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O documento discute a implementação da Lei do Ruído um ano após sua entrada em vigor. A lei teve o mérito de conscientizar a sociedade sobre a poluição sonora, mas tem várias incongruências e dificuldades de aplicação na prática. O autor defende que a lei precisa ser revista por especialistas para criar um quadro legislativo coerente e eficaz na proteção contra o ruído.
O documento discute a implementação da Lei do Ruído um ano após sua entrada em vigor. A lei teve o mérito de conscientizar a sociedade sobre a poluição sonora, mas tem várias incongruências e dificuldades de aplicação na prática. O autor defende que a lei precisa ser revista por especialistas para criar um quadro legislativo coerente e eficaz na proteção contra o ruído.
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O documento discute a implementação da Lei do Ruído um ano após sua entrada em vigor. A lei teve o mérito de conscientizar a sociedade sobre a poluição sonora, mas tem várias incongruências e dificuldades de aplicação na prática. O autor defende que a lei precisa ser revista por especialistas para criar um quadro legislativo coerente e eficaz na proteção contra o ruído.
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vigência do novo Regulamento do Ruído (RLPS). Sem pompa nem circunstância parece-me a altura ideal para se fazer uma reflexão sobre a aplicação e a eficácia desta lei, num quadro de protecção geral contra a poluição sonora.
A publicação deste diploma teve a virtude de
despertar e consciencializar a sociedade para a necessidade de internalizar o factor ruído como um indicador ambiental a considerar na gestão do seu quotidiano. É certo que o ruído não é mais que um sub-produto do desenvolvimento dos países industrializados. Todavia, tal não justifica, nem legitima, que haja populações a viverem em condições de exposição a níveis sonoros excessivos, como o que ocorre nas grandes cidades, na envolvente das vias de comunicação terrestre, dos aeroportos e de áreas industriais. Por isso, honra seja feita à produção de um normativo deste tipo!
No entanto, como é do conhecimento geral, o diploma sobre o ruído
tem várias incongruências, indefinições de natureza vária, interfaces ambíguas, parametrização inatingível, confusão entre causas e efeitos, inter-relações dúbias e ineficazes com instrumentos de planeamento territorial, e inclusão de conceitos que podem suscitar apreciações diferenciadas para casos análogos. Para além disso, apoia-se numa proposta de Directiva Europeia, que estando em discussão desde o ano 2000, só viu a sua aprovação efectivada em 2002 e, mesmo assim, só em processo de conciliação; o que evidencia o facto do tema da prevenção e protecção contra o ruído ser matéria de acordo difícil.
Era expectável e lógico que, no período que mediou entre a
publicação da lei do ruído (finais do ano 2000) e a sua entrada em vigor - Maio de 2001 -, fossem desenvolvidas pelo governo de então iniciativas de sensibilização nacional e de adaptação dos serviços da administração ao novo normativo através da afectação de recursos financeiros e humanos, assim como de formação e apoio técnico. Como se sabe nada disso foi feito!
Dada a forma como este diploma foi concebido existem imensas
dúvidas sobre a sua aplicabilidade efectiva. Para além de alguns casos mediáticos - se calhar de natureza duvidosa -, as dificuldades de aplicação correcta da lei são uma constante; com a agravante dada por alguma incapacidade dos serviços para as esclarecer. O que é pena!
São as câmaras municipais que solicitam aos promotores que
caracterizem os locais de implantação dos edifícios que desejam promover, quando deveriam ser elas a consagrar a caracterização em causa, em conformidade com políticas específicas de uso do solo e integradas em instrumentos de planeamento territorial. São os problemas do ruído de vizinhança que podem suscitar apreciações dependentes da circunstância de quem é o poluidor e a entidade fiscalizadora, para além do facto de servir de fundamento para disputas entre vizinhos por motivos distintos dos do ruído. São as indefinições da duração do tempo de medição nas avaliações de incomodidade provocada pelo funcionamento de unidades de comércio e serviços. São os valores-limite para delimitação do zonamento acústico que são inconsistentes com uma razoabilidade de vida económica e social em Portugal. São as licenças especiais de ruído que não estipulam limites observáveis durante a sua vigência, podendo ser emitidas casuisticamente. É a elaboração de mapas de ruído sem definição da quantificação populacional afectada e de prazo para a sua execução; e o mesmo se passa com os designados planos de monitorização de ruído (salvam-se apenas os promovidos pelo INAC).
É, pois, necessário estabelecer coerência entre procedimentos de
controle e de avaliação, harmonizar tempos de exercícios de actividades, afectar temporal e populacionalmente a os mapas de ruído, eliminar incongruências com legislação subsidiária e complementar, estabelecer parametrização de zonamento consistente com a realidade nacional, legislar coerentemente sobre o ruído de vizinhança, e moralizar e dignificar a protecção contra o ruído. É por todas estas razões que a Sociedade Portuguesa de Acústica vai realizar, em Maio deste ano, umas Jornadas sobre a Aplicação do Regulamento do Ruído.
Parece-me imprescindível que o actual Regulamento do Ruído seja
revisto por um corpo de especialistas com reconhecida competência técnica e jurídica, provenientes das várias entidades com responsabilidades na área como sejam: o Instituto do Ambiente, as Autarquias Locais representadas pela Associação Nacional de Municípios, a Comissão Técnica de Normalização CT-28, as Entidades Policiais, a Ordem dos Engenheiros (através da sua especialização em engenharia acústica), a Sociedade Portuguesa de Acústica, o LNEC, as Universidades, e outras. Esta revisão deve ser feita em estreita ligação com a realidade comunitária e as especificidades do nosso território, com a previsão objectiva e realística de aspectos pertinentes e sem a fogacidade e preocupação de produzir legislação por pura afirmação de trabalho realizado.
Deste modo criar-se-á um quadro legislativo coerente, integrado, e
sustentado em princípios técnicos e jurídicos, podendo finalmente proporcionar-se à comunidade um instrumento eficaz para a melhoria da componente acústica do nosso meio ambiente.
Presidente da Sociedade Portuguesa de Acústica
PS - Salvando a honra do convento, pelo menos já saíu a nova
regulamentação sobre os requisitos acústicos dos edifícios.
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