Arede 024

Apresenta
A Rede
Novela de:
Evana Ribeiro
CAPÍTULO 24
TV DESTINO . A REDE . CAPITULO 24 2
CENA 01 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – NOITE

Continuação imediata da cena final do capítulo anterior. Walter
segura as mãos de Felícia entre as suas. Ela mantém o sorriso.
FELÍCIA – Então este é o famoso Walter...
WALTER – Famoso?
FELÍCIA – Teresa me falou muito de você.
TERESA – Juro que falei bem!
WALTER – Pois também andaram me falando de você... Meu irmão

disse que você escreve muito bem.
FELÍCIA (encabulada) – É... Eu sou jornalista, mas não acho que

escrevo tão bem assim.
TERESA – Ô, menina modesta! Bom, eu vou ali falar com o resto da

turma, dar atenção pro pessoal... Continuem conversando aí.
Teresa se afasta. Walter solta as mãos de Felícia e eles sentam

no sofá.
WALTER – Você trabalhava lá em Nova York?
FELÍCIA – Não, eu tava fazendo meu mestrado. Ia ficar por lá mesmo

se não fosse aquele incidente terrível...
WALTER – Imagino o quanto deve ter sido horrível pra vocês.

FELÍCIA – Eu achei que fosse morrer, aquele doido atirou em mim.

Ainda bem que foi no ombro. (pausa) Mas eu nem gosto de falar
sobre isso.
WALTER – Tudo bem, vamos mudar de assunto.
FELÍCIA – Você é professor da minha irmã, a Catarina, né?
WALTER – É, eu dou aulas de Lingüística...
FELÍCIA – Então trabalhou com minha tia, não é?
WALTER – Ah, sim... Eu trabalhei com a...
Helena chega por trás de Walter e o abraça.
HELENA – Ela até parece um pouco com a Judith, não é mesmo,

Walter?
WALTER (desconcertado, se livra do abraço de Helena) – Não muito.
HELENA – Pois eu acho igualzinha. Só faltou seguir a carreira das

letras.
FELÍCIA – Pois é... Mas o jornalismo sempre foi minha grande paixão!
Influência materna, sabe?
WALTER – Podia juntar as duas coisas, não?
FELÍCIA – Só se fosse com Literatura, porque de Lingüística eu não

entendo paçocas!
Eles continuam conversando, fora de áudio. Em outro canto da

festa, Jéssica e Júnior dançam com Maria e Olga, já bem entrosados.
Teresa e Amanda assistem.
TERESA – Eu tava tão preocupada com essas meninas... Achei que

elas iam ter problemas pra se adaptar, mas olha só!
AMANDA – É que criança se adapta bem em qualquer lugar, é fato!

(pausa) Sabe que, vendo elas assim, dançando, eu lembro da
Anuska?
TERESA – Quem?
AMANDA – Anuska, ex-noiva do Jorge.
TERESA – Quer dizer que vocês se conhecem.
AMANDA – Ela tá trabalhando lá no colégio, dando aulas de dança.

Ela é bem legal, sabe?
TERESA – E eles são amigos?
AMANDA – Eles quem?
TERESA – Seu noivo e a ex.
AMANDA – Amigos... Nem em pensamento! Jorge odeia ela com

todas as forças.
TERESA – Nossa, e como é?

AMANDA – É que não dá pra convidar os dois pra mesma festa. Já

fizeram o teste, não prestou. E eu francamente não entendo essa
raiva toda, eles já tão separados há um tempo, ele tá comigo e
continua alimentando odinho!
TERESA – Cada um com seus problemas, né?
AMANDA – Já pensei até em acabar o noivado por causa dessa

frescura.
TERESA – Briga tão feia assim?
AMANDA – Não queira nem ver!
Elas continuam assistindo as crianças dançando e brincando.
CORTA PARA
CENA 02 – AP. DE CATARINA/VARANDA – INT – NOITE

Sonoplastia: Velha página [versão instrumental].
Alexandre e Catarina estão sozinhos na varanda, olhando o
movimento.
ALEXANDRE – Sua irmã é bem parecida com você, eu acho...
CATARINA – Todo mundo diz isso. (pausa) E como você tá se

sentindo?
ALEXANDRE – Melhor. Ficar perto dos amigos e ver gente nova tem
me ajudado.
CATARINA – Que bom!

