editora multifoco
Simmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda.
Av. Mem de Sá, 126, Lapa
Rio de Janeiro - RJ
CEP 20230-152
capa
Laís Brevilheri
diagramação
Fernanda Hubacher
CONTOSSIM
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VIDA DE ESCRITOR
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UM DIA É DA PESCA
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O garoto não teve dúvida, olhou bem nos olhos dos
moleques e enfiou a faca. Depois colocou no rio, tirou as tri-
pas e repetiu o processo até esvaziar o balde. Sem culpa ou
remorso. Afinal, era ele ou eles.
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CADA MACACO NO
SEU APARTAMENTO
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40 ANOS DEPOIS
14
A MULHER DO ALMEIDA
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Todos naquele momento eram um pouco do Almei-
da. Fizeram um silêncio que, mesmo quebrado pelos cum-
primentos efusivos do Siqueira e do malandro Sérgio Sales,
denunciava um espanto geral.
Como é que o Almeida? Onde é que o Almeida, que
mulher é essa?
Para piorar a situação, a mulher ainda era boazinha.
Esperta sem ter cara de safada. A voz leve sem ser vulgar.
Olhos brasileiros e redondos com uma ternura tal, e toda
ela acabava na direção do Almeida.
Depois de horas conversando – como nunca antes -, o
Almeida abraçou sua mulher e foi embora, despedindo-se
muito. Os amigos entreolharam-se.
O Almeida e sua mulher casaram-se rápido. Comple-
tado um ano, beijavam-se na rua de tal modo que fazia as
gentes suspirar, avermelhar, e é claro, sentir inveja.
Os companheiros do Almeida passaram da admiração
para a desconfiança. E sem motivo, o que os deixava ainda
mais desconfiados.
— Essa mulher tem algum defeito. — reclamou o Sales.
— Você está é implicando com a moça. De defeito, só ser
bonita demais. – riu o dono do bar, mostrando a falha no dente.
— Aí tem. Boazinha demais, bonitinha demais. Escre-
ve o que eu digo.
— Traindo o Almeida? Quando? A mulher nem sai de
casa, vive pro cara... Vocês estão é com inveja.
— Cala a boca, Siqueira, você não sabe de nada.
O tempo passava, e nada. A mulher só dava moti-
vo para o marido sorrir. Era cuidadosa, não reclamava de
nada, insistia para o marido sair de casa, mas o homem só
queria o colo da mulher na volta do trabalho.
Mas como todo amor tem seu pecado, o pobre do
Almeida caiu em tentação numa noite de outubro. No bar,
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só ele e o Sales. E assim que o Almeida levantou para ir
embora, o amigo chamou:
— Almeida, ei! Volta aqui... está cedo.
— É que minha mulher...
— É sobre ela mesma.
— Que tem ela?
— Pois é, Almeida. Senta aí.
— Fala, Sales. O que tem minha mulher?
— Não fica nervoso, calma.
— O que é que foi?
— Calma, Almeida, ei, não me olha assim. É só uma dú-
vida, amigo.
— Dúvida?
— É, brincadeira boba. É que um dia a gente apostou
aqui no bar se a tua mulher tinha algum defeito, sabe como é. A
tua mulher, né Almeida, o que é aquilo, mulher abençoada.
O Almeida sorriu.
— É, ela é mesmo.
— Mas então. Tem?
— Tem o quê?
— Defeito, Almeida.
— Não...nenhum. – e o Almeida sorriu mais.
— É amigo, você tem sorte. Mulher assim, olha. Eu digo
isso, porque, você sabe, mulher quando é boazinha demais...
— Como assim, Sales?
— Ah, aquela coisa. Tem vício escondido. Trai com o
amigo. Cada coisa.
— É?
— E como! Pior ainda são aquelas que te dão um mole-
que que é tua única alegria, e o menino cresce com a cara do
colega, aí sim. Capituzinha, sabe?
— Minha mulher não faria isso.
— Claro que não, Almeida. Tua mulher é uma santa. –
sorriu o Sales com a boca no copo de cerveja.
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E aqui começa o inferno do infeliz do Almeida.
Foi para casa orgulhoso mais uma vez de sua boa mulher.
Mas como a dúvida e o medo são lâminas, o Almeida cortou-se,
e, coitado, não conseguiu dormir.
A partir daí foi gradativo, degradê. A dúvida do Sales
agora era dele também. Não conseguiu olhar a mulher no
café, e foi direto para o bar na volta do trabalho. Sem cora-
gem de perguntar ao Sales se sua mulher tinha dado motivo
para o comentário, acabou ficando quieto mesmo. E foi ao bar
todos os dias, na tentativa de ouvir alguma coisa. A mulher
do Almeida ficou feliz de ver ele tanto tempo com os amigos,
estava mais sociável.
