TRILOGIA DO AMOR
Deus Pai e seu amor salv•fico
nas “enc•clicas trinitƒrias” de Jo…o Paulo II
(leitura teológica)
Roma, 2008
2
Abreviações
Introdução
1
Alocução de 18-5-1986, in Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. IX-1(1986), p. 1634.
4
2
Texto latino em: AAS 71(1979), p. 257-324. Neste estudo, a indicamos pela sigla RH.
3
Cf. RH nn. 5-7.
5
II
4
RH n. 22, citando At 1,8.
5
Texto latino em AAS 72(1980), p. 1177-1232. A seguir, a indicaremos com a sigla DM.
6
O compasso ternário desta encíclica é observado por W. RUSPI: "Eucaristia e riconciliazione
alla luce della Dives in misericordia", in F. TAGLIAFERRI: L'enciclica "Dives in misericordia" -
Presenza pastorale 1/2(1981), Roma, p. 77-80.
6
III
7
Texto latino em AAS 78(1986), p. 809-900. Em nosso estudo, usaremos a sigla DV.
7
8
Cf. DV nn. 15-21.
9
DV n. 25, citando Lumen gentium n. 4 que, por sua vez, cita 1Cor 3,16; 6,19.
10
Cf. DV nn. 25-26.
11
Cf. Jo 16,7 citado no n. 27 desta encíclica.
12
Cf. DV n. 31.
13
Cf. DV n. 32.
14
Expressões usadas pela DV nn. 33 e 48.
15
Cf. DV n. 48.
16
DV n. 49.
8
IV
17
DV n. 53, citando Gaudium et spes n. 22.
18
Cf. DV n. 57-58, cuja reflexão se inspira em Rm 8.
19
Cf. DV nn. 59-62.
20
Versículo citado ao n. 66 da mesma encíclica.
21
A. ARANDA: "Revelación trinitaria y misión de la Iglesia", in A. ARANDA: Trinidad y
salvación - estudios sobre la trilogía trinitaria de Juan Pablo II, Pamplona, 1990, p. 47.
22
Cf. JOÃO PAULO II: Tertio millennio adveniente nn. 39-55.
9
23
A. ARANDA: "Revelación trinitaria y misión de la Iglesia", o.c., p. 54-55.
11
"O Verbo fez-se carne e veio habitar entre nˆs"(Jo 1,14); e em outra passagem:
"Deus, de fato, amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho unig†nito,
para que todo o que nele cr† n…o pere€a, mas tenha a vida eterna"(Jo 3,16).25
"Deus, depois de ter falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e de muitos
modos, pelos Profetas, falou-nos nestes Šltimos tempos pelo Filho” (Hb 1,1s),
por meio do Filho-Verbo, que se fez homem e nasceu da Virgem Maria.26
24
RH n. 1.
25
RH n. 1.
26
Ibidem.
12
Verbo. Mas o revela como Filho: ele nos comunica a salvação que o Pai nos dá.
Além de assinalar a plenitude dos tempos, a encarnação do Filho constitui
também um ato redentor do Pai. Ato pelo qual "a história do homem atingiu, no
desígnio de amor de Deus, o seu vértice"27. Assim, o Pai efetua de modo
singular o seu desejo de salvar a todos os homens. O Filho assume a
humanidade e põe sob nova luz aquela dimensão de santidade e comunhão
com a vida divina, que o Pai nos havia oferecido desde a criação do mundo:
27
Ibidem.
28
Ibidem.
29
RH n. 1.
30
Passagem bíblica empregada pelo n. 4.
31
Outra citação bíblica, parágrafo n. 4; reaparece ainda nos nn. 12 e 19.
32
RH n. 4.
13
O que serƒ necessƒrio fazer, para que este novo advento da Igreja, conjugado
com o jƒ iminente fim do segundo mil†nio, nos aproxime daquele que a Sagrada
Escritura chama "Pai perp‡tuo" - Pater futuri saeculi (Is 9,6)? 34
33
Título do Capítulo II e de seu primeiro sub-tema, respectivamente.
34
RH n. 7.
35
Cf. JOÃO PAULO II: Tertio millennio adveniente nn. 49-50.
36
RH n. 7.
37
Ibidem, remetendo a Ef 1,10.22; 4,25; Col 1,18.
38
Ibidem, remetendo a 1Cor 8,6; Col 1,17; Jo 14,6; 11,25 respectivamente.
39
Ibidem, remetendo a Jo 16,7.13.
14
fala, a sua humanidade, a sua fidelidade à verdade e o seu amor que a todos
abraça"41.
Em Jesus Cristo, o mundo visível, criado por Deus para o homem - aquele
mundo que, entrando nele o pecado, foi submetido à caducidade - readquire
novamente o vínculo originário com a mesma fonte divina da Sabedoria e do
Amor.46
40
Ibidem, remetendo a Rm 12,5; 1Cor 6,15; 10,17; 12,12.27; Ef 1,23; 2,16; 4,4; Col 1,24; 3,15.
41
Ainda o n. 7.
42
Ibidem.
43
Ibidem.
44
Como dirá mais adiante o n. 19.
45
RH n. 8.
46
RH n. 8.
15
De fato, "Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito"(Jo 3,16).
Assim como no homem-Adão este vínculo foi quebrado, assim no homem-Cristo
foi de novo reatado.48
Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, se tornou a nossa reconcilia€…o junto do Pai.
Precisamente ele, e sˆ ele, satisfez ao eterno amor do Pai, •quela paternidade
que desde o princ•pio se expressou na cria€…o do mundo, na doa€…o ao homem
de toda riqueza do que foi criado, ao faz†-lo "pouco inferior aos anjos"(Sl 8,6),
enquanto criado • imagem e • semelhan€a de Deus; e igualmente satisfez
•quela paternidade de Deus e •quele amor, de certo modo rejeitado pelo
homem, com a ruptura da primeira Alian€a e das alian€as posteriores que Deus
"repetidas vezes ofereceu aos homens".53
51
RH n. 8, citando Gaudium et spes n. 22.
52
A. ARANDA: "Revelación trinitaria y misión de la Iglesia", o.c., p. 60-61.
53
RH n. 9, citando ao final uma frase da Oração Eucarística IV.
54
De fato, Jesus não se apresenta como o centro da própria mensagem, mas anuncia em primeiro
lugar o amor do Pai e seu Reino: Mc 1,14-15; Mt 4,17; Lc 4,43; Jo 5,19.
17
paterno amor por nós55. Mais: "com esta revelação do Pai se explica o sentido
da cruz e da morte de Cristo"56. Jesus padece a cruz na fidelidade ao Pai e a
seu Reino. Ele realizou em tudo a vontade do Pai: fez-se Servo, assumiu a
natureza humana, anunciou em palavras e gestos o reinado soberano de Deus;
afrontou o pecado e o mal, nas estruturas e no coração dos homens; revelou o
Pai a todos, especialmente aos pobres e pecadores; suportou diversos conflitos
e a condenação, "obediente até a morte, e morte de cruz"(Fil 2,8). "Por sua
obediência realizou a redenção"57.
55
Cf. RH n. 9.
56
Ibidem.
57
Como lemos em Lumen gentium n. 3.
58
RH n. 9
59
A. ARANDA: "Revelación trinitaria y misión de la Iglesia", o.c., p. 60.
18
Amor maior do que o pecado, do que a fraqueza e do que "a caducidade do que
foi criado"(cf Rm 8,20), mais forte que a morte; é amor sempre pronto a erguer e
a perdoar, sempre pronto para ir ao encontro do filho pródigo, sempre em busca
da "revelação dos filhos de Deus"(Rm 8,19) que são chamados à glória futura.61
60
RH n. 9.
61
Ibidem.
62
Cf. Gaudium et spes n. 22.
63
RH n. 18.
64
Ibidem.
65
Ibidem.
19
66
Frase de AGOSTINHO: Confessiones I, 1, citada pela encíclica no n. 18.
67
RH n. 18.
68
RH n. 18.
69
RH n. 19.
70
Ibidem, remetendo a Lumen gentium n. 1.
71
RH n. 3.
72
RH n. 19.
73
RH n. 18.
74
"Somente o Pai é fonte, por mais que seja verdade que sem o Filho e o Espírito Santo que
procedem desta fonte o Pai não pode receber este nome. É preciso afirmar as duas coisas: o Pai é
a única fonte e princípio da divindade e, ao mesmo tempo, não existe nem pode existir sem o
Filho e o Espírito; neste sentido, o Pai está referido a eles assim como o Filho e o Espírito estão
referidos a ele. O XI Concílio de Toledo diz: O que é o Pai, não o é em referência a si mesmo,
mas ao Filho; e o que é o Filho, não o é em referência a si mesmo, mas ao Pai; de maneira
semelhante, também o Espírito Santo não se refere a si mesmo, mas é em relação ao Pai e ao
20
diz o texto, linhas depois: "vida divina, que o Pai tem em si e concede ao Filho
ter em si mesmo"75.
Filho, sendo chamado Espírito do Pai e do Filho (DS 528)" (L.F. LADARIA: El Dios vivo y
verdadero, Salamanca, 1998, p. 312).
75
Na voz de RH n. 20.
76
RH n. 13.
77
JOÃO PAULO II: Exortação apostólica sobre Penitência e Reconciliação n. 4.
78
Como nos recorda a encíclica, ao citar este verso de São João no n. 12.
79
RH n. 14.
80
O termo grego aqui traduzido por "família" é (patría): designa qualquer grupo social
que deve sua existência e unidade a um mesmo antepassado. Logo, este versículo fala que a
21
origem de todo agrupamento humano, qual família, remonta a Deus, o Pai supremo (cf. Bíblia de
Jerusalém: Ef 3,15 - nota "e").
