São Paulo-SP
2008
Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - SP
Danilo Teixeira Martins
São Paulo-SP
2008
Martins, Danilo Teixeira
Aspectos Epidemiológicos da Borreliose de Lyme no Brasil /
Danilo Teixeira Martins. – São Paulo/SP: Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas. 2008 45 p. il.
Lyme borreliosis is a disease transmitted through the bite of infected ticks with
spirochetes of the Borrelia burgdorferi complex has as main hosts the rodents and the deers,
affecting domestic animals, wild animals and the human being, besides of being zoonosis.
Due to the fact that the disease has several stages with different clinical signs in various
systems of the body, it is considered a multisystemic disease and arouses interest in various
areas of medicine and veterinary. Despite of the Brazil do not have isolated the agent of
borreliosis, it is known that the agent is similar to the Borrelia burgdorferi and the clinical
signs presented in Brazil are compatible with the form of the disease that occurs in EUROPE
and USA, for that reason the disease what occurs in Brazil is called of “Lyme borreliosis
símile”. Several surveys show that the disease is occuring in Brazil being as considered
emergent zoonosis, and probably due to the fact of the great geographic extension of the
Brazil and the little knowledge about the disease, this has been poorly diagnosed and confused
with other diseases by the fact submit several clinical signs unspecific, since the only clinical
sign pathognomonic (erythema chronic migrans) does not occur in all cases, or in many lates
manifestations the patient do not remember of the presence of the tick on the body, or of the
erithema chronicum migrans.
Key Words – Lyme borreliosis, Lyme borreliosis símile, Borrelia burgdorferi, zoonosis,
epidemiology.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Braço esquerdo de paciente com Eritema migratório crônico por Doença de Lyme
símile primário, contraído na região de Campinas, Estado de São Paulo após picada de
carrapato.............................................................................................................................. 17
Figura 2: Paciente com Eritema migratório crônico por Doença de Lyme símile em estágio
secundário............................................................................................................................ 17
Figura 3: Animal da espécie canina com atrite progressiva causada por doença de
Lyme.................................................................................................................................... 19
Figura 4: Cultura de B. Burgdorferi em meio BSK II, escaneada por microscopia eletrônica
com aproximação de 7 – 10000x......................................................................................... 22
Figura 5: Carrapatos da espécie Ixodes scapularis, sendo da esquerda para a direita: fêmea
adulta, macho adulto, ninfa e larva...................................................................................... 23
Figura 6: Carrapatos da espécie Amblyomma americanum conhecido popularmente como
“carrapato estrela”, ninfa, macho (maior no centro) e fêmea.............................................. 24
Figura 7: Carrapato da espécie Dermacentor variabilis fêmea........................................... 25
Figura 8: Carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus fêmea..................................... 25
Figura 9: Ciclo da relação entre doença de Lyme – vetor (I. scapularis) –
hospedeiro............................................................................................................................26
Figura 10: Diagnóstico realizado por Imunofluorescência indireta assay (IFA positivo para
B. burgdorferi em sorologia de paciente com borreliose de Lyme............................. 28
Figura 11: Demonstração de como deve ser feito a retirada do carrapato da pele.............. 32
Figura 12: Retirada do carrapato da pele sem deixar o aparelho bucal do artrópode fixado na
pele...................................................................................................................................... 33
Figura 13: Processo de podução de vacina recombinante para borreliose de Lyme.
