De Evana Ribeiro
Capítulo 76
CENA 1 – CASA DA FAMÍLIA PRADO/QUARTO DE VALENTINA – INT – DIA
Continuação da cena final do capítulo anterior.
MILENA – Não foi nada, esquece... É que de repente eu pensei em uma besteira
aqui, mas foi uma besteira mesmo, liga não.
CORTA PARA
CENA 2
Tomada aérea de São Paulo, indicando a passagem de algumas horas.
CORTA PARA
GIULIA – Desculpa... É que eu não... Eu não tava com o celular por perto, só fui
receber a ligação um tempão depois.
LUIGI – E esse aí do seu lado, quem é?
MEIRE – Lila e Laura estão muito bem, obrigada. (t) Giulia, acho melhor você ir
vê-la no quarto. Ela já perguntou por você um monte de vezes.
Giulia e Meire saem. Luigi olha para Daniel, desconfiado. Este evita olhar nos
olhos de Luigi.
CORTA PARA
MEIRE – Agorinha a pouco. Tá aqui fora, doida pra ver você e a Laurinha.
LILA – Então diz pra ela entrar logo!
MEIRE – Certo.
GIULIA – Oi...
LILA – E eu pensando que ia ter minha melhor amiga aqui na hora mais
importante da minha vida!
GIULIA – Eu também queria estar aqui na hora que ela nascesse. Mas acho que
ela quis se adiantar um pouquinho...
LILA – É. Decidi na hora. Olhei pro rostinho dela e pensei “nossa, vai ser Laura!”
Giulia ri.
LILA – Seu pai deu a idéia de chamar de Daniela, mas eu não quis. Você sabe por
que.
GIULIA – Sei... Aliás, se não for te encher muito, posso falar uma coisa do Daniel?
LILA – Logo agora?
GIULIA – Certo. (t) São três coisas. A primeira é que ele resolveu assumir a
paternidade da Laura.
LILA – E a terceira?
GIULIA – Bem... A terceira pode esperar um pouquinho. Você quer conversar com
ele?
GIULIA – Tá certo. (t) Agora deixa eu ver mais de perto a minha afilhada!
GIULIA – Nossa, dá um medo... Ela é tão pequenininha! (t) Oi, Laura! Eu sou a
sua dinda Giulia.
DANIEL – Bem... Enquanto isso, poderia falar com o senhor, seu Luigi?
DANIEL – Calma, não é problema nenhum. Quer dizer, eu não vejo isso como um
problema, e ela também não.
DANIEL – Senhor Luigi, eu estou completamente apaixonado pela sua filha. E ela
também gosta de mim.
LUIGI – É o quê?
MEIRE – Sabia que se não fosse isso, era quase...
DANIEL – Eu tô falando isso porque as minhas intenções com ela são muito
sérias. (t) Eu quero me casar com ela, caso o senhor não tenha nada contra.
DANIEL – Na verdade eu ainda não falei em casamento com ela. Quer dizer, falei,
mas nada oficial. Queria saber se o senhor aprovava, porque quero fazer tudo
direitinho. Assim que sair o meu divórcio, quero casar com ela no civil e no
religioso.
GIULIA – Tô aqui.
LUIGI – O... O Daniel aqui me falou um negócio, quero que você me confirme.
LUIGI – Mais ou menos. Mas disse que queria casar com você. (t) Você quer?
DANIEL – Já expliquei tudo pra ele. Agora que seu pai já tá sabendo, você
acredita na seriedade das minhas intenções?
DANIEL – Não me diga que eu preciso fazer mais alguma coisa pra provar que eu
te amo mais que a minha vida!
DANIEL – Pois pra mim foi teste sim. E eu passei em tudo, com louvor.
GIULIA (olha para Daniel, bem séria) – Ok, você venceu, seu insistente.
DANIEL – Eu sabia que você ia aceitar. Eu sempre soube. Só que você insiste em
bancar a difícil...
Giulia ri.
CORTA PARA
CENA 6
Tomada aérea de Londres.
CORTA PARA
ISAAC – É.
AMANDA – Você só tem pensado nisso ultimamente...
AMANDA – Não é bem assim. Mas morar com os pais depois do casamento...
AMANDA – A gente podia juntar o seu dinheiro e o meu. Dava pra comprar um
apartamento legal.
ISAAC – Não, eu não quero que você gaste seu dinheiro com isso. Gaste com
você e com nosso filho.
AMANDA – Como queira. (t) Você acha que falta pouco pra solucionar a questão?
ISAAC – Acho que sim. Hoje vou a um orfanato lá em Liverpool, acho que lá
podemos obter alguma informação.
ISAAC – Voluntariamente não, é claro. Mas ela pode acabar fazendo algo errado
sem querer, entende?