81
RH n. 14.
82
RH n. 15.
83
Cf. RH n. 6.
84
RH n. 6; cf. também 11 e 18.
85
RH n. 12.
86
Ibidem.
87
RH n. 15.
88
RH n. 17.
89
RH n. 18.
90
RH n. 19.
91
Colaboração solicitada por João Paulo II no mesmo n. 19.
92
Pois o texto diz: amore et cura (n. 18), servimus (n. 19), ministrare, serviendo, serviendi e
ministerium (n. 21): AAS 71(1979), p. 303, 306, 316-319.
22
Notemos a exatid…o dos termos: primus fons Pater est et dator vitae iam
inde a principio96. Por conseguinte, o Pai ‡ "fonte primeira" das gra€as que
Cristo opera na Eucaristia e, ao mesmo, Aquele a quem se oferece este
sacrif•cio pascal. Quando comungamos, "a vida divina que o Pai tem em si
mesmo e concede ao Filho ter em si mesmo, ‡ comunicada a todos os homens
que est…o unidos com Cristo"97. Quando oramos em torno do mesmo altar, "nos
93
Lumen gentium n. 1, citada pela encíclica nos nn. 7, 19 e 21.
94
RH n. 20.
95
Ibidem.
96
Na redação latina do mesmo n. 20: AAS 71(1979), p. 310.
97
RH n. 20.
23
unimos a Cristo terrestre e celeste, que intercede por nós junto do Pai"98.
Quando oferecemos o corpo e sangue do Senhor, "participamos naquela
restituição única e irreversível do homem e do mundo ao Pai"99. Na Eucaristia o
fiel se torna "participante no mistério da redenção" e "tem acesso aos frutos da
filial reconciliação com Deus"100.
98
Ibidem.
99
Ibidem.
100
Ibidem.
101
RH n. 22, parágrafo dedicado a Maria, com o título: "Mãe da nossa confiança".
102
Ibidem.
103
Dirá João Paulo II na carta apostólica Orientale lumen n. 9.
24
Maria não é mãe de Jesus (e mãe da Igreja) por escolha e iniciativa sua,
mas sim ex ineffabili electione per ipsum Aeternum Patrem peracta108. O Pai a
constituiu mãe do Verbo Encarnado pela ação do Espírito Santo e Mãe da Igreja
por designação de seu Filho, que "quis explicitamente estender a maternidade
de sua Mãe, a ela apontando como filho, do alto da cruz, o seu discípulo
predileto"109. Observamos que este mesmo pensamento é retomado pelo Papa
na encíclica Redemptoris Mater, que vincula o papel de Maria ao desígnio de
Deus Pai:
A mãe do redentor tem um lugar bem preciso no plano da salvação, porque, "ao
chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido duma mulher,
nascido sob a Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei e para que
nós recebêssemos a adoção de Filhos. E porque vós sois filhos, Deus enviou
aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama Abbá, Pai"(Gl 4,4-6).110
104
RH n. 22.
105
Nos termos latinos do mesmo n. 22: AAS 71(1979), p. 323.
106
Cf. Lumen gentium, cap. VIII, nn. 52-69.
107
RH n. 22.
108
Ibidem, redação latina: AAS 71(1979), p. 321.
109
Ibidem, acenando à passagem de Jo 19,26.
110
Redemptoris Mater (RMa), n. 1.
111
RMa nn. 2 e 4.
25
"Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual no alto dos céus
nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, em Cristo"(Ef 1,3). Estas
palavras da Carta aos Efésios revelam o eterno desígnio de Deus Pai, o seu
plano de salvação do homem em Cristo. É um plano universal, que concerne a
todos os homens criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26). Todos
eles, assim como "no princípio" estão compreendidos na obra criadora de Deus,
assim também estão eternamente compreendidos no plano divino da salvação,
que se deve revelar cabalmente na "plenitude dos tempos", com a vinda de
Cristo. Pois "nele", aquele Deus que é "Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (são
as palavras que vêm a seguir na mesma Carta) "nos elegeu antes da criação do
mundo, para sermos santos e imaculados aos seus olhos. Por puro amor ele nos
predestinou a sermos adotados por ele como filhos, por intermédio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade, pela qual nos tornou agradáveis
em seu amado Filho. Nele, mediante o seu sangue, temos a redenção, a
remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça"(Ef 1,4-7).112
112
RMa n. 7.
26
Deus "que habita numa luz inacess•vel" (1Tm 6,16), quis revelar-se. Falou
• humanidade na linguagem do cosmos e deu-nos a conhecer seu poder atrav‡s
113
DM n. 1, citando Ef 2,4.
114
Ibidem, citando 2Cor 1,3: AAS 72(1980), p. 1178.
115
Cf. DM n. 4, nota 52.
116
Cf. DM capítulos I-V, VI, VII-VIII respectivamente.
27
Esta visio Dei - dentro de uma História que aguarda seu desfecho
escatológico - nos é dada pela livre auto-comunicação de Deus, que coroa a
revelação quando envia ao mundo seu Filho, "imagem visível do Deus
invisível"(Col 1,15). Mediante Jesus Cristo, manifestam-se tanto as qualidades
eternas de Deus, como absoluto e origem do Verbo, "quanto sua relação de
amor para com o homem, isto é, sua philanthropia (benignidade para com o ser
humano: Tt 3,4). É precisamente aqui que suas perfeições invisíveis se tornam
reconhecíveis de um modo particular, incomparavelmente mais reconhecíveis do
que através de todas as outras 'obras por Ele realizadas': tornam-se visíveis em
Cristo e por meio de Cristo, por intermédio das suas ações e palavras e, por fim,
mediante a sua morte na cruz e a sua ressurreição"118.
117
Nostra aetate n. 2.
118
DM n. 2. A qualificação de Deus Pai como philànthropos é tomada da teologia oriental, na
qual João Paulo II parece inspira-se, como nos demonstra Orientale lumen n. 14.
119
DM n. 2.
28
(visão de Deus) que Jesus nos proporciona é na verdade a visio Patris (o rosto
do Pai) 120. Assim se cumprem as palavras "Quem me vê, vê o Pai"(Jo 14,9):
"Deus que é rico em misericórdia"(Ef 2,4) é aquele que Jesus Cristo nos revelou
como Pai. Foi o seu próprio Filho quem, em si mesmo, no-lo manifestou e deu a
conhecer (cf. Jo 1,18; Hb 1,1ss). Convém lembrar, a respeito, o momento em
que Filipe, um dos doze apóstolos, dirigindo-se a Cristo lhe disse: "Senhor,
mostra-nos o Pai e isso nos basta"; e Jesus respondeu-lhe: "Há tanto tempo que
estou convosco e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai"(Jo 14,8ss).121
120
DM n. 13: AAS 72(1980), p. 1218.
121
DM n. 1.
122
DM n. 1.
123
Ibidem.
124
Ibidem.
29
125
Ibidem.
126
Cf. Gaudium et spes n. 9, conforme indicação de DM n. 2.
127
DM n. 2.
128
DM n. 3.
30
Tal perda do sentido da misericˆrdia nos faz notar, ainda, duas car†ncias:
a insuficiente assimila€…o do ethos evangélico pela sociedade contemporŽnea; e
uma car†ncia de paternidade na rela€…o do homem com Deus130. Sem a
misericˆrdia, desvirtua-se o alcance ‡tico do Evangelho que exige caridade e
justi€a segundo o Reino de Deus; sem ela, ofusca-se um tra€o fundamental do
Deus crist…o, que ‡ sua paternidade. Por conseguinte, a humanidade encontrarƒ
o sentido libertador do Evangelho e o verdadeiro rosto de Deus, voltando-se •
misericórdia, tal qual Jesus a prop‰e.
129
DM n. 2.
130
Daí a necessidade de se redescobrir continuamente a paternidade de Deus na experiência de fé,
testemunhando-a com uma práxis conseqüente de amor e justiça. Cf. J. SARAIVA-MARTINS:
Dives in misericordia - commento all'enciclica di Giovanni Paolo II, Roma, 1981, p. 349-441; P.
O'CALLAGHAN: "Perché tutto sia a lode della sua gloria - la paternità di Dio alla luce di
Cristo", in CPGG: Tertio millennio adveniente (testo e commento), Milano, 1996, p. 215-226.
131
Cf. W. KASPER: Il Dio di Gesù Cristo, Roma, 1997, p. 217-250.
31
132
DM n. 3.
133
Ibidem.
134
Ibidem.
135
DM n. 3.
136
Expressões do mesmo n. 3.
32
importância, a fim de Deus poder se revelar na sua misericórdia para com o ser
humano: os misericordiosos alcançarão misericórdia"137.
137
Ibidem, acenando para a bem-aventurança de Mt 5,7.
138
DM n. 2.
139
Cf. G. COSTANZO: "Paternità di Dio e mistero dell'uomo", in F. TAGLIAFERRI: o.c., p. 43-
54.
140
Orientale lumen n. 4.
33
141
DM n. 4.
142
Ibidem.
143
Ibidem.
34
Cada termo exprime uma nuance particular do amor divino. Emet significa
firmeza, segurança, solidez. É, portanto, "firmeza na ternura"146: um amor seguro
e constante. Hesed, por sua vez, "indica uma profunda atitude de bondade.
