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No 127

DISSERTAÇÃO DE
MESTRADO

ANÁLISE DE PROJETO DE TURBINA


EÓLICA DE GRANDE PORTE PARA
AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DA
REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

AUTOR: DANIEL FARO DO AMARAL LEMOS

RECIFE – PERNAMBUCO – BRASIL


MARÇO – 2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS


ENERGÉTICAS E NUCLEARES - PROTEN

No 127
DISSERTAÇÃO DE
MESTRADO

ANÁLISE DE PROJETO DE TURBINA


EÓLICA DE GRANDE PORTE PARA
AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DA
REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em Tecnologias
Energéticas e Nucleares para obtenção do grau de
Mestre, sob a orientação dos Professores Dr.
Naum Fraidenraich e Dr. Everaldo Feitosa.

AUTOR: DANIEL FARO DO AMARAL LEMOS

RECIFE - PERNAMBUCO - BRASIL


MARÇO – 2005
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que, de diversas formas, contribuíram para a realização


deste trabalho. Ao Professor Naum, meu orientador do Departamento de Energia Nuclear,
pela orientação atenta e crítica, aos Professores Brayner e Tiba, que sempre me receberam e
me ajudaram a superar as minhas dificuldades.

Gostaria de agradecer ao Professor Everaldo Feitosa, meu orientador do Centro


Brasileiro de Energia Eólica, de grande importância para a minha formação em energia eólica,
participando desde minha graduação até minha vida profissional.

Aos pesquisadores do Centro Brasileiro de Energia Eólica Alexandre Pereira e Pedro


Rosas, pela atenção com que sempre me receberam, permitindo discussões aprofundadas
sobre o assunto, e pelas sugestões ao meu trabalho. Outra pessoa importante foi Alexandre
Costa, que, mesmo estando distante, sempre esteve à disposição para tirar minhas dúvidas.
Apesar de não ter estado comigo durante o mestrado, também merece meus agradecimentos
Eliza Barros, minha orientadora de iniciação científica, quem sempre me motivou a pesquisar
sobre o tema. Gostaria de agradecer aos meus companheiros de trabalho e pesquisa, Gustavo
Silva e Carolina Caheté, com quem participei de tantos trabalhos e por tanto tempo. A
Gustavo Leite, que me ajudou nas simulações deste trabalho, e aos amigos João, Sílvia e
Janaína, pela companhia em vários momentos difíceis de trabalho.

Agradeço especialmente aos meus pais, que sempre participaram tão ativamente da
minha formação, me incentivaram em todos os momentos da minha vida e não mediram
esforços para me apoiar na realização deste trabalho. Ao meu irmão, um grande companheiro
para todas as horas, que nunca me deixou desanimar. À minha avó, que participou da minha
educação e tanto me incentivou ao estudo.

E, finalmente, à minha querida esposa, Beta, que participa tão diretamente de todos os
projetos da minha vida, me deu força e carinho nos momentos mais difíceis e foi, sem dúvida
alguma, fundamental para a realização deste trabalho.
RESUMO

Este trabalho tem como principal objetivo quantificar as variações da geração de


energia e dos carregamentos extremos e de fadiga atuantes em uma turbina eólica operando
em regimes de vento que apresentam a distribuição de ocorrência da velocidade com grande
concentração em torno de sua média. Esta característica climática é comumente encontrada na
região Nordeste do Brasil. A modelagem da distribuição de ocorrência da velocidade do vento
é feita através da função estatística de Weibull, que admite o ajuste de sua dispersão através
do fator de forma k.

A turbina eólica utilizada como referência para as simulações realizadas foi a OWW-
250, instalada na Área de Testes do Centro Brasileiro de Energia Eólica – UFPE, em Olinda,
que opera com controle de potência por estol, velocidade constante e conexão direta com a
rede elétrica local.

Os esforços que contribuem para a fadiga da estrutura são apresentados na forma de


carregamento equivalente e utilizam séries sintéticas de vento para representar a turbulência
incidente na máquina. Os carregamentos extremos são simulados em regime estacionário,
considerando a incidência da rajada máxima de 3 segundos, que ocorre, em média, uma vez a
cada cinqüenta anos. A estimativa da geração anual de energia é calculada levando-se em
conta a curva de potência da turbina eólica e a distribuição de ocorrência das velocidades de
vento.

Os resultados encontrados para o efeito dos carregamentos que contribuem para a


fadiga dos componentes da turbina foram desfavoráveis para as distribuições de vento com
menor variância, sendo bastante dependentes dos parâmetros adotados. A geração de energia
apresentou uma pequena redução com o aumento do k de Weibull para velocidades médias
anuais de vento mais baixas. Já os resultados obtidos para os carregamentos extremos
apresentaram uma grande variação, inversamente proporcional ao valor do fator de forma k, o
que favorece o projeto de máquinas para operar em regimes de vento semelhantes aos do
Nordeste do Brasil.
ABSTRACT

The main aim of this work is to quantify the modifications on the energy generation
and extreme and fatigue loads of a wind turbine operating particularly in a well concentrated
wind speed distribution near to the mean value. This particular meteorological condition is
commonly found in the Northeast region of Brazil. The wind speed distribution is modeled in
this dissertation using Weibull statistical function, where it is possible to adjust its shape
factor k.

The wind turbine used as reference for the analysis in this dissertation is the OWW-
250, which is installed in the Test Center for Wind Turbines of the Brazilian Wind Energy
Centre – UFPE, in Olinda. The wind turbine is a stall regulated wind turbine type, constant
speed and constant frequency that is directly connected to the local network.

The forces that contribute to fatigue are represented as equivalent loads. The
equivalent loads takes in to account the turbulence and they are calculated using synthetic
time series of wind speed applied to the machine. The extreme loads are considered static
loads and they are represented as the maximum in three seconds related to the wind gust, with
a recurrence period of fifty years. Additionally, the annual energy generation is estimated
taking into account the wind turbine power curve and the wind speed distribution.

The results showed that wind speed distributions with higher shape factor increase the
fatigue loads, although these conclusions showed extremely dependent of the assumed
parameters. The higher shape factor showed a small reduction in the power production of
similar wind turbines installed in sites with lower annual average wind speeds. The extreme
loads, however, presented a great variation, inversely proportional to the shape factor k, that is
favorable to the design of wind turbines specifically to operate in similar wind speed
distributions of the northeast region of Brazil.
LISTA DE SÍMBOLOS

a Fator de indução axial


A Área varrida pelo rotor
B Número de pás do rotor
a' Fator de indução tangencial
c Corda do aerofólio
C Fator de escala da distribuição de Weibull
CD Coeficiente de arrasto “drag”
CL Coeficiente de sustentação “lift”
Cn Coeficiente da força normal ao plano do rotor
CP Coeficiente de potência
Ct Coeficiente da força tangencial ao plano do rotor
CT Coeficiente de empuxo “thrust”
D Força de arrasto “drag”
di Dano causado por um carregamento Ri
Di Dano total causado por ni repetições do carregamento Ri
f Frequência (Hertz)
F Fator de correção para as perdas nas pontas das pás
FT Componente da força por unidade de comprimento tangencial ao plano de rotação
f(x|y) Função de densidade de probabilidade condicional para distribuição de x quando y é
especificada
f(x) Função de densidade de probabilidade de primeira ordem
F(x) Função de distribuição de probabilidade de primeira ordem
f(x,y) Função de densidade de probabilidade de segunda ordem
fm Fator de correção devido à média do carregamento
fx(x) Função de densidade de probabilidade marginal
h Altura em relação ao solo
href Altura da medição do vento em relação ao solo
k Fator de forma da distribuição de Weibull
L Força de sustentação “lift”
L1u Escala de comprimento da turbulência na direção longitudinal
Leq Carregamento cíclico equivalente para toda a vida útil
m Expoente da curva de Wöhler
Mm Média do carregamento cíclico
Mo Carregamento máximo suportado pelo componente
Mtotal Torque mecânico total produzido pelo rotor
n Número de eventos independentes
neq Número de repetições associadas a Req
neq,L Número de repetições associadas a Leq
ni Número de ocorrências do carregamento Ri
Ni Número de carregamentos Ri que um material resiste antes de falhar
qi Deslocamento em função do tempo
qT Razão entre o desvio padrão σT e σ
r Coordenada polar
R Raio do rotor
Req Carregamento cíclico equivalente
Ri Carregamento cíclico
S Área do aerofólio
S0 Tensão de ruptura estática do material
Si Tensão causada por um carregamento Ri
Su Função de densidade auto-espectral
t Tempo
U Componente longitudinal da velocidade do vento (geralmente média de 10 minutos)
uT Componente longitudinal da velocidade do vento integrada num intervalo de tempo T
V0 Velocidade de uma rajada de 3 s, excedida em média uma vez em 50 anos, a 10 m acima do
terreno, em campo aberto e plano. (ABNT)
Ve1 Velocidade extrema média de 3 segundos para 1 ano
Ve50 Velocidade extrema média de 3 segundos para 50 anos
Vmed Velocidade do vento média anual
Vref Velocidade de referência
W Velocidade do vento aparente
α Expoente do gradiente vertical
ρ Massa específica do ar
φ Ângulo de incidência
ψ Ângulo de azimute
σ Coeficiente de solidez
Ω Velocidade de rotação do rotor
φi Modo de vibração
σT Parte do desvio padrão total σu após aplicar-se um filtro passa baixa com um tempo médio de 3
segundos
σu Desvio padrão da componente longitudinal da velocidade do vento
ξi Coeficiente de amortecimento
ωi Freqüência de vibração
Γ Função gama
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO. 10

1.1 ENERGIA EÓLICA NO BRASIL E NO MUNDO 10

1.2 CARACTERIZAÇÃO DO RECURSO EÓLICO 12


1.2.1 Condições de Vento no Nordeste do Brasil 13
1.2.2 Influência das características de comportamento do vento 14

1.3 OBJETIVOS 15

1.4 JUSTIFICATIVA 15

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 16

2 METODOLOGIA 17

2.1 CARREGAMENTOS EXTREMOS 18

2.2 FADIGA DA ESTRUTURA 18

2.2 GERAÇÃO DE ENERGIA 19

3 MODELAGEM DO VENTO 20

3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS 20


3.1.1 Distribuição estatística de Weibull 20
3.1.2 Gradiente Vertical do Vento 22
3.1.3 Efeito Sombra da Torre 23
3.1.4 Inclinação do Fluxo de Ar 23

3.2 SÉRIES TEMPORAIS ESTOCÁSTICAS 24


3.2.1 Séries Temporais Tridimensionais 25
3.2.2 Parâmetros admitidos 26

3.3 VELOCIDADES EXTREMAS 28


3.3.1 A função da distribuição de probabilidade da velocidade média de 3 segundos 28
3.3.2 Velocidades extremas de 3 segundos para um ano e para cinqüenta anos 31

4 MODELAGEM DA TURBINA EÓLICA 35

4.1 CARREGAMENTOS AERODINÂMICOS 35


4.1.1 Teoria do disco atuador 35
4.1.2 Rotação da esteira 37
4.1.3 Teoria do elemento de pá 37
4.1.4 Fator de perdas nas pontas de Prandtl 40
4.1.5 Cálculo da curva de potência 40

4.2 DINÂMICA ESTRUTURAL 41


4.2.1 Análise Modal 42
4.2.1.1 Modos de vibração 42
4.2.1.2 Equações de movimento 43

4.3 TURBINA EÓLICA OWW 250 45


4.3.1 Pás 47
4.3.2 Extensor do Cubo 49
4.3.3 Torre 49

5 ANÁLISE ESTRUTURAL 50

5.1 ANÁLISE DE FALHA POR FADIGA 51


5.1.1 Carregamento Equivalente 53
5.1.2 Influência do Valor Médio do Ciclo 53
5.1.4 Incerteza do Cálculo do Carregamento Equivalente 55
5.1.3 Acúmulo do dano por fadiga 56

5.2 CARREGAMENTOS EXTREMOS 57


5.2.1 Carregamento Extremo com Turbina Normal e Vento Extremo 58

5.3 ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE ENERGIA 63

6 RESULTADOS 65

6.1 RESULTADOS DA ANÁLISE DE FADIGA 65


6.1.1 Influência da intensidade de turbulência 75

6.2 RESULTADOS DOS CARREGAMENTOS EXTREMOS 79

6.3 RESULTADOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA 82

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 84

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86

APÊNDICE A 89
10

1 INTRODUÇÃO

1.1 ENERGIA EÓLICA NO BRASIL E NO MUNDO

A energia eólica representa, atualmente, a fonte de energia com maior taxa anual de
crescimento. Em 2003, a capacidade instalada aumentou 26%, chegando a 39.151 MW. O
continente europeu ainda é o grande destaque, possuindo 73% do total instalado. A figura 1.1
apresenta os principais países em capacidade instalada de centrais eólicas e sua divisão por
continentes.

Capacidade Instalada (MW) Capacidade Instalada (%)

15.000

12.000

Europa
9.000
73,3%

6.000

3.000
Oceania
0,6% Americas
0
Asia 8,2% 17,5%
EUA
Alemanha

India

Itália

Holanda

China

Japão
Reino Unido

Outros
Espanaha

Dinamarca

Figura 1.1 – Capacidades instaladas dos países e continentes em dezembro de 2003.


Fonte: World Wind Energy Association.

Segundo estudo realizado pela Associação Mundial de Energia Eólica - WWEA,


estima-se que no ano de 2008 a capacidade instalada no mundo ultrapasse os 100.000 MW.
Esta expectativa deve-se principalmente, à necessidade de novas fontes de energia em países
em desenvolvimento e à política de proteção ambiental adotada por países industrializados.

No Brasil, a primeira turbina eólica de grande porte foi instalada em 1992. A turbina
possuía uma capacidade de 75 kW e foi instalada na Ilha de Fernando de Noronha pelo Centro
Brasileiro de Energia Eólica, possibilitando a redução do uso de óleo Diesel para a geração de
energia elétrica na ilha. Desde então, a inserção eólica no Brasil se deu de forma bastante
tímida, predominando as instalações de caráter experimental.
11

A primeira central eólica construída no Brasil foi a do Morro do Camelinho (figura


1.2), em 1994, localizada no Município de Gouveia – MG. O projeto foi realizado pela
CEMIG sendo composto por quatro máquinas de 250 kW. A Central Eólica de Taíba,
localizada no Ceará, entrou em operação em janeiro de 1999 com 10 turbinas de 500 kW e foi
a primeira central eólica do mundo instalada sobre dunas e a primeira da América do Sul
construída e operada por um Produtor Independente de Energia (ANEEL, 2002). Em
novembro de 1999, a Wobben inaugurou a maior central eólica da América do Sul, a Central
Eólica de Prainha, com potência nominal de 10 MW e se encontra instalada no Município de
Aquiraz, no estado do Ceará. Ainda em 1999, a Companhia Paranaense de Energia – COPEL,
inaugurou a primeira central eólica do Sul do Brasil, localizada no Município de Palmas – PR,
com 2,5 MW. Apesar dos esforços realizados neste período, estes projetos não foram
suficientes para alavancar o uso desta tecnologia no Brasil, que permaneceu até o ano de 2003
com um total de apenas 23,8 MW instalados.

Figura 1.2 – Central Eólica Morro do Camelinho.

Em 2001, após a grande crise de energia elétrica que assolou o país, surgiu a primeira
lei de incentivo à tecnologia eólica: o PROEOLICA. Esta lei previa incentivos crescentes para
as centrais instaladas em períodos mais curtos e despertou o interesse de vários investidores
privados. Porém, o cenário de incertezas político-econômicas daquele momento não propiciou
a regulamentação desta lei.
12

Finalmente, em abril de 2002, foi instituído o Programa de Incentivos às Fontes


Alternativas – PROINFA. Regulamentado em dezembro de 2002, este programa prevê, em
sua primeira fase, a compra da energia elétrica, a partir de 3.300 MW de capacidade de
centrais elétricas provenientes de fontes renováveis de energia a serem instaladas até o ano de
2006. Deste total, 1.100 MW são destinados à energia eólica. Esta primeira fase do programa
permitirá a verificação da aceitação pública quanto à instalação de centrais eólicas no Brasil e
poderá ser um grande passo para a inserção definitiva desta tecnologia no país.