Recombitek…………………….……………………………………………...………...35
LISTA DE TABELAS
1 – Introdução ..................................................................................................................... 12
2 – Objetivo......................................................................................................................... 14
3 – Revisão da Literatura..................................................................................................... 14
3.1 – Aspectos históricos da Borreliose de Lyme....................................................14
3.2 – Aspectos clínicos da Borreliose de Lyme em Humanos.................................16
4 – Borreliose de Lyme em animais.................................................................................... 18
4.1 - Borreliose de Lyme em animais domésticos................................................... 18
4.2 - Borreliose de Lyme em animais silvestres...................................................... 20
5 - Agentes e vetores da Borreliose de Lyme no Brasil...................................................... 20
5.1 – Características do agente (Borrelia sp)...........................................................21
5.2 – Características dos vetores..............................................................................22
5.3 – Modos de transmissão.....................................................................................27
6 – Diagnóstico.................................................................................................................... 27
6.1 – Diagnóstico da borreliose de Lyme em humanos........................................... 29
6.2 – Diagnóstico da borreliose de Lyme em animais............................................. 29
7 – Controle......................................................................................................................... 30
8 – Prevenção...................................................................................................................... 33
9 – Aspectos epidemiológicos da borreliose de Lyme no Brasil.........................................36
9.1 - Saúde Pública.................................................................................................. 37
9.2 - Distribuição geográfica no Brasil.................................................................... 37
9.3 - Importância em Medicina Veterinária............................................................. 38
10 – Conclusão.................................................................................................................... 39
11 – Referências Bibliográficas...........................................................................................40
12
1 - Introdução
A cada dia nos vemos mais necessitados de atenções especiais em relação à prevenção
de doenças e à medicina preventiva, juntamente com essas necessidades nos deparamos com
as chamadas doenças emergentes que são conceituadas como, “Doenças infecciosas cuja
incidência no Homem aumentou nas últimas duas décadas, ou ameaça aumentar no futuro
próximo.” (DISMUKES, 1996).
A cada dia surgem novas descobertas e entre elas novos microrganismos capazes de
provocar prejuízos à saúde pública. Só entre 1972 e 1999 “descobriram-se 36 novos agentes
infecciosos causadores de doença no Homem” (DESSELBERGER, 2000), entre esses novos
agentes estão as espécies patogênicas da Borrelia spp, sendo a Borrelia burgdorferi a mais
importante no Brasil, por ser causadora da Borreliose de Lyme ainda conhecida como Doença
de Lyme, Mal de Lyme, Eritema Migratório Cutâneo entre outros sinônimos.
A borreliose de Lyme é uma doença de caráter multissistêmico causada pela Borrelia
burgdorferi, e devido ao fato de ser um microorganismo causador de doenças capazes de
comprometer vários órgãos, “desperta interesse em várias especialidades médicas, como a
dermatologia, reumatologia, cardiologia, neurologia e doenças infecciosas” (FONSECA et al.,
2005).
Além dessas características, a borreliose de Lyme é uma doença transmitida por
carrapatos podendo afetar animais silvestres, domésticos e aves sendo assim uma doença de
caráter zoonótico despertando grande interesse na Medicina Veterinária em especial atenção à
manutenção da saúde pública.
Até o presente momento o Brasil apresentou casos isolados da doença além de
algumas pesquisas e alguns trabalhos comprovando a soropositividade em regiões que
apresentam condições propícias à presença da Borrelia burgdorferi.
Os aspectos epidemiológicos da doença de Lyme no Brasil ainda estão em estudo e
vem despertando cada vez mais interesse de pesquisadores da área médica, sendo esse um
assunto de grande importância para a obtenção de conhecimento técnico sobre a doença, que
em conjunto com a grande extensão geográfica e atividade pecuária do Brasil torna-se um
fator de risco para a saúde pública.
De acordo com Coyle (1993), Bennett (1995) e CDC (1997) depois da AIDS,
nenhuma doença foi tão intensamente estudada, com pesquisas avançadas e modernas; as
doenças com o envolvimento das borrelioses em geral foi objeto do maior número de
13
publicações nos periódicos científicos de grande circulação nos últimos anos, podendo ser a
"zoonose da década" como afirma Soares et al. (2000).
