Homem ambíguo
em torno do próprio
umbigo
Rogério Viana
Curitiba – Paraná
Setembro de 2009
(todos os direitos reservados)
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Homem ambíguo em torno do próprio umbigo
Personagens
Um homem
O umbigo dele
Uma mulher
O umbigo dela
2
Homem ambíguo em goza, ejacula milhares ou milhões de
espermatozoides e a mulher, como um
torno do próprio umbigo receptáculo, tem um óvulo disponível a ser
fecundado, na hora certa, na hora exata,
no ato da concepção que ocorre depois do
Espaço com líquido amniótico. Espaço
ato da penetração, mesmo a meia bomba,
apertado como o canal vaginal. Espaço amplo.
mas quando ele disse eu quero e ela, em
Espaço restrito. Espaço de confinamento. Todo
pé, na escada afastou a calcinha, a coisa
espaço para pensar. Pouco espaço para pensar.
foi de uma vez, num jato, numa explosão
Todo tempo para agir. Pouco tempo para agir.
de fluidos e de hormônios, de
irresponsabilidades, de inconsequências.
Ato 1 Fodeu! E eu, agora, aqui, pregado na
parede do útero. Quanto tempo ficarei
1 – Gênese: que porra é essa? aqui? Umas 40 e poucas semanas, nove
meses, 270 e poucos dias, 6480 horas.
Um monte do cacete de minutos. E tudo
Um homem
depois de poucos segundos, de breves e
imperceptíveis gemidos. Uma despedida
(O cabelo tem aspecto molhado. Veste uma
envergonhada. Ele sem saber onde limpar
roupa avermelhada que também parece
aquilo. Porra! E agora? Ela sem saber
molhada)
como caminhar sem que aquele volume
gosmento escorresse por suas pernas.
(Homem entra em cena segurando um grande
Situação vexatória. Como subir dois lances
cabo transparente e flexível que está fixado por
de escada. Como descer três lances de
contato numa das paredes do palco)
escada, atravessar o hall, passar pelo
porteiro, dizer boa noite. Sumir. Mas eles
Bilhões de tentativas. Milhões de
acharam um jeito de não demonstrar que
espermatozoides. Bilhões de trepadas.
tinham acabado de gerar um filho. Eu. Não
Gozos aos milhares. Brochadas seguidas,
eu, completamente, eu ainda projeto. Digo,
ejaculações precoces. Ah! Toda ejaculação
projeto de projeto de projeto de um ser.
é precoce, já dizia um poeta... Punhetas
Daqui a poucos dias serei um ex-
com as duas mãos, alternadas. Claro?. Um
espermatozoide que se fundiu num ex-
gozo que veio, em pé, na escada. Aquilo
óvulo. Serei o fruto de uma tesão
escorrendo pela perna. A calcinha toda
adolescente. Mais um tempinho, serei um
gosmenta. A cueca, então... nem se fala!
feto...
Dias depois, na farmácia, a confirmação de
mais uma estúpida gravidez adolescente.
Bem... o que virá depois vocês já sabem...
Ele gozou rápido e ela nem tempo teve de
Acho que sabem, não é? O que estou
dizer já... Já...? Ele já havia deixado ela na
fazendo aqui, afinal de contas? Pra que
mão, de novo, outra vez. Novamente ele
serve essa coisa que me deixa preso aqui.
gozou logo ao entrar, digo, quase penetrar,
Parece confortável o ambiente, mas estou
ali na beiradinha, e, desta vez, acertou em
preso, tenho pressa, mas estou preso,
cheio. O ciclo dela se completara. A
preciso acostumar com esse balé, essa
tabelinha não funcionara. Ele nem se
dança que vou fazer aqui nessa coisa
ajeitava com aquilo que tinha vergonha de
aquosa onde sou obrigado a nadar. A
comprar na farmácia. Cinco dias depois, ou
engolir, a respirar como peixe. Mas não
dez dias antes. Ela se descuidara. Ele não
sou peixe, não tenho guelras, mas respiro
gostava de usar camisinha. Era brochante
esse líquido aquoso que entra pela minha
demais, dizia. Ele não sabia como evitar
boca, invade meus pulmões. Ainda não
uma gravidez, embora soubesse que só se
tenho pulmões? Nem coração? Então, nem
engravida quando o homem, entra, enfia,
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cérebro? Ué, mas como estou pensando? mesmo. E agora? Bem, você está aqui na
Que porra é essa? Que porra é essa, minha barriga. Parece que tudo está indo
afinal? bem. O médico disse, todo espantado, mas
nem o hímen foi rompido! Não rompeu
Uma mulher mesmo. Está lá. Intacto. Intacto, como? Ah,
há hímen complacente. Complacente? Que
(Uma mulher de vestido largo acariciando uma porra de complacente é esse tal hímen?
barriga nem tão proeminente, nem tão visível. Ah, um tipo de cabaço flexível... um que vai
Aos poucos vai ficando agitada, sentindo a e volta... que não se deforma, ou se rompe.
barriga crescer) Então o tal cabaço flexível me deixou uma
grávida virgem e como virgem grávida
poderei, depois, arrumar outro cara para
Fiquei grávida, tão rapidinho. E nem fiquei casar comigo, tipo um José que vai
sabendo como é que uma mulher goza! assumir o filho que não é dele. Porra! Uma
Mas foi bom, aquele esfrega que foi logo sagrada família, de novo? Que luxo!
