Anda di halaman 1dari 9

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Valério Rohden.

São Paulo, SP: Abril


Cultural, 1974.

Primeira Parte

Estética Transcendental

§1

“Sejam quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimento se possa referir a objetos, é
pela intuição que se relaciona imediatamente com estes e ela é o fim para o qual tende, como meio,
todo o pensamento. Esta intuição, porém, apenas se verifica na medida em que o objeto nos for
dado; o que, por sua vez, só é possível [pelo menos para nós homens] se o objeto afetar o espírito de
certa maneira. A capacidade de receber representações (receptividade), graças a maneira como
somos afetados pelos objetos, denomina-se sensibilidade. Por intermédio, pois, da sensibilidade são
nos dados objetos e só ela nos fornece intuições; mas é o entendimento que pensa esses objetos e é
dele que se provém os conceitos. Contudo, o pensamento tem sempre que referir-se, finalmente, a
intuições, quer diretamente, quer por rodeios [mediante certos caracteres] e, por conseguinte, no que
respeita a nós, por via da sensibilidade, porque de outro modo nenhum objeto nos pode ser dado.”
[pg. 61]

A intuição se relaciona diretamente com o objeto.


A intuição percebe os objetos.
A intuição só ocorre quando se é afetado pelos objetos.
Definição de sensibilidade: faculdade que dá os objetos através de intuições; capacidade de receber
representações (receptividade).
Definição de entendimento: Pensa os objetos e fornece os conceitos.

“O efeito de um objeto sobre a capacidade representativa, na medida em que por ele somos
afetados, é a sensação. A intuição que se relaciona com o objeto, por meio de sensação, chama-se
empírica. O objeto indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenômeno” [pg. 61]

Definição de sensação: efeito de um objeto na representação, após intuí-lo.


Definição de intuição empírica: se relaciona com o objeto través da sensação; percepção sensível de
um objeto.
Definição de fenômeno: intuição empírica de um objeto; o objeto dessa intuição (diferente de
noumenon = coisa em si)

“Dou o nome de matéria ao que no fenômeno corresponde à sensação; ao que porém, possibilita que
o diverso do fenômeno possa ser ordenado segundo determinadas relações, dou o nome de forma do
fenômeno. Uma vez que aquilo, no qual as sensações unicamente se podem ordenar e adquirir
determinada forma, não pode, por sua vez, ser sensação, segue-se que, se a matéria de todos os
fenômenos nos é dada somente a posteriori, a sua forma deve encontrar-se a priori no espírito,
pronta a aplicar-se a ela e portanto tem que poder ser considerada independente de qualquer
sensação.” [pg. 62]

Definição de matéria e forma dos fenômenos: a matéria é aquilo que no fenômeno, corresponde à
sensação, as intuições sensíveis; a forma diz respeito ao entendimento, que ordena o múltiplo da
intuição sensível segundo certas relações, formas a priori.
A matéria é sempre a posteriori, e a forma sempre a priori e independente de qualquer sensação.

“Chamo puras (…) todas as representações em que nada se encontra que pertença à sensação. Por
consequência, deverá encontrar-se absolutamente a priori no espírito a forma pura das intuições
sensíveis em geral, na qual todo o diverso dos fenômenos se intui em determinadas condições. Essa
forma pura da sensibilidade chamar-se-à também intuição pura. Assim, quando separo da
representação de um corpo o que o entendimento pensa dele, (…) e igualmente o que pertence a
sensação, (…) algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão1 e a figura2. Estas pertencem
à intuição pura, que se verifica a priori no espírito, mesmo independentemente de um objeto real
dos sentidos ou da sensação, como simples forma da sensibilidade.” [pg. 62]

Definição de representações puras: ideias nas quais não há nada de empírico. A forma pura das
intuições sensíveis é dada a priori; intuição pura.
Separando-se da ideia de um objeto aqueles elementos fornecidos pelo entendimento, aqueles
fornecidos pela sensação, resta ainda nessa ideia as sensações de extensão e figura.