“Deve estar querendo que eu fique na rua para me saca-
near” – remoía o Almeida.
E aí ele começou a insistir. Em achar. Alguma coisa.
Chegava mais cedo em casa, e nada. Seguia a mulher na
rua, e nada. Ouvia as conversas dela com as amigas na exten-
são do telefone, e nada.
E o Almeida começou a beber. Começou a fumar sem
querer, viajava sem avisar sem querer, voltava bêbado sem
querer, traiu e bateu em sua mulher sem querer. A dúvida,
quase um câncer.
Sua mulher emagreceu, cortou os cabelos.
Até promessa ela fez, mas a teimosia do Almeida era. E foi
com uma chuva de abril que ela pegou o que pensava ser uma
gripe, e não cuidou. Era tuberculose, que a matou em dois me-
ses. O Almeida chegou em casa dois dias depois. Ela lá, na cama
do casal, magra e morta, de camisolinha branca, os lencinhos de
papel molhados de vermelho em volta de si.
E entre os sussurros no velório, o que se ouvia era
o seguinte:
— Ela morreu do quê, mesmo?
— Diz que foi por causa do Almeida.
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— Morreu de desgosto, isso sim.
— Esse Almeida não presta. E agora fica aí, desse jei-
to. Canalha.
E o Almeida, ai, o Almeida. Segurou a mão fria da mulher
no peito, e aí então ele descobriu. O único defeito da mulher do
Almeida era o de amar demais.
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MAIS PERTO DO SENHOR
Ela vestiu sua melhor roupa, tirou do armário aquele per-
fume guardado para ocasiões especiais e ficou fazendo e desfa-
zendo o cabelo até que ele ficasse impecável.
Saiu de casa meia hora antes do que de costume e cami-
nhou pelas ruas vazias em direção à praça. As poucas almas
vivas que encontrava estavam entre vivas e mortas, acorda-
das e desmaiadas, resquícios da noite anterior. Era assim toda
manhã de domingo, especialmente na época da colheita do
café, quando a população da cidade dobrava apenas com os
trabalhadores temporários, nômades, a serviço de quem tives-
se serviço a oferecer.
Como planejado, chegou a tempo de pegar o melhor lu-
gar, na primeira fila, à margem do altar. Observou atentamen-
te cada movimento do padre enquanto ele preparava-se para
subir ao púlpito, estava esperando por este momento desde a
semana anterior, mas não se arriscava a dirigir-lhe a palavra. Ela
pensava que se ele ao menos a olhasse com atenção, ela nem
precisaria falar nada.
Em pouco tempo começaram a chegar outros fiéis, al-
guns infiéis e outros que nem sabiam muito bem o que estavam
fazendo ali. Entre todos, uma lhe chamou a atenção, ela nunca
tinha visto aquela moça por ali. Não era muito bela fisicamente,
tinha lá um ou outro detalhe a reparar, mas o que mais chama-
va a atenção era a roupa. Era uma roupa de sábado, parecia im-
própria para a missa de domingo, uma saia alguns dedos acima
do joelho e uma blusa de alça, com um leve decote, que deixava
à mostra as linhas do pescoço adornadas com um belo par de
colares, um em tons de madeira e o outro vermelho.
Logo ela deixou de reparar no pescoço e na moça dona do
pescoço. Mas então quem reparou na moça foi o padre e, após
reparar que ele havia reparado, ela voltou a reparar na moça.
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Analisou cada detalhe, cada leve defeito, cada pecado que ela
havia de ter cometido. E reparava também no padre, nos seus
olhares e seus sorrisos. Assemelhavam-se ao olhar e ao sorriso
do último domingo, mas ela tinha certeza que se direcionavam
ao quinto banco do lado esquerdo da igreja.
A situação foi lhe deixando ansiosa, não sabia como pro-
ceder diante de tal afronta. Ainda mais porque ela estava na pri-
meira fileira, em meio a duas senhoras, no meio da cerimônia,
em meio aos olhares e colares, pensando em um meio de cessar
aqueles atos indecentes. Foi então que começaram uma oração,
e ela, sem outra opção, começou a rezar alto, mais fervorosa-
mente do que qualquer pessoa já havia orado diante daquele
altar. Por conta disso, os olhares de todos, inclusive os do padre,
direcionaram-se a ela. Percebendo a situação, ela continuou,
em alto e bom tom, a pronunciar todas as falas que cabiam aos
que ficavam de frente para o altar, já sabia todas de memória.