14
2 - Objetivo
3 – Revisão da Literatura
A borreliose de Lyme é uma doença comum ao homem e aos animais causada pela
espiroqueta B. burgdorferi e é a mais importante das borrelioses por ser uma doença de
caráter sistêmico e por se tratar de uma zoonose (GALO, 2006). A borreliose de Lyme tem
como vetor os carrapatos da família Ixodidae, sendo o Amblyomma cajennense, também
conhecido como “carrapato estrela” e ainda vetor de outras doenças como Febre Maculosa e
Babesiose Eqüina, a principal espécie suspeita de estar envolvida como vetor da doença em
território brasileiro (SOARES et al, 2000). Os carrapatos da espécie A. Cajennense são
comumente encontrado em eqüinos, mas esses ainda podem parasitar bovinos, animais
domésticos e animais silvestres e conseqüentemente o homem (VIEIRA et al., 2004).
O agente Borrelia burgdorferi é atualmente considerado um complexo, chamado de
“complexo Lyme” (GALO, 2006), devido ao fato de incluir um grupo com diversos agentes
causadores de doenças. A sua distribuição geográfica é universal já tendo sido descrita na
América do Norte, América Central, América do Sul, Ásia, Europa e Austrália conforme
apresentado na Tabela 1 (SOARES et al, 2000).
15
Os primeiros relatos da doença de Lyme no Brasil, foram descritos por Figueira et al.
(1989) em pacientes que apresentaram o quadro dermatológico da doença, e posteriormente
Azulay et al. (1991) no Rio de Janeiro e Talhari et al. (1992) sendo que esse já tinha descrito 3
casos em 1987 (TALHARI et al., 1987). Em 1989, Yoshinari et al. (1989) fizeram a primeira
publicação alertando à classe médica sobre a existência da doença de Lyme no Brasil, quase
na mesma época (1990) foi formado um grupo de pesquisa no Brasil com pesquisadores dos
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul para investigar a ocorrência e
epidemiologia da doença de Lyme no Brasil (YOSHINARI et al.,1992), ainda em 1990 foi
criado na Faculdade de Medicina da USP, laboratório e ambulatório próprios para dar
atendimento específico a casos suspeitos de doença de Lyme em todo território nacional. Com
a colaboração de Dr. Allen C. Steere, Prof Domingos Baggio (parasitologia – ICB USP) e
Prof Paulo Yassuda (microbiologia – ICB USP) e profissionais de diversas especialidades
médicas, o projeto ganhou grande reconhecimento sendo credenciado como Centro de
Referência para a doença de Lyme, dessa forma muitos casos suspeitos passaram a ser
mandados para a FMUSP, aumentando o interesse pela doença e conseqüentemente
aumentando as pesquisas (YOSHINARI et al., 1995). Ainda em 1992, Yoshinari et al., (1992)
descreveram os primeiros casos da doença, com manifestações extra-cutâneas, já em 1993
Yoshinari e Barros (1993) publicaram novos casos da doença e demonstraram que Cotia (SP)
é uma área de risco, e através de estudo sorológico preconizaram a metodologia do Western
Blotting como procedimento sorológico mais sensível que ELISA, sendo assim os dois
16
Figura 1: Braço esquerdo de paciente com Eritema migratório crônico por Doença de Lyme
símile primário, contraído na região de Campinas, Estado de São Paulo após picada de
carrapato. Fonte FONSECA, 2005
Figura 2: Paciente com Eritema migratório crônico por Doença de Lyme símile em estágio
secundário. Fonte: FONSECA, 2005.
Além desses a borreliose de Lyme a longo prazo pode manifestar diversos outros
sintomas inespecíficos como sinais neurológicos, articulares, cardíacos, oftalmológicos.
Dentre todos os sinais, o único que realmente é considerado patognomônico é o ECM, visto
na grande maioria dos casos (YOSHINARI et al, 1995).