“Designo por estética transcendental uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori.
Tem que haver, pois, uma tal ciência, que constitui a primeira parte da teoria transcendental dos
elementos, em contraposição à que contém os princípios do pensamento puro e que se denominará
lógica transcendental.” [pgs. 62-63]

“Na estética transcendental, por conseguinte, isolaremos primeiramente a sensibilidade, abstraindo


de tudo o que o entendimento pensa com os seus conceitos, para que apenas reste a intuição
empírica. Em segundo lugar, apartaremos ainda desta intuição tudo o que pertence à sensação para
restar somente a intuição pura e simples, forma dos fenômenos, que é a única que a sensibilidade a
priori pode fornecer. Nesta investigação se apurará que há duas formas puras da intuição sensível,
como princípios do conhecimento a priori, a saber, o espaço e o tempo, de cujo exame nos vamos
agora ocupar.” [pg. 63]

05/10/2010 – 12:00

Primeira seção

Do espaço

§2 Exposição metafísica deste conceito.

“Por intermédio do sentido externo (de uma propriedade do nosso espirito) temos a representação
de objetos como exteriores a nós e situados todos no espaço. (…) O sentido interno, mediante o
qual o espírito se intui a si mesmo ou intui também o seu estado interno, não nos dá, em verdade,
nenhuma intuição da própria alma como um objeto; é todavia uma forma determinada, a única
mediante a qual é possível a intuição do seu estado interno, de tal modo que tudo que pertence às
determinações internas é representado segundo relações de tempo. O tempo não pode ser intuído
exteriormente, nem o espaço como se fora algo de interior. Que são então espaço e o tempo? (…)
serão unicamente dependentes da forma da intuição e, por conseguinte, da constituição subjetiva do
nosso espirito, sem a qual esses predicados não poderiam ser atribuídos a coisa alguma? Para nos
elucidarmos a esse respeito vamos primeiro expor o conceito de espaço. [Entendo, porém, por
exposição (expositio) a apresentação clara (…) do que pertence a um conceito; a exposição é
metafísica quando contém o que representa o conceito enquanto dado a priori].” [pgs. 63-64]

“1 . O espaço não é um conceito empírico, extraído de experiência externas. Efetivamente, para que
determinadas sensações sejam relacionadas com algo exterior a mim (…) e igualmente para que as
possa representar como exteriores (…) uma das outras, por conseguinte não só distintas, mas em
1
Vulgar: porção finita e geralmente medida do espaço. Em Descartes: atributo essencial dos corpos.
2
Extensão A¹ limitada por linhas
distintos lugares, requere-se já o fundamento da noção de espaço. Logo, a representação de espaço
não pode ser extraída pela experiência das relações dos fenômenos externos; pelo contrário, essa
experiência externa só é possível, antes de mais, mediante essa representação.” [pg. 64]

“2 . O espaço é uma representação necessária, a priori, que fundamenta todas as intuições externas.
Não se pode nunca ter uma representação de que não haja espaço, embora se possa perfeitamente
pensar que não haja objetos alguns no espaço. Consideramos, por conseguinte, o espaço a condição
de possibilidade dos fenômenos, não uma determinação que dependa deles; é uma representação a
priori, que fundamenta necessariamente todos os fenômenos externos.” [pgs. 64-65]

“3 . O espaço não é um conceito discursivo ou, como se diz também, um conceito universal das
relações das coisas em geral, mas uma intuição pura. Porque, em primeiro lugar, só podemos ter a
representação de um espaço único e, quando falamos de vários espaços, referimos-nos a partes de
um só e mesmo espaço. (…) É essencialmente uno; (…) De onde se conclui que, em relação ao
espaço, o fundamento de todos os seus conceitos é uma intuição a priori (que não é empírica).” [pg.
65]

“4 . O espaço é representado como uma grandeza infinita dada. (…) porém, nenhum conceito,
enquanto tal, pode ser pensado como se encerrasse em si uma infinidade de representações. Todavia
é assim que o espaço é pensado (pois todas as partes do espaço existem simultaneamente no espaço
infinito). Portanto, a representação originária de espaço é intuição a priori e não conceito.” [pg. 66]

