A composição para obter essas características é uma mistura de aglomerantes - cimento Portland
ou resina epóxi numa quantidade até cinco vezes superior a um concreto comum -, agregados
miúdos de origem natural ou beneficiados e aditivos com diversas funções, além de,
eventualmente, fibras sintéticas. Elton Bauer, no capítulo IX "Pastas, argamassas e grautes",
publicado pelo Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) no livro Concreto: ensino, pesquisa e
realizações, afirma que, após a mistura com água, "os grautes devem apresentar fluidez,
consistência tipo bombeável, baixa ou nenhuma retração e não devem apresentar segregação e
exsudação pronunciados". É o que Antonio Domingues de Figueiredo, professor da Escola
Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), chama de "consistência milk-shake".
Características como essas são necessárias para que atenda a finalidades como: preenchimento
de vazios em estruturas, encamisamento, reforço e recuperação de estruturas, preenchimento de
colunas de alvenaria estrutural, fixação de equipamentos a uma base e ancoragem e
chumbamento de tirantes e fixadores, por exemplo.
O ensaio com funil de Marsh mede o tempo que um litro da mistura leva para escorrer, determinando-se a fluidez.
A mesa de consistência é adotada quando a suspensão conta com alto teor de sólidos ou viscosidade incrementada
por aditivos ou fibras.
São situações muito específicas, em que o desempenho deve ser absoluto e isento de suspeitas.
"A palavra-chave do graute é: uniformidade", resume Figueiredo ao se referir à trabalhabilidade,
à condição de aplicação e ao comportamento mecânico.
A necessidade por homogeneidade, bem como por resistências elevadas se mostram evidentes
quando a aplicação do produto visa a recuperação estrutural. Por se tratar do elemento que vai
resolver a situação problemática, o graute "não pode ser o ponto fraco da estrutura", pontua
Figueiredo. O mesmo motivo justifica a difusão dos grautes industrializados em detrimento dos
produzidos in loco - embora a água ainda seja adicionada em canteiro, pois é recomendação
geral que o uso ocorra logo após a mistura a fim de que a fluidez não se perca.
Ainda assim, em outros casos aparentemente mais simples, como a fixação de maquinário, a
uniformidade é indispensável. Afinal, o surgimento do graute se deu para suprir justamente a
carência por um contato perfeito e uma adequada distribuição de cargas no apoio de máquinas no
solo.
Componentes classificatórios
O mais simplório método de classificação dos grautes parte da natureza dos aglomerantes,
podendo estes ser de origem mineral ou orgânica. Outra forma de organizar é pensando no
desempenho e no comportamento. A partir dessa metodologia tem-se os grautes para uso geral,
os especiais e os rápidos.
Grautes orgânicos podem atender com folga a todas as solicitações de desempenho exigidas
desses materiais. O motivo pelo qual não são sempre adotados em detrimento dos cimentícios é
simples, o custo das resinas, derivadas de petróleo. "Um graute de base orgânica chega a ser
até 20 vezes mais caro que um de base cimentícia", explica o engenheiro José Eduardo Granato.
Enquanto um graute mineral de alto desempenho custa, para o construtor, cerca de R$ 0,80/kg -
o dobro de um para uso geral -, o quilo do graute resinado chega a custar R$ 16,00.
Embora tecnicamente adequados para recuperação estrutural, os grautes resinados são muito caros e, portanto,
mais comumente aplicados em condições específicas, como sob ação de cargas dinâmicas.
Daí a adoção do graute resinado - ou químico - principalmente em situações que exigem elevada
resistência mecânica, a ataques químicos e óleos e capacidade de absorver vibrações. Ou seja, é
adequado para cargas dinâmicas e cíclicas comuns em termoelétricas e gráficas, por exemplo,
além de grauteamento de túneis, de cabos de protensão, grauteamentos geotécnicos e em
alvenarias, dentre outros.