Quando esta disposição se estabelece entre duas pessoas, estas passam a ser,
não só benévolas uma para com a outra, mas ao mesmo tempo reciprocamente
fiéis por força de um compromisso interior, portanto, também em virtude de uma
fidelidade para consigo próprias. E se é certo que hesed significa também graça
ou amor, isto sucede precisamente em base a tal fidelidade"147. Juntando estes
dois termos, o hebraico formulou o binômio hesed we'emet: "amor e fidelidade",
ou também "graça e verdade". Trata-se de amor comprometido, em sentido
objetivo e subjetivo: é amor que une dois aliados, reciprocamente fiéis, em
comum acordo (objetivamente); ao mesmo tempo, é amor fiel em sentido
subjetivo, porque cada um dos aliados decide ser fiel a si mesmo, selando a
aliança interiormente, diante da própria consciência.
144
Ibidem.
145
DM n. 4.
146
R. PENNA: "Misericordia", in Dizionario Enciclopedico della Bibbia, Roma, 1995, p. 876.
147
DM n. 4, nota 52.
35
148
DM n. 4, nota 52.
149
A clem€ncia e a miseric•rdia de Deus s‚o proclamadas tambƒm no Alcor‚o e na tradi„‚o
isl…mica. Cf. M. MA†ANEIRO: “Compaix‚o, miseric•rdia e ternura”, in TQ – Teologia em
Quest•o 9(2006), Taubatƒ (Brasil), p. 36, nota “1”.
36
diversos"151: perdoar a culpa (hus), ter piedade (hamal), ser firme na ternura
(emet), amar em fidelidade ao outro e a si mesmo (hesed), amar com entranhas
de misericórdia (rahamim).
Assim, o Senhor revelou a sua misericórdia tanto nas obras quanto nas
palavras, desde os primórdios do povo que escolheu para si; e no decurso da
sua história, este povo, quer em momentos de desgraça, quer ao tomar
consciência do próprio pecado, continuamente se entregou com confiança ao
Deus das misericórdias. Na misericórdia do Senhor para com os seus,
manifestam-se todos os matizes do amor: ele é para eles Pai, dado que Israel é
seu filho primogênito; ele é também o esposo daquela a quem o Profeta anuncia
um nome novo: "bem-amada" (ruhama), porque será usada misericórdia para
com ela.155
150
Novamente DM n. 4, nota 52.
151
Ibidem.
152
Cf. K.D. SAKENFELD: "Love (in the Old Testament)", in The Anchor Bible Dictionary, vol.
4, New York-London, 1992, p. 375-381.
153
DM n. 4, nota 52.
154
Diz o mesmo Papa, na carta Orientale lumen n. 28.
155
DM n. 4.
37
Quanto Israel era um menino, eu o amei e do Egito chamei meu filho. Mas
quanto mais eu os chamava, tanto mais eles se afastavam de mim. Eles
sacrificavam aos baals e queimavam incenso aos •dolos. Fui eu, contudo, quem
ensinou Efraim a caminhar, eu os tomei em meus bra€os, mas n…o
reconheceram que eu cuidava deles! Com v•nculos humanos eu os atra•a, com
la€os de amor eu era para eles como os que levantam uma criancinha contra
seu rosto, eu me inclinava para ele e o alimentava. Como poderia eu abandonar-
te, ˆ Efraim; entregar-te, ˆ Israel? Meu cora€…o se contorce dentro de mim,
minhas entranhas se comovem (Os 11,1-5.8).
“Com efeito, tu ‡s nosso pai. Ainda que Abra…o n…o nos conhecesse e
Israel n…o tomasse conhecimento de nˆs, tu, Adonai, ‡s nosso pai e
nosso redentor: tal ‡ o teu nome para sempre” (Is 63,16).
156
"Destes cultos, citamos o deus fenício El que, comparável ao touro egípcio Men, fecundava
sua esposa e engendrava outros deuses. Assim também Baal, filho de El, era especializado na
38
qualidade atribuída somente ao Deus Único e por ele mesmo revelada no seu
relacionamento com Israel: a eleição, a libertação do Egito, o socorro nos
perigos e inúmeras provas de carinho157. Aproximando-se de Deus como pai
compassivo, o Antigo Testamento traça "a impressionante imagem do seu amor
que, em contato com o mal e, em particular, com o pecado do homem e do
povo, se manifesta como misericórdia"158. Os termos usados não surgem do
mito, mas da experiência da proximidade salvífica de Javé159. Trata-se de um
dado de Revelação já presente nas antigas páginas, à espera da sua futura e
definitiva explicitação em Jesus, como conclui a encíclica:
fecundação de casais humanos e animais, mediante iniciação ritual de sua união com uma deusa.
Em contrapartida, o Deus bíblico é único: não é associado a nenhum outro deus, não executa ato
sexual, nem produz filhos por atividade carnal"(M. HUBAUT: Dieu mon Père et votre Père,
Paris, 1999, p. 33-34).
157
Como lemos nas vinte vezes em que o Primeiro Testamento nomeia a Deus de pai: Dt 32,6;
2Sm 7,14; 1Cr 17,13; 22,10; 28,6; Tb 13,4; Sl 68,6; 89,27; Sb 14,3; Sir 23,1.4; 51,10; Is 63,16
(bis); 64,7; Jer 3,4.19; 31,9; Ml 1,6; 2,10.
158
DM n. 4, final da nota 52.
159
A propósito, diz W. KASPER: "A caracterização paterna da divindade (motivo presente
também em algumas religiões históricas), tal qual nos oferece o Antigo Testamento, exprime o
proprium e o specificum da fé vétero-testamentária em Deus: a liberdade e a soberania de Deus, a
sua transcendência, que é uma liberdade no amor e que historicamente se manifesta como o
curvar-se de Deus na imanência, fazendo-se Deus-conosco" (Il Dio di Gesù Cristo, o.c., p. 193).
160
DM n. 5.
39
Contribui para isso, n…o tanto a terminologia - como nos livros do Antigo
Testamento - mas a analogia, que permite compreender mais plenamente o
prˆprio mist‡rio de misericˆrdia, como drama profundo que se desenrola entre o
amor do pai e a prodigalidade e o pecado do filho.164
161
DM n. 5.
162
Cf. DM n. 5, notas 60 e 61.
163
DM n. 5.
164
Ibidem.
165
Passando da terminologia à analogia, João Paulo II respeita o mistério inefável de Deus.
Adorado como Pai que engendra o Filho e envia o Espírito eternamente, sabemos, porém, que a
linguagem com que expressamos tal mistério é sempre linguagem analógica: teologicamente
40
(1) Dando o primeiro passo, João Paulo II constata que a relação entre
pai e filho - com tudo o que comporta de ruptura e perda, perdão e ganho - nos
fala da aliança entre Deus e toda a humanidade, de Adão aos nossos dias:
Este filho, que recebe do pai a parte da herança que lhe toca e deixa a casa
paterna para ir esbanjar essa herança numa terra longínqua "vivendo
dissolutamente", em certo sentido, é o homem de todos os tempos, a começar
por aquele que foi o primeiro a perder a herança da graça e da justiça original.
Neste ponto a analogia é muito ampla. A parábola se refere indiretamente a
todas as rupturas da aliança de amor: a toda perda da graça, a todo pecado.166
adequada e fiel à verdade crida, mas que - definitivamente - não captura o inefável Ser de Deus.
Seu ser, em sentido absoluto, só é "definível" por Ele mesmo, tal qual Deus se compreende e se
pronuncia a Si próprio. Aquilo que dele conhecemos foi-nos revelado e, graças à Revelação
mesma, é conhecimento veraz. Por tais motivos, a analogia é também anagogia, como nos ensina
a mística e a teologia apofática. Sobre isto, cf. ainda Orientale lumen nn. 6 e 16.
166
DM n. 5.
167
Ibidem.
41
É então que ele toma a decisão: "Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e lhe direi:
Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como a um de teus empregados"(Lc 15,18-19).168
João Paulo II observa que, pensando desta forma, o filho pródigo segue a
medida da estrita justiça: já que foi infiel à sua filiação, propõe ao pai que seja
infiel à sua paternidade, não o considerando mais seu filho. Deste modo, poderia
trabalhar na casa sem direitos nem herança. Destituído da relação filial que tinha
com seu pai, lhe bastaria sobreviver. O estreito sentido da justiça, que orienta o
raciocínio do filho pródigo, nos faz lembrar o preceito "olho por olho, dente por
dente"(Lv 24,20). Consciente "daquilo que mereceu e daquilo a que ainda pode
ter direito segundo as normas da justiça"169, resta-lhe pedir desculpas e
humilhar-se como um servo aos mandos do patrão. "Essa seria a exigência da
ordem da justiça, até porque aquele filho, com o seu modo de comportar-se, não
tinha somente dissipado a parte da herança que lhe cabia, mas tinha também
ofendido e magoado profundamente o pai"170.
(4) Entretanto, o encontro com o Pai revela uma outra medida, que
supera as margens estreitas da justiça. Eis o quarto passo hermenêutico. Para
surpresa do filho, o pai permanece pai, reagindo com zelo e ternura. Ainda que
ciente dos descaminhos do rapaz, "tratava-se afinal de contas do seu próprio
filho, e esta relação não podia ser alienada nem destruída por nenhuma espécie
de comportamento"171. Não era seu filho que retornava? Sendo pai, poderia ele
cancelar sua paternidade? Daí a acolhida compassiva e reconciliadora:
168
Ibidem.
169
Ibidem.
170
DM n. 5.
171
Ibidem.
42
tamb‡m a sua generosidade para com o filho, aquela generosidade que causara
tanta indigna€…o no irm…o mais velho.172
O pai sabe que o que se salvou foi um bem fundamental: a humanidade de seu
filho. Muito embora este tenha esbanjado a heran€a, a verdade ‡ que sua
humanidade estƒ salva. Mais ainda: esta, de algum modo, foi reencontrada. (…)
A fidelidade do pai a si prˆprio estƒ centralizada inteiramente na humanidade do
filho perdido, na sua dignidade. Por isso, sobretudo, se explica a como€…o de
alegria que manifesta quando o filho volta para casa.173
172
DM n. 6.
