novas” e tinha o seu próprio texto sagrado, rivalizando
com àquelas que se tornariam as detentoras da vertente oficial do cristianismo,
após o Concílio de Nicéia (325 d.C.).

Adventistas do Sétimo Dia, Testemunhas de Jeová, Os Santos dos Últimos Dias


(mórmons), são algumas das denominações que apareceram no século XIX e
que se encontram em plena atividade nos dias de hoje. Algumas dessas, como a
Igreja Adventista, por exemplo, se reordenaram, se readaptaram e se
reconduziram para dentro dos padrões da cristandade tradicional. Outras, como
as Testemunhas de Jeová, sequer conseguem ver as denominações tradicionais
como cristãs e se julgam a “verdadeira igreja de Cristo”. Já os “mórmons”
modificaram tanto seu credo que, se comparado com as igrejas reformadas em
geral, suscita-nos o pensamento de se tratar de uma religião a parte que não a
cristã. Entretanto, na segunda metade do século XIX, um fenômeno, até então
inédito no cristianismo reformado, espalhou-se pela costa leste dos Estados
Unidos. Conhecido como “Movimento de Santidade” (Holiness Movement), a
nova vertente cristã reformada baseava sua teologia na aplicação das propostas
de John Wesley, teólogo inglês, pai da Igreja Metodista, que afirmava ser o
sacerdócio leigo a “honesta aplicação da ordenança do IDE” (Os 25 Artigos da
Doutrina Metodista, John Wesley, 1789). Para Wesley a organização das igrejas
em “bands”, aqui no Brasil usa-se o termo “células”, era a única forma de fazer
que o crente prosseguisse no estudo bíblico, experimentasse uma comunhão
com Cristo e recebesse o que ele chamou de “Coração Aquecido”, como prova de
arrependimento e perdão de Deus pelos pecados praticados pelo convertido.

A vida em separado (santificação), a busca incessante pelos dons espirituais


advindos da experiência pessoal com Cristo, que Wesley teria experimentado
em 1738, levou os fiéis do “Movimento de Santificação” a abandonarem
definitivamente as igrejas reformadas tradicionais, inclusive com a Igreja
Metodista de John Wesley. Não demorou muito tempo para que esses grupos
rompessem a tênue coesão que mantinham entre si, já que alguns desses se
julgavam mais “santos” do que os outros. Mas, na segunda metade do século
XIX, os autodenominados “santos” estavam estabelecidos desde a Flórida até o
Wisconsin.

Podemos considerar que a Guerra da Secessão (1861/65) talvez tenha tido certa
dose de responsabilidade neste fenômeno, já que significou uma ruptura com os
padrões sociais e religiosos estabelecidos desde os tempos das treze colônias.
Como toda guerra civil, a estadunidense, desestruturou famílias e princípios
morais. Irmãos, primos e demais graus de parentela viram-se envolvidos em
uma ou outra causa, muitas das vezes em lados opostos. Para o cidadão
estadunidense típico do final do século XIX, poderia parecer que o “final dos
tempos” era chegado. As igrejas cristãs reformadas tradicionais, ou seja,
batistas, metodistas, presbiterianas e congregacionais (episcopais), dependendo
do lugar onde estavam estabelecidas, optaram por ou outro lado da contenda.
Não raro, seus líderes usavam suas pregações, repletas de citações bíblicas, para
incentivar a adesão de seus fiéis a esta ou aquela causa. Esse engajamento, por
parte das lideranças religiosas locais, levou inúmeros crentes à decepção com
rumo que as denominações tradicionais tomavam. Logo, como observamos
anteriormente, uma leva de novos pregadores (evangelists), impregnados de
fanatismo e de “revelações divinas” surgiram para aplacar a sede de justiça e de
consolação que afligia uma parcela significativa da cristandade estadunidense.
Em sua imensa maioria, tais pregadores, eram oriundos ou lideravam “Grupos
de Santidade”, e apesar de fazerem muito estardalhaço, não conseguiam
traduzir suas pregações em números significativos de convertidos. Quando
muito chegavam a uma centena de fiéis fanatizados.