AMANDA – Sei...
CORTA PARA
MONIKA – Que droga, que droga! Maldita menstruação, tinha que chegar agora!
Logo agora que eu quero tanto ter um filho do Michael...
LIV – Monika...
MONIKA (brava) – Eu sei que o seu pai não tá em casa! Ele saiu pra trabalhar!
Espere ele voltar, tá bom?
LIV – Tá...
Liv fica calada, num canto da sala, olhando fixamente para Monika.
Instantes depois Monika levanta e vai para perto dela.
LIV – Nada.
MONIKA – Então vai pro seu quarto! Não quero ver você na minha frente. Vai, vai
logo, garota!
MONIKA (respira fundo) – Liv, eu gosto de você. (t) Mas eu estou muito nervosa e
quero ficar sozinha.
MONIKA – Porque eu achei que ia te dar um irmãozinho, mas foi alarme falso.
LIV – Mas eu não quero um irmãozinho.
MONIKA – Você não tem que querer nada, Liv. Eu quero, seu pai quer, e nós
vamos ter outro filho! Mais cedo ou mais tarde, vai ter um irmãozinho ou irmãzinha
em casa.
MONIKA – Sai daqui, menina... Senão eu vou acabar fazendo uma coisa que eu
não quero!
A campainha toca. Liv sai correndo. Monika, tremendo, atende. Laurie entra
com Marianne.
LAURIE – Isso não é motivo pra ficar tão nervosa. Você casou há pouco tempo,
vai ter tempo de sobra para ter quantos filhos quiser.
MONIKA – É, você tem razão. Mas eu tinha muita fé que seria dessa vez,
entende?
LAURIE – Entendo sim. (t) Bem hoje eu trouxe Marianne para ficar mais com
vocês.
LAURIE – Pois é. O chamei para jantar... Tomara que seja uma noite muito
agradável.
LAURIE – Sim. Não me sentiria muito à vontade se tivesse mais alguém na casa.
MONIKA – Sei como se sente. (t) Também tenho muita vontade de mandar minha
enteada para a casa da avó.
MONIKA – Não é raiva. Ela é até fofinha. (t) Mas é muito mimada e eu quero
mudar isso.
MONIKA – Por isso faço tanta questão de engravidar logo, entendeu? Ela precisa
entender que não pode ser sempre o centro das atenções.
LAURIE – Sim... Agora preciso ir, tenho que arrumar as coisas para o jantar.
Beijos!
DARREN – Ei, Amanda. Não corre assim... Você pode bater em algo por aí.
DARREN – Sei lá... Agora que você tá grávida acho que tem que andar bem
devagarinho...
AMANDA – Bobagem.
AMANDA – Ai, Darren! Eu sou apenas uma grávida, não uma doente em
quarentena. Não se preocupe tanto.
DARREN – Amanda!!
CORTA PARA
LIV – Oi... Lembra de mim? Meu nome é Liv. (t) E você é Marianne, não é? (t)
Você é tão bonita...
LIV – Você é mais bonita que a Monika. (t) Ela não gosta de mim... Ela é má.
CORTA PARA
DARREN – Não sabemos! Já faz mais de uma hora que ela foi pra lá e até agora
ninguém dá notícia nenhuma...
JOHANN – Um minuto. Acho que o médico que atendeu Amanda acabou de sair.
JOHANN – A cirurgia acabou agora a pouco. Amanda foi levada para o quarto e
menino para a UTI neonatal.
JOHANN – Infelizmente, sim. (t) Ele nasceu muito antes do tempo previsto, as
chances dele não são muito grandes.
CENA 13
Tomada aérea de Recife no começo da noite.
CORTA PARA
LUCIANA – Pronto.
JAIRO – Primeiro quero que você me explique que contas absurdas são essas.
(mostra a ela os envelopes de contas)
JAIRO – Luciana...
JAIRO – Tudo bem, eu acredito em você. (t) Agora me explica por que sumiu todo
esse tempo sem dar uma noticiazinha sequer.
LUCIANA – Eu sumi por duas razões. (t) Primeiro porque estava muito ocupada
no trabalho e... Segundo porque eu sofri aquele acidente.
JAIRO – Luciana, seja o que for, é melhor você falar a verdade... Esses
hematomas aí no seu rosto e no seu braço só confirmam o que o pessoal do
hospital disse. (t) Pode falar sem medo.
LUCIANA – Tenho medo que Talles saiba e se envergonhe de mim, mas eu fiz
tudo pensando em dar um futuro melhor pra ele!
Luciana fica de cabeça baixa por alguns instantes. Depois, olha para Jairo.
LUCIANA – Tá bom, eu vou falar tudo. Mas por favor, não conta pra ninguém...