Ao final da cerimônia, após cânticos entusiasmados e ora-
ções fervorosas, ela olhou para o padre e ele fez um gesto para
que ela se aproximasse. Ela sentiu um frio na espinha, até o ar
dentro dos seus pulmões sentiu-se intimidado e acabou fican-
do por ali mesmo enquanto ela caminhava em direção ao altar.
Durante a breve caminhada, observou com um sorriso a moça
dos colares retirando-se pela porta lateral.
Quando ela já estava perto o suficiente, ele disse:
— Já na minha segunda celebração não pude deixar de
notar tua presença. Não há modo de não ficar admirado com
tua devoção às orações e aos cânticos. Tens algum motivo es-
pecial a celebrar?
Ela deu mais um passo em direção a ele e respondeu:
— Tenho só um motivo, ficar mais perto do senhor.
21
O CONTO, O AUTOR E EU
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descobrisse que eu tinha sequer lido, ai de mim. Soltei um
“Camarada perigoso, esse tal de F.”, só para ver se arrancava
alguma informação mais valiosa de quem eu pensava ser o
dono daquilo. Meu colega foi duro:
— Sério. Olha para você, se assusta até com um aponta-
dor. Não se meta com ele. O cara é suburbano, você está arran-
jando confusão de graça.
— E se não for ele? Ou, melhor! E se realmente for ele, e
ele deixou no balcão justamente para alguém publicar?
— Se for ele, o que é apenas uma hipótese, duvido que
fizesse isso. Olha... ele é amigo dos desenhistas, talvez veio
visitar algum deles e perdeu. Por que não vai lá perguntar?
Ah, claro. Como eu vou perguntar por alguém que eu
nem sei o nome, para pessoas que também não conheço? E
além disso, por conta de um conto que nem posso publicar
com o risco de ser... o que ele faria comigo? Nem isso eu sei.
O fato é que aquele desconhecido era mais cru que
um açougue inteiro, com seus fantasmas e traumas invisí-
veis. Tão perfeitamente urbano e maníaco, um espelho que-
brado, uma bomba bípede em tempos de zumbi. Assoprei
a cobiça que enovelava o ar como uma aranha em volta da
minha cabeça, e resolvi esquecer.
Com muito desgosto, deixei um bilhete no balcão de
achados e perdidos, dizendo que havia encontrado um conto
de um tal de F. Saí rápido dali, vai que ele aparece para bus-
car e me vê. Vai que ele me conhece, caras desse tipo sempre
sabem quem é você, e sem você saber. Sem falar que o autor
daquilo era esperto o suficiente para saber do que pessoas
do jornal são capazes.
Uma semana, e nenhuma notícia. Aquilo já tinha ido
longe demais. Fui para a sala dos desenhistas, o conto na
mão, era agora.
— Boa tarde, tudo bem?
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Eles levantaram os olhos de suas telas coloridas como
ovelhas submissas. Senti um cheiro azedo de fofoca no ar.
— Boa tarde, senhora.
— Senhora? Quem é você, José de Alencar?
— Desculpe. O que a senhora... desculpe.
Pirralho idiota.
— Achei esse conto na portaria, semana passada. O
revisor me disse que um de vocês conhece o autor. Quero
falar com ele.
Amontoaram-se em volta de mim como crianças na creche,
em volta da tia. Até sem querer faziam-me sentir mais velha. Le-
ram o papel com olhar faminto. Até que um deles, enfim.
— Ei, você achou o conto do meu camarada! Nossa, ele
estava louco comigo atrás disso e...
— Quem ele é? Onde ele está?
— Olha, ele escreve nos fundos de um bar, às vezes. Eu
te dou o endereço.
Peguei o endereço e o revisor, e fomos para o bar no final
da Rua XV. Nem de dia aquele lugar tinha luz, um asco. Fui di-
reto na loira do balcão.
— Quero falar com o escritor.
— Ele saiu. Foi tomar café na Boca Maldita, deve estar lá,
falando com os velhos na praça.
Perfeito. Nem precisava ver o cara. Ia deixar o conto lá e
pronto. Despachei o revisor, não precisava mais dele.
— Só vim deixar um papel para ele. Posso?
— Põe lá na mesa dele. É naquela porta, lá no fundo.
Andei pelo bar tentando não encostar em nada, aquelas
paredes pareciam ter óleo grudado desde a construção da Ca-
tedral da Tiradentes.
Abri a porta e ali estava, o mundo de F., inteiro para mim.