A maioria dos animais domésticos são susceptíveis à infecção pela B. burgdorferi, mas
raramente apresentam sinais clínicos. Em áreas endêmicas para doença de Lyme, testes
sorológicos demonstram que a taxa de exposição de cães à B. burgorferi pode chegar a 40 a
89% sendo que dentre esses cães infectados apenas 5% apresentam sinais clínicos da doença
(BUSHMICH, 1994), sendo assim importantes reservatórios para a espiroqueta, podendo
facilmente carrear o vetor para o ambiente domiciliar contaminando o homem acidentalmente,
sendo assim de grande importância para a epidemiologia da doença de Lyme (GALO, 2006).
19
O experimento feito por Gustafson et al (1993), na qual foram usados 10 cães, fêmeas
da raça Beagle foram infectadas experimentalmente com B. burgdorferi, demonstrou que a
doença ainda pode ser transmitida de forma intrauterina.
Felinos parecem ser mais resistente à infecção por B. burgdorferi, sendo pouco
observada mesmo em áreas de risco (GALO, 2006).
Em pesquisas e experimentos de soroprevalência em eqüinos feitos no Brasil,
(SALLES et al, 2002) foi demonstrado a soropositividade de animais em território nacional.
Mas a epidemiologia da doença em eqüinos ainda não está bem definida no Brasil (GALO,
2006).
Os sinais clínicos geralmente envolvem síndrome musculoesquelética, sem
predisposição de raça, idade ou sexo. Várias articulações são afetadas principalmente carpiana
e tarsiana com artrite progressiva (SOARES et al, 2000) (Figura 3). Além dos sinais
musculoesqueléticos, os animais podem apresentar, febre, letargia, cardiopatia, alterações
comportamentais, disfunção renal, desordens reprodutivas, e normalmente não apresentam o
ECM, com exceção de bovinos. (BUSHMICH, 1994).
Figura 3: Animal da espécie canina com atrite progressiva causada por doença de Lyme.
Fonte: LDF (Lyme Disease Foundation) Disponível em: http://www.lyme.org
de Lyme, mas causada pela B. lonestari que não faz parte do complexo B. burgdorferi,
essa doença vem sendo chamada atualmente de “STARI (southern tick-associated rash
illness)”, com sinais clínicos parecidos com a borreliose de Lyme (BARBOUR et al,
1996).
Figura 5: Carrapatos da espécie Ixodes scapularis, sendo da esquerda para a direita: fêmea
adulta, macho adulto, ninfa e larva. Fonte: Centers of Disease Control. Disponível em:
http://www.cdc.gov
No Brasil existe apenas uma espécie de carrapato do gênero Ixodes que é o I. aragoai,
e essa espécie é extremamente rara sendo encontrada apenas pequenas populações em
levantamentos acarológicos (GUIMARÃES, 2001). Visto que a transmissão transovariana
da B. burgdorferi tem pouca importância epidemiológica (BENNET, 1995), conclui-se
que as condições climáticas do hemisfério norte são as responsáveis por manter o agente
nos vetores (STEERE et al., 2004). Visto que estudos realizados no Texas, EUA
demonstraram a presença de B. lonestari em carrapatos da espécie Amblyomma
americanum (Figura 6) (BURKOT, 2001) e em carrapatos da espécie Amblyomma
cajennense conforme cita Ataliba et al. (2005), conclui-se que no Brasil o provável vetor
de maior importância para a borreliose de Lyme seja o Amblyomma cajennense por ser
esta a única espécie com histórico de parasitismo humano nas regiões onde foram
constatadas a doença de Lyme (YOSHINARI et al, 2000). Além disso, casos
24
norte. O tempo em que ficam no hospedeiro não passa de 3 semanas, e as fêmeas podem
produzir de 2000 a 3000 ovos a cada postura.
Além dos Ixodídios a B. burgdorferi já foi isolada de carrapatos das espécies
Dermacentor variabilis (Figura 7) e Rhipicephalus sanguineus (Figura 8)
(MAGNARELLI, 1984).