O Avivamento da Rua Azusa

Entretanto, com a chegada do século XX, o “Movimento de Santidade” tomou


um rumo totalmente inesperado. Em 1901, na cidade de Tompeka, capital do
Estado do Kansas, reunia-se um “Grupo de Santidade” no Colégio Bíblico Betel,
liderado pelo Rev. Charles Parham. Durantes suas sessões de estudos bíblicos,
alguns integrantes deste “Grupo” entenderam que “falar em línguas estranhas”
era o sinal bíblico do “Batismo do Espírito Santo”. Em pouco tempo, durante as
sessões de orações, as manifestações das “línguas estranhas” (glossolalias)
passaram a ocorrer com os membros do “Grupo” do Colégio Betel. Todavia, tais
atividades ocorriam sempre em reuniões fechadas, sem a participação de outros
que não os próprios membros do “Grupo”.

No ano de 1902, chega ao Colégio Betel, o pregador William Joseph Seymour, de


origem batista, mas que pastoreava um “Grupo de Santidade” de negros em
Tompeka. Por ser negro, Seymour foi impedido de participar das orações com os
membros brancos do “Grupo de Santidade” do Colégio Betel, agora
denominado de “Grupo Shiloh”. Enquanto seus companheiros eram “batizados
no Espírito”, Seymour não recebia a mesma “unção”. Perseverante, passou a
orar insistentemente, cinco, seis até sete horas por dia, sem que recebesse a
mesma graça que seus colegas.

Em 1906, Willian Seymour é levado para a cidade de Los Angeles, por uma
mulher que fora curada durante uma das sessões de orações do “Grupo Shiloh”,
onde coordena a formação de um novo “Grupo de Santidade”, que se
estabeleceria na Rua Azusa, 312 – endereço de uma antiga Igreja Metodista
Episcopal que havia sofrido um incêndio anos antes. As notícias do que
acontecia na Rua Azusa, se espalharam primeiro por toda a cidade de Los
Angeles, depois pelo Estado da Califórnia, e por fim, para todos os Estados
Unidos. O novo “Grupo de Santidade” liderado por Seymour passou a ser
denominado por “Missão de Fé Apostólica”. Nascia assim o chamado
“pentecostalismo”, ou o “Movimento Pentecostal”, que em apenas dois anos se
espalhou por mais de cinqüenta países. O grupo “Missão de Fé Apostólica” terá
uma influência fundamental no surgimento do fenômeno “pentecostal” no
Brasil.

O Pentecostalismo no Brasil

Originalmente, “pentecostes” é um termo usado desde a confecção das


primeiras versões da septuaginta (o Antigo Testamento traduzido para o grego)
para designar a festa em que os judeus celebravam a colheita de tudo que
plantavam. Um décimo da safra era apresentado aos sacerdotes para ser
oferecido em “sacrifício” a Deus (Cf. Lv. 23, 15-21 e Dt. 16, 9-15). A festa ocorria
no primeiro dia após à sétima semana em que se iniciara a colheita, ou seja,
cinqüenta dias depois de iniciada, por isso, a expressão grega “pentekosté”
(qüinquagésimo dia), na Bíblia Vulgata, uma tradução em latim do século V de
nossa Era, a festa é chamada de “pentecostes”, termo utilizado em todas as
traduções até hoje.