ALEXANDRE – Eu só preciso ficar perto dos meus amigos pra me

sentir melhor.
CATARINA – Você sabe que pode contar com a gente sempre.

(pausa) E mesmo que todo mundo te deixe, vou ser sua amiga pra
sempre.
Alexandre e Catarina se abraçam fortemente. Ficam assim por

um tempo.
ALEXANDRE – Já te disseram que teu abraço é o melhor do mundo?
CATARINA – Não... Nunca.
Eles continuam abraçados.
CORTA PARA
CENA 03
Tomada da casa de Ian.
CORTA PARA
CENA 04 – CASA DE IAN/SALA – INT – NOITE

Joséphine lê uma revista de fofocas, enquanto Elissa vê
televisão com Ian.
IAN – Seu namorado está indo muito bem no trabalho, sabia?
ELISSA – É? Que bom!

IAN – Você devia aproveitar a deixa e ir trabalhar também, Elissa.
ELISSA – Ih, pai, nem dá.
IAN – Não te entendo, menina. Você pode trabalhar e não quer!
JOSÉPHINE – Deixa a menina, Ian! Cada um tem seu tempo e ela vai
trabalhar quando quiser.
IAN – Eu queria tanto que você fosse como a Felícia! Uma menina
batalhadora, que usa a inteligência, não tem medo de trabalho...
ELISSA – Tá me chamando de burra, pai?
IAN – Não distorce as minhas palavras! O que eu quero dizer é que

você devia aproveitar tudo o que você tem e crescer, mas não! Fica
aí, pensando em coisas inúteis! Se você fosse um pouquinho mais
centrada como a Felícia...
ELISSA (gritando) – Ai, pai, pára! Pára de falar nessa garota! Se eu

ouvir de novo o nome Felícia na minha frente eu juro que vou ter um
treco!
IAN – Eu só tô tentando te dar um bom exemplo.
ELISSA – E daí? Eu não quero saber de bons exemplos.
Elissa sai correndo.
JOSÉPHINE – Você ainda não aprendeu a lidar com Elissinha, não é?
IAN – E a culpa é sua!

JOSÉPHINE – Minha por quê?
IAN – Quem foi que estragou essa menina? Quem foi que enfiou um
monte de futilidades na cabeça dela? Quem foi?
JOSÉPHINE – Ian, meu querido... Existem milhares de mocinhas

exatamente iguais a Elissa no mundo todo. E não fui eu quem
estragou todas elas!
Joséphine sai. Ian fica sozinho, pensativo.
CORTA PARA
CENA 05 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – NOITE

A festa continua. Helena se aproxima de Geysa.
HELENA – O que foi? Tá tão quietinha...
GEYSA – Nada, só tava olhando você. Nem disfarça, né?
HELENA – Disfarçar o quê?
GEYSA – Tá dando em cima descaradamente do Walter, e ele nem

tchum pra você. Tem um pouco de amor próprio, vai.
HELENA – Você não entende nada mesmo, não é? Eu tô captando

informações. Consegui em cinco minutos tudo o que eu queria que
você conseguisse e levou semanas pra fazer.
GEYSA – Acontece que eu sou sutil, não sou descarada como você.
HELENA – Olha o respeito, criatura!
GEYSA – Respeito... Olha quem vem falar de respeito! Não respeita

nem os alunos, nem você mesma. Ou vai dizer agora que ficar
fazendo videozinho pornô é prova de respeito próprio?
HELENA – O que eu faço da minha vida, até onde eu sei, é problema

meu.
GEYSA – Tá bom, faça o que quiser, como quiser. (pausa) Contanto

que não esqueça do que me prometeu...
Helena olha feio para Geysa.

