"Neurociência" é um termo guarda-chuva que engloba todas as áreas da ciência - biologia, fisiologia,
medicina, física, psicologia - que se interessam pelo sistema nervoso: sua estrutura, função,
desenvolvimento, evolução, e disfunções.
A hipótese de trabalho mais fundamental da neurociência é que o que somos, fazemos, pensamos e
desejamos é resultado do funcionamento do sistema nervoso e sua interação com o corpo. Toda a
pesquisa em neurociência é atualmente baseada nessa premissa, e busca entender justamente como a
estrutura e funcionamento do sistema nervoso, juntamente com a história de vida de cada um, a
cultura, a sociedade, e a genética fazem de nós o que somos, individualmente, como seres humanos, e
como animais.
Os princípios básicos de organização e funcionamento do sistema nervoso que você encontra aqui estão
apresentados segundo a concepção da neurocientista Suzana Herculano-Houzel (UFRJ), e oferecem
apenas uma visão esquemática, embora abrangente, do sistema nervoso. Se você deseja obter
informações mais detalhadas, procure um livro-texto (nós indicamos alguns para você aqui).
Um sistema é um conjunto de órgãos e estruturas que têm uma função em comum. Visto assim, o
sistema nervoso é o conjunto de órgãos que têm em comum a função de integrar e regular
rapidamente o funcionamento do corpo, permitindo não só que o indivíduo atue como um conjunto,
mas também de maneira ajustada ao ambiente, à sua história de vida e às suas projeções para o
futuro.
O sistema nervoso é capaz de fazer isso devido à estrutura de seus órgãos e tecidos, compostos por
células capazes de detectar variações de energia, transformá-las em sinais químicos e
elétricos e transmiti-los rapidamente a outras partes do próprio sistema nervoso e do corpo. Por
sua rapidez e flexibilidade o sistema nervoso difere de outro sistema integrador do organismo: o
sistema endócrino, de ação também global, porém lenta (da ordem de minutos, horas ou dias).
Uma das funções do sistema nervoso de fato é permitir aos animais a detecção de estímulos e
aorganização de respostas coordenadas do organismo a eles, como dizem os livros-texto. Mas um
sistema nervoso complexo o suficiente faz muito mais do que apenas isso (detectar estímulos e produzir
respostas a eles, afinal, é coisa que até uma bactéria faz): um ser que fizesse apenas isso estaria
condenado a viver somente no presente.
Ao contrário, o sistema nervoso complexo o suficiente (como o nosso, mas também de animais como
ratos e camundongos, e até de insetos) dota o indivíduo de passado e futuro, ao torná-lo capaz de
aprender novas associações; de lembrar dessas associações, e também de seus efeitos sobre o corpo; e
de usar essas informações para fazer projeções para o futuro. Desse modo, mesmo as respostas ao
presente levam em consideração as experências passadas e o que se antecipa para o futuro - racional e
emocionalmente.
Princípios de organização
Leia sobre a divisão em sistema nervoso central e periférico; neurônios e glia; sinapses e transmissão
sináptica; a diferença entre as substâncias branca e cinzenta; as divisões principais do sistema nervoso;
e os vários sistemas funcionais
Princípios de organização
Os mais
variados sistemas nervosos têm algumas características em comum, sinal de que compartilham sua
origem de um ancestral comum:
- Todos são compostos de células excitáveis (os neurônios) e de um segundo tipo celular associado (as
células da glia);
- Todos possuem células capazes de detectar e sinalizar mudanças de energia no ambiente e/ou no
corpo, respondendo diretamente a elas (os receptores sensoriais e neurônios sensoriais);
- Todos possuem células (os neurônios efetores) capazes de efetuar mudanças no corpo, como contração
muscular, secreção glandular, ou mudanças na atividade de órgãos internos;
- Em todos eles, os neurônios se organizam em estruturas que fazem a interface sensorial com o corpo;
que integram essa informação; e que fazem a interface efetora com o corpo; e
- Todos permitem, assim, o funcionamento integrado do corpo como um todo e de maneira coerente
com o seu passado individual.