Muito menos pro Talles!
LUCIANA – Bem, quando eu deixei Talles aqui na sua casa, eu tava indo pra
Recife a convite de um amigo, um ex-namorado que disse que tinha um serviço
bom pra mim lá. Tava precisando de grana mesmo, o salário no meu trabalho lá
em Caruaru tava pouco pro que eu queria dar pro menino e eu fui. (t) Quando eu
cheguei lá... Só quando eu cheguei lá é que descobri de que se tratava a coisa. Eu
ia ter que trabalhar como prostituta.
LUCIANA – Eu não queria, mas ia fazer o quê? Já tinha pego caras piores antes,
você deve se lembrar... Aí eu comecei a usar o nome de guerra de Milena e fui em
frente. Meus clientes até que não eram os monstros do armário; e pagavam bem,
o que me interessava mais. (t) Só que aí um dia eu dei azar. (t) Um cliente doido
começou a me procurar, e toda vez que a gente saía ele me batia. Um dia eu me
abusei, disse que não aceitava mais que fosse daquele jeito, e foi pior. (t) Ele e o
cara que me arrumou o trampo, e que eu achei que fosse meu amigo, me
pegaram, bateram até cansar e o resto você já sabe.
JAIRO – Espera... Só uma coisa. (t) Qual foi o nome que você disse que usava
como nome de guerra?
JAIRO – Pois é. Nós pensamos que fosse a Milena do Manoel aqui do lado,
porque ela tinha ido pro Recife pouco tempo antes, com a Ana Paula. (t) Mas era
você... E as meninas estavam sãs e salvas o tempo todo!
CORTA PARA
CORTA PARA
MARCELA – Oi, Talles, tudo bem? (t) Aqui tá tudo certinho. A gente só teve tempo
de ligar agora porque aconteceu um monte de coisa por aqui. (t) Que legal! Ela tá
bem? (t) Legal. Olha, eu esqueci de um negócio... Aquela carta doida ficou
comigo. Aí eu pensei que a mamãe podia tentar ler aquele negócio. Quer? (t) Tá
certo, assim que ela chegar do hospital eu peço pra ela ler. Agora fica falando com
a Flora aqui um pouquinho.
FLORA – Oi, Talles! (t) Não, a mamãe não tá doente. É que a Lila, amiga dela que
mora aqui, acabou de ter uma filha. O nome dela é Laura.
MARCELA – Aninha!
Elas se abraçam.
MARCELA – Mamãe disse que você tava muito ocupada com uma peça aí...
ANA PAULA – É verdade. Mas tirei uma horinha pra vir falar um negócio sério com
ela. Ela tá aí?
ALICE – Alô. (t) Como? (t) Não, é que eu não esperava... Estou bem, sim. (t)
Valentina está razoavelmente bem... Muito triste, mas não está doente. E as
investigações? Algum progresso? (t) Bom. Direi a ela. (t) Não sei, acho que ela
está dormindo, mas vou passar o recado. (t) Eu é que agradeço. Até breve.
CORTA PARA
VALENTINA – Tá aberta!
ALICE – Não encontraram nada da Angie fora do país. Quer dizer, não nos países
onde estavam procurando. (t) Mas não foi isso que ele pediu para dizer a você.
VALENTINA – Quando?
Em Valentina,
CORTA PARA
CENA 19
Tomada do bar Sacripantas.
CORTA PARA
ANA PAULA – É, mãe, já vi que não tem mais jeito. Vou deixar o Raul.
MEIRE – E vem morar comigo, Lila, Laurinha e suas irmãs, não é?
MEIRE – Ah, minha filha, que pergunta boba! É claro que você pode vir pra cá e
ficar quanto tempo quiser.
ANA PAULA – Não preciso dele pra mais nada. Alguns conhecidos lá do teatro me
deram uns toques pra testes, e eu tô fazendo. Amanhã mesmo tenho teste pra
participar de um comercial.
ANA PAULA – Se ele tentar, me ferrar, pode crer: levo ele junto.
Corta para a entrada do bar, por onde entram Milena, Leon e Jerri. Milena
vai na frente, olhando para os lados.
JERRI – Enquanto isso a gente procura uma mesa legal e pede umas brejas.
Jerri e Leon escolhem uma mesa do lado direito, que está mais vazio. Corta
para Milena e Vinícius, que estão perto do palco, no lado esquedo.
MILENA – Não é isso. É que... Você lembra da filha da Karen e do Julian, que a
gente conheceu?
VINÍCIUS – Mais ou menos. Não sou muito bom fisionomista. Mas o que tem a ver
essa menina com a minha filha?