Corta para outro canto da sala, perto da entrada. Walter e
Felícia continuam conversando, animados.
WALTER – Quando eu comecei a carreira eu costumava discutir muito

com a sua tia... Ela sempre foi uma grande colega, me ensinou
muito. Nós dois compartilhamos o mesmo gosto por semântica e
pragmática...
FELÍCIA – Pois pra mim tudo isso aí que você tá falando é grego!
Eles riem.
WALTER – Mas não é tão difícil assim...
FELÍCIA – Claro que é! Você tá falando isso porque tá acostumado, é

especialista e tudo mais... Essas coisas de significante, significado,
objeto referencial...
WALTER – Um dos meus projetos é escrever um livro que apresenta

todos esses conceitos de uma forma bem simples... Mas até que pra
uma leiga a senhorita anda sabendo muito, não?
FELÍCIA – Ah, lembrei de outra! Tem um tal de acarretamento e

pressuposição... Não sei direito o que é, mas existe.
Júnior se aproxima correndo e interrompe a conversa.
JÚNIOR – Pai, me empresta o seu celular? É que eu queria mostrar os

joguinhos dele pra Olga e pra Maria, deixa?
WALTER (tira o aparelho do bolso e dá a Júnior) – Tá bom. Mas

cuidado pra não gastar a bateria, hein?
JÚNIOR – Tá bom.
Júnior se junta às meninas e eles começam a jogar nos

celulares. Walter e Felícia continuam conversando, fora de áudio.
No meio do jogo, Teresa se aproxima e pega o aparelho.
TERESA – Desculpa aí, meu anjinho, mas eu pedi o celular

emprestado, vou fazer uma ligaçãozinha só, tá bom?
JÚNIOR – Tá bom, tia...
Teresa vai com o aparelho até a varanda. Quando está

discando, o telefone começa a tocar. É Beth.
TERESA – Alô?
BETH (off) – Teresa, cadê o Walter?
TERESA – Tá aqui, curtindo a festa, comendo e bebendo com as

crianças.
BETH – Mesmo?
TERESA – Ô Beth, tu acha que eu ia mentir?
BETH – Acho. Olha, garota, se você estiver pensando em jogar o meu

marido pra cima de alguma vadia...
TERESA – Qual é... Walter já tem mais de quarenta anos, paga as

próprias contas, tem pleno domínio de suas faculdades mentais...
Wer bin ich? Quem sou eu pra empurrar ele pra cima de alguma
mulher?
BETH – É bom mesmo. (pausa) Não ouse jogar meu marido pra cima
de mulher nenhuma! Não ouse!
Beth desliga o telefone, raivosa.
TERESA – Ai, que medinho... Tô tremendo, tem que ver!
O celular toca de novo.
TERESA – Oie...
BETH – Chama o Walter aí.
Teresa olha para dentro da casa e não vê Walter.

TERESA – Olha, ele não tá aqui agora, deve ter ido ao banheiro. Peço
pra ele te ligar depois, tá bom? Não morra, ciumentinha!
Teresa desliga.
TERESA – Tá bom, dona Beth... Já tô indo estragar a noite deles. Já

tô indo! (pausa) Pra quem que eu ia ligar mesmo? Ah, lembrei.
Teresa começa a discar.

Dentro da casa, Walter e Felícia continuam conversando
animadamente. Helena fica olhando para eles, com raiva. Danilo se
aproxima, por trás dela, e dá-lhe um beijo no pescoço. Ela reage
dando um tapa no rosto dele. Walter vê.
WALTER – O que foi isso?
HELENA – Isso o quê?
WALTER – Você acabou de dar um tapa no meu irmão.
DANILO – Isso tudo porque...
HELENA – Foi um ato reflexo. Me desculpe... Como é seu nome

mesmo?
DANILO – Qual é, pô? Tua memória é seletiva agora?
Walter fica olhando os dois sem entender nada.
HELENA – Como é o seu nome mesmo, meu querido?
DANILO (bravo) – Danilo.

