A Teoria Restrita (ou Especial) da Relatividade (abreviadamente, TRR), publicada pela primeira vez
por Albert Einstein em 1905, descreve a física do movimento na ausência de campos gravitacionais.
Antes, a maior parte dos físicos pensava que a mecânica clássica de Isaac Newton, baseada na
chamada relatividade de Galileu (origem das equações matemáticas conhecidas como
transformações de Galileu) descrevia os conceitos de velocidade e força para todos os observadores
(ou sistemas de referência). No entanto, Hendrik Lorentz e outros, comprovaram que as equações
de Maxwell, que governam o electromagnetismo, não se comportam de acordo com a
transformação de Galileu quando o sistema de referência muda (por exemplo, quando se considera
o mesmo problema físico a partir do ponto de vista de dois observadores com movimento uniforme
um em relação ao outro).
A noção de variação das leis da física no que diz respeito aos observadores é a que dá nome à teoria,
à qual se apõe o qualificativo de especial ou restrita por cingir-se apenas aos sistemas em que não se
têm em conta os campos gravitacionais. Uma generalização desta teoria é a Teoria Geral da
Relatividade, publicada igualmente por Einstein em 1915, incluindo os ditos campos.
A relatividade restrita também teve um impacto na filosofia, eliminando toda possibilidade de
existência de um tempo e de durações absolutas no conjunto do universo (Newton) ou como dados a
priori da nossa experiência (Kant). Depois de Henri Poincaré, a relatividade restrita obrigou os
filósofos a reformular a questão do tempo.
Motivação da teoria
As leis de Newton consideram que tempo e espaço são os mesmos para os diferentes observadores
dum mesmo fenômeno físico. Antes da formulação da TRR, Hendrik Lorentz e outros tinham
descoberto que o electromagnetismo não respeitava a física newtoniana já que as observações do
fenômeno podiam diferir para duas pessoas que estivessem se movendo uma em relação à outra a
uma velocidade próxima da luz. Assim, enquanto uma observa um campo magnético, uma outra
interpreta aquele como um campo elétrico.
Lorentz sugeriu a teoria do éter, pela qual objetos e observadores estariam imersos em um fluido
imaginário, o chamado éter, sofrendo um encurtamento físico (hipótese da contracção de Lorentz) e
uma mudança na duração do tempo (dilatação do tempo). Isto implicava uma reconciliação parcial
entre a física newtoniana e o electromagnetismo, que se conjugavam, aplicando a transformação de
Lorentz, que viria a substituir a transformação de Galileu vigente no sistema newtoniano. Quando
as velocidades envolvidas são muito menores que c (velocidade da luz), as leis resultantes são, na
prática, as mesmas que na teoria de Newton, reduzindo-se as transformações às de Galileu. De
qualquer forma, a teoria do éter foi criticada ainda pelo mesmo Lorentz devido à sua natureza
específica.
Quando Lorentz sugeriu a sua transformação como uma descrição matemática precisa dos
resultados experimentais, Einstein derivou as mesmas equações de duas hipóteses fundamentais: a
constância da velocidade da luz, c, e a necessidade de que as leis da física sejam iguais (ou seja,
invariantes) em diferentes sistemas inerciais para diferentes observadores. Desta idéia surgiu o
título original da teoria: “Teoria dos invariantes“. Foi Max Planck quem sugeriu depois o termo
"relatividade" para ressaltar a noção de transformação das leis da física entre observadores
movendo-se relativamente entre si.
A relatividade restrita estuda o comportamento de objetos e observadores que permanecem em
repouso ou em movimento uniforme (i.e., velocidade relativa constante) em relação a um sistema de
referência inercial. A comparação de espaços e tempos entre observadores inerciais pode ser
realizada usando as transformações de Lorentz. A teoria especial da relatividade pode prever, desta
forma, o comportamento de corpos acelerados desde que a dita aceleração não implique forças
gravitacionais, caso em que é necessário socorrer-mo-nos da relatividade geral.
,
onde E é a energia, m é a massa e c é a velocidade da luz no vácuo. Se o corpo se está a se mover à
velocidade v relativa ao observador, a energia total do corpo é:
E = γmc2, onde
O γ surge em relatividade na derivação das transformações de Lorentz.