173
Ibidem.
174
DM n. 6.
175
Ibidem.
176
Ibidem.
43
177
Ibidem.
178
Cf. DM n. 6.
179
Cf. respectivamente nn. 1, 4 (à nota 52) e 6.
180
DM n. 6.
181
DM n. 7.
44
mereceu ter um tal e t…o grande Redentor)"182; na sua dimens…o divina, nos
permite descobrir "a profundidade daquele amor que n…o retrocede diante do
extraordinƒrio sacrif•cio do Filho, para satisfazer • fidelidade do Criador e Pai
para com os homens, criados • sua imagem e escolhidos neste mesmo Filho
desde o princ•pio, para a gra€a e a glˆria"183.
182
Ibidem.
183
Ibidem.
184
"Somente o Filho de Deus pode realizar a autêntica redenção do pecado do mundo, da morte
eterna e da servidão da lei, segundo a vontade do Pai e com a colaboração do Espírito
Santo"(CTI: "Cuestiones selectas de cristología", IV, 1, in Documentos, Madrid, 1998, p. 233).
185
L.F. MATEO-SECO: "Cristo, redentor del hombre", in A. ARANDA: o.c., p. 139.
45
sua compaixão por seus filhos pródigos, a misericórdia é o amor divino in actu
salvationis (o amor divino em ato eficaz de salvação)186. Na misericórdia, o amor
de Deus se manifesta em gestas de acolhida, perdão e resgate da humanidade
ferida, dividida e pecadora. Em termos definitivos, é o amor do Pai em ato
salvífico no mistério pascal do Filho. Assim, a misericórdia se insere no centro
da obra redentora e se mostra, realizada, na oblação de Jesus:
186
DM n. 4: AAS 72(1980), p. 1187.
187
DM n. 7.
188
Pensamento que retorna mais adiante, no n. 14.
189
DM n. 7.
190
DM n. 7.
191
Ibidem.
46
192
Ibidem.
193
Ibidem.
194
Ibidem.
195
DM n. 7.
196
DM n. 8, enviando a Lc 4,18-21.
47
Deus, tal como Cristo o revelou, n…o permanece apenas em estreita rela€…o com
o mundo, como Criador e fonte Šltima da exist†ncia. Ele ‡ tamb‡m Pai: estƒ
unido ao homem por ele chamado • exist†ncia no mundo vis•vel, mediante um
v•nculo ainda mais profundo do que o v•nculo da cria€…o. Œ o amor que n…o sˆ
cria o bem, mas faz com que se participe na prˆpria vida de Deus, Pai, Filho e
Esp•rito Santo. Efetivamente, quem ama deseja dar-se a si prˆprio.199
Do Pai nos vem toda vida, sendo ele a "fonte Šltima da exist†ncia", aquele
que nos chama a participar "na prˆpria vida de Deus". Com tal pensamento, a
enc•clica encaminha sua reflex…o • glorifica€…o pascal de Cristo – epifania da
vida em plenitude • qual o Pai convoca todos os homens. No cenƒrio doloroso
do Calvƒrio, a Šltima palavra do Pai n…o ‡ a morte do Filho, mas sua
ressurreição. Esta acena para a vida futura dos remidos e nos descobre o
sentido libertador da cruz. Assim, podemos discernir na paix…o do Filho, o amor
do Pai:
"amou tanto o mundo (e portanto o homem no mundo) que deu seu Filho
unig†nito, para que todo aquele que nele crer n…o pere€a, mas tenha a vida
eterna"(Jo 3,16). Crer no Filho crucificado significa "ver o Pai"(Jo 14,9), significa
crer que o amor estƒ presente no mundo e que este amor ‡ mais forte que toda
esp‡cie de mal em que a pessoa, a humanidade e o mundo est…o envolvidos.200
200
DM n. 7.
201
DM n. 8.
49
202
DM n. 8.
203
Cf. DM n. 11
204
DM n. 12.
50
Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não
serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos
será perdoado. Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa
medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que
medirdes sereis medidos também (Lc 6,36-38).
De acordo com as palavras que Cristo dirigiu a Felipe, a vis…o do Pai - vis…o de
Deus mediante a f‡ - tem precisamente no encontro com a sua misericˆrdia um
momento singular de simplicidade e verdade interior, como aquele que nos ‡
poss•vel ver na parƒbola do filho prˆdigo.210
208
Ibidem.
209
O Pai é "fons magnifici ipsius amoris misericordis", e Jesus é o messias que nos abriu esta
fonte: "qui nobis ab eo est apertus" (DM n. 14): AAS 72(1980), p. 1223.
210
DM n. 13.
52
Deste modo, a frase de Cristo – "quem me v†, v† o Pai" (Jo 14,9) – pode
ser aplicada tamb‡m • Igreja. Sempre que algu‡m experimenta a misericˆrdia
mediante a sacramentalidade da Igreja, encontra o Pai e v† seu rosto. A
Palavra, os sacramentos (sobretudo a eucaristia e a penit†ncia), a piedade
aut†ntica (como o culto ao Cora€…o de Jesus) e a prƒtica do amor fraterno212,
fazem da Igreja um ícone da misericˆrdia divina. Isto se concretiza no seu
apostolado, especialmente quando ela ministra a reconcilia€…o, no perd…o e na
caridade dispensados. Assim, a Igreja mostra a todos quanto "infinita e
inexaur•vel ‡ a prontid…o do Pai em acolher os filhos prˆdigos que voltam • sua
casa"213. Da• o perd…o, a gratuidade e a solidariedade que devem caracterizar a
prƒxis eclesial, especialmente no encontro com os pobres, aflitos e
pecadores214, • imagem "daquele amor que ‡ paciente e benigno, como o ‡ o
Criador e Pai"215.
211
DM n. 13.
212
Elementos citados no mesmo n. 13.
213
DM n. 13.
214
Traços de uma pastoral da misericórdia, na opinião de L. CHIARINELLI: "L'enciclica Dives
in misericordia di Giovanni Paolo II", in F. TAGLIAFERRI: o.c., p. 12-13.
215
DM n. 13.
53
216
Todas as expressões citadas até aqui estão em DV n. 1.
217
DV n. 2.
54
Al‡m disso, ele impele a Igreja "a cooperar para que se realize o des•gnio
de Deus, o qual constituiu Cristo como princ•pio de salva€…o para o mundo
inteiro"221. "Por conseguinte, o Esp•rito Santo farƒ com que perdure sempre na
Igreja a mesma verdade, que os apˆstolos ouviram de seu Mestre"222. "Sendo o
prˆprio Jesus Cristo a suprema e mais completa revela€…o de Deus •
humanidade, ‡ o testemunho do Espírito que inspira, garante e convalida a sua
fiel transmiss…o na prega€…o e nos escritos apostˆlicos"223. Jesus o apresenta
como Esp•rito que fala o que ouve do Pai e esclarece a verdade, no presente e
no futuro da Igreja: "Quando vier o Esp•rito da Verdade, ele vos conduzirƒ •
verdade plena; porque ele n…o falarƒ por si mesmo, mas de tudo o que tiver
ouvido, e vos anunciarƒ as coisas que est…o para vir"(Jo 16,12s). De fato,
conduzir à verdade plena "‡ obra do Esp•rito da Verdade e fruto de sua a€…o no
ser humano"224. Assim, "a suprema e completa auto-revela€…o de Deus – que se
realizou em Cristo (…) – continuarƒ a ser manifestada na Igreja mediante a
miss…o do Consolador invis•vel"225. Ele atua em sintonia com a Reden€…o de
Cristo, "consolidando e desenvolvendo na histˆria os seus frutos salv•ficos"226.
218
DV n. 3, traduzindo o termo grego Paràkletos
219
DV n. 2.
220
Ibidem.
221
Ibidem.
222
DV n. 4.
223
DV n. 5.
224
DV n. 7.
225
Ibidem.
226
Ibidem.
55
227
"Dois grandes temas da pneumatologia ocidental, elaborados por Agostinho, depois passados a
Tomás de Aquino, no qual se apóia o Papa" (J.A. DOMÍNGUEZ: "La teología del Espíritu
Santo", in ARANDA: o.c., p. 202, remetendo a Summa theologiae I, qq. 37-38).
228
DV n. 10.
229
DV 15-16, também 49-52.
230
DV n. 25.
231
DV n. 26, citando 1Cor 3,16; 6,19.
232
DV n. 25, enviando a Jo 16,13; Ef 4,11-12; 1Cor 12,4; Gal 5,22.
233
Cf. DV nn. 28 e 45.
234
DV nn. 67, 41 e 54 respectivamente.
235
DV n. 50.
56
236
DV n. 64.
237
Cf. DV nn. 15-22, 49-52.
238
A. BARRACHINA CARBONELL: "El Espíritu Santo, artífice del misterio de Cristo", in A.
BENLOCH-A. BARRACHINA: Creo en el Espíritu Santo, Valencia, 1998, p. 203.
239
DV n. 7.
240
DV n. 8.
241
DV n. 10.
242
DV n. 7, texto latino: AAS 78(1986), p. 816.
243
DV n. 7.
244
Ibidem.
245
DV n. 8, texto latino: AAS 78(1986), p. 817.
57
246
Cf. Biblia de Jerusalém: Jo 15,26 - nota "u".
247
DV n. 8.
248
DS 490.
249
DV n. 41, também nn. 9 e 30.