Apesar de ocupar uma modesta trigésima posição no ranking de capacidade instalada


no mundo, espera-se que com a implementação do PROINFA, o Brasil passe a figurar entre
os dez países com maior potência instalada de centrais eólicas. Dentre os contratos assinados
até o momento para a primeira fase, apenas três regiões possuem projetos de centrais eólicas,
sendo as regiões Nordeste e Sul as que possuem maior soma de capacidade de potência, como
mostra a figura 1.3.

Projetos Contratados por Região

Nordeste
43,9% Sul
41,3%

Sudeste
14,8%

Figura 1.3 – Divisão entre os projetos contratados pelo PROINFA.

1.2 CARACTERIZAÇÃO DO RECURSO EÓLICO

Para o desenvolvimento de um projeto de geração de energia a partir do vento é


necessário determinar previamente os principais parâmetros que caracterizam o
comportamento do vento no local do projeto através da realização de uma campanha de
medição. Esta deve ainda ser complementada com outros dados que caracterizem a região,
como topografia e rugosidade do terreno, e comparada com outras medições de longo prazo
realizadas nas regiões circunvizinhas.
13

Dentre os parâmetros utilizados para caracterizar o vento, neste trabalho, será dada
ênfase aos relacionados com a sua distribuição de ocorrência. A distribuição de densidade de
probabilidade de ocorrência das velocidades de vento de uma determinada região é
geralmente caracterizada matematicamente pela função estatística de Weibull, cujos
parâmetros C e k estão associados respectivamente, ao valor médio e à dispersão da
distribuição de ocorrência das velocidades de vento.

1.2.1 Condições de Vento no Nordeste do Brasil

Ao longo dos últimos anos, as campanhas de medição anemométrica, realizadas na


região Nordeste do Brasil, apresentaram uma grande concentração da distribuição de
ocorrência das velocidades do vento em torno da velocidade média. Em Feitosa et al., (1993),
esta característica foi associada ao fator de forma k, da função de Weibull.

A partir de dados de vários Atlas eólicos, Silva (2003) apresentou em sua dissertação
de mestrado, uma comparação entre os valores médios calculados para o fator k, da
distribuição de Weibull. Os valores encontrados foram de 1,80 para a Europa, 2,04 para os
Estados Unidos e 3,36, para a região Nordeste do Brasil. Estes resultados corroboram para a
caracterização do comportamento constante do vento na região Nordeste do Brasil.

Deve-se ainda sublinhar que, por se encontrar numa região de baixas latitudes, o NE
do Brasil apresenta valores mais baixos para a massa específica do ar do que nas regiões
comparadas anteriormente. Adicionalmente, o valor da massa específica do ar apresenta
baixas variações sazonais, diferentemente do que ocorre em projetos localizados no deserto da
Califórnia, onde a grande variação da massa específica do ar dificulta o uso de turbinas
eólicas com controle de potência passivo por estol (ver item 4.1.5).

A energia cinética e a potência disponível no vento são diretamente proporcionais à


sua massa específica. Desta forma, para uma mesma velocidade de vento e uma massa
específica menor, uma turbina eólica irá gerar menos energia, porém será submetida a
carregamentos menores.
14

1.2.2 Influência das características de comportamento do vento

Os carregamentos atuantes numa turbina eólica, bem como sua geração anual de
energia encontram-se diretamente ligados às características do vento incidente na máquina.
Em Kaiser e Langreder (2001), é reforçada a necessidade de se levar em conta os vários
parâmetros que caracterizam as condições de vento de um local específico, tais como: massa
específica do ar, velocidade extrema, parâmetros C e k de Weibull, intensidade de turbulência,
gradiente vertical, inclinação do vento, entre outros. Segundo os autores mencionados: “uma
análise cuidadosa com a interação de todos os parâmetros de vento do local poderia levar a
uma conclusão de que uma turbina classe II poderia suportar uma velocidade média de uma
turbina classe I”, o que traria benefícios para o empreendedor (Ibid., p.3).

Vários trabalhos já foram realizados com o objetivo de otimizar o projeto de uma


turbina eólica para condições de vento específicas de um determinado local, como em
Nygaard (1999). Esses esforços encontram-se, atualmente, concentrados na análise de
projetos offshore (FUGLSANG e THONSEN, 1998), que reúnem uma série de características
específicas e apresentam uma tendência de expansão, principalmente na Europa.

Nesta mesma linha de pesquisa, já foram desenvolvidos alguns trabalhos motivados


pelas condições de vento encontradas no Brasil, como descrito, em sua tese de doutorado, por
Medeiros (1995). Outro exemplo de trabalho nesse sentido foi o desenvolvimento de uma
ferramenta de projeto baseada na distribuição de frequência dos ventos, realizado pelo autor
desta dissertação (LEMOS, 2001).

Baseado em dados de medições realizadas para uma turbina Bônus de 300kW em


condições de baixa turbulência (9-13%), Møller (1996) comparou o dano por fadiga causado
em uma turbina operando com as condições de vento de um local específico no Ceará com a
de um local específico na Dinamarca. O dano por fadiga encontrado para o projeto no Brasil
foi bastante superior, porém a média anual do vento neste local também era superior ao da
Dinamarca. Os carregamentos extremos para as condições de vento do Ceará foram menores e
a geração de energia foi cerca de 50% mais elevada.
15

1.3 OBJETIVOS

Esta dissertação tem como principal objetivo quantificar as variações dos


carregamentos extremos e de fadiga, bem como a geração anual de energia da turbina eólica
OWW-250, operando em regimes de vento que apresentam a distribuição de ocorrência da
velocidade com grande concentração em torno da velocidade média. Este comportamento
pode ser ilustrado através do fator de forma k, da função estatística de Weibull.

Além deste objetivo principal, pode-se citar os seguintes objetivos específicos:

• Analisar a influência da utilização de uma função constante de intensidade de


turbulência nos carregamentos de fadiga numa turbina eólica;
• Analisar a influência da massa específica do ar na geração da energia da turbina
eólica.

1.4 JUSTIFICATIVA

A maior parte da capacidade de geração eólica instalada mundialmente, encontra-se


nos países europeus e na América do Norte. Além disso, os principais centros de pesquisa e
normas técnicas dedicados ao assunto e a grande maioria dos fabricantes de turbinas eólicas
também se concentram nestes países. Conseqüentemente, a tecnologia encontrada atualmente
no mercado foi desenvolvida, predominantemente, para operar nas condições climáticas
dessas regiões, não sendo de todo adequada a sua utilização em locais com características
diferenciadas.

Desta forma, a perspectiva do desenvolvimento de projetos de geração de energia


elétrica a partir da energia eólica na região Nordeste do Brasil, bem como o fato desta região
possuir condições climáticas diferenciadas das normalmente estudadas em outras regiões do
mundo tornam essencial o desenvolvimento de estudos para uma melhor caracterização deste
regime de vento, assim como para a identificação de seus efeitos no desenvolvimento de
projetos de turbinas eólicas.
16

1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

O primeiro capítulo apresenta um panorama geral do desenvolvimento da energia


eólica e explica sucintamente as diferenças das características do regime eólico encontrado na
região Nordeste do Brasil, bem como a influência dessas características numa turbina eólica.
Neste capítulo é evidenciando o motivo da escolha do tema e sua justificativa, bem como os
objetivos deste trabalho.

O capítulo 2 é voltado à descrição da metodologia utilizada nesta dissertação, situando


o leitor quanto aos fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos apresentados ao
longo deste trabalho.

O capítulo 3 explica a metodologia utilizada para a modelagem do vento incidente


sobre a turbina eólica, sendo dividido basicamente em duas partes: a primeira mostra os
principais fundamentos da simulação do comportamento turbulento do vento e a segunda, a
metodologia para definição das velocidades máximas para um período de 50 anos, que são
comparadas com as determinadas pela Comissão Eletrotécnica Internacional - IEC.

No capítulo 4, são abordados os principais fundamentos teóricos utilizados para a


modelagem da turbina eólica OWW-250, utilizada como referência, bem como seus principais
parâmetros construtivos. O quinto capítulo apresenta a metodologia para a análise dos
esforços extremos, aos quais são submetidas as turbinas eólicas, e para a determinação do
histórico dos carregamentos de fadiga atuantes em sua estrutura ao longo de sua vida útil. Ao
final, é apresentada a metodologia utilizada para o cálculo da estimativa da energia gerada
pela turbina eólica.

O capítulo 6 expõe os resultados das análises realizadas no capítulo anterior com uma
discussão acerca dos valores encontrados. O sétimo capítulo apresenta as principais
conclusões retiradas do trabalho e por último, são listadas no capítulo 8, as referências
bibliográficas utilizadas para este trabalho.
17

2 METODOLOGIA

Este capítulo tem como finalidade descrever a metodologia utilizada nesta dissertação,
situando o leitor quanto aos fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos
apresentados nos próximos capítulos deste trabalho.

Uma vez que se imagine uma turbina eólica como uma caixa preta que tem como
entrada um fluxo de ar, com características determinadas, e, como saída, um sinal de energia
gerada e de carregamentos atuantes em sua estrutura, pode-se concluir que para se analisar
uma turbina eólica é preciso primeiramente modelar o vento, em seguida, a própria máquina e
finalmente, os resultados devem ser processados de forma a permitir sua análise. A figura 2.1
mostra as principais etapas necessárias para a análise de uma turbina eólica.

Modelagem Modelagem da Análise


do vento turbina eólica dos dados

Figura 2.1 – Ilustração das principais etapas necessárias para a análise de uma turbina eólica.

Cada uma destas etapas será descrita com mais detalhes nos capítulos 3, 4 e 5, desta
dissertação, respectivamente.

A norma da Comissão Internacional Eletrotécnica que trata dos requisitos de


segurança de sistemas de geração por turbinas eólicas (IEC 61400-1, 1999) foi utilizada como
referência para a definição dos parâmetros a serem utilizados na modelagem do vento, bem
como de alguns procedimentos de análise de segurança da estrutura da máquina. Para a sua
modelagem foram utilizados os dados da turbina eólica OWW-250, que possui controle
passivo por estol e se encontra instalada na Área de Testes do Centro Brasileiro de Turbinas
Eólicas – UFPE.

Para a realização do estudo da influência do comportamento do vento no projeto e


operação da turbina eólica de referência foram escolhidos três aspectos a serem analisados: os
carregamentos extremos, a fadiga da estrutura, e a geração anual de energia.
18

2.1 CARREGAMENTOS EXTREMOS

O primeiro passo para o cálculo dos carregamentos extremos é a determinação das


velocidades de vento extremas. A velocidade utilizada para este trabalho foi a rajada máxima
com duração de 3 segundos e com probabilidade de ocorrência num período de 50 anos. Para
isso, foi desenvolvido uma rotina no MatLab (MATLAB, 2000), baseada na metodologia
apresentada em Dekker et al. (1998), que possibilita o cálculo desta rajada a partir da função
de intensidade de turbulência e dos parâmetros C e k da função de Weibull.

Os carregamentos nos componentes da turbina eólica foram calculados através de


simulações em regime estacionário realizadas no programa computacional Bladed
(BOSSANYI, 1977), para cada velocidade de vento máxima determinada. Para a escolha da
condição mais crítica de cada carregamento, foi determinado de antemão o posicionamento do
rotor associado ao maior esforço em cada componente analisado.

2.2 FADIGA DA ESTRUTURA

Para a análise de fadiga de um determinado componente, deve-se possuir ou estimar o


histórico dos carregamentos atuantes em um ponto crítico deste componente. No que se refere
a uma turbina eólica, existem basicamente duas formas de se realizar esta análise. A primeira
consiste em realizar várias medições dos carregamentos atuantes numa turbina em operação e
associar cada histórico de carregamento medido à uma velocidade média do vento
correspondente. Apesar de mais preciso, este método é muito caro, além de fornecer medidas
apenas para as velocidades de vento que ocorreram durante o período de medição e válidas
somente para os níveis de turbulência medidos. O método utilizado neste trabalho é o mais
comumente empregado, sendo caracterizado pela determinação de várias séries temporais
tridimensionais de vento, que são transformadas em séries de carregamentos através de
simulações dinâmicas da turbina eólica, utilizando-se programas computacionais
aeroelásticos.

O cálculo das séries temporais tridimensionais de vento foi realizado através do


módulo 3D Turbulent Wind do programa computacional Bladed. Para cada velocidade de
vento é necessário produzir um número de séries suficientes para se ter uma representação
satisfatória de suas características turbulentas. A partir das séries de vento, são determinadas
19

as séries de carregamentos para cada componente analisado (geralmente é escolhido um ponto


no componente onde o esforço analisado é máximo, como a raiz da pá, por exemplo). Estas
séries de carregamentos são analisadas e seus efeitos durante a vida útil da máquina são
somados de acordo com a distribuição de freqüência das velocidades de vento considerada.
Este procedimento é refeito sempre que se deseje analisar a influência de ventos com
diferentes características de turbulência ou densidade.

Para a análise destas séries, foi desenvolvida uma rotina no MatLab destinada a
realizar a contagem e classificação dos ciclos de carregamentos, a associação a um
carregamento equivalente médio e o cálculo do dano total e do carregamento equivalente total
(em 20 anos) associados aos parâmetros C e k da função estatística de Weibull.

2.3 GERAÇÃO DE ENERGIA

Para a estimativa da geração anual de energia de uma turbina eólica é comumente


realizado um cálculo levando-se em consideração sua curva de potência e a distribuição de
freqüência da velocidade do vento do local onde ela será instalada. Esta metodologia é
bastante simples e não leva em consideração a intensidade de turbulência do vento local.

No entanto, a curva de potência utilizada deve estar de acordo com a massa específica
do ar do local de projeto. Para uma turbina com controle de potência por estol, isto implica
ajustar o ângulo de passo global de cada pá, a fim de garantir que a turbina não irá ultrapassar
ou trabalhar aquém da potência nominal do gerador. Ou seja, deve-se ajustar a potência
nominal mecânica do rotor de acordo com o valor de projeto, através do ângulo de passo.

Durante a realização deste trabalho foi desenvolvida uma rotina no MatLab com a
finalidade de calcular estaticamente os esforços aerodinâmicos no rotor da turbina eólica
baseada na teoria do elemento de pá (ver capítulo 4). Este programa permite o cálculo da
curva de potência da turbina, sendo ajustado para obter os mesmos resultados do Bladed. Em
seguida, ele foi adaptado para calcular o ângulo de passo da pá para uma determinada
potência nominal e uma determinada massa específica do ar. A partir da curva de potência
calculada, o programa determina a energia gerada para um período de um ano em função dos
parâmetros k e C de Weibull, considerando 100% de disponibilidade da máquina.
20

3 MODELAGEM DO VENTO

Para o cálculo dos carregamentos atuantes em uma turbina eólica é de fundamental


importância, a escolha do modelo apropriado para a determinação do vento incidente em sua
estrutura. Este capítulo aborda os principais fundamentos teóricos utilizados para a
modelagem do vento, sendo basicamente dividido em três partes: considerações gerais, séries
temporais e velocidades extremas.

3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

As séries temporais tridimensionais estocásticas simulam as variações espaciais e


temporais devidas ao caráter turbulento do vento. Elas serão utilizadas neste trabalho
basicamente para a determinação dos carregamentos atuantes ao longo da vida útil da turbina
eólica, que podem levar parte de sua estrutura a falhar por fadiga, sem nunca ter atingido a
tensão máxima de ruptura.

A análise de ventos extremos terá como principal objetivo identificar a velocidade de


vento máxima que a turbina deverá suportar, quando instalada em um local com
características climáticas conhecidas.

Antes da abordagem dos tópicos supracitados, é importante apresentar algumas


características que são inerentes ao comportamento do vento. Estas características serão
consideradas, independentemente do tipo de análise realizada.