SN central e periférico
Conheça os critérios para a principal divisão anatômica e funcional do sistema nervoso: a divisão em SN
central e SN periférico
Em geral, isso coincide bastante bem com o critério embrionário de divisão entre SNC e SNP:
todas as estruturas do SNC são derivadas de progenitores que formam as paredes do tubo
neural, enquanto as estruturas do SNP são derivadas da crista neural, um conjunto de células
progenitoras que se descolam do tubo neural assim que ele se fecha. Como os progenitores
formados pela crista neural migram ao longo dos segmentos em formação do corpo, os
neurônios que eles formam acabam se situando fora das caixas ósseas no adulto.
A divisão entre SNC e SNP é mais do que mero recurso didático ou semântico. As
características estruturais dos neurônios diferem entre as duas divisões, e as células da glia
são estrutural e funcionalmente diferentes também. Um dos resultados dessas diferenças é
que os axônios do SNP são capazes de se regenerar espontaneamente quando lesionados,
enquanto os axônios do SNC precisam de ajuda da ciência para tal.
Neurônios
Existem neurônios de vários tipos - mas várias coisas eles têm em comum
Neurônios
Sinapses
Estes são os locais, várias vezes um "espaço", onde dois neurônios trocam sinais químicos entre si - quer
dizer, onde ocorre a transmissão sináptica.
Sinapses
A atividade elétrica de um neurônio, distribuída por seu axônio, pode se espalhar diretamente
a neurônios vizinhos que tenham contato físico (e portanto elétrico) com aquele neurônio.
Isso acontece com bastante frequência no sistema nervoso durante a gestação. No entanto, a
maioria dos neurônios no sistema nervoso da criança ou adulto não têm continuidade elétrica
entre si: ao contrário, eles são separados por fendas, o que impede a passagem de
eletricidade diretamente de um para o outro (como dizia meu professor de química, elétrons
não nadam!).
No neurônio
pré-sináptico (ou seja, o que transmite sinal), a chegada de um potencial de ação (o sinal
elétrico) à extremidade do axônio provoca uma alteração em proteínas sensíveis à voltagem
da membrana celular.
Isso leva à entrada de cálcio no terminal pré-sináptico, o que
por sua vez faz com que vesículas contendo substâncias químicas se fusionem com a
membrana da célula, liberando seu conteúdo do lado de fora do terminal - ou seja, na fenda
sináptica.
A abertura de
vários canais ao mesmo tempo provoca uma modificação na voltagem do neurônio pós-
sináptico que é propagada até o corpo da célula, onde fica o núcleo. Se um número suficiente
de sinapses - de um só neurônio pré-sináptico, ou, mais comumente, de vários neurônios pré-
sinápticos ao mesmo tempo - forem acionados e produzirem uma mudança grande o suficiente
na voltagem da célula pós-sináptica, esta pode chegar a disparar potenciais de ação e, assim,
passar o sinal adiante para outros neurônios.
Ao mesmo
tempo que a transmissão sináptica segue adiante do neurônio pós-sináptico, o neurônio pré-
sináptico reconstrói suas vesículas sinápticas e as enche de novo, com neurotransmissor novo
e também com as moléculas recolhidas (recaptadas) do espaço sináptico.
Divisões principais
Encéfalo e medula espinhal; telencéfalo, diencéfalo, mesencéfalo, ponte, bulbo, cerebelo... o que são
esses nomes, e o que faz cada estrutura?
Telencéfalo
A porção mais anterior, o telencéfalo, é a que ocupa o maior espaço no cérebro humano,
devido ao grande tamanho do córtex cerebral. A ele chegam todos os sinais que vêm do corpo
pelo tronco encefálico e diencéfalo. O córtex cerebral processa todos esses sinais ao mesmo
tempo, além de seus próprios sinais internos relacionados a memórias, valores e projeções
para o futuro, agregando complexidade e flexibilidade ao comportamento.
O telencéfalo é composto pelo córtex cerebral, pela amígdala (que, como você vê, não é a
da garganta, que para evitar confusões agora se chama tonsila) e pelo estriado. Estas últimas
duas estruturas são internas (ou "subcorticais), ocultas sob o córtex cerebral. Este, por sua
vez, pode ser dividido didaticamente em 5 lobos:
- o lobo occipital é o
mais
Diencéfalo
A segunda divisão do encéfalo na ordem rostro-caudal é o diencéfalo, formado por vários
núcleos. Os maiores são os que, em conjunto, formam o tálamo, passagem obrigatória para
quase toda a informação que é encaminhada ao córtex cerebral. Abaixo dele fica
o hipotálamo, estrutura vital que recebe o tempo todo informações sobre o estado funcional
do corpo e regula todos os sistemas que são capazes de modificar o funcionamento do corpo,
inclusive através do comportamento. Acima do tálamo fica a glândula pineal, ou epitálamo,
que também ajuda a integrar o funcionamento de corpo e cérebro. Outras estruturas do
diencéfalo são os globos pálidos, parte dos núcleos da base juntamente com o estriado
telencefálico, e o núcleo subtalâmico.