Danilo se afasta, irritado. Quando Walter não está mais

prestando atenção, Helena vai atrás dele.
CORTA PARA
CENA 06 – AP. DE CATARINA/CORREDOR – INT – NOITE

Helena segura o braço de Danilo.
HELENA – Calminha aí, meu bem!
DANILO – Que teatrinho é esse? Deu pra me desconhecer agora?
HELENA – No sentido bíblico da coisa eu não poderia desconhecê-lo

nunca! Mas por que tá tão magoadinho agora, hein?
DANILO – Se não queria um revival, pelo menos me tratasse

direitinho, né não? Ou você é do tipo que só usa e joga fora?
HELENA – Uso e guardo. Guardo bem guardadinho... Os princípios de

reciclagem de lixo cabem em tantos contextos... Sabia disso?
Danilo olha para Helena, com raiva.
HELENA – E eu não quero me livrar de você, de jeito nenhum... Pelo

menos enquanto for útil pro que eu quero. (pausa) E o que eu quero
é o seu irmão! Você já deixou escapar pra mim que tinha um certo
potencial destrutivo e eu quero usá-lo bem.
DANILO – Eu não quero e não vou fazer isso, tá legal? Eu não tenho
mais nada a ver com a história do meu irmão com a Beth, eles estão
bem e eu não vou arrasar com a vida deles, nem com a dos meus
sobrinhos por um capricho seu.
HELENA – Mas não é capricho, é amor!
DANILO – Não me importa! O casamento deles é sólido e...
HELENA – Peraí, você disse sólido? (pausa) Eu não teria tanta

certeza.
Mostra, em segundo plano, Felícia e Walter muito próximos,

ainda conversando.
DANILO – E o que tem a Felícia a ver com isso?
HELENA – Teoricamente, nada. Mas eles estão tão juntinhos ali que...
Quem sabe? Imagine se eles começam a ter um caso. Vi você
investindo pra cima dela. Se eles começassem a ficar, você ia odiar,
não?
DANILO – Isso não é...
HELENA – Criança, criança... Olha, se você não quer me ajudar por

bem, eu tenho outros métodos que alguns podem julgar condenáveis.
(pausa) Eu tenho um vídeo daquela nossa noite juntos sabe? Filmei
de propósito, para o caso de você resolver dar pra trás e não querer
me ajudar nisso.
DANILO – Quer dizer que você tá me ameaçando com um vídeo

erótico que foi feito sem meu conhecimento nem consentimento?
(pausa) Perpicaz. Esperta! Mas esqueceu só de um detalhezinho...
Quando vaza um filminho amador de sexo explícito na net, quem
sempre se ferra é a mulher. Agora dá licença que eu vou voltar pra

festa.
Danilo sai. Logo depois, Geysa sai do quarto de Catarina.
GEYSA – Que coisa feia, professora! Ameaçando pessoas por aí...
HELENA – E você, o que tá fazendo escondida aí?
GEYSA – Eu não tava escondida, tava só descansando um pouco. Não

tenho culpa se você vem lavar roupa suja onde eu tô. Mas tenho que
te dizer, tua estratégia de coação é ridícula mesmo. (pausa) E não foi
você mesma que não queria que esse negócio vazasse?
HELENA – Vai ficar com teus amiguinhos e não irrita!
Helena sai, furiosa. Geysa sai logo depois dela.
CORTA PARA
CENA 07
Tomada de Recife à noite.
CORTA PARA
CENA 08 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – NOITE

