Para que tenha valor democrático, o voto precisa revestir-se dos atributos de
sinceridade e autenticidade. Será sincero quando realmente for deveras expressão da vontade
do eleitor e repercutir na formação do Estado e do Governo e autêntico quando não for
falseada a intenção de quem o dá1. Para tanto, o sistema eleitoral brasileiro visa garantir a
imediaticidade do voto (este deve resultar “imediatamente” da manifestação da vontade do
eleitor, sem intervenção de “grandes eleitores” ou de qualquer vontade alheia), a liberdade de
voto (a ausência de coação física ou psicológica), o segredo do voto (pressupõe pessoalidade
e proibição de “sinalização” do voto) e a igualdade do voto (todos os votos devem ter uma
eficácia jurídica igual).2
(d) O que vota e não consegue que o seu candidato se eleja foi vontade e
voto; influi nos resultados, como o que se absteve e, mais, como o que votou
em branco. Tôdas as vezes que a lei considera pressuposto de alguma regra
jurídica o comparecimento e o voto em prêto, o eleitor que vota influi.
Art. 207. Les électeurs qui se trouvent dans l'impossibilité de prendre part au scrutin peuvent faire connaitre
leurs motifs d'abstention au juge de paix, avec les justifications nécessaires.
(Sont présumées se trouver dans l'impossibilité de prendre part au scrutin les personnes qui sont le jour des
élections privées de leur liberté en vertu d'une décision judiciaire ou administrative.) <L 05-07-1976, art.
69>
Citadao como exemplo positivo de obrigatoriedade do voto, a Austrália
possui um sistema de voto obrigatório desde 1924, onde os não votantes são obrigados a se
justificar oficialmente e, se a justificativa não for aceita, devem pagar multa. Desde então 33
países adotam alguma forma de voto obrigatório10.
Muito Rígida
[…]
Art. 210. Une première absence non justifiée est punie, suivant les circonstances, d'une réprimande ou
d'une amende (de cinq à dix francs). <L 30-07-1991, art. 46, 1°>
(En cas de récidive, l'amende sera de dix à vingt-cinq francs.) <L 30-07-1991, art. 46, 2°>
(Sans préjudice des dispositions pénales précitées, si l'abstention non justifiée se produit au moins quatre
fois dans un délai de quinze années, l'électeur est rayé des listes électorales pour dix ans et pendant ce laps
de temps, il ne peut recevoir aucune nomination, ni promotion, ni distinction, d'une autorité publique.) <L
30-07-1991, art. 46, 4°>
Dans les cas prévus par le présent article, (le sursis à l'exécution des peines ne peut être ordonné). <L 26-
06-1970, art. 1, § 1, 42>
La condamnation prononcée par défaut est sujette à opposition dans les six mois de la notification du
jugement. L'opposition peut se faire par simple déclaration, sans frais, à la maison communale.
Peru De acordo com as leis peruanas, aqueles que não votam ficam
impedidos de utilizar o serviço bancário ou outras transações
administrativas e enfrentam uma pena financeira.
Rígido
Bolívia Os cidadãos não podem fazer transações bancárias por até três meses
depois do dia da votação se não providenciarem prova de que votaram.
Uma pena pecuniária determinada pela Corte Eleitoral Nacional ao
tempo de cada eleição pode também ser aplicada.
Tailândia O eleitor faltoso pode perder certos direitos políticos, como por
exemplo o direito de iniciativa de projetos de lei, o direito de propor
impeachment de ministros ou sustentar cargos políticos.
Schaffhausen Uma pequena multa (três francos suíços) é cobrada de eleitores faltosos
pela polícia que vem recolher o cartão de legitimidade de voto de cada
(Cantão Suíço) cidadão. As sanções são aplicadas cada um dos não votantes, a menos
que sejam isentos.
Moderado
Bélgica Multas pelo não exercício do voto chegam a 50 euros para uma
primeira abstenção e 125 euros para uma segunda abstenção.
Chipre As sanções punitivas são multas de até £200 e/ou uma sentença de
prisão de até seis meses. Tem havido bem poucos processos como um
todo e nenhum desde as eleições gerais de 2001.
Bem moderado
Nenhum
Venezuela Embora o voto obrigatório seja previsto em lei, não foi, de fato,
implementado. Não há sanções específicas, e, portanto, não há
processamento.
16 A Lei 4.717/1965, que regula a ação popular, prevê que a prova da cidadania, para
ingresso em juízo em ação popular, será feita com o título eleitoral (art. 1º, § 3º). Já a
Lei 9.709/1998, que regulamenta o plebiscito, referendo e iniciativa popular requer
que, para a iniciativa popular, o projeto de lei apresentado à câmara seja subscrito por,
no mínimo, um por cento do eleitorado nacional (art. 13, caput).
provisões normativas ela o fez expressamente. A participação popular direta mediante
plebiscito, referendo e iniciativa popular se dará "nos termos da lei" (art. 14, caput). O mesmo
se observa quanto às condições de elegibilidade, cujos contornos finais seriam dados "na
forma da lei" (§ 3 do art. 14). Igualmente procedeu a Constituição quanto à inelegibilidade (§
9 do art. 14). Também no assunto análogo do serviço militar obrigatório, a Constituição
Federal de 1988 (art. 143, caput) remete à lei a tarefa de fixar-lhe os contornos. Mas o silêncio
da Constituição quanto à possibilidade de regulamentação do voto obrigatório por lei indica
fortemente que já bastam as previsões feitas nela.