se transformando num calor tão intenso,
numa coisa tão forte. Aquela mão que Na verdade, agora, aqui, você está
teimava me tocar. Teimava em me invadir. crescendo na minha barriga, colado na
Eu ia resistindo, resistindo, resistindo o parede do meu útero, se alimentando do
quanto podia. Mas ninguém é de ferro! meu sangue. Você que é meio sangue meu
Muito menos eu. Eu não sou de ferro. e meio sangue dele. Você, se alimentando
Estava derretendo. Quando ele pediu que do meu sangue. Crescendo a cada
queria entrar, não aguentei e fui logo segundo, milionésimos de milímetros por
apoiando a perna no degrau. Ele veio e, segundo. Um sanguinho aqui, um
vupt... Apressado, sem jeito. Afoito. Entrou, pedacinho de uma célula que se
gemeu, um gemidinho insano, e foi logo transforma em osso, em cérebro, em
saindo... melecado. Com cara de espanto. coração, em um estômago, num pedaço de
Onde limpo minha mão? E eu é que ia bunda, num punhado de cabelo, num olho.
saber? E eu, como ia pra casa? Bem... Será azul, como o meu? Ou o cabelo será
fui... subi, cheguei lá... e fiquei... fiquei no crespinho como o dele... Nem deu para eu
chuveiro... e fui ficando, ficando, ficando, ver se o pentelho dele é enroladinho como
ficando cada dia mais grávida. Depois de seu cabelo. Ah, o meu, loirinho, é bem
55 dias, nada de ficar menstruada. Ela escasso e liso. Não é enroladinho, não é
disse, vai lá, compra, faz xixi naquele mesmo. É ralo e lisinho. Delicadamente
plástico... e vai confirmar. Mijei duas loirinho.
vezes... e o sinal apareceu. Um risquinho
azul. Estou mesmo grávida. O que tenho Como será que vai ser o rosto do bebê que
que fazer? O que vou fazer? Conto está agora crescendo em minha barriga?
primeiro para quem? Bem, sei, agora, que Como será que ele vai se chamar? Será
tenho que contar primeiro é comigo menino, ou menina? Lúcia, Lúcio, Dirce ou
mesmo. Se eu contar para alguém, quem Dirceu, Mário ou Marina, Luiz ou Luiza,
vai acreditar que eu fiquei grávida e ainda Rudney ou Rudnéia, Natálio ou Natália...
sou virgem? Quem vai acreditar? Ou será Natálio? Logo... bem, acho que vai nascer
que deixei de ser virgem quando fiquei próximo do Natal... pode ser mesmo
grávida? Ah... então sou um tipo de virgem Natália ou Natálio...! Mas que nome mais
Maria... mas eu concebi com pecado? Ou estranho! Bem, o que vier, virá! O médico
não é pecado quando a gente engravida disse que em poucas semanas o bebê vai
sem deixar de ser virgem? Será que nascer. Mas não quero saber, antes se
pequei... Bem, se não pequei eu não sei, será menino ou menina. Não quero saber.
mas que eu peguei na primeira, peguei Só quero é que tenha saúde. E parece que
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saúde é o que ele tem mais... Vive dando a dor logo passa... Passa? Respire...
chutes em minha barriga. Parece que, a Assim, como cachorrinho. Arf, arf, arf, arf...
cada dia, joga uma disputada partida de Sim, de novo! Empurre. De novo, arf, arf,
futebol dentro de minha barriga e que vive arf... Empurre, empurre... Força, força...
acertando potentes chutes na trave. Ah... a Sim... Vamos... Nossa! Passou... E que
trave é minha costela... quando marca gol, bebezão ele é! E como chora forte! Nossa!
nossa! Ele comemora o gol dando Que bebezão!... Eu, com 15 anos, mãe...!
cambalhotas, sobe no alambrado, balança,
chacoalha. Sinto lá no coração que a bola Um homem
foi certeira. Dá, até um frio na barriga. Uma
estranha dor no estômago, mas é uma dor (Homem brinca com bolas de plástico,
que passa rápido. Veja, agora foi outro gol, coloridas. Aos poucos retira o tubo
um chute preciso lá na gaveta, como diz transparente e flexível que estava preso numa
meu pai, meus tios, meu avô... Ah, meu das paredes do palco, fixa, agora o tubo numa
irmão, brincando comigo disse: O cara te bola colorida e arrasta a bola até uma
pegou de jeito, hein, irmãzinha... Acertou passagem bem estreita. Ao passar, deixa a bola
na gaveta. Bem, é a primeira vez que ouvi lá. O Homem sai da passagem estreita com o
alguém chamar minha xana de gaveta... Umbigo Dele preso ao tubo flexível)
mas, enfim... se acertou, foi mesmo nela,
não foi? Olho agora para mim com uma outra
perspectiva. Parece que posso ver as
Mas está tudo bem... tudo dentro dos coisas sob um outro ponto de vista. Não
parâmetros, como diz o médico. Em estou mais preso naquela caverna.
