Anda di halaman 1dari 3

Lei do Ruído: Aniversário Um!

Por JORGE PATRÍCIO


Terça-feira, 28 de Maio de 2002

Completou-se no dia 14 de Maio um ano de


vigência do novo Regulamento do Ruído (RLPS).
Sem pompa nem circunstância parece-me a altura
ideal para se fazer uma reflexão sobre a aplicação
e a eficácia desta lei, num quadro de protecção
geral contra a poluição sonora.

A publicação deste diploma teve a virtude de


despertar e consciencializar a sociedade para a
necessidade de internalizar o factor ruído como
um indicador ambiental a considerar na gestão do
seu quotidiano. É certo que o ruído não é mais que
um sub-produto do desenvolvimento dos países
industrializados. Todavia, tal não justifica, nem legitima, que haja
populações a viverem em condições de exposição a níveis sonoros
excessivos, como o que ocorre nas grandes cidades, na envolvente
das vias de comunicação terrestre, dos aeroportos e de áreas
industriais. Por isso, honra seja feita à produção de um normativo
deste tipo!

No entanto, como é do conhecimento geral, o diploma sobre o ruído


tem várias incongruências, indefinições de natureza vária, interfaces
ambíguas, parametrização inatingível, confusão entre causas e
efeitos, inter-relações dúbias e ineficazes com instrumentos de
planeamento territorial, e inclusão de conceitos que podem suscitar
apreciações diferenciadas para casos análogos. Para além disso,
apoia-se numa proposta de Directiva Europeia, que estando em
discussão desde o ano 2000, só viu a sua aprovação efectivada em
2002 e, mesmo assim, só em processo de conciliação; o que
evidencia o facto do tema da prevenção e protecção contra o ruído
ser matéria de acordo difícil.

Era expectável e lógico que, no período que mediou entre a


publicação da lei do ruído (finais do ano 2000) e a sua entrada em
vigor - Maio de 2001 -, fossem desenvolvidas pelo governo de então
iniciativas de sensibilização nacional e de adaptação dos serviços da
administração ao novo normativo através da afectação de recursos
financeiros e humanos, assim como de formação e apoio técnico.
Como se sabe nada disso foi feito!

Dada a forma como este diploma foi concebido existem imensas


dúvidas sobre a sua aplicabilidade efectiva. Para além de alguns
casos mediáticos - se calhar de natureza duvidosa -, as dificuldades
de aplicação correcta da lei são uma constante; com a agravante
dada por alguma incapacidade dos serviços para as esclarecer. O que
é pena!

São as câmaras municipais que solicitam aos promotores que


caracterizem os locais de implantação dos edifícios que desejam
promover, quando deveriam ser elas a consagrar a caracterização em
causa, em conformidade com políticas específicas de uso do solo e
integradas em instrumentos de planeamento territorial. São os
problemas do ruído de vizinhança que podem suscitar apreciações
dependentes da circunstância de quem é o poluidor e a entidade
fiscalizadora, para além do facto de servir de fundamento para
disputas entre vizinhos por motivos distintos dos do ruído. São as
indefinições da duração do tempo de medição nas avaliações de
incomodidade provocada pelo funcionamento de unidades de
comércio e serviços. São os valores-limite para delimitação do
zonamento acústico que são inconsistentes com uma razoabilidade
de vida económica e social em Portugal. São as licenças especiais de
ruído que não estipulam limites observáveis durante a sua vigência,
podendo ser emitidas casuisticamente. É a elaboração de mapas de
ruído sem definição da quantificação populacional afectada e de
prazo para a sua execução; e o mesmo se passa com os designados
planos de monitorização de ruído (salvam-se apenas os promovidos
pelo INAC).

É, pois, necessário estabelecer coerência entre procedimentos de


controle e de avaliação, harmonizar tempos de exercícios de
actividades, afectar temporal e populacionalmente a os mapas de
ruído, eliminar incongruências com legislação subsidiária e
complementar, estabelecer parametrização de zonamento
consistente com a realidade nacional, legislar coerentemente sobre o
ruído de vizinhança, e moralizar e dignificar a protecção contra o
ruído. É por todas estas razões que a Sociedade Portuguesa de
Acústica vai realizar, em Maio deste ano, umas Jornadas sobre a
Aplicação do Regulamento do Ruído.

Parece-me imprescindível que o actual Regulamento do Ruído seja


revisto por um corpo de especialistas com reconhecida competência
técnica e jurídica, provenientes das várias entidades com
responsabilidades na área como sejam: o Instituto do Ambiente, as
Autarquias Locais representadas pela Associação Nacional de
Municípios, a Comissão Técnica de Normalização CT-28, as Entidades
Policiais, a Ordem dos Engenheiros (através da sua especialização em
engenharia acústica), a Sociedade Portuguesa de Acústica, o LNEC, as
Universidades, e outras. Esta revisão deve ser feita em estreita
ligação com a realidade comunitária e as especificidades do nosso
território, com a previsão objectiva e realística de aspectos
pertinentes e sem a fogacidade e preocupação de produzir legislação
por pura afirmação de trabalho realizado.

Deste modo criar-se-á um quadro legislativo coerente, integrado, e


sustentado em princípios técnicos e jurídicos, podendo finalmente
proporcionar-se à comunidade um instrumento eficaz para a melhoria
da componente acústica do nosso meio ambiente.

Presidente da Sociedade Portuguesa de Acústica

PS - Salvando a honra do convento, pelo menos já saíu a nova


regulamentação sobre os requisitos acústicos dos edifícios.

Anda mungkin juga menyukai