§3 Exposição transcendental do conceito de espaço

“Entendo por exposição transcendental a explicação de um conceito considerado como um


princípio, a partir do qual se pode entender a possibilidade de outros conhecimentos sintéticos a
priori. Para este desígnio requere-se: 1. - que do conceito dado decorra realmente conhecimentos
dessa natureza. 2. - que esses conhecimentos apenas seja possíveis pressupondo-se um dado modo
da explicação desse conceito.” [pg. 66]

“A geometria é uma ciência que determina sinteticamente, e contudo a priori, as propriedades do


espaço. (…) O espaço tem de ser originariamente uma intuição, porque de um simples conceito não
se podem extrair proposições que ultrapassem o conceito, o que acontece, porém na geometria (…).
Mas essa intuição deve-se encontrar em nós a priori, isto é, anteriormente a toda a nossa percepção
de qualquer objeto, sendo portanto intuição pura e não empírica. Com efeito, as proposições
geométricas são todas apodíticas, isto é, implicam a consciência da sua necessidade (…).” [pgs. 66-
67]

“Mas como poderá haver no espírito uma intuição externa que preceda os próprios objetos e que
permita determinar a priori o conceito destes? É evidente que só na medida em que se situa
simplesmente no sujeito, como forma do sentido externo em geral, ou seja, enquanto propriedade
formal do sujeito de ser afetado por objetos e assim, obter uma representação imediata dos objetos,
ou seja, uma intuição.” [pg. 67]

“Sendo assim, só a nossa explicação permite compreender a possibilidade da geometria como


conhecimento sintético a priori.” [pg. 67]

Consequências dos conceitos precedentes

“a. O espaço não representa qualquer propriedade das coisas em si, nem essas coisas nas suas
relações recíprocas; quer dizer, não é nenhuma determinação das coisas inerentes aos próprios
objetos e que permaneça, mesmo abstraindo de todas as condições subjetivas da intuição.” [pg. 67]

“b. O espaço não é mais do que a forma de todos os fenômenos dos sentidos externos, isto é, a
condição subjetiva da sensibilidade, única que permite a intuição externa. Como a receptividade do
sujeito, mediante a qual este é afetado por objetos, precede necessariamente todas as intuições
desses objetos, compreende-se como a forma de todos os fenômenos possa ser dada no espírito
antes de todas as percepções reais, por conseguinte a priori, e, como ela, enquanto intuição pura na
qual todos os objetos tem de ser determinados, possa conter, anteriormente a toda a experiência, os
princípios das suas relações.” [pg. 67]

“Se abandonarmos porém a condição subjetiva, sem a qual não podemos receber intuição exterior,
ou seja, a possibilidade de sermos afetados pelos objetos, a representação do espaço nada significa.
Esse predicado só é atribuído às coisas na medida em que nos aparecem, ou seja, são objeto da
sensibilidade. A forma constante dessa receptividade, a que chamamos sensibilidade, é uma
condição necessária de todas as relações nas quais os objetos são intuídos como exteriores a nós e,
quando abstraímos desses objetos, é uma intuição pura que leva o nome de espaço. Como não
podemos fazer das condições particulares da sensibilidade as condições da possibilidade das coisas,
mas somente dos seus fenômenos, bem podemos dizer que o espaço abrange todas as coisas que nos
possam aparecer exteriormente, mas não todas as coisas em si mesmas, sejam ou não intuídas e
qualquer que seja o sujeito que as intua. Efetivamente, nada podemos ajuizar acerca das intuições
de outros seres pensantes, nem saber se elas estão dependentes das condições que limitam a nossa
intuição e são para nós universalmente válidas. (…) A proporção seguinte: “todas as coisas estão
justapostas no espaço” é valida com essa restrição: se forem consideradas como objetos da nossa
intuição sensível. Se acrescento esta condição ao conceito e digo que “todas as coisas, enquanto
fenômenos externos, estão justapostas no espaço” a regra assume validade universal e sem
limitação. As nossas explicações ensinam-nos, pois, a realidade do espaço (isto é, sua validade
objetiva) em relação a tudo o que nos possa ser apresentado exteriormente como objeto, mas ao
mesmo tempo a idealidade do espaço em relação as coisas, quando consideradas em si mesmas pela
razão, isto é, quando se não atenda à constituição da nossa sensibilidade. Afirmamos, pois, a
realidade empírica do espaço (no que se refere a toda experiência exterior possível) e, não obstante,
a sua idealidade transcendental, ou seja, que o espaço nada é, se abandonarmos a condição de
possibilidade de toda a experiência e o considerarmos com algo que sirva de fundamento das coisas
em si.” [pgs. 68-69]