3.1.1 Distribuição estatística de Weibull

A função densidade de probabilidade de ocorrência das velocidades de vento de uma


determinada região é geralmente representada matematicamente pela função estatística de
Weibull. A distribuição de Weibull caracteriza-se por dois parâmetros: um de escala, C (em
m/s), e outro de forma, k (adimensional). A função densidade da probabilidade de ocorrência
de uma velocidade U é representada matematicamente por:
21

k U 
k −1
  U k 
f (U ) = ⋅   ⋅ exp −    (3.1)
C C    C  

Esta função de distribuição estatística será utilizada como base para caracterizar um
determinado local, do ponto de vista do comportamento eólico. Será dada uma maior ênfase
ao fator de forma k, que evidencia se uma distribuição é mais ou menos uniforme
(concentração de ocorrência em torno da média). Por questões práticas, o fator de escala C
não será utilizado diretamente, sendo designado através da velocidade média Vmed, que se
relaciona com C, através da função gama, Г , pela seguinte equação:

 1
Vmed = C ⋅ Γ1 +  (3.2)
 k

As principais análises serão realizadas para quatro velocidades médias de vento: 6 m/s;
7,5 m/s; 8,5 m/s e 10 m/s. Estas velocidades caracterizam, respectivamente, as classes de
projeto para turbinas eólicas: IV, III, II e I, previstas pela norma técnica IEC 614000-1
(1999). Para cada velocidade média serão levadas em conta diversas distribuições estatísticas,
sendo as principais, com o parâmetro k da função de Weibull igual a: 2, 3 e 4.

As figuras de 3.1 a 3.4 mostram os gráficos das principais distribuições estatísticas


consideradas:

Distribuição estatística de Weibull Distribuição estatística de Weibull

25%
25%
k=2 k=2
k=3 20% k=3
20%
Frequência (%)
Frequência (%)

k=4 k=4
15% 15%

10% 10%

5% 5%

0%
0%
0 5 10 15 20 25
0 5 10 15 20 25

Velocidade do Vento (m /s) Velocidade do Vento (m /s)

Figura 3.1 – Distribuições para Vmed = 6 m/s. Figura 3.2 – Distribuições para Vmed = 7,5 m/s.
22

Distribuição estatística de Weibull Distribuição estatística de Weibull

25% 25%

k=2 k=2
20% k=3 20% k=3
Frequência (%)

Frequência (%)
k=4 k=4
15% 15%

10% 10%

5% 5%

0% 0%
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25

Velocidade do Vento (m /s) Velocidade do Vento (m /s)

Figura 3.3 – Distribuições para Vmed = 8,5 m/s. Figura 3.4 – Distribuições para Vmed = 10 m/s.

3.1.2 Gradiente Vertical do Vento

O gradiente vertical da velocidade do vento é definido pela variação de sua velocidade


em relação à altura medida a partir do solo, conforme ilustrado na figura 3.5.

Figura 3.5 – Perfil vertical da velocidade do vento.

O perfil do vento é fortemente dependente das condições de estabilidade atmosférica,


rugosidade da superfície e dos obstáculos presentes nas redondezas, devendo ser considerado,
principalmente, nos cálculos dos carregamentos em rotores maiores que 10 m de diâmetro.
Para este trabalho, foi considerado o modelo exponencial, que representa esta variação de
forma simplificada através do expoente α, conforme a seguinte equação:
23

α
 h 
U = U ref ⋅  (3.3)
h 
 ref 

onde α é assumido como sendo igual a 0,2, conforme especificado na IEC 614000-1, (1999).

3.1.3 Efeito Sombra da Torre

O efeito da sombra da torre é definido como a distorção média causada pela torre no
fluxo de ar ao seu redor, conforme ilustrado na figura 3.6. Este fenômeno causa uma variação
no carregamento da pá sempre que ela se encontra próxima à torre, sendo importante mesmo
para turbinas que operam com o rotor posicionado à montante do fluxo de ar (upwind). Neste
trabalho, foi utilizado o método de fluxo potencial, que considera um fluxo laminar
incompressível em volta de um cilindro.

Figura 3.6 – Efeito sombra da torre sobre o vento incidente na torre.

3.1.4 Inclinação do Fluxo de Ar

Qualquer desvio da direção do vento em relação à direção normal ao plano de rotação


da turbina pode criar efeitos indesejáveis nos carregamentos aerodinâmicos e deve ser
considerado para efeito de cálculo. Durante sua operação, por exemplo, um ângulo ascendente
no fluxo de ar incidente no rotor, ocasiona uma diferença na intensidade e direção do vento
resultante sentido pela pá entre seu curso de subida e de descida, causando,
conseqüentemente, um carregamento cíclico em cada pá.
24

A variação no ângulo de incidência do vento em relação ao plano horizontal pode


ocorrer devido a efeitos térmicos ou topográficos. Na IEC 61400-1 (1999) é aconselhado o
uso de um ângulo de até 8 graus para a modelagem do vento. Neste trabalho, foi considerado
um ângulo de 5° ascendente em relação ao nível do solo.

3.2 SÉRIES TEMPORAIS ESTOCÁSTICAS

A simulação do vento é importante para a análise estrutural de turbinas eólicas devido


à não linearidade entre a turbulência atmosférica e os carregamentos aerodinâmicos. Para a
realização destes cálculos, é necessário o uso de séries temporais de vento que simulem seu
comportamento turbulento ao longo do tempo, em diferentes pontos do rotor. Este efeito é
conseguido utilizando-se várias séries temporais com posicionamento definido ao longo da
área do rotor que seguem propriedades estatísticas apropriadas para cada uma,
individualmente, e uma em relação à outra.

O comportamento das freqüências das variações da velocidade do vento é descrito


pelo espectro de turbulência. De acordo com a lei de Kolmogorov, o espectro deve possuir
uma forma assintótica proporcional a f--5/3 para altas freqüências (onde f é a freqüência em
Hertz). Esta relação é baseada no decaimento dos turbilhões de altíssima freqüência, quando a
energia turbulenta é dissipada na forma de calor.

Normalmente, dois modelos são utilizados para a determinação do espectro de


turbulência: o de Kaimal e o de von Karman. O modelo de Kaimal foi utilizado para este
trabalho, o qual, segundo Petersen et al. (1998 apud BURTON, 2001), apresenta um melhor
ajuste para observações empíricas da turbulência atmosférica.

A densidade auto-espectral para a componente longitudinal da turbulência de acordo


com o modelo de Kaimal é dada por:

f ⋅ Su ( f ) 4 ⋅ f (L1u / U )
= (3.4)
σ 2
u (1 + 6 ⋅ f (L1u / U ))5 / 3

Onde U é a velocidade média do vento e L1u é a escala de comprimento, que depende


da rugosidade da superfície e da altura acima do solo. O valor utilizado para L1u foi de 170,1
m, conforme especificado na IEC 61400-1, (1999).
25

A variação espacial da turbulência ao longo da seção transversal do fluxo é bastante


importante para a simulação do vento, uma vez que ela deve ser sentida pela pá ao girar pelo
seu plano de rotação. Desta forma, a descrição espectral da turbulência deve ser estendida
para incluir informações sobre a correlação cruzada, conhecida como função de coerência,
entre as flutuações turbulentas em pontos separados verticalmente e horizontalmente ao longo
do plano do rotor.

Para o modelo de Kaimal, não existe uma função analítica diretamente derivada do
modelo para a determinação da expressão da coerência espacial, sendo normalmente utilizada
uma função exponencial puramente empírica. Para este trabalho foi assumida a seguinte
expressão dada pela IEC 61400-1:

  0,12   f 
2 2 
   +    (3.5)
Cu (∆r , f ) = exp − 8,8 ⋅ ∆r 
 L
 u ( ∆r , f )  U  
 

3.2.1 Séries Temporais Tridimensionais

Para a criação das séries temporais foi utilizado o método das séries harmônicas,
desenvolvido por Shinozuca (1972) e posteriormente descrito detalhadamente em Veers
(1988). Esta metodologia é atualmente a mais utilizada pela indústria eólica e foi
implementada pelo programa computacional Bladed (BOSSANYI, 1977) no módulo 3D
Turbulent Wind, que considera apenas a componente longitudinal da turbulência para o uso do
espectro de Kaimal.

Segundo esta metodologia, as propriedades espectrais das flutuações da velocidade do


vento em N pontos podem ser descritas por uma matriz espectral, S, na qual os termos da
diagonal são as densidades de potência espectral em cada ponto Skk(n) e os termos fora da
diagonal são as densidades espectrais cruzadas, Sjk(n). Esta matriz é igualada ao produto de
uma matriz de transformação triangular, H, e sua transposta, HT, resultando em N(N+1)/2
equações, que relacionam os elementos da matriz S com os da matriz H. Os elementos da
matriz H podem ser considerados como fatores de ponderação para a combinação linear de N
entradas de sinais de ruído branco independentes, resultando em N saídas correlacionadas com
a matriz espectral correta. Então os elementos na j-ésima linha de H são os fatores ponderados
para os dados de entrada, contribuindo para a saída no ponto j. A equação para a combinação
linear é dada por:
26

j
u j ( f ) = ∑ H jk ( f ) ⋅ ∆n ⋅ exp(−iθ k ( f )) (3.6)
k =1

onde uj(f) é o coeficiente complexo da componente da freqüência da velocidade do vento


simulada no ponto j. θk(f) é uma variável randômica uniformemente distribuída ao longo do
intervalo de 0 a 2π, que representa o ângulo de fase associado à componente de freqüência f,
no ponto k.

As séries temporais são obtidas tomando a transformada inversa discreta de Fourier


dos coeficientes uj(f), em cada ponto j, resultando em uma velocidade de vento simulada em
cada intervalo de tempo para todos os N pontos no espaço.

3.2.2 Parâmetros admitidos

Para a determinação de uma série temporal tridimensional, considerando a


componente vertical, deve-se definir os principais parâmetros do volume simulado (figura
3.7) para atingir as características desejadas para o vento incidente no rotor.

A área transversal escolhida deve ser grande o suficiente para englobar o rotor da
turbina eólica e dividida em um número de pontos que permita representar bem a variação das
séries ao longo da área do rotor. O valor assumido para z e y foi de 30 m, divididos em 7
pontos, o que dá um total de 49 pontos de simulação ao longo da área transversal.

y x

Figura 3.7 – Volume da série temporal da velocidade do vento incidente no rotor da turbina.
27

Para uma dada velocidade média U, o valor de x deve ser suficiente para que a
passagem do volume através do plano do rotor dure o tempo total escolhido para a série. O
tempo de duração da série temporal apresenta forte influência no cálculo do carregamento
equivalente por fadiga, o qual será detalhado no capítulo 5, devendo-se utilizar o valor padrão
de 600 segundos (THOMSEN, 1998).

A quantidade de divisões ao longo de x determina a resolução da série, que deve ser


definida de acordo com a freqüência que se deseja fazer as análises. Para as análises de
fadiga, utiliza-se uma freqüência de amostragem superior a 20 Hz (IEA, 1990). Como as
séries são obtidas a partir da transformada inversa de Fourier, deve-se usar um número de
pontos que seja da forma 2N. Para satisfazer as duas condições, pode-se dividir o valor de x
por 16.384 (equivalente a 214), o que proporciona um intervalo de 0,036621 segundos (600
segundos ÷16.384), equivalente a aproximadamente, 27,3 Hz.

A figura 3.8 mostra um trecho de 60 segundos da série temporal unidimensional que


incide sobre o cubo do rotor com velocidade média de 9 m/s e intensidade de turbulência
igual a 18,67%, conforme será apresentado na equação 3.11.

Velocidade do vento incidente no cubo

13

12
velocidade (m/s)

11

10

7
0 10 20 30 40 50 60
tempo (s)

Figura 3.8 – Série temporal da velocidade do vento incidente no cubo.


28

3.3 VELOCIDADES EXTREMAS

As condições extremas de vento são utilizadas para a determinação dos carregamentos


críticos que uma turbina eólica deve suportar ao longo de sua vida útil. A velocidade de vento
normalmente utilizada para este cálculo é a rajada máxima com probabilidade de uma única
ocorrência num período de 50 anos, conhecida como “velocidade de sobrevivência”.
Obviamente, esta velocidade depende da duração da rajada e das condições climáticas da
região do projeto.

Na IEC 61400-1 (1999), a velocidade de projeto para uma rajada com duração de 3
segundos é proporcional à velocidade de referência, Vref (ver equação 3.14), dada pela norma
e interpretada como a velocidade média de 10 minutos, com período de retorno de 50 anos.
Por sua vez, a velocidade de referência é tabelada unicamente em função da velocidade de
vento média anual, Vmed, sendo igual a 5 vezes o seu valor. Esta mesma relação pode ser
encontrada em normas técnicas de construções britânicas e alemãs.

Em trabalho realizado para a Comissão Européia, Dekker et al. (1998) apresentaram uma
metodologia de cálculo para a velocidade de sobrevivência, levando em consideração a
distribuição estatística da velocidade de vento e comparando estes valores com os dados na
IEC 61400-1 (1999). Esta metodologia será apresentada nesta seção e será aplicada para a
determinação da rajada máxima de 3 segundos em função dos parâmetros Vmed e k, o que
possibilitará o calculo da velocidade de sobrevivência para locais cujas condições climáticas
sejam distintas das utilizadas nas normas internacionais (como é o caso da região Nordeste do
Brasil).

3.3.1 A função da distribuição de probabilidade da velocidade média de 3 segundos

Como mostrado no item 3.1.1, a distribuição das velocidades médias do vento de um


determinado local pode ser representada pela função densidade de probabilidade de Weibull a
partir dos parâmetros C e k. Geralmente, estas médias são calculadas em intervalos de
integração de 10 minutos.

Na prática, estes valores são calculados em anemógrafos computadorizados,


representando a média aritmética de velocidades de vento registradas com intervalos de
amostragem bem menores. Estas velocidades de curto período são denominadas de uT, onde T
29

é o intervalo de amostragem. Em campanhas de medição de vento para fins de aproveitamento


da energia eólica, é comum obter-se a cada 10 minutos a média aritmética U e o desvio
padrão σT do conjunto de velocidades uT, porque é assumido que elas se apresentam
distribuídas segundo a função normal:

1  1  u − U 
f (uT | U ) = ⋅ exp −  T  (3.7)
σT 2π  2  σ T 

De acordo com a teoria da probabilidade, a densidade condicional de Y, dado X, é:

f ( x, y )
f ( y | x) ≡ (3.8)
f x ( x)

onde f(x,y) é a função densidade de probabilidade de ligação entre X e Y, e


f x ( x) = ∫ −∞∞ f ( x, y )dy é a função densidade marginal de X. Usando a equação 3.8, encontra-se:

f (uT ,U ) = f (uT | U ) ⋅ f (U ) (3.9)

desenvolvendo:

∞  1   uT − U    k  U  k −1   U  k  
f (uT ) = ∫  
⋅ exp −  
  ⋅  ⋅   ⋅ exp −  C    ⋅ dU (3.10)
0
σ T (U ) ⋅ 2π   2σ T    C  C      

O desvio padrão, σT, é definido como sendo a parte do desvio padrão total σu, após
aplicar-se um filtro passa baixa com um tempo médio de 3 segundos. O valor de σT assumido
foi calculado por Bergström (1992) como sendo σT = 0,89σu.

O desvio padrão σu é uma variável randômica bastante utilizada para a determinação


da intensidade de turbulência de um determinado local. Para este trabalho, foi assumida a
equação dada na IEC para condições de baixa turbulência em função da velocidade média U:

σ u = 0,12U + 0,6 (3.11)


30

A partir das equações apresentadas é possível determinar a função densidade de


probabilidade para as médias de 3 segundos para diferentes distribuições de vento. Pode-se
admitir que a curva resultante é a soma das curvas normais ponderadas pela distribuição de
Weibull, conforme ilustrado na figura 3.9.

Figura 3.9 – Gráfico ilustrativo da soma das distribuições normais ponderadas.

A distribuição resultante da soma das distribuições é semelhante à distribuição de


Weibull para as médias de 10 minutos, com exceção de sua maior extensão na direção dos
valores mais altos. Além disso, devido à contribuição das distribuições normais, esta curva
tende a -∞.