Quanto à constituição, os grautes orgânicos mais comuns têm a base em epóxi, podendo também
ser de base furânica, base fenólica e base poliéster. Esta última mais adotada para fixação de
chumbadores e ancoragens. Em todos os casos, a resina é combinada com um endurecedor à
base de aminas e poliamidas, agregados selecionados e adições. "O ganho de resistência em
função do tempo depende do catalisador da resina", explica Granato. "O cimento pode entrar
na composição como um agregado fino chamado fíler, completando a distribuição
granulométrica e preenchendo os vazios da areia, porém atuando apenas como inerte", descreve
o "Manual de Reparo, Proteção e Reforço de Estruturas de Concreto".
Dentre as vantagens dos grautes resinados pode ser enumerada, além da resistência mecânica e a
capacidade de suportar vibrações, a boa adesão das resinas ao concreto e ao aço. Quando para o
preenchimento de fissuras, apresentam baixa viscosidade e são formulados com resina
praticamente pura. A desvantagem técnica da base orgânica fica por conta da resistência
térmica. "A partir de 80°C a matriz começa a deteriorar-se e o material perde propriedades
mecânicas", explica o engenheiro Paul Horst Seiler.
Uma das conseqüências da alta resistência é a rigidez. Peças muito rígidas não suportam
impactos nem movimentos cíclicos. Em alguns casos, quando a resistência química não é
necessária e, portanto, o uso do graute resinado não se justifica, é possível utilizar fibras
metálicas no graute mineral. Estas aumentam a ductibilidade e a resistência a impactos do graute.
Para aplicações subaquáticas, em que as bases resinadas não podem ser adotadas, os produtos
devem, obrigatoriamente, contar com aditivo retentor de finos.
Uso e configuração
Foram as necessidades específicas que determinaram as características e a composição dos
grautes. Como é importante que tenham grande capacidade de preenchimento - inclusive de
estruturas esbeltas e com elevada taxa de armadura -, e consigam se adensar sem vibração, é
essencial que sejam bastante fluidos e não contem com componentes de dimensões elevadas.
Essa última propriedade vale apenas para os grautes minerais e se justifica pela necessidade de
ocupar completamente todos os vazios. Assim, o uso de agregados miúdos é imprescindível.
Conseqüentemente, com agregados e aglomerantes compostos por partículas finas, a superfície
específica dos grânulos resulta maior e o graute fica mais sujeito - quando comparado ao
concreto convencional - tensões internas mais intensas. Em suma, sofrem efeitos de retração
principalmente quando do incremento do teor de água, que precisa ser compensada. No caso de
grandes áreas a serem grauteadas, para fins de economia, é possível e até recomendável, segundo
Figueiredo, lançar mão do uso de agregados graúdos.
Para evitar aumentar a quantidade de água no traço, o que ocasionaria, além de uma retração
ainda mais acentuada, desestabilização da suspensão e prejuízo da resistência, faz-se uso de
aditivos superfluidificantes e superplastificantes. O equilíbrio da trabalhabilidade, conforme
explica Bauer, é obtido com a adequação dos superfluidificantes com os controladores de
exsudação, que são promotores de viscosidade.
Base de equipamentos.
Esses aditivos provocam uma expansão inicial decorrente da formação de gás que objetiva
compensar a retração posterior. Anteriormente, esse efeito era obtido com o uso de sulfatos, mas
atualmente o mais comum é utilizar aditivos à base de alumínio, que formam gás hidrogênio e
propiciam um controle mais refinado da expansão.
Mesmo assim, o processo em si é de controle difícil. "A retração compensada não é medida e
esse é o detalhe crítico da recuperação de estruturas com graute", alerta Figueiredo. Além de
uma expansão insuficiente para efeito de compensação, um aumento de volume excessivo pode
ser problemático e causar bolhas em excesso, o que prejudica a resistência e a durabilidade. Por
isso, um detalhe importante a ser observado pelo construtor é o controle de retração do graute
ainda no estado fresco, além da expansão da massa endurecida, que não dispensa a adoção de um
processo de cura úmida.