250
I. De La POTTERIE: La vida según el Espíritu, Salamanca, p. 95.
251
DV n. 8, onde João Paulo II favorece a correta interpretação do filioque, fundamental para o
diálogo com o Oriente cristão. Sobre isto, observa C. SCHÖNBORN: "Esta orientação bíblica
contribuirá de forma muito concreta a que saiam do impasse certas controvérsias teológicas,
como a do filioque. Ajudará, sobretudo, a adquirirmos um conhecimento mais profundo e vivo do
Espírito Santo, tornando-nos mais conscientes de sua presença e mais dóceis à sua ação" ("Es el
Señor y da la vida", in ARANDA, o.c., p. 161).
252
DV n. 10 mantém "fons vivus" nas traduções em vernáculo. Já o texto latino diz: "e fonte vivo
emanat ominis largitio data creaturis": AAS 78(1986), p. 819.
253
Ibidem.
254
DV n. 50. Reaparece ainda nos nn. 34, 37, 39, 41 e 58.
255
DV nn. 10 e 67: AAS 78(1986), p. 819 e 899.
256
DV n. 34.
257
"Fons vivus", ao n. 10; "principium", ao nn. 2 e 54: AAS 78(1986), p. 810 e 876.
258
DV n. 1, citando Jo 7,37 e 4,14.
58
259
DV n. 50, original latino: AAS 78(1986), p. 870.
260
H.U. von BALTHASAR: "Commento", in H.U.von BALTHASAR-Y.CONGAR: Lasciatevi
muovere dallo Spirito - enciclica sullo Spirito santo di Giovanni Paolo II, Brescia, 1986, p. 105.
261
DV n. 22: AAS 78(1986), p. 830.
262
Respectivamente DV nn. 2 e 54: AAS 78(1986), p. 810 e 876.
263
Respectivamente DV nn. 10 e 22, segundo o texto latino citado antes.
264
DV n. 41: AAS 78(1986), p. 857.
265
No contexto da trilogia, RH n. 20: AAS 71(1979), p. 310. Já DS 568 diz "donum donatoris".
266
DV nn. 11-14: AAS 78(1986), p. 819-822.
267
Cf. DV nn. 37 e 41.
59
Deus é agàpe, isto é, dom gratuito e total de Si. (...) A capacidade de amar de
maneira infinita, doando-se sem reservas e sem medida, é própria de Deus. (...)
Este Deus que revelou a Si mesmo, deseja, de um modo inefável e
incomparável, comunicar-se, dar-se! Este é o Deus da aliança e da graça.269
Coerente com esta verdade gravada nas Escrituras, João Paulo II diz que
a oeconomia salutis nasce da doação e auto-comunicação divinas, isto é, do
dar-se salvífico de Deus. E mais precisamente, de Deus Pai:
O amor de Deus Pai, dom, graça infinita e princípio de vida, tornou-se visível em
Cristo e, na sua humanidade, tornou-se "parte" do universo, do gênero humano
e da história. Esta manifestação da graça na história humana, mediante Jesus
Cristo, realizou-se por obra do Espírito Santo, que é princípio de toda ação
268
As Escrituras não aceitam a idéia de alguma emanação semi-divina, derivada de uma
divindade antecedente, nem a existência de um salvador demiurgo, distinto e inferior ao Deus
absoluto. Toda ação criadora, libertadora e regeneradora provada na historia salutis é considerada
obra do Deus único e verdadeiro: cf. Dt 4,7; Is 63,8-9; Hb 1,1-4; 1Jo 1,1-2.
269
JOÃO PAULO II: Catequeses sobre o Pai n. 3 (10-3-1999); Catequeses sobre o Credo (11-9-1985) n. 7.
270
Como lemos em DV n. 59.
60
salvífica de Deus no mundo: ele, "Deus escondido"(Is 45,15) que como Amor e
Dom "enche o universo"(Sb 1,7).271
271
DV n. 54.
272
Ibidem: AAS 78(1986), p. 876.
273
DV n. 12: AAS 78(1986), p. 820.
274
Y. CONGAR: La Parola e il Soffio, Roma, 1985, p. 26.
275
O fato de atribuirmos ao Filho a kênosis histórica pela encarnação e cruz, e denominarmos o
Pneuma de Dom, "não exclui que seja próprio do Pai o amor e a doação originais, a que o Filho e
o Espírito Santo, cada um a seu modo, correspondem"(L.F. LADARIA: o.c., p. 311).
276
Cf. DV n. 33.
61
instituído pelo Pai em nosso favor: "se alguém pecar, temos como advogado
(parákleton) junto do Pai, Jesus Cristo, o Justo"(1Jo 2,1).
O Espírito Santo, por sua vez, age em sintonia com a missão do Filho,
sendo, também ele, dado pelo Pai - de quem procede eternamente. Se o Filho é
"aquele que foi ungido pelo Pai"277, o Espírito é a própria unção que consagra o
Messias e faz nele morada278. Se Jesus é o primeiro consolador que nos
anuncia a Boa-nova, o Espírito é o "outro Consolador, assegurando de modo
duradouro a transmissão e irradiação da Boa-nova revelada por Jesus"279. A
salvação que o Pai consumou em Jesus é, portanto, comunicada no dar-se
salvífico de Deus no Espírito Santo280. Filho e Espírito co-operam a redenção,
comunicando-nos o amor Dei Patris281:
Esta reflexão nos lembra a analogia proposta por Santo Irineu: Filho e
Espírito são as duas mãos do Pai, com as quais ele cria o universo, modela o
ser humano e regenera todas as coisas283. Com certa semelhança, João Paulo II
fala do dar-se salvífico do Pai em Cristo e no Espírito Santo. A missão do Filho e
a missão do Espírito (distintas e próprias, porém relacionadas) se realizam em
sintonia com o desígnio do Pai, como a encíclica demonstra em várias linhas:
277
DV n. 18.
278
Cf. ibidem.
279
DV n. 7, também nn. 14 e 64.
280
DV n. 11-12
281
DV n. 54: AAS 78(1986), p. 876.
282
DV n. 11.
283
IRINEU DE LYON: Adversus haereses IV, 20. In Sources Chrétiennes 140, Paris, 1965, p.
627.
62
284
DV n. 7.
285
Cf. DV n. 12, que cita Gn 1,1-2.
286
DV n. 12.
287
DV n. 11.
288
DV n. 12, tema retomado nos nn. 13 e 31.
289
Cf. DV nn. 32, 34, 36, 38, 59.
290
Cf. DV n. 58.
291
Cf. DV n. 39.
292
Cf. DV n. 40.
293
DV n. 41.
63
"A filia€…o por ado€…o divina nasce nos homens sobre a base do mist‡rio
da Encarna€…o; e, portanto, gra€as a Cristo, que ‡ o Filho eterno.
Todavia, o nascer ou renascer dƒ-se quando Deus Pai envia aos nossos
corações o Espírito de seu Filho. Œ ent…o que, na verdade, 'recebemos o
esp•rito de ado€…o filial, pelo qual clamamos Abbƒ, ˆ Pai' (Rm 8,15)"294.
"Deus Pai enviou 'o prˆprio Filho em carne semelhante • carne pecadora
e, para expiar o pecado, condenou o pecado na carne'(Rm 8,3). No ponto
culminante do mist‡rio pascal, o Filho de Deus (…) apresentou-se no
meio dos apˆstolos, depois da ressurrei€…o, soprou sobre eles e disse:
Recebei o Esp•rito Santo"295.
294
DV n. 52, enviando a Gl 4,6, Rm 5,5 e 2Cor 1,22.
295
DV n. 57, ao final.
296
De Bulgakov citamos algumas linhas atinentes à díade Logos-Pneuma, que favorecem a
compreensão da encíclica. Não entramos no debate sobre a reflexão sofiológica deste teólogo.
297
S. BULGAKOV: Il Paraclito, Bologna, 1987, p. 343.
64
ao Pai. Com efeito, o Pai ‡ a hipˆstase primeira (em sentido fontal) que se dá no
Verbo proferido e no Pneuma espirado. Deste modo, "o carƒter trinitƒrio da
d•ade ‡ plenamente afirmado pelo princ•pio da monarquia, que ‡ convalidada
pela revela€…o diƒdica do Pai, na qualidade de arché e sujeito divino"298. Pois o
Pai ‡ "princ•pio de comunh…o, no amor"299.
298
Idem, p. 341.
299
JOÃO PAULO II: Orientale lumen n. 15.
300
De acordo com o credo Quicumque, DS 75.
301
DV n. 52.
65
Deus invisível (cf. Col 1,15; 1Tm 1,17), na riqueza do seu amor, fala aos homens
como a amigos (cf. Êx 33,11; Jo 15,14-15) e conversa com eles (cf. Br 3,38),
para os convidar e os admitir à comunhão com ele.304
302
DV n. 63.
303
DV nn. 39 e 34, respectivamente.
304
DV n. 34, citando Dei verbum n. 2.
305
Nos termos de DV nn. 33 e 34.
306
DV n. 31.
307
Cf. DV nn. 31-35.
308
DV n. 32: AAS 78(1986), p. 844. Também Orientale lumen n. 18.
66
N…o te prostrarƒs diante desses deuses e n…o os servirƒs, porque eu, Iahweh
teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniq•idade dos pais sobre os filhos
at‡ a terceira e quarta gera€…o dos que me odeiam, mas que tamb‡m ajo com
amor at‡ a mil‡sima gera€…o para aqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos (’x 20,5-6).
309
DV n. 31.
310
Tenhamos presente, a este respeito, as palavras da Dives in misericordia nn. 4-6.