Uma lâmpada fraca e amarelada iluminou as paredes do
cubículo, cobertas de desenhos grampeados ou colados, todos
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em nanquim. Os traços, a letra, era ele mesmo. De mobília, ape-
nas uma cadeira, uma máquina de escrever e uma mesa muito
antiga, dessas com buraco para tinteiro. Um cinzeiro com vá-
rias bitucas apagadas, uma carteira de cigarros amassada sobre
elas. Um papel em branco.
Sentei na cadeira de F., pus uma bituca velha na boca,
tinha gosto de álcool. Decidi ficar ali um tempo, conhecer o
mundo daquele autor. A sala fedia a fumaça. Esse lunático,
quem ele pensa que é, Drácula? Viver trancado assim, num lu-
gar imundo. Escrevendo aquelas coisas... fantásticas e sombrias.
Brinquei com os dedos na máquina, ficaram com cheiro de cha-
ruto. Abri a porta, a loira estava lá, me esperando.
-Ei, você, menina. Me traz um gole de alguma coisa, eu
vou esperar ele aqui mesmo.
— Tem certeza?
— Traz logo, garota.
Ela serviu um cálice com uma bebida gosmenta, da qual
nem entendi o nome. Fechei a porta quase na cara dela. Sentei
na cadeira de F. e respirei aquele ar pesado, o mesmo ar dele. O
tempo passou, pedi mais uns goles, e adormeci, meio bêbada,
com a cabeça na mesa. Acordei com o barulho da porta. Um
vulto, parado, me olhava sem entender nada.
— Quem é você?
— Você é o F.?
— Não interessa. Quem te deixou entrar?
— Quero falar com você.
Atravessou a sala como um bicho que tem a toca invadi-
da. Em silêncio, conferiu cada desenho na parede, cada canto,
e cada segundo a mais que eu ficava ali, mais incomodado ele
ficava. Viu a bituca na minha mão.
— Falar comigo... sobre o quê?
— Achei isso no balcão do jornal. É seu, não é?
— Não acredito! Que ótimo, você achou!
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— Achei, e li. Gostei muito.
— Que bom, pequena. Obrigado por devolver.
Peraí. Um sociopata não é tão educado assim. Ou é? Joguei
o conto em cima da mesa e levantei da cadeira num pulo. Ele
me olhou com uma cara estranha. Mas que cara era aquela? Ele
estava planejando algo. Com certeza.
— Eu não publiquei, tá? Nada.
— Ahn? Você ia publicar? – respondeu sério, com o
conto na mão.
Era agora. Ele ia me atacar. Já podia ver meu sangue espir-
rado nos desenhos, precisava agir rápido. Rasguei a blusa arran-
cando os botões, o sutiã pulou com os seios à mostra. Sentei na
mesa com as pernas abertas, a saia subiu até a virilha.
— Por favor, não me machuque. Eu me dou, para você.
— Hein?
— Faça o que quiser comigo, eu... eu faço tudo.
— Quem diabos é você, afinal de contas? Sua maluca!
Ele abriu a porta e tentou chamar a loirinha aguada.
Fechei com uma perna, enquanto a outra enlaçava o corpo
dele. Não sabia mais qual jogo ele estava fazendo. Estava
mentindo para me provocar, ia me deixar à vontade para um
ataque aéreo, mas não, eu não sou ingênua, ele ia ver.
— Ei, pare com isso! Se vista!
Empurrou-me delicadamente e acendeu um cigarro,
encostado num canto. Estava desfigurado.
— Não adianta me perseguir depois na rua, seu doen-
te! Eu te mato, viu! Eu tenho uma arma!
— Meu Deus, moça, eu nem te conheço! Para que eu
ia te perseguir? Eu só quero que você suma, suma daqui!
Abriu a porta da sala e me forçou a sair, com a blusa
ainda aberta. Sorte que o bar estava vazio. A loirinha, com
os olhos arregalados, uma mão no telefone.
— Vai chamar a polícia, sua vaca? Chame mesmo, eu
vou denunciar esse tarado!
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A mão de F. puxou-me para dentro da sala novamente.
— Moça, por que quer me prejudicar? O que eu te fiz?
— Tem medo da polícia, é? Eu li o seu conto. Você fez
tudo aquilo, eu sei que fez!
— É só um conto! São personagens... só isso!
— Não são! É você! Olhe, os seus desenhos!
— O que você vê aqui fora é muito diferente do que...
você nem me conhece!
— Ah não, é?
Abri a calça de F. com uma mão só, ele ficou puto e me
estapeou, uma, duas, três vezes.
— Maluca! Saia daqui! Saia do meu mundo, sua inva-
sora maníaca!
Passei a mão no nariz, e um pingo de sangue caiu na
folha branca da mesa. F. acendeu outro cigarro, abriu a porta
pela metade.