A função distribuição cumulativa de uT é dada por:

uT ∞
 1   u T − U    k  U  k −1   U  k  
F (u T ) = ∫ ∫ σ (U ) ⋅ 2π ⋅ exp −
   ⋅
   ⋅   ⋅ exp −     ⋅ dU ⋅ du T (3.12)
−∞ 0  T   2σ T    C  C    C   

Para o cálculo desta integral dupla, foi desenvolvida uma rotina de integração
numérica no MatLab ao longo dos intervalos de integração de [–60, 160] m/s e [0, 80] m/s
discretizados em pequenos passos de 0,1 m/s.
31

Assumindo n observações independentes e identicamente distribuídas, a distribuição


do valor extremo é dada pela distribuição da enésima ordem estatística (CASTILLO, 1988):

FX f;f (uT ) = F f (uT ) (3.13)

O valor de f é dado pela freqüência efetiva demonstrada por Bergström (1992),


calculado como sendo igual a 315.576, para uma distribuição de um ano com médias de 3
segundos.

3.3.2 Velocidades extremas de 3 segundos para um ano e para cinqüenta anos

As velocidades extremas de 3 segundos com probabilidade de ocorrerem a cada ano e


a cada 50 anos são denominadas pela IEC como Ve1 e Ve50, respectivamente. Elas são
definidas a partir da velocidade de referência pelas seguintes equações:

Ve 50 ( z ) = 1,4 ⋅ Vref ⋅ ( z / zcubo )0,11 (3.14)

Ve1 ( z ) = 0,75 ⋅ Ve50 ( z ) (3.15)

Segundo Dekker et al. (1998), a definição dada pela IEC é muito vaga, não
informando o tamanho das amostras consideradas. Desta forma, foi assumido em seu trabalho
que Ve50 é a velocidade de vento média de 3 segundos com 2% de probabilidade de ser
excedida em um ano, ou possui um tempo de retorno de 50 anos. Um pouco menos óbvia é a
definição para a velocidade Ve1, que leva em consideração a localização central dos possíveis
valores máximos, o que corresponde a um nível de confiança de aproximadamente 63,21%.

Utilizando estes níveis de confiança na função cumulativa de probabilidade encontrada


anteriormente, é possível determinar a velocidade extrema para cada condição eólica
considerada nesta dissertação. O gráfico abaixo mostra as velocidades extremas em relação ao
k da função de Weibull para as velocidades médias anuais previstas para cada classe de
projeto da IEC.
32

Velocidade Extrema - Ve50


80

Classe I
70
Velocidade extrema (m/s)

Classe II
60
Classe III
50

Classe IV
40
10 m/s

30 8.5 m/s
7.5 m/s
6 m/s
20

10
1 1,5 1.82 2 2,5 3 3,5 4

k de Weibull

Figura 3.10 – Gráfico ilustrativo da soma das distribuições normais ponderadas.

As velocidades extremas Ve50, encontradas para cada caso estudado neste trabalho são
apresentadas na tabela 3.1 em função da velocidade média anual e do fator de forma da
função de Weibull.

Tabela 3.1 – Velocidades extremas Ve50.

Velocidade Média

6 m/s 7,5 m/s 8,5 m/s 10 m/s

2 37,0 m/s 45,9 m/s 51,8 m/s 60,7 m/s


k de Weibull

3 24,1 m/s 29,7 m/s 33,4 m/s 38,9 m/s

4 19,8 m/s 24,1 m/s 27,1 m/s 31,4 m/s

As curvas traçadas na figura 3.10 mostram que as velocidades extremas diminuem


com o aumento do k de Weibull. Esta conclusão é bastante importante para este trabalho, uma
33

vez que ele se baseia principalmente na variação deste fator para diferenciar a caracterização
das condições de vento entre determinados locais. De acordo com a metodologia apresentada,
o valor de k utilizado para a determinação das velocidades Ve50 na norma IEC foi de
aproximadamente 1,8, conforme mostrado na figura 3.10. A norma européia para turbinas
eólicas II (DEKKER et al., 1998) chama a atenção para o problema do uso destes valores em
locais com características complexas que possuem um fator k de até 1,4, podendo apresentar
velocidades extremas mais elevadas que as previstas na IEC. Por outro lado, ao estender-se
esta análise teórica para locais que apresentam um valor do fator k mais elevado que 2, como
na região Nordeste do Brasil, estas velocidades previstas para o projeto tornam-se muito
conservativas. Esta consideração é bastante importante, uma vez que o uso de velocidades
extremas de vento mais baixas no projeto de uma turbina eólica implica o desenvolvimento de
estruturas mais simples e, conseqüentemente, com um menor custo de fabricação.

No Brasil, apesar de ainda não existirem normas técnicas dedicadas exclusivamente


para a fabricação de turbinas eólicas, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
possui em seu acervo uma norma dedicada às considerações das forças devidas ao vento em
edificações (ABNT NBR 6123, 1988). Semelhante à velocidade Ve50 , definida na IEC, a NBR
6123 define a velocidade básica do vento, V0, como sendo “ a velocidade de uma rajada de 3
s, excedida em média uma vez em 50 anos, a 10 m acima do terreno, em campo aberto e
plano”. Esta velocidade deve ser utilizada com alguns fatores de correção que levam em
conta a topografia do local, rugosidade do terreno, dimensões da edificação, altura sobre o
terreno, etc.

A figura 3.11 apresenta o gráfico das isopletas da velocidade básica no Brasil, com
intervalos de 5 m/s. Apesar de ser apresentado em macro escala, pode-se observar uma
tendência de rajadas mais baixas na região nordeste, conforme discutido nesta dissertação.
34

Figura 3.11 – Isopletas da velocidade básica V0, no Brasil.


Fonte: Norma técnica NBR 6123 - ABNT.
35

4 MODELAGEM DA TURBINA EÓLICA

Neste capítulo, serão apresentados os principais fundamentos teóricos utilizados para a


modelagem da turbina eólica OWW-250, bem como seus principais parâmetros de projeto.

Para os cálculos dos carregamentos realizados nesta dissertação foi utilizado o


programa computacional Bladed (BOSSANYI, 1977). Este programa é baseado em um
método de análise modal, combinado com um módulo de cálculo aerodinâmico.

Os modelos e os métodos teóricos incorporados pelo Bladed foram validados através


de dados de monitoramento de diversas turbinas eólicas de diferentes fabricantes (ibid.). Os
fundamentos mais importantes para a modelagem da turbina eólica OWW-250, utilizada
como referência para as simulações, serão apresentados sucintamente neste capítulo.

4.1 CARREGAMENTOS AERODINÂMICOS

4.1.1 Teoria do disco atuador

O modelo mais simples utilizado para a descrição do comportamento de uma turbina


eólica é baseado na teoria do disco atuador, formulada por Rankine em 1865 e R. Froude em
1889 (GLAUERT, 1935). Considerando que as turbinas eólicas extraem energia do vento
produzindo um decréscimo de pressão logo após a sua passagem pela área varrida pelo rotor.
À medida que o ar se aproxima, ele desacelera gradativamente, resultando em um aumento de
sua pressão estática. A redução de pressão ao passar através do plano de rotação faz com que
o ar que se encontra atrás do rotor apresente pressão abaixo da atmosférica. Ao se afastar, sua
pressão retorna à pressão inicial, ocasionando uma nova redução em sua velocidade,
conforme mostrado na figura 4.1. Parte desta redução da energia cinética do vento que
atravessa o rotor da turbina eólica é transformada em energia mecânica.

De acordo com a teoria do disco atuador para o processo descrito acima, a velocidade
do vento Ud no disco do rotor é relacionada com a velocidade de vento montante U0, da
seguinte forma:

U d = (1 − a ) U 0 (4.1)
36

Figura 4.1 – Ilustração da linhas de corrente que passam pelo rotor e velocidade axial e pressão do vento.

A redução da velocidade do vento no rotor é determinada por a, denominada de fator


de indução axial da velocidade.

Aplicando a equação de Bernoulli e assumindo que o fluxo de ar é uniforme na seção


transversal, pode ser mostrado que a potência extraída pelo rotor é dada por:

P = 2 ρAU 03 a (1 − a ) 2 (4.2)

onde ρ é a massa específica do ar e A, a área varrida pelo rotor.

A força de empuxo aerodinâmico atuante no rotor pode ser obtida similarmente como:

T = 2 ρAU 02 a (1 − a ) (4.3)

Os coeficientes adimensionais para a potência extraída e para a força de empuxo


aerodinâmico são, respectivamente:

2P
CP = = 4a (1 − a ) 2 (4.4)
ρAU 0
3

2T
CT = = 4a (1 − a ) (4.5)
ρAU 02
37

4.1.2 Rotação da esteira

O modelo do disco atuador admite uma estimativa da energia extraída do vento de


forma simplificada, sem considerar que a potência absorvida pelo rotor é um produto do
torque M, pela velocidade rotacional Ω. Desta forma, faz-se necessário a modelagem da
rotação da turbina e de sua esteira, onde o torque desenvolvido pelo rotor deve ocasionar uma
taxa igual de variação de momento angular no vento, induzindo uma velocidade tangencial à
rotação do rotor. A mudança na velocidade tangencial é expressa em termos do fator de
indução tangencial, a’. Na montante à turbina, a velocidade tangencial é zero, ao passar pelo
rotor, a velocidade tangencial é Ωra’ e distante, à jusante, a velocidade tangencial é de 2Ωra’.
Como ela é produzida em relação ao torque, a velocidade induzida possui sentido oposto ao
movimento das pás.

O desenvolvimento detalhado das equações pode ser visto em Glauert (1935) que é
proveniente de uma simplificação do modelo de Joukowski. A partir de seu trabalho, pode-se
definir que o torque gerado pelo rotor é igual à razão de mudança do momento angular:

M = ρπR 4 (1 − a )a 'U 0 Ω (4.6)

4.1.3 Teoria do elemento de pá

O método do elemento de pá relaciona o desempenho de um rotor com a sua


geometria e características aerodinâmicas das pás que o constituem, sendo uma continuação
da teoria do disco atuador. Este método permite uma modelagem mais precisa da turbina
eólica. Inicialmente conhecido como “teoria das faixas”, passou a ser chamado de método do
elemento de pá modificado por Wilson e Lissaman (1974), tendo como origem os trabalhos de
W. Froude em 1878 e desenvolvimento atribuído, primeiramente, a Drzeviecki (de 1892 a
1907) e, posteriormente, a Glauert (1935).

Neste método, o tubo de corrente de ar incidente no rotor da turbina eólica é


discretizado em N elementos anulares de largura dr, conforme mostrado na figura 4.2. Os
limites laterais destes elementos são linhas de corrente, não existindo fluxo passando de um
elemento para outro. Para cada posição radial, as razões da variação da velocidade axial e
tangencial são equacionadas com o empuxo e o torque produzidos em cada elemento de pá.
38

O empuxo dT desenvolvido por cada elemento de comprimento dr localizado num raio


r é dado por:

ρVrel 2 (C L cos φ + C D senφ ) B ⋅ c ⋅ dr


dT = (4.7)
2

Figura 4.2 – Volume de controle em forma anular.

Onde φ é o ângulo de incidência do fluxo de ar no aerofólio, B é o número de pás, c é a


corda do elemento de pá e CL e CD são os coeficientes de sustentação e arrasto,
respectivamente.

Os coeficientes de sustentação e arrasto são definidos para um aerofólio por:

2L
CL = (4.8)
ρVrel 2 S

2D
CD = (4.9)
ρVrel 2 S

Onde L e D são as força de sustentação e arrasto, S é a área do aerofólio e Vrel é a


velocidade do vento relativa ao aerofólio.
39

O torque dM desenvolvido por um elemento é:

ρVrel 2 r (C L senφ + C D cos φ ) B ⋅ c ⋅ dr


dM = (4.10)
2

Para o cálculo dos fatores de indução em uma posição radial referente a um dado
elemento de pá, as equações que determinam o empuxo e o torque desenvolvido pelo
elemento são igualadas com as equações referentes à variação de momento axial e tangencial
do fluxo que passa pelo respectivo elemento anelar. Considerando o coeficiente de solidez σ,
que define a fração de área do volume anular coberto pelas pás, obtém-se as seguintes
equações para os fatores de indução:

1
a=
 4 Fsen 2φ  (4.11)
 + 1
 σ ⋅ Cn 

1
a`=
 4 Fsenφ cos φ  (4.12)
 − 1
 σ ⋅ C t 

Onde Cn e Ct são os coeficientes adimensionais relativos às resultantes das forças de


arrasto e sustentação nas direções normal e tangencial ao plano de rotação e F é o fator de
correção para as perdas nas pontas.

Quando o fator de indução axial torna-se mais alto que aproximadamente 0,5, a teoria
simples da conservação do momento para o rotor de uma turbina eólica não é mais válida.
Desta forma, para valores elevados do fator de indução axial, utiliza-se uma equação empírica
para o coeficiente de empuxo. A equação utilizada no Bladed para definir CT, se apresenta da
seguinte forma:

CT = 0,79a 2 + 0,61a + 0,6 (4.13)


40

4.1.4 Fator de perdas nas pontas de Prandtl

Devido à consideração de que o rotor possui um número infinito de pás, é necessária a


introdução de um fator de correção. Para a correção do modelo, levando em conta a diferença
do sistema de vortex na esteira de um rotor com número finito de pás, usa-se o fator de perdas
nas pontas de Prandtl, F, calculado por:

2
F= ⋅ ar cos(e − f ) (4.14)
π

onde,

B R−r
f = ⋅ (4.15)
2 2 ⋅ r ⋅ sen φ

B é o número de pás, R é o raio total da pá, r o raio local e φ o ângulo de incidência do fluxo.

4.1.5 Cálculo da curva de potência

Após a determinação das forças normal e tangencial em cada seção da pá, é possível
calcular a curva de potência e de empuxo da turbina eólica. Para o cálculo do torque mecânico
extraído pelo rotor, deve-se integrar as componentes tangenciais FT,i calculadas para cada
seção i ao longo de toda a pá, assumindo uma variação linear entre as seções ri e ri+1. Vale
ressaltar que estas componentes FT,i possuem unidade de força (N) por comprimento (m). O
torque dM para uma seção da pá de comprimento dr é:

 FT ,i +1 − FT ,i 2 FT ,i ⋅ ri +1 − FT ,i +1 ⋅ ri 
dM = r ⋅ FT ⋅ dr =  ⋅r + ⋅ r  ⋅ dr (4.16)
 ri +1 − ri ri +1 − ri 

O torque total no eixo é a integral de dM ao longo da pá, multiplicada pelo número de


pás B. Conhecendo a velocidade rotacional Ω, pode-se calcular para cada velocidade de
vento, a potência mecânica extraída pelo rotor:

Pot (U ) = Ω ⋅ M total (U ) (4.17)


41

Apesar de a turbina estudada ser considerada como de velocidade fixa, a velocidade


rotacional apresenta uma pequena variação em função do escorregamento do gerador
assíncrono. Esta variação pode ser assumida linearmente proporcional ao torque no rotor, para
velocidades de rotação próximas à velocidade síncrona.

Para uma turbina eólica com controle passivo por estol, deve-se ajustar o ângulo de
passo global durante a montagem da pá no cubo, para que se obtenha a potência nominal
correta. Um ângulo de passo maior faz com que o ângulo de ataque do vento sobre o aerofólio
da pá seja menor, o que adia o início do seu estolamento, e, por conseqüência, aumenta a
potência nominal da turbina. Este artifício é utilizado para o ajuste da potência nominal da
máquina para locais com diferentes valores da massa específica do ar.

4.2 DINÂMICA ESTRUTURAL

Os cálculos dos carregamentos dinâmicos estruturais para uma turbina eólica são
geralmente realizados por um programa computacional baseado em procedimentos de
cálculos aeroelásticos. O objetivo da análise aeroelástica de uma turbina eólica é resolver as
equações de movimento de uma dada configuração de forças atuantes na estrutura e de forças
geradas pela própria estrutura. Ou seja, esforços provenientes da interação entre forças
elásticas, inerciais e aerodinâmicas.