Os carrapatos, além de serem vetores das diversas espécies de borrélias, são muito
importantes na manutenção da vida da espiroqueta, sendo que esta desenvolve-se como
simbionte (Organismo que vive como parte do hospedeiro) nos carrapatos e tornam-se
parasitas nos animais e homem (HOOGSTRAAL, 1985).
O ciclo da infecção por B. burgdorferi foi representado por Steere et al. (2004), da
seguinte forma:
Geralmente as larvas dos carrapatos se alimentam uma vez no final do verão (A), as
ninfas se alimentam no final da primavera e começo do verão (B), e os adultos se alimentam
antes da postura dos ovos (C), depois disso as fêmeas realizam a postura (D), que darão
origem a novos carrapatos no próximo verão (E), é fundamental que os carrapatos tenham o
alimento (sangue de hospedeiro) durante os estágios de larva e ninfa pois o ciclo da
espiroqueta depende da transmissão horizontal, normalmente no início do verão ocorre a
infecção de ninfas para roedores ou outros possíveis hospedeiros (B), e no final do verão de
roedores infectados para larvas (A). Conseqüentemente a B. burgdorferi passa uma grande
parte do seu ciclo em uma forma dormente no trato gastrintestinal do carrapato. Dessa forma,
para que a doença seja transmitida ao humano, o carrapato deve parasitar este no final do
verão e começo da primavera exclusivamente pela forma de ninfa do carrapato. Sendo assim
quando ocorre a infecção aos humanos, esta pode ser considerada acidental, pois este não é
necessário para o ciclo de vida da espiroqueta (STEERE et al., 2004, BARBOUR, 1990).
27
6 – Diagnóstico
Figura 10: Diagnóstico realizado por Imunofluorescência indireta assay (IFA) positivo para B.
burgdorferi em sorologia de paciente com borreliose de Lyme.
Fonte: Lyme Disease Foundation. Disponível em: http://www.lyme.org
29
7 – Controle
O controle da doença de Lyme tem sido focado na eliminação dos principais vetores
(carrapatos) e retirada destes do corpo o mais cedo possível (LEVY, 2006). Visto que para
que o vetor transmita a doença, é necessário 40 horas parasitando o homem (WHO, 1993).
De acordo com Junior et al. (2004), em manual de doenças infecciosas e parasitárias
publicado pelo Ministério da Saúde, as medidas para controle da população de artrópodes não
tem surtido resultados satisfatórios no Brasil, dessa forma o primeiro passo é alertar a
população das áreas de risco sobre as doenças que podem ser transmitidas pelos carrapatos e
assim atuar na educação da população levando informações sobre como retirar um carrapato
do corpo, usar roupas claras de mangas compridas em áreas onde ocorre a infestação de
carrapatos, usar repelentes nas roupas e partes descobertas da pele. Dessa forma estaríamos
atuando diretamente no ciclo de transmissão da doença, impedindo a infecção ou diminuindo
os riscos de novas infecções.
Segundo Vieira et al. (2004) através do manual de vigilância acarológica publicado
através do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Saúde e
Superintendência de Controle de Endemias, o uso de controle através de produtos químicos
não surte resultado satisfatório quando este é feito em busca de uma resolução imediata do
problema. Mas se este for feito de forma correta e contínua, pode-se ter bons resultados em
relação ao manejo sanitário de animais domésticos. Vieira et al. (2004) ainda alerta que
quando a exposição aos carrapatos é inevitável, o recomendado é usar roupas com mangas
longas, botas e calças compridas com a parte inferior dentro das meias, todos com cor claras
para facilitar a visualização dos carrapatos, e após a utilização, essas roupas devem ser
colocadas em água fervente para a retirada dos carrapatos.