poucos dias o bebê vai dar as caras, para Naquela cuba aquosa. Embora confortável,
a alegria de dois avós tão novinhos... Ah, o eu me sentia preso a alguma coisa. Ia e
tal, o que gozou e se mandou, eu nem sei voltava. Tinha algo a impedir-me de ir
onde ele mora, nem sei o nome dele além. Estava preso a uma parede. Parecia
direito, nós ficamos numa festa, mas acho que tinha uma corrente que limitava meus
que ele nem é daqui. Parece que é surfista, movimentos e meus movimentos limitados
esqueitista e que mora em Floripa. Ou limitavam meus pensamentos e minha
morava, sei lá. Mora em Matinhos, Caiobá? visão se limitava a um só ponto de vista, de
Onde é que ele foi parar? dentro para fora, mas o para fora eu não
enxergava com nitidez. Na verdade eu não
Agora, o que posso fazer? Ninguém que via porra nenhuma! Como posso ter
estava naquela festa sabia quem era o consciência do que ainda não conheço,
cara... Que cara ele tinha? Sei lá! Nem dois nem domino? Agora, neste instante vejo
amigos deles, os que estavam com ele, uma forte luz, que ofusca e não me deixa
sabem direito – ou fingem não saber – ver direitinho tudo o que meus olhos
como ele se chama... Tem apelido? O quê? querem ver. Mas creio que é passageiro
isso que estou sentindo.
O bebê está quase para nascer. Depois eu
penso no que devo fazer... Melhor eu Mas que porra é essa presa a mim?
cuidar das contrações... Nossa, a bolsa
rompeu... Estou me sentindo inundada... O umbigo dele
como me senti com aquela porra toda
escorrendo pela minha perna... Que Essa porra? Essa porra? Essa porra é
inundação! Virei uma cachoeira que anda. você mesmo, seu porra! Sou sua visão de
Nossa o bebê já está coroando... O bebê mundo. Seu sexto sentido. Sua identidade,
está coroando! E para coroar precisa doer sua estrutura emocional. Seu equilíbrio.
tanto? Nossa, que dor! Que puta dor! Mas,
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Você, enxergando sob um outro prisma. Um homem
Fique ligado, atento, antenado e preste
muita atenção no que virá e no que verá... Agora você parece que complicou de vez o
Sou você, nascendo, sou o que você será. entendimento de certas coisas que
Será que serei o que sou? pareciam clarear quando eu vi, pela
primeira, a luz do mundo, olhando do lado
Um homem de fora da caverna. Mas, sei lá, tudo o que
você disse me faz entender que há uma
Preso assim, será que terei meus ambiguidade latente em mim – em você,
movimentos limitados como tinha naquela também, claro – que é inata. Digo, nasceu
caverna? Naquele túnel aquoso? Não é um comigo nascendo com você. Nasceu em
paradoxo eu me libertar, entrar num novo você, nascendo comigo. Estamos ligados,
mundo e me prender a alguém, a um outro, umbilicalmente. Como? Isso que nos une e
a mim mesmo? nos separa. Você lá, eu cá. Você aqui, eu
lá... Sempre separados. Sempre ligados.
O umbigo dele
Sempre? E agora? Cadê aquele líquido
Mas quem é que está preso? Eu a você ou protetor? Onde eu me sentia comprimido,
você a mim? Quem é quem? Eu sou eu, e mas protegido. O que era úmido, secou,
você é eu, ou eu sou você e você é você? provocou um estio. Tudo é árido. O que
gotejava, lamenta a falta de água. Nem
Um homem pinga, nem pinta, nem lateja, nem pulsa.
Não mais escorre. Nem escorrega! Nossa!
Não me confunda. Não me provoque. O que tinha vida, embolorou. O que era
Parece que está pedindo um chute na ensolarado, sombreou. O que parecia
bunda! pantanoso, está ressequido, sem vida. O
que agora é puro pó, antes era enlameado.
Mas como chutar minha própria bunda?
Sinta tudo o que agora tem duplo sentido.
Não duplo, mas entendimentos contrários,
O umbigo dele um tipo de ideia que embora seja afim é
diferente por contrariar, por ser um viés,
Quem deve se cuidar é você. Afinal, o até uma contradição. Um sei lá, um é não
chute eu posso dar. Chutar todas as sendo. Dizer o quê? Sei lá, não sei. Sei?
possibilidades de você não me confundir
também. Não permitir que você me O sensível, torna-se insensível. Mas isso é
confunda, nem me chute, nem me algo comum. Perceber de um lado,
provoque, nem tire-me do centro, nem me entorpecer, não sentir, não perceber de
faça entender o certo pelo errado, o escuro outro. Avivar em certas ocasiões,
pelo claro, o torto pelo direito, o vazio pelo anestesiar em outras.
cheio, o meio pelo fim...
O prurido é a contrapartida do torpor.
Enfim, se há meios para a gente se
entender, não venha com metáforas. Isso O umbigo dele
de chute na bunda não tem real
significado. Não sei nem o que é bunda... Não é nada disso. Amplie seus horizontes
até o limite da extremidade desse raio que
Metaforicamente você pode usar outra está preso entre nós. Que nos separa e
imagem? une. Ponha-se no meu lugar. Oponha-se a
mim e verá! Eu verei o mundo a partir do
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seu ponto de vista. Claro, se você quiser venha, entre na roda... Gire, mova-se...
ver assim as coisas. Mas, quando isso Não saia do trilho... Se sair, aproveite ir
acontecer, eu verei por você e você verá para onde nem imaginou estar.
por mim... Vamos rodar? Vem para cá, eu
vou para lá. Para lá? Não, mais um pouco, Um homem
rode de novo. Sim, enxergou?
