MUSICALIZAÇÃO DE ADULTOS:
ABORDAGEM SEMELHANTE À ADOTADA NO
PROCESSO
DE MUSICALIZAÇÃO INFANTIL
BELO HORIZONTE
2009
MUSICALIZAÇÃO DE ADULTOS
ABORDAGEM SEMELHANTE À ADOTADA NO PROCESSO
DE MUSICALIZAÇÃO INFANTIL.
Por
Zélia Pimenta da Silva
______________________
Belo Horizonte
2009
AGRADECIMENTOS
Por fim, àqueles que de uma forma ou de outra colaboraram efetivamente para
a finalização desta monografia.
Toda teoria pedagógica tem seus
fundamentos baseados num sistema filosófico.
É a filosofia que, expressando uma concepção de
homem e de mundo, dá sentido à Pedagogia,
definindo seus objetivos e determinando os
métodos da ação educativa. Nesse sentido, não
existe educação neutra. Ao trabalhar na área de educação,
é sempre necessário tomar partido, assumir posições.
E toda escolha de uma concepção de educação é,
fundamentalmente, o reflexo da escolha
de uma filosofia de vida.
Hayd
RESUMO
A observação que se tem feito é que a tradicional forma de inserção do adulto nos
estudos musicais tem sido um pouco “rude” ao longo do tempo e, na maioria das
vezes, sem um prévio processo de musicalização. Esse processo é priorizado na
fase infantil, na qual os resultados, em sua maioria, têm provado o quanto é
imprescindível e eficaz no fazer musical de todo musicista. Essa pesquisa
investiga como uma proposta de abordagem semelhante à adotada num
processo de musicalização infantil pode influenciar na descontração e
espontaneidade de alunos adultos numa experiência de musicalização. O jogo é o
facilitador da abordagem dos conteúdos e o aspecto lúdico o suporte para tornar
essa iniciação musical mais atraente e motivadora. O objetivo é tentar encontrar
uma orientação pedagógica estimulante para essa faixa etária. O adulto traz
consigo facilidades em relação à criança tais como assimilação rápida e agilidade
no raciocínio que proporcionam maior velocidade, reduzindo quase que pela
metade o tempo do aprendizado. Fatores diversos explicam isso, cognição é um
deles. As adaptações acontecem pelas naturais diferenças. A reflexão sobre a
forma tradicional de inserção do adulto na música toma proporções ainda maiores,
frente aos resultados alcançados com essa pesquisa. A metodologia utilizada para
a realização dessa pesquisa foi a observação de oito aulas de musicalização de
duas turmas de crianças, nível I (iniciantes) e nível II. Todas as aulas foram
registradas e, posteriormente, ministradas a uma turma de adultos para que fosse
possível verificar o alcance dessa abordagem. Os resultados apontaram que a
proposta pedagógica adotada na musicalização infantil mostra-se eficaz no
contexto de ensino de música para adultos. A hipótese de que a descontração e
espontaneidade dos adultos são influenciadas positivamente é validada, com
resultados relevantes. Entre eles, a surpreendente elevação da auto-estima dos
participantes ao se sentirem aptos a aprender o que é proposto de forma simples.
Portanto, a sugestão é que se priorize também o processo de musicalização na
fase adulta e nos moldes do infantil, nos quais o jogo e o aspecto lúdico, aliados à
descontração e espontaneidade são fatores primordiais para garantir motivação no
aprendizado, pois musicalizar é construir a base para uma melhor competência
musical.
Palavras-chave: Adulto, Musicalização, Abordagem, Descontração,
Espontaneidade, Motivação.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 08
1.1 - Introdução..................................................................................................11
4.3 – Resultados............................................................................................... 34
INTRODUÇÃO
1
Desembaraço; desenvoltura; falta de constrangimento.
2
Naturalidade; simplicidade; originalidade.
3
Escola que, há 38 anos, oferece um trabalho de educação musical para crianças e jovens de
Belo Horizonte, sendo pioneira no ensino de música para crianças menores de cinco anos.
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CAPÍTULO 1
1.1 – Introdução
Nos estudos de música, por vários séculos, o ensino musical tinha como
principal objetivo o virtuosismo em detrimento da formação de músicos. Ainda
hoje, persiste tal tendência. Todavia, com o surgimento de novos pensamentos,
correntes filosóficas, psicológicas, e novos paradigmas que apareceram ao
longo do século XX, ainda presentes nos dias de hoje, contribuiu
decididamente para influenciar o ensino musical do novo século, pois a
vivência dos elementos musicais foi resgatada (CAMPOS apud COMINI, 2005, p. 07).