Mesencéfalo
Cerebelo
Ele responde sozinho por apenas 10% do volume encefálico, mas 80% de todos os neurônios
que temos dentro do crânio. Tantos neurônios parecem estar relacionados à função do
cerebelo: monitorar e ajustar, em tempo real, o funcionamento do córtex cerebral.
Sistemas funcionais
Uma maneira didática de reconhecer a organização funcional do sistema nervoso em conjuntos de
estruturas com funções em comum (em construção, volte em breve!)
Princípios de funcionamento
Seu cérebro funciona o tempo todo ou não? Todas as partes são equivalentes, ou cada uma tem uma
função diferente? Quão flexível é a função de cada parte do cérebro? Leia aqui sobre metabolismo do
cérebro, divisão de tarefas, e plasticidade cerebral
Sensores e efetores
Conheça a organização e função dos sistemas sensoriais (são sete, não cinco!) e dos sistemas efetores
(motor e visceral) (em construção)
Do começo ao fim
Conheça as várias versões do sistema nervoso ao longo da vida de um indivíduo, da gestação à velhice,
passado pela infância, adolescência, e maturidade (em construção)
Disfunções
Conheça as mil e uma (ou mais) maneiras de tudo dar errado - e dê mais valor ao cérebro que você tem!
Tratamentos
O que fazer quando algo não vai bem? Quando procurar ajuda, e de que tipo? (em construção)
O Sistema Nervoso
O SNC recebe, analisa e integra informações. É o local onde ocorre a tomada de
decisões e o envio de ordens. O SNP carrega informações dos órgãos sensoriais para o
sistema nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e
glândulas).
Cada uma das áreas do córtex cerebral controla uma atividade específica.
1. hipocampo: região do córtex que está dobrada sobre si e possui
apenas três camadas celulares; localiza-se medialmente ao ventrículo lateral.
2. córtex olfativo: localizado ventral e lateralmente ao hipocampo;
apresenta duas ou três camadas celulares.
3. neocórtex: córtex mais complexo; separa-se do córtex olfativo
mediante um sulco chamado fissura rinal; apresenta muitas camadas celulares e
várias áreas sensoriais e motoras. As áreas motoras estão intimamente envolvidas
com o controle do movimento voluntário.
Imagem: McCRONE, JOHN. Como o cérebro funciona. Série Mais Ciência. São Paulo, Publifolha, 2002.
Algumas das funções mais específicas dos gânglios basais relacionadas aos
movimentos são:
1. núcleo caudato: controla movimentos intencionais grosseiros do
corpo (isso ocorre a nível sub-consciente e consciente) e auxilia no controle global
dos movimentos do corpo.
2. putamen: funciona em conjunto com o núcleo caudato no controle de
movimentos intensionais grosseiros. Ambos os núcleos funcionam em associação
com o córtex motor, para controlar diversos padrões de movimento.
3. globo pálido: provavelmente controla a posição das principais partes
do corpo, quando uma pessoa inicia um movimento complexo, Isto é, se uma pessoa
deseja executar uma função precisa com uma de suas mãos, deve primeiro colocar
seu corpo numa posição apropriada e, então, contrair a musculatura do braço.
Acredita-se que essas funções sejam iniciadas, principalmente, pelo globo pálido.
4. núcleo subtalâmico e áreas associadas: controlam possivelmente os
movimentos da marcha e talvez outros tipos de motilidade grosseira do corpo.
Evidências indicam que a via motora direta funciona para facilitar a iniciação de
movimentos voluntários por meio dos gânglios da base. Essa via origina-se com uma
conexão excitatória do córtex para as células do putamen. Estas células estabelecem
sinapses inibitórias em neurônios do globo pálido, que, por sua vez, faz conexões inibitórias
com células do tálamo (núcleo ventrolateral - VL). A conexão do tálamo com a área motora
do córtex é excitatória. Ela facilita o disparo de células relacionadas a movimentos na área
motora do córtex. Portanto, a conseqüência funcional da ativação cortical do putâmen é a
excitação da área motora do córtex pelo núcleo ventrolateral do tálamo.