311
Assim pensavam os Padres que, "contrariando as mitologias pagãs, sublinham a apatheia de
Deus, sem negar - apesar disso - sua compaixão com o mundo que sofre. Neles, o termo apatheia
se opõe a patho - entendido como uma paixão involuntária e imposta de fora, ou ainda uma
paixão que seja conseqüência da natureza decaída. Contudo, certas vezes admitem pathè naturais
e inocentes, atribuídas a Jesus Cristo e inclusive a Deus, enquanto padece juntamente com os
homens"(CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-B, 3, in Documentos, o.c., p. 260).
67
312
DV n. 39.
313
Cf. CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-B, 4.2, in Documentos, o.c., p. 262.
314
DV n. 39.
315
JOÃO PAULO II: Catequeses sobre o Credo – Deus, Pai todo-poderoso (18-9-1985).
316
Cf. Gn 9,8-16; Gn 15; Êx 3,7-15; Êx 6,5; Dt 7,9; Jer 31,31-34.
317
O parágrafo n. 39 cita Patris amor e dolor patris numa espécie de dialética, na tensão entre
graça salvífica (da parte do Pai) e pecado (da parte dos homens). Esta dialética, visível no evento
da cruz, se resolverá por iniciativa de Deus, que manifesta o seu poder redentor ao operar
68
Adonai ‡ compaix…o e piedade, lento para a cˆlera e cheio de amor; ele n…o vai
disputar perpetuamente, seu rancor n…o dura para sempre. Nunca nos trata
conforme nossos erros, nem nos devolve segundo nossas culpas. Como um pai
‡ compassivo com seus filhos, Iahweh ‡ compassivo com aqueles que o temem,
porque conhece nossa estrutura, ele se lembra do pˆ que somos nˆs (Sl 103,8-
9.13-14).
319
DV n. 39.
320
DV n. 37.
321
DV n. 45.
322
DV n. 31, em sintonia com o significado de agàpe e oblatio.
323
DV nn. 10-14, 23, 40: AAS 78(1986), p. 819-821, 830, 855.
324
DV n. 45: AAS 78(1986), p. 863.
325
Assim disse João Paulo II: DM n. 6.
326
Donatio e oblatio não implicam necessariamente tristeza ou negação do sujeito. No dar-se ao
outro está a realização de amar, numa entrega livre e comunional. Em Deus-Amor, esta doação é
felicidade perfeita.
70
A •ntima rela€…o com Deus, no Esp•rito Santo, faz com que o homem tamb‡m
compreenda de uma maneira nova a si mesmo e • sua prˆpria humanidade.
Assim ‡ realizada plenamente aquela imagem e semelhan€a de Deus, que o ser
humano ‡ desde o princ•pio. Esta verdade •ntima do homem deve ser
continuamente descoberta • luz de Cristo, que ‡ o protˆtipo da rela€…o com
Deus; e, na mesma verdade, deve ser iguamente redescoberta a raz…o de o
homem n…o poder "encontrar-se plenamente a n…o ser no dom sincero de si
mesmo"(…). Isto acontece justamente por motivo da semelhan€a com Deus, a
qual "torna manifesto que o homem ‡ a Šnica criatura da Terra a ser querida por
Deus por si mesma", com a sua dignidade de pessoa e tamb‡m com sua
abertura • integra€…o e • comunh…o com os outros.330
327
DV n. 37.
328
A Comiss‚o Teol•gica Internacional, retomando os Padres da Igreja, fala de pathè em Deus.
Cf. CTI: “Teolog‰a-Cristolog‰a-Antropolog‰a”, Parte II-B, 3, o.c., p. 260.
329
Cf. DV nn. 11-14
330
DV n. 59. Cf. tambƒm o n. 34, que designa a possibilidade de o homem acolher a comunica„‚o
salv‰fica de Deus como "capacidade de alian„a", pedra-de-toque da antropologia crist‚.
71
Esta semelhança nos remete à sua própria matriz: o "Deus uno e trino,
que 'existe' em si mesmo como realidade transcendente de Dom inter-
pessoal"331. Existindo como dom, o amor se comunica sem reservas e se
entrega sem retrocessos332. "Efetivamente, quem ama deseja dar-se a si
próprio"333. Ainda que esta entrega comporte sacrifício, o amor permanece fiel e,
assim, encontra verdadeira felicidade. Tal oblatividade é típica do amor, seja da
pessoa humana (criada à semelhança de Deus), seja do Deus Trino (origem
incriada da semelhança)334. Ser como Dom e como Amor é "a eterna potência
do abrir-se de Deus uno e trino ao homem e ao mundo, no Espírito Santo"335.
331
Ibidem.
332
Comunicando-se às criaturas, o amor divino é compassivo. Contudo, como o mesmo amor não
experimenta reservas ou diminuição, é ilimitado. Temos, assim, a originalidade do amor divino:
paradoxalmente compassivo (na liberdade de dar-se aos homens) e imutável (em sua absoluta
constância). Interpretado à luz deste paradoxo, o dolor Dei confirma a natureza do amor divino,
ao mesmo tempo livre/oblativo e imutável/constante. Amor que não é apenas um atributo, mas
definição ontológica de Deus segundo o Novo Testamento (cf. 1Jo 1,4-8).
333
Como disse João Paulo II: DM n. 7.
334
Cf. P. SCAFARONI: "Descrizione dell'amore secondo la grande tradizione cristiana", in Alfa
Omega, Roma, 2(1998), p. 193-215.
335
DV n. 59.
72
Por outro lado a "morte, como vítima de amor na cruz" é uma doação
própria do Filho: "foi ele, sozinho, quem fez esta oblação"339. Podemos dizer que
o amor trinitário (agàpe) é essencialmente amor oblativo, que se doa e se
comunica (donatio/oblatio). Porém, uma é a oblação do Pai, outra a oblação do
Filho340. A encíclica refuta qualquer sombra de patripassianismo. Somente o
Filho se encarnou e foi crucificado, padecendo dor e morte humanas. Somente
Jesus é o Redentor crucificado "em cuja humanidade se concretiza o 'sofrimento
de Deus' "341.
336
CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-B, 5.1, in Documentos, o.c., p. 262.
337
DV n. 23. Mais: no dom da "vida nova", que o Pai concede ao Filho na ressurreição e a nós
pela graça, o Papa vê a doação do Pai: donatio sua paterna (RH n. 20): AAS 71(1979), p. 310.
338
João Paulo II emprega este pensamento paulino, ao falar do amor profundo de Deus pela
humanidade, na carta apostólica Orientale lumen n. 14.
339
DV n. 40.
340
O aspecto trinitário da questão é esboçado nos nn. 39 e 45.
341
DV n. 39. Portanto, somente de Jesus é que se pode afirmar em sentido próprio: Deus se
encarnou, Deus chorou, Deus foi crucificado, Deus padeceu humanamente.
342
Cf. DV n. 31.
343
Conforme DV nn. 39 e 45, a expressão dolor Dei indica o acento trinitário da reflexão. Tal
acento se conjuga - mas ao mesmo tempo de distingue - da questão do dolor Patris. Pois
73
Sabe-se que a consci†ncia n…o sˆ manda ou pro•be, mas julga • luz das ordens
e proibi€‰es interiores. Ela ‡ tamb‡m a fonte dos remorsos: o homem sofre
interiormente por causa do mal cometido. N…o serƒ este sofrimento como que
um eco long•nquo daquele "arrependimento por ter criado o homem" que o Livro
Sagrado - com linguagem antropomˆrfica - atribui a Deus? Um eco daquela
"reprova€…o" que, inscrevendo-se no "cora€…o" da Sant•ssima Trindade, se
traduz na dor da cruz, na obedi†ncia de Cristo at‡ • morte, em virtude do amor
eterno? Quando o Esp•rito da verdade, que "convence o mundo quanto ao
pecado", permite • consci†ncia humana participar naquela dor, ent…o a dor da
consci†ncia torna-se particularmente profunda, mas tamb‡m particularmente
salv•fica. E assim, mediante um ato de contri€…o perfeita, opera-se a convers…o
aut†ntica do cora€…o: a metánoia evang‡lica.344
Donde a interroga€…o:
enquanto o dolor Patris significa analogicamente a compaixão do Pai, a reflexão sobre o dolor
Dei focaliza o amor da inefável Trindade.
344
DV n. 45.
345
DV n. 39.
346
DV n. 59.
347
DV n. 39.
348
Cf. DV nn. 39-41.
74
349
CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-E, 3, o.c., p. 250.
350
Indagação do parágrafo n. 39, citado acima.
351
DV n. 36.
352
DV n. 41.
75
O Filho de Deus, Jesus Cristo - como homem - na sua ora€…o ardente e na sua
paix…o, permitiu ao Esp•rito Santo, que jƒ tinha penetrado at‡ o mais profundo a
sua humanidade, transformá-la num sacrifício perfeito mediante o ato de sua
morte, como v•tima de amor na cruz. Foi ele, sozinho, quem fez esta obla€…o.
Como Šnico sacerdote, "se ofereceu a si mesmo, sem mƒcula, a Deus"(Hb
9,14). Em sua humanidade, Jesus era digno de tornar-se um tal sacrif•cio,
porque ele só era "sem mƒcula". Contudo, ofereceu-o "em virtude de um Esp•rito
eterno"(idem): o que equivale a dizer que o Esp•rito Santo agiu de um modo
especial nesta auto-doa€…o absoluta do Filho do homem, para transformar o
sofrimento em amor redentor.354
No primeiro Testamento, por mais de uma vez se fala do "fogo do c‡u", que
queimava as oferendas apresentadas pelos homens355. Por analogia, pode-se
dizer que o Esp•rito Santo ‡ o fogo do céu que age no mais profundo do mistério
da cruz. Provindo do Pai, Ele encaminha para o Pai o sacrif•cio do Filho,
introduzindo-o na divina realidade da comunh…o trinitƒria.356
353
DV n. 46.