Já o vocábulo “pentecostalismo”, ou “pentecostal”, nos remete ao Novo


Testamento, mais precisamente ao livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 2,
quando passado algum tempo, possivelmente alguns anos, após a morte de
Jesus e seus discípulos encontravam-se reunidos, e é muito provável que
estivessem em oração, e inesperadamente o lugar em que estavam foi sacudido
por um som muito forte, e sobre suas cabeças (o autor não esclarece quantos
estavam presentes) surgem chamas e, então, todos se encheram do Espírito
Santo. Nesse processo, chamado de “Batismo do Espírito Santo”, os seguidores
de Jesus foram tomados por um transe que os levou a falar em “línguas
estranhas”, mas, a melhor tradução seria “línguas estrangeiras”, pois, segundo
o relato, todos aqueles que ficaram “cheios do Espírito” passaram a falar línguas
que não as suas originais, ou seja, aquelas que falavam em sua terra natal, mas
eram entendidos por outros que passavam diante de onde estavam os discípulos
reunidos, fossem estes de que regiões fossem, ouviam os discípulos em suas
línguas originais (Cf. Atos 2, 7-11). Podemos afirmar que, por se tratar de uma
festa religiosa e nacional, a multidão, que se concentrou diante do lugar onde os
seguidores de Jesus estavam, era composta por judeus nascidos nos diversos
cantos do império romano em que havia colônias judias. Apesar disso, o
milagre consistia no fato de que todos que falavam nas diversas línguas eram
galileus e eram entendidos por qualquer um de outra nacionalidade.

É claro que o livro de Atos, bem como as Cartas Paulinas, irá tratar de outros
dons que consistiam também características do “Batismo do Espírito Santo”,
tais como o dom da profecia, o dom da cura e principalmente do amor (ágape)
incondicional pelo próximo (Cf. Primeira Epístola aos Coríntios, capítulos 12,
13 e 14).

O chamado “pentecostalismo” chegou ao Brasil em 1910, com a vinda do


missionário Louis Francescon, que atuou em colônias italianas no Sul e Sudeste
do Brasil (realizando em 1910, o primeiro batismo de orientação pentecostal em
solo brasileiro com a conversão de 11 fiéis), originando a Congregação Crista no
Brasil, em Santo Antônio da Platina, no Estado do Paraná. Em 1911, Daniel
Berg e Gunar Virgen, iniciaram suas missões no Pará e no Nordeste, dando
origem à Assembléia de Deus. Francescon, Berg e Vingren tiveram matriz
pentecostal comum, ao receberem as novas doutrinas na seção do ministério
“Missão de Fé Apostólica” conduzida pelo Pastor William H. Durham, ex-pastor
batista, em Chicago, Illinois, seguidor de William Joseph Seymour.

O “Movimento Pentecostal Brasileiro” pode ser dividido em três ondas. A


primeira, chamada de pentecostalismo clássico, teve início, como vimos, em
1910 e segue até 1950. Sua implantação no país é decorrente da fundação das
denominações Assembléia de Deus e Congregação Cristã do Brasil que fazem
sua disseminação por todo território nacional. A primeira nasce dentro da Igreja
Batista de Belém, causando um racha dentro da tradicional denominação
protestante, enquanto que a segunda, apesar de surgir fora das demais
denominações evangélicas já estabelecidas no Brasil, causa o mesmo estrago,
pois se municia de crentes oriundos dessas denominações tradicionais.
Contudo, ambas as denominações caracterizaram-se pelo anti-catolicismo, pela
ênfase na crença no “Batismo no Espírito Santo” e por um ascetismo que
rejeitava os valores mundanos e defendia a plenitude da vida moral e espiritual.

Uma curiosidade ocorre em 1932, quando é organizada a Igreja de Cristo no


Brasil, na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, que seria a primeira
denominação pentecostal organizada por brasileiros. A Igreja de Cristo divergiu
das demais igrejas pentecostais da primeira onda ao seguir o dogma da “eterna
segurança” mais conhecida como “perseverança dos santos”, que em outras
palavras quer dizer que quem se desvia da doutrina é que nunca esteve
convertido de fato. Esta também defende que o cristão recebe o “batismo do
Espírito Santo” no momento da conversão e não como segunda bênção seguida
de dons de línguas.