Duas metodologias são geralmente utilizadas para modelagem da dinâmica estrutural


de uma turbina eólica. A primeira consiste no uso do método de elementos finitos, onde a
estrutura flexível é dividida em um número suficientemente grande de elementos. As
equações de movimento são deduzidas a partir das características do material em estudo,
sendo restritas a pequenas perturbações relativas à posição de equilíbrio. Um exemplo do uso
deste modelo para o estudo de turbinas eólicas é o Adams-WT (HANSEN, 1998),
desenvolvido a partir de um programa comercial de elementos finitos (Adams) fazendo
interface com um módulo aerodinâmico.

A segunda metodologia, utilizada neste trabalho através do programa computacional


Bladed (BOSSANYI, 1997), consiste no uso do método de análise modal, utilizando uma
abordagem simplificada do método de elementos finitos para prever os primeiros modos de
vibração da estrutura como um todo e de algumas partes principais, separadamente. As
42

equações de movimento para estes modos são resolvidas através das equações generalizadas
de Lagrange com as condições de contorno apropriadas. Os carregamentos aerodinâmicos são
calculados separadamente, conforme explicado na seção anterior.

4.2.1 Análise Modal

Análise modal é o processo de determinação dos parâmetros modais, que são


suficientes para a formulação de um modelo matemático dinâmico. A resposta dinâmica livre
de uma estrutura pode ser reduzida a uma quantidade limitada de modos de vibração. Os
parâmetros modais são: a freqüência natural, o amortecimento e o modo de vibração
propriamente dito. Dentro de um intervalo de freqüência de interesse, os parâmetros modais
de todos os modos de vibração constituem uma descrição dinâmica completa da estrutura.

As equações de movimento que descrevem a dinâmica das pás de uma turbina eólica
contêm termos com coeficientes periódicos devido ao seu movimento de rotação. Esta
periodicidade faz com que a computação das propriedades modais de uma turbina eólica em
operação como uma estrutura única completa não seja possível utilizando a análise padrão de
autovalores e autovetores.

A solução adotada para resolução do sistema periódico consiste em calcular as


propriedades modais dos elementos que apresentam movimento rotacional e dos que não
apresentam, separadamente. Os modos de vibração de cada componente são relacionados,
posteriormente, levando-se em consideração as equações de movimento da turbina eólica para
a análise de vibração forçada.

4.2.1.1 Modos de vibração

A vibração da pá de uma turbina eólica é um fenômeno bastante complexo devido à


variação de sua geometria ao longo de seu comprimento. Para sua solução, é utilizado o
método dos modos ortogonais da estrutura, no qual cada modo é determinado em função dos
seus parâmetros modais.

Para o cálculo das freqüências naturais e dos modos de vibração da pá é necessário


conhecer a distribuição de sua massa e de sua rigidez de flexão ao longo de seu comprimento,
tanto na direção da corda do aerofólio de cada seção, quanto na direção ortogonal à corda. A
43

distribuição do ângulo de passo da pá permite o cálculo dos modos de vibração resultantes na


direção paralela e ortogonal ao seu plano de rotação.

Os cálculos levam ainda em consideração se o rotor se encontra travado pelo freio a


disco, pois quando o freio se encontra ativado, o rotor apresenta diferentes modos de vibração.
Além disso, a rigidez das pás é ajustada de acordo com sua velocidade rotacional devido à
força centrífuga que atua durante sua flexão, ocasionando um aumento de sua rigidez.

As freqüências naturais e os modos de vibração do rotor são calculados a partir dos


autovalores e autovetores de uma representação da estrutura do rotor por elemento finito. O
modelo de elemento finito do rotor é baseado em elementos de viga bidimensionais para
determinação das propriedades de massa e rigidez das pás.

Para a representação da dinâmica da flexão da torre é utilizada a mesma metodologia


para pá, sendo baseada em dois graus de liberdade: um na direção paralela e outro
perpendicular à direção de incidência da velocidade do vento. No entanto, para a torre é
necessário considerar-se a massa do rotor e da nacele, concentradas no centro do cubo e no
centro de massa da nacele, respectivamente.

4.2.1.2 Equações de movimento

O acoplamento dos graus de liberdade entre as partes rotacionais e não rotacionais


torna a manipulação algébrica da dinâmica de uma turbina eólica bastante complexa. Para a
resolução deste problema são utilizados princípios de energia e as equações generalizadas de
Lagrange. Foram considerados os seguintes graus de liberdade nas equações de movimento
para o modelo da dinâmica estrutural:

- Movimento de flexão da pá ortogonal ao plano de rotação;


- Movimento de flexão da pá paralelo ao plano de rotação;
- Movimento de flexão da torre na direção paralela ao vento;
- Movimento de flexão da torre na direção ortogonal ao vento;
- Movimento de giro horizontal da nacele.

Para cada grau de liberdade está associado um ou mais modos de vibração.


44

Os eixos do sistema de coordenadas utilizado são posicionados de acordo com o


elemento analisado. O eixo de coordenadas do cubo apresenta uma pequena rotação em
relação ao da torre devido ao ângulo de tilt do eixo rotor. O eixo utilizado para a pá não é
fixo, pois acompanha o seu movimento de rotação. A figura 4.3 mostra o posicionamento dos
eixos de coordenadas.

Figura 4.3 – Sistema de coordenadas utilizado para a torre, o cubo e a pá

A equação de movimento para um único grau de liberdade, desconsiderando os


acoplamentos com outros graus de liberdade, pode ser escrita como:

Fi
q&&i + 2ξ i ω i q& i + ω i2 q = (4.18)
Mi

onde qi é o deslocamento em função do tempo, ξi é coeficiente de amortecimento e ωi, a


freqüência natural de vibração. A massa Mi e a força Fi são definidas como:

Mi = ∫ m(r )φ i2 (r )dr (4.19)


rotor
45

Fi = ∫ f (r )φ i2 (r )dr (4.20)
rotor

sendo m(r) e f(r) a distribuição da massa e da força atuante e φi(r), o modo de vibração.

Todos os graus de liberdade são acoplados entre si e a equação geral de movimento


torna-se:

[ M ] q&& + [C ] q& + [ K ] q = F (4.21)

onde [M], [C] e [K] são as matrizes de massa, amortecimento e rigidez, respectivamente; F é o
vetor força atuante sobre a estrutura, normalmente em função do tempo, e q é o vetor
deslocamento que contém translações e/ou rotações. A primeira e segunda derivada de q
correspondem aos vetores velocidade e aceleração, respectivamente.

A aeroelasticidade da turbina eólica é levada em conta nas equações de movimento


pela consideração da interação do vetor velocidade da estrutura com o vetor velocidade do
vento em cada elemento ao longo da pá. O vetor velocidade estrutural é a soma dos
movimentos devidos a todos os graus de liberdade.

Os carregamentos estruturais atuantes no rotor, nacele e torre são computados através


da soma das forças inerciais e aerodinâmicas. Os carregamentos inerciais são calculadas pela
integração das propriedades de massa e do vetor aceleração em cada estação. O vetor
aceleração inclui as componentes modais, centrífugas, gravitacionais e de Coriolis.

4.3 TURBINA EÓLICA OWW 250

A turbina eólica utilizada para as simulações nesta dissertação foi fabricada pela Wind
World A/S e encontra-se instalada na área de testes do Centro Brasileiro de Turbinas Eólicas -
UFPE, em Olinda. A turbina eólica tem potência nominal de 250 kW, controlada
passivamente por estol aerodinâmico. Sua torre possui 30 m de altura e o rotor tem um
diâmetro de 29m. A figura 4.4 mostra uma foto da turbina eólica OWW-250.
46

Figura 4.4 – Turbina Eólica OWW-250.

A figura 4.5 apresenta um desenho esquemático da parte superior da turbina e alguns


dos principais componentes presentes na sua nacele.
47

1 - Cubo
2 - Multiplicador 9 - Bomba de óleo
3 - Gerador 10 - Filtro de óleo
4 - Fuselagem da nacele 11 - Sensor de pressão do óleo
5 - Sensores de direção e velocidade 12 - Sensor de temperatura
6 - Sistema de giro “yaw” 13 - Controle remoto
7 - Reservatório hidráulico 14 - Abertura de passagem
8 - Sistema de freio a disco 15 - Bloco de amortecimento

Figura 4.5 – Desenho esquemático da turbina eólica OWW-250 e os principais componentes da nacele.
Fonte: Material de divulgação da Wind World A/S.

4.3.1 Pás

As pás utilizadas na turbina eólica são do modelo LM 13.4 fabricadas pela LM


Glasfiber A/S em fibra de vidro e epoxi. As pás são equipadas com freios aerodinâmicos, o
que permite que suas pontas, aproximadamente 2 m de comprimento, girem em 90° em torno
de seu eixo axial reduzindo a velocidade de rotação do rotor. A seguir, a tabela 4.1 apresenta
as principais características das pás.
48

Tabela 4.1 – Principais características das pás da turbina eólica.

Comprimento da pá: 13.390 mm


Corda máxima na raiz: 1.259 mm
Corda na ponta: 30 mm
Área: 10,7 m2
Variação do ângulo de passo: 13,25 graus
Freqüência natural na direção da corda: 2,38 Hz
Freqüência natural na direção ortogonal à corda: 4,04 Hz
Peso: 750 kg
Distância entre o centro de gravidade e a raiz: 4.100 mm
Aerofólios utilizados: NACA 63-4XX e FFA-W3

A pá é o principal elemento a ser modelado em uma turbina eólica. Para a


determinação das cargas aerodinâmicas atuantes no rotor é necessário conhecer para cada
seção da pá, qual aerofólio está sendo utilizado, sua espessura, corda e ângulo em relação ao
plano de rotação. Para as simulações dinâmicas, faz-se ainda necessário conhecer a
distribuição de massa e rigidez nas duas direções principais ao longo de seu comprimento.
Apesar destes últimos dados não poderem ser apresentados por questões de confidencialidade,
eles podem ser estimados a partir da geometria da pá, do coeficiente de rigidez do material e
da massa total da pá.

As figuras 4.6 e 4.7 mostram a distribuição da corda e do ângulo de passo ao longo da


pá, respectivamente.

Distribuição da corda
1.5

1.0
corda (m)

0.5

0.0
0 3 6 9 12 15

comprimento (m)

Figura 4.6 – Distribuição da corda do aerofólio ao longo da pá.


49

Distribuição do ângulo de passo

15
ângulo de passo

10

0
0 3 6 9 12 15

comprimento (m)

Figura 4.7 – Distribuição do ângulo de passo de cada seção ao longo da pá.

4.3.2 Extensor do Cubo

Devido às condições de baixas velocidades de vento apresentadas em Olinda, foram


utilizados extensores no cubo para aumentar o diâmetro final do rotor. Os extensores são
cilindros metálicos que são conectados entre as pás e o cubo através de flanges. Eles
apresentam 67 cm de diâmetro, 40 cm de comprimento e massa de 170 Kg.

4.3.3 Torre

A torre utilizada na turbina OWW-250 é tubular cônica, dividida em duas seções de 15


m que são parafusadas entre si, totalizando 30 m de altura. O diâmetro da base é de 2,25 m e
o do topo é de 1,5 m sendo a variação de diâmetros linear ao longo de seu comprimento. A
torre é construída com chapas metálicas soldadas que possuem espessuras maiores em sua
base e menores no topo, com massa total de 24 toneladas. Para efeito de cálculo foi
desconsiderada a conexão por flange no centro da torre e a abertura da porta em sua base, o
que permite o acesso ao seu interior. As espessuras das chapas metálicas ao longo da torre
foram estimadas por projetos similares e por sua massa total e os parâmetros de rigidez foram
estimados utilizando-se valores padrões para o aço.
50

5 ANÁLISE ESTRUTURAL

Este capítulo aborda a metodologia utilizada para a análise dos carregamentos atuantes
na turbina eólica, focalizando a fadiga de sua estrutura e os carregamentos extremos aos quais
ela é submetida ao longo de sua vida útil. Com o objetivo de contribuir para a análise de cada
caso estudado, também será apresentada a metodologia utilizada para estimar a energia anual
gerada pela turbina eólica.

Algumas simplificações serão assumidas para este capítulo, uma vez que os resultados
procurados não visam à determinação dos limites absolutos de resistência do material e sim a
uma comparação entre os carregamentos que atuam em uma turbina eólica instalada em locais
com diferentes regimes de vento. Desta forma, não serão levados em consideração fatores de
correção, como, por exemplo, o fator de segurança.

Para a análise estrutural da turbina eólica foi escolhido um grupo de carregamentos


atuantes na torre, nas pás e no cubo do rotor. Os carregamentos analisados são listados na
tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Principais casos de carregamentos analisados.

Localização Carregamento Unidade Descrição

Momento fletor Mx Nm Flexão no plano de rotação (lag)


Raiz da

Momento fletor My Nm Flexão ortogonal ao plano de rotação (flap)

Torque Mx Nm Torque mecânico total no rotor

Momento My Nm Giro vertical (tilt)


Centro do
cubo
Momento Mz Nm Giro horizontal (yaw)

Força Fx N Força de empuxo (thrust)

Momento fletor Mx Nm Flexão ortogonal à direção do vento incidente


Base da
torre
Momento fletor My Nm Flexão na direção do vento incidente

O sistema de coordenadas está indicado na figura 4.3.


51

5.1 ANÁLISE DE FALHA POR FADIGA

A fadiga é um processo de redução da capacidade de componentes estruturais


suportarem carregamentos devido à ruptura lenta de seu material. A fadiga é produzida pela
ação de tensões que variam com o tempo, mesmo que não excedam o limite elástico do
material. Essas deformações levam a uma deterioração do material, que dá origem a uma
trinca de fadiga. Com o prosseguimento do carregamento variável, a trinca vai crescendo, até
atingir um tamanho suficiente para provocar a ruptura final, mesmo sem nunca ter alcançado
sua tensão limite de ruptura.

Uma turbina eólica é submetida a um grande número de ciclos de carregamentos


durante sua vida útil. Estes carregamentos dinâmicos são produzidos, principalmente, pela
rotação de suas pás e pela natureza turbulenta do vento incidente sobre sua estrutura. Estas
características de funcionamento tornam a análise da resistência à fadiga dos principais
componentes, fundamental para o projeto de uma turbina eólica. A figura 5.1 mostra a
variação do momento fletor na raiz de uma das pás, durante a operação da turbina eólica numa
velocidade média do vento de 9 m/s.

Momento Fletor My na Pá (direção ortogonal ao plano de rotação)


80
momento fletor (kN.m)

70

60

50

40

30
0 10 20 30 40 50 60
tem po (s)

Figura 5.1 – Série temporal do momento fletor na raiz da pá.

Para este trabalho foi utilizado o método SN ou de Wöhler1, que relaciona o histórico
das tensões macroscopicamente elásticas atuantes na estrutura com o número de ciclos Ni, que

1
No século XIX, Wöhler caracterizou pela primeira vez os materiais em relação à fadiga, estabelecendo curvas
que associavam o número de ciclos necessários para romper o material em função da amplitude do ciclo de
tensão utilizado (PITOISET, 2001).
52

o material suporta antes de falhar. Este método considera o material como homogêneo, não
reconhecendo a presença de trincas.

Para quantificar o dano causado ao material por ciclos com diferentes amplitudes e
diferentes valores médios é utilizada a regra do acúmulo linear proposta por Palmgren, em
1924, e formulada matematicamente por Miner, em 1945. Segundo Fateni & Yang (1998),
apesar de terem sido criadas várias leis de acúmulo de dano por fadiga, nenhuma consegue ser
totalmente aceita, sendo conseqüentemente a lei do acúmulo linear de Palmgren-Miner a mais
utilizada devido à sua grande simplicidade. De acordo com a regra do somatório linear, o
dano di causado ao material por um carregamento Ri pode ser adicionado linearmente, como
mostra a equação 5.1:

ni
Di = ni ⋅ d i = (5.1)
Ni

onde Di é o dano total causado pelas ni repetições do carregamento Ri.