A família acaba de chegar a casa. Todos muito animados e
cansados.
MIRANDA – E aí, irmãzinha, como se sente agora que é oficialmente

uma mulher formada?
MINERVA – Tô cansada. Essa resposta serve?
EMÍLIO – A senhorita devia dormir, isso sim.
MINERVA – É... É isso que eu vou fazer.
MICHELLE – Eu também vou nessa. Boa noite pra vocês!
As garotas sobem, com Amélia. Emílio e Mick ficam sozinhos.
EMÍLIO – E você, Mick?
MICK – Tava pensando em dar uma ligada pra Elissa, mas tá muito
tarde. Vou dormir também.
EMÍLIO – Então vamos nessa.
Eles também saem.
CORTA PARA
CENA 09
Tomada do prédio de Walter.
CORTA PARA
CENA 10 – AP. DE WALTER/SALA – INT – NOITE

Walter e as crianças chegam em casa, conversando.
JÉSSICA – A gente devia ter mais festas dessas...
WALTER – Falem com a sua tia, festa é com ela mesma!

JÚNIOR – E aquela moça, pai?
WALTER – Qual?
JÚNIOR – Aquela com quem você passou a noite toda conversando.
BETH – Moça?
JÉSSICA – Oi, mãe! Achei que você já tivesse ido dormir.
BETH – Meninos, vão tomar banho e já pra cama, vão... Preciso

conversar com o pai de vocês.
JÉSSICA – Tá, boa noite pra vocês...
Jéssica e Júnior saem.
BETH – Quer dizer que aproveitou a minha ausência pra ficar de

papinho com uma moça, né?
WALTER – E qual o problema?
BETH – O problema é que eu não gosto disso.
WALTER – Lá vem você com essa ciumeira... Eu estava conversando

com a sobrinha da professora Judith, aquela que eu te falei que
entrou de licença, lembra? O nome dela é Felícia, ela é irmã da
Catarina, minha aluna e...
BETH – Eu não quero saber de quem ela é parente ou deixa de ser. A

única coisa que eu quero saber é se por acaso vocês... Ela é bonita?
É mais bonita que eu? É jovem?
WALTER – Beth, de que adianta você saber isso?
BETH – Quero saber se você se interessaria por ela.
WALTER – Ah, meu Deus... De novo? O que foi que eu fiz pra você
desconfiar tanto?
BETH – Nada, mas... Quem sabe?
WALTER – Eu não quero ficar discutindo isso com você... Esses teus
ataques de ciúme já estão ficando repetitivos, sabia?
BETH – É que...
WALTER – Isso cansa, Beth. Cansa demais. A última coisa que eu

esperava era chegar em casa e ficar ouvindo cobrança tua de coisa
que não existe. Já disse mais de mil vezes que nunca tive amante
nenhuma, nunca dei trela nem pra Helena... Não tem sentido isso
que você tá fazendo comigo!
BETH (começa a chorar) – Tá! Me desculpa! Eu não queria te

chatear...
WALTER – Já desculpei um monte de vezes, vou desculpar de novo.

Mas você precisa mudar isso, porque pode chegar um dia que eu
canse de desculpar. Vamos dormir, tá?
Walter sai. Beth vai atrás dele.

CORTA PARA
CENA 11
Imagens alternadas de Recife e Nova York. Efeito de transição
noite-dia. Letreiro: ‘dois dias depois...’
CORTA PARA
CENA 12 – NY/SANATÓRIO/JARDIM – EXT – DIA

Lady Kelly está sentada em um banquinho, distante dos outros
internos. Tem uma boneca-bebê nos braços.
LADY KELLY – Minha filha, finalmente estamos juntinhas! Vamos ser

muito felizes juntas bem longe do seu pai e da sua madrasta,
prometo...
De repente ela pára de falar e fica olhando para um lugar

qualquer. Fica paralisada por alguns instantes. Uma enfermeira se
aproxima.
ENFERMEIRA – Msr. Jerret? (pausa) Msr. Jerret...
LADY KELLY – What?
ENFERMEIRA – Are you ok? [Está bem?]
LADY KELLY – What am I doing here? Who are you? [O que estou
fazendo aqui? Quem é você?]
ENFERMEIRA – You are sick, need some rest and...