MILENA – E daí que se elas são impressionantemente iguais! Tenho até medo
disso, mas quando vi a foto de Angela com Valentina a primeira coisa que passou
pela minha cabeça foi que não existem duas Angelas, e sim uma, que é a filha da
Tininha e está com Julian e Karen.
MILENA – Ninguém sabe, fiquei com um pouco de receio de contar. Como você
conhece a menina...
MILENA – Eu vou dar um jeito de tirar uma foto do álbum e trazer pra você. Ou
então você pede pra ela te mostrar.
MILENA – A gente fala com eles, ué. Explica toda a situação e pronto, tá resolvido
o problema. Quer dizer, pelo menos parte dele.
Corta para a mesa de Leon e Jerri. Eles estão bebendo, quando Jerri olha
na direção do balcão e vê Ana Paula conversando com Meire. Jerri levanta.
JERRI – Vim com Leon e Milena, porque ela tinha passado em uma seleção para
novos cantores. Infelizmente não foi pra terceira fase, mas está tudo dando certo
pra ela, acho que em breve vai gravar um CD.
ANA PAULA – Mas foi por uma boa causa. Pelo menos em parte...
CORTA PARA
CENA 21
Tomada de Londres.
CORTA PARA
IAN – Sabe, Laurie... Acho que muito em breve teremos uma bela surpresa.
LAURIE – É? Do que se trata?
IAN – De Marianne.
LAURIE – Ah, sim... Sua preocupação com ela é notável! (bebe um pouco de
vinho)
IAN – Foi de longe o caso mais interessante que eu já vi. Não que os outros não
sejam, mas...
LAURIE – Você é tão ocupado... Não tem tempo para ter vida pessoal, uma
namorada, talvez?
IAN – Para falar a verdade, eu não sei. Tenho dúvidas sobre minha capacidade de
ser um bom pai.
LAURIE – Pois eu acho que você seria um excelente pai. (t) Qualquer mulher
ficaria muito feliz em ser mãe dos seus filhos.
LAURIE – Sei...
Laurie bebe mais um pouco de vinho e olha para o lado, entediada.
CORTA PARA
CENA 23
Tomada de São Paulo.
CORTA PARA
JERRI – Saindo com umas garotas aí. Nada sério. (bebe um pouco de cerveja)
Agora eu quero liberdade.
JERRI – Tá certa.
ANA PAULA – Aí eu tô deixando o Raul por isso e... Porque no fim das contas eu
percebi que não gostava dele tanto assim.
JERRI – É?
ANA PAULA – Acabei descobrindo que o cara certo tava na minha frente e eu não
soube valorizar.
Jerri não responde e olha bem para Ana Paula. Ela baixa os olhos.
CORTA PARA
CENA 25
Tomada de São Paulo de manhã.
CORTA PARA
MILENA – Um senhor?
CORTA PARA
MANOEL – Ainda tô achando que dona Meire me mandou pro endereço errado...
MILENA – Pai!
Milena corre até ele, e eles se abraçam. Alice, Marcelo e Valentina chegam
e param ao lado de Leon.
MILENA – Aconteceu tanta coisa nesse tempo que eu passei fora... Tinha hora
que eu pensava em voltar correndo pra casa. Tanta saudade!
MANOEL – Fiquei sabendo que a senhorita se casou... Vai me explicar essa
história agorinha mesmo!
LEON – Seu Manoel, eu posso explicar. (t) Nós ainda não estamos oficialmente
casados, mas pretendemos fazer tudo direitinho em breve. Só faltava a sua
presença. Ah, meu nome é Leon, e estes são meus pais, Alice e Marcelo; e minha
irmã, Valentina.
CORTA PARA
CENA 28
Tomada de Londres.
CORTA PARA
LAURIE – Uma chatice! Ele não parava de falar do trabalho, e da Marianne. Que
raiva...
MONIKA – Paciência, Laurie, paciência! É compreensível que ele esteja muito
animado com Marianne. Ela está dando sinais de que está perto da cura.
LAURIE – Sim, mas acho que ele fala um pouco demais sobre ela.
MONIKA – Mas parece. (t) Mas, falando nisso, você não sabe o que Liv falou
ontem a noite.
MONIKA – Não sei. Ela disse isso de uma forma tão incisiva que tava quase me
convencendo...
LAURIE – Mas é uma menina de cinco anos... Crianças têm muita imaginação,
não acha?
LAURIE – Ela disse qual foi a palavra que Marianne teria dito?
LAURIE – Ele prefere Marianne... Ele prefere ela! O que eu posso fazer contra
isso?
CORTA PARA
CENA 30
Montagem de cenas de Londres e São Paulo, indicando passagem de uma
semana.
CORTA PARA
VALENTINA – Espero que não demore muito... Quero voltar logo pra casa.