A segunda onda, ou tardia, como preferem alguns autores, começou a surgir na


década de 1950, quando chega à cidade de São Paulo o missionário
estadunidense Harold Edwin Williams da International Church of The
Fourquare Gospel. Na capital paulista, ele criou a Cruzada Nacional de
Evangelização e, centrado na cura divina, iniciou a evangelização das massas,
inovadoramente pelo rádio, contribuindo bastante para a expansão do
pentecostalismo no Brasil. Em seguida, funda a Igreja do Evangelho
Quadrangular do Brasil. No rastro desta denominação, surgiram a Igreja
Pentecostal Unida do Brasil, a igreja “O Brasil para Cristo”, a Igreja
Pentecostal Deus é Amor, a Casa da Benção, e a Igreja de Nova Vida. A Igreja
de Nova Vida e seu fundador, Robert McAlister, será responsável pela terceira
onda do pentecostalismo brasileiro e, em conseqüência disso, pela disseminação
da Teologia da Prosperidade, como veremos mais adiante.

Paralelamente ao Movimento Pentecostal Brasileiro, as denominações


reformadas tradicionais experimentaram movimentos internos, chamados de
“reavivamentos”, com manifestações pentecostais. Tais “reavivamentos” foram
influenciados por um programa de rádio, no início da década de 1960, chamado
“Vida Renovada” que era transmitido a partir de Belo Horizonte, Minas Gerais,
para todo o país. Por isso, foram denominados de “Renovados”. Assim surgem
denominações como a Igreja Presbiteriana Renovada, Igreja Metodista
Wesleyana, a Convenção Batista Nacional (que reunirá a dissidência da
Convenção Batista Brasileira) e a Igreja Adventista da Promessa, todas, apesar
de se manterem fiéis aos seus preceitos denominacionais, somaram a estes as
doutrinas pentecostais.

A terceira onda, chamada de “neopentecostalismo”, teve início na segunda


metade dos anos 1970. Fundadas por brasileiros, oriundos da Igreja de Nova
Vida, as novas igrejas, assim como a igreja de McAlister, vão utilizar o rádio
como meio de evangelizar o povo, mas, indo mais além que o mestre,
descobrirão a televisão como meio eficaz de disseminar as “boas novas”. Dessas
novas denominações, as mais antigas são a Igreja Universal do Reino de
Deus (Rio de Janeiro, 1977), liderada pelos evangelistas Edir Macedo, que
depois se auto-proclamaria bispo, e Romildo Ribeiro Soares, que pouco mais
adiante, rompe com Macedo e funda a Igreja Internacional da Graça de Deus
(Rio de Janeiro, 1980), passando a se autodenominar missionário R. R. Soares.
Outro ministério surgido das entranhas da Igreja de Nova Vida, liderada pelo,
inicialmente, missionário, e hoje “Apóstolo”, Miguel Ângelo, é a Igreja Cristo
Vive.

Como dissemos antes, seguindo os passos de Robert McAlister, que dominou


muito bem a evangelização através das ondas do rádio, as novas denominações,
chefiadas por Macedo e Soares, desenvolvem no Brasil, e com maestria, diga-se
de passagem, a evangelização através da televisão. Ambas se tornaram potências
nas telecomunicações, inicialmente com seus tele-evangelistas, que divulgavam
a “Palavra de Deus” em horários noturnos, durante a madrugada, e também em
alguns programas matutinos. Mas, com o avanço do tempo e com o crescimento
dessas igrejas, a importância das transmissões televisivas aumentou dia a dia,
tanto é que a igreja de Macedo adquiriu a Rede Record de Televisão, a qual se
encontrava à beira da falência. Enquanto que a denominação de Soares adquire
a transmissora de televisão via-satélite, Tecsat, e a reestrutura sob o nome de
“Nossa TV”. Já Miguel Ângelo aposta no primeiro portal evangélico de acesso à
internet, totalmente gratuito, que leva o nome de sua igreja.