LADY KELLY (grita) – I’m not sick! I want to leave this place now!
[Não estou doente! Quero sair daqui agora!]
Lady Kelly joga a boneca de lado e sai, empurrando a

enfermeira, que cai no chão.
CORTA PARA
CENA 13 – NY/SANATÓRIO/QUARTO DE LADY KELLY – INT –

DIA
Lady Kelly entra batendo a porta.
LADY KELLY – Meu Deus, que dia é hoje e que raio de lugar é esse?
(pausa, fica olhando) Parece um inferno branco!
Lady Kelly vai até a janela e fica olhando a rua. Close nela.
Insert na cena 06 do capítulo 17:
JULIA (segurando Irina) – Não, a senhora precisa ir ao hospital, pode

ter se machucado.
LADY KELLY (com raiva e sem soltar Irina) – Já disse que não, eu me
sinto perfeitamente bem!
Lady Kelly tenta sair, mas Julia a impede segurando Irina. Ela
fica trêmula, mas começa a puxar a menina para seu lado. As duas
falam alto e ao mesmo tempo, não dando para distinguir exatamente
o que é dito por elas. Depois, finalmente Julia consegue pegar Irina
para si. O bebê chora muito.
JULIA (se afasta um pouco) – A senhora não está bem! Vou ligar
para...
LADY KELLY (histérica) – Não! Devolva a minha filha, a minha filha, a

minha filha!
Volta à realidade. Lady Kelly sai da janela, com um ar furioso

no rosto.
LADY KELLY – O meu plano foi estragado! Eu preciso sair daqui...E a

primeira coisa que vou fazer é ir atrás daquela maluca que estragou o
meu plano. (pausa) Ninguém, ninguém atrapalha o caminho de Lady
Kelly e sai impune.
CORTA PARA
CENA 14
Tomada de Recife.
CORTA PARA
CENA 15 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – DIA

Felícia está sentada no sofá, com as pernas para cima e o
laptop no colo. Lê um e-mail. Teresa entra, vinda do quarto.
TERESA – Bom dia, senhora! Acordou com a galinha da vizinha?
Felícia ri.
TERESA – Cedo e de bom humor! Sonhou com o Will Smith ou o quê?
FELÍCIA – Nada não... Pode não ter parecido, mas eu gosto de

acordar cedo. Aí eu dou uma lida nos jornais, uma checada nos e-
mails... Aliás, seu irmão, o Walter, me mandou um.
TERESA – Já tão íntimos assim, de trocar e-mail e tudo?
FELÍCIA – Assim, íntimos não. Mas o papo de ontem foi legal... Ele
me falou da tese de pós-doutorado dele, achei super bacana. Aí pedi
que ele me mandasse e tá aqui!
TERESA – Então tá... E agora que você conheceu o meu outro irmão
pessoalmente, que achou?
FELÍCIA – Ah, como eu tava te dizendo, o Walter é legal, nossa

conversa foi...
TERESA – Tô falando do Danilo.
FELÍCIA – Entrão. Assim, legal, mas entrão. Acredita que ele tentou
me beijar?
TERESA – Isso é o Danilo Tavares’ Lifestyle. Mas já que você falou no

Walter, me diz: ele e a Helena formam um par massa, né não?
FELÍCIA – Em que sentido?
TERESA – Em todos! Olha só: eles são colegas de trabalho, têm

interesses parecidos e a melhor parte... A Helena é doida pelo meu
irmão desde quando ele era solteiro! Meu sonho de consumo era que
a Helena fosse minha cunhada.
FELÍCIA – E o que ele pensa disso?

