MANAUS -AM
1
CONTEÚDO DO CURSO DE GEOGRAFIA DO AMAZONAS AVANÇADO
1 – Amazonas Físico:
Geomorfologia, solo, hidrografia e Biodiversidade
2 – Amazonas Físico:
Floresta Amazônica e mudança climática.
3 – Política Ambiental no Amazonas
SEUC, Unidades de conservação e ecoturismo
4 – Inserção Econômica
Os ciclos econômicos, Pólo Industrial de Manaus e Turismo
5 – Homem amazônico
Populações tradicionais e Cidades
2
Primeira Aula – Amazonas Físico I
AMAZÔNIA BRASILEIRA
A Amazônia abriga mais de 200 espécies diferentes de árvores por hectare, 1.400 tipos
de peixes, 1.300 pássaros e 300 de mamíferos, totalizando mais de 2 milhões de
espécies, a Amazônia representa um terço de toda a área de florestas tropicais do
mundo e é essencial para o clima e a diversidade biológica do planeta.
ESTADO DO AMAZONAS
O Amazonas é o maior Estado do Brasil, com uma superfície atual de 1.558.987 Km².
Grande parte dele é ocupado por reserva florística e a outra é representada pela água.
O acesso à região é feito principalmente por via fluvial ou aérea. O clima é equatorial
úmido, com temperatura média/dia/anual de 26,7 ºC, com variações médias entre 23,3
ºC e 31,4 ºC. A umidade relativa do ar fica em torno de 80% e o Estado possui apenas
duas estações bem definidas: chuvosa (inverno) e seca ou menos chuvosa (verão).
Mesoregiões do Amazonas
4
Bacia hidrográfica Amazônica
Tipos de rios
Em 1951, Harald Sioli classificou os rios da Amazônia em três tipos: Águas brancas
(barrentas): Ainda em fase de definição de seu leito, com ativo processo de erosão.
Ex.: Branco, Madeira, Juruá, Purus, Jamari. Águas pretas (escuras): leito já definido,
apresentando um processo erosivo quase desprezível e matéria organica dissolvido.
Ex.: Negro, Nhamundá, Maués. Águas claras (esverdeadas) drenam áreas de solo
argiloso cristalizados, que retém o material orgânico proveniente da floresta. Ex.:
Tapajós, Xingú, Trombetas, Tocantins.
Territorialidade
Do total 64,88% se encontram no território brasileiro. A Colômbia possui(16,14%), a
Bolívia (15,61%), o Equador (2,31%), a Guiana (1,35%), o Peru (0,60%) e Venezuela
possui (0,11%).
5
Fonte: Carlos Alberto Suelen Ávila (UEA) e Filizola Júnior. ANEEL, 1999. 63 p.
1. Rio Amazonas
2. Rio Solimões
3. Rio Negro
4. Rio Xingu
5. Rio Tapajós
6. Rio Jurema
7. Rio Madeira
8. Rio Purus
9. Rio Branco
10. Rio Juruá
11. Rio Trombetas
12. Rio Uatumã
13. Rio Mamoré
Biodiversidade
O que é biodiversidade?
6
3) Diversidade ecológica - As populações da mesma espécie e de espécies diferentes
interagem entre si formando comunidades; essas comunidades interagem com o
ambiente formando ecossistemas, que interagem entre si formando paisagens, que
formam os biomas. Desertos, florestas, oceanos, são tipos de biomas. Cada um deles
possui vários tipos de ecossistemas, os quais possuem espécies únicas. Quando um
ecossistema é ameaçado todas as suas espécies também são ameaçadas.
Qual é o valor de um metro cúbico de água liberado pela Floresta Amazônica, por
evaporação, que retorna em forma de chuva, mantendo o clima úmido da região? Qual é
o valor dos nutrientes acumulados nos troncos e nas cascas de árvores centenárias?