No mesmo esteio em que nasceram as igrejas Universal, da Graça e Cristo Vive,


surgiram outras igrejas ditas “neopentecostais” como a Igreja Renascer em
Cristo (São Paulo, 1986), a Comunidade Evangélica Sara A Nossa Terra
(Brasília, 1992), o Ministério Apascentar (Nova Iguaçu, 1994), o Projeto Vida
Nova (Rio de Janeiro, 1992) e a Comunidade Evangélica da Zona Sul (Rio de
Janeiro, 1988). De um modo geral, utilizam intensamente a mídia eletrônica e
aplicam técnicas de administração empresarial, com uso de marketing,
planejamento estatístico, análise de resultados etc. Todas, com maior ou menor
ênfase, pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o cristão está destinado à
prosperidade terrena, tanto financeira, como emocional e espiritual, rejeitando
os tradicionais usos e costumes austeros dos pentecostais. O
neopentecostalismo constitui hoje a vertente evangélica mais influente e a que
mais cresce no território brasileiro e, também, a mais liberal em questões de
costumes, como por exemplo, ouvir música secular, praticar esportes, e
freqüentar ambientes não evangélicos, mesmo com a exposição do corpo, como
as praias e piscinas.

A Teologia da Prosperidade
Segundo seus defensores a Teologia da Prosperidade é a “confissão positiva”
ou “palavra da fé”, um Movimento da Fé e o verdadeiro Evangelho da Saúde e
da Prosperidade. Mas, na verdade é um movimento religioso surgido
nos Estados Unidos, no final do século XX. Sua doutrina afirma, a partir da
interpretação de alguns textos bíblicos que os que são verdadeiramente fiéis a
Deus devem desfrutar de uma excelente situação na área financeira, na saúde,
etc (Cf. Gn. 17, 7; Mc. 11, 23-24 e Lc. 11, 9-10).

O pioneiro desse movimento foi o pastor e teólogo estadunidense Essek M.


Kenyon, enquanto o maior divulgador foi o pastor Kenneth Hagin, que
influenciou a muitos pregadores que ganharam reconhecimento mundial,
como Kenneth Copeland, Benny Hinn , David Yonggi Cho , entre outros. A
Partir dos anos 70 e 80, a Teologia da Prosperidade se estendeu a muitos países,
incluindo o Brasil. Ao longo dos anos essa doutrina foi abraçada principalmente
pelas denominações neopentecostais. Seus principais representantes no Brasil
são o Bispo Macedo (Igreja Universal), o Missionário R. R. Soares (Igreja da
Graça), que é cunhado de Macedo, o Apóstolo Waldomiro Santiago (Igreja
Mundial do Poder de Deus, dissidência da Igreja Universal), o casal “Bispa”
Sônia e Apóstolo Estevam Hernandes (Renascer em Cristo), a “Apóstola”
Valnice Milhomes (Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo). Apesar dos títulos
de bispos, missionários e apóstolos, todos são na realidade, simplesmente
pastores, quase todos sem formação teológica.

Kenneth Hagin desenvolveu a Teologia da Prosperidade elaborada por Essek


Kanyon, de tal modo que muitos, atualmente, creditam a Hagin sua
paternidade. Enquanto que Kanyon propunha a afirmação da fé para a obtenção
da benção: “O que eu confesso, eu possuo”, Hagin redefine a afirmativa
propondo que o fiel exija de Deus aquilo que lhe é de direito: “O fiel deve
determinar a posse da benção”. Isso significa que o crente deve, antes de
qualquer coisa, determinar aquilo que quer e, após isso, fazer um sacrifício para
a obtenção da benção, e assim se encontrar em condições de exigir de Deus que
Ele cumpra com “sua” parte; o sacrifício exigido, obviamente, para os dias de
hoje, é a oferta. Quanto maior e sacrificante ela for, maior é a condição em que o
crente se colocará diante de Deus para exigir o que “lhe pertence”. Nesse
sentido, doar quantias infinitas de dinheiro para a obtenção de graças e
bênçãos, está plenamente de acordo com o que é pregado nos púlpitos das
denominações neopentecostais e com a Teologia da Prosperidade.