TERESA – Ele não pensa, fica dando uma de ceguinho... Mas quem
sabe um dia, né? Ele acorda pra vida, vê a qualidade da mulher que
tá dando mole pra ele e larga a doida da Beth!
FELÍCIA – Mas... Pô, Tetê. Se ele tá feliz com a esposa...
TERESA – Eu conheço bem a figura, Feli. Não dá pra ser feliz

acorrentado como a Beth acorrenta o meu irmão! Ela tem ciúme até
de mim!
Felícia começa a ler a tese de Walter.
CORTA PARA
CENA 16
Tomada do Bairro do Recife.
CORTA PARA
CENA 17 – FOLHA DE PERNAMBUCO – INT – DIA

Mick entra e é logo abordado por Elissa, que o beija.
ELISSA – Bom dia!
MICK – Oi... Bom dia. Que surpresa!
ELISSA – Nem me ligou ontem... Como foi a formatura?
MICK – Foi como é toda solenidade. Um porre! (risos) Se não fosse a

formatura da minha irmã, eu tinha ido direto era pra festa na casa da
Felícia.
ELISSA – Na casa dela, é?
MICK – É, foi idéia de uma amiga e...
ELISSA – Já estão tão amiguinhos que até convite pra festinha tá

recebendo? Nossa, que meigo!
MICK – Não tô entendendo essa raiva toda.
ELISSA – É que eu não tô podendo ouvir o nome dessa criatura. Já

basta meu pai... Agora você também!
MICK – Tá bom, não falo mais.
Felícia entra.
FELÍCIA – Bom dia, Mick!
MICK – Bom dia!
ELISSA – E essa, quem é?
MICK – Se eu disser o nome dela, você jura que não me bate?
ELISSA – Então aquela é a famosa Felícia?
MICK – É.
ELISSA – Casada ou solteira?
MICK – Não sei, não perguntei.

ELISSA – Seja como for, que não seja abusada. Tenha um bom dia.
Elissa beija Mick e sai. Ele fala com mais algumas pessoas e vai
entrando no prédio.
CORTA PARA
CENA 18 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MINERVA – INT –

DIA
Minerva está arrumando sua cama. Miranda entra.
MIRANDA – E aí, senhorita? Vai fazer o que hoje?
MINERVA – Vou me reunir com a turma que tá me ajudando a manter

o site, a gente precisa ainda arrumar umas coisas aí. E a senhorita
devia estar na faculdade, não?
MIRANDA – Não espalha, mas... (baixinho) Tô querendo largar.
MINERVA – Ah, papai vai adorar te ouvir falando isso!
Amélia entra com o telefone sem fio na mão.
AMÉLIA – Minerva, telefone pra você!
MINERVA – Quem é?
AMÉLIA – Vocês não vão acreditar... É Deanna Doge!
MINERVA – Da Bubble?
MIRANDA – (quase gritando) A amante do... (baixinho) A amante do

Gilson?
AMÉLIA – Ela mesma. Quer falar com você, Minerva!
Amélia dá o telefone a Minerva, que o recebe, tremendo.
MINERVA – Alô? (pausa) Sim, sou eu.
Minerva fica falando com Deanna, fora de áudio, sob os olhares

atentos de Amélia e Miranda.
CORTA PARA
CENA 19
Tomada de Recife. Fundir com imagens da cidade de
Canhotinho , sertão pernambucano.
CORTA PARA
CENA 20 – CANHOTINHO/RUA – EXT – DIA

Mostrar o movimento típico da cidade pela manhã. De longe,
vê-se um homem que caminha carregando uma mala, aparentemente
muito pesada. A câmera aproxima-se mais deste homem, até revelar
que é Ed, agora com os cabelos bem curtos e usando lentes de
contato escuras. Ele coloca a mala no chão, olha em volta.
ED – Não está nada mal para um novo lar.
Sério, ele respira fundo, torna a pegar a mala e segue adiante.
FIM DO CAPITULO 24

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Apresenta

CENA 01 – AP. DE CATARINA/SALA – INT – NOITE

FELÍCIA – Então este é o famoso Walter...