Labruna e cols. (2001) demonstraram em trabalho realizado em 40 propriedades no
Estado de São Paulo, que altas infestações de A. cajennense está associado à presença de pelo
menos 1 pasto “sujo” na propriedade, sendo assim quando esses pastos são roçados rente ao
solo no período do verão (quando os carrapatos estão na fase de ovos e larvas, altamente
sensíveis à alteração no microclima), reduz-se drasticamente o desenvolvimento e tempo de
vida dos carrapatos.
Nos EUA o fornecimento de alimentos com ivermectina a cervídeos em vida livre tem
proporcionado bons resultados no controle de carrapatos em locais de alta infestação
(POUND et al., 1996).
Corapi (2007) sugere as seguintes estratégias para o controle da doença de Lyme:
31
No Brasil os produtos acaricidas vem sendo utilizados nos animais domésticos com
bons resultados tanto em animais de grande porte quanto nos de pequeno porte. Dentre os
produtos utilizados atualmente, estão: fosforados (trichlorfon, chlorphenvinphos, coumaphos,
dichlorvos, DDVP), formamidinas (amitraz), piretróides (cipermetrina, alfametrina,
deltametrina, flumetrina), fenilpirazole (fipronil - FrontLine) e thiazolina, e os
carrapaticidas sistêmicos, como as avermectinas (ivermectina, doramectina e abamectina),
milbemicina (moxidectina) e fluazuron, um inibidor do crescimento (ALMEIDA, 2002)
Esses produtos são aplicados através de aspersão, imersão, dorsal (pour-on) ou
injetável (avermectinas e milbemicina). Dentre os diferentes métodos existem vantagens e
desvantagens e a escolha depende, entre outros fatores, da região geográfica, tipo de criação,
manejo e número de animais. Na maioria das propriedades o carrapaticida é aplicado após
uma avaliação pessoal e empírica do produtor e variam de seis a 24 tratamentos por ano
32
Figura 11: Demonstração de como deve ser feita a retirada do carrapato da pele.
Fonte: Centers for Disease Control .
Disponível em: http://www.cdc.gov/ncidod/dvrd/rmsf/prevention.htm
2 – Segurar o carrapato com a ponta da pinça o mais próximo da pele possível, evitando que o
aparelho bucal do artrópode fique preso à pele. Deve-se evitar de torcer o carrapato.
3 – Após a remoção, deve-se lavar bem as mãos com água e sabão para desinfetar o local da
mordida.
4 – Não se deve espremer o carrapato, pois dessa forma o sangue do carrapato possivelmente
infectado fica exposto, podendo contaminar o ambiente. O ideal é coloca-lo em solução com
iodo, álcool ou água com detergente.
5 – Guardar o carrapato para identificação posterior em caso de ocorrer alguma doença. Isso
pode ajudar o seu médico a realizar um diagnóstico com precisão. Deve-se manter em um
saco plástico fechado em congelador, e escrever a data da remoção.
33
Figura 12: Retirada do carrapato da pele sem deixar o aparelho bucal do artrópode fixado na
pele. Fonte: Centers for Disease Control. Disponível em:
http://www.cdc.gov/ncidod/dvrd/rmsf/prevention.htm
8 - Prevenção
Nos EUA uma vacina recombinante para doença de Lyme foi produzida mas não está
mais disponível comercialmente (LEVY, 2006).
Em 1998 FDA (Food and Drug Administration), nos EUA licenciou a vacina
recombinante (LymeRix - SmithKline Beecham Pharmaceuticals) considerando-a segura e
efetiva contra doença de Lyme. Porém pesquisas em campo colocaram em pauta a eficácia da
vacina mencionada. Essas concluíram que no primeiro ano, quando as pessoas foram
vacinadas com 2 doses, foi obtido uma eficácia de 49%, e no segundo ano após uma dose de
reforço a eficácia chegou a 76%. Sendo que na média entre primeiro e segundo ano, a eficácia
observada foi de apenas 65% (Tabela 3), em março de 2003 a vacina acima mencionada foi
removida do mercado (LEVY, 2006). De acordo com a ALDF (American Lyme Disease
Foundation), a vacina Lyme Rix foi retirada do mercado devido à baixa demanda,
provavelmente causada pelo alto custo ($ 70,00 por dose) e diminuído tempo de eficácia. Não
sendo mais disponível nenhuma vacina contra doença de Lyme.