Outro aspecto definido por Kenneth Hagin e baseado em um versículo bíblico


(Gn. 17, 14-15), é sobre a participação política dos crentes. Com exceção dos
Estados Unidos, em todos os países em que se estabeleceram, os pentecostais
tradicionais se abstiveram de participar do jogo político, julgando essa prática
por demais mundana e corrupta para que um crente. No entanto, segundo
Hagin, o fiel não só deveria se inserir no jogo político, mas também escolher os
seus próprios representantes, de preferência de denominações concomitantes à
Teologia da Prosperidade. Justamente por isso, as principais denominações
neopentecostais elegeram ao longo dos anos, aqui no Brasil, incontáveis
representantes parlamentares em todas as esferas políticas. Centenas de
vereadores, dezenas de prefeitos, centenas de deputados estaduais e federais,
alguns senadores e até o vice-presidente da República são “ovelhas”
neopentecostais pastoreadas pela Teologia da Prosperidade. Cabe ainda frisar
que “diante da impossibilidade da convivência com a corrupção e a selvageria
intransigente daqueles que defendem todo tipo de imoralidade política, é
obrigação do cristão (...) criar uma agremiação político-partidária, moldada
nas palavras do Senhor, para trazer a justiça e a prosperidade para toda a
nação” (Kenneth Hagin, em “Planos, Propósitos e Práticas”, Editora Universal-
1994).

A aquisição de empresas de serviços, indústrias, lojas de departamentos,


também é respaldada pela Teologia da Prosperidade, pois, de acordo Hagin,
“toda a cadeia de produção e consumo deve ser santificada”. Logo, grandes
extensões de terras, devem ser adquiridas, preparadas para o plantio e cuidadas
para que abasteçam as igrejas, seminários, pousadas, redes de supermercados e
restaurantes. Supermercados, restaurantes e cadeias de “fast-food”, também
fazem parte da chamada “santificação”. Indústria de alimentos, confecções,
metalúrgicas, gráficas, entre outras tantas atividades, até mesmo bancos, são
adquiridos para a “santificação” dos meios de produção e do consumo.

Obviamente, tais empresas, empregam e geram dividendos sociais. Seus


funcionários são, em sua grande maioria, membros dessas igrejas
neopentecostais. Todavia, há a possibilidade de se contratar até mesmo “não
crentes” especialistas, mas que treinarão seus futuros substitutos. Os
trabalhadores das empresas “santificadas” contribuem para o fortalecimento
das denominações neopentecostais, atingem certa prosperidade, com isso
servem de exemplos para a conquista de novos adeptos.

O neopentecostalismo, e as igrejas defensoras da Teologia da Prosperidade,


tiveram um crescimento vertiginoso ao longo dos anos de 1980 e na primeira
metade da década de 1990. Tanto é que alguns pastores das denominações
pentecostais tradicionais, principalmente da Assembléia de Deus, abandonaram
as restrições denominacionais no trato empresarial e político de suas respectivas
igrejas e abraçaram, mesmo que veladamente, a Teologia da Prosperidade. Silas
Malafáia (A.D. da Penha - RJ), Marcos Feliciano (A.D. de Belém) e Jabes de
Alencar (A.D. do Bom Retiro – SP) são alguns entre dezenas de nomes que
vivem exclusivamente da venda de DVDs, CDs, livros de conteúdo “teológico” de
auto-ajuda (“no cartão de crédito ou no cheque-pré”), mega-convenções onde
as doutrinas da Teologia da Prosperidade são amplamente divulgadas (“com 12
parcelas iguais no cartão de crédito”), e viagens à Terra Santa, com hotel, tour
pelos locais santos e palestras incentivadoras para se tornar “um vencedor em
Cristo Jesus”, tudo incluído, pela “oferta mínima de (...) parcelado em 12 vezes
no cartão de crédito”. (As citações grifadas neste parágrafo são do Pr. Silas
Malafaia, durante a apresentação do programa “Vitória em Cristo”, exibido no
dia 29/09/09 no na TV Bandeirantes do Rio de Janeiro).