“Por outro lado, exceptuando o espaço, não há nenhuma outra representação subjetiva e referida a
algo de exterior, que possa dominar-se objetiva a priori. [Efetivamente, de nenhuma delas se pode
derivar, como da intuição de espaço, proposições sintéticas a priori. Sendo assim, para falar com
precisão, não lhes cabe idealidade alguma, embora concordem com a representação do espaço por
unicamente dependerem da constituição subjetiva da sensibilidade, por exemplo, da vista, do
ouvido, ou do tato, através das sensações das cores, dos sons e do calor que, sendo apenas sensações
e não intuições, não permitem o conhecimento de nenhum objeto, muito menos a priori].” [pg. 69]

“Essa observação apenas tem em vista impedir que ocorra a alguém explicar a afirmada idealidade
do espaço, mediante exemplos sobejamente insuficientes, visto que as cores, o paladar, etc., são
justificadamente considerados, não como qualidade das coisas, mas apenas como modificações do
nosso sujeito e que podem até ser diferentes, consoante a diversidade dos indivíduos. (…) Em
contrapartida, o conceito transcendental dos fenômenos no espaço é uma advertência crítica de que
nada, em suma, do que é intuído no espaço é uma coisa em si, de que o espaço não é uma forma das
coisas, forma que lhes seria própria, de certa maneira, em si, mas que nenhum objeto em si mesmo
nos é conhecido e que os chamados objetos exteriores são apenas simples representações da nossa
sensibilidade, cuja forma é o espaço, mas cujo verdadeiro correlato, isto é, a coisa em si, não é nem
pode ser conhecida por seu intermédio; de resto, jamais se pergunta por ela na experiência.” [pgs.
69-70]

Segunda Seção

Do Tempo

§4 Exposição metafísica do conceito de tempo.

“1. O tempo não é um conceito empírico que derive de uma experiência qualquer. Porque nem a
simultaneidade nem a sucessão surgiriam na percepção se a representação do tempo não fosse seu
fundamento a priori.” [pg. 70]

“2. O tempo é uma representação necessária que constitui o fundamento de todas as intuições. Não
se pode suprimir o próprio tempo em relação aos fenômenos em geral, embora se possam
perfeitamente abstrair os fenômenos do tempo. O tempo é, pois, dado a priori.” [pgs. 70-71]

“3. Sobre esta necessidade a priori assenta também a possibilidade de princípios apodíticos das
relações do tempo ou de axiomas do tempo em geral. O tempo tem apenas uma dimensão; tempos
diferentes não são simultâneos, mas sucessivos (tal como espaços diferentes não são sucessivos,
mas simultâneos). Estes princípios não podem ser extraídos da experiência, porque esta não lhes
concederia nem rigorosa universalidade nem certeza apodítica. (…) Estes princípios valem, por
conseguinte, como regras, as únicas que em geral possibilitam as experiências e, como tal, nos
instruem antes de tais experiências, não mediante estas.” [pg. 71]]

“4. O tempo não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal, mas uma forma
pura da intuição sensível. Tempos diferentes são unicamente partes de um mesmo tempo. (…) E não
se poderia derivar de um conceito universal a proposição, segundo a qual, tempos diferentes não
podem ser simultâneos. Esta proposição é sintética e não pode ser unicamente proveniente de
conceitos. Está, portanto, imediatamente contida na intuição e na representação do tempo.” [pg. 71]

“5. A infinitude do tempo nada mais significa que qualquer grandeza determinada de tempo é
somente possível por limitações de um tempo único, que lhe serve de fundamento. Portanto, a
representação originária do tempo terá de ser dada como ilimitada.” [pg. 71]

07/10/2010 – 17:00

[§5 Exposição transcendental do conceito de tempo]