354
DV n. 40.
355
Cf. Lv 9,24; 1Rs 18,38; 2Cr 7,1.
356
DV n. 41.
76
Cristo consuma sua obla€…o ao derramar seu sangue como Cordeiro sem
mancha () oferecendo-se "mediante um Esp•rito eterno"
() "a si mesmo, a Deus" ( isto ‡, ao Pai). Assim
como o Filho se dƒ ao Pai mediante o Esp•rito, o Pai sente compaix…o pelo Filho
crucificado, acolhendo a sua absoluta entrega em virtude do mesmo Esp•rito
Santo que ‡ – entre Pai e Filho – o vinculum caritatis por excel†ncia. "No
sacrif•cio da cruz toda a dor trinitƒria pelo pecado do mundo se reŠne numa
Šnica chama de amor, que queima tudo: tanto o Cordeiro do sacrif•cio, quanto a
culpa daqueles que o crucificaram e que, com tal ato, ofenderam sumamente ao
prˆprio Deus. Este fogo que, na dor da cruz queima a dor da ofensa ‡, pois, o
Esp•rito Santo, concedido aos homens como dom e penhor da concilia€…o com
Deus e de uma alian€a nova, de agora adiante indissolŠvel"357. Deste modo,
podemos ler corretamente a intui€…o de Jo…o Paulo II sobre “a imperscrutƒvel
dor de Deus” (inenarrabilis dolor Dei) que se inscreve misteriosamente “no
cora€…o mesmo da inefƒvel Trindade” (intra cor ipsum Trinitatis ineffabilis) 358.
Enfim, observamos que o tema do dolor Patris assinala, em Jo…o Paulo II,
uma mudan€a de paradigma teolˆgico: passagem do modelo aristot‡lico-tomista
ao modelo b•blico-semita. A linguagem b•blica referente ao pathos divino n…o ‡
vista apenas como referencial literƒrio, mas como referencial hermen†utico: uma
linguagem que, bem interpretada em seus recursos antropomˆrficos, ‡ apta a
nos revelar algo do mist‡rio de Deus, ao modo de analogia-anagogia.
Confirmando a inefƒvel compaix…o de Deus como caracter•stica do Ser divino, o
Papa segue o primado da Escritura sobre outras instŽncias de conhecimento
357
H.U. von BALTHASAR: Lasciatevi muovere dallo Spirito, o.c., p. 118.
358
DV n. 39: AAS 78(1986), p. 852.
77
359
Sobre o paradigma bíblico na reflexão teológica da "dolor Patris" cf.: H.U. von
BALTHASAR: Lasciatevi muovere dallo Spirito, o.c., p. 116-118; Idem: Herrlichkeit III-2
(Neuer Bund), Einsiedeln, 1969, p. 196-211; M. FLICK-J. ALSZEGHY: Il mistero della croce,
Brescia, 1975; J. GALOT: Il mistero della sofferenza di Dio, Assisi, 1975; L.F. MATEO-SECO:
"Cristo, redentor del hombre", in A. ARANDA: o.c., p. 143-146.
360
O Pai opera "seu eterno amor e a sua misericórdia com toda a liberdade divina"(RH n. 1).
361
TOMÁS DE AQUINO: Summa theologiae, I, q.9, a.2, c.
78
fala da dor de Deus; se, ao contrário, o pecador se converte a ele, fala da sua
alegria (cf. Lc 15,7). 'É mais próxima à imortalidade a saúde de quem padece,
que o torpor de um sujeito insensível'362. Os dois aspectos (imutabilidade e
liberdade) se complementam mutuamente. Se um deles for descuidado,
desfigura-se o Deus da Revelação"363.
362
AGOSTINHO: "Vicinior est immortalitati sanitas dolentis, quam stupor non sentientis":
Enarratio in Psalmis 55,6 in PL 36, 651.
363
CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-B, 4.1 e 4.2, o.c., p. 261-262.
79
Conclusão
I
“Visio Patris”
Em Jesus, o rosto do Pai:
364
Este conjunto complexo resulta do plano da trilogia, pensado pelo Papa, e também do estilo
"circular" destes documentos. De fato, a redação se aproxima mais da perspectiva contemplativa-
oriental (circular), que daquela argumentativa-latina (linear).
365
DM n. 6.
366
Além do que já tomamos do texto da trilogia, cf. JOÃO PAULO II: Exortação apostólica
sobre Penitência e Reconciliação n. 4.
367
Cf. DM n. 4, incluindo a sugestiva nota 52.
80
368
Cf. Is 63,16; 64,7; Sl 27,10 entre outras passagens.
369
RH n. 7.
370
Citado em RH nn. 4, 12, 19.
371
DM n. 13: AAS 72(1980), p. 1218. Veja-se ainda DM n. 7.
372
Cf. DM n. 1 e RH n. 7.
373
Cf. RH n. 8.
374
Cf. RH n. 9.
375
Cf. DM n. 5.
376
Cf. DV nn. 7, 11, 12, 13, 31, 32, 34, 36, 38, 58, 59.
81
377
RH n. 14.
378
DM n. 7.
379
Segundo RH n. 4.
380
Segundo RH n. 12.
381
RH n. 9.
382
Ibidem.
383
RH nn. 8 e 18, respectivamente.
384
Cf. RH n. 18.
385
JOÃO PAULO II: Exortação apostólica sobre Penitência e Reconciliação n. 4.
386
Cf. DM n. 6.
387
DV nn. 33 e 34, respectivamente.
82
II
«Primus fons Pater est»
O Pai, amor fontal:
388
RH n. 18, também n. 13.
389
RH n. 9.
390
DM n. 7.
391
RH n. 9.
392
Ibidem.
393
DM n. 8.
394
DM n. 4.
395
DV n. 54, também RH nn. 4, 6, 7; DM 1-3, entres muitos outros parágrafos.
396
Como lemos em DV n. 34.
397
Cf. DM n. 2, também Orientale lumen n. 14.
398
DV n. 8.
399
Cf. DV nn. 25, 41, 54 e 67, especialmente.
400
RH n. 20: AAS 71(1979), p. 310.
401
Verso citado pelo Papa imediatamente no primeiro parágrafo da trilogia: RH n. 1.
83
402
Cf. DM n. 4.
403
RH n. 4.
404
RH n. 8.
405
Cf. RH n. 22.
406
DV n. 8.
407
DV n. 64.
408
DV n. 21.
409
RH n. 18.
410
A. HAMMAN: "La Trinità nella liturgia e nella vita cristiana", in Mysterium salutis 3, o.c., p.
172. João Paulo II usa formulação semelhante em DV n. 32 e Orientale lumen n. 18.
411
Exortação apostólica sobre Penitência e Reconciliação, n. 4.
412
DV nn. 11 e 23.
84
se salvífico do Pai no Filho e no Espírito Santo413. Para João Paulo II, Filho e
Espírito (a díade Logos-Pneuma) constituem o "duplo ritmo" da revelação-
salvação decretadas pelo Pai Onipotente414. Em sua bi-unidade, Filho e Espírito
participam (sem confusão nem substituição) da revelação do Pai, o qual é um só
Deus com eles (segundo a koinonia) e ao mesmo tempo a hipóstase primeira
(segundo a arché). O Filho Jesus é Palavra do Pai, por ele proferida desde todo
o sempre; o Espírito Santo é Sopro do Pai, por ele espirado desde todo o
sempre. Igualmente eternos e divinos, Palavra e Sopro vêm do Pai e a ele
conduzem: Jesus é o Filho "em quem vemos o Pai"415; o Espírito é o pedagogo
divino que "põe em nós os sentimentos do Filho e nos orienta para o Pai"416.
O primado salvífico do Pai é confirmado ainda nestes termos: amor Dei
417
Patris, qui est donum, gratia infinita, principium vitae . Assim, João Paulo II
professa a sancta monarchiae praedicatio, de acordo com a antiga tradição
418
apostólica . Em sintonia com esta tradição, somente o Pai é chamado primus
419
e primigenius fons , sendo reconhecido como arché da vida divina e fonte
primordial da salvação.
III
“Deus caritas est”
Deus é amor:
413
Cf. DV n. 11-14.
414
DV n. 63.
415
RH n. 7.
416
RH n. 18.
417
DV n. 54: AAS 78(1986), p. 876.
418
Cf. F.A. PASTOR: "Principium totius Deitatis", in Gregorianum 79, 2(1998), p. 247-294.
419
RH n. 20: AAS 71(1979), p. 310 e DV n. 22: AAS 78(1986), p. 830, respectivamente.
85
420
J. PFAMMATTER: "Attibuti e modi di agire di Dio nel NT", in Mysterium salutis 3, Brescia,
1969, p. 362.
421
DM n. 6, exatamente numa frase em que o Papa descreve a agàpe segundo o NT.
422
DV n. 59.
423
DV nn. 11-14.
424
Cf. RH nn. 7-10, DM nn. 1-5 e 7-9, DV nn. 3-20 e 54.
425
RH n. 1.
426
RH n. 8.
86
427
RH n. 9.
428
Ibidem.
429
RH nn. 9 e 22.
430
RH n. 18.
431
RH n. 20.
432
DM n. 1.
433
Ibidem.
434
DM n. 4.
435
Ibidem.
436
DM n. 4, nota 52; novamente em DM n. 6.
437
DM n. 5.
438
DM n. 6, novamente no n. 7.
439
DM n. 6.
440
Ibidem.
441
Ibidem.
442
Ibidem.
443
Ibidem.
444
Ibidem.
445
Ibidem.
446
Ibidem.