Quais seriam os prejuízos provocados pelos incêndios na Amazônia se estes não se
apagassem nas margens das florestas? Quanto vale um quilo de carbono que deixa de
ser liberado para a atmosfera por estar estocado em suas florestas? Estas perguntas estão
relacionadas ao valor do que pode ser chamado "serviço ecológico" fornecido pela
floresta Amazônica. A importância desses serviços fica clara quando se projeta um
cenário de "Amazônia desmatada". Se a maior parte da vasta extensão de floresta
existente hoje fosse removida, além do desaparecimento de número enorme de espécies,
a atmosfera da Terra passaria a ter muito mais gás carbônico, agravando o efeito estufa
e o conseqüente aquecimento global. Portanto, a biodiversidade é uma das propriedades
fundamentais da natureza por ser responsável pelo equilíbrio e pela estabilidade dos
ecossistemas. Além disso, a biodiversidade é fonte de imenso potencial econômico por
ser a base das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras, florestais e também a base da
indústria da biotecnologia, ou seja, da fabricação de remédios, cosméticos, enzimas
industriais, hormônios, sementes agrícolas. Portanto, a biodiversidade possui, além do
seu valor intrínseco, valor ecológico, genético, social, econômico, científico,
educacional, cultural, recreativo... Com tamanha importância, é preciso conhecer e
evitar a perda da biodiversidade!
7
Ameaças à Biodiversidade da Amazônia
8
A influência maior e mais discutida, entretanto, refere-se à produção e retenção de
gases, em especial o oxigênio (O2) e os chamados gases estufa, como o gás carbônico
(CO2), o vapor de água (H2O) e o metano (CH4).
Quanto à emissão de oxigênio, ao contrário do que muitas vezes é dito, a Amazônia não
pode ser considerada o "pulmão do mundo" por causa de sua produção desse gás.
Durante o dia, a vegetação verde produz oxigênio e absorve gás carbônico através da
fotossíntese; porém, durante a noite, ocorre o processo inverso (respiração), com a
absorção de oxigênio e a liberação de gás carbônico. O equilíbrio, porém, não é perfeito,
e o saldo final - se haverá mais produção do que absorção de CO2 e O2 - dependerá de
outros processos, como as queimadas e o reflorestamento.
O efeito estufa
A luz solar tem uma composição complexa, incluindo a luz visível e as radiações gama,
ultravioleta e infravermelha. A maior parte da sua energia, porém, concentra-se na luz
visível e nos raios ultravioleta. Os raios ultravioleta solares são parcialmente absorvidos
pelo gás ozônio (O3), concentrado a uma altura entre 25 e 30 km do solo.
A luz visível, porém, passa através da atmosfera, que lhe é transparente, e alcança o solo
em grande quantidade. Parte dessa luz é refletida pela superfície e devolvida ao espaço,
e parte é absorvida.
A luz absorvida contribui para aquecer a superfície da Terra e é reemitida - porém agora
na forma de radiação infravermelha. Essa radiação infravermelha não é, entretanto,
totalmente devolvida ao espaço. Boa parte dela é absorvida pelos gases estufa,
concentrados nas camadas baixas da atmosfera. Isso faz com que esses gases se
aqueçam e com eles se aqueça a atmosfera. Os gases estufa funcionam, assim, como um
"cobertor" que deixa passar a luz solar mas não a radiação infravermelha, esquentando a
região próxima à terrestre a uma temperatura adequada à formação da vida. Este
aquecimento devido aos gases estufa é chamado "efeito estufa". Assim, nas regiões
tropicais a temperatura média junto à superfície da Terra é de 30°, enquanto, 10 km
acima da superfície, a temperatura desce para cerca de -70º.
A intensidade do efeito estufa depende das concentrações dos gases estufa. Uma
concentração baixa implica em uma superfície mais fria; um aumento da concentração,
no seu aquecimento. Um aquecimento da Terra de poucos graus teria conseqüências
funestas, como a elevação do nível dos oceanos devido à sua expansão térmica e o
derretimento de gelo nas calotas polares e nas geleiras, submergindo parte das cidades
costeiras. Desde a década de 1980 existem evidências conclusivas de que a
9
concentração dos gases estufas vem aumentando, em grande parte por causa das
atividades industriais e de artefatos tecnológicos como automóveis - mas também por
causa de queimadas em florestas.
A contribuição das queimadas na Amazônia para o efeito estufa é controversa, por causa
das grandes dificuldades inerentes em se determinar quanto de CO2 é liberado na
atmosfera pela queima da sua biomassa. Nobre (Nobre,1992) estima uma quantidade
máxima de carbono liberada entre 0,24 e 0,42 TgC/ano (teragramas, ou milhões de
toneladas, de carbono por ano). Como a quantidade anual de carbono emitida pelo
desmatamento nas florestas tropicais de todo o mundo está ao redor de 2TgC/ano
(Houghton et al., 1991), a Amazônia contribui com 12% a 21% dessa quantidade.