Mas se eu pular para o seu lado, você,
Um homem fatalmente, terá que vir para cá. Não
podemos estar no mesmo lugar no espaço.
Mas isso estaria certo? É correto ver pelos
olhos do outro? E os meus olhos? O que é O que? Um pouquinho mais para o lado?
meu olhar? Minha visão, meu jeito? O que Você vive me confundindo com sua falta de
vejo agora, se eu estivesse na sua posição habilidade de reconhecer-se de esquerda.
eu veria apenas o contrário. Não é como Não? Sim, de esquerda. Já não é mais?
um espelho, eu sei, pois em mim ainda Mudou?
nada reflete. Mas... bem, é sim... É como?
Sim... Como uma imagem refletida. Não O umbigo dele
faz sentido enxergar apenas com um sinal
invertido. De lá para cá, é... De cá para lá, Sim, vire para o lado esquerdo... Sim... um
não. O certo é errado, o direito é agora pouco mais para cá... Vamos, vire-se...
esquerdo, o lado que vai para lá, agora vai
para cá... Vai ou vem? Tanto faz? Então, é Um homem
um desconforto ter que enxergar e conviver
com sentimentos divergentes, contrários, O meu lado esquerdo é seu lado direito...
contraditórios, contrastantes. O que antes O espectro parece amplo. Posso ser
era claro, está agora confuso, equivocado. extrema esquerda, você sendo extrema
Embaralhou tudo? De novo? direita. Há um ponto médio? Centro
esquerda. Se for para lá um pouco, é. Se
Estou correto ou, do meu ponto de vista, não...
estaria equivocado?
O umbigo dele
O umbigo dele
Sim... então escolha... qual lado você quer
Mas, por um lado, você verá por outro, não virar? Pode ir para a esquerda ou para a
é? Visão privilegiada, isto sim! Poderá ver direita. Um pouquinho que seja dentro do
por outro, se do outro você não mais enorme espectro de direita e de esquerda,
estiver. Parece ambíguo? Nem tanto. É você, sim, você tem espaço para se
uma vantagem ver-se olhando por outra movimentar. E em movimento, tem como
perspectiva. Ou não? Basta girar. Afastar. perceber sutis mudanças de posição. Tudo
Subir, descer. Dar um zoom ou fazer um muda no tempo e no espaço. Se é na
traveling... Assim, sim... Percebeu? esquerda, é agora. Depois, quem sabe,
pode ser na direita.
Ah, se você se considerar equivocado, por
outro, o equívoco não existe. É tudo uma Percebeu?
questão de ponto de vista. Ou não?
Percebeu? Um homem
Enxergue... Uma coisa pode ser tantas Se eu escolher outro caminho, o sentido da
outras. Rode. Veja como as perspectivas direita, estarei certo? Dá para se sentir
se ampliam. Pule para este lado. Rode, seguro indo pela direita? E se vier algo no
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sentido contrário? Dá para desviar ou sigo quando sinto frio. Depois, se esfriar muito,
a corrente mais forte e me dou bem? Pela quero que me aqueça, entendeu? É
direita, então? complicado?
Um homem Um homem
Ah... mas vejo, agora, que a luz aqui é Ah, a verdade... Você não percebe? Você
diferente. Ficou mais escuro. A esquerda. quer que eu dê meu ponto de vista sobre a
Obscurantista. Mas é a direita que domina verdade? Se eu der, a verdade será uma
a escuridão. Bem que daria para você verdade ambígua...
apertar este botãozinho e acender a luz.
Dá para aquecer um pouco mais o A minha verdade não é a sua verdade,
ambiente. Não, o meio ambiente tem que nem a sua é a minha. Mentira? Pode ser.
ficar mais frio? Estou falando do meu
ambiente, não do seu. Aqueça agora Percebe?
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Um homem Bem, complacente... Complacente...
entendeu? Tipo porta de “saloon”, aquela
Assim, então, vou ficar mesmo pendendo porta que vai e que volta. Se tem que
entre a verdade e a mentira... É... não é... passar uma pessoa, passa. Depois que
é... não é... é... não é... Sempre passou, a porta volta para o lugar de
pendendo... origem. A verdade complacente, flexível.
Deixa de ser mentira até que compraz ser
O umbigo dele verdade. Percebe?
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dentro dela é uma coisa. Só não sabemos estamos conversando são diferentes das
como foi que pode entrar lá sem ter que nossas?
passar pelo orifício da mentira. Ou seria o
orifício da verdade? Bem, nesse caso, a O umbigo dele
mentira é mesmo um hímen complacente.
Pode ceder uma posição em favor de uma Melhor deixar ela nos contar, não é
verdade relativa. Uma verdade nascida de mesmo?
mentes perigosas que conseguem vestir a
mentira de uma tal forma, que ninguém Um homem
percebe que é uma mentira travestida, que
se montou com tantos apetrechos que Ela quem?
torna-se uma verdade, uma verdade quase
absoluta, inquestionável. Ah, mas se O umbigo dele
formos olhar bem de perto, há diferenças
bem sutis entre a verdade e a mentira, não A mulher que também tem seu umbigo...
