simples. Nos espaços antecedidos pela letra “X”, preencha o nome de algum país pobre ou remediado. Nas lacunas acompanhadas de “Y” e “Z”, insira o nome de nações ricas do hemisfério Norte. Para os demais espaços, escolha uma das opções fornecidas entre parênteses ou alguma de sua preferência.
a história do país X________
A história do país X_________ iniciou-se com o povoamento de grupos nômades provenientes do _____ (norte, sul, leste, oeste). Durante alguns milhares de anos, esses povos se espalharam por quase todo o território, sobrevivendo à base da agricultura ru-
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dimentar e da coleta de __________ (peixes, frutas), por meio de
um sistema __________ (igualitário, sustentável). No século ____ , porém, essas tribos foram conquistadas por poderosos explora- dores do império Y_________ , que passaram a usufruir do traba- lho dos nativos, criando um sistema de exploração colonial. Em troca de pequenas manufaturas, os nativos forneciam aos estran- geiros uma série de matérias-primas essenciais para a crescente industrialização do império. Séculos depois, X_________ conquis- tou sua independência, mas manteve os laços de dependência econômica no âmbito da sociedade mercantilista. O revolucio- nário ________________ , homem de grande coragem, esperança e bigode, tentou livrar o país da pujança econômica internacional e diminuir as contradições inerentes ao capitalismo. No entanto, seus ideais feriam os interesses da elite _________ (rural, escravista, mercantil, burguesa) e também de um novo país, Z_________ . Esta nação buscava expandir seu mercado consumidor e apoiou co- vardemente o massacre aos rebeldes promovido por Y_______ . Em consequência de tantos séculos de opressão, X_________ vive hoje graves problemas sociais e econômicos.
Existe um esquema tão repetido para contar a his-
tória de alguns países que basta misturar chavões, mudar datas, nomes de nações colonizadas, potências opressoras, e pronto. Você já pode passar em qualquer prova de história na escola e, na mesa do bar, dar uma de especialista em to- das as nações da América do Sul, África e Ásia. As pessoas certamente concordarão com suas opiniões, os professores vão adorar as respostas. O modelo é simples e rápido, mas também chato e quase sempre errado. Até mesmo as novelas de TV têm ro- teiros mais criativos. Os ricos só ganham o papel de vilões
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– se fazem alguma bondade, é porque foram movidos por
interesses. Já os pobres são eternamente do bem, vítimas da elite e das grandes potências, e só fazem besteira porque são obrigados a isso. Nessa estrutura simplista, o único as- pecto que importa é o econômico: o passado vira um jogo de interesses e apenas isso. Só se contam histórias que não ferem o pensamento politicamente correto e não correm o risco de serem mal interpretadas por pequenos incapacita- dos nas escolas. O gênero também tem tabus e personagens proibidos, como o rei bom, o fraco opressor ou os povos que largaram a miséria por mérito próprio e hoje não se consideram vítimas. No século 20, quando esse esquema se tornou co- mum, acreditávamos num mundo dividido entre preto e branco, fortes e fracos, ganhadores e perdedores. Essa vi- são já estava pronta quando estudiosos se debruçavam so- bre a história: o que eles faziam era encaixar, à força, os eventos do passado em sua visão de mundo. Isso mudou. Uma nova historiografia ganha força no Brasil. Se no come- ço da década de 1990 o jornalista Paulo Francis falava de “rinocerontes à la Ionesco que passam por historiadores em nosso país”, na última década apareceram acadêmicos aler- tas de que não são políticos a escrever manifestos. Como diz o historiador José Murilo de Carvalho, na apresentação da Coleção Brasil Imperial, lançada recentemente: “A gera- ção anterior foi muito marcada pela luta ideológica, exa- cerbada durante os governos militares. Divergências eram logo transpostas para o campo político-ideológico, com pre- juízo para o diálogo e a qualidade dos trabalhos. A nova geração formou-se em ambiente menos tenso e polarizado, com maior liberdade de debate e um ambiente intelectual
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mais produtivo”. Os pesquisadores dessa nova leva tentam
elaborar conclusões científicas baseadas em arquivos inex- plorados de cartórios, igrejas ou tribunais, têm mais cui- dado ao falar de consequências de uma lógica financeira e pesquisam sem se importar tanto com o uso ideológico de suas conclusões. As interpretações que tiram do armário são mais complexas e, numa boa parte das vezes, saborosa- mente desagradáveis para os que adotam o papel de vítimas ou bons mocinhos. A história fica assim muito mais interessante. No sé- culo 18, quem quisesse ir de Parati, no Rio de Janeiro, à atual Ouro Preto, em Minas Gerais, tinha que cavalgar por dois meses – no caminho, passava por casebres miserá- veis onde moravam tanto escravos quanto seus senhores, que trabalhavam juntos e comiam, sem talheres, na mesma mesa. Sabe-se hoje que, nas vilas do ouro de Minas, havia ex-escravas riquíssimas, donas de casas, joias, porcelanas, escravos, e bem relacionadas com outros empresários. Os primeiros sambistas, considerados hoje pioneiros da cul- tura popular, tinham formação em música clássica, plagia- vam canções estrangeiras e largaram o samba para montar bandas de jazz. Uma das consequências da chegada dos je- suítas a São Paulo foi dar um alívio à mata atlântica – até então, os índios botavam fogo na floresta não só para abrir espaço de cultivo, mas para cercar os animais com o fogo e depois abatê-los. O problema é que essa nova história demora a chegar às pessoas em geral. Os livros didáticos continuam dizendo que o verdadeiro nome de Zumbi era Francisco e que ele teve educação católica – uma ficção criada pelo político e jornalista gaúcho Décio Freitas. Ainda se aprende na esco-
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la que o Brasil praticou um genocídio no Paraguai duran-
te uma guerra que teria sido criada pela Inglaterra. E tem muito descendente de europeu achando que é culpado pelo tráfico de escravos, apesar de a maioria de seus ancestrais ter imigrado quando a escravidão se extinguia. No processo de fabricação de um espírito nacional, é normal que se inventem tradições, heróis, mitos fundado- res e histórias de chorar, que se jogue um brilho a mais em episódios que criam um passado em comum para todos os habitantes e provocam uma sensação de pertencimento. Se este país quer deixar de ser café com leite, um bom jeito de amadurecer é admitir que alguns dos heróis da nação eram picaretas ou pelo menos pessoas do seu tempo. E que a histó- ria nem sempre é uma fábula: não tem uma moral edificante no final nem causas, consequências, vilões e vítimas facil- mente reconhecíveis. Por isso é hora de jogar tomates na historiografia po- liticamente correta. Este guia reúne histórias que vão di- retamente contra ela. Só erros das vítimas e dos heróis da bondade, só virtudes dos considerados vilões. Alguém po- derá dizer que se trata do mesmo esforço dos historiadores militantes, só que na direção oposta. É verdade. Quer dizer, mais ou menos. Este livro não quer ser um falso estudo aca- dêmico, como o daqueles estudiosos, e sim uma provocação. Uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias, irri- tantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfu- recer um bom número de cidadãos.