Porém, apesar de haver consenso em que a emissão de gás carbônico aumenta o efeito
estufa, não existem dados conclusivos sobre que aumento de temperatura tal emissão
provocaria, nem qual a porcentagem dessas emissões em relação à emissão total
mundial de carbono (originária em grande parte de atividades industriais e artefatos
tecnológicos como automóveis).
A preocupação com os efeitos das emissões de carbono sobre o efeito estufa levaram a
diversas negociações internacionais para reverter o aumento do CO2 na atmosfera. O
processo de absorção do carbono atmosférico (principalmente através da retenção de
CO2) é conhecido como "seqüestro de carbono".
Em 1990 foi estabelecida, pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU), o Comitê Intergovernamental de Negociação para a Convenção-Quadro sobre
Mudança do Clima (INC/FCCC). O texto da Convenção foi assinado em junho de 1992
na Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro (evento que fez parte da ECO-92), e entrou em
vigor em 21 de março de 1994.
10
Causas do desmatamento na Amazônia e suas implicações futuras
Por conseguinte, essas grandes mudanças na cobertura florestal têm impor- tantes
implicações quanto à perda de biodiversidade e outros serviços ambientais, emissão de
gases que contribuem para o efeito estufa e à prosperidade da sociedade da Amazônia a
longo prazo. Nessa perspectiva, um importante desafio para a comunidade científica
consiste em simular os efeitos da infra-estrutura de transporte nos padrões regionais de
mudanças de uso e cobertura do solo. A avaliação dos impactos indiretos dessas
mudanças é de particular interesse tanto para planejadores regionais como para
cientistas que estudam as mudanças climáticas. O desenho de uma estratégia de
conservação para a floresta amazônica dependerá do rápido avanço na nossa
11
compreensão das conexões da floresta com seus ecossistemas nativos e vida silvestre,
clima regional, em conjunto com a economia e bem-estar da sociedade local.
Estratégias de conservação
12
dados do modelo demonstram que mesmo um maciço investimento na implementação e
manutenção de uma ampla rede de áreas protegidas, dentro de um cenário como "o
mesmo de sempre", não seria suficiente para impedir o empobrecimento em larga escala
das principais bacias hidrográficas, ecorregiões e hábitats amazônicos. Portanto, uma
estratégia de conservação extensiva deve também envolver a proteção de um arranjo
funcional de remanescentes florestais fora das áreas protegidas a fim de se evitar o co-
lapso ambiental dos ecossistemas de florestas úmidas, já em curso em outras partes dos
trópicos (Curran et al., 2004).
A função da floresta no ciclo hidrológico mantém a chuva, não apenas na própria região
amazônica (necessário para a sobrevivência da vegetação atual de floresta tropical), más
também mantém a chuva em São Paulo e em outras partes do centro-sul do Brasil. O
transporte de vapor d’água amazônico é particularmente importante durante a estação
chuvosa no centro-sul brasileiro, época em que se enchem os reservatórios hidrelétricos.
A conversão de floresta amazônica em pastagens reduziria estes recursos hídricos
13
limitados. quantia de vapor d’água que entra na região pelos ventos que sopram do
Oceano Atlântico é calculada em 10 ± 1 trilhões de metros cúbicos por ano (1012
m3/ano), enquanto a descarga média do rio Amazonas na sua foz é calculada em 6,6 ×
10 12 m3/ano. A diferença, em torno de 3,4 × 1012 m3/ano, forçadamente é exportada para
algum outro lugar.
Unidade de Conservação
Áreas protegidas
A criação de áreas protegidas gera novos desafios. Para muitas delas ainda não existem
planos de manejo. Medidas básicas de implementação em termos de monitoramento,
controle, educação ambiental e desenvolvimento sustentável não foram tomadas
também nestas localidades. Devido ao grande tamanho e inacessibilidade dessas áreas
protegidas, os custos são consideravelmente altos para o orçamento existente e
conflitam com as demandas de investimentos governamentais em educação, saúde,
habitação, infra-estrutura etc. Nesse contexto, a cooperação internacional possui papel
importante. O Governo do Estado do Amazonas está investindo entre US$ 10 e 60 por
hectare na criação de novas unidades, totalizando entre US$ 42.920.380 e US$
257.522.280.
Fonte: SDS
No dia 5 de junho de 2007, como parte das comemorações do Dia Mundial do Meio
Ambiente, a Assembléia Legislativa aprovou e o governador Eduardo Braga sancionou,
15
a Lei Complementar 53, de 5 de junho de 2007 instituindo o Sistema Estadual de
Unidades de Conservação (SEUC) Amazonas. A lei estabelece os critérios e normas
para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação estaduais, classifica
infrações e estabelece penalidades.