87
447
Ibidem, conjugando o conceito hebraico hesed com a agàpe neo-testamentária.
448
DM n. 8
449
Ibidem.
450
Ibidem.
451
DM n. 13.
452
Ibidem.
453
Ibidem.
454
DV n. 10.
455
Ibidem.
456
DV n. 12.
457
DV n. 31.
458
DV n. 33.
459
DV n. 34.
460
DV n. 37.
461
DV n. 39.
462
Ibidem.
463
Ibidem.
88
Numa seleção mais restrita, João Paulo II usa cinco termos nos quais
convergem estes vários matizes do amor de Deus:
464
Ibidem.
465
DV n. 45.
466
DV n. 54.
467
DM n. 2: AAS 72(1980), p. 1180.
468
DM n. 4, entre outros: ibidem, várias vezes às pp. 1186-1210.
469
DV nn. 11-14: AAS 78(1986), p. 819-821
470
DV n. 23: ibidem p. 830.
471
DV nn. 31 e 40: ibidem p. 830 e 855.
472
Nos mesmos parágrafos que acabamos de indicar.
89
473
Segundo afirmação de DM n. 1.
474
DV n. 39.
475
Como lemos em DV n. 23.
476
DM nn. 5- 7.
477
DV n. 59.
478
Cf. Ibidem, como citamos linhas acima.
479
Cf. RH nn. 8-10, DM nn. 4, DV nn. 11, 22, 23.
90
IV
“Pater misericordiarum et Deus totius consolationis”
O Deus consolador:
480
Cf. respectivamente: DM n. 2, DV nn. 11-14, DV n. 23, DV nn. 31 e 40.
481
RH n. 18.
482
DM n. 4.
483
Cf. DM n. 3.
484
Cf. Gn 5; Gn 9,8-17; Êx 3 e 34,6; Jz 3,7-9; 1Sm 8,22-53; Mq 7,18-20; Is 1,18 e 51,4-16; Br
2,11-3,8; Ne 9. A maioria dessas passagens vem indicada na DM n. 4.
91
485
DM n. 4, incluindo a longa "nota 52".
486
Ibidem.
487
Ibidem: nota 52.
488
DM n. 4, nota 52.
92
particular. Deste amor, podemos dizer que é totalmente gratuito, não fruto de
merecimento e que, sob este aspecto, constitui uma necessidade interior: é uma
exigência do coração"489. Todos estes termos exprimem a riqueza
transcendental da misericórdia divina: perdão das culpas (hus), piedade (hamal),
firmeza na ternura (emet), amor fiel a si mesmo (hesed) e amor entranhado
(rahamim). Atribuídos ao Deus Único, estes matizes da misericórdia delineiam a
paternidade de Javé, que se manifesta no amor por suas criaturas (em geral) e
na eleição israelítica (em particular): "Ele é para eles Pai, dado que Israel é seu
filho primogênito"490.
"Deus que é rico em misericórdia"(Ef 2,4) é aquele que Jesus Cristo nos revelou
como Pai. Foi o seu próprio Filho quem, em si mesmo, no-lo manifestou e deu a
conhecer (cf. Jo 1,18; Hb 1,1ss). Convém lembrar, a respeito, o momento em
que Felipe, um dos doze apóstolos, dirigindo-se a Cristo lhe disse: "Senhor,
mostra-nos o Pai e isso nos basta"; e Jesus respondeu-lhe: "Há tanto tempo que
estou convosco e tu não me conheces? Quem me vê, vê o Pai"(Jo 14,8-9).492
489
Ibidem: nota 52.
490
DM n. 4.
491
DM n. 5.
492
DM n. 1.
493
Cf. DM 3-5 e suas respectivas indicações bíblicas.
93
494
DM n. 5.
495
DM n. 6.
496
DM n. 3.
497
DM n. 2.
498
Ibidem.
499
DM n. 7.
94
V
“Inscrutabilis dolor Patris”
O amor compassivo do Pai:
500
DM n. 8.
501
DM n. 4: AAS 72(1980), p. 1187.
502
RH n. 1, abrindo a trilogia.
503
DM n. 4, comentada no quarto ponto desta Conclusão.
504
DV nn. 39 e 45.
505
O ensino de João Paulo II sobre o dolor Patris toca um ponto candente da teologia
contemporânea, ao considerar um aspecto da misericórdia divina não explorado pela teologia
tomista. Esta segue a afirmação aristotélica da "imutabilidade" (impassibilidade) divina, dizendo
que a alegria, dor ou compaixão em Deus acontecem "secundum effectum, sed non secundum
passionis affectum" (Summa theologiae I, q. 21, a.3). Por outro lado, a linguagem bíblica - que
João Paulo II interpreta ao modo de "analogia" e não como simples "metáfora" - sugere em
Deus. Respeitando o primado das Escrituras, também alguns Padres admitem divinas,
livres e perfeitíssimas, distintas das paixões de natureza humana, tocadas pelo pecado. Neste
sentido, o Papa segue o primado das Escrituras, aproximando-se menos da afirmação tomista, e
mais daquela patrística. Mesmo assim, é admirável que "o Papa proponha, sem dificuldades, um
95
modo de exprimir-se que constitui ainda uma controvérsia entre os teólogos"(H.U. von
BALTHASAR: Lasciatevi muovere dallo Spirito, o.c., p. 116).
506
DV n. 45: AAS 78(1986), p. 863.
507
Cf. especialmente DV 11-14.
508
Cf. DM n. 4 e DV n. 39.
509
DV n. 39.
510
Ibidem.
511
RH n. 9.
96
VI
“Ecclesia necesse est testimonium misericordiae Dei”
A Igreja, testemunha da misericórdia divina:
512
Cf. CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-B, 4.2-4.2, in Documentos, p. 261-262.
513
Cf. Ibidem: Parte II-B, 3, p. 260.
514
DV n. 33.
515
DV n. 39.
516
CTI: "Teología-Cristología-Antropología", Parte II-B, 5.1, o.c., p. 262.
517
Nos termos de Lumen gentium n. 1: AAS 57(1965), p. 5.
97
518
Cf. RH n. 3 e DV nn. 2 e 64.
519
RH n. 19; também DV nn. 7, 15, 16 e 64.
520
RH n. 7; também DM nn. 7-8.
521
RH n. 14.
522
Cf. RH nn. 6, 7, 11, 12 e 15-18. Trata-se do "diálogo de salvação" nas suas várias esferas,
atualizando a proposta de Paulo VI (Ecclesiam suam nn. 54-64) e do Concílio Vaticano II
(Lumen gentium nn. 14-17).
523
DM n. 1.
98
524
DM n. 2.
525
Palavras de DM n. 3.
526
DM n. 2.
527
Versículo citado em RH n. 4 e DV n. 64.
528
Prólogo do Capítulo VII: "A misericórdia de Deus na missão da Igreja".
99
529
Ibidem.
530
DM n. 3.
531
Cf. ibidem
532
Cf. prólogo do Capítulo VII.
533
Cf. ibidem.
534
DM n. 13.
535
Ibidem.
536
Ibidem.
537
Ibidem.
538
Ibidem.
100
VII
“Pater futuri saeculi”
Em Deus, nossa esperança:
Ao criar o universo, Deus criou o tempo, assim como todo o seu percurso
sucessivo. Assim, o tempo é dom de Deus: criado continuamente por Deus, está
em suas mãos. Ele dirige seu desenrolar, de acordo com seus desígnios.540
Por isso, o título que Isaías atribui a Deus é traduzido também como
"Senhor onipotente" ou "Pai do mundo vindouro"541 - títulos soteriológicos, já que
a onipotência divina é sempre onipotência criadora e salvífica, que domina o
tempo e o espaço na sua mais vasta extensão. Possuidor deste domínio, o Pai
concede ao Filho o principado cósmico, pelo qual Cristo é constituído "centro do
cosmos e da história"542. Nesta perspectiva, dizer "mundo vindouro" é dizer
"salvação" (futura e definitiva). As encíclicas da trilogia seguem esta mesma
539
RH n. 7.
540
JOÃO PAULO II: Audiência Geral de 19-XI-1997, apud P. BETETA: El amor de Dios Padre
por los hombres en la enseñanza de Juan Pablo II, Madrid, 1998, p. 12-13.
541
Basta conferir as traduções da Vulgata, da Bíblia de Jerusalém e da TOB.
542
RH n. 1.
101
543
Cf. RH n. 8
544
RH n. 10.
545
RH n. 11, referindo-se aos judeus e muçulmanos.
546
RH n. 14.
547
RH n. 16.
548
DM n. 14.
549
DM n. 7.
550
DV n. 42.
551
Cf, RH nn. 1 e 7,
552
Cf. DM n. 7.
553
Cf. DV nn. 22 e 49; também J. MOLTMANN: Theologie der Hoffnung, München, 1966, p.
157-165.
554
RH n. 7.
555
Cf. DM n. 7.
556
Cf. DM n. 4.
557
Cf. DM nn. 7-9.
102
558
Palavras de DM n. 8.
559
JOÃO PAULO II: Audiência Geral de 19-XI-1997: apud o.c., p. 13.
560
DM n. 7.
561
Cf. RH n. 13.
562
Cf. RH nn. 8, 9 e 13.
563
RH n. 18, onde o Papa cita esta sentença de Sto. Agostinho: Confessiones I, 1.
103
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ÍNDICE
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Conclusão:
I. Em Jesus, o rosto do Pai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II. O Pai, amor fontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
III. Deus é amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
IV. O Deus consolador
V. O amor compassivo do Pai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
VI. A Igreja, testemunha da misericórdia divina . . . . . . . . . . . . .
VII. Em Deus, nossa esperança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Bibliografia