Quando v é muito menor que c pode-se usar uma aproximação de γ (obtida pelo desenvolvimento
em série de Taylor),
igual à energia em repouso, mc², mais a energia cinética newtoniana, ½mv². Este é um exemplo de
como as duas teorias coincidem quando as velocidades são pequenas.
Além do mais, à velocidade da luz, a energia será infinita, o que impede que as partículas que têm
massa em repouso possam alcançar a velocidade da luz.
A implicação mais radical da teoria é que põe um limite superior às leis(ver Lei da natureza) da
Mecânica clássica e gravidade propostas por Isaac Newton quando as velocidades se aproximam da
velocidade da luz no vácuo. Nada que possa transportar massa ou informação pode mover-se tão ou
mais rápido que a luz. Quando um objeto se aproxima da velocidade da luz (em qualquer sistema) a
quantidade de energia diferencial requerida para a aumentar a sua velocidade aumenta de forma
rápida e assimptótica até ao infinito, tornando impossível alcançar a velocidade da luz. Só partículas
sem massa, como os fotões, podem alcançar a dita velocidade (além disso, devem mover-se em
qualquer sistema de referência a essa velocidade) que é aproximadamente 300 000 quilômetros por
segundo (3·108 ms−1).
O nome táquion foi usado para nomear partículas hipotéticas que se deslocariam sempre a uma
velocidade superior à da luz. Atualmente ainda não há evidência experimental da sua existência.
A relatividade especial também afirma que o conceito de simultaneidade é relativo ao observador:
se a matéria pode viajar ao longo de uma linha (trajetória) no espaço-tempo cuja velocidade em
todo momento é menor que a da luz, a teoria chama a esta linha intervalo temporal. De forma
semelhante, um intervalo espacial significa uma linha no espaço-tempo ao longo da qual nem a luz
nem outro sinal mais lento poderiam viajar. Acontecimentos ao longo de um intervalo espacial não
podem influenciar-se um ao outro transmitindo luz ou matéria, e podem aparecer como simultâneos
a um observador num sistema de referência adequado. Para observadores em diferentes sistemas de
referência, o acontecimento A pode parecer anterior a B ou vice-versa. Isto não sucede quando
consideramos acontecimentos separados por intervalos temporais.
A Relatividade restrita é quase universalmente aceita pela comunidade física na atualidade, ao
contrário da Relatividade Geral que, apesar de ter sido confirmada, foi-lo com experiências que não
invalidam algumas teorias alternativas da gravitação. Efetivamente, há ainda quem se opõe à TRR
em vários campos, tendo sido propostas várias alternativas, como as chamadas Teorias do Éter.
A Teoria
A TRR usa tensores ou quadrivectores para definir um espaço não-euclidiano (pseudo-euclidiano).
Este espaço, na realidade, é semelhante em muitos aspectos, sendo fácil de trabalhar. O diferencial
da distância (ds) num espaço euclidiano é definida como:
ds2=dx12+dx22+dx32
onde dx1, dx2, dx3 são diferenciais das três dimensões espaciais. Na geometria da relatividade
especial, uma quarta dimensão, o tempo, foi acrescentada, mas é tratada como uma quantidade
imaginária com unidades de tempo, ficando a equação para a distância, em forma diferencial, como:
ds2=dx12+dx22+dx32-c2dt2
Se reduzirmos as dimensões espaciais para duas, podemos fazer uma representação física num
espaço tridimensional,
ds2=dx12+dx22-c2dt2
Podemos ver que as geodésicas com medida nula formam um cone duplo (cone de luz),
ds2=0=dx12+dx22+dx32-c2dt2
dx12+dx22+dx32=c2dt2
Este cone duplo de distâncias nulas representa o "horizonte de visão" de um ponto no espaço. Isto é,
quando, ao olharmos uma estrela da qual dizemos "A estrela da qual estou a receber luz tem X
anos", estamos a vê-la através dessa linha de visão: uma geodésica de distância nula. Estamos a ver
No entanto, a geometria não se mantém constante quando existe aceleração (δx²/δ t²) , já que
envolve uma aplicação de força (F=ma), e, por consequência, uma mudança na energia, o que nos
faz chegar à relatividade geral, em que a curvatura intrínseca do espaço-tempo é diretamente
proporcional à densidade de energia no ponto referido.