Frei Sérgio
Celebramos o “Corpo de Cristo”, uma das celebrações mais ricas que nos faz
pensar em seu conteúdo e simbolismo... mas, que nos faz pensar então neste
“Corpo de Cristo” no meio de tantos outros corpos?
Aceitamos, pela fé, a presença real de Cristo na Eucaristia; isso implica
comunhão bem maior com sua vida, seu testemunho de amor, de partilha,
solidariedade, dedicação pela transformação de tudo aquilo que não
dignifica a vida ou não dignifica os “corpos”.
Cristo, em sua prática e prédica, sempre teve um profundo amor pelo outro,
um profundo respeito pela vida e pela maneira de ser e pensar do outro, que
jamais humilhou, explorou, manipulou, ofendeu, abusou, castigou, usou...
Participamos, com muita fé, dedicação e respeito, das celebrações do “Corpo de
Cristo”, mas pode ser que, às vezes, façamos uma profunda cisão ou ruptura
entre o que celebramos e a realidade que nos cerca, ou seja, os famosos
“corpos”: explorados, manipulados, usados, escravizados, destruídos...
Pode ser que, às vezes, tenhamos um profundo amor e respeito pelo “Corpo de
Cristo vivo e presente na Eucaristia”, e não o vejamos nos “corpos” que estão aí,
aqui, ali, lá, dos nossos lados...
Olhar da fé? Indiferença? Medos dos corpos? Amor a Cristo?...
Parece-me que não sabemos lidar muito bem com esse estranho e
(des)conhecido que são os nossos “corpos”. Às vezes, pode ser que tenhamos
um certo medo de conhecê-los, tocá-los, sentí-los, acariciá-los, respeitá-los, tanto
os nossos como o Corpo de Cristo.
Temos muito o que pensar e rezar diante dos corpos, tanto diante do Corpo
de Cristo, como diante dos corpos que passam fome, que são explorados,
que sofrem e não vamos nos esquecer: Corpo de Cristo... pão...
comunhão, outro, fome, pão... partilha... celebração, amor, corpos...
Cristo me fascina por ter coragem de ser diferente da sua época, por ser ele
mesmo e estar profundamente integrado com seu corpo, colocando-o a serviço e
crescimento do outro... do outro corpo.
Como é bom termos essa oportunidade de mais uma vez celebrarmos o
“Corpo de Cristo”, que nos alimenta e nos faz re-pensar nossa postura
diante dos corpos... tanto do próprio Corpo de Cristo, como do corpo do
irmão e irmã que amam e sofrem ao meu lado, ao nosso lado... corpos.
Como seria bom se pudéssemos olhar, valorizar, respeitar, amar, cuidar dos
corpos dos nossos irmãos e irmãs mais necessitados do mesmo amor e zelo
que temos pelo Corpo de Cristo... quem fizer isso a um menor dos meus... é
a mim que o fizestes..., corpos, amor, respeito, doação.
Cristo/Eucaristia... perceber e amar a presença real de Cristo no corpo...
do outro:
corpos magros, corpos altos, baixos, belos, outros nem tanto, corpos sadios,
corpos doentes, corpos vestidos, corpos nus, bronzeados, sedutores, corpos nas
revistas, nas televisões, nos carnavais, nas campanhas de publicidade, corpos
explorados, corpos destruídos pelo trabalho, pela fome, pela exploração...
corpos.