O grande contraponto à Teologia da Prosperidade é a questão social. Para as


denominações fiéis aos ditames de Hagin, a pobreza e a miséria são cruciais
para a “reposição da membrasia”, pois elas garantem a insatisfação do homem
com os “domínios do mundo” e somente Deus pode romper com os “grilhões do
diabo” levando-o à liberdade. (Doutrinas Da Igreja Universal do Reino de Deus
- Volume 1, Universal Produções, 2002). Nesse sentido, a luta por melhores
condições de vida, direito à organização sindical e o envolvimento direto na luta
de classes, simplesmente inexistem com possibilidades para o crente se engajar
na busca por uma sociedade mais justa, humana e cristã.

A Importância da Renovação Carismática Católica

A chamada Renovação Carismática nasceu em 1966 como um movimento


pentecostal católico, através das mãos de Steve Clark, da Universidade de
Duquesne (Pittisburg, Pensilvânia), que citou o livro “A Cruz e o Punhal” do Pr.
Jonh Sgerril, durante o Congresso Nacional de “Cursinhos de Cristandade”. O
livro discorre sobre o trabalho do Pr. David Wilkerson com dependentes
químicos na cidade de Nova York, e que, de acordo Sgerril, este deveria ser uma
leitura obrigatória de todo católico estadunidense.

Era comum durante os anos de 1960, jovens católicos da Universidade de


Duquesne se reunirem para orar e conversar sobre a fé e métodos de
evangelização. Todos eram dedicados às atividades evangelísticas, mas,
extremamente insatisfeitos com a sua experiência religiosa. Num dado
momento, muito em razão disso, detendo-se sobre o estudo da manifestação do
Espírito Santo durante a festa de Pentecostes, esses jovens decidiram orar para
que o Espírito Santo se manifestasse neles. Querendo vivenciar essa experiência
com o Espírito, foram ao encontro do Rev. William Lewis, da Igreja Episcopal
Anglicana em Pittisburg, que por sua vez os levou até a Sra. Betty de Shomaker,
que realizava em sua casa reuniões de oração pentecostal.

Em 1967, Ralph Keiner, sua esposa Pat, Patrick Bourgeois e Willian Storey vão à
casa de Flo Dodge, paroquiana Anglicana de William Lewis, para assistir uma
reunião de oração e suplicam que se ore para que eles recebam o “Batismo do
Espírito Santo”. O primeiro a desenvolver o “dom”, ou “carisma”, foi Ralph que
recebe o “dom de línguas”, depois os outros participantes desenvolvem seus
“carismas”. O fenômeno se espalha rapidamente por todos os cantos dos
Estados Unidos e durante os anos de 1970 se tornam um fenômeno mundial.

No Brasil a Renovação Carismática teve origem na cidade de Campinas - SP,


através dos padres Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty, ambos
estadunidenses. Através de “grupos de Oração”, aplicando a cartilha dos
“Cursinhos de Cristandade”, incentivam a busca pelos “dons espirituais”.

Os rumos que a Renovação Carismática tomará a partir de Campinas serão


diversos, expandindo-se rapidamente pela maioria dos Estados brasileiros.

A partir de 1980, a Renovação Carismática consolidou-se institucionalmente,


espalhando-se por todo o território nacional, vindo a ocupar um espaço
significativo na mídia, seja como objeto de notícias, seja como usuária dos meios
de comunicação social. Neste mesmo ano, o Pe. Eduardo Dougherty fundou a
Associação do Senhor Jesus (ASJ). Partindo da venda de material religioso, tal
como livros de formação e de cânticos, tendo em vista atingir a realização de
programas de TV. Logo em seguida foi criado o programa “Anunciamos Jesus”,
que em 1986, já cobria através de três redes de TV, 60% do território nacional. A
partir de 1990, a ASJ fundou o Centro de Produções Século XXI, que possui três
grandes estúdios de TV, na cidade de Valinhos, São Paulo. Atualmente, possui
um sistema televisivo próprio (Rede Vida) com objetivo de, em médio prazo,
estar com retransmissoras em todas as regiões do Brasil.

