Solução:
a) Eliminação dos sentimentos de culpabilidade relativos à
sexualidade;
b) Substituição da moralidade compulsiva exterior pela
responsabilidade interior e pessoal.
A relação sexual passageira, seja a relação de uma hora ou de uma noite, difere da relação
duradoura pela ausência generalizada de ternura para com a(o) parceira(o).
Na idade madura, as relações sexuais breves não são forçosamente neuróticas. Aqueles ou
aquelas que nunca tiveram a coragem ou a força de entrar numa relação desse tipo se encontram
sob a pressão de um sentimento de culpabilidade irracional, portanto neurótico.
O maior inconveniente das relações sexuais passageiras reside no fato de não possibilitarem uma
adaptação sensual dos parceiros tão completa como na relação duradoura nem, por
conseqüência, uma plena satisfação sexual. Do ponto de vista da economia sexual é somente
nisso que reside a objeção séria às relações passageiras e o melhor argumento a favor das
relações duradouras.
Uma relação sexual satisfatória entre duas pessoas pressupõe que elas tenham procedido a uma
harmonização dos seus ritmos sexuais próprios, que tenham aprendido a conhecer as suas
necessidades sexuais específicas, raramente conscientes, mas, nem por isso, menos importantes.
Só assim será possível uma vida sexual sã.
Isso cria nos indivíduos uma estrutura caracterial anti-sexual com tendências pré-genitais e
homossexuais que, por sua vez, têm de ser reprimidas, produzindo assim um enfraquecimento da
sexualidade.
Em todas as relações sexuais, mais cedo ou mais tarde, surgem períodos de fraca atração sexual
ou mesmo de ausência total de desejo.
Quanto melhor for o ajustamento dos parceiros na sensualidade e na ternura, menos freqüentes e
irreversíveis serão tais episódios.
A repressão das necessidades sexuais, seja esta repressão de origem externa ou interna, serve,
sobretudo, para exacerbar a sua urgência.
Os estímulos sexuais - que apenas podem ser contrariados “eficazmente” por uma inibição sexual
neurótica - despertam em qualquer pessoa sexualmente saudável o desejo de outras parcerias
sexuais.
Tais desejos podem ser largamente atenuados ou preenchidos pela satisfação na relação
existente. Quanto mais saudável é a pessoa, mais conscientes – isto é, não recalcados – serão
esses desejos e, conseqüentemente, mais fáceis de controlar.
Tal controle é tanto menos nocivo quanto menos for determinado por considerações morais e
mais subordinado a razões de economia sexual.
Nessa altura manifesta-se um estado crítico de irritação contra a outra – irritação que se manifesta
ou é reprimida - pelo fato de “ela (ou ele)” impedir a satisfação, frustrar, os outros desejos sexuais.
Esse ódio inconsciente torna-se tanto mais intenso quanto mais amável e tolerante for a parceira.
Sente-se nela, e mesmo no amor que por ela se tenha, um obstáculo, um peso.
Freqüentemente esse ódio é sobre compensado e camuflado por uma extrema afeição. Essa
afeição reativa nascida do ódio e dos sentimentos de culpa concomitantes são as componentes
específicas de certa forma de ligação “pegajosa” e tenaz, característica freqüente em pessoas,
mesmo não casadas, que não são capazes de separar-se, ainda que efetivamente já não
tenham nada a dar-se, sendo a relação entre elas nada mais que uma tortura recíproca,
prolongada e inútil.
O enfraquecimento do desejo sensual pode não ser definitivo, mas passa facilmente a sê-lo se:
a) Os parceiros são incapazes de tomar consciência da tensão ou do ódio recíproco;
b) Se rejeitam como inconvenientes e imorais os desejos sexuais sentidos por outras pessoas.
Quando tais fatos são abordados com franqueza, sem distorção nem preconceitos moralizantes,
pode-se limitar a extensão do conflito e encontrar para ele uma saída, com a condição de que as
manifestações normais de ciúme não se transformem em reivindicações possessivas e se
reconheça o caráter natural e legítimo do interesse sexual por outros.
Ninguém pensaria em condenar outra pessoa por não querer usar o mesmo vestuário durante
anos, ou por não querer comer todos os dias o mesmo prato. Apenas no domínio sexual a
exclusividade da possessão atingiu uma grande significação afetiva e isto em virtude da
interpenetração das relações sexuais e de interesses econômicos que ao ciúme natural deu as
dimensões de um direito de propriedade.
Uma relação ocasional com outra parceira não favorece senão a relação duradoura que
estava em vias de assumir a forma compulsiva do casamento.
Uma dificuldade pode ter graves conseqüências quando não é bem compreendida. Quando
a atração sexual diminui ou desaparece, podem manifestar-se perturbações da potência orgástica
no homem. Trata-se, na maior parte das vezes, de uma insuficiência de ereção ou mesmo de
ausência de ereção, apesar dos estímulos. Se a ternura subsiste ou se existe um receio de
impotência, tais situações podem originar uma depressão ou mesmo uma impotência prolongada.
Deverá ter-se em conta que essa deficiência de ereção não constitui impotência, mas apenas uma
manifestação de insuficiência de desejo e, em geral, de um desejo por outra mulher.
Se a relação no seu todo é boa, uma discussão franca das causas da perturbação pode sem
dificuldade solucionar o problema. Em todo caso é necessário saber esperar. Cedo ou tarde o
desejo reaparecerá, se a relação é, no seu conjunto, boa.