17
UC Estadual
UC Federal
FONTE: SDS
Fonte: SDS
18
Quarta Aula – Inserção Econômica
No final do século XX, houve, portanto, impactos negativos, mas também mudanças
estruturais e novas realidades geradas na fronteira, a qual tomo como espaço não
plenamente estruturado e por isso mesmo capaz de gerar realidades novas. Dentre as
mudanças, destaca-se a da conectividade regional, um dos elementos mais importantes na
Amazônia. Não se trata apenas das estradas, elementos que contribuíram para depredação
dos recursos e da sociedade, mas sim, sobretudo, das telecomunicações, porque a rede de
telecomunicações na Amazônia permitiu articulações locais/ nacionais, bem como locais/
globais. Outra mudança importante é a da economia, que passou da exclusividade do
extrativismo para a industrialização, com a exploração mineral e com a Zona Franca de
Manaus, que foi um posto avançado geopolítico colocado pelo Estado na fronteira norte,
em pleno ambiente extrativista tradicional. Há problemas na Zona Franca, mas hoje ela é
grande produtora não só de bens de consumo duráveis, como da indústria de duas rodas, de
telefonia e mesmo de biotecnologia.
19
sociedade. Por essa razão, desde a década de 1980, chamo a Amazônia de uma “floresta
urbanizada”.
Por outro lado, organizou-se a sociedade como nunca antes verificado. Os grandes conflitos
de terras e de territórios das décadas de 1960 a 1980 constituíram um aprendizado político e,
na década de 1990, transformaram-se em projetos alternativos, com base na organização da
sociedade civil. É extremamente importante lembrar que hoje, essa sociedade tem voz ativa
na Amazônia e no Brasil, inclusive muitos grupos indígenas. Essa organização da sociedade
política trouxe, por sua vez, mudanças no apossamento do território, com a multiplicação de
unidades de conservação federais e estaduais, assim como também com a demarcação de
terras indígenas.
Que projetos e que atores produzem hoje a dinâmica regional e os novos significados da
Amazônia? Essas transformações não são vistas de forma homogênea pelos diferentes
atores, porque dependem de interesses diversos e geram ações diferentes na região. Existem
muitos conflitos dentro dessas percepções, mas há algumas dominantes.
O uso do método geográfico para análise dos projetos geopolíticos e seus atores por
diferentes escalas geográficas é útil para colaborar nessa análise.
Fonte: Bertha Becker
Grandes projetos
A partir de meados dos anos de 1980, esse modelo de ocupação capitalista forçada
começa a ser questionado. Pressões internacionais, por meio das agências financiadoras
de projetos de desenvolvimento, tais como o Banco Mundial, introduzem o conceito de
desenvolvimento sustentável nos financiamentos e logram condicionar o desembolso de
verbas para infra-estrutura ao desembolso pari passu de verbas para a criação e proteção
de áreas de preservação ambiental e terras indígenas. Reflexos desse redirecionamento
se fizeram sentir nos procedimentos administrativos de autorização pelo Ibama e pela
Funai para a implantação de projetos privados ou governamentais: impõem-se estudos
de impacto ambiental (EIA-Rima) como condições prévias a todo projeto de
desenvolvimento em áreas de cobertura vegetal nativa ainda intacta ou nas
proximidades de terras indígenas.
O Pólo Industrial de Manaus é uma área criada pela SUFRAMA com o intuito de
implantar um pólo fabril na cidade de Manaus.
No Pólo, as indústrias recebem incentivos fiscais. Para se instalarem, elas não recebem
incentivo algum. Após instaladas:
Ecoturismo
No contexto brasileiro por sua riqueza natural e cultural a Amazônia emerge como umas
das regiões prioritárias para as conservações de recursos naturais e a construção de
modelos de desenvolvimento capazes de valorizar e proteger a base natural, resgatar e
preservar o patrimônio cultural e assegurar benefícios às populações locais. Sob esse
enfoque, o ecoturismo é reconhecido como importante alternativa para o
desenvolvimento regional.
21
Estimativas recentes apontam que a região abriga cerca de 2,5 milhões de especies de
insetos, dezenas de milhares de especies de plantas vasculares, cerca de 2 mil especies
de peixes, além de 950 especies de pássaros e 200 especies de mamíferos.