— Moça, por favor. Nunca tinha batido em uma mulher,
por Deus. Você está bem?
— Cale a boca.
Conheço bem esse tipo, agora ele já sabia com quem es-
tava lidando. Ia pensar duas vezes antes de me perseguir pela
rua. Já pensou? As luzinhas amarelas da Rua XV, as únicas tes-
temunhas, um luxo de desgraça classe C.
Ele parecia triste, transtornado, um psicopata isso sim.
Peguei o conto em cima da mesa, enfiei na cintura da saia.
— Ei, meu conto! Você não vai levar, isso é meu!
— Vou! E vou publicar! E ai de você se for atrás de mim!
— Foi para isso que você veio aqui? Para me pedir au-
torização para publicar no jornal? Desculpe, mas não posso
concordar com isso.
— Ah, pode sim! Te denuncio por abuso sexual!
— Vou te dar motivo então, piranha maluca!
Arrancou o conto da minha saia, segurou na boca com os
dentes, e fez o que podia e como podia comigo ali mesmo. A
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máquina de escrever tremia sobre a mesa junto com as minhas
coxas. Tentei arranhá-lo na cara com as unhas, ele me esbofeteou
de novo. E terminou.
— Era isso que você queria? Pronto. Agora fora daqui.
— Nunca mais apareça no meu jornal, seu maluco! —
resmunguei, arrumando o cabelo.
— Mas eu nunca fui lá! O meu amigo levou o conto para
ler e perdeu! Eu nunca pisei naquele lugar maldito. Caramba,
olhe seu rosto, pequena, me desculpe, eu nunca...
Aquele desenhista pirralho. Então foi ele. Então eu... en-
tão o F... nunca tinha, nada, ai de mim. Eu precisava pensar em
alguma coisa, rápido.
— Olhe aqui, F., vamos fazer um acordo. Não te conhe-
ço, nunca te vi, certo?
— Sim, pode ser... — ele sussurrou, quase hipnotizado.
— Ótimo, passar bem.
Saí do mundo de F., e voltei para o trabalho. Choveu um
pouco no caminho, e a água suja que caiu de toldos e postes
lambeu meu rosto, lavando as marcas da tarde. Entrei no jornal
batendo o salto no chão como sempre, como se nada, como se
realmente nada tivesse acontecido.
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DEDICATÓRIA
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VOYEUR
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SOBRE O EGO
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SINAIS
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Os primeiros ônibus e carros começaram a circular pelas
ruas e o barulho emitido por eles parecia rasgar a pele daquele
corpo tenso, que nesse momento encolhia-se em um canto do
sofá enquanto o alarme continuava a tocar. As mãos cobriam-
lhe os ouvidos, mas os visitantes indesejados gritavam rente à
sua face. Buzinas, freadas, batidas, tiros, o som do vizinho de
cima e a televisão do de baixo, o canto estúpido do vizinho ao
lado no chuveiro enquanto os filhos dele jogam o videogame
no último volume, o caminhão do lixo, o carro da polícia, a am-
bulância, o profeta do apocalipse, as crianças do coral natalino.
Em meio ao caos interno, o telefone tocando. Sempre é
alguém querendo vender algo, sempre querem algo em troca
por simples palavras. O telefone tocou, tremeu e implorou até
cansar. Mas uma hora ele parou. Já era tarde, as visitas viram
que era hora de ir embora, o silêncio tomou conta novamente.
O corpo, antes encolhido, estirava-se pelo sofá, respirando com
alívio e sem a tensão que se imprimira pelas horas que antece-
deram este momento. Agora a sós, pensou naquela tarde e, já
esquecendo da promessa, disse a si mesmo:
— Esse mundo aqui dentro está muito perigoso. Amanhã
eu prometo que vou passar o dia na praça.
Ninguém respondeu. Mas mesmo assim, dava para notar
no rosto a descrença com a nova promessa.
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LIVRE ARBÍTRIO
34
Mas pego o vidro, e pego fogo.
Pegar fogo dói.
Enrolo o corpo numa coberta.
Abro o potinho de pílulas, quanta estupidez.
Não vai fazer efeito até o fogo me pegar.
Devia ter tomado mais antes de dormir.
O fogo levanta os braços para seu abraço mortal, mas
não me pega.
Escuto barulhos e gritos na porta.
Aquele vizinho intrometido.
Olho para fora da janela, o gato se lambendo no telhado.
Será que isso é suicídio?
Lembrei de uma amiga dizendo que se matar é pecado.
Que a gente fica lá no purgatório, pagando depois.
Mas isso é um acidente.
Mas talvez seja suicídio por eu ter tido a chance de fugir.