“Aqui acrescento apenas que o conceito de mudança e com ele o conceito de movimento (como
mudança de lugar) só é possível na representação do tempo mediante esta; se esta representação
não fosse intuição (interna) a priori, nenhum conceito, fosse ele qual fosse, permitiria tornar
inteligível a possibilidade de uma ligação de predicados contraditoriamente opostos num só mesmo
objeto (…). Só no tempo, ou seja sucessivamente, é que ambas as determinações,
contraditoriamente opostas, se podem encontrar numa coisa.” [pg. 72]

[§6 Consequências extraídas desses conceitos]

“a. O tempo não é algo que exista em si ou que seja inerente às coisas como uma determinação
objetiva e que, por conseguinte, subsista, quando se abstrai de todas as condições subjetivas da
intuição das coisas. (…) Pelo contrário, isto pode muito bem ocorrer se o tempo for apenas a
condição subjetiva indispensável para que tenham lugar em nós todas as intuições. Pois que, assim,
esta forma de intuição interna se pode representar anteriormente aos objetos, portanto a priori.”
[pgs. 72-73]

“b. O tempo não é mais do que a forma do sentido interno, isto é, da intuição de nós mesmos e do
nosso estado interior. Realmente, o tempo não pode ser uma determinação de fenômenos externos;
não pertence a uma figura ou a uma posição etc., antes determina a relação das representações no
nosso estado interno. (…) Por aqui se vê também que a representação do próprio tempo é uma
intuição, porque todas as suas relações se podem expressar numa intuição externa.” [pg. 73]

“O espaço, enquanto forma pura de toda a intuição externa, limita-se, como condição a priori,
simplesmente aos fenômenos externos. Pelo contrário, como todas as representações, quer tenham
ou não por objeto coisas exteriores, pertencem, em si mesmas, enquanto determinações do espírito,
ao estado interno, que, por sua vez, se subsume na condição formal da intuição interna e, por
conseguinte, no tempo, o tempo constitui a condição a priori de todos os fenômenos em geral; é,
sem dúvida, a condição imediata dos fenômenos internos (da nossa alma) e, por isso mesmo
também, mediatamente, dos fenômenos externos. Se posso dizer a priori: todos os fenômenos
exteriores são determinados a priori no espaço e segundo as relações do espaço, posso igualmente
dizer com inteira generalidade, a partir do princípio do sentido interno, que todos os fenômenos em
geral, isto é, todos os objetos dos sentidos, estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do
tempo.” [pg.73]

“Se abstrairmos do nosso modo de nos intuirmos internamente a nós próprios e de, mediante tal
intuição, abarcarmos também todas as intuições externas na nossa faculdade de representação, e se,
por conseguinte, considerarmos os objetos como podem ser em si mesmos, então o tempo não é
nada. Tem apenas validade objetiva em relação aos fenômenos, porque estes já são coisas que
admitimos com como objetos dos nossos sentidos; mas perde essa realidade objetiva se abstrairmos
da sensibilidade da nossa intuição, por conseguinte do modo de representação que nos é peculiar e
falarmos de coisas em geral. (…) Contudo, não é menos necessariamente objetivo em relação a
todos os fenômenos e, portanto, a todas as coisas que se possam apresentar a nós na experiência.
Não podemos dizer que todas as coisas estão no tempo, porque se faz abstração, no conceito de
coisas em geral, de todo o modo de intuição das mesmas e porque a intuição é, propriamente, a
condição própria pela qual o tempo pertence à representação dos objetos. Mas, se a condição for
acrescentada ao conceito e dissermos: todas as coisas, enquanto fenômenos (objetos da intuição
sensível), estão no tempo, o princípio adquire a conveniente validade objetiva e universalidade a
priori.” [pgs. 73-74]

