Anda di halaman 1dari 1

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB IDÉIAS 3

JORNAL DO BRASIL Idéias&Livros 3


SÁBADO, 16 DE DEZEMBRO DE 2006

Entrevista I MANOEL DE BARROS

Per fil: nascido em Cuiabá, Mato


Grosso, em 1916, é um dos
principais poetas brasileiros. É
também advogado e fazendeiro.
Entre suas obras, destacam as
Noventa anos de tardes
e garças no Pantanal
reuniões de poemas O guardador
das águas, O livro das ignorãças,
Retrato do artista quando coisa,
Memórias inventadas e Poemas
r upestres.

Mariana Filgueiras fim não lhe mete medo. Nem a morte: Para celebrar a data, o Jornal do
– Como pegar a voz de um – É preciso fazer parte da natureza Brasil propôs ao poeta que respon-
peixe? Todos os dias, no quintal de casa, em que nem um cisco faz, que nem uma desse a algumas de suas próprias pro-
– Mais difícil do que pegar na meio ao Pantanal, Manoel de Barros cis- ema faz. Depois do cisco e da ema, falta vocações deixadas em forma de poe-
fala dos peixes é o pegar na fa- ma de inventar as tardes a partir de uma pouco. sia. Os versos de seus livros editados
la das coisas. Francis Ponge garça. Ou de um bem-te-vi. Vê um peixe E o que esperar daqui para frente? pela Record foram transformados em
tinha o gosto de pegar na voz e quase lhe pega a voz. Perto de comple- Manoel faz graça: perguntas. Diante do desafio, Manoel
das coisas. É necessário cul- tar 90 anos, nesta terça, o senhor de fala – Quero um DVD do último filme de de Barros riu. Disse não ter tanta ins-
tivar o peixe em casa para se pausada conhece como ninguém as inti- Fassbinder, um CD de Nelson Freire piração assim. Pediu permissão aos
conseguir pegar na voz dele. midades da natureza. Confessa: falta com músicas de Bach e a mais recente sapos, retirou-se do quintal e respon-
Há que domesticar o peixe. muito pouco para tornar-se árvore. O edição da obra de Guimarães Rosa. deu às questões.
Eu, certa vez, criei um peixe
no bolso. Ele pedia pra sair do ARQUIVO

É necessário


bolso e cair n’água. Mas há
que insistir em prendê-lo no cultivar o peixe
bolso. Assim o peixe implora.
E nós podemos agarrar na em casa para se
voz. Não é fácil. Ele soletra as conseguir pegar
águas antes de falar. na voz dele. Há
– Qual lado da noite que domesticar o
umedece primeiro? peixe. Eu, certa
– Certa vez, um garoto falou vez, criei um
que do lado da Bolívia estava
a se formar uma chuva. Seria
peixe no bolso
o lado oeste de onde estáva-
mos. As chuvas sempre se
formavam do lado da Bolívia.
Vi um bem-te-vi


Por isso se falava no galpão
que aquele era o lado mais em cima de uma
úmido da noite. E como nin-
guém contestasse ficou sen- pedra. Ele estava
do. Mas isso terá vindo a ver- fascinado pela
so depois de 30 anos. solidão da pedra.
– O que falta ao poeta para
Estou relendo o
ser árvore? profeta Jeremias,
– Falta se entregar à natureza que teve uma
moda um sapo, moda uma pe- visão: as pedras
dra, moda um rio, moda um
pássaro. É preciso fazer parte da rua choravam
da natureza que nem um cis-
co faz, que nem uma ema faz.
Depois do cisco e da ema falta Nem o ver é fundamental. O – O vôo do jaburu é mais – São as dálias lésbicas? cisei de aprender absurdez.
pouco. ver também é acessório. encorpado do que o vôo das – Quando as dálias se encon- Falo e escrevo fluentemente
Quem manda é a visão. A vi- horas? tram, elas se amam. Todas as em absurdez. Por isso desco-
– O homem que toca a são vem completada de lou- – A hora voa sem asa, por is- flores se amam de flor em bri que o sol tem perfume.
existência num fagote tem curas, fantasias e bobagens so não dá para a gente sa- flor. Isso uma verbena me
salvação? profundas. Foi a visão que ber. Acho que o vôo do jabu- contou. Não posso garantir – Ainda dá tempo de inventar
– Acho que o verso fala da sal- achou jacintos crescendo em ru é mais encorpado. O vôo nem desmentir. uma tarde a partir de uma
vação pelo amor, pelo gosto minhas palavras. Acho que os das horas, a gente não vê. garça?
de estar ouvindo e cantando jacintos ainda crescem nelas. Eu tenho vontade de con- – Ainda sente o cheiro do – Ontem eu vi um bem-te-vi
no fagote. Mas eu não tenho cretizar uma hora. Eu bota- sol, a 15 metros do em cima de uma pedra. Ele
fagote. Só o outro do poeta to- – As palavras ainda têm ria osso na hora. E botaria ar co-íris? estava fascinado pela solidão
ca fagote. carne e a cor do êxtase? asas. Só de peraltice com as – Sei que as perguntas são pa- da pedra. Estou relendo o
– Poesia é armação de pala- palavras. Depois eu faria ra experimentar meus absur- profeta Jeremias. As suas la-
– Os jacintos ainda crescem vras com um canto dentro. uma pandorga da hora, para dos. Já confessei algumas ve- mentações pelas desgraças
sobre as suas palavras? Sempre armei os versos ela voar. Mas eu não deixa- zes que gosto mais de brincar da sua Jerusalém. No fim, ele
– Em poesia, a razão é acessó- meus com as aflições e os êx- ria que a hora escapasse de com as palavras do que pen- teve esta visão: até as pedras
rio. Quem manda é a visão. tases do ser humano. mim. sar com elas. Para tanto pre- da rua choravam.