Não sei.
Do outro lado do quarto, minhas fotografias derretem.
Nem gostava delas mesmo.
Tudo passado, tudo inerte, tudo morto.
Aparece um bombeiro no telhado.
Pede que eu abra a janela.
Finjo que não escuto.
Grita para eu sair.
Que divertida, essa roupinha dele.
Parece um bonequinho.
Mando um beijo com tchauzinho,
só para ver o que ele faz.
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APOSTA QUE SE PERDE
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O CAMINHO ERRADO
37
A ENTREVISTA
E O DEPOIS DA ENTREVISTA
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A CADEIRA
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para sua cadeira. Não que fosse sua, mas aquela onde ele estava
antes, na qual devia ter sentado muita gente diferente. Tentou
fazer um cálculo de quantas pessoas deviam passar ali por dia,
dividir pelo número de cadeiras e talvez chegar a um número
médio de pessoas por dia naquela cadeira. Podia fazer um livro
só sobre aquela cadeira e os tantos personagens incomuns que
passam por ali. Mas desistiu da idéia. Esparramou-se novamen-
te na cadeira. E ficou ali.
Esperando.
40
A DIFERENÇA ENTRE SER PURA
E PUTA É DE UMA LETRA SÓ
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meia-gordinha-balconista tentava fazer a mesma coisa, tentava
fofocar comigo, me senti mal. Talvez as putas também estives-
sem falando de nós “Olha, olha, aquelas enrustidas! A magri-
nha não deve agüentar nem meio homem! A-ha-ha”.
Não agüentava mais aquilo. A balconista falando ininter-
ruptamente, tão absorta no seu mundo envenenado que nem
me viu apertar o botão que chama a polícia embaixo do balcão.
Os carros chegaram rápido, revólveres na mão, uma baderna,
um espetáculo de foge daqui e dali, putas e meias-gordas corre-
ram em guinchos e sussurros, uivos em pleno meio-dia.
O guarda entrou na farmácia, a balconista pediu descul-
pas, tinha tocado sem querer, devia estar estragado.
— Tudo bem por aqui então?
O povo que tinha entrado na farmácia e a meia-gordinha-
balconista responderam que sim. Sim? Oras. Então tá.
Antes que se lembrassem que eu existia, saí.
42
NÃO LEMBRO QUANDO, MAS FOI
43
CAPACIDADE
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INCAPACIDADE
Ele mudo.
45
NOCAUTE
46
O BILHETE
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nossa empreitada feminista, não agüentei. Aproveitei a primei-
ra saída do velho para desabafar.
— ... O seu pai podia vir ajudar em vez de...
S. fez um SSSHHH!!, desceu quicando da escada, e foi
conferir se o velho tinha ouvido. O que não adiantava nada,
porque ele era do tipo que fingia surdez, e isso invariavelmente
o fazia escutar o que não queria. Tudo isso seguido de um silên-
cio rancoroso de uma semana até alguém adivinhar o que ele
realmente tinha escutado, ou não.
Quando S. me segurou pelo braço e disse “Vamos conver-
sar”, liguei a valsa de Schubert dentro da cabeça para agüentar a
bronca. S. me levou num canto. Pronto, o barraco ia comer solto.
Mudei a música do Schubbie para a 5ª sinfonia do mano BeeTho-
O-Ven, ideal para arranca-rabos e pega-pra-capar em geral.
Mas S. era elegantemente esquizofrênica, a musa pós-moder-
na do Dr. Jekyll. Pediu desculpas baixinho, disse que sabia que o
velho era difícil, pediu paciência. Ele tinha blábláblá (uma daquelas
doenças doloridas de velho nas pernas, que me fez sentir uma me-
gera), e o máximo que podia fazer era reclamar.
Observei bem o velho no outro dia, e, coitado. Do que
será que esse velho gosta? Uma idéia.
— Ei, menina, essa lata aí, você vai cair dentro dela!
— Obrigada, Seu J., por avisar.
O velho ficou curioso por eu ter respondido em palavras
ao invés dos costumeiros grunhidos. Era agora.
— É, seu J... o que o senhor gosta de fazer?
Cretina, que pergunta cruel. O velho mal andava direito.
Para piorar, ele ainda fez aquela cara de túnel do tempo, e fi-
cou lá hipnotizado, acho que nem lembrava a última vez que tinha
prestado atenção nele mesmo. Comprovando a minha hipótese, ele
soltou a resposta no pretérito:
— Eu gostava... de ir na lotérica.
— É? Vamos ali na esquina, torrar uns trocados?
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O velho coçou a testa. S. tinha saído para comprar mais
tinta, e nem ia notar o pseudo-seqüestro do velho.