“As nossas afirmações ensinam, pois, a realidade empírica do tempo, isto é, sua validade objetiva
em relação a todos os objetos que possam apresentar-se aos nossos sentidos. E, como a nossa
intuição é sempre sensível, nunca na experiência nos pode ser dado um objeto que não se encontre
submetido à condição do tempo. (…) Nisto pois consiste a idealidade transcendental do tempo,
segundo a qual o tempo nada é, se abstrairmos das condições subjetivas da intuição sensível e não
pode ser atribuído aos objetos em si (independentemente da sua relação com a nossa intuição), nem
a título de substância nem de acidente. Esta idealidade, porém, tal como a do espaço, não se deve
comparar com as sub-repções das sensações, porquanto nestas se pressupõe que o próprio
fenômeno, a que são inerentes esses predicados, tem realidade objetiva, que aqui falta totalmente a
não ser enquanto meramente empírica, isto é, enquanto considera o objeto como simples fenômeno
(...)” [pgs. 74-75]

[7 Explicação]

“Contra essa teoria, que atribui ao tempo realidade empírica, mas lhe nega a realidade absoluta e
transcendental, encontrei da parte de homens perspicazes, uma objeção tão unânime que, presumo,
deverá naturalmente ocorrer a qualquer leitor menos acostumado a estas reflexões. Formula-se deste
modo: As mudanças são reais (o que se prova pela sucessão das nossas próprias representações,
mesmo que se quiserem negar os fenômenos exteriores e suas modificações). (…) A resposta não
oferece dificuldade. (…) O tempo é, sem dúvida, algo real, a saber, a forma real da intuição interna;
tem pois realidade subjetiva, relativamente à experiência interna, isto é, tenho realmente a
representação do tempo e da minha determinações nele. Não deve ser, portanto, encarado realmente
como objeto, mas apenas como modo de representação de mim mesmo como objeto. (…) Subsiste,
pois, a realidade empírica do tempo como condição de todas as nossas experiências. Só a realidade
absoluta lhe não pode ser concedida, como acima referimos. É apenas a forma da nossa intuição
interna. Se lhe retirarmos a condição particular da nossa sensibilidade, desaparece também o
conceito de tempo; o tempo, pois, não é inerente aos próprios objetos, mas unicamente ao sujeito
que os intui.” [pgs. 75-76]

“O motivo, porém, pelo qual esta objeção é tão unanimemente feita, e precisamente por aqueles que
não sabem aliás opor argumento convincente à doutrina da idealidade do espaço, é o seguinte: não
esperavam poder demonstrar apoditicamente a realidade absoluta do espaço, porque lho impedia o
idealismo, segundo o qual a realidade dos objetos exteriores não é suscetível de demonstração
rigorosa, ao passo que a do objeto do nosso sentido interno (de mim próprio e do meu estado) é
imediatamente clara pela consciência. Os objetos exteriores poderiam ser simples aparência; este
último, porém, na opinião deles, é inegavelmente algo de real. Não ponderaram, contudo, que estas
duas espécies de objetos, sem que se deva impugnar a sua realidade como representações, de
qualquer modo pertencem somente ao fenômeno, que tem sempre duas faces: uma em que o objeto
é considerado em si mesmo (independente do modo de o intuir, e cuja natureza, por esse motivo, é
sempre problemática) e a outra em que se considera a forma da intuição desse objeto. Tal forma
deverá ser procurada não no objeto em si mesmo, mas no sujeito ao qual o objeto aparece,
pertencendo no entanto, real e necessariamente, ao fenômeno desse objeto.” [pg. 76]

“O tempo e o espaço são portanto duas fontes de conhecimento das quais se podem extrair a priori
diversos conhecimentos sintéticos, do que nos dá brilhante exemplo, sobretudo, a matemática pura,
no que se refere ao conhecimento do espaço e das suas relações. Tomados conjuntamente são
formas puras de toda a intuição sensível, possibilitando assim proposições sintéticas a priori. Mas
estas fontes de conhecimento a priori determinam os seus limites precisamente por isso (por serem
simples condições da sensibilidade); é que eles dirigem-se somente aos objetos enquanto são
considerados como fenômenos, mas não representam coisas em si. Só os fenômenos constituem o
campo da sua validade; saindo desse campo já não se pode fazer uso objetivo dessas fontes. Esta
realidade do espaço e do tempo deixa, de resto, intacta a certeza do conhecimento por experiência;
este é para nós seguro, quer essas formas sejam necessariamente inerentes às coisas em si mesmas,
quer apenas à nossa intuição das coisas.” [pgs. 76-77]