é? Um umbigo feminino, claro!
Então é com esse tipo de ambiguidade que Antes de eu ter aquela experiência com o
terei que me defrontar ao longo de minha rapaz do vapt-vupt, aquele do rapidinho, já
vida? foi... lá na escada, naquela meleca toda,
eu, durante menos de dois anos, comecei
E o que, então, tem de ambíguo eu e você, a me verter em vermelho. Abundante
meu umbigo? vermelho que me escorria pelas pernas...
Nossa! A primeira vez foi tão estranho, tão
O umbigo dele “punk” como diria alguém... E todos em
casa olhavam para mim como se eu fosse
A ambiguidade entre nós é que eu sou seu um ser de outro planeta. Minha mãe,
umbigo, mas você, em contrapartida abestalhada como sempre, vinha e me
também é o meu. O contraponto meu é dizia. Agora, minha filha, você não é mais
você e o seu, sou eu. uma menina. Você é uma mocinha. E como
mocinha terá que se cuidar pois há muitos
Um homem homens que vão querê-la como mulher.
Isso pode ser perigoso, muito perigoso.
Será que minha mãe pensa diferente? A
visão da mulher em questões como as que Você não pode mais ser uma menina, a
partir de agora.
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O quê? Não, claro que não... Você ainda é Algumas são marcantes, claro. A primeira
uma menina, não está vendo? vez de tudo sempre é marcante. Quando
ela se banhou de vermelho, quando teve
Mas, mãe... que banhar-se novamente do vermelho
que dela saia, é inesquecível. Mas o que
Não... você ainda é uma menina! aconteceu naquele dia de importante além
do fato em si? Você se lembra? Você tinha
Mas, mãe... a senhora disse que já não acabado de assistir ao “Show da Xuxa”? O
sou mais menina. Disse que quem usa quê? Ouvia um disco dos Menudos? Não?
absorvente não é mais menina... Como Ah, você gostava do Fábio Júnior? De
pode...? quem? Madonna? Quem? Michael
Jackson? Cindy Lauper? Ou foi antes?
Não... você ainda é uma menina! Há tempo
para tudo na vida... Saiba esperar que as Lá vem o papo, pata, ti, pata colá... Lá vem
coisas vão acontecer a seu tempo, tudo no o pato para ver o que que há...
tempo certo... Há tempo para plantar... Há
tempo para colher... Não queira colher fora Uma mulher
do tempo que a coisa pode não dar certo.
Você também não é nada precisa, hein?
Bem, até hoje eu não entendo bem o que Creio que foi antes, bem antes que isso
ela queria dizer... Bem, eu não entendia que você só conseguiu registrar tempos
isso até quando o médico, disse: o menino depois... Muito tempo depois. Mas o que
é grandão e lindo. Você já pode começar a isso tem de importante para que fique
amamentá-lo. Agora você já é uma registrado?
mulher...
Eu estava à beira do mar vermelho... E,
Mas eu me sentia mulher só em termos. muitas vezes eu tinha ouvido minha mãe
Não que eu me sentisse mulher mesmo, dizer para o meu pai: Veio! Depois, outras
mulher de verdade. Parecia que tudo, os 9 vezes, ela dizia: Desceu! Lembro-me certa
meses, as tais 40 e poucas semanas... 270 vez que assim que ele colocou sua pasta
e poucos dias, 6480 horas... Tantas horas sobre uma poltrona, ela gritou lá da
que passaram tão rapidamente, daquela cozinha: Estou de chico! Ele, num misto de
meleca escorrendo por minhas pernas até alegria e surpresa, respondeu: Puxa! Foi
o bebê, enorme e berrando, escorregando por pouco, hein?
por minhas pernas, saindo de mim...
Outra vez, a mesma cena, tempos depois,
Foi, assim... De menina para mulher, em ele colocou sua pasta sobre uma poltrona
6480 horas. Um pouco mais, um pouco – já era uma poltrona mais nova – e ela
menos. Não dá para precisar. gritou lá do corredor: Não veio, não veio,
não desceu, não desceu... O chico não
veio!
(O umbigo dela dá um delicado puxão no tubo
flexível) Meses depois nasceu meu irmão e ele não
se chamava nem Chico, nem Francisco,
nem Odilon, nem Raimundo – que foda-se
O umbigo dela o mundo! Nem era Felisberto, nem
Cláudio, Cirino ou Adamastor – que puta
A gente nunca sabe mesmo, exatamente, dor! O nome daquele irmãozinho lindo era
com precisão, quando foi que tudo Claudionor Neto, o nome do meu avô, do
aconteceu. Temos vagas lembranças. pai do meu pai. Aquele velhinho que
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adorava beliscar a bunda da nossa Uma mulher
empregada. Uma vez ele deu um beliscão
na bunda dela e ela levou um susto tão Talvez eu precise melhorar um pouco, pois
grande que soltou um tremendo “pum”. Ela aquilo de meu tio mais novo ser irmão do
peidou na mão do velho! Eu não vi, não vi meu pai e ter no nome o sobrinho eu não
mesmo, mas eu ouvi tudinho até eles entendi direito, mas, fazer o quê? Será que
dando risada. E ele tão feliz e ela, depois, ele... bem, não sei... tenho certas dúvidas...