Também se destaca nos meios de comunicação a Comunidade Canção Nova.


Iniciada em 1974 na cidade de Lorena, a Comunidade adquiriu em 1980, em
Cachoeira Paulista, uma Rádio e mais adiante, em 1989, conseguiu uma
concessão de TV. Através da Fundação João Paulo II, a Rede Canção Nova TV é
o canal católico que mais cresce no Brasil, possui retransmissoras em todas as
Regiões do país, estando também presente na Itália e Portugal.

É também a partir da segunda metade da década de 1990 que acontece a grande


“explosão” da Renovação Carismática que atinge milhões de brasileiros.
Antônio F. Pierucci e Reginaldo Prandi, por ocasião das eleições de 1994,
realizaram um levantamento quantitativo sobre a Renovação Carismática no
Brasil, e chegaram ao número de 3,8 milhões de católicos carismáticos no
Brasil. Esse número representava, na época, 200 mil fiéis a mais que todas as
organizações evangélicas tradicionais juntas (3,6 milhões) e pouco mais de um
terço do número de fiéis das organizações evangélicas pentecostais e
neopentecostais (9,9 milhões). Em seu último levantamento, de 2005, os
carismáticos católicos chegaram à marca de 16 milhões de fiéis em todo o Brasil,
superando o número de seguidores das igrejas evangélicas de qualquer credo,
tradicionais, pentecostais e neopentecostais, se tornando a segunda força
religiosa do país, menor apenas que o catolicismo tradicional.

A Renovação Carismática encontrou eco justamente onde as denominações


defensoras da Teologia da Libertação cresciam abruptamente nos últimos anos:
a classe média brasileira. Cansada do tradicionalismo monolítico católico e farta
da politização do Evangelho incrementada pelas Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs), a classe média recebe as comunidades carismáticas como um filho
faminto recebe o leite materno no seio de sua mãe. As canções de Louvor a Deus
em ritmos modernos, a pura expressão do sentimento de Amor durante a
comunhão, as orações de interseção livres e sem as repetições da “ladainha”
tradicional, juntamente com os ministérios leigos, fizeram com que os católicos
voltassem para a igreja e retomassem a prática de freqüentar as missas. As
igrejas se encheram novamente e as missas se transformaram em verdadeiros
cultos de adoração, sob a “livre manifestação do Espírito”.

As denominações evangélicas, principalmente as defensoras da Teologia da


Prosperidade, perceberam a perda de terreno junto à cristandade e partiram
para o ataque. No embate ideológico com os neopentecostais, os carismáticos
católicos conseguiram levar vantagem, pois não negavam os erros do passado
cometidos por setores da Igreja Católica, ao contrário assumiam os erros e
pediam perdão. Jesus, como Deus, estaria sempre disposto a perdoar os erros
dos homens, e a Virgem Maria, sempre intercederia pela humanidade. Acusados
de serem “idólatras” pelos neopentecostais, os carismáticos católicos
explicariam que os santos não deveriam ser idolatrados, como foram no
passado, mas terem seus passos seguidos, como exemplos de retidão e de vida
santa.

No início de século XXI, as mútuas acusações cessaram. Não se chegou, em


nenhum momento, ao menos por parte dos neopentecostais, ao estabelecimento
do que podemos chamar de respeito. Entretanto, para as comunidades católicas
carismáticas, o retorno daqueles que deixaram a Igreja Católica iludidos com a
promessa de prosperidade financeira, sentimental, emocional e espiritual, é
uma questão de tempo. Pois, tudo que Deus faz é movido pela fé que Nele é
depositada pelo fiel, e não pela quantidade de ofertas que são colocadas em
envelopes.

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