Imagem: BEAR, M.F., CONNORS, B.W. & PARADISO, M.A. Neurociências – Desvendando o Sistema
Nervoso. Porto Alegre 2ª ed, Artmed Editora, 2002.
O CEREBELO
Situado atrás do cérebro está o cerebelo, que é primariamente um centro para o
controle dos movimentos iniciados pelo córtex motor (possui extensivas conexões com o
cérebro e a medula espinhal). Como o cérebro, também está dividido em dois hemisférios.
Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do cerebelo está relacionado
com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado direito, com os
movimentos do lado direito do corpo.
O cerebelo recebe informações do córtex motor e dos gânglios basais de todos os
estímulos enviados aos músculos. A partir das informações do córtex motor sobre os
movimentos musculares que pretende executar e de informações proprioceptivas que recebe
diretamente do corpo (articulações, músculos, áreas de pressão do corpo, aparelho vestibular
e olhos), avalia o movimento realmente executado. Após a comparação entre desempenho e
aquilo que se teve em vista realizar, estímulos corretivos são enviados de volta ao córtex
para que o desempenho real seja igual ao pretendido. Dessa forma, o cerebelo relaciona-
se com os ajustes dos movimentos, equilíbrio, postura e tônus muscular.
Córtex Cerebral
Funções:
• Pensamento
• Movimento
voluntário
• Linguagem
• Julgamento
• Percepção
A palavra córtex vem do latim para "casca". Isto porque o
córtex é a camada mais externa do cérebro. A espessura do córtex
cerebral varia de 2 a 6 mm. O lado esquerdo e direito do córtex
cerebral são ligados por um feixe grosso de fibras nervosas
chamado de corpo caloso. Os lobos são as principais divisões
físicas do córtex cerebral. O lobo frontal é responsável pelo
planejamento consciente e pelo controle motor. O lobo temporal
tem centros importantes de memória e audição. O lobo parietal
lida com os sentidos corporal e espacial. o lobo occipital direciona
a visão.
Cerebelo
Funções:
• Movimento
• Equilíbrio
• Postura
• Tônus muscular
A palavra cerebelo vem do latim para "pequeno cérebro”. O
cerebelo fica localizado ao lado do tronco encefálico. É parecido
com o córtex cerebral em alguns aspectos: o cerebelo é dividido
em hemisférios e tem um córtex que recobre estes hemisférios.
O
Tronco Encefálico Tronco
Funções:
• Respiração
• Ritmo dos batimentos
cardíacos
• Pressão Arterial
Mesencéfalo
Funções:
• Visão
• Audição
• Movimento dos Olhos
• Movimento do corpo
Encefálico é uma área do encéfalo que fica entre o
tálamo e a medula espinhal. Possui várias estruturas
como o bulbo, o mesencéfalo e a ponte. Algumas destas
áreas são responsáveis pelas funções básicas para a
manutenção da vida como a respiração, o batimento
cardíaco e a pressão arterial.
Bulbo: recebe informações de vários órgãos do
corpo, controlando as funções autônomas (a chamada
vida vegetativa): batimento cardíaco, respiração,
pressão do sangue, reflexos de salivação, tosse, espirro
e o ato de engolir.
Ponte: Participa de algumas atividades do bulbo,
interferindo no controle da respiração, além de ser um
centro de transmissão de impulsos para o cerebelo.
Serve ainda de passagem para as fibras nervosas que
ligam o cérebro à medula.
O tálamo recebe
informações sensoriais do
corpo e as passa para o córtex
Tálamo cerebral. O córtex cerebral
envia informações motoras
Funções: para o tálamo que
posteriormente são
• Integração distribuídas pelo corpo.
Sensorial Participa, juntamente com o
tronco encefálico, do sistema
• Integração Motora reticular, que é encarregado de
“filtrar” mensagens que se dirigem às partes conscientes do
cérebro.
Sistema Límbico
Funções:
• Comportamento
Emocional
• Memória
• Aprendizado
• Emoções
• Vida vegetativa
(digestão,
circulação,
excreção etc.)