com uma carinha de felicidade que Mas minha família paterna é mesmo um
chegava até a dar inveja... Mas ter inveja pouco complicada. Os homens, todos, não
de quem peida na mão de um velho? sobra nenhum, todos são meio metidos a
Nossa, que puta mal gosto, não é? Tem conquistadores. Minha mãe que o diga! Ela
gente que gosta de cada coisa! ainda leva o pai em cabresto curto. Filha
de nordestinos, ela vive dizendo: Pra
Coitado do velho Claudionor, ele nem viu cavalo comedor, cabresto curto! Haja
seu filho nascer. O meu tio, que é cinco cabresto, pelo que imagino! Já meu avô
meses mais novo que meu irmão. E sabe vivia dizendo que “pra burro velho, capim
como ela colocou o nome do meu tio? novo!” Uma profusão de ditados... Eu só
Sabe como aquela mulher que peidou na sei que tem um ditado que adoro e que,
mão do meu avô colocou o nome do filho para mim, é mesmo a confirmação de que
dela? O mesmo nome do meu pai: o nome tragédia nunca vem sozinha em nossas
do meu tio é Clodomiro Neves Sobrinho. O vidas. Diz o tal ditado: “Depois do tombo,
sobrinho é irmão do Clodomiro Neves, meu vem o coice!”
pai. Que engraçado! O sobrinho ser irmão
do meu pai, o filho mais velho do velho Ou seja... se o cavalo ou o burro velho o
Claudionor, que é avô do meu irmão, o derrubar, aprume-se, pois o pior pode ser o
Claudionor Neto, sobrinho do Clodomiro coice, não o tombo. Se cair do cavalo,
Sobrinho... Uma confusão que até hoje eu aprume-se, pois um coice pode ser pior,
não entendo direito. bem pior.
Ainda bem que fugi dessa confusão e É mesmo curioso isso. Muito curioso...
coloquei o nome do meu filho, aquele
bebezão que foi feito lá naquela escada, O umbigo dela
um nome menos complicado: ele é o
Claudiomiro. Não é um nome bonitinho... Bem, não entendi como é que você veio
Uma homenagem ao meu avô e ao meu com essa história das aprontadas do seu
pai e ao meu tio do meio, o tio Claudiovan, avô, do seu tio, do seu pai, enfim, dos
que morreu atropelado por um caminhão homens de sua família... E isso é algum
de lixo quando tinha 30 anos e estava tipo de coice? Ou cair do cavalo é comum
voltando de uma noitada de carteado e, em nossa família. Eu disse nossa família,
dizem, com tanta cachaça no corpo que pois é a minha também, claro!
pode ser enterrado uma semana depois
que já estava embalsamado... Uma mulher
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O umbigo dela Ah, mas meu filho... ele é diferente de
todos lá em casa. Puxou mesmo o seu
Ah, claro! Nossa... pai... Lindo e tão sapeca... tão sapeca...
tão espertinho, vivo, inteligente... Aos
Uma mulher poucos vou me acostumando com ele.
Hoje eu já tenho 45 anos e todos dizem,
Mas eu não contei nenhuma aprontada do todos perguntam se ele não é meu irmão,
meu pai! ou, até se ele não é meu namorado... Fico
lisonjeada, pois acredito que querem dizer,
O umbigo dela sem dizer, o quanto eu sou nova. O quanto
eu aparento ser bem mais nova. O quanto
Não? Até parece... eu me conservei, mesmo tendo sido mãe
aos 15 anos... Fico mesmo envaidecida
Uma mulher quando dizem isso.
Claro que não contei nada, pois não sei de Será que estou sendo, digamos, vaidosa
nada... demais? Será? Depois você me diz, está
bem?
O umbigo dela
(Uma mulher e o Umbigo dela saem de cena,
Não sabe porque você não quer saber, me segurando o cabo flexível nas mãos)
parece...
(fim do primeiro ato)
Uma mulher
O umbigo dela
Uma mulher
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Todo espaço para pensar. Pouco espaço para O umbigo dela
pensar.
Você acha? Ou tem um pouquinho de
certeza?
Ato 2
Um homem
1 – O canto de Madalena –
Arrependida, eu? Nem morta! Pensando como homem, tenho certeza.
Mas, esse lado feminino que parece
ampliar minha visão sobre as coisas, na
Um homem
realidade, deixa-me ver limitadamente
como a mulher que não sou. Daí, o que
(Um homem está preso, agora, ao umbigo dela)
poderia ser uma certeza absoluta, torna-se
uma certeza relativa, aquilo que pode ser
considerado mesmo um pouquinho de
Das coisas que tenho sentido, agora, uma
certeza. Ou é incerteza que começa de
das que mais me chamam a atenção é ter,
pouquinho e se avoluma?