22
Quinta Aula – Homem Amazônico
Atualmente, a Amazônia legal tem uma população estimada em vinte milhões, dos
quais 60 % são urbanos. Isto significa que estão localizados em zonas qualificadas de
urbanas1, distribuídas em poucas cidades muito grandes (ultrapassando a faixa de 500
mil habitantes) e dezenas de pequenas ou médias cidades (de 20 a 250 mil). A
localização dessas cidades mostra uma concentração do povoamento ao longo dos eixos
de circulação fluvial e dos eixos rodoviários, que correspondem à Amazônia dos rios e à
Amazônia das estradas. Esse padrão linear tem suas raízes na história da região. Antes
das políticas públicas de colonização da Amazônia, o único meio de comunicação era o
rio. Léna (1986) lembra que a sociedade amazônica tradicional era uma sociedade
ribeirinha, organizada em função dos rios e das cidades ao seu redor. Essa situação fez
de Belém um dos pontos obrigatórios para sair da Amazônia – como também é o caso
da cidade de Macapá, localizada ao norte do delta. Era a Amazônia dos rios.
23
Dois períodos tiveram um papel capital na evolução das cidades da Amazônia. O
primeiro foi o período da borracha ao final do século passado. O segundo foi a abertura
do espaço amazônico e sua integração ao território nacional, no início da segunda
metade do século XX. A política de ocupação deste espaço se deu pela construção de
várias centenas de quilômetros de estradas. É assim que nasceu a Amazônia das
estradas. Segundo Thery (1997), “…a Velha Amazônia fluvial permanece organizada
segundo os afluentes do rio, mas o futuro é a Nova Amazônia, onde está progredindo
uma das principais frentes pioneiras do mundo.”O reconhecimento da transformação
urbana da Amazônia remonta aos anos 80, com os trabalhos de vários autores como
Becker, Machado, Sawyer e outros.
Segundo os dados do IBGE, na década de 90, novos núcleos urbanos têm se formado
nesta região e o crescimento urbano conheceu um ritmo acelerado, que introduziu
mudanças na estrutura do povoamento regional. Entre as décadas de 70 a 90, a
população urbana cresceu mais do que a população total, cujas taxas são o dobro da
média do país, passando de 35 % em 1970 para 61 % em 1996. A Amazônia é a única
região do Brasil onde cresce a população em cidades de menos de 100 000 habitantes, e
onde o crescimento de cidades com 20 000 a 50 000 habitantes é expressivo. A
urbanização deve ser relacionada com o povoamento, o qual está ligado aos processos
econômicos, sociais, de migração e de mobilidade da população.
24
habitantes converteram-se em metrópoles, que crescem mais a cada ano. Enfim,
segundo as observações de Becker (1999), o movimento migratório para a Amazônia se
reduziu. Seu caráter é hoje principalmente intra-regional, significa que há grande
mobilidade populacional dentro os estados amazônicos. Essa dinâmica regional
favorece uma recomposição interna: alguns municípios têm uma taxa de crescimento
elevada, há uma concentração da população em cidades de 50 000 habitantes e novos
núcleos urbanos são formados. Mesmo se essa mobilidade parece temporária, a situação
da evolução demográfica mostra que o ciclo de forte migração para a Amazônia acabou.
Além de ser relacionado com as estradas e os rios como foi mencionado nos parágrafos
precedentes, o povoamento tem muito a ver com os processos de extração e exploração
dos recursos naturais, de atividades agropecuárias e agro-industriais. (Exceção feita aos
processos econômicos ligados à produção e à circulação de mercadorias que, segundo
Becker (2001), não influem na urbanização, que por sua vez não é dependente da
produção). Uma grande parte da população amazônica está concentrada em um arco,
chamado “arco de desmatamento”, que vai dos estados do Pará e do Maranhão até os
estados do Rondônia e do Acre, passando pelo sul. Este arco corresponde à frente
pioneira brasileira. Significa que há uma forte correlação entre as cidades e esses
processos, muitas vezes qualificados de predatórios, no sentido de que eles implicam
uma devastação do meio ambiente (desmatamento, queimadas, poluição das águas…).
Assim, todas as cidades surgidas recentemente ou que estão em fase de formação, estão
localizadas nos estados de expansão da fronteira, onde esses processos são mais ativos.
Esse fato deve ser relacionado com a localização dos novos municípios que foram
criados recentemente nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Pará.
Observa-se que há uma forte relação entre os núcleos urbanos, os novos municípios e
esses processos econômicos e as conseqüências deles.
Fonte: Deborah Lima
25