Nesse período, surge na Europa uma nova pedagogia com intuito de combater
o materialismo, apontando para a necessidade de unir o desenvolvimento
intelectual ao desenvolvimento sensorial. Em conseqüência, a música passa a
ser considerada fator cultural indispensável, por lidar com questões sensíveis
do homem. Por essas razões, o que era denominado ‘ensino da música’ é
substituído por educação musical. Essa substituição ocorreu devido às
influências diretas que vieram por parte da psicologia e em especial a de
Freud. A música também teve a sua importante contribuição nessas mudanças,
pois estava passando por grandes transformações nessa época. Willems,
preocupado com a questão humana na educação musical, passa a enfocá-la,
não priorizando, portanto, a performance (Idem, p.02).
O método Willems tem como ponto de partida canções tonais que são
utilizadas como recurso didático e o desenvolvimento auditivo, que é
trabalhado com a utilização de recurso material sensorial apropriado (GUIA;
FONSECA, 1995, p.02). No seu método, o educador enfatiza que as canções:
Ele criou uma teorização sobre percepção musical e estabeleceu três domínios
distintos: 1) Nível sensorial; que tem como característica a atividade do órgão
auditivo em reação ao som. 2) Nível afetivo; pela relação existente, segundo
ele, entre a afetividade e os intervalos de uma melodia. 3) Nível da inteligência
14
4
Retirado do material elaborado por Maria Betânia Parizzi e Rosa Lúcia Mares Guia
para Curso de Formação de Professores em Educação Musical do Núcleo Villa-Lobos
de Educação Musical.
15
5
Extraído do material produzido por Maria Betânia Parizzi e Rosa Lúcia Mares Guia para o
Curso de Formação de Professores em Educação Musical do Núcleo Villa-Lobos de Educação
Musical, 1998.
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CAPÍTULO 2
2.1 – Musicalização
Para Piaget (apud PENNA), “as funções do processo adaptativo, que regem a
interação do indivíduo com seu ambiente – a assimilação (do novo ao velho) e
a acomodação (do velho ao novo)” – são características que abrangem todas
as idades (PENNA, 1990, p. 45-46). Sendo assim:
Sendo a percepção o principal fator para que ocorra a mudança dos esquemas
perceptivos, é necessário que a descoberta dos conceitos aconteça
internamente, através da própria percepção do aluno. Cabendo nesse caso ao
professor promover atividades que o levem a essa descoberta, dando a
orientação cabível no processo de conscientização da aquisição do conceito e
de sua formulação, facilitando ainda mais ao fornecer a terminologia própria
para designá-lo. Penna afirma que:
Mesmo faltando uma boa psicologia do adulto e a construção desse fator esteja
de certa forma, muito ligada a fatores culturais, podem-se relacionar algumas
características da etapa da vida adulta que distinguiriam, de maneira geral, o
adulto da criança e do adolescente. O adulto faz parte de um contexto
diferenciado, trazendo consigo uma história mais longa [...] de experiências
diversas, com conhecimentos acumulados sobre o mundo em geral, sobre si e
sobre os outros. Quando num processo de aprendizagem, as diferenças dessa
etapa da vida promovem habilidades e dificuldades (em relação à criança) e,
6
Web site <http://pt.wikipedia.org./wiki/cognicao>
23
2.3 – Aprendizado
CAPÍTULO 3
Musicalização - aula nº 1
Musicalização - aula nº 2
Musicalização - aula nº 3
Musicalização - aula nº 4
Nessa aula foi apresentada uma nova atividade para os dois níveis. Foi pedido
aos alunos que formassem uma roda. Cada um deveria prestar bastante
atenção no colega da direita, pois o movimento corporal que ele fizesse, seria o
movimento a ser repetido, mas isso, só depois que esse colega tivesse
terminado completamente o movimento. Nessa atividade, enquanto se fazia os
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Musicalização - aula nº 5
Musicalização - aula nº 6
A primeira atividade dessa aula foi o reconhecimento por parte das crianças de
som grave e agudo. Utilizando um agogô, a professora pediu para os alunos
que andassem para frente ao ouvirem o som grave e para trás o som agudo.
Elas não tiveram nenhuma dificuldade nesse exercício. Outra atividade foi o
enfileiramento, por altura do grave para o agudo, de sete sinos, cada um com
uma altura – detalhe: a diferença entre as alturas era mínima, mas a percepção
dos alunos foi muito satisfatória. O objetivo foi trabalhar reconhecimento de
alturas. Assuntos como: pulso, pulsação, ritmo, automatismo escrito, prontidão,
alternância de pulso para pulsação (nível II) e ditado melódico foram
mencionados. Recursos utilizados nessas aulas: Agogô, sinos, cartas e bola.