[...]
[...]
Poder-se-ia pensar que a razão por trás de tal restrição é que, não sendo o
eleitor faltoso, por sua injustificada negligência em votar, um "cidadão exemplar", seria justo
que ficasse privado de concorrer a um cargo público. Mesmo se tal raciocínio for acolhido, tal
dispositivo precisa ser atualizado para apenas obstar a posse no cargo público, nunca impedir
a mera inscrição. A qualquer momento, antes da posse, pode o eleitor quitar seus débitos e
habilitar-se. De qualquer forma, esta norma geralmente não é obedecida, exigindo-se quitação
eleitoral apenas para os atos de admissão no serviço público.
[...]
[...]
Não seria coerente pensar que por um lado haja forte proteção ao salário e,
por outro, se permita a sua retenção por um fato pelo qual se comina multa tão ínfima. Salta
aos olhos a violência e completa incoerência desta disposição, que certamente destoa dos
preceitos constitucionais.
[...]
Cremos que não subsiste mais esta restrição, tanto pelas disposições atuais
da Lei das Licitações, quanto pela falta de previsão constitucional.
Esqueceu a Junta Militar que mesmo o eleitor não votante, embora esteja
em débito com as obrigações relacionadas à sua participação política, pode estar em dia com
suas obrigações tributárias. O cidadão não votante, que cumprisse fielmente com suas
obrigações fiscais, estaria impedido de ter acesso a um serviço pelo qual contribuíra
normalmente. Não se pode considerar tal padrão de justiça como razoável.
Mais uma vez o legislador pecou pela disjunção entre a sanção e a sua
causa. Se o cidadão estiver em débito com o fisco de qualquer dos poderes, será um cidadão
não merecedor de receber empréstimos púbicos, porque se mostrou não confiável como
pagador. Se o cidadão não cumprir uma obrigação eleitoral, é justo que a constituição restrinja
seus direitos políticos passivos, pois se mostrou faltoso com suas obrigações eleitorais. Mas
uma conseqüência que não guarda relação com a sua causa é desproporcional e irracional,
devendo ser afastada do ordenamento.
21 Ampla gama de controle é exercida pelos entes políticos em todos os níveis formais
de educação, conforme se depreende da leitura da Lei 9.394/1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional.
§ 1º Sem a prova de que votou na última eleição, pagou a
respectiva multa ou de que se justificou devidamente, não poderá
o eleitor:
[...]
VII – praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do
serviço militar ou imposto de renda.
[...]
29 BUZANELLO, 2009.
30 GOMES, 2008, p. 38
Motivos de índole religiosa também podem ser alegados. Um exemplo
prático pode ser encontrado na Suprema Corte brasileira, que no ano de 1986 tangenciou o
tema. Tratava-se de pedido de provimento cautelar em representação de inconstitucionalidade
do art. 144 do Código Eleitoral quanto ao horário de votação (das 8 às 17 horas) formulado
por pessoa de crença protestante adventista. Afirmava-se que a data das eleições gerais
daquele ano (15 de novembro, sábado) feriria a liberdade de crença dos adventistas sabatistas,
e pretendia-se a extençãoextensão do horário para além do pôr-do-sol. Evocava-se o § 5 do
Art. 153 da Constituição então em vigor, que garantia a liberdade de crença religiosa, e o § 6
do mesmo artigo, que vedava a privação de direitos por motivo de crença religiosa salvo se os
invocasse para eximir-se de obrigação legal a todos imposta.
Conclusões
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios - da definição à aplicação dos princípios jurídicos.
São Paulo: Malheiros, 2009.
GIBBON, Edward. Declínio e queda do império romano. Edição abreviada. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
GOMES, José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
LEONI, Bruno. Freedom and the Law. New Jersey: D.Van Nostrand, 1961. Disponível em
http://files.libertyfund.org/files/1056/0576_Bk.pdf
MIRANDA, Pontes. Comentários à Constituição de 1967. 2 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1970. 2 vol. p, 555
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. Ed. Malheiros: São
Paulo, 2007.
THE ELECTORAL COMISSION. RESEARCH REPORT. Compulsory voting around the
world. United Kingdom. 2006, Disponível em
http://www.argentinaelections.com/Compulsory%20voting%20around%20the
%20world_UK%20Commission.pdf. Acesso em 23 de abril de 2009. Tradução livre.