Considerando que a curva SN, em um gráfico log-log, apresenta uma relação linear
entre o nível de tensão e o número de carregamentos que levam o material à ruptura, tem-se:

m
1 S 
log S0 − ⋅ log N i = log Si ∴ N i =  0  (5.2)
m  Si 

onde S0 é a tensão de ruptura estática do material, Si , a tensão causada pelo carregamento Ri e


m, o expoente da curva de Wöhler, que depende das propriedades do material. O coeficiente
m pode ser considerado igual a 4 para os carregamentos nas pás DS 412 (1983 apud
HANSEN, 2001) e igual a 10, para os carregamentos na torre e no cubo (FUGLSANG e
THOMSEN, 1998). Combinando as equações 5.1 e 5.2, pode-se definir o dano como:

m
n ni n ⋅S
Di = ni ⋅ d i = i = m
= i mi
Ni  S  S0 (5.3)
 0 
 Si 
53

Os cálculos de fadiga realizados nesta dissertação não visam à determinação da vida


útil do material e sim a uma análise comparativa entre diferentes situações de operação. Desta
forma, pode-se desconsiderar o denominador S0m e substituir as tensões Si pelos
carregamentos Ri. Assim, o dano total D, ocasionado por cada caso analisado, com
carregamentos cíclicos de variação total R, e número de ocorrências n, será de:

D = ∑ ni ⋅ Ri
m
(5.4)

Para a contagem do número de ciclos de carregamentos em uma série temporal, é


utilizado o método conhecido como Rainflow (ver apêndice A). O método identifica cada
ciclo e cria uma matriz, na qual cada elemento representa o número de ocorrências de ciclos
classificados pelo valor médio e por sua amplitude.

5.1.1 Carregamento Equivalente

Após a determinação do espectro de carregamentos para um determinado período


analisado, é interessante a determinação de um carregamento cíclico equivalente com
amplitude Req, que ao se repetir por neq vezes, provocará o mesmo dano D ao material que
todo o espectro de carregamentos.

1
 ∑ ni ⋅ Ri m  m

D = ∑ ni ⋅ Ri = neq ⋅ Req ∴ Req =  


m m
(5.5)
 neq 
 

Para a análise de cada série de carregamento R, o número de repetições equivalentes


neq considerado foi de 375, que equivale ao número aproximado de rotações da turbina eólica
OWW-250 durante o intervalo de 10 minutos.

5.1.2 Influência do valor médio do ciclo

Observações experimentais mostraram que o dano causado por fadiga depende tanto
da amplitude quanto da média do carregamento. Atualmente, existem diferentes modelos
matemáticos para se levar em consideração este efeito, como por exemplo: o modelo de
Goodman, o modelo da parábola de Gerber e o modelo bilinear de Haigh. Para esta análise,
54

devido à sua simplicidade, foi utilizado o critério modificado de Goodman (FUCHS e


STEPHENS, 1980), que pode ser apresentado como:

Si S m
+ =1 (5.6)
S f S0

onde:
Si = amplitude do sinal
Sf = amplitude aceitável para a curva S-N
Sm= tensão média
S0 = tensão de ruptura estática

Este critério pode ser utilizado para alterar a descrição original da curva de Wöhler
como uma redução da tensão aceitável, conforme mostrado na equação 5.7.

ni ⋅ S im
Di = ni ⋅ d i = (5.7)
(S 0 − S m ) m

O dano total pode ser convertido para o carregamento equivalente Req,m, levando em
conta o nível médio de tensão, da seguinte forma:

1
1  ∑ ni ⋅ Ri m  m

Req ,m = ⋅  (5.8)
( M 0 − M m )  neq 

onde os níveis de tensão Si são convertidos para amplitude de carregamento Ri (desprezando


o momento de inércia). Sendo Mm a média do carregamento cíclico e M0 o carregamento
máximo suportado pelo material. Pode-se então, definir um fator fm, que leva em conta a
correção do carregamento equivalente originalmente definido, comparado com a nova
formulação:

Req ,m Req ,m M0
fm = = = (5.9)
Req ,m ( S m = 0) Req M0 − Mm
55

Para a realização deste trabalho, o valor de M0 foi estimado para cada elemento
estrutural analisado, levando-se em consideração os dados geométricos e os valores de
resistência mecânica do material dos elementos.

5.1.3 Incerteza do Cálculo do Carregamento Equivalente

Ao se criar as séries temporais de vento, mesmo utilizando os mesmos dados de


entrada (velocidade média, intensidade de turbulência, escala de comprimento, etc.), é
possível se obter séries com comportamentos totalmente diferentes. Para se evitar uma grande
disparidade entre as análises realizadas a partir de diferentes séries temporais, é comum a
realização de análises a partir de várias séries temporais com características estatísticas
equivalentes. Para isso, determina-se uma identidade para cada série criada. Esta identidade é
geralmente referida por um número chamado de seed. Desta forma, as séries criadas a partir
dos mesmos dados de entrada, porém com um número de identidade diferente, não
apresentam necessariamente comportamentos semelhantes.

Obviamente, as séries temporais de carregamentos provenientes de séries de vento


com números de seed diferentes também podem apresentar comportamentos diferentes. A
figura 5.2 mostra a variação do valor do carregamento equivalente calculado para séries de
carregamentos provenientes de séries de vento com mesmas características estatísticas, mas
com identidades diferentes.

43

42
Req (kNm)

41

40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
núm ero da sim ulação

Figura 5.2 – Carregamentos equivalentes calculados para velocidade do vento igual a 11 m/s.
56

Para minimizar o efeito desta variação, deve-se simular um número de casos suficiente
para se obter um valor médio representativo. Utilizando números de seed diferentes para cada
série, consegue-se obter uma incerteza menor que 5% a partir do uso de 5 simulações
(THOMSEN, 1998). Nesta dissertação, foram utilizadas 10 séries temporais para cada
velocidade de vento. Foram escolhidas 8 velocidades de vento entre 5 m/s e 24 m/s (5 m/s, 7
m/s, 9 m/s, 11 m/s, 14 m/s, 17 m/s, 20 m/s e 24 m/s), resultando num total de 80 simulações.
Com a finalidade de se determinar o carregamento equivalente médio Req , para as velocidades

de vento que não foram simuladas, foi realizada uma interpolação cúbica, por esta permitir
uma melhor suavização da curva entre os valores determinados.

5.1.4 Acúmulo do dano por fadiga

Até o momento, todas as análises foram realizadas independentemente para cada


velocidade média de vento. No entanto, para a determinação do dano total causado durante
toda a vida útil da turbina, deve-se considerar o somatório da influência dos carregamentos
relativos de todas as velocidades de vento a que a turbina eólica será submetida durante sua
vida útil.

Uma vez calculados os carregamentos equivalentes médios Req para cada velocidade

média de vento, deve-se determinar sua probabilidade de ocorrência ao longo da vida útil da
máquina a partir da função de Weibull. Normalmente, considera-se que a probabilidade de
ocorrência de uma determinada velocidade média U é igual à integral da curva de densidade
de probabilidade entre o intervalo de U-0,5 a U+0,5. Como a curva é determinada para médias
de 10 minutos, deve-se multiplicar o valor encontrado pelo número, n, de ocorrências
possíveis em um ano, e em seguida, pelo número de anos, T, considerado para a vida útil da
máquina (vinte anos). Assim, o dano total será igual a:

DL = ∫ Req (U ) m ⋅ neq ⋅ P(U ) ⋅ nT ⋅ dU (5.10)

O dano total pode ser descrito por um carregamento equivalente para a vida útil, Leq, e
um número de repetições equivalente para toda a vida útil, neq,L.
57

1
 Req (U ) m ⋅ neq ⋅ P(U ) ⋅ nT ⋅ dU  m

Leq =   (5.11)
 neq , L 

Todos os resultados apresentados neste trabalho serão baseados nos valores do dano
total, DL, e do carregamento equivalente para a vida útil, Leq.

5.2 CARREGAMENTOS EXTREMOS

Para uma análise aprofundada dos carregamentos extremos a que uma turbina eólica
pode ser submetida, é necessário realizar uma combinação entre uma vasta quantidade de
condições do vento com os diferentes estados em que se pode encontrar a máquina.
Normalmente, classifica-se a condição do vento como normal ou extrema e a da turbina eólica
como normal ou em falha. A condição extrema do vento é geralmente considerada como a
maior rajada em 50 anos, enquanto que a condição normal está associada a efeitos no vento,
com probabilidade de ocorrência em 1 ano. Os principais casos de falha para a turbina eólica
são o de falha na rede elétrica e o de mau funcionamento do sistema de controle, como, por
exemplo, o de yaw ou de pitch (MEAD, 1997). No entanto, assume-se que o estado de falha
na turbina ocorre muito raramente e que não possui correlação com as condições extremas de
vento. Desta forma, as possíveis combinações entre as condições do vento e da turbina são:

Caso 1: Condição extrema de vento combinada com estado normal da máquina;

Caso 2: Condição normal de vento combinada com estado normal da máquina;

Caso 3: Condição normal de vento combinada com estado de falha na máquina.

Os três casos previstos são ilustrados na figura 5.3, sendo representados pela
interseção da condição da turbina eólica e do vento.
58

Turbina Caso Vento


Caso Normal 2 Normal Caso
1 3
Vento Turbina
Extremo Falha

Figura 5.3 – Combinações dos estados do vento e da turbina eólica.

5.2.1 Carregamento Extremo com Turbina Normal e Vento Extremo

Para esta dissertação, só será considerado o primeiro caso, assumindo como condição
extrema do vento a rajada máxima de 3s, com um período de retorno de 50 anos, conforme
apresentado na seção 3.3. Para este caso, é considerado que o vento incide no rotor parado,
com os freios aerodinâmicos acionados e sem nenhuma falha no sistema de controle.

Este caso escolhido para análise é equivalente ao modelo da velocidade de vento


extrema “Extreme Wind speed model – EWM”, apresentado na IEC 61400 (1999), na qual é
determinado o valor da rajada de 3 segundos, de acordo com a classe de projeto considerada.
As normas da Germanicher Lloyd’s apresentam algumas similaridades com a IEC, porém
assumem uma rajada de 5 segundos (BURTON, 2001).

Para a determinação precisa de um projeto de turbina eólica é aconselhada a realização


de uma simulação dinâmica da resposta da estrutura à excitação da rajada, bem como de
variações de curto período na direção incidente do vento. Estas simulações apresentam
comportamento pouco previsível e são extremamente dependentes da inclinação do sinal da
velocidade incidente, que são geralmente considerados como uma rampa ou parte de uma
senoide. A figura 5.4 mostra o sinal utilizado para excitar a máquina com uma velocidade de
60,7 m/s e uma variação do ângulo horizontal de incidência variando de 0° a 15°, retornando
para 0° em forma de uma senoide, em 3 segundos. A figura 5.5 ilustra a resposta de flexão
fora do plano de rotação da pá, excitada pelo sinal de vento.
59

70

60
Velocidade do vento (m/s)
50

40
Registro da reposta
30
da estrutura
(fig. 5.5)
20

10

18

15
Direção do vento (m/s)

12

9
6

-3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Tempo (s)

Figura 5.4 – Sinal de vento utilizado para excitar a máquina.

250000
Momento fletor My na Pá - (Nm)

240000

230000

220000

210000

200000

190000

180000

170000

160000
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
Tempo (s)

Figura 5.5 – Resposta dinâmica à excitação da pá.


60

Devido à grande variabilidade apresentada nos resultados das simulações dinâmicas,


foram utilizadas simulações estáticas para a estimativa do carregamento extremo para cada
velocidade de vento Ve50 determinada no capítulo 3. Para a determinação da configuração
mais desfavorável para cada carregamento considerado, foi analisada a variação do esforço
em função do ângulo de azimute, Ψ (ver figura 5.6), referente à posição do rotor.

Figura 5.6 – Ângulo de azimute da pá.

O ângulo de azimute é considerado zero quando a pá se encontra na posição vertical


superior. As figuras de 5.7 a 5.14 mostram o efeito do ângulo de azimute nos principais
esforços atuantes na turbina eólica. A figura 5.7 mostra a variação do momento fletor na pá na
direção do plano de rotação, conhecido como lag. Este carregamento é fortemente
influenciado pela força peso e atinge seu máximo quando a pá se encontra numa posição
próxima à horizontal. A variação do momento fletor na pá na direção ortogonal ao plano de
rotação é mostrada na figura 5.8. O esforço nesta direção é conhecido como flap e alcança seu
máximo quando a pá se encontra numa posição próxima à vertical superior, devido à maior
velocidade do vento incidente, causada pelo seu gradiente vertical (ver item 3.1.2). O ponto
de mínimo que se observa nesta curva para um ângulo próximo a 180o dá-se pela redução da
velocidade do vento na frente da torre, que é conseqüência do efeito sombra da torre (ver item
3.1.3).
61

Momento Mx - Pá Momento My - Pá
32500 190000

30000 180000

27500
170000

25000
(Nm)

(Nm)
160000
Blade 1 Mx [Nm]

Blade 1 My [Nm]
22500
Carregamento

Carregamento
150000
20000

140000
17500

15000 130000

12500 120000

10000 110000

7500
0 1 2 3 4 5 6 7 100000
0 1 2 3 4 5 6 7
Ângulo de azimute
Rotor azimuth [rad] (rad)
Ângulo de azimute
Rotor azimuth [rad] (rad)

Figura 5.7 – Momento Mx na pá versus azimute. Figura 5.8 – Momento My na pá versus azimute.

As figuras 5.9 e 5.10 mostram a variação dos esforços atuantes no cubo que equivalem
ao torque e ao empuxo no rotor, respectivamente. Pode-se notar que o comportamento repete-
se três vezes a cada volta completa do rotor, devido à isometria na posição das pás e ao fato
destes esforços serem provenientes do somatório dos esforços nas três pás. Os carregamentos
tendem a um valor mínimo à medida que uma das pás se aproxima da região de sombra da
torre.

Momento Mx - Cubo Empuxo Fx - Cubo


74000 102000

73000
100000

72000
98000
[Nm]
(Nm)

Stationary hub Fx [N]

71000
(N)
Stationary hub Mx

96000
Carregamento

Carregamento

70000

69000 94000

68000
92000
67000

90000
66000

65000 88000
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7

Ângulo de azimute
Rotor azimuth [rad] (rad) Ângulo
Rotorde azimute
azimuth [rad] (rad)

Figura 5.9 – Momento Mx no cubo versus azimute. Figura 5.10 – Empuxo no cubo versus azimute.
62

As figuras 5.11 e 5.12 ilustram o comportamento dos momentos My e Mz no cubo.


Estes esforços são responsáveis pelo giro vertical (tilt) e horizontal (yaw) da nacele e,
diferentemente dos esforços analisados anteriormente, possuem seu máximo quando uma das
pás se encontra na frente da torre. Isso se dá devido ao desequilíbrio causado no rotor entre a
sua metade superior, que possui duas pás sob uma velocidade de vento mais elevada, e a
metade inferior, que possui uma única pá sob efeito do vento perturbado pela torre. Deve-se
apenas ressaltar que as forças que contribuem para o momento My são as normais ao plano de
rotação (predominantemente de arrasto), enquanto que as forças que contribuem para o
momento Mz são as tangenciais ao plano de rotação (predominantemente de sustentação).

Momento My - Cubo Momento Mz - Cubo


90000 10000

80000
8000

70000
(Nm)
[Nm]

[Nm]
(Nm)

6000
Stationary hub My

Stationary hub Mz
Carregamento

60000
Carregamento

4000
50000

2000
40000

0
30000

20000 -2000
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7
Ângulo de azimute
Rotor azimuth [rad] (rad) Ângulo de azimute
Rotor azimuth [rad] (rad)

Figura 5.11 – Momento My no cubo versus azimute. Figura 5.12 – Momento Mz no cubo versus azimute.

