Celênia Pereira Santos, Iêda Nunes dos Reis, José Eduardo Borges Moreira e Lilian Borges Brasileiro
Diferentes propriedades químicas e físico-mecânicas do papel permitem suas inúmeras aplicações e o tornam um dos
materiais mais importantes e versáteis em nosso dia-a-dia. Os fatores que determinam essas propriedades estão relacionados,
principalmente, à matéria-prima, aos reagentes químicos e aos processos mecânicos empregados em sua produção. Neste
artigo são discutidos muitos desses aspectos, bem como um pouco da história da fabricação do papel e os aspectos
ambientais relacionados com a sua produção industrial.
O
papel é um dos materiais mais dos papéis estão relacionados, princi- se sabe ao certo o período exato em
importantes e versáteis que palmente, à matéria-prima, aos reagen- que ele passou a ser empregado com 3
conhecemos e é difícil ima- tes químicos e aos processos mecâ- essa finalidade, mas acredita-se que
ginar como seria o nosso dia-a-dia sem nicos empregados em sua produção. os mais antigos datem de 3.500 anos
ele. Suas propriedades químicas e físi- Muitos desses aspectos são discutidos atrás. O papiro foi amplamente utiliza-
co-mecânicas permitem inúmeras apli- neste artigo, além de um pouco da his- do na Antigüidade por egípcios, fení-
cações. Assim, papéis que serão usa- tória da fabricação do papel e os as- cios e gregos e, também, por povos
dos para escrita e impressão, como os pectos ambientais relacionados com a da Europa durante a Idade Média. En-
usados em cadernos e livros, devem sua produção industrial. tretanto, o seu escasseamento, as-
ser bem lisos e opacos; aqueles usa- sociado à impossibilidade de importa-
dos na produção de jornais não preci- Contando história ção em função das guerras, levou à
sam ter grande durabilidade com rela- Desde os tempos mais remotos, o procura de novos materiais para a es-
ção à brancura (na verdade amarelam- homem utilizou diferentes materiais crita. Um dos principais substitutos, o
se facilmente), mas para registrar sua his- pergaminho, já era conhecido e foi o
devem resistir à tra- A utilização do papel tória. Os primeiros su- material mais amplamente empregado
ção a que são sub- como suporte para a escrita portes empregados fo- durante os séculos IV a XVI.
metidos nas máqui- ocorreu inicialmente na ram as cascas e folhas A utilização do papel como suporte
nas de impressão. Já China, no ano 105 d.C. Os de algumas plantas, para a escrita ocorreu inicialmente na
os papéis sanitários chineses mantiveram por rochas e argila, além China, no ano 105 d.C. Os chineses
(guardanapos, pa- muitos séculos o segredo de peles e ossos de mantiveram por muitos séculos o se-
péis toalha e higiêni- de sua fabricação, e a animais. Placas de ma- gredo de sua fabricação. A expansão
cos e os usados em expansão do papel para o deira, recobertas ou para o Ocidente começou em 751,
fraldas descartáveis e Ocidente começou apenas não por uma fina ca- quando prisioneiros chineses introdu-
absorventes) devem no ano de 751 mada de cera, e pla- ziram, na Ásia Central, a indústria do
ser macios. Por outro cas de metais como o papel. Daí em diante, o uso do papel
lado, os papéis usados em embala- bronze e o chumbo também foram foi cada vez mais disseminado e sur-
gens (caixas e sacos) devem apresen- utilizadas para os mais variados fins. giram fábricas em cidades como Bag-
tar boa resistência, pois não podem Dos produtos vegetais empregados dá e Damasco. Na Europa, a primeira
romper-se com facilidade. Os fatores para a escrita, o papiro foi o que alcan- fábrica de papel surgiu na Espanha em
que determinam essas propriedades çou maior importância histórica. Não 1144 e, ao final do século XVI, o papel
já era manufaturado em todo o conti-
A seção “Química e sociedade” apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relações entre ciência e sociedade, nente europeu.
procurando analisar o potencial e as limitações da ciência na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais. A fabricação do papel era, até fins
Figura 2: Estrutura proposta para lignina de madeira moída do Eucalyptus grandis (Piló-Veloso et al., 1993).
isso, são chamados de polpações de turas. Os produtos químicos utilizados coloração é devida, principalmente, a
alto rendimento. reagem com a lignina, fragmentando-a pequenas quantidades de lignina que
O processo químico de polpação em substâncias de baixa massa molar não foram removidas das fibras, cha-
mais utilizado no Brasil é o processo que se solubilizam na solução alcalina mada agora de lignina residual.
kraft. Na polpação kraft, os cavacos de e que podem ser removidas das fibras Com o objetivo de obter polpas
madeira são submetidos à reação com por inúmeras etapas de lavagem. totalmente brancas, é necessário re-
uma solução contendo hidróxido de só- A polpa ou pasta celulósica resul- mover essa lignina, através de um pro-
dio (NaOH) e sulfeto de sódio (Na2S): o tante da polpação (polpa marrom) ain- cesso químico de branqueamento.
“licor branco”. Isso ocorre dentro de um da não é adequada para a produção Esse procedimento é muito difícil, já
equipamento chamado de digestor, de determinados tipos de papel, exata- que a lignina residual encontra-se
mantido a altas pressões e tempera- mente pela sua coloração escura. Essa fortemente ligada às fibras. Por isso, o
Abstract: Paper: How Is It made? Paper is one of the most important and versatile materials known to us and it is difficult to imagine our day by day without it. Its chemical and physico-mechanical
properties allow countless applications. Thus, papers that will be used for writing and printing, as well as those used in notebooks and books, should be very smooth and opaque; those used in the
production of newspapers do not need to retain their whiteness for long (in fact they easily become yellowish), but should withstand the traction to which they are submitted in the printing machines. Yet
sanitary papers (napkins, towel and toilete paper, and those used in diapers and sanitary pads) should be soft. On the other hand, wrapping paper (boxes and bags) should have a good resistance, since
it should not rupture easily. The factors that determine paper properties are related mainly to the raw material, chemicals and mechanical processes used in their production. Many of these aspects are
discussed in this paper, besides some of the history of paper making and the environmental aspects related to its industrial production.
Nota
Assessores QNEsc - 2001
Gostaríamos de agradecer aos assessores que colaboraram, ao longo de 2001, emitindo pareceres sobre os artigos recebidos para publicação em Química Nova na Escola.
Adhemar C. Ruvolo Filho Éder Tadeu G. Cavalheiro João Augusto de M. Gouvéia-Matos Rejane M. N. Barbosa
Aécio P. Chagas Eduardo F. Mortimer José Cláudio Del Pino Renato José de Oliveira
Alice R. C. Lopes Elizabeth Macedo Júlio C. F. Lisboa Roberto R. da Silva
Andréa H. Machado Evandro A. Nascimento Lenir B. Zanon Romeu C. Rocha Filho
Antonio A. Mozeto Flávia M. T. Santos Marcelo Giordan Roseli P. Schnetzler
Arnaldo A. Cardoso Gerson Mól Marco-Aurelio De Paoli Wilson de F. Jardim
Attico I. Chassot Inês S. Resck Maria Inês Rosa
Carol H. Collins Joana Mara Santos Otávio A. Maldaner