de vez em quando, uma visão feminina de
certos acontecimentos. Mas não é sempre
O umbigo dela
que chega até mim essa coisa, esse
“feeling” de mulher. Mas de vez em
Estando preso agora a você, eu sinto que
quando, sim, de vez em quando sinto que
há um certo aumento do volume do seu
sou puxado por um lado feminino que me
machismo. Desse machismo que lhe é
faz questionar como se mulher eu fosse. E
característico, até porque sendo você
como não sou mulher, então, esse lado
homem, sentindo-se macho sempre,
mulher que aflora complica um pouco,
pensando como macho a maior parte do
embola o meio campo, embaça minha
tempo, quando deixa seu lado feminino
visão, turva meus olhos, coloca temperos
aparecer, ele acaba, e sempre acaba
de TPM no meu comportamento e faz com
mesmo é vendo tudo distorcido e deixando
que eu fique com vontade de chorar muitas
apenas que se manifeste o lado macho, o
vezes por coisas tão bobinhas e não me
lado masculino, o jeito machista de agir.
faz enxergar, também, coisas tão óbvias,
Falta-lhe, talvez, a doçura que só as
mas tão óbvias que fico meio perdido entre
mulheres possuem. Ou falta-lhe um pouco
um simples sim e um simples não.
da delicadeza que em nós é natural.
Sabe, aquela dúvida que as mulheres
Um homem
normalmente tem? Se devem escolher um
sapato vermelho ou um sapato vermelho?
Delicadeza? Doçura? Sei não, sei não...
Se vão usar um pretinho básico ou um
Não sinto que todas as mulheres são
pretinho básico? Se vão colocar um sutiã
delicadas ou doces. Não vejo isso sempre.
de rendinha ou um sutiã de rendinha?
Mulher quando quer ser indelicada e
amarga, sai de perto! São um porre!
É o que acaba acontecendo e tenho que
ouvir: isso é coisa de mulherzinha, sabia?
O umbigo dela
Eu nunca soube diferenciar, nunca soube
Ah! É que você não tem uma vivência
mesmo, mas agora, mais próximo do
maior com essa troca se fluidos e de
problema, eu começo a perceber que deve
humores entre nós. Ainda terá que
ser foda ser mulher...
aprender a cambiar isso internamente e
podendo revelar quando seu lado feminino
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deve ter prevalência... Tudo deve passar O umbigo dela
por um filtro muito delicado, um crivo
finíssimo que ainda está em Essa noção de relatividade é uma noção
desenvolvimento ai do seu lado, mas que, surgida de uma visão masculina. Não tem
do nosso lado é natural. Você não sente, nada de feminino o que é relativo. É ou não
de vez em quando, uma dorzinha que é.
incomoda e que você não sabe onde é?
Então, é uma dor no seu útero imaginário, Não tem mesmo nada de relativo na visão
se for mais forte, pode ser uma dor no seu feminina.
ovário. Não, não é no saco, o tal escroto,
que acomoda e abriga os testículos... Não, Um homem
seu ovário imaginário, aquele do seu lado
fêmea, digo, feminino, intuitivo, chorão... Palavras, palavras... um jogo sempre. Além
de palavras as mulheres sempre
Um homem aumentam seu poder, utilizando-se de
armas que lhe são facilmente disponíveis.
Parece fácil dizendo assim... Parece muito Essas armas são perigosas. A sedução, a
fácil. Mas, veja bem... Essa troca que você dissimulação, o charme, a aparente
quer demonstrar e que pode acontecer fragilidade... Mostram-se ingênuas quando
muito naturalmente, não é bem assim tão são descaradamente oferecidas. Mostram-
fácil. Até porque o funcionamento se desinteressadas quando o desejo a
metabólico das mulheres é bem diferente, consomem intensamente. Ou não é isso o
completamente diferente dos homens. que as mulheres se valem em momentos
capitais? Na hora do vamu vê, como
O umbigo dela agem?
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surpreendentes e que apresentam esse discurso de insegurança é apenas
resultados devastadores. Quando usadas uma tática para atingir conhecidos
com a maestria feminina, abatem mesmo. objetivos.
Derrubam. Inquestionáveis são os poderes
das armas femininas. Um homem
Um homem Um homem
Ah... você quer dizer, então, que as armas Nós conquistamos. Lutamos muito e
que vocês desenvolveram são armas conquistamos.
adaptadas do que, antes, foram armas
masculinas? O umbigo dela
Um homem Sim.
Quando vocês querem, vocês conseguem Não é uma conquista na exata dimensão
essa aproximação, sem grande esforço. E da palavra.
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Um homem Um homem
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Quanta bobagem vocês chegam a fazer... O umbigo dela
Quanta bobagem! Ficam absolutamente
ridículos. Ridículos, está entendendo? Não, claro que não... Vocês chegam com
enorme esforço, pode ter certeza. Um
Um homem enorme esforço de apenas uma fração
ínfima de nós... Se a gente usasse dois por
Não admito que isso esteja, agora, cento de nossa capacidade de sedução,
passando por sua cabeça... Ridículo, sei vocês seriam presas tão fáceis que
bem o que é isso. Mas eu, não mesmo! perderia totalmente a graça. Daí é preciso
que a gente se faça de ingênua, de burra,
O umbigo dela de frágil. Papéis fáceis demais para a
gente interpretar, está sabendo? Nada que
Não está passando por minha cabeça. O exija da gente um esforço maior de
que passa, agora, é apenas uma certeza. interpretação, de disfarce. Eu sempre falo,
São mesmo ridículos. como são ridículos esses homens metidos
a conquistadores!