FELÍCIA – Teresa me falou muito de você.

TERESA – Juro que falei bem!

WALTER – Pois também andaram me falando de você... Meu irmão

FELÍCIA (encabulada) – É... Eu sou jornalista, mas não acho que

TERESA – Ô, menina modesta! Bom, eu vou ali falar com o resto da

Teresa se afasta. Walter solta as mãos de Felícia e eles sentam

WALTER – Você trabalhava lá em Nova York?

FELÍCIA – Não, eu tava fazendo meu mestrado. Ia ficar por lá mesmo

WALTER – Imagino o quanto deve ter sido horrível pra vocês.

FELÍCIA – Eu achei que fosse morrer, aquele doido atirou em mim.

WALTER – Tudo bem, vamos mudar de assunto.

FELÍCIA – Você é professor da minha irmã, a Catarina, né?

WALTER – É, eu dou aulas de Lingüística...

FELÍCIA – Então trabalhou com minha tia, não é?

WALTER – Ah, sim... Eu trabalhei com a...

Helena chega por trás de Walter e o abraça.

HELENA – Ela até parece um pouco com a Judith, não é mesmo,

WALTER (desconcertado, se livra do abraço de Helena) – Não muito.

HELENA – Pois eu acho igualzinha. Só faltou seguir a carreira das

WALTER – Podia juntar as duas coisas, não?

FELÍCIA – Só se fosse com Literatura, porque de Lingüística eu não

Eles continuam conversando, fora de áudio. Em outro canto da

TERESA – Eu tava tão preocupada com essas meninas... Achei que

AMANDA – É que criança se adapta bem em qualquer lugar, é fato!

AMANDA – Anuska, ex-noiva do Jorge.

TERESA – Quer dizer que vocês se conhecem.

AMANDA – Ela tá trabalhando lá no colégio, dando aulas de dança.

TERESA – E eles são amigos?

AMANDA – Eles quem?

TERESA – Seu noivo e a ex.

AMANDA – Amigos... Nem em pensamento! Jorge odeia ela com

TERESA – Nossa, e como é?

AMANDA – É que não dá pra convidar os dois pra mesma festa. Já

TERESA – Cada um com seus problemas, né?

AMANDA – Já pensei até em acabar o noivado por causa dessa

TERESA – Briga tão feia assim?

AMANDA – Não queira nem ver!

Elas continuam assistindo as crianças dançando e brincando.

CENA 02 – AP. DE CATARINA/VARANDA – INT – NOITE

ALEXANDRE – Sua irmã é bem parecida com você, eu acho...

CATARINA – Todo mundo diz isso. (pausa) E como você tá se

CATARINA – Que bom!

ALEXANDRE – Eu só preciso ficar perto dos meus amigos pra me

CATARINA – Você sabe que pode contar com a gente sempre.

Alexandre e Catarina se abraçam fortemente. Ficam assim por

ALEXANDRE – Já te disseram que teu abraço é o melhor do mundo?

CATARINA – Não... Nunca.

Eles continuam abraçados.

CENA 04 – CASA DE IAN/SALA – INT – NOITE

IAN – Seu namorado está indo muito bem no trabalho, sabia?

ELISSA – É? Que bom!

IAN – Você devia aproveitar a deixa e ir trabalhar também, Elissa.

ELISSA – Ih, pai, nem dá.

IAN – Não te entendo, menina. Você pode trabalhar e não quer!

ELISSA – Tá me chamando de burra, pai?

IAN – Não distorce as minhas palavras! O que eu quero dizer é que

ELISSA (gritando) – Ai, pai, pára! Pára de falar nessa garota! Se eu

IAN – Eu só tô tentando te dar um bom exemplo.

ELISSA – E daí? Eu não quero saber de bons exemplos.

Elissa sai correndo.