Musicalização - aula nº 7
A atividade inicial dessa aula foi “O cego em busca do seu guia”. Alguns alunos
caminhavam pela sala tocando um instrumento de percussão, enquanto outros,
de olhos fechados, guiados apenas pelo som, tinham que encontrar esse
colega que estava tocando. Concentração e timbre eram os objetivos propostos
para essa atividade. Foi apresentada para a turma I a pausa de semínima
através de um exercício em que batiam palmas depois que falavam alguns
números, com a palma enfatizando o silêncio. Foram trabalhados também,
automatismo ascendente e descendente, prontidão, coordenação motora,
memorização, altura e escrita. Recursos dessas aulas: instrumentos de
percussão, voz, corpo, gráficos, canção (Ao clarão da lua).
Musicalização - aula nº 8
Essa aula teve início com uma atividade chamada “morto-vivo”, o objetivo era o
reconhecimento de som grave e agudo. Utilizando o piano, a professora tocava
em várias regiões, sempre dando ênfase ao grave e ao agudo. Quando os
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alunos ouvissem o som grave tinham que deitar e ao ouvirem o som agudo
tinham que levantar. Em outro momento, com a canção “Grilo saltador”, a
professora trabalhou pulsação e pausa de semínima. Houve também a
apresentação da pauta bigrama - conjunto de duas linhas sobrepostas - para a
turma do nível I, com objetivo de automatismo de linha e espaço e leitura
relativa. Para a turma de nível II a novidade foi uma colcheia pontuada seguida
de uma semicolcheia, um novo padrão rítmico. Outros assuntos foram: altura,
grafia, ditado de altura, notas no pentagrama (nível II), apreciação musical,
escrita na pauta e leitura relativa. Foram usados os seguintes recursos: piano,
canção, gráfico e corpo.
As aulas tinham duração total de uma hora e durante esse período eram dadas
apenas três atividades para cada nível, devido ao possível cansaço e facilidade
de dispersão por parte da criança. Os detalhes descontração e espontaneidade
nessa fase são extremamente naturais. Contudo, o tipo de abordagem
utilizada, evidenciou o aumento desses dois aspectos atingindo um grau
31
CAPÍTULO 4
4.1 – Introdução
7
Essas sessões foram adaptadas e baseadas nas sessões de relaxamento realizadas
por Leonita Becker e Sidirley de Jesus Barreto, aplicada a um grupo de alunos para
avaliar o rendimento e a melhoria num processo de aprendizagem.
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4.3 – Resultados
No início dos trabalhos com o adulto, percebeu-se que ele traz consigo atuante
senso crítico, principalmente quando inserido numa dinâmica de grupo, na qual
surge a suposição de que será colocada em teste sua capacidade intelectual.
As crianças, ao contrário, quando se encontram se expressam exatamente
como são, surgindo daí uma confiança mútua, quase que instantânea, levando
a inferir que a interação entre elas é quase automática. Sendo assim, as
atividades de musicalização podem ser aplicadas imediatamente sem nenhum
outro recurso didático prévio.
Já com o adulto isso difere devido à sua suposta faculdade de julgar. Todavia,
os resultados alcançados com as sessões de musicoterapia foram satisfatórios
dentro dos propósitos objetivados. Houve uma melhora na interação e
comunicação dentro do grupo. Os procedimentos durante cada sessão
dependiam dos acontecimentos do momento, mas em cada uma o foco era
mantido para que o grupo não dispersasse. Foi notável maior liberdade entre
eles, a cada encontro, contribuindo bastante para o resultado final.
Quantidade de Atividades
Com as crianças, em média, eram aplicadas três tipos de atividades por hora.
Já com os adultos, foi possível dobrar essa quantidade e em algumas
situações, dependendo do parâmetro a ser trabalhado, foi possível ampliar um
pouco mais essa quantidade. Os parâmetros como prontidão, concentração,
memorização, jogo de automatismo e ritmo são algumas das atividades que
permitem essa ampliação pela facilidade de assimilação dessa faixa etária.
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CAPÍTULO 5
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS:
FONSECA, Maria Betânia Parizzi e GUIA, Rosa Lúcia dos Mares. Apostila de
Atividades para o Curso de Formação de Professores em Educação Musical,
promovido pelo Núcleo Villa-Lobos de Educação Musical; Material não publicado,
1993 – 2003.