O comportamento dos momentos Mx (ortogonal à direção do vento) e My (paralelo à


direção do vento) na torre pode ser visto nas figuras 5.13 e 5.14. Como estes valores são
calculados para a base da torre, tendo todo o comprimento da torre como alavanca, são
basicamente dependentes das forças criadas no cubo e não dos momentos. Desta forma, pode-
se analisar o momento Mx na torre analogamente ao momento Mz no cubo, ao passo que o
momento My na torre pode ser analisado conforme o empuxo no rotor.
63

Momento Mx -Torre Momento My -Torre


120000 4550000

115000
4500000
110000
(Nm)

(Nm)
105000 4450000
Tower Mx [Nm]

Tower My [Nm]
Carregamento

Carregamento
100000
4400000
95000

90000 4350000

85000
4300000
80000

75000 4250000
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7

Ângulo de azimute
Rotor azimuth [rad] (rad) Ângulo
Rotor de azimute
azimuth [rad] (rad)

Figura 5.13 – Momento Mx na torre versus azimute. Figura 5.14 – Momento My na torre versus azimute.

A tabela 5.2 apresenta um resumo dos ângulos de azimute em que os esforços são
máximos para cada caso estudado.

Tabela 5.2 – Ângulos de azimute onde os carregamentos são máximos.

Carregamento Ângulo de azimute

Momento fletor na direção Mx na raiz da pá 104°

Momento fletor na direção My na raiz 22°

Torque total no centro do cubo 352° - 112° - 232°

Força na direção Fx no centro do cubo 0° - 120° - 240°

Momento na direção My no centro do cubo 60° - 180° - 300°

Momento na direção Mz no centro do cubo 72° - 192° - 312°

Momento na direção fletor Mx na base da torre 62° - 182° - 302°

Momento na direção fletor My na base da torre 0° - 120° - 240°

5.3 ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE ENERGIA

Para o cálculo da energia produzida por uma turbina eólica, é necessário relacionar a
curva de potência da turbina com a curva de densidade de probabilidade de freqüência do
vento. Integrando-se a função estatística, pode-se determinar a freqüência esperada de um
dado intervalo de velocidade de vento f(Ui < U < Ui+1,), sendo a velocidade de vento U igual
ao valor médio do intervalo. Multiplicando-se pelo número total de horas de um ano, obtém-
64

se o número de horas que a velocidade de vento U ocorre durante este espaço de tempo. Ao
multiplicar este valor pela potência em kW associada a esta velocidade, através da curva de
potência, obtém-se a quantidade de energia, em kWh, que esta velocidade de vento é capaz de
produzir em um ano. Basta seguir este procedimento para todos os intervalos discretizados de
velocidade para se obter a energia total produzida pela turbina. A figura 5.15 ilustra o
procedimento adotado para a turbina eólica OWW-250, que relaciona o intervalo integrado na
curva fdp e seu respectivo valor na curva de potência.

Figura 5.15 – Curva fdp de Weibull e curva de potência.

Considerando que para um intervalo suficientemente pequeno, a potência P(U) é igual


a média aritmética das potências P(Ui) e P(Ui+1), a energia anual bruta pode ser calculada da
seguinte forma:

N −1
 P(U i +1 ) + P (U i ) 
E = ∑  ⋅ f (U i < U < U i +1 ) ⋅ 8766 (5.12)
i =1  2 
65

6 RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os principais resultados obtidos pelas análises de


fadiga e de carregamentos extremos atuantes na turbina eólica OWW-250 para diferentes
distribuições de freqüência do vento. Também será abordada a influência na geração anual de
energia da máquina. Alguns resultados levarão em conta o efeito da variação da massa
específica do ar.

6.1 RESULTADOS DA ANÁLISE DE FADIGA

Os principais carregamentos equivalentes médios, Req , foram determinados para as

séries temporais de vento de 10 minutos com média entre 4 m/s e 24 m/s, considerando as
condições atmosféricas padrão, ou seja, intensidade de turbulência variando em função da
velocidade de acordo com a IEC e massa específica do ar de 1,17 kg/m3.

Nas figuras de 6.1 a 6.8, a curva traçada em linha preta representa o carregamento
equivalente médio Req , relativo a um número equivalente de ciclos igual a 375, para cada

velocidade de vento.

A contribuição relativa para o dano por fadiga ao longo da vida útil da turbina eólica
para cada velocidade de vento é mostrada pelas curvas em vermelho, rosa e azul para
distribuições de freqüência com fator de forma k, igual a 2, 3 e 4, respectivamente, e
velocidade média de 8,5 m/s. Os valores apresentados para o dano relativo foram
normalizados pelo dano total considerando uma média de 8,5 m/s e uma distribuição de
freqüência com k igual a 2. Desta forma, se a curva em vermelho for integrada, deverá ser
encontrado o valor unitário.
66

Pá - Momento Mx (lag)
80 0.2
k=4

Contribuição relativa para o dano


Carregamento equivalente (kNm)
60 k=3 0.15

40 k=2 0.1

20 0.05

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.1 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição


relativa para o dano por fadiga devido ao momento fletor Mx na raiz da pá.

Pá - Momento My (flap)
50 0.35
k=4
Contribuição relativa para o dano
Carregamento equivalente (kNm)

40 0.28

k=3

30 0.21

k=2

20 0.14

10 0.07

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.2 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição


relativa para o dano por fadiga devido ao momento fletor My na raiz da pá.
67

Cubo - Momento Mx (torque)


20 0.4

k=4

Contribuição relativa para o dano


Carregamento equivalente (kNm)
15 0.3
k=3

10 0.2
k=2

5 0.1

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.3 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição


relativa para o dano por fadiga devido ao torque no cubo.

Cubo - Força Fx (empuxo)


10 0.35
k=4
Contribuição relativa para o dano
Carregamento equivalente (kN)

8 0.28
k=3

6 0.21

k=2

4 0.14

2 0.07

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.4 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição


relativa para o dano por fadiga devido à força axial no rotor (empuxo).
68

Cubo - Momento My (tilt)


30 0.3
k=4

Contribuição relativa para o dano


Carregamento equivalente (kNm) 25 0.25

k=3
20 0.2

15 k=2 0.15

10 0.1

5 0.05

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.5 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição


relativa para o dano por fadiga devido ao momento de giro vertical no cubo (tilt).

Cubo - Momento Mz (yaw)


30 0.3
k=4
Contribuição relativa para o dano
Carregamento equivalente (kNm)

25 0.25

k=3
20 0.2

15 k=2 0.15

10 0.1

5 0.05

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.6 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição relativa


para o dano por fadiga devido ao momento de giro horizontal no cubo (yaw).
69

Torre - Momento My (direção do vento)


460 0.3
k=4

Contribuição relativa para o dano


Carregamento equivalente (kNm) 368 0.24
k=3

276 0.18

k=2

184 0.12

92 0.06

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.7 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição relativa


para o dano por fadiga devido ao momento fletor My na base da torre.

Torre - Momento Mx (lateral)


50 0.35

k=4
Contribuição relativa para o dano
Carregamento equivalente (kNm)

40 0.28

k=3

30 0.21

k=2

20 0.14

10 0.07

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.8 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição relativa


para o dano por fadiga devido ao momento fletor Mx na base da torre.
70

A tendência da curva do carregamento equivalente a apresentar um ponto de máximo


para velocidades entre 8 m/s a 12 m/s e em seguida um decréscimo, está relacionada com o
comportamento de estol da pá, que implica numa diminuição das forças de sustentação ao
longo da pá, estas forças são predominantes nesta faixa de velocidade. A tendência a
apresentar um novo aumento da curva está relacionada com o aumento da energia cinética do
vento e das forças de arrasto na pá, que passam a ser predominantes após o fenômeno de estol.

Deve-se salientar que esta transição de forças de sustentação para forças de arrasto ao
longo da pá, está associada ao aumento do ângulo de ataque do fluxo de ar incidente nos
aerofólios de cada seção. Uma vez que a velocidade de rotação da turbina e o ângulo de passo
da pá são fixos, à medida que a velocidade do vento incidente no rotor aumenta, o ângulo de
incidência do vetor da velocidade resultante também aumenta, provocando,
consequentemente, um acréscimo no ângulo de ataque nas seções da pá.

Devido a esta variação do comportamento dos esforços em função da velocidade do


vento, nota-se que em alguns casos, mesmo a velocidade sendo mais elevada, o carregamento
equivalente é menor. Este comportamento, ao ser combinado com o comportamento das
distribuições estatísticas com maior concentração de ocorrência de velocidades perto da faixa
de carregamento equivalente máxima, faz com que a soma do dano das curvas com um k
maior seja geralmente maior. Este fato também pode ser visualizado nos resultados dos
carregamentos equivalentes para toda a vida útil, Leq.

As figuras de 6.9 a 6.16 mostram o carregamento equivalente Leq, calculado em função


do coeficiente k da função estatística de Weibull para toda a vida útil da máquina. Para sua
determinação, foi considerado um número equivalente de repetições de 19.710.000, que
equivale ao número de rotações do rotor em 20 anos. As curvas em vermelho, rosa, azul e
preto representam distribuições com velocidades médias de 6 m/s, 7,5 m/s, 8,5 m/s e 10 m/s,
respectivamente.
71

Pá - Momento Mx (lag)
65

Carregamento equivalente (kNm)


10 m/s
64

8,5 m/s
63

7,5 m/s
62

61

6 m/s
60
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.9 - Variação do carregamento equivalente Leq calculado para toda a vida útil
em função do k de Weibull, para o momento fletor Mx na raiz da pá.

Pá - Momento My (flap)
39

10,0 m/s
8,5 m/s
Carregamento equivalente (kNm)

7,5 m/s
38.3
6,0 m/s

37.6

36.9

36.2

35.5
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.10 - Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o momento fletor My na raiz da pá.
72

Cubo - Momento Mx (torque)


15.5

10,0 m/s
Carregamento equivalente (kNm) 8,5 m/s
7,5 m/s
14.5
6,0 m/s

13.5

12.5

11.5

10.5
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.11 - Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o torque no cubo.

Cubo - Força Fx (empuxo)


5.8

10,0 m/s
8,5 m/s
5.6
Carregamento equivalente (kN)

7,5 m/s
6,0 m/s

5.4

5.2

4.8

4.6

4.4
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.12 – Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para a força axial no rotor (empuxo).
73

Cubo - Momento My (tilt)


23

10,0 m/s
8,5 m/s

Carregamento equivalente (kNm)


7,5 m/s
6,0 m/s
22

21

20

19
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.13 - Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o momento de giro vertical no rotor (tilt).

Cubo - Momento Mz (yaw)


21

10,0 m/s
8,5 m/s
Carregamento equivalente (kNm)

7,5 m/s
6,0 m/s
20

19

18

17
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.14 - Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o momento de giro horizontal no rotor (yaw).
74

Torre - Momento My (direção do vento)


230

225

Carregamento equivalente (kNm) 220


10 m/s

215

210
8,5 m/s

205

7,5 m/s
200

195

190
6 m/s

185
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.15 - Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o momento fletor My na raiz da torre.

Torre - Momento Mx (lateral)


44

10,0 m/s
8,5 m/s
Carregamento equivalente (kNm)

42
7,5 m/s
6,0 m/s

40

38

36

34

32

30
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.16 - Variação do carregamento equivalente médio Leq calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o momento fletor Mx na raiz da torre.
75

Os gráficos traçados para os carregamentos equivalentes mostram uma tendência de


aumento associado ao aumento do fator k de Weibull, conforme comentado na análise dos
carregamentos equivalentes médios calculados para cada velocidade de vento e da
distribuição do dano por fadiga, calculado de acordo com as distribuições de freqüência das
velocidades de vento.

6.1.2 Influência da intensidade de turbulência

Uma vez que cada carregamento de fadiga é medido pela amplitude de um ciclo de
carregamento, a intensidade de turbulência do vento, que está diretamente ligada ao desvio
padrão da velocidade do vento, exerce uma forte influência sobre o resultado destes esforços.
Alguns autores consideram que o carregamento equivalente para uma velocidade de vento é
diretamente proporcional ao valor de sua intensidade de turbulência.

Os resultados previamente apresentados foram baseados em valores da intensidade de


turbulência que variam inversamente em função da velocidade média do vento, conforme
especificado pela IEC 61400-1. Com esta consideração, as velocidades mais baixas
apresentam grandes valores de turbulência e aumentam significativamente sua influência no
dano total causado à estrutura. Para quantificar o efeito da variação da intensidade de
turbulência, foram realizadas novas simulações, considerando uma intensidade de turbulência
constante e igual a 15%. A figura 6.17 mostra a diferença entre as duas configurações da
intensidade de turbulência. Pode-se notar que a configuração padrão (IEC) apresenta valores
mais elevados até a velocidade de vento de 20 m/s, quando ocorre uma inversão.

Intensidade de Turbulência
30
Intensidade de turbulência %

25

20

15

10
IEC
5
15%
0
0 5 10 15 20 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.17 – Curvas das intensidades de turbulência consideradas.


76

Comparando os carregamentos equivalentes médios calculados para as duas


configurações de turbulência, é possível notar a inversão das curvas para uma velocidade
próxima a 20 m/s, de acordo com a tendência apresentada pelas curvas de intensidade de
turbulência. As figuras 6.18, 6.19 e 6.20 mostram as curvas do carregamento equivalente
médio Req , para cada velocidade de vento, sendo as curvas contínuas calculadas para a

intensidade de turbulência constante e as curvas tracejadas para as condições de referência.

Uma vez que o dano causado é proporcional ao carregamento equivalente elevado ao


coeficiente de Wöler (m=10 para as pás e m=4 para a torre e cubo), uma pequena redução no
carregamento equivalente implica uma grande redução no dano causado por fadiga. Este
efeito pode ser visualizado através das curvas tracejadas e contínuas da contribuição de cada
velocidade de vento para o dano total nas figuras 6.18 a 6.20.

Pá - Momento My (flap)
50 1.4

k=4

Contribuição relativa para o dano


Carregamento equivalente (kNm)

40 1.12

k=3

30 0.84

k=2

20 0.56

10 0.28

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.18 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição


relativa para o dano por fadiga devido ao momento fletor My na raiz da pá
considerando IT=15% e IT=IEC (em tracejado).
77

Cubo - Momento Mx (torque)


20 0.6

k=4

Contribuição relativa para o dano


Carregamento equivalente (kNm) 16 0.48

k=3

12 0.36

k=2

8 0.24

4 0.12

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.19 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição relativa


para o dano por fadiga devido ao torque no cubo considerando IT=15% e IT=IEC
(em tracejado).

Torre - Momento My (direção do vento)


500 0.6 Contribuição relativa para o dano
Carregamento equivalente (kNm)

k=4
400 0.48

k=3
300 0.36

k=2
200 0.24

100 0.12

0 0
4 7 10 13 16 19 22 25

Velocidade do vento (m/s)

Figura 6.20 - Carregamento equivalente médio e distribuição da contribuição relativa


para o dano por fadiga devido ao momento fletor My na raiz da torre considerando
IT=15% e IT=IEC (em tracejado).
78

As figuras de 6.21 a 6.23 mostram o carregamento equivalente médio Leq, calculado


em função do coeficiente k da função estatística de Weibull para toda a vida útil da máquina
considerando as duas condições de turbulência consideradas.

Pá - Momento My (flap)
39
Carregamento Equivalente (kNm)

37

35

10 m/s

33 8,5 m/s

7,5 m/s

31

6 m/s

29
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull
Figura 6.21 - Variação do carregamento equivalente médio calculado para toda a
vida útil em função do k de Weibull, para o momento fletor My na raiz da pá (flap)
considerando IT=15% e IT=IEC (em tracejado).

Cubo - Momento Mx (torque)


16

15
Carregamento Equivalente (kNm)

14 10 m/s

13 8,5 m/s

12 7,5 m/s

11

10

6 m/s
9

8
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.22 - Variação do carregamento equivalente médio calculado para toda a


vida útil em função do k de Weibull, para o torque no cubo considerando IT=15% e
IT=IEC (em tracejado).
79

Torre - Momento My (direção do vento)


230

220

Carregamento Equivalente (kNm) 210

200

190 10 m/s

8,5 m/s
180

170
7,5 m/s
160

150 6 m/s

140
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.23 - Variação do carregamento equivalente médio calculado para toda a


vida útil em função do k de Weibull, para o momento fletor My na raiz da torre
considerando IT=15% e IT=IEC (em tracejado).