ENSAIOS I Poetas estrangeiros e nacionais são objeto de minuciosos comentários críticos

Entre a tradição moderna ocidental. Não por acaso – lem-


bra-nos o argentino Mário Cá-
mara, lendo Catatau de Le-
nar com o não-poético, o coti-
diano, o banal. E ela faz isso dei-
xando-se engendrar por meio

e a produção contemporânea minski – o inventor do cogito


moderno, René Descartes, é
igualmente o autor de um trata-
de outros gêneros, de forma
que finalmente não há essência
alguma da poesia, mas simples-
do ótico fundamental. mente um conjunto de textos
Evando Nascimento maiores poetas; Maria Lúcia de Poéticas do olhar Refazer olhares, abrir frestas, que historicamente se inscre-
Professor da UFJF Barros Camargo é autora de um CÉLIA PEDROSA E MARIA LÚCIA DE percorrer obscuros espaços, eis vem como tais, por meio de tra-
importante estudo sobre Ana BARROS CAMARGO (ORGS.) o exercício de uma poética que ços que jamais se fecham sobre
As organizadoras de Poéticas Cristina Cesar. Diversos nomes 7Letras não veda para si nenhum lampe- si mesmos.
256 páginas, R$ 38
do olhar, Celia Pedrosa, profes- compõem o time dos refinados jo, nenhuma mirada. Nesse sen- Como diz Maria Esther Ma-
sora de literatura da Universi- especialistas em poesia, litera- tido, nem mesmo caberia mais ciel, comentando Octavio Paz,
dade Federal Fluminense, e tura e cultura em geral, tais co- re, Kaváfis, Ashbery, Whitman, uma dialética entre o formado e num dos estudos mais brilhan-
Maria Lúcia de Barros Camar- mo Viviana Bosi, Ana Kiffer, Adília Lopes, Drummond, Ban- o informe, entre a presença e a tes do livro, “no fundo de toda
go, da Universidade Federal de Valdir Prigol e Ida Alves. deira, Haroldo de Campos, Wa- falta, o visível e o invisível, como prosa circula, mais ou menos li-
Santa Catarina, apresentam o Lê-se, assim, com prazer es- ly Salomão, Carlito Azevedo, o ensaio de Célia Pedrosa nos mitada pelas exigências do dis-
que de melhor se pode oferecer ses ensaios, ricos em referên- Italo Moriconi, Francisco Al- ajuda a pensar a partir de curso, a corrente rítmica que de-
hoje em termos de leitura de cias e informações para com- vim. Jean-François Lyotard. fine a linguagem poética. Tor-
poesia. preender a tradição moderna e a A primeira parte remete ao Outro tema explorado nos ná-la explícita, permitir que se
A primeira vem, desde o final produção contemporânea. Poe- título do volume, já que se ex- ensaios é como o que mais fas- manifeste em zonas variáveis de
dos anos 90, organizando regu- tas estrangeiros e nacionais são põe a necessidade de provocar cina em poesia talvez não seja intensidade sonora e imagética,
larmente colóquios, com a parti- objeto de minuciosos comentá- um abalo no olhar como função uma suposta identidade do gê- será tarefa de um prosador que
cipação de alguns de nossos rios: Rimbaud, Celan, Baudelai- central e fundadora do logos nero, mas o modo de se relacio- seja, antes de tudo, poeta”.

Anda mungkin juga menyukai