Um homem
Um homem
Certeza?
Ainda bem que não vou e nem quero levar
O umbigo dela a sério o que você disse. Sei, sei sim que
você faz isso por eu não poder, no
Sim, uma certeza. Inquestionável certeza... momento, deixá-la falando sozinha.
Quando a conversa não me interessa, sei,
Um homem sim, sei desviar o assunto, buscar outro
que me agrada. Mas, aqui, não. Não dá
Lá vem você, de novo... para desviar o assunto, nem para
desvencilhar-me do que me liga a você.
O umbigo dela Infelizmente não dá. Mas posso, então,
desconsiderar o que ouvi e partir, quando
A certeza é que vocês, homens, sempre der, para outra.
serão meninos prontos a tudo para a ilusão
de que a mulher que está naquele instante Mas será que vou ter coragem de enfrentar
com você foi fruto de uma conquista. outra? O que aprendi - se é que aprendi
mesmo – pode me servir como uma nova
Viu só a natureza ridícula que falei? arma quando tiver que usá-la?
E não foi? E não é, sempre assim? As armas a gente utiliza quando menos
esperamos.
O umbigo dela
Um homem
Vocês, mais uma vez sucumbiram aos
nossos desejos. Deixando-se enganar. Mas então é mesmo intuitivo tudo isso?
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2 – O encanto de todos os encontros
Não se preocupe.
(O Homem, O Umbigo Dele, A Mulher e O
Umbigo Dela estão ligados entre si) Uma mulher
Não era o que você desejava? Como é que conseguimos fazer essa
reunião e como conseguimos chegar aqui
O umbigo dela ao mesmo tempo?
Um homem Sim.
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O umbigo dela
De sua boca nunca sai mesmo palavras
Se vocês não aceitarem, eu vou acabar gentis... Eu bem que avisei...
desistindo.
O umbigo dele
O umbigo dele
Se quer palavras doces, vá a uma
De novo o mesmo jogo! Isso me dá no confeitaria ou compre um sonho de nata,
saco, está sabendo? ou um sonho de goiabada, goiabada é o
sonho, freguesia.
Uma mulher
Uma mulher
É sempre assim. A conversa nunca evolui.
Há sempre um “estou de saco cheio”, “isso Antes você vivia citando as “pamonhas,
não é hora”, “você de novo...”, “não vê que pamonhas de Piracicaba”. Agora mudou
estou cansado...”, “o meu chefe pegou para sonhos?
tanto no meu pé que estou a ponto de
explodir”, “você não tem um mínimo de Um homem
respeito pela minha individualidade”, ou
“hoje é dia de futebol com os rapazes...”. E Tenho todo o direito de sonhar. Ou não
eu, como fico? Sempre tendo que ceder a tenho!
tudo? Ceder para que você saia ileso das
questões que são de seu mais absoluto Uma mulher
interesse? Assim não dá, não dá mesmo!
Tem, claro que tem. Mas seu sonho não
Um homem pode sobrepujar o meu. Nada desse papo
de querer ser hegemônico sobre mim.
Se eu fosse dar ouvidos a tudo...
Um homem
O umbigo dela
Mas se eu sou o personagem homem,
Ele não quer saber de nada. Se não for do minha visão não pode ser diferente de
jeito que ele quer... Pode desistir! minha natureza. De minha função. Sou
homem e como tal deve agir e reagir.
O umbigo dele
Uma mulher
Se eu não defender meu ponto de vista!
Mas você não pode ser um pouco gentil?
Uma mulher Ou para ser homem, deve ser grosso e
insensível?
Aí é que mora o perigo! Apenas uma visão
caolha e calhorda... Um homem
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O umbigo dele Nem sempre não agir é de todo ruim.
Mas não agir, segundo suas regras, não é Vem o quê, seu viadinho?
pior? Você diz que tenho que agir, não é?
O umbigo dele
Uma mulher
O quê? Olha só quem está falando... Sei
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bem quem gosta de fazer outros papeis...! Uma mulher
Sabe aqui, do quanto pior, melhor? Minha especialidade é dar equilíbrio. Não
provocar rupturas.
O umbigo dela
O umbigo dela
Isso é bem coisa de viado, mesmo!
Se você quer romper, rompa. Mas assuma.
O umbigo dele Não venha com lamúrias, viu? Isso não é
mesmo coisa de muiézinha?
Eu já lhe disse... Viado é a puta que pariu!
Não é mesmo coisa de muiézinha?
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O umbigo dele
Uma mulher
Quando a confusão se instala, você vem
para por é mais lenha na fogueira. Para Mas não é isso! Ou é? Querem mesmo é
mim sempre esteve muito claro esse papel! partir para a porrada? Ou uma conversa
não seria mais indicado e inteligente?
Um homem
Um homem
Posso aceitar que isso continue? Não
posso! É muita perda de tempo. Conversa O que?
fiada, enganação.
Sabe que não sei?
Uma mulher
Será?
Se você tiver bom senso e juízo, pode!
Pode sim! E as coisas sempre se ajeitam.
Sempre há uma saída, uma solução. Curitiba, 16 de dezembro de 2009.
O umbigo dela
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