Apesar de todos esses subterfúgios para controle da retração, esta ainda ocorre. No entanto, é
possível controlar e mesmo eliminar "a formação de fissuras provocadas pela retração",
conforme descrito no artigo "Grautes - Novos materiais de construção civil", de 1989, dos
engenheiros Antonio Domingues de Figueiredo, Paulo Sérgio de Oliveira e Paulo Helene.
Com o advento dos grautes industrializados, ocorrido a partir dos anos 80, cabe ao construtor
apenas observar as recomendações do fabricante a fim de obter o desempenho desejado. Como
já vem pré-misturado, pode ser mais prático comprar o industrializado do que calcular o traço.
Além disso, a homogeneidade e o controle de qualidade praticados pelos melhores fornecedores
aumentem a segurança da aplicação, essencial em recuperação estrutural, principalmente. Outro
motivo que torna os industrializados ainda mais atraentes é o baixo volume de utilização. "É
senso comum que a aplicação do graute seja em litros e não em metros cúbicos", conta
Figueiredo. Por isso, continua, "é até mais intensa a utilização do graute industrializado do que
a da argamassa industrializada".
Apesar do desenvolvimento tecnológico, todo material tem limitações, que devem ser
respeitadas. No caso dos grautes, num exemplo corriqueiro, extrapolar a relação água:cimento
para obter uma fluidez mais adequada acaba por interferir na resistência do produto final.
Resistência química
Os grautes com base resinada apresentam maior resistência a ataques químicos do que os de base
cimentícia. No entanto, mesmo contando com menor porosidade, estão ainda sujeitos à ação de
alguns produtos mais agressivos. Confira o nível de resistência dos grautes epóxi frente a cada
produto.
Resistência excelente
• Álcalis (com 10 a 50% de hidróxido de sódio)
• Sais (cloreto de sódio)
• Óleos (combustível, petróleo)
• Gasolina (aviação, diesel, sem chumbo)
• Querosene
Resistência limitada
• Solventes aromáticos (tolueno);
• Solventes clorinados;
• Ácidos fortes inorgânicos;
• Oxidantes fortes.
Propriedades particulares
A diferenciação dos grautes de mercado em relação às propriedades pode se dar a partir da
modificação dos seguintes aspectos:
Fonte: Pastas, argamassas e grautes, de Elton Bauer, em Concreto: ensino, pesquisa e realizações, do Ibracon
Antimaresia e poluição
A estrutura da Torre do Rio Sul, edifício que fica próximo à orla de Copacabana, apresentava
desplacamento do recobrimento da armadura. Os motivos: ação da poluição atmosférica da
cidade do Rio de Janeiro e da maresia, que deposita cloretos na superfície do concreto, reduzindo
o pH e provocando expansão da armadura por oxidação.
Com 44 pavimentos e sobre o shopping Rio Sul, com outros cinco andares, a Torre é composta
por treliça de grandes dimensões dotada de reentrâncias e saliências que potencializam os efeitos
da atmosfera agressiva e da chuva ácida.
A recuperação, realizada pela Compacta, além de contornar a atividade comercial ininterrupta do
conjunto e as intensas rajadas de vento, exigiu remoção localizada das áreas comprometidas,
identificadas por ensaios, e preparo da superfície. Esse se deu com corte do concreto
deteriorado, apicoamento da superfície para exposição da armadura sã, demarcação geométrica,
limpeza do substrato por escovamento e hidrojateamento e saturação por 24 horas. A
demarcação é importante para melhorar a compacidade do reparo e a estética final da região a ser
reconstituída.
Quando rasos, com até 3 cm, a Compacta utilizou 800 m3 - 1.600 t - de graute tixotrópico sobre
ponte de aderência de base mineral. Os reparos profundos, com mais de 3 cm, exigiram
aplicação de graute mineral irretrátil à base de cimentos ultrafinos, com resistência de 40 MPa
após 24 horas, vertido em fôrmas estanques próprias para serviços de recuperação. Deste foram
consumidos 550 m3.