“Tomara que ele não tenha um treco no meio da rua”,
pensei. E lá estávamos nós, na bendita da lotérica, quando o Seu
J. revelou-me seu lado místico.
— Não olhe meu jogo. São números sagrados.
Seu J. fez um gesto mágico hilário no ar e abriu de novo
a portinha do túnel. Segurei a risada, e quase cuspo o cafezinho
morno no jogo cabalístico do velho.
— Ah é?
— São as datas da falecida. Nascimento, e o outro dia.
Cretina, cretina. De novo? Peguei o bilhete da mão do ve-
lho e paguei a aposta. Voltamos quase amigos para casa. Com
sorte, antes da S. voltar.
A semana passou tranqüila, e finalmente eu e S. termi-
namos a pintura. O sobradinho, além de esquisito, agora era
“coloridinho”. Mas ficou bom. Cansada, fui trocar de roupa
no banheiro. E o Seu J. gritou. E gritou mais.
“Ricooooo minha filhaaaa estamos ricoooos!!!”
Cheguei na sala a tempo de ver o lindo abraço de S. e
seu pai. Chorando, grudados, a glória. Seu J. balançando o
bilhete da loteria na mão. Caíram no sofá às gargalhadas, tão
fortes que dava para mastigar. Seu J. me viu parada no corre-
dor, e sorriu, o velho sorriu mesmo e me abraçou também,
“Olha menina olha o jogo que você me deu!”
Alguns vizinhos curiosos penduraram-se no murinho.
Seu J. fechou a porta alucinado, puxou S. pela mão, “SHHHH
filha, quieta”, e me olharam.
— Menina. Não conta pra ninguém. Precisamos ter cuidado.
— Sim, Seu J., eu sei.
A euforia tinha sumido, e agora eu estava com medo
do medo deles.
— Você já estava de saída, não é?
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— É, sim, mas...
— Vá para a sua casa, e quando sair pelo portão, disperse
os vizinhos. Invente alguma coisa, que eu caí, sei lá.
— Tá, Seu J.
S. estava com uma cara transfigurada. Em seus olhos ca-
valgavam frases de luxúria, fama e poder. Meio assustador, mas
completamente compreensível, eu conhecia a vida dos dois.
Beijei a testa da inerte S. flutuante, apertei a mão de Seu J., de-
sejei boa sorte, e fui para a porta da casa. O velho segurou-me
pela mão, e com a expressão mais agradecida que já me olha-
ram (será que é assim que os santos se sentem?), mostrou o
bilhete com os números premiados.
— Olha, menina, eu vou te recompensar.
— Não precisa, Seu J., que é isso, eu já sou feliz.
Enquanto Seu J. murmurava seus últimos “obrigado até
mais santa menininha”, dei aquela olhada fatalmente racional
no tal do bilhete.
Seu J. era milionário, sim. Se tivesse jogado uma sema-
na antes. Os números da falecida eram o resultado do sorteio
anterior, e pelo jeito o japonês da lotérica mais uma vez tinha
esquecido de atualizar a placa na entrada da loja.
Soltei a mão de Seu J. devagar, agradeci com as pernas
moles e escorri para o lado de fora da casa. Falei qualquer as-
neira para os vizinhos papagaísticamente empoleirados no mu-
rinho darem o fora, e fui atravessando a rua devagar, bem deva-
gar. O sobradinho agora era de vidro.
Ouvi uns cochichos, olhei para trás, e vi uma vizinha xe-
reta se aproximar da quebradiça porta da casa da S.
Pensei em gritar, pular na mulher, xingar o japonês.
Mas eu corri.
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POVO DAS SOMBRAS
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A VOCÊ, QUE EU NÃO PUDE AJUDAR
Encontrei o garoto esquentando as mãos numa fogueira,
em um campo de refugiados no Paquistão.
Por volta de uns 07 ou 10 anos, tinha o rosto ainda sujo de
mais um desses desastres ecológicos no Oriente. Com os olhos
imensos azulados e fundos, por um segundo pensei a quem ti-
nha puxado. A mãe, o pai, quem sabe agora: estavam mortos,
e você já sabia.
O ambiente farpado e faminto onde morava agora nada
tinha da pouca infância na qual você tentava se agarrar. Era só
mais um dos semi-vivos sem idade nem nome que o jornal fo-
tografava para publicar sei lá onde.
Tive vontade de abraçá-lo, levá-lo para casa e dividir meu
assalariado pão com você.
As mãozinhas esticadas, essa maldita poeira sujando o
seu “estar-criança”.
Tomei distância para tentar esquecê-lo.