“Finalmente, que a estética transcendental não possa conter mais do que esses dois elementos, o
espaço e o tempo, resulta claramente de todos os outros conceitos pertencentes à sensibilidade,
mesmo o de movimento, que reúne ambos os elementos, pressuporem algo de empírico. Com
efeito, este último pressupõe a percepção de algo que se move; é pois necessário que o móvel seja
algo que não se encontre no espaço a não ser pela experiência, portanto um dado empírico. Do
mesmo modo a estética transcendental não pode contar entre os seus dados a priori o conceito de
mudança; porque não é o próprio tempo que muda, apenas muda algo que está no tempo. Para isso
requere-se a percepção de uma certa existência e da sucessão de suas determinações, por
conseguinte a experiência.” [pg. 78]

08/10 – 16:30
[§8] Observações gerais sobre a estética transcendental

“[I.] (…) Quisemos, pois, dizer, que toda a nossa intuição nada mais é do que a representação do
fenômeno; que as coisas que intuímos não são em si mesmas tal como as intuímos, nem as suas
relações são em si mesmas constituídas como nos aparecem; e que, se fizermos abstração do nosso
sujeito ou mesmo apenas da constituição subjetiva dos sentidos em geral, toda a maneira de ser,
todas as relações dos objetos no espaço e no tempo e ainda o espaço e o tempo desapareceriam;
pois, como fenômenos, não podem existir em si, mas unicamente em nós. (…) O espaço e o tempo
são as formas puras desse modo de perceber; a sensação em geral a sua matéria. Aquelas formas, só
podemos conhecê-las a priori, isto é, antes de qualquer percepção real e, por isso, se denominam
intuições puras; a sensação, pelo contrário, é aquilo que, no nosso conhecimento, faz com que este
se chame conhecimento a posteriori, ou seja, intuição empírica. As formas referidas são absolutas e
necessariamente inerentes à nossa sensibilidade, seja qual for a espécie das nossas sensações, que
podem ser muito diversas. (…) de qualquer modo, só conheceríamos perfeitamente o nosso modo
de intuição, ou seja, a nossa sensibilidade, e esta sempre submetida às condições do espaço e do
tempo, originariamente inerentes ao sujeito; nem o mais claro conhecimento dos fenômenos, único
que nos é dado, nos proporcionaria o conhecimento do que os objetos podem ser em si mesmos.”
[pgs. 78-79]

“A teoria, segundo a qual toda a nossa sensibilidade seria apenas a confusa representação das
coisas, contendo simplesmente o que elas são em si mesmas, embora numa acumulação de
características e representações parciais, que não discriminamos conscientemente, representa um
falseamento dos conceitos de sensibilidade e de fenômeno, pelo que é vã e inútil. A diferença entre
uma representação clara e uma representação obscura é apenas lógica e não se refere ao conteúdo.
(…) a representação de um corpo na intuição nada contém que possa pertencer a um objeto em si; é
somente o fenômeno de alguma coisa e a maneira segundo a qual somos por ela afetados; e essa
receptividade da nossa capacidade de conhecimento se denomina-se sensibilidade e será sempre
totalmente distinta do conhecimento do objeto em si mesmo, mesmo que se pudesse penetrar até ao
fundo do próprio fenômeno.” [pgs. 79-80]

“Assim, pela sensibilidade, não conhecemos apenas confusamente as coisas em si, porque nas as
conhecemos mesmo de modo algum; e se abstrairmos da nossa constituição subjetiva, não
encontraremos nem poderemos encontrar em nenhuma parte o objeto representado com as
qualidades que lhe conferiu a intuição sensível, porquanto é essa mesma constituição subjetiva que
determina a forma do objeto enquanto fenômeno.” [pg. 80]