Dessa forma a principal forma de prevenção em outros países vem sendo feita através
da vacinação de cães, devido ao fato de esses serem os principais envolvidos na transporte dos
vetores para o ambiente domiciliar.
Para cães a vacina contra doença de Lyme é disponível comercialmente, sendo as mais
conhecidas: LymeVax pela Fort Dodge Animal Health e a Recombitek pela Merial.
(LEVY, 2006). Ambas vacinas são importadas, e a Recombitek pode ser encontrada pelo
preço médio de $ 392,00 a caixa com 20 doses (http://www.healthypets.com). De acordo com
Simson (2001), a vacina Recombitek Lyme é produzida com a proteína OspA da própria B.
burgdorferi produzida em E. Coli agindo como uma vacina inativada. O esquema resumido de
como é produzida a vacina esta esquematizado a seguir (Figura 13).
De acordo com a opinião de alguns veterinários, a eficácia da vacina em cães é
questionável e esses não recomendam seu uso. Visto que alguns animais, mesmo quando
vacinados podem contrair a doença. Apesar dos questionamentos feitos sobre a eficácia da
vacina, esta claro que animais vacinados tem menos probabilidade de contrair a doença.
Devido à esses questionamentos a vacinação só é recomendada em animais expostos à
infestação de carrapatos em áreas endêmicas para borreliose de Lyme. O esquema de
vacinação pode começar com 3 meses de idade, em duas doses com intervalo de 3 semanas
(FOSTER & SMITH, 2008).
35
No Brasil já foram relatados casos isolados em humanos, nos estados de São Paulo,
Santa Catarina, Rio Grande de Norte e Amazonas (JUNIOR, 2004).
Em animais, estudos já demonstraram a presença de reatividade e sorologia positiva
para B. burgdorferi em diversas regiões. Em Itaguaí (RJ), Fonseca e cols. (1995)
identificaram borrélias no sangue periférico e urina de gambás e exames sorológicos (ELISA
e Western blotting) em marsupiais na região de Cotia (SP) apresentaram alta freqüência de
soropisitividade. Ainda em Itaguaí, foram encontradas espiroquetas reativas com cepa de B.
burgdorferi em bovinos confirma afirma Yoshinari et al. (1995).
Em trabalho recente, Benesi e cols. encontraram borrélia em sangue periférico de
bovinos na região de Bragança Paulista (SP), demonstrando a prevalência de 23,8% de
38
10 – Conclusão
Através dos diversos trabalhos, pesquisas e estudos revisados, conclui-se que existe no
Brasil uma doença com sinais clínicos e fatores epidemiológicos compatíveis com a
borreliose de Lyme dos EUA e Europa, e com sorologia positiva para o complexo Borrelia
burgdorferi. Porém ainda não existe o isolado do agente etiológico que causa a doença no
Brasil (YOSHINARI, 1997).
Visto que a doença envolve animais e carrapatos, podendo ser transmitida para
humanos, essa pode ser considerada uma zoonose emergente, que de acordo com Dismuskes
(1996), são doenças na qual sua incidência aumentou nas últimas duas décadas e pode
aumentar em um futuro próximo.
Dessa forma as pesquisas no Brasil devem continuar para que possamos obter o
máximo de informações sobre a doença, podendo assim intervir em um controle efetivo e com
isso, juntamente com a saúde pública auxiliar na prevenção da doença.
Se as causas de todas doenças de caráter dermatológico, nervoso, cardíaco,
reumatológico e infeccioso, fossem investigadas a fundo, certamente muitos novos casos de
borreliose seriam encontrados.
40
11 – Referências Bibliográficas
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