Passei os dedos no seu rosto pela tela do computador,
onde em breve você desapareceria. Segunda-feira de manhã e
isso. Respirei sem vontade e continuei a fotossíntese, enraizada
na cadeira do escritório.
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IDADE DAS TREVAS
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21, ME ESPERA
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entendo de genética mas Darwin diria que a maioria nesse as-
pecto evolutivo não sobrevive devido ao caráter da espécie. No
21º andar elas mentem traem seu sexo traem entre si eu preciso
preciso de você ah agora não quero mais quero aquele que tem
outra quero aquele que tem mais grana no fim quero todos
porque afinal de contas há várias maneiras de se pintar e não dá
tempo de escolher com quem vou casar agora.
Oh, 21, você está com fome? Esqueça isso, vamos procu-
rar mais estrelas no céu e procurar mais galáxias que não temos
acesso. A fome passa e um bilhão de centavinhos a gente arran-
ja rapidinho sempre tem alguém que ajuda quer dizer agora eu
não posso você entende não é?
21 eu sinto lhe dizer não é por mal mas fizemos alguns
buracos no céu e sim meus netos serão focas besuntadas de pro-
tetor solar focas sem peixe talvez mas belas focas super antena-
das na última invenção.
Esqueça a maçã do Newton esqueça a língua do Einstein
o negócio agora é aprimorar quem vai inventar algo tão impor-
tante como a roda? Ah sim achamos a cura de algumas doenças
e nossas mulheres não morrem mais entaladas com uma crian-
ça tentando sair pelas ancas isso basta? Basta.
21 eu preciso ir estou sem relógio mas sei que estou atra-
sado depois nos falamos passa lá em casa eu faço uma janta e
vemos a novela hoje vai ter briga na TV e vai ser demais!
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JARDIM DE INVERNO
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TUDO MENOS DESCULPAS
Simples
Se erro, me justifico
No pretérito do subjetivo:
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FUGA
Percebo-me e sigo
Persigo-me e vejo
Percevejo.
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CINZAS
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SABIA ASSOBIAR
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MÁ NOTÍCIA
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— Minha netinha querida, não chore! O vovô compra ou-
tro gatinho para você.
A garota começou a soluçar de tanto chorar.
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FAZENDO AS PAZES
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PÓ
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O TEMPO DAS PAIXÕES
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ADORÁVEL INEVITÁVEL
Meu tropeço
Teu sorriso
Um começo.
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TODO DIA
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O SILÊNCIO
é um ponto branco
escrito a dedo
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SUMÁRIO
O conto do conto
Rodrigo Domit 9
Vida de escritor
Gisele Pacola 10
Um dia é da pesca
Rodrigo Domit 11
Cada macaco no seu apartamento
Gisele Pacola 13
40 anos depois
Gisele Pacola 14
A mulher do Almeida
Gisele Pacola 15
Mais perto do Senhor
Rodrigo Domit 20
O conto, o autor e eu
Gisele Pacola 22
Dedicatória
Rodrigo Domit 29
Voyeur
Gisele Pacola 30
Sobre o ego
Rodrigo Domit 31
Sinais
Rodrigo Domit 32
Livre arbítrio
Gisele Pacola 34
Aposta que se perde
Gisele Pacola 36
O caminho errado
Gisele Pacola 37
A entrevista e o depois da entrevista
Gisele Pacola 38
A cadeira
Rodrigo Domit 39
A diferença entre ser pura e puta é de uma letra só
Gisele Pacola 41
Não lembro quando, mas foi
Gisele Pacola 43
Capacidade
Rodrigo Domit 44
Incapacidade
Rodrigo Domit 45
Nocaute
Rodrigo Domit 46
O bilhete
Gisele Pacola 47
Povo das sombras
Rodrigo Domit 51
A você, que eu não pude ajudar
Gisele Pacola 52
Idade das trevas
Rodrigo Domit 53
21, me espera
Gisele Pacola 54
Jardim de inverno
Rodrigo Domit 56
Tudo menos desculpas
Gisele Pacola 57
Fuga
Gisele Pacola 58
Cinzas
Rodrigo Domit 59
Sabia assobiar
Rodrigo Domit 60
Má notícia
Rodrigo Domit 61
Fazendo as pazes
Rodrigo Domit 63
Pó
Rodrigo Domit 64
O tempo das paixões
Rodrigo Domit 65
Adorável inevitável
Gisele Pacola 66
Todo dia
Rodrigo Domit 67
O silêncio
Gisele Pacola 68
Este livro foi composto em
Dante MT Std pela Editora
Multifoco e impresso em
papel offset 75g/m2