As simulações realizadas para a intensidade de turbulência constante de 15%


apresentaram um comportamento diferenciado das simulações anteriores, com uma maior
variação entre as medias anuais, valores absolutos menores e, em alguns casos, um menor
incremento do carregamento equivalente com o aumento do k de Weibull. Este efeito ocorre
em função do aumento da turbulência das velocidades altas e a diminuição para as
velocidades médias e baixas, favorecendo as distribuições de freqüência do vento com maior
concentração de velocidades médias, ou seja, funções com menor dispersão.

6.2 RESULTADOS DOS CARREGAMENTOS EXTREMOS

Os carregamentos extremos em cada componente da turbina eólica foram


determinados por simulações estáticas, considerando as velocidades de vento extremas
determinadas no capítulo 3. Estes resultados são altamente relacionados com as velocidades
de vento assumidas.

As simulações consideraram o rotor parado, com freio aerodinâmico acionado e com o


fluxo de ar incidente alinhado horizontalmente com o rotor. A tabela 6.1 relaciona todos os
valores obtidos para estes carregamentos extremos em função do fator de forma k e da média
80

anual do vento. As figuras 6.24 e 6.25 apresentam esses carregamentos normalizados pelo
valor mais alto (média anual igual a 10 m/s e fator de forma igual a dois), permitindo uma
melhor visualização de seus comportamentos.

Tabela 6.1 - Carregamentos extremos em função do k de Weibull e da velocidade média anual.

Pá Pá Torre Torre Cubo Cubo Cubo Cubo


Média (Mx) (Mx) (My) (Fx) (Mx) (My) (Mz)
Fator (My)
anual
(kNm) (kNm) (kNm) (kNm) (kN) (kNm) (kNm) (kNm)
2 37,2 83,3 39,4 1804,0 42,6 24,8 39,1 4,6
6 3 33,4 36,7 16,7 759,1 19,7 10,5 16,9 1,9
4 32,5 25,5 11,3 508,7 14,2 7,1 11,5 1,3
2 40,6 127,0 60,7 2783,0 64,0 38,1 60,0 7,1
7,5 3 34,8 54,5 25,4 1159,0 28,5 16,0 25,4 3,0
4 33,4 36,7 16,7 759,1 19,7 10,5 16,9 1,9
2 43,4 161,2 77,3 3547,0 80,8 48,6 76,2 9,0
8,5 3 36,0 68,3 32,1 1468,0 35,2 20,2 32,0 3,7
4 34,1 45,8 21,1 962,8 24,2 13,3 21,2 2,5
2 48,1 220,5 106,1 4875,0 109,8 66,7 104,5 12,4
10 3 37,8 91,9 43,6 1996,0 46,8 27,4 43,2 5,1
4 35,3 60,7 28,4 1296,0 31,5 17,8 28,3 3,3

Carregamentos Extremos Normalizados


Pá (Mx) Pá (My) Torre (Mx) Torre (My)
1
Carregamento equivalente (kNm)

0.9

0.8

0.7
0.6

0.5

0.4

0.3
0.2

0.1

0
2 3 4 2 3 4 2 3 4 2 3 4
Fator k de Weibull

10 m/s 8,5 m/s 7,5 m/s 6 m/s

Figura 6.24 - Carregamentos extremos na pá e na torre em função do k de Weibull e


da velocidade média anual com valores normalizados.
81

Carregamentos Extremos Normalizados

Cubo (Fx) Cubo (Mx) Cubo (My) Cubo (Mz)


1
Carregamento equivalente (kNm)

0.9

0.8

0.7
0.6

0.5

0.4

0.3
0.2

0.1

0
2 3 4 2 3 4 2 3 4 2 3 4
Fator k de Weibull

10 m/s 8,5 m/s 7,5 m/s 6 m/s

Figura 6.25 - Carregamentos extremos no cubo em função do k de Weibull e da


velocidade média anual com valores normalizados.

Comparando os carregamentos extremos notamos que eles apresentam


comportamentos semelhantes em relação à influência da curva de distribuição de freqüência
do vento. O único carregamento analisado que apresenta um comportamento diferenciado é o
momento fletor Mx na pá, que é fortemente dependente da força peso. Uma vez retirada a
contribuição desta força, seu comportamento se mostraria semelhante aos outros.

Uma vez que a maioria dos carregamentos analisados são predominantemente,


aerodinâmicos, pode-se notar que eles se apresentam diretamente proporcionais ao quadrado
da velocidade do vento. Pode-se notar ainda, que a velocidade média anual não apresenta
influência significativa na variação em função do fator k de Weibull, sendo praticamente
constante a redução do carregamento para cada uma das 4 velocidades médias analisadas. A
redução média entre os carregamentos extremos com distribuições caracterizadas pelo k igual
a 2 e 3 foi de aproximadamente, 56%. As comparações entre as distribuições com valores de k
igual a 3 e 4 levam a uma redução média de 32% e para as distribuições com k iguais a 2 e 4
a redução média encontrada foi de 69%.
82

6.3 RESULTADOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA

Para uma dada velocidade média, a potência disponível no vento aumentará à medida
que se aumente a variabilidade de sua distribuição. Esta relação se dá devido ao fato da
potência ser proporcional ao cubo da velocidade do vento, podendo ser facilmente percebida
somando-se o cubo de duas velocidades iguais e, em seguida, o cubo de duas velocidades
diferentes, ambos os pares com mesma média. Este fato não pode ser diretamente observado
na geração de uma turbina eólica, uma vez que a curva da eficiência do rotor apresenta um
máximo para velocidades próximas a 10 m/s. Desta forma, as velocidades mais altas, que
contêm muita energia, não são aproveitadas eficientemente pelo rotor. A figura 6.26 apresenta
a variação da energia gerada em função do k de Weibull, para diferentes velocidades médias.

Geração Anual de Energia


1300

10 m/s
1100
Energia gerada (MWh)

900
8,5 m/s

700
7,5 m/s

500

6 m/s

300
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.26 – Geração anual de energia em função do k de Weibull, para massa


específica do ar igual a 1,17 kg/cm3.

A partir do gráfico mostrado, pode-se notar que o aumento do fator k de Weibull passa
a influenciar positivamente no aumento da geração de energia para distribuições de vento com
média anual superior a 8,5 m/s.
83

A massa específica do ar de 1,17 kg/cm3, considerada para a região Nordeste do Brasil


é cerca de 4,5% menor do que o valor considerado nas normas internacionais. Apesar da
potência contida no vento ser diretamente proporcional à massa específica do ar, esta
proporção não pode ser diretamente utilizada na geração de energia pela turbina eólica. Para
uma turbina com controle por estol, esta relação torna-se ainda mais difícil de ser
determinada, uma vez que se deve ajustar o ângulo de passo para cada velocidade, alterando-
se as configurações iniciais do rotor. A figura 6.27 mostra a variação percentual da geração de
energia entre regimes de vento que possuem massas específicas de 1,17 kg/cm3 (condição
encontrada no Nordeste do Brasil) e de 1,225 kg/cm3 (condição padrão considerada na
Europa).

Variação Percentual da Energia


5

6 m/s
4.4

7,5 m/s
Variação (%)

3.8
8,5 m/s

3.2

10 m/s

2.6

2
1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5

Fator k de Weibull

Figura 6.27 – Variação porcentual da geração anual de energia em função do k


de Weibull entre massas específicas do ar de 1,17 kg/cm3 e 1,225 kg/cm3.

Todos os resultados apresentados para a geração anual de energia são baseados na


curva de potência mecânica do rotor, não levando em consideração perdas no gerador,
indisponibilidade da máquina, ou qualquer outra influência externa.
84

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Tendo como principal objetivo identificar as diferenças mais relevantes das condições
de operação de uma turbina eólica instalada em um local com um regime de vento semelhante
aos encontrados na região Nordeste do Brasil, esta dissertação apresenta as conclusões a
seguir relatadas.

As velocidades de vento extremas, determinadas teoricamente no capítulo 3,


apresentaram uma grande variação em função do fator de forma da curva estatística de
Weibull. Este resultado é particularmente interessante para a região Nordeste, que apresenta,
em geral, valores referentes à variável k da função de Weibull bastante superiores aos
encontrados em outras regiões, traduzindo-se, portanto, em velocidades extremas de menor
intensidade.

Os carregamentos extremos atuantes na turbina eólica foram calculados em regime


estacionário e se mostraram, em sua maioria, diretamente proporcionais ao quadrado da
velocidade extrema do vento, acentuando sua variação em função do fator de forma de
Weibull. A redução nos carregamentos extremos atuantes na turbina eólica possibilita uma
redução dos custos estruturais de seu projeto. Esta redução pode ser verificada mais
facilmente em componentes como a torre e a fundação, que são geralmente projetados para
suportar os esforços máximos atuantes em suas estruturas, ao invés do uso do critério de falha
por fadiga.

Com base no exposto, constata-se que, para a consideração de velocidades de vento


extremas mais baixas no projeto de uma turbina eólica, é fundamental a realização de
campanhas criteriosas de medição de longo prazo, em locais com vocação para o
aproveitamento eólico. A partir dos dados levantados destas medições, devem-se desenvolver
estudos que diminuam a incerteza dos valores encontrados na teoria.

Os carregamentos que contribuem para a fadiga na estrutura da turbina eólica se


apresentaram, de uma forma geral, mais elevados para as distribuições de velocidade do vento
mais concentradas. De acordo com este resultado, as turbinas eólicas instaladas em locais com
as condições de vento semelhantes às encontradas na região Nordeste do Brasil podem vir a
85

falhar por fadiga antes de alcançar o tempo previsto para sua vida útil. No entanto, os cálculos
para realização da análise de fadiga são bastante dependentes dos parâmetros assumidos,
como, por exemplo, das características de turbulência adotadas. Desta forma, recomenda-se
que antes de decidir-se pela instalação na região Nordeste de uma máquina que tenha sido
projetada para operar em condições climáticas de outros países, sejam realizadas análises
estruturais utilizando os parâmetros reais da máquina e das condições de vento do local onde
será instalada.

A geração anual de energia apresentou uma pequena redução com o aumento do k de


Weibull para velocidades de vento médias anuais mais baixas. Além disso, a redução da
massa específica do ar também leva a uma redução na energia disponível no vento e,
conseqüentemente, na energia gerada pela turbina eólica. Apesar desses fatores, deve-se
considerar a possibilidade de otimização do projeto do rotor, com a finalidade de melhorar seu
rendimento em condições de ventos mais constantes. A estratégia do projeto de um rotor para
recuperar energia em locais com maior variabilidade da ocorrência dos ventos é a de manter a
curva de eficiência versus velocidade do vento mais aberta, de forma a garantir um bom
rendimento de conversão em um maior número de velocidades de vento. Em projetos
específicos para ventos mais constantes, pode-se focalizar melhor a eficiência na velocidade
de vento com maior energia disponível (curva da densidade de energia do vento).

Devido à particularidade dos resultados obtidos com relação às condições de vento


analisadas nesta dissertação, recomenda-se, para o desenvolvimento mais seguro do mercado
nacional de geração por energia eólica, a criação de normas nacionais direcionadas para o
assunto. Estas normas devem conter especificações adequadas paras as condições climáticas
encontradas no Brasil.

Todos os resultados encontrados neste trabalho, correspondentes à resposta da turbina


eólica às condições de vento, foram determinados para a turbina eólica OWW-250, controlada
passivamente por estol. A maioria das máquinas disponíveis atualmente no mercado possui,
em média, potência nominal seis vezes maior do que a turbina estudada. Além disso, essas
máquinas possuem geralmente algum tipo de controle do ângulo de passo da pá. Desta forma,
é importante que outros trabalhos sejam realizados, analisando-se outros modelos de turbinas
eólicas que possam reagir diferentemente à excitação do vento.
86

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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205-211.
89

APÊNDICE A

Os métodos de contagem são utilizados para transformar uma serie histórica de


tensões em uma distribuição de ciclos de tensão com valor médio e amplitude conhecidos.
Apesar de existirem outros métodos de contagem, como por exemplo, o contador de picos e o
contador de intervalos, que apresentam o mesmo resultado para um sinal senoidal simples, o
método rainflow é geralmente o mais aceito por levar em conta o efeito de histerese do ciclo.

Na apresentação do método descrita por Wirshing e Shedata (1977), o eixo do tempo


da série temporal é orientado verticalmente com a direção positiva apontando para baixo. A
série temporal é então vista como uma seqüência de telhados com água de chuva escorrendo
sobre eles (daí o nome rainflow que pode ser traduzido para o português “fluxo de chuva”).
Neste apêndice será dada uma breve descrição deste método de contagem bidimensional.

Primeiramente, é necessário transformar a série temporal de tensões em uma seqüência


de picos e vales, como mostrado na figura A1. Para isso, são descartadas as partes
intermediarias das séries entre os valores de máximos e mínimos, sendo guardados apenas
estes valores principais. Normalmente é determinado um valor Y, para efetuar a função de um
filtro de ruídos, ou seja, só é considerado um ciclo quando o valor da diferença entre um pico
e um vale for maior que Y.

pico

vale

Figura A1. Transformação da serie temporal em uma seqüência de picos e vales.


90

Em seguida, é realizada uma procura de pares de intervalos na seqüência de picos e


vales. A figura A2 mostra os pares de intervalos.

Figura A2. Principio da contagem de pares.

Ao invés de dividir a curva em três intervalos diferentes, é considerado um intervalo


principal com um pequeno ciclo sobreposto, ou par de intervalo. Por exemplo, em um grupo
com quatro extremos consecutivos, Sn, Sn+1, Sn+2, Sn+2,e Sn+3, um par de intervalos será
contado caso o valor dos dois extremos internos se encontre entre o valor dos extremos
externos (ver figura A3). Os extremos contados são apagados e o procedimento continua
incluindo mais dois novos extremos.

Sn+3

Sn+1

Sn+2

Sn

Figura A3. Exemplo de contagem de um par.

No final, sobra um resíduo que é analisado contando-se os diferentes intervalos


separadamente.
91

O resultado da contagem é armazenado numa matriz de Markov, onde cada elemento


aij significa o numero de intervalos contados que partem de um nível i ate o nível j. A
contagem de um par representa o acréscimo de uma unidade no valor de um elemento aij e do
seu elemento oposto aji.

O método não é restrito para séries de alto ciclo, também podendo ser usado para
fadiga de baixo ciclo, onde a deformação é o parâmetro mais importante. Uma comparação
entre resultados de testes e resultados previstos pelos três métodos de contagem mencionados
mostra que o método rainflow geralmente consegue os melhores resultados. Este método é o
único dos três que identifica tanto ciclos de baixa freqüência quanto ciclos mais rápidos que
ocorram durantes os mais lentos. O método de contagem por picos normalmente favorece a
contagem de ciclos com intervalos maiores, enquanto que o método de contagem por
intervalos favorece a contagem de ciclos com intervalos menores. Comparados com o método
rainflow, o método de contagem por picos irá geralmente levar a uma maior estimativa do
dano acumulado por fadiga, enquanto que o método de contagem por intervalos levará a um
dano acumulado menor.

O método de contagem rainflow permite identificar a tensão média para cada ciclo
contado. Por isso, a forma mais utilizada de apresentar o resultado final obtido de uma
contagem é o uso de uma matriz em que cada linha representa o valor médio do ciclo e cada
coluna representa o valor da amplitude do ciclo. Cada elemento desta matriz contém o numero
de ciclos com que se encontra em um determinado intervalo de amplitude e de valor médio.
Cada linha da matriz apresenta uma distribuição discretizada de ocorrência de amplitudes para
um determinado valor médio. Quando são conhecidas curvas SN para varias razoes R entre
tensões compressivas e trativas, torna-se possível prever o dano parcial em cada elemento da
matriz determinada, através do uso da curva SN apropriada para cada nível de valor médio.
Esta consideração é importante para previsão do dano em materiais estruturais como o da pá
da turbina onde a influência do valor médio do ciclo e bastante relevante.

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