“Distinguimos bem, de resto, nos fenômenos entre o que é essencialmente inerente à sua intuição e
tem um valor para todo o sentido humano em geral e o que lhes acontece de uma maneira acidental,
porque não é válido em relação à sensibilidade em geral, mas tão só para determinada disposição
particular ou organização deste ou daquele sentido. Assim se diz do primeiro conhecimento, que
representa o objeto em si mesmo e do segundo, que apenas representa o seu fenômeno. Todavia esta
distinção é somente empírica. Se não sairmos dela (como vulgarmente acontece) e não se
considerar, por sua vez (como se devia fazer), essa intuição empírica como simples fenômeno, em
que nada se encontra referente a uma coisa em si, desvanece-se a nossa distinção transcendental e
acredita-se no conhecimento de coisas em si, embora por toda a parte (no mundo sensível), por
muito que aprofundemos a pesquisa dos seus objetos, apenas se nos deparem fenômenos.” [pgs. 80-
81]

“A segunda observação importante a fazer sobre a nossa estética transcendental é que não se
recomenda apenas a título de hipótese verosímil, mas é tão certa e tão indiscutível quanto se pode
exigir de uma teoria que deva servir de organon.” [pg. 81]
“Suponhamos que o espaço e o tempo sejam objetivos em si, e constituam condições das
possibilidade das coisas em si mesmas; a primeira coisa que nos chama a atenção é que proposições
apodíticas e sintéticas derivam a priori e em grande número destes dois conceitos e,
particularmente, do espaço, que por isso escolhemos aqui, de preferência, para exemplo. Dado que
as proposições da geometria são conhecidas sinteticamente a priori e com uma certeza apodítica,
pergunto: onde ireis buscar semelhantes proposições e em que se apoia o vosso entendimento para
alcançar tais verdades, absolutamente necessárias e universalmente válidas? Não há outro caminho
que não seja por meio de conceitos ou de intuições; uns e outras, porém, são dados a priori ou a
posteriori. Os últimos, ou seja, os conceitos empíricos e a intuição empírica sobre a qual se fundam,
não podem dar uma proposição sintética que não seja igualmente empírica, isto é, uma proposição
de experiência, não contendo, por conseguinte, nem a necessidade, nem a universalidade absolutas,
que são todavia características de todas as proposições da geometria. Quanto ao que seria o primeiro
e único meio de obter tais conhecimentos por simples conceitos e de intuições a priori, é claro que,
de simples conceitos, não se pode extrair conhecimento sintético, só meramente analítico. (…)
Dais-vos portanto um objeto na intuição; de que espécie, porém, é esta intuição? Será uma intuição
pura a priori, ou uma intuição empírica? Se for empírica, nunca dará origem a uma proposição
universalmente válida e muito menos apodítica, pois a experiência não as pode proporcionar. Tereis
pois que vos dar a priori o vosso objeto na intuição e sobre ele fundar a vossa proposição sintética.
Se não houvesse em vós uma capacidade de intuição a priori; se esta condição subjetiva não fosse,
quanto à forma, simultaneamente, a única condição universal a priori, pela qual é possível o objeto
desta intuição (externa); se o objeto (o triângulo) fosse algo em si, independentemente da sua
relação com o sujeito; como poderíeis dizer que o que é necessário nas vossas condições subjetivas
para construir um triângulo, também pertence necessariamente ao triângulo em si? Com efeito, ao
vosso conceito (de três linhas) nada de novo (a figura) poderíeis acrescentar, que necessariamente
tivesse de encontrar-se no objeto, já que este objeto é dado anteriormente ao vosso conhecimento e
não mediante este. Portanto, se o espaço (e do mesmo modo o tempo) não fosse uma simples forma
da vossa intuição, que contém a priori as únicas condições a que as coisas devem estar submetidas
para que sejam para vós objetos exteriores, pois nada seriam em si sem estas condições subjetivas,
de modo algum poderíeis decidir a priori, de maneira sintética, relativamente a objetos exteriores.
É, pois, indubitavelmente certo e não apenas verosímil, que o espaço e tempo, enquanto condições
necessárias de toda a experiência (externa e interna) são apenas condições meramente subjetivas da
nossa intuição; relativamente a essas condições, portanto, todos os objetos são simples fenômenos e
não coisas dadas por si desta maneira.” [pgs. 81-83]

18/10/2010 – 15:13

Anda mungkin juga menyukai